Redondilhas de Luís Vaz de Camões
Trovas
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mandadas ao Vizo-Rei, com o mato anterior:
Conde, cujo ilustre peito
merece nome de Rei,
do qual muito certo sei
que lhe fica sendo estreito
o cargo de Vizo-Rei;
servirdes-vos de ocupar-me,
tanto contra meu planeta,
não foi senão asas dar-me,
com as quais vou a queimar-me,
como faz a borboleta.
E se eu a pena tomar
que tão mal cortada tenho,
será para celebrar
vosso valor singular,
dino de mais alto engenho.
Que, se o meu vos celebrasse,
necessário me seria
que os olhos da águia tomasse,
só para que não cegasse
no sol de vossa valia.
Vossos feitos sublimados,
nas armas dinos de glória,
são no mundo tão soados
que em vós de vossos passados
se ressuscita a memória.
Pois aquele animo estranho,
pronto para todo efeito,
espanta todo o conceito,
como coração tamanho
vos pode caber no peito.
A clemência que asserena
coração tão singular,
se eu nisso pusesse a pena,
seria encerrar o mar
em cova muito pequena
Bem basta, Senhor, que agora
vos sirvais de me ocupar,
que assi fareis aparar
a pena com que algüa hora
vos vereis ao Céu voar.
Assi vos irei louvando,
vós a mim do chão erguendo,
ambos o mundo espantando:
vós, co a espada cortando,
eu, co a pena escrevendo.
Fonte: www.bibvirt.futuro.usp.br
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