Quantas vezes do fuso s’esquecia (1595)

Sonetos de Luís Vaz de Camões

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Quantas vezes do fuso s’esquecia

Daliana, banhando o lindo seio,

tantas vezes de um áspero receio

salteado, Laurénio a cor perdia.

Ela, que a Sílvio mais que a si queria,

para podê lo ver não tinha meio:

ora, como curara o mal alheio

quem o seu mal tão mal curar sabia?

Ele, que viu tão clara esta verdade,

com soluços, dezia (que a espessura

comovia, de mágoa, a piedade):

—Como pode a desordem da Natura

fazer tão diferentes na vontade

a quem fez tão conformes na ventura?

Fonte: www.bibvirt.futuro.usp.br

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