Junqueira Freire
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Olha-me ó virgem – a fronte,
Olha-me os olhos sem luz;
A palidez do infortúnio
Por minhas faces transluz;
Olha, ó virgem – não te iludas –
Eu só tenho a lira e a cruz.
Foge, ó virgem – não descubras
Às trevas a tua luz;
Longas trevas! – luz tão linda
Nas trevas pouco transluz;
Reflete apenas tremendo
Nas traves roxas da cruz.
É linda – mas é profana,
– Não pode arder junto à cruz:
Maldição! – ei-la no templo!
É faca – porém transluz:
Transluz aqui; – mas no fundo,
– No fundo não chega a luz.
Foge, ó virgem, dessas trevas,
Desse mistério da cruz;
Na gleba não nasce a rosa,
Astro em nuvens não transluz;
O fermento do cadáver
Asfixia e mata a luz.
Foge, ó virgem – inda é tempo –
Não queiras perder a luz;
Tua luz faz mal aos mortos,
Aos mortos asila a cruz;
A cruz extingue a beleza
Que nas donzelas transluz.
Ao aspecto de um finado
Escondas bem tua luz;
Não queiras fanar as graças
Junto dos cravos da cruz;
Só nos tálamos dourados
Da vida o prazer transluz.
Que para luzir aos mortos
Não é que tens essa luz;
Esse amuleto de graças,
Que em tuas faces transluz,
Não é feito para um morto,
– Sepultado aos pés da cruz.
Inocente! – que não sabes
Que meus olhos não têm luz;
Inocente! – olha que a morte
Em minhas faces transluz;
Que as emoções de meu peito
Já expiraram na cruz.
Não posso: – a morte tolheu-me;
Não posso: apagou-se a luz;
Bem vejo: – ainda a beleza
Em tuas faces transluz;
– Mas eu somente coa lira
Estou suspenso da cruz.
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