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A fauna antártica, de modo geral, é caracterizada, basicamente, pela pequena variedade de espécies, grande número de indivíduos e pelo ciclo sucessivo de migração.
Na Antártica, existe uma pequena variedade de aves se comparadas, por exemplo, com as aves da Amazônia. Em contrapartida, as aves antárticas apresentam-se em quantidades muito superiores. Podem-se encontrar mais de 2 milhões de albatrozes de uma única espécie, reunidos num mesmo local, na época de procriação, ou mesmo colônias de pingüins com 1,5 milhões de indivíduos.
Pinguineira
O reduzido número de espécies de aves deve-se à cadeia alimentar bastante simplificada, com poucas opções alimentares e a pouca disponibilidade de locais adequados à reprodução. O rigor do clima não é o fator principal para o reduzido número de espécies, já que existem imensas populações de aves de uma determinada espécie que, evidentemente, estão adaptadas às condições alimentares e de procriação disponíveis nas regiões antárticas.
As aves mais características da Antártica são os pingüins. São bastante adaptados à vida aquática. Suas asas transformaram-se em verdadeiros remos, nadam com bastante rapidez, atingindo velocidades de até 40 quilômetros por hora, chegando a mergulhar até 250 metros de profundidade, permanecendo submersos por até 18 minutos.
No mar, avançam saltando para fora d’água como os golfinhos, para diminuir o atrito com a água e para respirar. A maior parte das espécies habitam regiões de água fria e, para reduzir a perda de calor, possuem uma grossa camada de gordura sob a pele e uma espessa proteção de penas.
Sempre que retornam do mar, os pingüins fazem a impermeabilização de suas penas, que são untadas com óleo retirado de uma glândula especial. Esse procedimento, efetuado com o bico, confere um eficiente isolamento hídrico e térmico para enfrentar os rigores do clima.
Os pinguins possuem uma grande capacidade de adaptação tanto à vida na terra quanto no mar. O branco de seu ventre ilude os predadores que vem de baixo, como as focas e as baleias, e o preto do dorso engana as aves de rapina, como as skuas e os petréis, que observam do alto.
De todas as espécies de pingüins que habitam a Antártica, somente o pingüim-imperador e o pingüim-adélia nidificam no Continente Antártico. As demais espécies ocupam a Península Antártica e ilhas próximas e outras ilhas subantárticas.
Pinguim-Imperador
Pinguim-Adélia
Os seus principais predadores são as skuas que atacam os seus ninhos, “roubando” ovos e filhotes. Os ninhos vazios permanecem ocupados pelos pais, contribuindo para a proteção da colônia, revelando um elevado caráter de proteção de grupo. Assim procedendo, evitam que ninhos mais do interior da colônia sejam predados pelas skuas. No mar, são predados por algumas espécies de focas, que atacam tanto os filhotes quanto os adultos.
A skua, Catharacta skua, ou gaivota rapineira, é também uma das aves mais características da Antártica. Possui bico forte em forma de gancho e plumagem escura. Essas aves são bastante agressivas e defendem seu território contra todos os invasores, inclusive o homem, lançando-se em vôo rasante sobre ele.
Possuem uma atração especial por ovos e pequenos filhotes de pingüins. As skuas vivem em casais e seus ninhos são covas construídas nos musgos, onde põem de um a dois ovos de um verde cinza-oliva com manchas escuras. Seus filhotes são de cor marrom acinzentado claro.
Uma característica interessante dessas aves é que elas podem migrar para o Ártico, durante o inverno antártico. Em 1979, uma skua polar, anilhada para estudo, próxima à estação americana Palmer, foi encontrada seis meses depois por esquimós na Groenlândia, tendo percorrido 14 mil quilômetros.
Skua
Os petréis são aves meramente marítimas que, em período de procriação, procuram o Continente Antártico ou as suas ilhas. Existem nos mais variados tamanhos e suas narinas localizam-se na parte superior do bico. O petrel-gigante, Macronectes giganteus, possui envergadura de aproximadamente 2,10 metros.
Seu corpo tem cerca de 90 centímetros. Geralmente são da cor marrom, com a cabeça um pouco mais clara. Certos exemplares têm coloração branca, com manchas pretas no corpo. Seus filhotes são da cor branca. Os petréis-gigantes alimentam-se de qualquer animal recentemente morto ou já em decomposição, mas também caçam, especialmente, pingüins.
Petréis
Petrel-gigante em seu ninho
A pomba-do-cabo, Daption capense, tem a cabeça negra e o dorso branco com numerosas pintas escuras. São localizadas, freqüentemente, nas proximidades das embarcações, em grupos de muitos indivíduos. Fazem seus ninhos entre as rochas, nas saliências das escarpas à beira-mar e alimentam-se de peixes.
Já a pomba-antártica, Chionis alba, vive nas colônias de pingüins onde constrói seu ninho e alimenta-se, preferencialmente, das fezes de pingüins, ricas em proteínas. É inteiramente branca e o bico tem uma placa achatada, terminando numa ponta fina.
