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RELÓGIO antigo e raro, obra de artista;
Caixa embutida em mimos de escultura,
E o mostrador ebúrneo, expondo à vista
Os ponteiros de exótica feitura.
Viera de longes terras, de países
Estrangeiros, longínquos, de além mares,
Que a gente em sonhos vê dentre uns matizes
De cenários e vistas singulares.
Viera… E, anos e anos, dia a dia,
Caminhando, os finíssimos ponteiros
Atravessavam penas e alegrias,
Lentos na angústia, no prazer ligeiros.
De pais a filhos, como jóia estranha,
Passara, sempre de afeições coberto;
E uma lenda graciosa o acompanha:
– Todo o lar, que o possui, é um céu aberto.
Nele os olhos do avô pairam tristonhos,
Revivendo a um clarão de horas extintas,
E o cortejo fantástico dos sonhos
Aviva o tom das nebulosas tintas.
Da pêndula ao rumor misterioso,
Criança e moço, outrora, adormecera…
Depois, ao mesmo som, viera-lhe o gozo
Dolorido, que o amor nas almas gera.
Anos após, junto ao primeiro filho
Vendo a esposa curvada, ainda o sentira
Palpitando qual seio… e trilho a trilho,
Na existência o rumor constante ouvira.
Mais tarde, homem o filho, viera um neto,
E outro, e mais outro – luminoso bando
De pássaros gentis, de um novo aspecto,
Que fazem crer no céu rindo e cantando.
E os pequenitos hoje é que o veneram;
Querem-no todos como a um velho amigo;
Nele as horas contando, o gozo esperam,
E enchem de flores o relógio antigo.
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