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A livros da mesma forma que a Constituição Federal nos garante
o direito à educação. Por isso, em 2003, o governo criou
o Programa Brasil Alfabetizado, para garantir, aos jovens e adultos que nunca
tiveram esse direito, a oportunidade de aprender a ler, escrever e fazer as
operações matemáticas básicas.
Acima de tudo, o Ministério foi motivado por acreditar que o acesso
ao livro e a criação do hábito de leitura são
essenciais para fortalecer a nossa cidadania e também como alicerce
para outras aprendizagens. A leitura nos permite entender melhor o mundo a
nossa volta e conhecer melhor também quem somos nós. Por meio
da leitura, ganhamos acesso a outras informações e novos conhecimentos.
A Coleção Literatura para Todos visa, assim, oferecer um conjunto
de livros, produzido com muito carinho e zelo, que proporcionará a
vocês leitores um grande prazer – o prazer de ler, de viajar,
de criar e de fazer parte de uma nova comunidade: a de leitores. Pelo menos,
é assim que esperamos. Brasil, país de todos – Brasil,
comunidade de leitores! Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização
e Diversidade Ministério da Educação
Prefácio
Família composta é um livro que fala um pouco da nossa vida
e a das pessoas que nós conhecemos. Um texto que trata de afetividade,
problemas de relacionamento, família, amor, valores sociais, poesia,
meios de comunicação, enfim, coisas do dia-a-dia dos brasileiros.
Existem diferentes maneiras de escrever um texto. Este livro, Família
composta, pertence ao que nós chamamos de dramaturgia, ou seja, um
texto que pode ser lido e ao mesmo tempo encenado no teatro ou transformado
em filme. O leitor vai observar desde o início que ninguém conta
nada sobre as personagens, não há um narrador. Das cinco personagens,
quatro – pai, filha, poeta e mãe – dialogam entre si e
mostram o que são, sentem e querem diretamente ao leitor. Já
a fala do homem da tevê está mais próxima do monólogo,
uma maneira crítica que o autor encontrou para refletir sobre a vida
moderna e suas transformações.
Nesse tipo de texto há um recurso que é fundamental: o uso
das rubricas, as indicações que aparecem entre parênteses
e definem o comportamento das personagens, estados de espírito e dicas
de cenário.
Outra característica de Família composta é a utilização
de elementos da comédia de costumes lado a lado com os da dramaturgia
de vanguarda, misturando o diálogo do cotidiano familiar com a linguagem
empregada pelos meios de comunicação, em particular a televisão.
A trama deste livro é muito bem costurada.
O autor constrói, a partir de duas situações dramáticas,
a maternidade da filha e a separação do pai, uma história
cotidiana e familiar com muita sensibilidade, crítica e humor.
Destaque para a entrada em cena do poeta e da mãe, personagens que
mudam o rumo dos fatos. Em relação ao homem da tevê, bem,
fica para os comentários de vocês, leitores. Aproveitem! Boa
leitura porque o livro vale a pena.
Personagens
Pai Filha Poeta Homem da tevê Mãe Ratinho Sombra
PAI ESTÁ NA SALA, EMBALANDO NENÊ (BONECO ENROLADO EM PANOS
QUE NÃO PRECISA APARECER PARA O PÚBLICO) NOS BRAÇOS,
E FALA ALTO PARA FILHA QUE SE ARRUMA E SE MAQUIA EM OUTRO APOSENTO.
PAI: Eu já te falei que se este nenê urinar em mim mais uma
vez, eu deixo ali no sofá e não quero nem saber! E você
nem me apareça arrumadinha e pintadinha, prontinha pra sair, que só
se for levando o filho que você pariu; quem pariu que embale! (BAIXO,
EMBALANDO O NENÊ E SORRINDO): Mas nem precisa embalar, que você
dorme tão fácil, né, meninão lindo, minha mãe
dizia que eu também era um nenê tão dorminhoco que um
dia ela me levou na roça, pra ajudar meu pai a colher café,
e eu fiquei tão quietinho no cesto que esqueceram de mim, voltaram
pra casa e me deixaram lá! (GRITANDO PARA A FILHA): E o jogo vai começar,
o jogo vai começar, faça-me o favor!!
FILHA: Ai, pai, pára de fazer drama, de tudo você faz drama!
PAI: Ah, é? Que nem quando você saía pra festinha e eu
te avisava, “olha, cuidado com essa rapaziada, que homem é tudo
semvergonha, cuidado”, e você dizia que eu fazia drama e que a
vida é mais comédia que drama, mas agora, olha só se
eu não estava certo, eu aqui com o resultado da comédia e não
é nada engraçado, não, e até fede, de vez em quando
enche a fralda e eu tenho de trocar que a mãe tá batendo perna
atrás de emprego! (BAIXINHO AO NENÊ): Né, seu cagão,
enche a fralda, né, mas o vô limpa legal, né?
