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Olavo Bilac
Janeiro
Coro das crianças:
Venham os meses desfilando!
Cante cada um por sua vez!
Dancemos todos, escutando
O que nos conta cada mês…
Janeiro:
Eu sou o mês primeiro,
O cálido Janeiro!
Ouvi minha canção!
Dou festas e presentes…
E os corações contentes,
Quando apareço, estão.
Quando apareço, os sinos
Começam cristalinos,
A erguer o alegre som.
Trago para as crianças
Afagos, esperanças,
E festas de Ano-Bom.
Mas, se a alegria espalho,
Desejo que o trabalho
Vos possa reunir:
Meses, eu vos saúdo!
Eu sou o mês do estudo:
As aulas vão se abrir!
Coro das crianças:
Saia da roda o mês primeiro!
Prossiga a dança jovial!
E entre na roda Fevereiro,
Que é o belo mês do Carnaval!
Fevereiro
Coro das crianças:
Venham os meses desfilando!
Cante cada um por sua vez!
Dancemos todos, escutando
O que nos conta cada mês…
Fevereiro:
Fevereiro, muitas vezes,
No meio dos doze meses,
É o mês mais jovial.
É o mês da mascarada,
Da alegria desvairada,
Das festas do Carnaval.
Saem à rua os diabos,
De longos, vermelhos rabos,
E caras de horrorizar,
E o velho, que, dando o braço
Ao dominó, e ao palhaço,
Diz graçolas, a pular.
Brincai! por estes treze dias
De festas e de alegrias,
Os vossos livros deixai!
Para alegrar vossas almas,
Batei aos máscaras palmas,
– Depois… aos livros voltai!
Coro das crianças:
Saia da roda Fevereiro,
Pois já passou a sua vez!
Entre na roda o mês terceiro!
Venha outro mês! venha outro mês!
Março
Coro das crianças:
Venham os meses desfilando!
Venha cada um por sua vez!
Dancemos todos, escutando
O que nos conta cada mês.
Março:
Março, que se adianta,
Traz a Semana Santa,
Em que Jesus morreu:
Foi pela Humanidade
Que ele, todo bondade
Viveu e padeceu.
Há luto na cidade…
Quem se humilhar não há-de,
Pensando na Paixão?
Na igreja os órgãos cantam,
E as almas se levantam,
Cheias de gratidão.
Orai também, crianças!
E, suspendendo as danças,
Lembrai-vos de Jesus,
Que, mártir voluntário,
Morreu sobre o Calvário,
Nos braços de uma cruz.
Coro de crianças:
Março morreu! Prossiga a dança!
Prossiga a ronda juvenil!
E vamos ver que mês avança:
É o mês de Abril!
É o mês de Abril!
Abril
Coro de crianças:
Passem os meses desfilando!
Venha cada um por sua vez!
Dancemos todos,escutando
O que nos conta cada mês!
Abril:
Eu sou Abril! O seio
Tenho cheiroso, e cheio
De frutos, e de flores.
Abril o outono encerra:
Já pesam sobre a terra
Os últimos calores.
Foi neste mês que, um dia,
O ódio da tirania
Um mártir consagrou.
Saudai o Tiradentes,
E os sonhos resplandentes
Que o seu Ideal sonhou!
Quis ver a Pátria amada
Do jugo libertada,
Digna do seu amor…
— Vós, decorai-lhe a história,
Honrando-lhe a memória!
Saudai o Sonhador!
Coro das crianças:
Um novo passo agora ensaio:
Dancemos todos outra vez!
Entre na toda o mês de Maio,
Saia da roda o quarto mês.
Maio
Coro de crianças:
Passem os meses desfilando!
Venha cada um por sua vez!
Dancemos todos, escutando
O que nos conta cada mês!
Maio:
Dai-me vivas! Dai-me palmas!
Exultem todas as almas,
Cheias de um vivo fulgor
Todo o Brasil, congregado,
Saúde o mês consagrado
da Liberdade e do Amor!
A grande raça oprimida
Abri as portas da vida,
As portas da redenção!
Mudei em risos as dores,
Mudei em tufos de flores
Os ferros da escravidão!
Treze de Maio! A desgraça
Findou de toda uma raça!
– Aos beijos, dando-se as mãos
Os brasileiros se uniram,
e o cativeiro aboliram,
Ficando todos irmãos.
Coro de crianças:
Maio já deu o seu recado…
Prossiga, em danças, a função!
Entre na roda o mês amado,
O alegre mês de São João!
Junho
Coro de crianças:
Passem os meses desfilando!
Venha cada um por sua vez!
Dancemos todos, escutando
O que nos conta cada mês!
Junho:
Em chamas alviçareiras,
Ardem, crepitam fogueiras…
— E os balões de São JoãoVão luzir, entre
as neblinas,
Como estrelas pequeninas,
Entre as outras, na amplidão.
Não há casinha modesta
Que não se atavie, em festa,
Nestas noites, a brilhar:
Não se recordam tristezas…
Estalam bichas chinesas,
Estouram foguetes no ar.
Fogos alegres, pistolas,
Bombas! ao som das violas,
Ardei! cantai! crepitai!
Num largo e claro sorriso,
Seja a terra um paraíso!
Folgai, crianças, folgai!
