Lima Barreto
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Em matéria de eleições, parece que há quem queira emparelhar a nossa Academia de Letras com os politiqueiros de Campo Grande ou Santa Cruz.
Foi ontem que morreu o barão Homem de Melo e, ao que parece, a academia ainda não declarou oficialmente que há uma vaga aberta em seu seio.
Entretanto, já apareceu um candidato – o que é extraordinário. Torna-o, porém, esquisito o fato de ser anunciado com tais e quais votos.
Não sabemos se tal coisa é verdade. Mas, lemos a notícia em um jornal de São Paulo, A Capital,de 12 do corrente mês. Ei-la:
“Academia Brasileira de Letras – Rio. 12 – Afirma-se aqui, que, para a vaga do saudoso Barão Homem de Meio na Academia Brasileira de Letras, será eleito o Senhor Veiga Miranda, redator-chefe da edição paulista do Jornal do Comércio e festejado autor de Pássaros que fogem, Redenção e Mau Olhado.
“Dizem que o ilustre escritor, cujas obras já mereceram a crítica entusiástica de acadêmicos como Oliveira Lima, José Veríssimo, Mário de Alencar e João Ribeiro, terá os votos dos Senhores Félix Pacheco, Alcindo Guanabara, Afrânio Peíxoto, Pedro Lessa, Coelho Neto, Luís Murat, Emilio de Meneses, Magalhães Azeredo, Augusto de Lima, Ataulfo de Paiva, Antônio Austregésio, Oliveira Lima, Mário de Alencar, João Ribeiro, Silva Ramos, Afonso Celso, além de outros. Segundo cálculos aqui feitos, o Senhor Veiga Miranda terá mais de 25 votos, contando-se dentre eles o do Senhor Conselheiro Rui Barbosa.”
Não pomos em dúvida os méritos do prematuro candidato. Contudo tomamos a liberdade de lembrar que o Brasil é bem grande, possui muitos escritores, talvez demais para os leitores efetivos.
Sendo assim, pode aparecer, até que se dê a eleição, um candidato com tantos méritos ou mais do que os do senhor Veiga Miranda.
É de crer que os imortais da Praia da Lapa, ao serem chamados para escolher um novo colega, levem em conta os títulos intrinsecamente literários dos postulantes e não quaisquer outras razões sentimentais, sociais ou políticas.
Julgando que se tenha dado isso sempre no ânimo dos membros da ilustre companhia, não queremos crer que desde já tantos nomes respeitáveis tenham hipotecado os seus votos a um certo e determinado candidato, sem conhecer os outros.
É preciso lembrar que há entre tais nomes o do senhor Ataulfo de Paiva, que além de ser um curioso escritor da mais apurada elegância, é juiz de carreira, desembargador atualmente, devendo ter naturalmente um perfeito hábito de julgar.
Não nos é lícito acreditar, portanto, no telegrama do nosso colega de São Paulo.
Os imortais citados no telegrama do vespertino paulista, como juizes que vão ser, esperarão os outros candidatos para então se pronunciarem com toda a honestidade a respeito.
As tradições de virtude, de austeridade e independência da academia são a mais perfeita garantia de que a nossa suposição não é sem base.
Lanterna, Rio, 17-1-1918
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