Amor Perdido…

Pablo Neruda

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Eu fiz retroceder a muralha de sombra,
e caminhei além do desejo e do ato.
Oh carne, carne minha, mulher que amo e perdi,
a ti, nesta úmida, evoco e elevo o canto.
Como um vaso abrigaste a infinita ternura,
e o esquecimento infindo te partiu como a um vaso.
Era a negra, era a negra soledade das ilhas,
e ali me receberam, mulher de amor, teus braços.
Era a sede, era a fome, e foste tu o fruto.
Era o luto, as ruínas, e tu foste o milagre
Ah mulher, não sei como tu pudeste conter-me
na terra de tua alma, e na cruz de teus braços!
Meu desejo de ti foi o mais tenso e curto,
o mais revolto e ébrio, o mais terrível e ávido.
Cemitério de beijos, inda há fogo em tuas tumbas,
ardem ainda as uvas bicadas pelos pássaros.
Oh a boca mordida, oh os beijados membros,
oh os famintos dentes, oh os corpos trançados.
Oh, a cópula louca de esperança e esforço,
em que nos enlaçamos e nos desesperamos.
E a ternura, leve como a água e o trigo.
E a palavra apenas começada nos lábios.
Foi esse o meu destino: nele foi meu anseio
e caiu meu anseio, tudo em ti foi naufrágio!

 

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