FILHA: Ah, pai, você devia agradecer por ter um neto lindo, isso sim,
agradecer em vez de reclamar! Você não dizia que eu era uma avoada,
que só pensava em festa e diversão, mas hoje, veja só,
eu amadureci com esse nenê, procuro emprego e ainda vou cuidar de você
na velhice! Vou comprar guardanapo de pacote pra limpar sua baba, pai, pode
confiar! E, se um dia você ficar que não puder nem limpar depois
de fazer cocô, eu vou limpar você, te prometo, pode confiar, você
vai ter de troco tudo que está fazendo por meu filho, ou melhor, seu
neto, né…
PAI: Muito engraçadinha… Mas vê se anda logo que eu quero
ver o jogo, já falei, eu deixo esse guri no chão e vou ver meu
jogo! (AO NENÊ): Mentirinha, viu, meninão?! (À FILHA):
E não precisa se preocupar com minha velhice que eu não fumo
nem bebo, viu, que nem o pai do teu filho que te deixou na mão com
a barriga cheia, eu não bebo nem fumo, não vou ter derrame pra
ficar babando, viu?! Muito menos vou ficar sem poder me limpar depois de fazer
cocô!
FILHA: Não sei, foi você mesmo que me ensinou a nunca dizer
“desta água não beberei”, ou melhor, “desta
sujeira não me sujarei”, né…
PAI: Para de brincadeirinha que eu não estou brincando, vem logo
que vai começar o jogo, e eu não consigo ver jogo com este nenê
no colo!
FILHA (PASSANDO PARA A SALA): Você não consegue é tomar
cerveja com o nenê no colo, né pai, porque precisa ir pra geladeira
a cada cinco minutos! E depois diz que não bebe…
PAI: Duas latinhas no primeiro tempo, mais duas no segundo tempo, isso não
é beber, é hidratar!… E peraí, onde é que você
pensa que vai toda produzida assim?! Parece uma árvore de natal de
tanto brilho! Eu já falei que…
FILHA: Acalme-se, não vou sair não, pai, vamos receber uma
visita.
PAI: Na hora do jogo?! Ah, não, você me avisasse antes! Esse
jogo é decisivo e… Antes de tudo, toma teu filho! (PASSA O NENÊ
PARA ELA, QUE O DEIXA NO BERÇO) Quando é pra me dar o nenê,
você diz que ele detesta ficar no berço. Quando te dou, você
bota no berço! FILHA: Ele tá dormindo, você já
podia ter deixado no berço. Eu acho é que você gosta de
embalar ele, pai… Embala, embala, aí ele dorme, depois fica acordando
de noite pra me infernizar.
PAI: Ah, claro, eu sou o culpado de tudo.
FILHA (DANDO-LHE UM BEIJO NA BOCHECHA): Não, você é
o melhor pai do mundo e o melhor avô do mundo também, pelo menos
para mim e para o meu filho.
PAI: Não me venha com conversa doce, não, que alguma coisa
você tá armando, te conheço! Quem é essa tal visita?!
PAI LIGA A TEVÊ (O HOMEM DA TEVÊ APARECE EM VÍDEO GRAVADO,
QUE CONGELARÁ E VOLTARÁ SEMPRE QUE O PAI ACIONAR O CONTROLE
REMOTO).
HOMEM DA TEVÊ: Na Alemanha, um agricultor processou o governo porque
o caminhão do correio passa em frente a seu estábulo, buzinando
para alertar os moradores da aldeia de que a correspondência está
chegando à agência postal. O agricultor alega que a buzina afeta
a produtividade de leite das vacas! E não perca no próximo bloco:
continua aumentando o número de mães adolescentes, um novo fenômeno
social que desafia pais e educadores! Os últimos dados revelam que…
PAI (AO HOMEM DA TEVÊ): É, eu sei, eu sei! (DESLIGA A TEVÊ)
Ainda não acabou o noticiário, mas já já começa
o jogo, então você leva essa tua visita lá pra cozinha
e…
TOCA A CAMPAINHA. PAI OLHA PELA JANELA.
PAI: Mas… mas é o filho duma égua daquele poetinha de meia
tigela que te engravidou! Cadê o pau do pilão?
FILHA: Pai, escuta, pai! PAI (PEGA PAU DO PILÃO): Esse pilão
é tudo que tua avó me deixou, e nunca usei, mas agora ao menos
o pau do pilão eu vou usar! Vamos ver se sai muita poesia ou o que
sai daquela cabeça! (INDO PARA A PORTA, É DETIDO PELA FILHA).
FILHA: Pai, ele vai me pedir em casamento! PAI: O que?! FILHA: Ele vai me
pedir em casamento pai, e reconhecer nosso filho! PAI: E vai morar aqui?!
E eu vou sustentar mais um?! Porque aquele traste não tem um gato pra
puxar pelo rabo e mora num quartinho da casa da mãe com mais sete irmãos!
Se você acha que eu vou sustentar mais um, pra viver aqui encostado
que nem cipó em peroba, ah, não vou não! Eu jogo no meio
da rua e soco que nem minha mãe socava paçoca no pilão!
