Prometeu

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História

Prometeu foi um dos Titãs, filho de Iapetus (também uma Titan) e Clymene, um Oceanid.

Seus irmãos eram Epimetheus, o Atlas e Menoetius. O nome deriva da palavra grega que significa “premeditação”.

Prometeu significa “premeditação”), é um titã da mitologia grega, mais conhecido como o benfeitor que trouxe o fogo para a humanidade.

Prometeu
Prometeu com o Fogo Divino. Pintura de Heinrich Fueger (1817)

A figura trágica e rebelde de Prometeu, símbolo da humanidade, constitui um dos mitos gregos mais presentes na cultura ocidental.

Filho de Jápeto e Clímene – ou da nereida Ásia ou ainda de Têrmis, irmã de Cronos, segundo outras versões – Prometeu pertencia à estirpe dos Titãs, descendentes de Urano e Gaia e inimigos dos deuses olímpicos.

O poeta Hesíodo relatou, em sua Teogonia, como Prometeu roubou o fogo escondido no Olimpo para entregá-lo aos homens.

Fez do limo da terra um homem e roubou uma fagulha do fogo divino a fim de dar-lhe vida.

Para castigá-lo, Zeus enviou-lhe a bonita Pandora, portadora de uma caixa que, ao ser aberta, espalharia todos os males sobre a Terra.

Como Prometeu resistiu aos encantos da mensageira, Zeus o acorrentou a um penhasco, onde uma águia devorava diariamente seu fígado, que se reconstituía.

Lendas posteriores narram como Hércules matou a águia e libertou Prometeu.

Na Grécia, havia altares consagrados ao culto a Prometeu, sobretudo em Atenas.

Nas lampadofórias (festas das lâmpadas), reverenciavam-se ao mesmo tempo Prometeu, que roubara o fogo do céu, Hefesto, deus do fogo, e Atena, que tinha ensinado o homem a fazer o óleo de oliva.

A tragédia Prometeu acorrentado, de Ésquilo, foi a primeira a apresentá-lo como um rebelde contra a injustiça e a onipotência divina, imagem particularmente apreciada pelos poetas românticos, que viram nele a encarnação da liberdade humana, que leva o homem a enfrentar com orgulho seu destino.

Prometeu significa etimologicamente “o que é previdente”.

O mito, além de sua repercussão literária e artística, tem também ressonância profunda entre os pensadores.

Simbolizaria o homem que, para beneficiar a humanidade, enfrenta o suplício inexorável; a grande luta das conquistas civilizadoras e da propagação de seus benefícios à custa de sacrifício e sofrimento.

Caixa de Pandora

Na mitologia grega, Pandora (”bem-dotada”) foi a primeira mulher, criada por Zeus como punição aos homens pela ousadia do titã Prometeu em roubar dos céus o segredo do fogo.

Em sua criação, os vários deuses colaboraram com partes; Hefestos moldou sua forma a partir de argila, Afrodite deu-lhe beleza, Apolo ofereceu-lhe talento musical, Deméter ensinou-lhe a colheita, Atena concedeu-lhe habilidade manual, Poseidon deu-lhe um colar de pérolas e a certeza de não se afogar, e Zeus, uma série de características pessoais, além de uma caixa, a caixa de Pandora.

“Caixa de Pandora” é uma expressão utilizada para designar qualquer coisa que incita a curiosidade, mas que é preferível não tocar (como quando se diz que “a curiosidade matou o gato”).

Tem origem no mito grego da primeira mulher, Pandora, que por ordem dos deuses abriu um recipiente (há polêmica quanto à natureza deste, talvez uma panela, um jarro, um vaso, ou uma caixa tal como um baú…) onde se encontravam todos os males que desde então se abateram sobre a humanidade, ficando apenas aquele que destruiria a esperança no fundo do recipiente. Existem algumas semelhanças com a história judaico-cristã de Adão (Adan) e Eva em que a mulher é, também, responsável pela desgraça do gênero humano.

Desde que Zeus (Júpiter) e seus irmãos (a geração dos deuses olímpicos) começaram a disputar o poder com a geração dos Titãs, Prometeu era visto como inimigo, e seus amigos mortais eram tidos como ameaça.

Sendo assim, para castigar os mortais, Zeus privou o homem do fogo; simbolicamente, da luz na alma, da inteligência…

Prometeu, “amigo dos homens”, roubou uma centelha do fogo celeste e a trouxe à terra, reanimando os homens.

Ao descobrir o roubo, Zeus decidiu punir tanto o ladrão quanto os beneficiados.

Prometeu foi acorrentado a uma coluna e uma águia devorava seu fígado durante o dia, o qual voltava a crescer à noite.

Para castigar o homem, Zeus ordenou a Hefesto (Vulcano) que modelasse uma mulher semelhante às deusas imortais e que tivesse vários dons. Atena (Minerva) ensinou-lhe a arte da tecelagem, Afrodite (Vênus) deu-lha a beleza e o desejo indomável, Hermes (Mercúrio) encheu-lhe o coração de artimanhas, imprudência, ardis, fingimento e cinismo, as Graças embelezaram-na com lindíssimos colares de ouro…

Zeus enviou Pandora como presente a Epimeteu, o qual, esquecendo-se da recomendação de Prometeu, seu irmão, de que nunca recebesse um presente de Zeus, o aceitou. Quando Pandora, por curiosidade, abriu uma caixa que trouxera do Olimpo, como presente de casamento ao marido, dela fugiram todas as calamidades e desgraças que até hoje atormentam os homens.

Pandora ainda tentou fechar a caixa, mas era tarde demais: ela estava vazia, com a exceção da “esperança”, que permaneceu presa junto à borda da caixa.

Pandora é a deusa da ressurreição. Por não nascer como a divindade, é conhecida como uma semideusa. Pandora era uma humana ligada a Hades. Sua ambição em se tornar a deusa do Olimpo e esposa de Zeus fez com que ela abrisse a ânfora divina. Zeus, para castigá-la, tirou a sua vida. Hades, com interesse nas ambições de Pandora, procurou as Pacas (dominadoras do tempo) e pediu para que o tempo voltasse. Sem a permissão de Zeus, elas não puderam fazer nada.

