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Região vitícola por excelência, o vale do rio Mosela, localizado no sudoeste da Alemanha, oferece, para além de vinhos extraordinários, a oportunidade de desfrutar de paisagens deslumbrantes, castelos monumentais e cidades históricas. De Coblença a Trier, passando pela Festa do Vinho de Bernkastel-Kues, relato de uma viagem às vinhas e vinhos do vale do Mosela.
Mosela, nos domínios da Riesling
Diz-se, e é verdade, que o vale do rio Mosela é uma das paisagens vinhateiras mais espectaculares do mundo. Com a nascente nos Vosgues, o rio encaminha-se para norte, até alcançar o Reno.
Nos últimos 200 quilómetros desdobra-se em curvas, meandros e penínsulas, enquanto nas margens, por vezes íngremes, a vinha preenche a quase totalidade do espaço. No fundo, rente à água, uma fiada de povoações acompanha o caudal tendo, em cada uma das extremidades, uma cidade histórica e buliçosa: Coblença, a norte, e Trier, a sul.
Vinha e rio no vale do Mosela, Alemanha
Antes de iniciar viagem rio acima – o percurso que escolhi foi da foz para nascente -, subi à fortaleza Ehrenbreitstein, um gigante de pedra assente numa plataforma rochosa frente a Coblença que oferece uma vista rasgada sobre a cidade, um bom trecho do Reno e também – e era isso que mais me interessava – sobre a parte final do vale do Mosela e das vinhas que lhe dão fama.
Na cidade são muitos os elementos que evidenciam a estreita relação que Coblença mantém com o vinho, embora uma peça escultórica chamada Historiensaule condense melhor do que qualquer outra coisa essa intimidade. Trata-se de uma coluna em bronze com a base em forma de barco carregado de pipas de vinho e com um Baco sério à popa.
E, agora sim, eis-me a caminho da outra ponta da mais antiga e também mais importante região vitícola da Alemanha, cuja denominação oficial é Mosel-Saar-Ruwer, a combinação do nome de três rios. A minha ideia é visitar Cohem e Bernkastel-Kues, lugares com sólida reputação em matéria de vinhos, mas também conhecer sítios menos afogueados pelo turismo, e foi por isso que fiz escalas em Winningen, Klotten e Bullay.
Pode-se percorrer todo o vale do Mosela de barco, a forma mais demorada e cénica, de comboio, o modo mais confortável, de carro, a forma mais prática e ligeira, ou de bicicleta, a maneira mais original e intensa. Para começar, opto pelo comboio. Pelo caminho encontro paisagens soberbas, castelos ancestrais, adegas e garrafeiras por toda a parte, povoações antigas e atraentes, pessoas simpáticas, por vezes encantadoras mesmo, e, principalmente, vinhas que trepam encostas onde abunda o xisto e que são a maior riqueza da região. Esta é a fortaleza da riesling, casta que produz vinhos brancos frutados e minerais, distintos de qualquer outro.
Vinhas e Vinhos de Mosela
Vinha no vale do Mosela
A parte mais espectacular do Mosela é a sua ponta final, entre Winningem e Lehnen, onde o vale é apertado, com encostas quase a pique. Aí, quilómetros de muros de pedra formam uma imensa cascata de socalcos, que são simultaneamente grandiosas obras de arte e de engenharia.
Algumas vinhas foram plantadas em sítios tão íngremes que tem de ser trabalhadas com o auxílio de roldanas. Consta que estas são as vinhas que no mundo mais trabalho intensivo exigem.
Das cepas pendem cachos compridos com o característico tom verde-azulado da riesling, nalguns casos em excesso, e assim, onde isso acontece, procede-se à vendange verte, um desbaste que pretende aumentar a qualidade das as uvas que ficam.
Mais adiante, em Klotten, essa tarefa já tinha sido executada e subi até às ruínas do castelo para daí avistar uma grande extensão de vinha, assim como um troço invulgarmente longo do Mosela, onde o rio, disciplinado, serve de estrada a todo o tipo de barcos.
Mas esse não é o único benefício que traz para o homem. Parte do sucesso da viticultura deve-se à sua função de espelho, reflectindo os raios de sol pelas encostas, o que é importante numa região onde o Verão é curto.
