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Quem ouve falar de Mostar ouve falar da ponte velha. O turismo da cidade, que se localiza na Europa, bem como o seu espaço urbano, desenvolve-se em torno da ponte que em 1993 foi destruída durante uma ofensiva conjunta do JNA e das milícias servo-bósnias.
A ponte, repleta de turistas, impressiona muito menos que os cemitérios que cresceram espontaneamente em muitos parques e jardins da cidade.
Não é preciso estar muito atento para reparar na constância das datas inscritas nas lápides tumulares. Nos anos de 1992 e 1993 a guerra fez uma colheita sangrenta.
Os nomes dos mortos dizem-nos quem eram, a maioria eram bosniaks – bósnios muçulmanos – que morreram em combate ou como vitímas ausentes da guerra total que arrasou a Herzegovina.
A batalha de Mostar marcou para sempre a paisagem da cidade; os edifícios destruídos e as marcas de metralha e de tiros de canhão dão uma estranha ambiência cidade.
O centro perfeito e arrumado contrasta com a envolvência urbana que permanece emersa em escombros e estuque fresco.
(Gabrijel Jurkic)
Os panfletos turísticos da cidade convidam-nos a visitar mais de 20 locais. Segundo um palavroso folheto que me veio parar às mãos havia um interessante “Cemitério Memorial dos Partizans” que merecia ser visitado, a fotografia era convidativa, mostrando um contraste cuidado entre a relva verde vivo e as lápides brancas e polidas.
Chegar ao local é uma desolação. O lixo vê-se mais do que a relva, os cacos de garrafas de cerveja misturam-se com os maços de tabaco vazios e os restos das lápides despedaçadas. O memorial é um caos de lixo em que a memória ficou algures em 1990. A metáfora perfeita do desmembramento mórbido da Jugoslávia.
Fonte: spectrum.weblog.com.pt
Mostar
Mostar, reeguida sobre os escombros da ponte velha
Em Mostar, as marcas de conflitos recentes ainda são visíveis e as polícias continuam desconfiadas, mas a cidade, pequena, fascinante e de olhos postos no futuro, bem merece o título de a mais bela da Bósnia-Herzegovina. Don’t forget ’93, apelam aos visitantes. Relato de uma bela viagem a Mostar.
Mostar, Bósnia-Herzegovina
Chegada noturna a Mostar
São duas da manhã quando o autocarro de passageiros pára na berma da estrada nacional.
Acendem-se as luzes no interior da viatura, o motorista anuncia: Mostar. Olha-se em redor e não se vê algo que se assemelhe a uma cidade, vivalma, tampouco uma central de camionagem – apenas uma estrada nacional. Mostar?, interrogo.
A mão esquerda do motorista indica a direção, há que caminhar. O autocarro não entra no malha urbana para evitar pagar uma taxa turística de entrada. Mesmo sendo duas da manhã, há que caminhar.
Vista do rio Neretva e do centro histórico de Mostar, a partir de um terraço de um bar
Somos cinco os deslocados (ou quatro, descontando um mais afortunado): dois portugueses em viagem que vêm propositadamente para conhecer Mostar, um alemão de idade avançada que vem apanhar o comboio matinal para Sarajevo, um montenegrino de aspecto andrajoso que fala a língua local, e um outro que transporta uma mala enorme e que, ao contrário dos restantes, após uma chamada de telemóvel, tem alguém à sua espera.
Caminhamos os quatro na direção indicada pelo motorista até uma bifurcação onde nos quedamos indecisos. Na dúvida, ainda prosseguimos até uma ponte larga e de aspecto novo sobre o rio Neretva, mas o elemento montenegrino depressa encontra alguém e pergunta pelo caminho correto. A resposta faz-nos mudar de rumo.
Continuamos a caminhar, ladeados por um interminável cemitério que nos dá as boas-vindas a Mostar, agora sim em direção ao centro da povoação. Andamos durante longos minutos ladeados por campas iluminadas pela lua, uma visão aterradora.
Rua pedonal do centro histórico de Mostar
Entramos por fim na cidade quase sem vida por perto. Apenas um pequeno grupo de homens fumam e conversam no passeio. Ouve-se então um ruído crescente.
Aproximam-se dois carros, sirenes ligadas, grande aparato. Indagam sobre quem somos e o que fazemos ali àquelas horas. Dizem que nos viram na ponte e que não é normal andar gente em grupo, na ponte, àquela hora.
São simpáticos, mas a situação é desconfortável – acabados de chegar a um novo país, noite cerrada, num interrogatório das autoridades policiais em plena rua.
Implicam com o montenegrino por algum motivo que a língua não deixa adivinhar, mas deixam-no ir. Asseguram ao alemão que não é aconselhável ficar a vaguear sem rumo até à hora do comboio, manhã cedo. E oferecem-se para nos ajudar a procurar um hotel para pernoitarmos.
São agora quatro da manhã e, em Mostar, não falta muito para amanhecer. Falta, isso sim, vencer muitas desconfianças. Do quarto do hotel não vejo ainda a ponte velha, mas sei que ela já lá se encontra, e que a posso atravessar sem problemas. O amanhã está já a chegar. Para mim, e para o povo de Mostar.