Hades convenceu o irmão a ressuscitar Pandora. Graças aos argumentos do irmão, Zeus a ressuscitou dando a divindade que ela sempre desejava. Assim, Pandora se tornou a deusa da ressurreição. Para um espírito ressuscitar, Pandora entrega-lhe uma tarefa; se o espírito cumprir, ele é ressuscitado. Pandora, com ódio de Zeus por ele tê-la tornado uma deusa sem importância, entrega aos espíritos somente tarefas impossíveis. Desse modo, nenhum espírito conseguiu nem conseguirá ressuscitar.

Fonte: www.nomismatike.hpg.ig.com.br

Prometeu

A Caixa de Pandora

Eu sempre achei interessante falar sobre este tema: Mitologia.

Isto para mim tem uma relação estreita com outros assuntos da Psicologia Analítica, principalmente com os conceitos ligados às imagens arquetípicas. E este ponto em comum são os símbolos apesar deles em si, representarem algo extremamente vasto pois um símbolo possui infinitos significados, diferindo de um signo, um sinal que possui apenas um. Mesmo que não reconhecemos o significado de um determinado símbolo em uma narrativa mitológica, a estória ainda nos fascina porque de alguma forma reconhecemos nela algo que está intimamente relacionado com a nossa própria estória. Ou ainda com algo que vem do fundo de nosso ser. Um mito pode tanto ser um relato do que se compreendia como sendo a história da humanidade como também a história de nossa humanidade, como indivíduos.

Em todo mito seus personagens estão intimamente interligados da mesma forma que nossos conteúdos inconscientes. O difícil mesmo é conseguirmos compreender uma pequena parte de uma estória que as vezes possui múltiplas conexões e desdobramentos. Como acontece internamente, é difícil conseguirmos separar o significado de um fato isolado de um contexto geral em nossas vidas. A estória de Pandora, “aquela que possui todos os dons” não foge a esta regra, e para que vocês possam ter uma visão mais global deste mito eu vou lhes dar um breve relato daquele momento histórico. A história de Pandora começa bem antes da própria Pandora.

Antes que o Céu e a Terra fossem criados, tudo era Um. Isso era chamado de Caos. Um grande Vazio sem forma onde potencialmente continha a semente de todas as coisas. A terra, a água e o ar eram um só. A terra não era sólida, nem a água líquida; o ar não era transparente.

Mas aí os Deuses e a Natureza começaram a interferir: a terra foi separada da água e, sendo mais pesada, ficou em baixo; a água tomou os lugares mais baixos da terra e a molhou; e o ar, quando tornou-se mais puro, ficou no alto, formando o céu onde as estrelas começaram a brilhar. Foi dada aos peixes e a alguns outros seres a possessão do mar; aos pássaros, o ar; e aos outros seres a terra.

Porém, um animal mais nobre, onde um espírito pudesse ser alojado, tinha que ser feito, e aí surgiu a idéia de se criar o Homem. Esta tarefa coube a Prometeu (“aquele que prevê”), e seu irmão Epimeteu (“aquele que pensa depois” ou “o que reflete tardiamente”). Eram filhos de Jápeto, que por sua vez era filho de Urano (Céu) e de Géia (Terra) e descendiam da primeira geração dos gigantes destronados por Zeus, os Titãs. Eles haviam sido poupados da prisão por não terem lutado contra os Deuses na disputa para dividir os territórios.

Para executar sua tarefa, Prometeu sabia que nas entranhas da terra dormiam algumas sementes dos céus. Então, pegando em suas mãos um pouco de terra, molhou-a com a água de um rio e obteve argila; moldou-a, cuidadosamente, carinhosamente, até obter uma imagem que fosse semelhante à dos deuses. Mas ainda faltava dar vida àquele boneco. Epimeteu havia criado todos os animais, dotando cada um deles com características como a coragem, a força, os dentes afiados, as garras, etc. Como o homem foi criado por último, o estoque das qualidades estava reduzido.

Então Prometeu procurou por características boas e más nas almas dos animais e colocou-as, uma a uma, dentro do peito do homem. E o homem adquiriu vida.

No entanto, ainda faltava alguma coisa, algo mais forte, o Sopro Divino.

Prometeu tinha uma amiga entre os deuses, Atená, deusa da Sabedoria. Esta admirou a obra do filho dos Titãs e insuflou naquela imagem semi-animada um espírito. E os primeiros seres humanos passaram a caminhar sobre a terra, povoando-a.

Mas o homem saíra das mãos de Prometeu, nu, vulnerável, indefeso e sem armas. Eles não sabiam fazer nada; não tinham o conhecimento de como amolar as pedras para cortar melhor a pele dos animais; não sabiam como pescar, pois não conheciam os meios para tal. Condenados, desde o seu nascimento, os primeiros homens se nutriam de frutas e carne crua. Usavam folhagens para se protegerem do frio. Tinham como abrigo apenas grutas profundas e escuras. Não sabiam nem fazer uso da centelha divina com a qual haviam sido presenteados. Podiam ver, mas não percebiam a beleza do azul do céu; podiam comer, mas não sentiam o doce sabor das frutas; podiam escutar, mas não sonhavam com o barulho das cascatas e o som divino do canto dos pássaros.

Com relação à esta condição humana, existe uma descrição das Eras que se seguiram. A Era do Ouro onde o homem não precisava fazer nenhum esforço para sobreviver. Tudo permanecia intocado pois não havia necessidade de fortificações, armas ou barcos. Uma Era de inocência e felicidade onde a verdade prevalecia e não havia nenhum juiz para ameaçar ou punir. Depois a Era da Prata onde Zeus encurtou a Primavera e assolou a Terra com o calor e frio criando as estações. As casas se tornaram necessárias, a terra deveria ser tratada para produzir frutos e a juventude eterna não existiria mais. Com a Era do Bronze os conflitos começaram. Depois veio a Era dos Heróis. Nesta época Astréia foi a última Deusa a deixar a humanidade. Ela é a Deusa da Inocência e da Pureza que depois de deixar a Terra foi colocada entre as estrelas na Constelação de Virgem – a Virgem Temis ( Justiça ) era a mãe de Astréia. Ela é representada segurando uma balança onde ela pesa as reclamações dos lados oponentes. E por último a Era do Ferro onde as discórdias pioraram. O crime, a ambição e a violência reinaram expulsando a modéstia, a verdade e a honra.

