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A historia da Tv Tupi (Rede Tupi de Televisão)
TV TUPI: A Pioneira !
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1950-1960: O NASCIMENTO DA TELEVISÃO NO BRASIL: SURGE A REDE TUPI
Assis Chateaubriand: Sua vida
Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, nasceu em 4 de outubro de 1892 em Umbuzeiro (Paraíba). Filho de Francisco José e Maria Carmem, Assis ganhou o sobrenome Chateaubriand Bandeira de Melo.
Fernando Morais em seu livro de 1994, conta que esquisito e impronunciável para a maioria das pessoas do lugar, o sobrenome Chateaubriand nascera singelamente do gosto do avô paterno, José Bandeira de Melo, admirador do poeta e pensador francês, quando comprou terras na Paraíba, batizou uma escola de Colégio François René Chateaubriand, ficando conhecido por esse sobrenome, batizando, depois, seu filho Francisco José desta forma.
A família vivia bem e Francisco José era juiz. Assis Chateaubriand pouco viveu em Umbuzeiro. Seu pai vivia de forma itinerante, viajando de uma cidade a outra, assinando sentenças. Depois, mudou, com sua família para Recife, onde seu pai foi criar vacas leiteiras, recusando, inclusive, um cargo parlamentar.
Anos depois, Assis Chateaubriand conseguiu seu primeiro emprego, em um armazém de tecidos. Já se interessava muito pela leitura de livros, jornais e revistas.
Pouco depois, conseguiu seu primeiro trabalho como jornalista, na Gazeta do Norte. O jornal faliu pouco depois, deixando Chatô desempregado. Assis Chateaubriand foi trabalhar em outros jornais, também deu aulas e exerceu outras funções. Mas queria a cidade grande, a capital federal. E foi para ela após um incidente ocorrido num concurso para professor. Queria resolver a questão no Rio de Janeiro a então Capital do país, com autoridades federais. Fernando Morais em seu livro de 1994, conta que Assis Chateaubriand desembarcou no Rio de Janeiro em outubro de 1915. Voltou ao Recife em 1916, com a vitória, e a garantia de que seria o professor, com o aval do presidente da República, Venceslau Brás. Mas não assumiu a cátedra. Retornou ao Rio de Janeiro, famoso pelo episódio que havia sido comentado em todo o Brasil.
Trabalhou em jornais e, em 1924, comprou “O Jornal”, do Rio de Janeiro, existente desde 1919. Era o início dos Diários Associados.
“Começava ali um império, não agrícola, industrial ou petrolífero, mas um império de palavras, na expressão feliz de David Nasser. ( ) Estava dada a partida da grande marcha, que seria retartada, aqui e acolá, pelos adversários, mas jamais impedida. Começavam a nascer, com O Jornal, os Diários Associados”. (conta Carneiro em seu livro de 1999, p.55-89)
Assis Chateaubriand ingressou no mercado paulista em 1925, mais precisamente no dia 2 de junho, quando comprou o Diário da Noite. Carvalho em seu livro de 1999, destaca a rápida ascensão de Assis Chateaubriand.
“Assis Chateaubriand comprara o matutino diário em setembro de 1924 o primeiro de uma seqüência que incluiria o Diário da Noite de São Paulo (junho de 1925), O Cruzeiro (novembro de 28), o Diário de São Paulo (janeiro de 29), o Estado de Minas (maio de 29) e o Diário da Noite do Rio de Janeiro (outubro de 29)”. (conta Carvalho em seu livro de 1999, p.28)
No final de 1930, a rede de jornais e revistas recebeu o nome de “Diários Associados”, como conta Carneiro em seu livro de 1999. A denominação não foi criada por publicitários, fato comum nos dias de hoje, mas pelo próprio Assis Chateaubriand, por acaso, em um artigo.
