Lima Barreto
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Não há nada mais vulgar que um popular dizer para o seu ídolo: “Este é o meu homem”.
Tem havido muitos que o sejam assim tratados e, na república, todos nós sabemos que Floriano, Pinheiro e o Senhor Irineu Machado têm sido assim tratados.
Acontece, pois, que certos desses homens dessa forma assim tratados, de uma hora para outra mudam de orientação, avacalham-se, como se diz vulgarmente, e passam de um extremo a outro, sem nenhuma explicação.
Vejam o caso desse senhor, cujo nome não cito.
Ele era o paladino dos desejos do povo; ele era o seu defensor extremado; ele era o demagogo, no bom sentido da palavra. De um instante para outro, passa a ser justamente o contrário.
Interesses, satisfações à sua vaidade, vontade de agradar a alguma beldade, exigências do automóvel, fazem-no escravo dos poderosos.
Este homem que vivia cercado, animado, cheio de pedidos e dedicações; este homem que até toda a gente tinha prazer em morder, hoje, ninguém o morde, hoje ninguém o procura, hoje ninguém quer saber dele; entretanto, ele hoje está mais rico e mais poderoso.
Os pobres, os ricos, os turcos, os chineses, os árabes e coptas, todos que o procuravam, não o procuram mais.
Aquele ajuntamento que se fazia nas arcadas do jardim, próximo do Hotel Avenida, atualmente não se verifica mais.
É uma desolação de abandono, quando ele passa.
Há dias eu conversava com um velho correligionário de semelhante homem e perguntei:
— Por que I. anda tão abandonado?
— Você não sabe o motivo?
— Não.
— Pois é simples. O povo gosta de homens independentes, daqueles que podem dizer a verdade com todas as letras. Ele já não pode dize-la. Hoje, está cheio de interesses, de cavações, porque gasta o que não ganha.
— De modo que ele é?
— Ele?
— Que é?
— Ele, hoje, não é mais homem; hoje, ele é ex-homem.
Careta, Rio, 25-9-1915
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