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Partilha da África – Luta
Entre 1875 e 1914, os países europeus invadiram e subjugaram quase todo o continente africano.
Os historiadores debatem há muito tempo as causas desta ruptura com as políticas europeias anteriores em relação a África.
O crescente apetite europeu pela conquista e a disposição dos governos europeus em pagar por empreendimentos imperialistas tornaram-se conhecidos como o “Novo Imperialismo” para distingui-lo das antigas tradições de colonialismo anteriores a 1850. As políticas anteriores centravam-se mais na procura de influência comercial do que formal. ocupação.
Partilha da África – Causa
Nenhuma causa pode explicar a disputa. Pelo contrário, uma conjunção de atitudes favoráveis ao império, aos avanços tecnológicos e às preocupações políticas e sociais levou diferentes governos a acreditar que a ocupação de África seria possível, necessária e barata.
Os desenvolvimentos tecnológicos criaram uma discrepância de curta duração, mas radical, entre os países africanos e europeus. O quinino, os barcos a vapor e novos armamentos como a metralhadora deram aos europeus uma tremenda vantagem sobre a maioria dos estados africanos.
Muitos europeus também consideraram a capacidade tecnológica um sinal da sua superioridade moral sobre os africanos.
As necessidades econômicas também ajudaram a levar à ocupação, embora muitas vezes isso tenha sido feito para obter lucros rápidos, em vez de benefícios tangíveis que resultaram da colonização. J.A. Hobson (1858–1940) e o líder comunista Vladimir Lenin (1870–1924) argumentaram que o imperialismo resultava da necessidade das sociedades capitalistas encontrarem novos mercados para as suas fábricas e matérias-primas, de modo a alimentar a produção. No entanto, esta explicação econômica não reconhece que muito poucas colônias obtiveram lucro antes da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e que a maioria dos investidores europeus preferia aplicar o seu dinheiro noutro local. Somente a África do Sul, onde ouro e diamantes foram descobertos antes de 1880, atraiu muitas empresas e um extenso capital.
Outros fatores entraram na equação da colonização africana. Os políticos e oficiais militares franceses, amargurados com a perda da Alsácia e da Lorena, viram o domínio de África como uma oportunidade para o seu país continuar a ser uma potência mundial. Nacionalistas de muitos países clamavam por guerras de conquista. Alguns políticos, como o ministro do Partido Conservador, Lord Salisbury, e o primeiro-ministro alemão Otto von Bismarck (1815-1898), desdenharam pessoalmente a África, mas sentiram que o equilíbrio de poder na Europa só poderia ser mantido através de uma divisão equitativa dos despojos africanos. Escritores missionários como David Livingstone (1813-1873) apresentaram a África como devastada pelo comércio de escravos e pela superstição primitiva. A popularidade das doutrinas sociais darwinistas da superioridade biológica europeia levou outros a abraçar o império, como o magnata sul-africano Cecil Rhodes (1853–1902).
Finalmente, os ambiciosos europeus em África mostraram-se mais dispostos a construir impérios utilizando tropas indígenas do que o regime do seu país de origem alguma vez planeou.
Partilha da África – Como aconteceu
Partilha da África
Os acontecimentos no Norte e no Oeste de África estabeleceram as bases para a ocupação de África. O governo egípcio sob o quediva Ismail (1830-1895) contraiu enormes dívidas na construção do Canal de Suez e em outros projetos de modernização. Por causa das suas dívidas, os governos britânico e francês assumiram grande parte da África em 1879.
As divergências europeias durante a crise dos Balcãs de 1875-1878 levaram à ocupação britânica de Chipre. O governo francês recebeu o acordo tácito de Londres para a ocupação da Tunísia em 1881 como compensação. Depois que as forças britânicas reprimiram uma revolta nacionalista no Egito em 1882, os políticos franceses exigiram compensação.
Os oficiais franceses também começaram a expandir a sua autoridade no Senegal a partir de 1879.
Em 1882, outros entraram na competição. Leopoldo II (1835–1909), da Bélgica, há muito sonhava em criar um império e contratou o jornalista anglo-americano Henry Morton Stanley (1841–1904) para ajudar a promover uma associação supostamente científica, a Associação Internacional Africana, que tinha como verdadeiro objetivo a criação de um estado centro-africano controlado pelo próprio Leopoldo II.