Ponte velha de Mostar, orgulho ferido
9 Novembro de 1993, 10h15 da manhã. A stari most, ou ponte velha, sobre o rio Neretva, com quatro séculos de existência localizada bem no coração de Mostar, é bombardeada por tropas croatas e colapsa. Abre-se a mais profunda ferida no orgulho dos habitantes daquela que dizem ser a mais bela cidade da Bósnia-Herzegovina. O símbolo de união numa povoação já de si dividida.
Quinze anos volvidos, a ponte foi já reconstruída e encontra-se inclusive protegida com a classificação de Patrimônio da Humanidade da UNESCO. Apesar das cores da pedra denunciarem a reconstrução recente da ponte, chamam-lhe, ainda e sempre, orgulhosamente, a ponte velha.
O local onde um pedregulho com dois morteiros cravados repousa, com a inscrição a negro, em jeito de ordem: Don’t forget ’93.
Mostar encontra-se dividida em duas partes bem vincadas, com muçulmanos bósnios, sérvios e croatas a ocuparem cada uma das margens. O rio Neretva funciona como fronteira natural entre as distintas facções, e as pontes da cidade como elos de união.
A zona mais agradável para curtos percursos pedestres fica junto à chamada stari most, ou ponte velha, em ambas as margens, uma área de notória influência turca – quer na arquitetura, quer no ambiente de bazar que se vive nas ruas – onde pululam lojas de artesanato, de artigos em cobre, de tapetes e de bugigangas para turista, restaurantes e pequenos cafés em artérias exclusivamente pedonais.
Nos dias de hoje, aliás, o turismo desempenha um papel fundamental na economia de uma cidade que teve nos curtumes a sua maior indústria, e que procura, a pouco e pouco, reerguer-se dos escombros da guerra. Sintomático é o fato do Tabhana, o palácio onde os curtidores processavam as peles, estar transformado num conjunto de aprazíveis cafés.
Aparte essa zona histórica, agradável e bem conservada, vale naturalmente a pena afastar-se um pouco da ponte velha e embrenhar-se, sem grandes preocupações de orientação, no resto da localidade – o rio é sempre um excelente ponto de orientação.
Há velhas casas turcas tradicionais para visitar, com os seus pátios interiores exuberantemente decorados, a casa-museu Muslibegovic ou a mesquita Koski Mehmed Pacha para conhecer, um hamam (banho turco) para desfrutar ou a ponte Kriva Cuprija datada de 1558, no lado croata da cidade, para atravessar.
Nessas deambulações, tenha apenas em consideração que, um pouco por todo o lado, há ainda edifícios cravados de balas, destruídos, em ruínas, pelo que o grau de exigência relativamente ao arranjo urbanístico de Mostar tem que levar em consideração que não passaram ainda duas décadas sobre o bombardeamento da cidade.
LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA
Localizado na Europa, Mostar é a maior cidade da Herzegovina, uma das cinco regiões da Bósnia-Herzegovina. Fica situada no Sul do país, distando cerca de 130 quilômetros da capital Sarajevo e apenas 60 quilómetros da costa do Adriático.
QUANDO IR
Na Europa, a Primavera, nomeadamente durante os meses de Abril e Maio, é um dos períodos mais agradáveis para visitar Mostar, com dias amenos e luminosos, e uma cidade frondosa e verdejante. De meados de Julho a meados de Setembro os dias são bastante quentes. Por enquanto, não há hordas de turistas na cidade, se exceptuarmos, porventura, as ruas pedonais de ambos os lados da ponte de Mostar durante o pico do Verão.
COMO CHEGAR A MOSTAR
Em Mostar existe um pequeno aeroporto, mas é quase exclusivamente utilizado por voos charter que transportam peregrinos católicos até Medugorje – o local onde seis adolescentes afirmam ter presenciado uma aparição miraculosa da Virgem Maria -, pelo que é necessário voar para Sarajevo ou Dubrovnik, as cidades de acesso mais conveniente a Mostar.
A Lufthansa tem voos para Sarajevo a partir de Lisboa, via Munique, com preços desde 240 , ou do Porto e Faro, via Frankfurt, desde 250 . Para Dubrovnik, igualmente via Frankfurt, as tarifas mínimas da companhia alemã estão fixadas em 300 . Alternativamente, a low cost easyJet voa para Split, na Croácia, via Genebra, com preços que variam consoante as promoções do momento.
De Sarajevo, existem autocarros para Mostar, mas o comboio é mais agradável e surpreendentemente confortável. Os bilhetes adquirem-se na própria estação de caminho-de-ferro e não é prática corrente os lugares serem reservados, pelo que a compra antecipada é desnecessária. A partir das cidades croatas de Split ou Dubrovnik, os autocarros de passageiros são o meio de transporte mais prático e eficiente.
ONDE DORMIR
Mostar é uma cidade pequena, pelo que, regra geral, os hotéis ficam sempre a curta distância do centro histórico. Entre os mais elogiados pelos viajantes encontram-se o Hotel & Restaurant Kriva Cuprija (quarto single a 35 euros, duplo por 65) e o Muslibegovic House Hotel (single 40 euros, duplo 70).
