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Christian Andersen
OUVE uma vez um príncipe que queria casar-se, como é natural, com uma princesa, mas era preciso que fosse realmente uma verdadeira princesa. Com este propósito, o príncipe viajou pelo mundo inteiro, com o desejo de encontrar a prometida de seus sonhos, porém, embora visitasse muitas princesas, quando se inteirava a respeito de cada uma delas, sempre havia um ou outro inconveniente que o impedia de noivar.
Nesse tempo havia no mundo muito mais princesas do que hoje, todavia, quando se investigava se eram verdadeiras princesas, sempre existia uma certa dificuldade em prová-lo; e, em muitos casos, descobria-se algum detalhe nada agradável. Finalmente, aborrecido com a inutilidade de seus esforços, o príncipe empreendeu o regresso ao seu palácio.
Passou-se algum tempo e o príncipe continuava solteiro. Uma noite desencadeou-se uma terrível tempestade; o dil úvio era espantoso, relampejando sem cessar. Em suma, era uma noite má, como existem poucas.
Quando a tormenta estava no auge, alguém bateu na porta do palácio e o velho Rei, em pessoa, apressou-se a abrir.
Lá fora estava uma princesa, embora em situação lament ável, por causa da chuva e do vento. A água caía a jorros pelos cabelos e pelo vestido, tinha os pés encharcados de água recolhida por seus sapatos, mas garantiu ser uma verdadeira princesa.
– Logo veremos se isso é verdade pensou a Rainha, embora não revelasse a ninguém seu pensamento, guardando para si as dúvidas que sentia.
Dirigiu-se para o dormitório destinado aos hóspedes, tirou toda a roupa de cama e pós uma ervilha sobre uma das tábuas de madeira; colocou por cima vinte colchões e outros tantos cobertores de plumas. Ali deveria dormir a princesa. Chegando a manhã seguinte, perguntaram-lhe se dormira bem.
– Passei uma noite péssima – replicou a jovem. – Mal consegui fechar os olhos. Deus é que sabe o que havia na cama. Tive a sensação de estar deitada sobre um objeto muito duro, tanto assim que estou com o corpo todo dolorido. Foi terrível!
Então, tanto os reis como o príncipe compreenderam que ela devia ser uma verdadeira princesa, pois que fora capaz de sentir a ervilha através dos vinte colchões e dos vinte cobertores de plumas. Somente uma verdadeira princesa poderia ter uma pele tão delicada.
E assim, o príncipe a tomou por esposa, porque estava certo de ter encontrado uma verdadeira princesa. Quanto à ervilha, foi depositada num museu, onde pode ser vista até hoje, se ninguém tiver tido a tentação de roubá-la, o que acreditamos não ter sucedido.
E esta, sim, é uma estória verdadeira.
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