Prisioneiro

Vinícius de Moraes

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Eu cerrei brandamente a janela sobre a noite quieta
E fiquei sozinho e parado, longe de tudo.
Nenhuma percepção – talvez uma leve sensação de frio no vento
E uma vaga visão de objetos boiando no vácuo dos olhos.
Nenhum movimento – distâncias infinitas em todas as coisas

No lençol branco que era outrora o grande esquecimento
No poeta que ontem era o refúgio e a Iágrima
E no misericordioso olhar de luz que sempre fora o supremo apelo.
Nenhum caminho – nem a possibilidade de um gesto desalentado
Na angústia de não ferir o desespero do espaço móvel.

Passariam as horas e nas horas o auge de cada instante de sofrimento
Passariam as horas até a hora de voltar para o amor das almas
E seguir com elas até a próxima noite.
Nenhum movimento – é preciso não despertar o sono dos que velam em espírito
É preciso esquecer que há poesia a ser colhida nas longas estradas.
Nenhum pensamento – a mobilidade será o horror de todas as noites
É preciso ser feliz na imobilidade.

Rio de Janeiro, 1935

Fonte: www.4shared.com

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