Enquanto isto, na abóbada celeste reinava Zeus e todos os outros deuses. Zeus havia destronado seu pai, Cronos (Tempo) pondo fim à antiga geração dos deuses da qual Prometeu fazia parte. Zeus então voltou sua atenção para a recém-criada humanidade e dela exigia honras e sacrifícios, oferecendo, em troca, sua proteção.

Desde que Zeus e seus irmãos começaram a disputar o poder com a geração dos Titãs, Prometeu, apesar de não ter participado desta guerra, era visto como inimigo e seus amigos mortais como uma ameaça constante.

Neste clima de disputas e desconfianças, mortais e imortais se encontraram em Mecone (Grécia) para decidir as obrigações e direitos dos seres humanos.

Prometeu intercedeu como legítimo advogado de suas criaturas e pediu aos deuses que não cobrassem muito por sua proteção.

Neste ponto, Prometeu teve a idéia de por à prova o poder e a clarividência de Júpiter. Sacrificou um enorme e belo touro e dividiu-o em duas partes e disse aos deuses do Olimpo que escolhessem uma delas, a outra caberia aos humanos. Antes, porém, em um dos montes colocou apenas os ossos e cobriu-o cuidadosamente com o sebo do animal, fazendo-o parecer maior que o outro monte de carne, entranhas e gordura, coberto com a pele do touro.

E assim Zeus escolheu o monte maior e ao descobrir que fora enganado por Prometeu, vinga-se dele recusando aos homens o último dos dons para manterem-se vivos: o fogo. Simbolicamente, Deus privou o homem da luz na alma, da consciência.

Sentindo muita pena dos pobres mortais, Prometeu desceu à Terra para ensiná-los a ver as estrelas; a cantar e a escrever; mostrou como fazer para domesticar os animais mais fortes; demonstrou-lhes como fazer barcos e velas e como poderiam navegar; ensinou-os a enfrentar as variantes diárias da vida e a fazer ungüentos e remédios para suas feridas.

Deu-lhes o dom da Profecia, para o entendimento dos sonhos; mostrou-lhes o fundo da Terra e suas riquezas minerais: o cobre, a prata e o ouro e a fazer da vida algo mais confortável. E, por último, ele roubou uma centelha do fogo celeste e a trouxe à terra.

Com o fogo Prometeu ensinou aos homens a arte de trabalhar os metais. Esta seria uma forma de reanimar a inteligência do homem, dando-lhes consciência, e de proporcionar melhores condições de vida para poderem se defender com armas eficazes contra as feras e cultivar a terra com instrumentos adequados.

Logo que a primeira semente do fogo do Sol foi utilizada em fogueiras a humanidade passou a conhecer a felicidade de viver melhor, de comer um alimento menos selvagem, de aquecer-se e receber luz. Mas, em sua alegria imoderada, os homens julgaram-se iguais aos deuses, esquecendo seus deveres para com seus semelhantes. Zeus sentiu-se irado ao ver que o novo brilho que emanava da Terra era o do fogo. Sem poder tirar o conhecimento de como obter o fogo dos homens, arquitetou um outro malefício. E assim, decidiu punir tanto o ladrão quanto os beneficiados.

Zeus entrega Prometeu a Hefesto, seu filho, e a seus seguidores, Kratós e Bia (o Poder e a Violência). Estes levam-no para o deserto de Cítia e lá, prendem-no com correntes inquebráveis à uma parede de um penhasco na montanha caucasiana.

E Prometeu preso à rocha, de pé, sem poder dormir e incapaz de dobrar os joelhos fatigados tinha seu fígado devorado diariamente por uma águia. Mas, como ele era imortal, suas vísceras refaziam-se à noite sendo dilacerado novamente no dia seguinte. Sua tortura deveria durar para toda a eternidade pois as decisões de Zeus eram irrevogáveis e ele havia profetizado que seu sofrimento só terminaria quando um homem puro e de bom coração morresse em seu lugar.

Depois de 30.000 anos de sofrimento, Hércules passou por ali e viu o exato momento em que a ave divina destroçava o fígado de Prometeu. Não pensou duas vezes e lançou sobre ela uma flecha veloz e mortal. Depois o libertou das pesadas correntes. Os dois seguiram viagem juntos. Mas faltava cumprir com a exigência de Zeus. Quíron, um centauro, antes imortal, aceitou morrer por ele pois ele havia sido envenenado por Hidra e provavelmente iria morrer de qualquer jeito.

Mesmo assim, o senhor dos deuses, obrigou Prometeu a usar um anel com uma pedra encrustada. Era uma pedra retirada do Cáucaso, onde esteve preso. Zeus poderia, assim, vangloriar-se dizendo que seu inimigo continuava preso à montanha.

Para castigar o homem, Zeus ordenou a Hefesto (Vulcano), o Deus das Artes, que modelasse uma mulher semelhante às deusas imortais e que ela fosse muito dotada. A mulher ainda não havia sido criada. Poucas horas depois, Hefesto chegou com uma estátua de pedra que retratava uma belíssima e encantadora donzela. Ela era linda, e clara como a neve. Atená (Minerva) lhe deu a vida com um sopro e ensinou-lhe a arte da tecelagem, os outros deuses dotaram-na de todos os encantos; Afrodite (Vênus) deu-lhe a beleza, o desejo indomável e os encantos que seriam fatais aos indefesos homens. Apolo confere-lhe a voz suave do canto e a música, as Graças embelezaram-na com lindíssimos colares de ouro e Hermes (Mercúrio), a persuasão. Em outras palavras, Hermes deu-lhe graciosa fala enchendo-lhe o coração de artimanhas, imprudência, ardis, mentira e astúcia. Por tudo isso ela recebeu o nome de Pandora ( “a que possui todos os dons”). E da forma mais perfeita e eficaz fez-se o malefício.