Alternativamente, o Posto de Turismo de Mostar providencia quartos em casas privadas, normalmente mais baratos do que os hotéis. Visite antes de aceitar, pois a qualidade das habitações é, naturalmente, variável.
GASTRONOMIA
A oferta gastronômica é farta e variada, desde modestos estabelecimentos do centro histórico até restaurantes de algum requinte. Algures no meio-termo, o restaurante Kulluk constitui uma boa introdução à cozinha bósnia, sem grandes agressões a estômagos mais sensíveis.
Entre as especialidades constam diversas carnes grelhadas e trutas, embora possua igualmente opções de influência italiana. Fica na zona pedonal junto à ponte velha de Mostar, do lado muçulmano da cidade.
VIDA NOTURNA
Para uma saída nocturna, o excêntrico Ali-Baba Lounge é quase uma instituição de Mostar.
A discoteca dá vida a uma gruta do centro histórico e, para a encontrar, não é preciso muitas indicações: basta seguir a música que ecoa no empedrado das ruelas.
INFORMAÇÕES ÚTEIS
A moeda oficial da Bósnia-Herzegovina é o Marco Bósnio (BaM) e um euro equivale sensivelmente a dois BAM. Há caixas de levantamento automático em Mostar, mas muitas lojas aceitam pagamentos em euros. O custo de vida na Herzegovina é ligeiramente inferior ao português – uma refeição para duas pessoas num bom restaurante rondará os 15 . Os cidadãos portugueses não necessitam de visto para viajarem pelo território da Bósnia-Herzegovina.
Fonte: www.almadeviajante.com
Mostar
De passagem por Mostar
Apesar de toda a informação disponível e do rasto de destruição que ainda se deixava ver no centro histórico de Dubrovnick, os olhos, alagados em paisagens da costa da Croácia e do Montenegro, não estavam preparados para o que os esperava na zona muçulmana da Bósnia i Herzegovina.
Os ataques da Sérvia à Croácia tinham perdurado por muito menos tempo (até quele dia em que os respectivos presidentes, tendo decidido partilhar gastronomia, se entretiveram, à sobremesa, a partilhar também a BiH, logo ali desenhando, num qualquer guardanapo de papel, o seu novo mapa – este bocado para mim, aquele para ti) .
E a Unesco e a UE tinham já providenciado por muito dinheiro para a reconstrução de toda a muralha de Dubrovnick (mais que justamente classificada como patrimônio da humanidade) e a reconstrução dos edifícios intra-muros (os mais devastados) progredia visivelmente.
Na zona muçulmana da BiH, atacada desde então já não apenas pelos vizinhos sérvios da Sérvia e pelos seus ainda mais vizinhos sérvios da Bósnia, mas também pelos também duplamente vizinhos croatas, não ficara pedra sobre pedra.
Em Mostar, uma cidade de novo cheia de vida, a marca deixada pela dominação otomana permanece viva na religião, na cultura, na gastronomia, na arquitetura.
No centro histórico, qual cidade turca, com o seu bazar e as suas mesquitas debruçando-se sobre o rio ofuscante do verde das águas e das margens, pejadas de pequenos restaurantes empoleirados em socalcos, a par da reconstrução faz-se questão de manter a memória da tragédia.
Na ponte outrora medieva, que ligava a zona muçulmana de Mostar à zona de predominância croata, totalmente destruída pelos bombardeamentos croatas e agora reconstruída em “estilo” pastiche, jovens mais ou menos musculados exibem os seus atributos, aparentemente na mira de suscitar um donativo que justifique o arriscado mergulho nas águas de perigosas correntes e baixios, quiçá na mira de se exibirem, apenas.
Mostar, Bósnia-Herzegovina
Em Mostar, quer no centro histórico quer na zona mais moderna que a envolve, quer nos bairros residenciais, quer em qualquer parte por onde se caminhe ou olhe, prédios inteiros completamente destruídos e abandonados convivem com aqueles outros (todos os demais!) que ficaram habitáveis (e habitados) apesar de todas as suas paredes exteriores terem sido alvejadas por todos os tipos de projécteis. Constroem-se novos edifícios e aqui e ali reparam-se as fachadas mas, ao lado, o testemunho do massacre permanece.
Ao longo das estradas, nos campos, muitas casas novas, lado a lado com aquelas (todas!) destelhadas e de que só restaram as paredes exteriores, esburacadas como queijo suíço e, aqui e ali, aldeias inteiras ou casas isoladas totalmente abandonadas – porque reconstruir nem sequer é viável.
Mostar, Bósnia-Herzegovina
Já um pouco mais distantes dos campos de Mostar, a caminho de Sarajevo, pisados os olhos por esta paisagem do horror contra o esquecimento, a beleza impôs-se: durante horas acompanha-nos, mesmo ali à beira da estrada, em curvas e contra-curvas, um largo rio de transparentes águas cor esmeralda e margens ora escarpadas ora frondosas, ao longe mas tão perto, a alvura dos altos picos nevados, em telão de fundo um forte azul celeste.
Fonte: incursoes.blogspot.com
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