O oficial francês Pierre Savorgnan de Brazza (1852–1905) e Stanley persuadiram os chefes africanos ao longo do rio Congo a assinar tratados duvidosos em nome dos seus patrocinadores rivais. O governo português, alarmado com os desígnios britânicos para a África Austral, bem como com estes movimentos para a África Central, em território que há muito reivindicava, mas nunca controlava, assinou um acordo em 1884 com os britânicos respeitando os direitos portugueses no Rio Congo. Para resolver estas disputas, Bismarck organizou a Conferência de Berlim de 1884-1885.
A Conferência de Berlim estabeleceu um procedimento sobre como o território africano poderia ser assumido pelos países europeus.
A França e a Alemanha decidiram permitir que Leopoldo II formasse o Estado Livre do Congo, desde que ele permitisse o livre comércio dentro das suas fronteiras.
Participaram representantes da maioria dos países europeus. Os rios Níger e Congo foram declarados livres para viagens navais. Os países poderiam reivindicar território com tratados assinados e prova de “ocupação efetiva”. Foram criadas “esferas de influência” gerais, mas as fronteiras coloniais só foram fixadas entre 1885 e 1911.
Após a confusão, os países europeus não saltaram imediatamente para a invasão. Os oficiais franceses visaram a destruição do reino muçulmano Umariano no final da década de 1880, mas só conseguiram derrotá-lo e a outros líderes africanos como Samory Touré (1830–1900) na década seguinte. As tentativas dos países europeus de confiarem em empresas privadas, como a Companhia Nacional Africana de Sir James Goldie, para pouparem despesas, geralmente levaram à ocupação formal, uma vez que estas empresas se revelaram incapazes de pagar e manter a ocupação colonial.
A competição entre os países europeus por terras africanas continuou até à Primeira Guerra Mundial. As forças francesas e inglesas quase se enfrentaram sobre o Sudão na aldeia de Fashoda em 1898, por exemplo, mas as suas disputas acabaram por ser resolvidas através da diplomacia.
As comunidades africanas podiam por vezes travar guerras de guerrilha durante décadas, mas apenas uma vez conseguiram derrotar completamente os invasores. A Etiópia, liderada por Menelik II (1844–1913) e o seu exército bem preparado, derrotou os planos italianos de conquista na batalha de Adowa em 1896, forçando a Itália a reconhecê-la como uma nação soberana.
As repúblicas bôeres brancas derrotaram as forças britânicas em 1881, mas uma segunda guerra entre as duas resultou na vitória inglesa após um longo conflito de 1899 a 1902.
Uma das razões para a vitória europeia residiu na utilização de auxiliares africanos. Outra residia nas divisões políticas entre os africanos. Facções rivais em Buganda, na costa da Tanzânia e noutros locais tentaram obter ajuda europeia, muitas vezes ao custo final da sua própria independência. Alguns africanos lucraram com as invasões, mas muitos mais sofreram com os impostos, o trabalho forçado, as epidemias e as migrações forçadas nos primeiros anos do domínio europeu.
Partilha da África – Países
No fim do século 19, países europeus repartiram o continente africano entre si e o exploraram durante quase 100 anos. Os invasores se foram, mas deixaram os efeitos nefastos de sua presença.
Ao encerrar a Conferência de Berlim, em 26 de fevereiro de 1885, o chanceler alemão Otto von Bismarck inaugurou um novo “e sangrento” capítulo da história das relações entre europeus e africanos.
Menos de três décadas após o encontro, ingleses, franceses, alemães, belgas, italianos, espanhóis e portugueses já haviam conquistado e repartido entre si 90% da África ou o correspondente a pouco mais de três vezes a área do Brasil. Essa apropriação provocou mudanças profundas não apenas no dia-a-dia, nos costumes, na língua e na religião dos vários grupos étnicos que viviam no continente. Também criou fronteiras que, ainda hoje, são responsáveis por tragédias militares e humanitárias.