Zeus enviou Pandora como presente a Epimeteu cujo nome significa (“aquele que pensa depois” ou “o que reflete tardiamente”). Epimeteu havia sido avisado por Prometeu para não aceitar nenhum presente dos deuses, mas, encantado com Pandora, desconsidera as recomendações do irmão. Pandora chega trazendo em suas mãos um grande vaso (pithos = jarro) fechado que trouxera do Olimpo como presente de casamento ao marido. Pandora abre-o diante dele e de dentro, como nuvem negra, escapam todas as maldições e pragas que assolam todo o planeta. Desgraças que até hoje atormentam a humanidade.

Pandora ainda tenta fechar a ânfora divina, mas era tarde demais: ela estava vazia, com a exceção da “esperança”, que permaneceu presa junto à borda da caixa.

A única forma do homem para não sucumbir às dores e aos sofrimentos da vida. Assim, essa narração mítica explica a origem do males, trazidos com a perspicácia e astúcia “daquela que possui todos os dons”.

Pandora por não ter nascido como uma deusa é conhecida como uma semideusa. Dizem que foi por ambição que ela abriu a caixa. Ela queria se tornar uma deusa do Olimpo e esposa de Zeus. Por isso, Zeus para castiga-la tirou-lhe a vida. Mas, Hades com interesse nas ambições de Pandora, procurou as parcas (dominadoras do tempo) e lhes pediu para que voltassem o tempo. Sem permissão de Zeus elas nada puderam fazer. Hades convenceu o irmão a ressuscitar Pandora. Devido aos argumentos do irmão, Zeus a ressuscitou dando-lhe a divindade que ela sempre desejara. Foi assim que Pandora tornou-se a deusa da ressurreição. Para um espírito ressuscitar Pandora entrega-lhe uma tarefa, se o espírito cumprir a devida tarefa, ele é ressuscitado. Pandora com ódio de Zeus por ele ter a tornado uma deusa sem importância, entrega aos espíritos somente tarefas impossíveis. Assim nenhum espírito até hoje conseguiu e nem conseguirá ressuscitar.

Deste mito ficou a expressão caixa de Pandora, que se usa em sentido figurado quando se quer dizer que alguma coisa, sob uma aparente inocência ou beleza, é na verdade uma fonte de calamidades.

Abrir a Caixa de Pandora significa que uma ação pequena e bem-intencionada pode liberar uma avalanche de repercussões negativas. Há ainda um detalhe intrigante que poderíamos levantar do porque a esperança estava guardada na caixa entre todos os males. Dependendo da perspectiva em que olharmos os pares de opostos, a esperança pode também ter uma conotação negativa por ela pode minar as nossas ações nos fazendo aceitar coisas que deveríamos confrontar.

A linguagem mitológica com todos os seus paradoxos, vem de uma necessidade do homem de se conhecer mais. Para espantar o medo e a insegurança e explicar melhor os fenômenos naturais. Tudo que se apresentava aos olhos dos homens, era entendido como personalidades divinas. Assim o sol, a terra, a noite, os rios, as árvores eram deuses. Ménard nos fala dessas alegorias da linguagem onde cada rio era um deus e cada regato uma ninfa.. “Se num trecho eles corriam nas mesma direção era porque eles se amavam.” “As catástrofes, os acidentes da vida se revestiam do mesmo aspecto na narração. A história de Hilas, um jovem arrebatado pelas ninfas, nos mostra claramente o que devemos entender pela linguagem mitológica dos antigos.

Nos tempos atuais, quando um jornal nos descreve a morte de um rapaz que se afogou, diria: Deplorável acidente acaba de afligir a nossa comunidade.

Um jovem indo de manhã bem cedo banhar-se, morreu tragicamente afogado……etc.

Os gregos diriam: Era tão belo que as ninfas, apaixonadas, o raptaram e levaram para a profundeza das águas.”

Assim na narração mitológica, os significados são muito ampliados e uma redução seria cruel pois isto destruiria toda e qualquer aceitação e compreensão de um mito. Todos sabemos que um “bom leitor” é aquele que mantém a sua mente aberta para entrar na narrativa sem qualquer preconceito e racionalidade, para não destruir a realidade que o escritor está tentando criar.

Então vejamos: Quando Júpiter se casa com Métis (Reflexão) ele a engole e dá a luz à uma filha Minerva ( A Sabedoria Divina) que lhe sai do cérebro. Se fizermos uso de uma redução, esta é uma imagem terrível, grotesca. Agora, olhe sob essa outra perspectiva; o deus nutre-se da Reflexão para gerar a Sabedoria. Mnemosina (A Memória) desposa Zeus e deles nascem as Musas (A Inspiração). O sopro divino em união com a Memória faz nascer a Inspiração.

Se a verdade do mito segue a alguma lógica, esta é a do Inconsciente. É mais uma intuição compreensiva da realidade da qual não se necessita provas para ser aceita. Pois ela, em si, nos remete à realidade interna nos dando uma vaga noção de significado. Como nos sonhos, quando percenbemos que existe algo de importante ali. E isso também era tudo que Jung pedia ao tratarmos com esta estranha realidade do inconsciente. Manter as nossas mentes abertas para que possamos captar um mínimo dessa linguagem tão peculiar. O mito não é uma lenda. O mito não é uma mentira. Ele nos conta de nossa realidade interna, portanto ele é verdadeiro para quem o vive. A narração de determinada história mítica é uma primeira incursão do homem em sua busca de significado sobre o qual a afetividade e a imaginação exercem grande papel. Mas normalmente quando se fala de mito ou que alguma coisa é um mito, é mais no sentido desta coisa não ter nenhum compromisso com a realidade. Como as lendas que são estórias sobrenaturais, como a mula sem cabeça e o saci pererê.

Os mitos ou a criação destes estão presentes em todas as culturas, em todos os tempos desde o início da humanidade como um mecanismo de sobrevivência do homem em sua tentativa para explicar o mundo através de sua realidade interna. Sua narrativa é um relato projetivo de um material inconsciente onde a linguagem simbólica é naturalmente criada num processo completamente isento de intenção que funciona como uma tentativa para elucidar os segredos. Como vocês sabem a projeção não é um método intencional. Ela acontece, ela nunca é produzida. E na ocorrência dessas projeções, observamos todo um empenho que se resume na busca de significado, no encontro com a sombra e no restabelecimento do contato com o feminino.