FILHA: Pai, pelo amor de Deus, se quer a minha felicidade, escuta ele, pai!
PAI: Escutar ele? Eu escutei bem quando fui falar pra ele que você estava
grávida dele e perguntar o que ele ia fazer, e ele me falou “pois
é, eu acho que o que tinha de ser feito já tá feito,
né”… Eu esgano o desgraçado se abrir a boca pra dizer
que quer casar com você pra virar morar aqui! FILHA: Pai, alguma vez
eu te menti?! PAI: Não, só me escondeu a verdade! TOCA A CAMPAINHA.
PAI (GRITANDO PARA FORA): Já vai, filho duma égua, tá
com pressa por quê? Muita poesia urgente pra fazer?! FILHA: Pai, nunca
te menti e garanto que ele não vem te pedir pra morar aqui! Então
te peço que atenda, pai, com o mesmo respeito com que você atende
mendigo e catador de lata. Será que o pai do teu neto não merece
ao menos um mínimo de respeito? PAI: Ah, sim, eu tenho de respeitar
quem encheu o bucho da minha filha, me botou um neto no colo e não
quis nem saber de fazer nada porque tudo “já estava feito”,
que beleza, pra rei dos trouxas só me falta a coroa, né? Será
que ele tá me trazendo a coroa? Será que é de prata,
de lata ou de cocô de barata?!
PAI: Pai, pelo amor de Deus, pela memória da mamãe…! TOCA
A CAMPAINHA. PAI RESPIRA FUNDO, LARGA O PAU DO PILÃO E VAI PARA A PORTA.
PAI: Filho duma égua sarnenta… (RESPIRA FUNDO, ABRE A PORTA SORRINDO
FORÇADO) Boa noite…
POETA: Boa noite, querido sogro! A vida imita a arte quando nos dá
um malogro, mas também, por outra parte, é como uma viagem com
a graça inesperada de poética paisagem depois da curva da estrada!
PAI: Poética paisagem… Cadê o pau do pilão?! FILHA:
Pai! (AO POETA): Entra, entra, veja quem está ali no berço!
POETA (ENTRA, OLHA O NENÊ NO BERÇO, DECLAMA ENQUANTO O PAI SE
EXPRESSA POR CARETAS E CONTORSÕES):
Eis o sangue do meu sangue poema do meu desejo e fruto dos nossos beijos!
Caro sogro, não se zangue se eu disser que se parece com meu pai, cantor
famoso de cabarés e quermesses Ah, como fico orgulhoso…
PAI: Deixa eu ficar aqui perto do pilão… Cidadão, depois
do que o senhor fez com minha filha, espero que se explique logo e…
POETA: Antes de tudo, deixemos bem claro que nada fiz: entre nós
dois houve apenas o que sua filha quis! Primeiro fui seduzido por ela –
Não é, mainha? – e depois fui convencido a transar sem
camisinha! FILHA: É verdade, pai! PAI: Você… É verdade?
Você é que quis ter um filho com ele?!
FILHA: É verdade, pai. Eu vi ele declamando numa festa, eu me apresentei,
eu procurei ele depois, várias vezes, eu trouxe ele aqui em casa quando
você estava trabalhando…
PAI: Você trouxe ele aqui em casa?! Vocês fizeram esse filho
aqui? Só falta dizer que foi no meu colchão! POETA: Eu falei:
meu bem, não vamos usar a cama do sogro pois vai que ele volta logo…
e, além disso, quem ama ama em qualquer lugar então que tal
namorar ali no velho sofá? FILHA: Não, pai, eu queria um filho!
Desde que a mãe morreu eu sinto que você sente a casa vazia,
a vida vazia, eu via você morrendo dia a dia, pai, de tristeza, de desconsolo,
e ouvindo o meu amor falar poesia eu vi a luz, eu vi que um neto ia iluminar
a sua vida! PAI: Você está brincando? Só falta me dizer
que eu estou em dívida com vocês, que eu preciso pagar a vocês
por terem me dado um neto!
POETA: Fique tranqüilo, a mim o senhor nada deve, mas reconheça
o quanto traz de alegria um neto assim! PAI: Você não pensou
que podia ter um filho com alguém que não fosse um saco de rimas?!
Você nem parou pra pensar que ele não tem um gato pra puxar pelo
rabo e… Não, eu não quero saber, vocês façam
o que quiserem, eu vou ver meu jogo que deve estar começando! Eu não
entendo mais nada, eu sou do tempo do namoro, quando a gente começava
pegando na mão, demorava um mês pra beijar, casava virgem e tinha
filhos só depois de nove meses no mínimo! Hoje, não,
ninguém namora mais, todo mundo só fica, né. Fica um
dia com um, um dia com outro, então vocês fiquem como quiserem,
que eu vou ver meu jogo, com licença! (LIGA A TEVÊ).