O papel da conferência, que contou com a participação de 14 países, era delinear as regras da ocupação. A conferência não dividiu a África em blocos coloniais, mas admitiu princípios básicos para administrar as atividades européias no continente, como o comércio livre nas bacias dos rios Congo e Níger, a luta contra a escravidão e o reconhecimento da soberania somente para quem ocupasse efetivamente o território reclamado.
A rapidez com que a divisão se deu foi conseqüência direta da principal decisão do encontro, justamente o princípio da “efetividade”: para garantir a propriedade de qualquer território no continente, as potências européias tinham de ocupar de fato o quinhão almejado. Isso provocou uma corrida maluca em que cada um queria garantir um pedaço de bolo maior que o do outro. Em pouco tempo, com exceção da Etiópia e da Libéria, todo o continente ficou sob o domínio europeu. A Libéria, formada por escravos libertos enviados de volta pelos Estados Unidos, havia se tornado independente em 1847. Na Etiópia, a independência foi garantida depois da Conferência de Berlim, com a vitória do exército do imperador Menelik II sobre tropas italianas na batalha de Adwa, em 1896.
O interesse europeu pela África vinha de muito tempo antes da conferência. No século 15, os portugueses já haviam chegado aos arquipélagos de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, iniciando sua ocupação do continente (que depois se estendeu a Angola e Moçambique). Os britânicos ocuparam partes da atual África do Sul, do Egito, do Sudão e da Somália no século 19. No mesmo período, os franceses se apoderaram de parte do Senegal e da Tunísia, enquanto os italianos marcavam presença na Eritréia desde 1870. Em 1902, França e Inglaterra já detinham mais de metade do continente.
Partilha da África – Tiros e mentiras
A ocupação não se deu somente com a força das armas de fogo, que eram novidade para muitos dos povos subjugados. A trapaça foi largamente usada para a conquista e manutenção dos territórios.
O rei Lobengula, do povo Ndebele, é um exemplo: assinou um contrato em que acreditava ceder terras ao magnata britânico Cecil Rhodes em troca de “proteção”.
O problema é que o contrato firmado pelo rei não incluía a segunda parte do trato. O monarca nem percebeu, pois era analfabeto e não falava inglês.
Apesar dos protestos de Lobengula, que acreditava que a palavra valia alguma coisa entre os recém-chegados, o governo da Inglaterra se fez de desentendido.
Apoiou a exploração do território Ndebele, no atual Zimbábue, de onde Rhodes tirou toneladas de ouro.
O mais famoso entre os trapaceiros, no entanto, foi o rei Leopoldo II, que conseguiu passar a perna em africanos e europeus. Soberano de um pequeno país, a Bélgica, não tinha recursos nem homens para ocupar grandes territórios. Por isso, criou associações que se apresentavam como científicas e humanitárias, a fim de “proteger” territórios como a cobiçada foz do rio Congo.
Graças a hábeis manobras diplomáticas, ele conseguiu obter o reconhecimento, por todas as potências da época, de um “Estado Livre do Congo”, do qual ele seria o governante absoluto.
Mas o principal método utilizado pelos europeus foi o bom e velho “dividir para dominar”. A idéia era se aproveitar da rivalidade entre dois grupos étnicos locais (ou criá-la, se fosse inexistente) e tomar partido de um deles. Com o apoio do escolhido, a quem davam armas e meios para subjugar os rivais, os europeus controlavam a população inteira.
Pode-se dizer que todas as potências conduziam a conquista da mesma forma: através da força bruta, dividindo para dominar e usando soldados que eram principalmente africanos e não europeus.
O método usado pelos colonizadores provocou tensões que até hoje perduram, pois transformou profundamente as estruturas sociais tradicionais da África.
Formações de grupos flexíveis e cambiantes foram mudadas para “estruturas étnicas” bastante rígidas.
O exemplo mais extremo dessa fronteira imaginária criada pelos europeus é o de tutsis e hutus, de Ruanda. Os tutsis foram considerados de “origem mais nobre” pelos colonizadores (primeiro alemães, depois belgas), e os hutus foram colocados em posição de inferioridade. Os tutsis mantiveram o poder mesmo após a saída dos belgas.
Em 1994, 32 anos após a independência de Ruanda, cerca de 1 milhão de pessoas morreram no conflito em que os detentores do poder foram perseguidos pelos até então marginalizados hutus.