Nas narrações das “qualidades divinas” de uma Deusa há um movimento de trazer para a consciência algum conteúdo inconsciente: Deméter (a eterna mãe); Koré (a eterna jovem); Artémis (a eterna guerreira) ou Afrodite (a eterna amante).

Estes traços do feminino atribuídos a estas Deusas simplesmente nos mostram o desconhecimento e o fascínio que eles causam ao homem desde a sua origem.

Desde os mais remotos tempos, o mito grego representa o feminino como um reflexo importante de diversos aspectos da realidade e evolução que vão além dos limites do papel que a mulher tinha na sociedade grega. Podemos ver isso claramente nos relatos míticos, em trechos das narrativas épicas, das tragédias, como em obras de arte. A Deusa Mãe representava mais especificamente a terra fecunda na qual o homem semeava e de onde retirava tudo que necessitava. Com algumas alterações na representação, a figura feminina ainda ocupava o lugar de destaque e recebia todas as honras. E como a Senhora da fertilidade e da fecundidade ela ainda reinava. Com o correr dos milênios, a imagem da Deusa ganhou novos atributos, e foi associada a diversos animais e a outras funções.

Com a expansão das tribos guerreiras do continente, as culturas matriarcais foram conquistadas, e um Deus Macho e guerreiro dominou o panteão. A Deusa, então, assumiu o papel de mãe, esposa ou filha dele. As cidades se tornaram um espaço dos homens e dos Deuses machos; já o interior da casa, o campo, as matas.

Isto é, as áreas limítrofes entre o civilizado e o selvagem, eram dominados pela Deusa Mãe em suas múltiplas facetas: Afrodite, Psique, Deméter, Perséfone, Ártemis, entre outras. A cada uma delas coube uma característica, uma pequena parcela do domínio da antiga Deusa Mãe.

No mito de Prometeu e de Pandora, a mulher aparece como um “presente” dado aos homens. Semelhante às deusas ela foi moldada em suas feições recebendo ainda todos os dons divinos. E foi Hermes quem lhe pôs no coração a perfídia e os discursos enganosos, além da curiosidade. Desde então, a mulher é considerada a origem de todos os tormentos do homem. Tanto na tradição Grega quanto na Judaico-Cristã há uma tentativa de transgressão dos limites humanos e é a entidade feminina quem impulsiona o homem para tal ação. Na narrativa dos Hebreus a tomada de consciência era oferecida ao homem por Eva.

No mito Grego, houve primeiro uma simulação frustada pela brincadeira de Prometeu ao tentar testar o poder e a clarividência dos Deuses.

Depois o próprio Prometeu traz o fogo como presente mas os homens embevecido com a nova condição, se julgam iguais aos deuses e provocam uma situação de serem punidos novamente. Aí chega Pandora que ao abrir a caixa derrama sobre a terra todas as desgraças. E a conseqüência é a perda do paraíso. Mas também se não fossemos expulsos, não cresceríamos. Ainda hoje, a visão que se tem da mulher costuma ser permeada da influência desses dois mitos. Há quem a veja como uma bênção de Deus e daria tudo para ter a sua companhia. Há, por outro lado, quem pense diferente.

Mas agora lembrem-se que estamos falando de uma realidade interna expressa nos mitos. Esta linguagem simbólica usada projetivamente se resume na busca do homem pelos segredos de seu próprio inconsciente; no encontro com a sombra e no restabelecimento do contato com o feminino. E neste clima de tensões , paradoxos e incertezas confrontamos a nós mesmos na busca pelo equilíbrio. Na procura de significado onde esta anima , tão bela e cheia de perfídia, nos faz crescer.

Sérgio Pereira Alves

Bibliografia

BRANDÃO, Junito Souza – Mitologia Grega , vol. I, ed. Vozes
HAMILTON, E. – A Mitologia [ trad. M.L. Pinheiro ] – Lisboa: Dom Quixote, 1983.
Ésquilo, Prometeu acorrentado. Editora vozes
GRIMAL, P. – Dicionário da Mitologia Grega e Romana [ trad. V. Jabouille ] – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2ª ed., 1993.
Hesíodo. Os trabalhos e os dias. Tradução de Mário da Gama Khuri
Hesíodo, Teogonia. Tradução de Mário da Gama Khuri.
VERNANT, J.-P – O universo, os deuses, os homens – São Paulo: Cia. das Letras,
MÉNARD, René. – Mitologia Greco-Romana, vol. I, Fittipaldi Editores Ltda, São Paulo, 1985
MEUNIER, Mário. Nova Mitologia Clássica. -: Ibrasa,1976., 2000.
KERÉNYI, K. – Os deuses gregos [ trad. O.M. Cajado ] – São Paulo: Cultrix, 1993.
KERÉNYI, K. – Os heróis gregos [ trad. O.M. Cajado ] – São Paulo: Cultrix, 1993.
KHURY, Mário da G. Dicionário de Mitologia Grega e Romana. Rio de Janeiro: Zahar, 1990.

Fonte: www.salves.com.br

Prometeu

Mito de Prometeu

Prometeu
Prometeu – Mitologia Grega

Lenda

O Céu e Terra já estavam criados. A parte ígnea, mais leve, tinha-se espalhado e formado o firmamento. O ar colocou-se de seguida. A terra, como era mais pesada, ficou por baixo e a água ocupou o ponto inferior, fazendo flutuar a terra. Neste mundo assim criado, habitavam as plantas e os animais. Mas faltava a criatura na qual pudesse habitar o espírito divino.

Foi então que chegou à terra o Titã Prometeu, descendente da antiga raça de deuses destronada por Zeus. O gigante sabia que na terra estava adormecida a semente dos céus. Por isso apanhou um bocado de argila e molhou-a com um pouco de água de um rio. Com essa matéria fez o homem, à semelhança dos deuses, para que fosse o senhor da terra. Tirou das almas dos animais características boas e más, animando assim a sua criatura. E Atena, deusa da sabedoria, admirou a criação do filho dos Titãs e insuflou naquela imagem de argila o espírito com o sopro divino.