HOMEM DA TEVÊ: O IBGE divulga pesquisa revelando que a família
composta tornouse maioria no país, ou seja, aquela família formada
por pais já descasados e casados novamente, o casal morando com filhos
de casamentos anteriores…
FILHA (DESLIGA A TEVÊ): Tá vendo, pai? Tudo mudou! PAI: E você
também pode mudar na hora que quiser! É só pegar seu
filho…
FILHA: Seu neto, pai! Seu sangue! POETA (AGACHADO AO LADO DO BERÇO):
Sangue seu, sim, de fato dá para ver nas canelas tão finas,
e pés tão chatos como os das suas chinelas! PAI (FALANDO PARA
O PILÃO): Minha mãe, que tanta paçoca fez nesse pilão,
me ilumina, me diga por que é que não pego esse pau e…
FILHA: Escuta, pai, a nossa proposta! PAI: Ah, eles têm uma proposta!
E proposta rima com que?!… Eles têm uma proposta!…
FILHA: Escuta, pai, por favor, como a mãe dizia: escutar não
custa nada, muito mais custa falar demais! PAI: Tô escutando, tô
escutando, pode falar, senhor poeta, só não me peça pra
aplaudir depois, né, como aplaudem o senhor aí nos botecos da
vila e lhe pagam cerveja, não me peça aplauso não, viu,
e se quiser tomar cerveja…
FILHA (AJOELHANDO): Escuta, pai, quer que eu implore? Eu imploro, escuta
nossa proposta! PAI (LARGA O PAU DE PILÃO, SENTA): Vossa proposta…
Tô escutando.
POETA (PIGARREIA, OLHA O PAPEL QUE DEVOLVE AO BOLSO): Meu sogro, esta sociedade
à poesia só dá valor se o poeta for ator e tiver notoriedade!
Meus livros só venderei se for parado na rua por gente que diga “a
tua cara já vi na tevê”! FILHA: Fala logo, amor, a proposta!
PAI: E proposta rima com isso que o nenê faz toda hora…
POETA: É a era do espetáculo! E a telinha é o oráculo
das massas, o rei é o Jô a Hebe é sacerdotisa o Sílvio
é o santo maior e a poesia só dá camisa a quem na tela
se expor! FILHA: Eu falo, pronto! Pai, a gente quer que você vá
ao Programa do Ratinho junto com a gente! PAI: Eu?! No Programa do Ra-ti-nho?!
Pra que?! FILHA: Pro teste de DNA, pai! PAI: Mas o filho não é
meu, é dele!! O pé chato pode ser meu, mas o filho é
dele, não é?! POETA: Não é só questão
genética: é o teatro da ética da donzela e do vilão
que pode virar mocinho se assumir o nenezinho ganhando a galera então!
PAI: Pois boa sorte, podem ir! E já vai de mala e cuia, viu, filha?
Leva o nenê, vão já, peçam lá pro Ratinho
ser padrinho, que o menino decerto vai ganhar o nome do pai, né, então
vão registrar de novo, né, podem fazer uma festa, com padrinhos
e tudo, que nem você queria que eu fizesse, então agora façam,
façam o que quiserem, que eu vou é ver meu jogo! (LIGA A TEVÊ)
HOMEM DA TEVÊ: A ONU divulga relatório sobre o trabalho infantil,
que vem diminuindo, mas ainda flagela centenas de milhões de crianças
em todo o mundo, além de outras formas de exploração
infantil! PAI (DESLIGANDO A TEVÊ E LEVANTANDO BRAVO): Taí, ó,
exploração infantil! E querem saber duma coisa? Meu avô
dizia que se o coador não côa, a dentadura tem que coar! Se os
pais não cuidam, avô tem que cuidar! Última forma! Não
vão levar o nenê coisa nenhuma, expor o meu neto ao vexame público,
ainda mais no Programa do Ratinho, o coitadinho é até capaz
de apanhar! FILHA: Pai, pára de prejulgar! Como dizia a mãe,
você só prejulga e vive vendo tudo errado! PAI: E você
pare de me jogar contra sua mãe que ela não está aqui
pra te desmentir! Quem apela pros mortos tá sem rumo na vida! Eu não
prejulgo nada, eu vejo com os olhos o que tá batendo na vista! FILHA:
Então saiba, pai, que ninguém pensou em levar o nenê,
queremos levar é o senhor! PAI: Eu?! E-u?! No Programa do Ratinho?
No quadro do DNA do Programa do Ratinho, eee-uuu?!!!? POETA (QUE ANDOU FAZENDO
CARETAS E CONTAS MÉTRICAS NOS DEDOS A VERSEJAR): Sogro, creia no poeta:
a peça só é completa com todos os personagens! A donzela
com seu filho o poeta com seu brilho o avô chato e ranheta e a avó
cheia de coragem! PAI: Me belisca, pilão, que deve ser um pesadelo!