“Aconteceu, pura e simplesmente que Assis Chateaubriand, ao posicionar-se contra a influência tenentista na recém-implantada ditadura revolucionária de Getúlio Vargas, escreveu que seus jornais e a revista O Cruzeiro não haviam se transformado em órgãos da oposição. E explicou:”Ocorre que habituamo-nos a falar alto e, como não temos hábitos palacianos, preferimos a tribuna dos nossos Diários Associados para debater os atos do governo com a sinceridade que o ditador pediu aos jornalistas”. (Carneiro em seu livro de 1999, p.118)
Nos anos 50, os Diários Associados viveram seu apogeu, com a implantação da televisão no Brasil e o crescimento dos jornais e revistas.
Entre suas teses, Assis Chateaubriand defendia, por exemplo, a política da utilização do capital estrangeiro, numa época onde os investimentos internacionais não eram bem vistos no Brasil. Fez campanha pelo petróleo, nos anos 50, mas também contra o monopólio estatal da Petrobrás, que caiu apenas em 1998.
Candidatou-se, em 1952, ao Senado Federal pela Paraíba, sendo eleito como candidato único. Carneiro em seu livro de 1999, destaca a atuação do empresário no Senado.
“O Senador Assis Chateaubriand sustentou da tribuna um” fundamentalismo antichauvinista “nos assuntos mais diversos, que iam do crédito público, ao câmbio livre, à exportação de minérios, às variações da moeda, ao comércio cafeeiro, à remilitarização do mundo e à defesa das democracias contra o comunismo. Suas intervenções e apartes oferecem bom material ao pesquisador para recolher informações sobre a política, a temática e a oratória parlamentar na metade do século”. (Carneiro em seu livro de 1999, p.384)
Com o suicídio de Getúlio Vargas, Assis Chateaubriand, oposicionista, foi prejudicado. Alguns de seus jornais, que criticavam o presidente, foram boicotados.
O Diário da Notícias de Porto Alegre, inclusive, teve sua sede depredada. E Chatô não conseguiu se reeleger ao Senado, nas eleições de 1954. Deixou o mandato em janeiro de 1955 e foi novamente eleito, desta vez pelo Maranhão.
Em 1957, Assis Chateaubriand deixou o Senado para ser Embaixador do Brasil no Reino Unido, fixando residência em Londres. Chatô havia apoiado Juscelino em 1955 e garantiu, ao lado do general Lott, sua posse, colocada em risco após tentativa de golpe dos militares uma prévia do que viria a ocorrer em 1964.
Assis Chateaubriand, em 1960, sofreu uma dupla trombose cerebral, que o deixou sem fala e tetraplégico. Carneiro em seu livro de 1999, destaca os últimos anos de vida do “Velho Capitão”, como era conhecido.
“Os últimos anos de vida de Assis Chateaubriand foram investidos na campanha compra a presença estrangeira na comunicação brasileira. ( ) Dezenas de vezes ele ainda retornou aos seus grandes temas de sempre, invariavelmente voltados para o desenvolvimento do país, tanto no aspecto material quanto no cultural. Visitou suas fazendas, lutou pelo aperfeiçoamento das práticas agrícolas, dedicou-se até o último momento a fundar e enriquecer o acervo dos Museus de Arte, surgidos graças ao seu gênio e aos Diários Associados”. (conta Carneiro em seu livro de 1999, p.446-447)
Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo morreu em 4 de abril de 1968, às 21 horas, no Sanatório Santa Catarina, onde estava internado desde janeiro daquele ano.
A preparação
A partir de 1949, a cidade de São Paulo foi invadida pela notícia da chegada da televisão. E os Diários Associados respiravam, também, a expectativa para montagem e início das transmissões.
Fernando Morais em seu livro de 1994, conta que a agitação da montagem da televisão tomou conta dos Diários Associados em São Paulo. Quando venciam os contratos de trabalho, nas Emissoras Associadas, os funcionários encontravam nos instrumentos de renovação uma cláusula nova, segundo a qual, o empregado se obrigava “a prestar serviços, em sua especialidade, em rádio e televisão”.
Mário Alderighi assumiu a direção técnica do projeto, tendo como assistente Jorge Edo. Ambos passaram uma temporada nos Estados Unidos, junto aos técnicos da RCA, para conhecer o funcionamento da televisão.