Trinta-réis Antártico em pleno vôo
O biguá tem pescoço comprido e o bico recurvado é fino e longo. A coloração negra recobre o dorso, a cabeça e o bico, enquanto o ventre é inteiramente branco e os olhos azuis. A cor dos olhos faz com que seja chamado biguá-de-olhos-azuis, Phalacrocorax atriceps. Fazem seus ninhos em pequenos montes formados de lama, fezes, penas e restos de vegetais e são utilizados, todos os anos, pelos mesmos indivíduos daquela colônia.
Os trinta-réis são gaivotinhas ou andorinhas-do-mar. Têm corpo delicado com cerca de 38 centímetros de comprimento e são providos de um bico fino e pontudo. O trinta-réis antártico, Sterna vittata, alimenta-se de peixes, pescando-os em vôo de queda livre.
O trinta-réis do Polo Norte, Sterna paradisae, é um visitante do Ártico. Nidifica, exclusivamente, no Ártico e migra para a Antártica, fugindo dos rigores dos invernos polares, vivendo nos extremos do planeta, onde os dias são permanentes durante os verões, talvez seja o animal da Terra que mais vê a luz solar.
Nos mares antárticos, existem grandes quantidades de fitoplâncton, microalgas que realizam a transformação do material inorgânico em orgânico e proporcionam alimento rico em proteínas e gorduras.
Os ventos, o relevo e as correntes submarinas, bem como as diferenças de temperatura da água produzem circulações verticais da água do mar. Essa movimentação faz com que as águas da superfície (0 a 150 metros) sejam continuamente removidas e substituídas por águas ricas em nutrientes (fitoplâncton e zooplâncton) provenientes das profundezas oceânicas.
Próximo ao limite norte da Corrente Antártica Circumpolar, as águas antárticas (-1ºC a 3,5ºC, no verão; -1,8ºC a 0,5ºC, no inverno) encontram as águas quentes do sul dos Oceanos Atlântico, Índico e Pacífico e nelas mergulham, dando origem à chamada Convergência Antártica, onde a água sofre um acréscimo de 2 a 3ºC.
Ao sul da Convergência Antártica, em 10% dos mares da Terra, está localizada a região marítima mais nutritiva da Terra, onde prolifera o krill, um crustáceo parecido com o camarão.
O krill alimenta-se de fitoplâncton e, por sua vez, serve de alimento para a maioria dos peixes, mamíferos e aves, sendo considerado a base da cadeia alimentar da Antártica. Das 85 espécies de krill que habitam os oceanos, somente 7 espécies ocorrem na Antártica, sendo que a espécie Euphausia superba é a mais importante devido aos seus grandes cardumes.
Seu tamanho varia de 1 a 6 centímetros de comprimento e cerca de 1,2 gramas. Agregam-se em cardumes tão grandes que formam extensas manchas na superfície do mar. Como todos os outros crustáceos, o krill deve fazer a muda completa de sua carapaça (exoesqueleto) para poder crescer e a espécie Euphausia superba chega a viver 7 anos, tempo bastante longo para um animal planctônico.
Na Antártica, existem cerca de 150 espécies de peixes, dos quais perto de uma dúzia apresentam viabilidade econômica. Ao longo de sua evolução, os peixes polares passaram por adaptações para viverem num meio bastante frio. Os fluidos de seus corpos não congelam, porque seus corpos contêm diversas moléculas anticongelantes (glicopeptídeos) que evitam o crescimento de microcristais de gelo.
O mais conhecido dos peixes antárticos é o peixe-gelo, “ice-fish”, Chaenocephalus aceratus, que pode chegar até 60 centímetros de comprimento. Possui uma grande cabeça, desproporcional ao restante de seu corpo e se diferencia dos demais peixes pela sua coloração quase transparente e por ter o sangue branco, desprovido de glóbulos vermelhos. O mecanismo de oxigenação das células deste peixe ainda não é completamente conhecido.
O Brasil realiza diversos projetos científicos relacionados à fauna marinha, desde o estudo da dinâmica espacial de organismos planctônicos, o estudo do krill e anfípodas até a evolução do impacto ambiental em peixes antárticos.
Flora da Antártica
A flora terrestre da Antártica é constituída, basicamente, por vegetais inferiores, caracterizados pelas algas, fungos, liquens e musgos. São encontradas somente duas espécies de vegetais superiores (angiospermas – que possuem frutos e sementes), as gramíneas Deschampsia antarctica e Colobanthus quitencis, que apresentam flores, por alguns poucos dias do ano, durante seus ciclos reprodutivos.
Cobertura vegetal de liquens próxima à EACF
Essa carência de flora terrestre ocorre devido à ausência de solo propriamente dito, decorrente do pequeno intemperismo químico que, juntamente com o intemperismo físico, provocam a desagregação das rochas, e também devido às rigorosas condições climáticas da Antártica.