Minha filha, você está pensando em levar sua mãe no Programa
do Ratinho?! FILHA: Pai, você diz que ela morreu, mas você sabe
que ela está muito viva! O Dalvo acha que assim vai funcionar melhor,
pai, porque todo mundo vai lá e briga e xinga, aquela pancadaria toda,
e nós podemos fazer diferente, a mãe dando a maior força
e convencendo você de que…
PAI: Peraí, “a avó cheia de coragem” convencendo
“o avô chato e ranheta” de que a família combosta,
ou composta, é melhor, certo? E a sua mãe vai posar de bondosa
e corajosa depois de ter me chifrado e me abandonado vergonhosamente enquanto
eu viajava a trabalho!? POETA (CONSULTANDO ANOTAÇÕES): Meu sogro,
esses adornos que a vida às vezes nos dá e que chamamos de cornos
na verdade são medalhas que só vem valorizar quem assim tanto
trabalha pois é trabalho chorar e sofrer por quem se ama! O público
saberá reconhecer vossa alma compreensiva, e dará aquele aplauso
que acalma a mais profunda amargura e terás enfim a cura que o teu
coração reclama!
PAI: Escuta aqui, seu bostoeta, e você, sua irresponsável que
eu tanto preveni, mas não me escutou, se quiserem ir ao Ratinho ou
se quiserem ir pro meio do inferno, vão, mas não contem comigo!
Nada nem ninguém vai me convencer a participar daquela baixaria, nem
se for pro meu neto ter um pai, ninguém vai me convencer!!! FILHA:
Nem a mãe, pai? (PEGA O NENÊ NO BERÇO) TOCA A CAMPAINHA.
PAI: Tua mãe?! Não vai me dizer que você convidou tua
mãe para…
FILHA SAI COM O NENÊ.
POETA: Meu sogro, a vida logra nos envolver em tais peças que o melhor
é esquecer logo para esfriar a cabeça aceitando as cicatrizes
e jogando enfim o jogo se quisermos ser felizes! TOCA A CAMPAINHA, POETA ABRE
A PORTA E SAI. ENTRA A MÃE (MESMA ATRIZ QUE INTER34 PRETOU A FILHA,
COM PERUCA GRISALHA E OUTRAS ROUPAS E POSTURAS).
MÃE: Boa noite. (OLHAM-SE LONGAMENTE.
ELA VAI AO BERÇO, AGACHA) Que lindo! É a tua cara! PAI: Não,
são só os meus pés! E será que eu estou ficando
louco? Vou me beliscar pra ver se é verdade! Quem sabe eu deva bater
com o pau do pilão na cabeça pra acordar! MÃE (RI): Você
continua engraçado! Foi por isso que me apaixonei por você, sabia?
Tanto moço mais bonito, mais forte, até moço rico tinha
afim de mim, mas eu me interessei por você porque você me fazia
rir, sabia? PAI: Ah, eu devo mesmo ser um palhaço, pra ficar aqui olhando
pra tua cara enquanto você ri de mim! Como é que você tem
coragem de, depois de anos, chegar aqui de repente, dizendo boa noite como
se nada tivesse acontecido?! MÃE (LEVANTANDO-SE E ENCARANDO): Mas nada
aconteceu mesmo, meu ex-marido.
Nada aconteceu quando eu te pedi para trabalhar menos e ficar mais comigo,
falei que não era preciso a gente ganhar mais, mas viver mais. Nada
aconteceu quando eu te procurava na cama e você se encolhia suspirando
de cansaço. Nada aconteceu quando te falei que você podia usar
melhor as tardes de domingo em vez de ficar vendo televisão e se enchendo
de cerveja. Nada aconteceu quando eu te convidei pra passear de bicicleta,
fazer jardinagem, fazer ginástica, fazer caminhada, ir dançar
no baile do bairro, nada aconteceu! Ou melhor, aconteceu que você foi
ficando barrigudo e eu ficando cheia de você! E aí aconteceu
que te convidei pro curso de dança de salão e você falou
que já sabia dançar, e lá fui eu parar nos braços
de alguém que viu em mim a mulher que você não via mais.
Aí, aconteceu!…
PAI (HUMILDE): É, acho que eu até mereço ouvir tudo
que você falou aí… (ELEVANDO A VOZ) O que não posso
aceitar é que, depois de tantos anos sem eu deixar faltar nada em casa,
você foi embora sem falar nada…
MÃE: Mas queria que eu falasse o quê? E você ia aceitar
alguma coisa que eu dissesse? Você sempre se achou cheio de razão,
nada do que eu dizia você ouvia, sempre dizendo que você é
que tinha razão, eu falando que a vida não é só
comida na mesa e você dizendo que comida na mesa é que é
o mais importante, até que eu vi que você queria mais ter razão
do que ser feliz…
PAI (HUMILDE): Hoje posso até reconhecer que você tinha razão
em achar que eu queria ter razão demais, mas… (ELEVANDO A VOZ) agora
o que não posso aceitar é você voltando pra me convencer
a ir pra televisão participar de baixaria pro teu genro acontecer como
poeta, que maravilha! Eu devia era estar vendo meu jogo, com licença!
(LIGA A TEVÊ).
