O Menino que Quase Virou Cachorro

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Miguel era um menino bacana.

Brincalhão, inteligente, amigo dos amigos.

E ele era muito amigo do Tanaka, um outro menino brincalhão, inteligente e descolado.

Os dois conversavam muito, sobre uma porção de coisas.

Um dia o Miguel disse pro Tanaka:

-Cê sabe, Tanaka, eu acho que eu sou invisível.

-Invisível? Como assim? Eu estou vendo você muito bem…

– Não – disse o Miguel – não sou invisível pra todo mundo, não. Só pros meus pais. Eles olham pra mim, mas acho que eles não me enxergam!

O Tanaka ficou espantado. E então eles combinaram que iriam à casa do Miguel só pro Tanaka ver.

No sábado, na hora do almoço Tanaka chegou, como eles tinham combinado.

Miguel abriu a porta, mandou o amigo entrar e anunciou a todos que já estavam sentados pra almoçar :

-Eu trouxe o Tanaka pra almoçar conosco!

A mãe do Miguel levantou, botou um a cadeira pro Tanaka, foi buscar um prato, um copo e os talheres.

Enquanto isso ia conversando:

-Olá, Tanaka, faz tempo que você não aparece! E sua mãe vai bem? E sua irmã, tão bonitinha, sua irmã…

Mas nem olhou pra Miguel.

Miguel sentou-se, serviu-se, comeu, e ninguém olhou pra ele. Tanaka ficou reparando.

Então o Miguel fez uma pergunta pra pai, mas ele estava prestando atenção à TV e só fez:

-Shhh…

Quando os meninos saíram o Tanaka estava espantado, mas ele disse:

-Acho que as famílias são assim mesmo. Ninguém presta atenção aos filhos…

O Miguel ainda falou:

-Pois é, quando eu saio com mau pai é ainda pior! Mau pai fala comigo como se eu fosse o cachorro “Anda!”, “Anda logo!” “Espera!” “Anda!” “Vem logo!”

Na semana seguinte Miguel saiu com o pai. E como ele tinha dito o pai só dizia “Anda!”, “Vem logo!”

Miguel foi ficando bravo.

Aí quando o pai, mais uma vez disse “Anda!” Miguel latiu:
-Au, au, au, au!

O pai olhou espantado, mas o ônibus estava chegando e eles tomaram o ônibus.

Quando desceram o pai continuou: Anda, para, espera, vem logo!

Miguel latiu outra vez:

-Au, au, au, au!

O pai olhou espantado:

-Que é isso, menino, vem!

E o Miguel:

-Au, au, au, au!

-Pára com isso! – o pai respondeu – Vem!

Miguel resolveu parar, porque achou que o pai estava ficando bravo…

Mas na outra semana havia um casamento de uma prima e o pai levou o Miguel para comprar uma roupa. Nem perguntou o que ele queria. Já foi escolhendo uma calça comprida, uma camisa, um suéter e … uma gravata.

Miguel não falou nada, porque ninguém perguntou. Mas ele pensou: “Eu não vou botar gravata, nem morto. Eu não sou cachorro pra usar coleira…”

No dia do casamento Miguel tomou banho, se vestiu, calçou os sapatos, que também eram novos, mas não botou a gravata.

O pai dele chamou: “Vem aqui. Miguel chegou perto do pai e disse:

– Eu não quero botar gravata. Parece coleira.

O pai nem respondeu. Ele disse:

-Vem!

E foi botando a gravata no pescoço d Miguel e dando um laço e apertando o laço e o Miguel começou a uivar.

-Aúúúúúúú!

O pai ficou espantado, mas continuou a apertar o laço e a dizer:

-Fica quieto! Não se mexa!

Pare com isso!

E então o laço estava tão apertado que o Miguel não agüentou. Tacou uma mordida na mão do pai.

O pai ficou furioso, cheio de “Que é issos” e de “ Para já com issos” e de “Vam’ver, vam’veres”.

A mãe veio lá de dentro pra ver o que estava acontecendo e o Miguel disse:

-Se não querem que eu vire cachorro, não me tratem como cachorro!

O pai olhou pra mãe.

A mãe olhou pra pai.

-Que é isso – disse a mãe – ninguém trata você como cachorro!
E o Miguel respondeu:

-Então não me ponham coleira! Não me chamem “Vem”. Eu tenho nome.
O Miguel, nesse dia, foi ao casamento sem coleira… quer dizer, sem gravata.

E o Tanaka e contou que quando foi à casa do Miguel, na semana passada, os pais falavam com ele direitinho:

-Quer mais feijão, Miguel?

-Me passa a batatinha, filho?

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