Foi assim que surgiram os primeiros seres humanos, que logo povoaram a terra. Mas faltavam-lhes conhecimentos sobre os assuntos da terra e do céu.

Vagueavam sem saber a arte da construção, da agricultura, da filosofia. Não sabiam caçar ou pescar – e nada sabiam sobre a sua origem divina.

Prometeu aproximou-se e ensinou às suas criaturas todos esses segredos. Inventou o arado para o homem poder plantar, a cunhagem das moedas para que houvesse o comércio, a escrita e a extração do minério. Ensinou-lhes a arte da profecia e da astronomia, enfim todas as artes necessárias ao desenvolvimento da humanidade.

No entanto faltava-lhes ainda um último dom para se puderem manter vivos – o fogo. Este dom, entretanto, havia sido negado à humanidade pelo grande Zeus.

Porém, Prometeu apanhou um caule do nártex, aproximou-se da carruagem de Febo (o Sol) e incendiou o caule. Com esta tocha, Prometeu entregou o fogo para a humanidade, o que lhe dava a possibilidade de dominar o mundo e os seus habitantes.

Zeus, porém, irritou-se ao ver que o homem possuíra o fogo e que a sua vontade tinha sido contrariada. Por isso tramou no Olimpo a sua vingança. Mandou que Hefesto fizesse uma estátua de uma linda donzela, a que chamou Pandora – “a que possui todos os dons”,(uma vez que cada um dos deuses deu à donzela um dom). Afrodite deu-lhe a beleza, Hermes o dom da fala, Apólo, a música. Vários outros encantos foram consedidos à criatura pelos deuses.

Zeus pediu ainda que cada imortal reservasse um malefício para a humanidade. Esses presentes maléficos foram guardados numa caixa, que a donzela levava nas mãos. Pandora, então, desceu à terra, conduzida por Hermes, e aproximou-se de Epimeteu – “o que pensa depois”, o irmão de Prometeu – “aquele que pensa antes” e diante dele abriu a tampa do presente de Zeus. Foi então que a humanidade, que até aquele momento havia habitado num mundo sem doenças ou sofrimentos, se viu assaltada por inúmeros malefícios. Pandora tornou a fechar a caixa rapidamente, antes que o único benefício que havia na caixa escapasse – a esperança.

Zeus dirigiu então a sua fúria contra o próprio Prometeu, mandando que Hefesto e seus serviçais Crato e Bia (o poder e a violência) acorrentassem o Titã a um penhasco do monte Cáucaso.

Mandou ainda uma águia devorar diariamente o fígado de Prometeu que, por ser ele um Titã, se regenerava. O seu sofrimento durou por inúmeras eras, até que Hércules passou por ele e viu o seu sofrimento. Abateu a gigantesca águia com uma flecha certeira e libertou o cativo das suas correntes. Entretanto, para que a vontade de Zeus fosse cumprida, o gigante passou a usar um anel com uma pedra retirada do monte.

Assim, Zeus sempre poderia afirmar que Prometeu se mantinha preso ao Cáucaso.

Olga Pombo

Fonte: www.educ.fc.ul.pt

Prometeu

Prometeu e Pandora, da criação aos Males do Homem

Milênios antes de o homem estudar a ciência da vida, as religiões explicaram de forma mística a criação da terra, da vida e da humanidade, numa resposta direta à imensa interrogação que se faz sobre o espaço humano dentro do universo, e a sua existência perecível, na eterna luta da vida e da morte. Se nos conceitos judaico-cristãos, Deus é único e supremo criador do universo e do homem, a religião da Grécia antiga via em Prometeu, um Titã da segunda geração, o criador da humanidade.

Feito para viver no jardim do Éden, Adão é a imagem do criador, ser inteligente e livre para escolher o seu caminho. Se no Gênesis o primeiro homem é feito do barro, na mitologia grega também.

Prometeu esculpiu o homem do barro misturado com as suas lágrimas.

Adão é feito à imagem de Deus, também o homem de Prometeu é feito à imagem de uma divindade.

Se Adão é único, e da sua costela surge a mulher, com quem vai procriar, Prometeu maravilha-se com a sua obra e esculpi outros tantos homens, cada um à imagem das divindades. A sua obra, ao contrário da do Deus dos judeus, não é perfeita, pois esses homens são desprovidos de uma inteligência que lhes construísse uma identidade da alma. São seres silvícolas e sem vontade ou pensamento.

É preciso que Atena (Minerva), deusa da sabedoria, jogue sobre a criação de Prometeu gotas do néctar divino, para que eles possuam uma alma, e quando a adquirem, não sabem o que fazer com ela.

Se Deus dá a sabedoria divina para Adão por amor à criação, Prometeu rouba o fogo dos deuses, o símbolo da sabedoria humana, não por amor, mas por vingança aos deuses. Instigado por Eva, Adão come o fruto da sabedoria e perde o Éden, também uma mulher, Pandora, será quem trará na sua caixa todos os males do mundo, abrindo-a para a humanidade, que perde a superioridade intelectual alcançada quando a consciência humana, através do conhecimento do fogo, é libertada da submissão aos deuses.

Portadores de todos os males da caixa de Pandora, os homens voltam aos deuses, rogando-lhes boa colheita, boa saúde e boa morte.

Os mitos de Prometeu e Pandora, antagônicos, mas unidos através da concepção da criação humana, representam o homem, ser pensante e inteligente (por parte de Prometeu) e às limitações do seu corpo, exposto aos males físicos e intelectuais (herança de Pandora), que os fazem finitos diante da imortalidade dos deuses.