HOMEM DA TEVÊ: Pesquisa da Unicef revela que, além da alimentação
incorreta e do estresse, uma das principais causas de enfarte são as
chamadas emoções reprimidas, como o remorso, o ódio,
a inveja, a amargura ou rancor, que podem também levar à depressão!
A pesquisa…
PAI (DESLIGA A TEVÊ): Pois saiba que eu não tenho rancor nenhum,
depressão muito menos, levo uma vida ótima e… Ai! (CURVASE
COM A MÃO NO PEITO) Ai!
MÃE: Que foi?! PAI: Nada, uma pontada, só uma pontada, ai!
(DEITA NO SOFÁ) MÃE (GRITANDO): Dalvo, Dalvo! PAI: E, além
de poeta, se chama Dalvo! Eu mereço, devo ter feito muito mal a algum
poeta em alguma outra vida… Ai! MÃE: Fica quieto, não fale!
Daaaalvooooo! PAI: Lembra quando a gente casou e fazia amor neste sofá,
lembra? MÃE: Lembro, antes de você ficar vendo tevê e tomando
cerveja até dormir aqui mesmo! PAI: Me perdoa! Ai, parece que estão
me enfiando uma faca! MÃE: Faca vão te enfiar é na mesa
de operação se for o que estou pensando. Fica quieto! POETA
ENTRA, DEPARANDO COM PAI DEITADO NO SOFÁ E MÃE SENTADA DEBRUÇADA
SOBRE ELE: Que cena linda, a vitória do amor e do perdão mostrando
que o coração é quem manda em nossa história!
MÃE: Manda vir o Siate, isto sim! Acho que ele tá tendo um
enfarte! POETA: Meu celular é pré-pago e está momentaneamente
sem crédito, acredite! PAI: Me faz, meu bem, um afago…
Lembra o tempo em que a gente se amava até no tapete?…
POETA (DISCANDO TELEFONE FIXO): Rimou! Acredite com tapete, é rima
tonante, mas é rima! Só pode ser sinal de Deus, ele vai se salvar!
E vai ao Ratinho com a gente, contar que o perdão e a poesia lhe salvaram
a vida! Alô? É do Siate? Venham já, por favor, à
Rua dos Abacates esquina com Melancia! Meu sogro tá com enfarte! DESLIGA
O TELEFONE.
Não morra, sogro, ainda! Te farei uma poesia Serviço Integrado
de Atendimento ao Trauma e Emergência; serviço de ambulâncias
do Governo do Paraná.
Com toda a minha arte pra recitar muito linda no Programa do Ratinho! PAI:
Estou vendo só pontinhos girando na escuridão…! POETA: São
os pontos da audiência do nosso sucesso imenso, sogro, na televisão!
MÃE: Se ele morrer, vou sentir muito remorso! PAI: Não estou
vendo mais nada!…
POETA (ENQUANTO SE OUVE SIRENE DO SIATE): Mas verá seu genro alçado
ao céu das celebridades e superadas as mágoas minha poesia afinal
vendendo mais do que água mineral ou pão de sal! MÃE:
Ele tá ficando roxo! POETA: Se morrer, fazer o quê?
A gente diz pro Ratinho que a felicidade é um tortuoso caminho que
alguns não vencem não e outros conseguem vencer com perdão
no coração! PAI: Cadê o pau do pilão?! Aaaaaaaaaaaai!!!
CORTE DE LUZ. NA ESCURIDÃO, FAMÍLIA CANTA PARABÉNS PRA
VOCÊ. LUZ: EM CENA, DIANTE DE BOLO CUJA VELINHA A FILHA ACENDE, ESTÃO
ELA, O PAI E O POETA.
FILHA: Pena que o nenê está dormindo, senão ia ver seu
primeiro bolo de aniversário! POETA: Primeiro ano de vida: a página
de um caderno que depois de cada inverno tem primavera florida! PAI: E depois
de quase morto a gente enxerga tudo com outros olhos, e muda endireita o que
era torto ajeita o que era sem jeito aceita o inaceitável e só
com o preconceito se mantém intolerável! FILHA: Ai, pai, quem
te viu e quem te vê! Até agora não entendo como é
que você acordou da cirurgia só falando em forma de poesia! PAI:
Já te contei, minha filha quando eu era rapazote cantava lá
os meus motes fazia os meus estribilhos, mas por medo ou por vergonha engavetei
o talento e a chave então joguei fora até ver que cada sonho
faz parte do esqueleto das carnes da nossa história! POETA: Meu sogro,
você me orgulha e jamais me esquecerei dos versos que você fez
calando até o barulho do Programa do Ratinho! Verso repetido no fi
m de cada estrofe de uma composição.