Coro de crianças:
Aí vem Julho, o mês do frio…
Vamos os corpos aquecer,
Acelerando o rodopio…
— Pode outro mês aparecer!
Julho
Coro de crianças:
Passem os meses desfilando!
Venha cada um por sua vez!
Dancemos todos, escutando
O que nos conta cada mês!
Julho:
Mais curtos são os dias…
As noites são mais frias,
E custam a passar…
Que cômodo o descanso,
Na calma, no remanso,
Na placidez do lar…
Que paz, e que franqueza,
Quando, ao redor da mesa,
À luz do lampião,
A gente se congrega,
E ao júbilo se entrega
De doce comunhão!
Amigos, estudemos!
E esta estação saudemos
Bondosa, que nos traz
As longas noites calmas
Que dão às nossas almas
O Amor, o Estudo e a Paz!
Coro de crianças:
O mês de julho oculta o rosto…
O seu encanto se desfez…
Entre na roda o mês de agosto!
Entre na dança o oitavo mês!
Agosto
Coro de crianças:
Passem os meses desfilando!
Venha cada um por sua vez!
Dancemos todos, escutando
O que nos conta cada mês!
Agosto:
Com as chuvas derradeiras,
Molham-se as verdes palmeiras
E os canteiros do jardim.
Já que o tempo não melhora,
Deixemos em paz lá fora
O balanço e o trampolim…
Depois das lições, abramos
Livros de contos; leiamos
As ardentes narrações
De aventuras, de viagens
Por inóspitas paragens
E por selvagens sertões…
— De explorações arrojadasFeitas em zonas geladas,
Em zonas de vivos sóis;
E percorramos a História,
Honrando e amando a memória
Dos justos e dos heróis!
Coro de crianças:
Fugiu Agosto! Pede entrada
Um novo mês que nos vai dar
A Primavera perfumada!
É o nono mês que vai entrar!
Setembro
Coro de crianças:
Passem os meses, desfilando!
Venha cada um por sua vez!
Dancemos todos, escutando
O que nos conta cada mês!
Setembro:
Eu trago a primavera;
Trago a aprazível era
De universais festins;
Mais belas, mais viçosas,
Surgem sorrindo as rosas
E as dálias nos jardins.
Sou o jovial setembro!
E as brasileiros lembro
A data sem rival,
Em que o Brasil potente,
Ficou independente
Do velho Portugal.
As vozes elevemos
Em hinos, e beijemos
O pavilhão gentil,
Que nos seu lema encerra
O ideal da nossa terra,
A glória do Brasil!
Coro de crianças:
Adeus, setembro! Já descubro,
Cheio de flores, a cantar,
Lépido e alegre, o mês de Outubro,
Que em nossa roda quer entrar!
Outubro
Coro de crianças:
Passem os meses desfilando!
Venha cada um por sua vez!
Dancemos todos, escutando
O que nos conta cada mês!
Outubro:
Foi neste mês que, por mares
Cheios de névoas e azares,
Cristóvão Colombo viu
Um novo e esplêndido Mundo
Surgir do Oceano profundo…
E a América descobriu.
As intrigas, os perigos,
A inveja dos inimigos
Não o puderam vencer;
Viu passarem as procelas
Sobre as suas caravelas,
Sem a esperança perder.
Glória ao Gênio destemido,
Que navegou conduzido
Pela sua intrepidez!
Ergamos a voz em festas
Àquele que estas florestas
Viu pela primeira vez!
Coro de crianças:
Um outro mês já pede entrada:
Deixem-no entrar, que é sua vez!
Em nossa roda bem formada,
Entre cantando um outro mês!
Novembro
Coro de crianças:
Passem os meses desfilando!
Venha cada um por sua vez!
Dancemos todos, escutando
O que nos conta cada mês!
Novembro:
Neste mês, compremos ramos
De belas flores, e vamos
Aos cemitérios orar!
Só pode ser bom na vida
Quem, com calma comovida,
Sabe os mortos respeitar.
Visitemos os finados,
— Aqueles, que, descansados,
Dormem o sono final!
— Mas, logo depois, cantemos!
E com hinos celebremos
Nossa data nacional!
Pátria que todos amamos!
Aos teus pés depositamos
Saudações e flores mil!
Sempre sobre a tua história
Fulgure a estrela da Glória!
Deus engrandeça o Brasil!
Coro de crianças:
Dançai, dançai mais vivamente!
Saia Novembro, e entre, a cantar
O mês querido que, contente,
As férias vem anunciar!
Dezembro
Coro de crianças:
Passem os meses desfilando!
Venha cada um por sua vez.
Dancemos todos, escutando
O que nos conta cada mês!
Dezembro:
Deixemos as coisas sérias!
Sou o belo mês das Férias,
O belo mês do Natal!
Crianças! tendes saudade
Da casa, da liberdade,
Do carinho maternal?
Sou o belo mês da Infância!
— Quem trabalhou com constância,Debalde não trabalhou:
As aulas estão suspensas;
Tem prêmios e recompensas
Todo aquele que estudou.
Quem estudou, finalmente,
Recebe a paga, contente,
Do sacrifício que fez…
— Férias, colégios fechados
E livros abandonados!…
Eu sou das férias o mês!
Coro de crianças:
Inda uma vez dancemos rindo!
Vamos às casas regressar…
O ano acabou! Dezembro é findo!
Vamos agora descansar!
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