Paz entre os Deuses no Reinado de Zeus

Para a cultura judaico-cristã, Deus criou a terra, os animais e por fim o homem. Para os gregos antigos, a criação do mundo deu-se com uma explosão de vida dentro do Caos, que originou Gaia, a Terra, e Eros, o amor. Gaia concebeu Urano (Céu), com quem se uniu e jamais deixou de conceber, sendo os seus filhos os responsáveis pelas forças indomáveis da terra, como os vulcões, os terremotos e os maremotos. É da união entre Gaia e Urano que nascem os Titãs (doze irmãos que ajudam o pai a governar o mundo). Cronos (Saturno), o deus do tempo, o mais poderoso dos titãs, revolta-se contra o pai, Urano, amputando-lhe os testículos, destronando-o da sua força genetriz, tornando-se o novo senhor dos deuses. Sendo o deus que tudo devora, sem encontrar um equilíbrio, também Cronos será destronado por um de seus filhos, Zeus (Júpiter). Ao destronar o pai, Zeus torna-se o senhor absoluto dos deuses, através dele o mundo organiza-se, é a vitória da ordem sobre a desordem. Zeus estabelece o princípio divino da espiritualidade e reinará os deuses e o mundo do alto do Olimpo. Organizado os deuses, falta a humanidade para servi-los e adorá-los.

Na luta pelo poder, Zeus travou uma guerra de dez anos contra os Titãs e os Gigantes. Vencidos, eles foram aprisionados no interior da terra. Um dos Titãs, Iápeto uniu-se à filha de Oceano, Ásia, com quem teve Atlas, Menécio, Prometeu e Epimeteu, formando a segunda geração de Titãs. Na luta dos Titãs contra Zeus, quando por ele derrotados, Atlas teve por castigado ter que carregar o mundo nas costas, enquanto que Menécio foi aprisionado para sempre no Érebo.

Somente Prometeu e Epimeteu não foram castigados, por fingirem aceitar o reinado de Zeus.

Mesmo a participar das assembléias olímpicas, Prometeu jamais aplacou o ódio aos deuses que humilharam os Titãs.

O Homem Surge das Lágrimas e do Ódio de Prometeu

Se a guerra sangrenta que derrotara os Titãs trouxera a paz entre os deuses e o fim das disputas entre eles, já não havia quem pudesse desafiar a nova ordem olímpica. Para que se quebrasse esta harmonia, Prometeu decidiu criar novos seres que se opusessem a ela. Molhou o barro com as suas lágrimas de ódio aos olímpicos e criou um ser à semelhança de uma divindade. Prometeu soprou a vida à escultura, chamando-a de homem. Gostou tanto da sua criação, que se pôs a esculpir um exército deles, todos inspirados em uma divindade. Das lágrimas e do ódio de Prometeu surgiram os homens.

Á criação, o Titã proveu da astúcia da raposa, da fidelidade do cavalo, da avidez do lobo, da coragem do leão e da força do touro.

Mas a criação de Prometeu, apesar de bela, era feita da essência animal, apesar da aparência divina, era totalmente desprovida da essência dela, o que limitava as suas ações.

Quando Atena (Minerva), viu tão sublime obra à semelhança dos deuses, mas com a essência e inteligência dos animais, encantou-se por ela. Amiga de Prometeu, a deusa da sabedoria despejou em um cálice o néctar divino, desceu para a terra e do cálice, pingou gotas sobre a criação de Prometeu.

Imediatamente as criaturas perderam a essência animal, dotando-se da inteligência divina, adquirindo uma alma. Assim a humanidade, ao contrário dos animais, adquirira a alma divina, mas não a sua perenidade imortal.

Através do Fogo, Prometeu Torna o Homem Pensante

O homem criado por Prometeu adquirira uma alma, mas não sabia o que fazer com ela. O Titã queria uma raça que confrontasse e destruísse os olímpicos. Era preciso que se igualasse os homens aos deuses, era preciso que se lhes revelasse os segredos divinos e de si próprios.

Cabia a Prometeu ensinar os conhecimentos universais à humanidade.

Zeus guardava o segredo do fogo distante da humanidade. O senhor dos deuses não via naquela criação que andava pelo mundo entre as trevas, qualquer habilidade que a fizesse mais especial que os outros seres viventes. Eram obedientes e servis aos deuses, o que agradava plenamente ao senhor do Olimpo.

Sabedor desta condição, Prometeu sentia cada vez mais a necessidade de organizar a alma humana.

Um dia, ao andar pela terra, Prometeu pegou um pedaço de galho seco de um carvalho, voou até Hélios, o Sol, e encostou o galho no carro do deus, que se acendeu imediatamente.

Prometeu tinha o fogo dos deuses nas mãos. Era o momento da sua vingança. Desceu à terra e entregou o fogo aos homens. Era o princípio da revelação da sabedoria à humanidade que se iria fazer mais inteligente e poderosa do que os deuses.

Na posse do fogo, os homens organizaram-se ao seu redor. Cozinharam os alimentos, forjaram inúmeros metais, aqueceram-se do frio no inverno, cozeram o barro para criar vasilhas onde pudessem guardar a água. A partir da descoberta da utilização do fogo dos deuses, a humanidade, orientada por Prometeu, floresceu no jardim dos seus conhecimentos. Já pouca diferença havia entre ela e os deuses.

Cada vez mais avançada nos conhecimentos, a humanidade aprendeu a fundir o ouro e a prata, a construir abrigos, arar a terra, proteger-se do frio. Já não precisa mais invocar proteção aos deuses, a sua sabedoria afrontava a cada dia o poder da divindade. A humanidade começava a ser feliz sem precisar dos deuses.

Prometeu finalmente, criara aqueles que se oporiam aos olímpicos. Começara não uma guerra entre os imortais, mas entre deuses e homens. Os Titãs estavam vingados.

Pandora, a Mulher Feita do Bronze

Prometeu
Pandora

Os deuses passam a temer os homens, que se expressam através da arte a raiva, o amor e o ódio, sem que precisem recorrer aos deuses. Tornam-se poderosos e cada vez mais independentes da presença divina. Esquecidos pelos homens, os deuses tramam uma vingança terrível, que lhes devolvam o poder usurpado e a submissão humana.

Zeus pede ao filho Hefestos (Vulcano), talentoso deus dos metais e da forja, que confeccione um homem de bronze, mas que seja diferente dos outros, para que possa encantá-los. Hefestos atende ao pedido, criando do bronze, a primeira mulher, bela e encantadora.