Diante do teu soneto eu me senti um poeta até bem pequenininho…
Como era mesmo o soneto? PAI: Senhor Ratinho, não existe gato capaz
de amedrontar a decisão de quem depois de ouvir o coração
só quer obedecer ao seu mandato! POETA: Nem é preciso comparar
retratos ou apelar para a ciência, não: basta olhar nos olhos
ou então reconhecer os nossos pés de pato! PAI: É neto
meu, é sangue de poeta que sangue de poeta procurou usando o coração
de minha filha! POETA: Teste de DNA só nos atesta que é o perdão
a poesia do amor e a maior arte é fazer família! PAI: Retificando,
retificando: fazer família não é nada comparado com manter
família…
POETA: Me lembrou, meu sogro amado que a cerveja e o guaraná foram
comprados fiado na sua conta no bar onde fui até cobrado de forma impertinente,
mas deixei adiantado que pagarás brevemente PAI: Mas eu não
autorizei fiado em bar algum! POETA: Meu sogro, a vida é repleta de
surpresas e imprevistos, mas relaxe: haja visto teu próprio neto, que
foi uma surpresa e agora é a alegria do avô! E veja aí,
noves fora, a conta do mês que passou! (ENTREGA PAPEL AO PAI) PAI (LENDO
PAPEL): Mas… mas… Ai meu coração! É uma pequena fortuna!
POETA: Calma que tudo se arruma!
FILHA: Pai, tá fixando roxo, não! POETA: É só
dar três pré-datados, meu sogro, não tem problema! Não
vá ficar estressado por coisinha tão pequena! PAI: Coisinha?!
É o que eu levo quinze dias pra ganhar dando duro no trabalho, seu…!
CAI NO SOFÁ, SOCORRIDO PELA FILHA E PELO POETA, ENQUANTO A TEVÊ
LIGA.
HOMEM DA TEVÊ: Estudo da Federação dos Bancos indica
que o Brasil é o país que criou um sistema único de crédito
informal, por meio dos cheques pré-datados. (ENQUANTO A FILHA E O POETA
FALAM A SEGUIR): Esse tipo de microcrédito cresce muito mais que o
sistema de crédito formal! FILHA: Desliga isso! POETA: Não fui
eu que liguei, acho que ele caiu em cima do controle remoto! HOMEM DA TEVÊ:
Calcula-se que 70% da população usam sempre ou regularmente
os cheques pré-datados para, como dizem os economistas, “ir vivendo
na frente” e driblando assim os juros altos nos créditos convencionais.
E, por falar em driblar, em seguida vem aí o grande clássico
do nosso futebol…
FILHA DESLIGA A TEVÊ, EM SINCRONIA COM CORTE DE LUZ. NA ESCURIDÃO,
OUVE-SE CHORO DE NENÊ E PREFIXO MUSICAL DO PROGRAMA DO RATINHO, SEGUIDO
DE SIRENE DO SIATE, QUE CESSA PARA SE OUVIR A VOZ DE RATINHO: RATINHO: Fala,
Sombra! SOMBRA: Pois não, Ratinho! Livro de poesia de poeta que esteve
aqui no seu programa está vendendo mais que água mineral ou
pão de sal! Os poemas tratam de amor familiar, Ratinho! RATINHO: Então
vamos para os nossos comerciais com produtos de grande valia para toda a família!
ACENDEM-SE AS LUZES. PAI ESTÁ DEITADO EM CAMA COM PEDESTAL DE SORO
INJETANDO NA VEIA. POETA ENTRA PÉ ANTE PÉ COM A MÃE.
POETA: Ah, coitado do meu sogro! O que não faz o estresse quando
a pessoa não vê que mais vale viver bem que se matar trabalhando
pra ganhar o que não tem! A vida é pra ir levando…
MÃE: É, você leva a vida, e a minha filha leva dinheiro
pra casa, trabalhando fora e levando o filho pra creche enquanto você
fica fazendo poesia, que beleza!…
POETA: É, minha sogra, a beleza é a razão da minha
vida! Vejo a beleza até mesmo numa formiga ou lesma no arroz servido
na mesa erva daninha florida tudo é belo nesta vida! MÃE: Coitada
da minha filha, agora com o pai assim, largado numa cama sem saber quando
vai ou mesmo se vai melhorar…! E ela chega em casa, ainda tem de cozinhar
pra botar a comida na mesa, pra quem só come é uma beleza mesmo!…
POETA: Beleza é a minha sogra mesmo quando assim zangada…
Parece fruta madura cheirosa e bem encarnada uma dessas criaturas que o
tempo só embeleza e que parece mistura de pecado e de nobreza…
MÃE: Mas o que é isso agora?! Tá querendo me cantar,
é? E na beira da cama do meu ex-marido agonizante?! PAI: Eu não
tô agonizante! MÃE: Ele falou! Saiu do estado de coma! POETA:
A poesia tem o dom de fazer ressuscitar reviver tudo que é bom a beleza
eternizar! Eu sabia que provocando meu sogro muito querido teria de dar ouvidos
a quem está esperando que levante enfim da cama para viver com quem
ama! PAI: Cadê o pau do pilão?!…
MÃE: Que é que ele está dizendo? POETA: Está
pedindo o pilão! Querendo fazer paçoca pra festejar a vitória
desse grande coração! Meu Deus, que coisa mais louca! PAI: Eu
quero é dar uma coça nesse pilantra, querida! E começar
nova vida caminhando todo dia dançando bolero e tango samba, baião
e até mambo e fazendo academia! MÃE: Bem dizem que a pessoa
muda muito depois do coma, ganha outra visão da vida…
POETA: E por falar em visão que tal ver televisão? LIGA A
TEVÊ.