No caso dos “solos”, a indisponibilidade de nutrientes e as condições de fixação impossibilitam o desenvolvimento das plantas superiores mais desenvolvidas. Somente 2% do Continente Antártico estão descobertos de gelo e neve e, freqüentemente, ocorre uma competição da flora terrestre com as colônias de animais, inibindo o crescimento de vegetação.
Musgos
Mamíferos da Antártida
Ao contrário do Ártico, onde existem mamíferos terrestres, na Antártica, os mamíferos vivem no mar e estão agrupados em duas ordens: Pinnipedia (focas e lobos-marinhos) e Cetacea (baleias, botos e golfinhos).
Os cetáceos, que parecem ter derivado de algum ancestral primitivo que abandonou a terra, sofreram diversas adaptações morfológicas e fisiológicas que lhes permitiram viver no meio aquático. Seus corpos perderam o pêlo e tornaram-se torpediformes para facilitar a natação.
A diminuição do peso, devido ao empuxo, teria permitido que eles atingissem as grandes dimensões observadas, como ocorre com a baleia-azul, com até 32 metros de comprimento e 165 toneladas. A baleia-azul possui coloração azul-acinzentada, num tom que varia de indivíduo para indivíduo.
O cachalote é, provavelmente, o mais conhecido dentre os cetáceos, popularizado pelo livro Moby Dick, publicado pelo escritor norte-americano Herman Melville, em 1851. Possui como característica marcante o formato retangular da cabeça, desproporcionalmente maior que a mandíbula.
Podem mergulhar a grandes profundidades, cerca de 2.000 metros no caso de grandes machos, para buscar suas presas, principalmente, as lulas gigantes, que podem chegar a 18 metros, considerando a cabeça e os tentáculos. A duração do mergulho pode durar mais de 45 minutos. Podem atingir 20 metros de comprimento, 38 toneladas e 50 anos de idade.
As grandes baleias, geralmente, realizam migrações movidas por duas necessidades vitais da espécie: alimentação e reprodução. No verão, vão para os pólos à procura do alimento abundante, acumulando grande quantidade de gordura em alguns meses.
Com a chegada do inverno polar, as grandes baleias, geralmente, deslocam-se em direção ao Equador, em busca de águas mais quentes e de clima menos rigoroso, para o acasalamento e para criar seus filhotes. O período de amamentação dura, pelo menos, sete meses, com a mãe se dedicando integralmente ao filhote.
O leite materno é muito nutritivo, rico em proteínas e calorias e um filhote de baleia-azul, que nasce com 5 toneladas, ingere quase 600 litros diários de leite, podendo dobrar seu peso em uma semana.
Durante o período migratório e nas águas de reprodução e cria, as grandes baleias alimentam-se muito pouco. Como as estações do ano são invertidas nos dois hemisférios da Terra, as populações de baleias possuem períodos migratórios opostos e, como conseqüência, as baleias do Norte não se encontram com as baleias do Sul.
A ordem Pinnipedia, grupo de mamíferos aquáticos que tem os quatro membros, com os dedos unidos por membranas, possui duas famílias na Antártica: a Otariidae, com 14 espécies, entre as quais os lobos-marinhos (focas-de-pêlo) e os leões-marinhos e a Phocidae, com 18 espécies em todo mundo, dentre as quais a foca-de-weddell e o elefante-marinho.
Elefantes-marinhos. Nesta época do ano, dezembro e janeiro, estão trocando de pele
Todos os pinípedes são altamente adaptados à vida aquática e, ao contrário dos cetáceos, necessitam retornar à terra ou ao gelo flutuante para descansar e procriar.
O lobo-marinho ou foca-de-pêlo é o único representante da família Otariidae que habita a Antártica. Anda sobre as suas quatro nadadeiras, com o tórax levantado, balançando, mas é muito veloz mesmo sobre pedras e rochas. Tem orelhas pequenas, mas bem visíveis. Vivem em pequenos grupos familiares e atacam o homem enquanto têm cria.
Lobo-marinho sobre uma cobertura de musgos
A família Phocidae possui cinco representantes na região antártica. Ocupam as praias continentais e ilhas subantárticas e, no inverno, distribuem-se sobre as banquisas, “pack-ice”. Esses representantes são a foca-de-Weddell, a foca-leopardo, a foca-caranguejeira, a foca-de-Ross e o elefante-marinho e possuem mecanismos de alimentação diferentes.
Já os elefantes-marinhos são caracterizados pelo seu tamanho. Um macho adulto, que possui uma espécie de tromba, chega a medir 6 metros de comprimento e pesar 4 toneladas. Passam a maior parte do inverno no mar e só retornam aos locais de acasalamento no começo de setembro.
As fêmeas atingem até 3,5 metros e são atraídas pelos machos sexualmente maduros, que mantêm haréns de 5 a 30 fêmeas e lutam para defendê-las de outros machos. Os filhotes nascem em outubro e pesam de 40 a 50 quilogramas. Os elefantes-marinhos movem-se como lagartas, rastejando pelo chão. Na água, movem-se com agilidade e mergulham por longos períodos para se alimentar, principalmente, de lulas (75%) e peixes (25%).
Fonte: www.ufsm.br
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