Coblença, junção dos Mosela com o Reno
Cohem é uma paragem certa para quem se põe a correr o vale do Mosela. Situada num local onde o rio faz uma larga curva em forma de U, tem um grande castelo emoldurado por vinhas, enotecas bem servidas, uma variedade de alojamento surpreendente, pension, guasthaus, hotéis modernos e hotéis em edifícios históricos, como o Alte Thorsahenke onde me alojei e, durante o Verão, multidões a deambularem pelas ruas e a entrarem e saírem das lojas.
Numa rua empinada situa-se a Altester Felsenkeller, uma cave abobadada que tem fileiras de garrafas alinhadas contra as paredes como troféus. Nesse sítio intimista dei um salto nos meus conhecimentos no que diz respeito aos vinhos do Mosela.
Jurgen Bahr, um alemão jovial que sabe do ofício, deu-me a provar um Riesling Eiswein 2004. Bebê-lo foi um acto de puro deleite. Macio e encorpado, rico em aromas e harmonioso. A cor era citrino-mel. Um rico vinho, que condensa as características de tudo o que o vale do Mosela tem de melhor para oferecer. “Não estava à espera, pois não?!” Pergunta-me Jurgen.
Foi uma surpresa, confessei. Agradado com a aprovação abriu outra garrafa, colheita de 1996. “Foi um ano excepcional no vale do Mosela”, esclareceu. Se dúvidas tivesse quanto ao valor dos vinhos do Mosela, as mesmas evaporaram-se naquele momento, e a reivindicação de produzir os melhores brancos do mundo pareceu-me razoável.
No dia seguinte troquei o bulício de Cohem pela tranquilidade de Bullay. Ao fim da tarde quando regressava de um passeio a Marienburg, um local com uma vista excepcional, onde um meandro do rio faz uma península, fui convidado por Peter Stein a sentar-me a uma mesa, no jardim da sua casa, onde recebia alguns amigos.
Peter Stein é um típico produtor do Mosela. Anda pelos 40 anos e cultiva cinco hectares de vinha cuja colheita depois engarrafa e comercializa com marca própria. E é assim que, de repente, me encontro num sítio onde sempre tinha querido estar: numa espécie de tertúlia entre connaisseurs.
Ajudado por queijos e salames vou saltitando por diversos trocken e halb-trocken, definições que diferenciam o grau de doçura dos vinhos alemães. Salvou-me da embriaguês o facto de, como é característico dos Mosel-Saar-Ruwer, o álcool não ter um peso excessivo.
A Festa do Vinho de Bernkastel-Kues
A minha terceira experiência directa com o vinho do Mosela aconteceu logo na etapa seguinte, em Bernkastel-Kues, onde desembarquei após uma comprida manhã de barco rio acima. Bernkastel-Kues é uma cidade pequena, mas a sua Festa do Vinho, é famosa. Chegam pessoas de toda a parte, de todos os landers alemães, mas também encontrei irlandeses, americanos e muitos holandeses.
Durante quatro dias, dezenas de produtores apresentam a uma multidão entusiástica a colheita do ano anterior, assim como algumas reservas. A animar a festa, há bandas a tocar em cada esquina. O sucesso de cada viticultor é medido pelos clientes que arregimentam à sua volta.
Cada um apresenta o que melhor produz, procura seduzir, mostra medalhas e prémios conquistados em concursos com tanto orgulho como os generais fazem com as suas condecorações. Se tiverem oportunidade falarão da antiguidade das suas propriedades e ainda da antiguidade da viticultura no vale, do tempo dos romanos, portanto. Seria impossível descrever toda a oferta, mas quero deixar o registo de um desses vinhos premiados, um Kerner Auslese de 2003, produzido em Valdenz por Ralph Conrad, um viticultor da nova geração que, como é frequentemente realçado, é a responsável pelo novo élan do Mosel-Saar-Ruwer, colocando-o nas mesas mais distintas.
Enquanto dura a festa, o comércio do vinho continua nos sítios tradicionais. O rés-do-chão de muitas casas, algumas com 500 anos, domicilia essas lojas especiais, que em alemão se designam por vinothek ou weinhaus.