HOMEM DA TEVÊ (FALA ENQUANTO PAI VAI SENTANDO NA CAMA): A média
de vida dos brasileiros continua a aumentar, passando agora dos 70 anos, quando
era de apenas 45 anos no começo do século passado! Além
de melhorar a alimentação, as pessoas de terceira idade dedicam-se
mais a atividades saudáveis, como por exemplo…
PAI (PEGANDO O CONTROLE REMOTO, DESLIGA A TEVÊ): Andar de bicicleta,
querida, ir até a zona rural fazer piquenique! (BOTA AS PERNAS PARA
FORA DA CAMA, FICA EM PÉ) Levar meu neto pra passear! Ir pescar! Não
quer ir junto? Só pescamos uma vez na vida!…
MÃE: …e você ficou reclamando do sol, do calor, dos mosquitos!
PAI: Aquele homem reclamão morreu, querida.
Por falar em homem, como vai seu atual marido? MÃE: Não sei.
Acabamos.
POETA: Isso merece um poema! A vida é caleidoscópio…
PAI: Cale a boca! Se rimar caleidoscópio com copo, eu te esgano,
seu sacana! Vai cuidar do teu filho enquanto tua mulher trabalha pra sustentar
a casa, vai! Vai!! (POETA SAI) Família composta…! MÃE: Calma,
meu bem, não se exalte, lembre que o seu coração…
PAI: O que você disse? MÃE: Que o seu coração…
PAI: Não, antes. Me chamou de meu bem? MÃE: É, afinal
fomos casados quantos anos? PAI: Fomos não, somos! Eu não pedi
divórcio, nem você! Talvez a gente já pressentisse que,
com o tempo… (DÃO-SE AS MÃOS) MÃE: Pois é, o
tempo… Será que ainda temos tempo? PAI: Meu bem, como dizem os Stones…
MÃE: Quem? PAI: Os Rolling Stones, meu bem, dizem que o tempo está
do nosso lado e é nosso amigo quando a gente sabe viver a vida! MÃE:
Mas quem são esses Rolestones aí? PAI: Um conjunto de rock,
querida, vou te mostrar. Eu não andei morto enquanto você Os
Rolling Stones é um grupo de rock em atividade desde 1962. A música
Time is on my side é uma das mais antigas gravações da
banda.
Esteve fora, ouvi coisas novas, li novas coisas, pensei em me renovar! Vamos
namorar? MÃE: O que?! PAI: Namorar. Como outrora se namorava pra ver
se você gosta de mim e eu também de você! Talvez começar
agora uma nova vida enfim! MÃE: Eu… eu nem sei o que dizer! PAI:
Querida, não diga nada é até melhor que assim seja porque
a boca que beija já está demais ocupada…
BEIJAM-SE ENQUANTO ESCURECE EM RESISTÊNCIA E OUVE-SE A VOZ DE RATINHO:
RATINHO: Fala, Sombra! SOMBRA: Pois não, Ratinho! Sogro de poeta monta
site na internet chamado Velho Namoro, pregando a volta ao velho costume de
namorar firme, em vez de ficar fácil! E recomenda o namoro especialmente
para as pessoas da terceira idade! E para os jovens recomenda namorar mais
e ficar menos! RATINHO: E nós ficamos com nossos comerciais, Sombra!
ACENDEM-SE AS LUZES E A TEVÊ.
HOMEM DA TEVÊ: Isto foi uma peça de teatro.
Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é para nos
fazer pensar que também podemos mudar a nossa vida.
Tudo está em mudança rápida. Há apenas um século,
mulheres não podiam votar.
Meio século atrás, a maioria da população morava
no campo, hoje 90% moram na cidade.
Eram raras as mulheres que trabalhavam fora de casa, ao contrário
de hoje.
A educação superior era para poucos. Os serviços de
saúde eram muito pouco usados, até porque existiam poucos serviços
públicos de saúde. A população ainda não
sabia que paga impostos embutidos no preço de tudo que compra. De lá
para cá, tudo mudou muito, a família também. As famílias
compostas hoje são maioria na população brasileira. Quem
não muda, fica per dido. Eu mesmo não sei mais o que dizer diante
disso. Podem se retirar, por favor.
Isto foi uma peça de teatro. Não sei mais o que dizer. Vão
viver. Podem se retirar, por favor. Isto foi uma peça de teatro e isto
é uma gravação. Qualquer semelhança com pessoas
vivas ou mortas é apenas para nos fazer pensar que também podemos
mudar a nossa vida. Tudo está em mudança rápida.
Há apenas um século… (CONTINUA REPETINDO A MENSAGEM ATÉ
O PÚBLICO SE RETIRAR).
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