Amor que em meu pensamento (1595)

Redondilhas de Luís Vaz de Camões

Glosa

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a este moto seu (acróstico):
A morte, pois que sou vosso,
não na quero, mas se vem,
[h]a-de ser todo meu bem.

Amor, que em meu pensamento

com tanta fé se fundou,

me tem dado um regimento

que, quando vir meu tormento,

me salve com cujo sou.

E com esta defensão,

com que tudo vencer posso,

diz a causa ao coração:

não tem em mim jurdição

A morte, pois que sou vosso.

Por exprimentar um dia

Amor se me achava forte

nesta fé, como dizia,

me convidou com a morte,

só por ver se a tomaria.

E, como ele seja a cousa

onde está todo o meu bem,

respondi-lhe (como quem

quer dizer mais, e não ousa):

não na quero, mas se vem…

Não disse mais, porque então

entendeu quanto me toca;

e se tinha dito o não,

muitas vezes diz a boca

o que nega o coração.

Toda a cousa defendida

em mais estima se tem:

por isso é cousa sabida

que perder por vós a vida

[h]a-de ser todo meu bem.

Fonte: www.bibvirt.futuro.usp.br

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