É numa dessas casas, de gerência familiar – todo o vale do Mosela é um exemplo dos negócios em cadeia com o viticultor, muitas vezes, a fazer também de hoteleiro, com a sua guasthaus, e de comerciante, com a sua loja -, que encontro a weinhaus de Laurence Rouyer, uma francesa que o casamento trouxe até aqui, e onde recebo mais um curso intensivo sobre o assunto que há vários dias me absorve.
A Segunda Roma
Chego finalmente a Trier, praticamente a ponta sul da Região Mosel-Saar-Ruwer. Fica já esclarecido: Trier não é uma cidade qualquer. Trier é a mais antiga cidade da Alemanha; Trier é igualmente o lugar ao norte dos Alpes com o maior número de edifícios de origem romana. Por isso lhe chamam a Segunda Roma. A par desta monumentalidade antiga convive uma cidade moderna, vibrante e rica, com esplanadas nas praças, lojas recheadas de produtos finos e restaurantes elegantes. Vive-se bem em Trier, não há dúvida.
O viajante acabado de chegar ficará, certamente, na dúvida por onde começar. A Porta Nigra?, o mais famoso monumento romano da cidade; a casa onde nasceu Carl Marx?, ou, então, a Aula Palatina, hoje Basílica, onde o imperador Constantino dava audiências; talvez as weinhaus, verdadeiros locais de sedução, espalhadas pela cidade?, ou, que tal, uma visita ao Landesmuseum, onde, como em todo o vale do Mosela, o vinho está presente. Ali, esculpido na pedra, está o notável “Barco do Vinho”, peça romana encontrada numa localidade próxima e que garante que o cultivo da vinha tem no Mosela tanta tradição como nas mais reputadas regiões vitícolas da Europa.
Fonte: www.almadeviajante.com
Vale do Rio Mosela
Vale do Mosela é a mais antiga região vinícola da Alemanha
O vale do rio Mosela, uma das zonas climáticas mais quentes da Alemanha, oferece as condições ideais à produção de um dos mais conhecidos vinhos brancos: o Riesling.
O vale do rio Mosela é a região vitivinícola mais antiga da Alemanha. Às suas margens ficam não só a cidade mais velha do país, Trier, que foi fundada pelos romanos em 16 a.C., como também a mais antiga cidade vinícola da Alemanha, Neumagen.
Os 9 mil hectares plantados com uva Riesling estendem-se pelas encostas extremamente íngremes do vale. Fica ali o monte de maior inclinação na Europa: o Calmont, com 380 metros de altitude e até 64 graus de declividade, entre as localidades de Ediger-Eller e Bremm.
Günter Leitzgen é um dos produtores de Riesling no monte Calmont
Já os romanos souberam explorar o solo especialmente fértil da região, que fica numa das zonas climáticas mais quentes da Alemanha. Ali o outono ainda tem muitos dias de sol, enquanto no inverno são poucos os dias de geada. A temperatura média anual é de 10ºC.
Cultivo da uva se estende por todo o vale
Condições ideais para o Riesling
Com 500 viticultores, a região do Mosela é a quinta maior entre as 13 áreas vinícolas alemãs e a maior área contínua de cultivo de Riesling no mundo. As montanhas íngremes, com uma perfeita irradiação solar, seu rico solo de ardósia, que retêm o calor, proporcionam as condições ideais para o cultivo do famoso vinho apreciado em todo o mundo.
Um terço da produção da região vinícola de Mosela-Saar-Ruwer é exportado. Os principais compradores são Reino Unido, Estados Unidos, Japão, Holanda e países escandinavos. Além do Riesling, são cultivadas na região as variedades Elbling, Rivaner, Chardonnay, Malbec, Weisser Burgunder (Pinot Blanc) e Grauburgunder (Pinot Gris).
Confluência dos rios Meno e Reno em Koblenz
Com nascente na França (onde é chamado Moselle), o rio tem uma extensão de 550 quilômetros, passando por Luxemburgo (onde seu nome é Musel) para desembocar no Reno em Koblenz.
Em quase toda a extensão do rio, encontram-se vilarejos de vinicultores, vinhedos familiares, adegas e uma cultura histórica em cada esquina, com degustação nas adegas locais, possibilidades de passeios a pé, de bicicleta ou de navio.
Fonte: dw.de
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