As fronteiras territoriais também foram delineadas sem respeitar a disposição da população local, com base nos interesses dos europeus. Eles recorriam a noções arbitrárias como latitude, longitude, linha de divisão das águas e curso presumível de um rio que mal se conhecia. E essas fronteiras ainda sobrevivem.
Cerca de 90% das atuais fronteiras na África foram herdadas do período colonial. Apenas em 15% delas foram levadas em consideração questões étnicas.
Há ainda mais de uma dezena de fronteiras a serem definidas.
O Saara Ocidental é o único caso de território africano que ainda não conseguiu a independência. Em 1975, depois de décadas explorando o fosfato da região, a Espanha o abandonou. No mesmo ano, o Marrocos invadiu o país. Houve resistência, e a guerra durou até 1991. Desde então, a Organização das Nações Unidas tenta organizar um referendo para que a população decida se quer a independência ou a anexação pelo Marrocos.
Para os países africanos, ver-se livre dos europeus não significou uma melhoria de sua situação.
Ao contrário: em muitos lugares, a independência provocou guerras ainda mais sangrentas, que contaram com a participação das antigas metrópoles coloniais.
Um exemplo é a Nigéria. Seis anos após a independência do país, em 1960, os ibos, que haviam adotado o cristianismo, declararam a secessão do território nigeriano de Biafra.
Foram apoiados por franceses e portugueses, interessados nas ricas reservas de petróleo da região. Os hauçás e fulanis, muçulmanos que dominavam o cenário político do país, lutaram pela unidade apoiados pelos ingleses. O resultado foi uma guerra civil em que quase 1 milhão de nigerianos morreram, a grande maioria de fome até hoje o país é palco de embates religiosos e políticos.
Na marra
Não se sabe exatamente quantos grupos étnicos havia na África quando os colonizadores chegaram, mas acredita-se que fossem por volta de mil.
O que sabemos sugere que as formações políticas e grupais eram muito mais fluidas e a variação lingüística era muito maior do que na era colonial.
Línguas foram adotadas em detrimento de outras, o que provocou o nascimento de elites.
A chegada de missionários e a introdução de escolas formais fizeram com que dialetos específicos fossem selecionados para traduzir a Bíblia. Estabeleceram-se ortografias oficiais, provocando homogeneidade lingüística. Os que falavam a língua do grupo majoritário tiveram mais facilidades num governo centralizado e dominado por uma só etnia.
Se por um lado alguns dialetos desapareceram, o mesmo não ocorreu com a diversidade étnica. Grupos étnicos não foram eliminados durante o domínio colonial, apesar de os alemães terem tentado realizar o primeiro genocídio na Namíbia. Teria sido possível, inclusive, o surgimento de outros povos.
Muitos historiadores defendem a tese de que novos grupos foram criados durante o período colonial, pois as pessoas começaram a se autodefinir de novas formas.
Por exemplo: os ibos da Nigéria e os ewes de Gana e do Togo apenas passaram a se denominar desse modo durante o período entre as duas Grandes Guerras Mundiais.
A colonização comprometeu duramente o desenvolvimento da África. Hoje o continente abriga boa parte dos países mais pobres do planeta. No plano político, o legado do colonialismo inclui a tradição de administração de cima para baixo, a persistência de burocracias que fornecem poucos serviços e um baixo senso de identidade e interesse nacional.
Os Estados são geralmente fracos, ineficientes e brutais. Economicamente, o colonialismo produziu, em sua maior parte, economias dependentes, monoculturistas e não integradas, que atendem prioridades externas e não internas.
A situação atual dos países africanos pode ser atribuída à pressa que os colonizadores tiveram em transformar a realidade local. Isso fez com que o continente pulasse etapas importantes. O maior problema é que, em apenas algumas décadas, as sociedades tradicionais africanas foram lançadas em uma situação totalmente desconhecida. Você não pode criar um sistema capitalista e Estados democráticos de um dia para outro, em poucas gerações. As próprias sociedades tradicionais européias precisaram de séculos para chegar a esse resultado. Essa chance nunca foi dada aos africanos.
Fonte: www.gale.com/www.moderna.com.br/www.encyclopedia.com
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