À mulher feita do bronze são dados vários presentes divinos. Afrodite (Vênus), deusa do amor, oferece-lhe uma infinita e sedutora beleza, além de encantos para enlouquecer os homens. Atena entrega à mulher uma túnica bordada que lhe cobre e realça a beleza harmoniosa do corpo. Hermes (Mercúrio), presenteia-lhe com a esperteza da língua, e Apolo confere-lhe uma voz melódica e suave. Está pronta a primeira mulher, que é chamada de Pandora, que significa “dotada por todos”. Ela estava pronta para ser enviada aos homens.

Zeus, antes de enviar Pandora aos homens, oferece-lhe uma caixa coberta com uma tampa. Dentro dela estão todos os germes da miséria humana. Assim, é enviada do Olimpo para os homens da Terra, a mulher, que trazia consigo a tentação, o símbolo dos desejos terrestres e todos os males do mundo.

Aberta a Caixa de Pandora

Prometeu
Caixa de Pandora

Quando chega a Terra, Pandora depara-se com Epimeteu, irmão de Prometeu. Ao ver tão bela criatura, o Titã encanta-se por sua beleza. Seduzido e apaixonado, ele recebe das mãos da bela mulher a caixa enviada por Zeus.

Deslumbrado por tanta beleza, Epimeteu esquece-se da recomendação de Prometeu, que não recebesse nenhuma dádiva vindo do senhor do Olimpo, embevecido de paixão, nem desconfia do conteúdo caixa, abrindo-a prontamente. Subitamente, dela espalha-se um ar pestilento, os homens são afetados pelas doenças, pelas dores, pelo envelhecimento do corpo. Toma-lhes a alma a inveja, o rancor, a vingança. A essência humana, dantes pura e infinita, perde a inocência, tornando-se solitária e egoísta.

Dentro da caixa de Pandora há um último elemento, a esperança, que ela deixa lá no fundo, ao fechá-la novamente. O homem perde o paraíso.

Pandora une-se a Epimeteu, criando uma nova geração de homens, desta vez vinda não do barro e das lágrimas de Prometeu, mas da união de um homem e de uma mulher. Os filhos desta união herdam a fragilidade da alma, as doenças, a miséria e todos os males que faz da humanidade a existência provisória diante da perenidade dos deuses.

Os deuses estão vingados. Através de Pandora destruíram a solidariedade entre eles, limitando o caminho vitorioso que percorreram até então. A conquista do fogo, que se fizera instrumento de transformação e progresso, passa a verter o seu lado destrutivo, que incendeia a alma humana.

Prometeu Acorrentado

Punida a humanidade, resta castigar Prometeu, que representava a consciência da humanidade e a libertação da sua mente intelectual. Zeus, mais uma vez, recorre à ajuda do artesão dos deuses, Hefestos.

Pede ao divino obreiro que crie correntes que não se partam, a seguir, ordena-lhe que agrilhoe Prometeu ao cimo do monte Cáucaso. Hefestos obedece ao pai, acorrentando o Titã rebelde.

Aprisionado no monte Cáucaso, Prometeu sofre ainda, com uma águia enviada por Zeus, que lhe devora o fígado durante o dia. À noite, o órgão regenera-se, mas tão logo o sol nasce, começa a ser devorado novamente pela águia.

Prometeu vive acorrentado e a ter o fígado devorado pela águia por trinta anos. Mesmo diante de tanto sofrimento e dor, jamais pede perdão aos deuses. Sua maior dor é ver a humanidade que criara, degradar-se na sua efemeridade.

Um dia o oráculo diz a Zeus que uma terrível sorte está por se lhe abater em cima, e que só Prometeu poderia revelar-lhe que maldição seria aquela. O senhor dos deuses procura o Titã acorrentado, indaga-lhe sobre o segredo.

Prometeu diz só revelá-lo quando for libertado. Sem alternativa, Zeus envia Héracles (Hércules) ao monte Cáucaso para libertar o Titã. Héracles mata a águia com uma flecha e liberta dos grilhões, o mais forte dos homens. Diante de Zeus, Prometeu revela-lhe que se esposasse a bela Tétis, o filho com ela gerado iria destroná-lo, assim como fizera com Cronos. Temeroso, Zeus entrega a bela nereida a Peleu.

Perdoado, Prometeu deseja voltar para o Olimpo, mas o castigo tirara-lhe a imortalidade, ele só poderia tê-la de volta se encontrasse um imortal que consentisse em trocar de destino com ele. O centauro Quirão, ferido pela flecha de Héracles, pede a Hades, deus dos mortos, que o deixe entrar no Érebo, consentindo em trocar a sua imortalidade com Prometeu.

Novamente imortal, Prometeu reconcilia-se com os deuses, voltando para o Olimpo, de onde observa a humanidade por ele criada, agora imperfeita, mas em paz com os deuses e com as suas limitações.

Os Mitos de Prometeu e Pandora

O mito criador de Prometeu reflete a preocupação do homem com as suas origens e diante da sua inteligência impar, que o difere do restante dos seres vivos da Terra.

Prometeu era cultuado em Atenas nos altares erguidos na Academia, a famosa escola filosófica ateniense. Seus altares ficavam perto dos consagrados às Musas, às Graças, a Eros e a Héracles. Nas festas das lâmpadas, as Lampadodrimias, era venerado como divindade civilizadora ao lado de Atena e Hefestos.

Prometeu significa, em grego, “pensamento previdente”, por isto o mito é visto como o representante do despertar da consciência e princípio do pensamento intelectual do homem. É o reflexo da humanidade que se quer encaminhar para a perfeição, mas que se depara com os males e limitações da sua existência, reduzida ao nada da morte.

Pandora é a imagem da primeira mulher, vista de forma depreciativa por uma sociedade patriarcal. A mulher traria na sua essência todos os males do mundo, os homens, diante da sua sedução, perdem, assim como Adão, o paraíso e a inocência solidária. Pandora é um misto de Eva de Lilith, as primeiras mulheres da humanidade judaica. Assim como Lilith, traz os males do mundo, e como Eva, gera filhos imperfeitos, resultado da punição divina diante da ambição humana.

Tanto Adão, como Epimeteu, ao acolherem a sedução da mulher, exercem totalmente o poder que têm da escolha diante da fatalidade e da rebelião.

Fonte: jeocaz.wordpress.com

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