Dermival Costa Lima foi convidado para ser o diretor artístico da emissora. Como assistente, foi nomeado Cassiano Gabus Mendes, que apesar de jovem não tinha sequer 20 anos já se destacava na Rádio Tupi de São Paulo. Estava quase tudo pronto.
As transmissões experimentais
A expectativa para a inauguração do canal é descrita por Fernando Morais em seu livro de 1994:
Nas semanas que antecederam a inauguração da emissora, ( ) a excitação e ansiedade tomavam conta de todos. Como os ensaios eram realizados em apartamentos, era impossível saber se aquilo ia ou não dar certo. Para complicar ainda mais, Assis Chateaubriand exibiu que fossem transmitidas para um circuito fechado de televisão as cerimônias de inauguração formal do Museu de Arte de São Paulo e do Edifício Guilherme Guinle, nome da sede dos Associados na rua Sete de Abril, 230, a se realizarem no dia 5 de julho”. (Fernando Morais em seu livro 1994, p.498-499)
Essa data ficou marcada como a pré-estréia da TV Tupi de São Paulo (PRF3 Tv Tupi-Difusora, canal 3). Ainda naquela noite, aconteceu uma apresentação do Frei José Mojica, um frade-cantor que atuava em filmes de Hollywood e era considerado um “galã” da época. O show também foi transmitido no circuito fechado, acompanhado por políticos, como o presidente da República Eurico Gaspar Dutra, personalidades, como o milionário norte-americano Nelson Rockfeller, artistas e populares.
Fernando Morais, destaca ainda que, apesar do sucesso da pré-estréia, a tensão continuava nos estúdio das rádios Tupi e Difusora de São Paulo, localizado no Alto do Sumaré, onde depois foi construído o prédio da Tv Tupi que todos conhecem.
“Primeiro, porque na apresentação experimental, Assis Chateaubriand estava diante da câmera, e, portanto, não poderia flagrar qualquer erro cometido durante a transmissão. E também por aquela ter sido uma atividade rápida, de pouco mais de meia hora”. (conta Fernando Morais em seu livro de 1994, p.499)
Depois de muita preparação, ensaio e apreensão, é chegado o momento. Dia 18 de setembro de 1950. Data marcada para a estréia oficial da primeira emissora de televisão da América Latina, a PRF-3-TV Tupi-Difusora de São Paulo canal 3, que depois de mudar para o prédio do Sumaré em agosto de 1960, passou a operar no canal 4.
A inauguração oficial
Dias antes da inauguração, o engenheiro norte-americano Walther Obermüller, da NBC, veio ajudar a equipe técnica e perguntou quantos aparelhos receptores existiam em São Paulo. Fernando Morais em seu livro de 1994, conta que os diretores da Tv Tupi responderam que não existia nenhum! Obermüller repreendeu Assis Chateaubriand, que, na mesma hora, solicitou a importação de 200 aparelhos para um empresário que trabalhava com importação e exportação.
“O homem (da empresa de exportação) explicou que não era tão simples, por causa da morosa burocracia do Ministério da Fazenda, por um processo de importação. (…) Assis Chateaubriand não se assustou: – Então traga de contrabando. Eu me responsabilizo. O primeiro receptor que desembarcar eu mando entregar no Palácio do Catete, como presente meu para o presidente Dutra”. (conta Fernando Morais em seu livro de 1994, p.501)
Dias depois, o jornal Diário da Noite, dos Associados, sem saber dos planos de Assis Chateaubriand, fez uma denúncia, onde televisores estariam sendo contrabandeados… Após grande confusão, que quase acabou com o plano, o jornal não tocou mais no assunto.
Finalmente chegou o dia 18 de setembro de 1950, a programação teve início, sem transmissão, às 17 horas, com discursos e bênçãos. Às 19 horas, surgiu um problema em uma das três câmeras que estavam prontas para a transmissão do show inaugural. Centenas de personalidades aguardavam a inauguração no Jockey Club, além dos receptores espalhados pelas maiores lojas da cidade e algumas residências.
Existem várias versões para a origem do defeito da câmera.
A mais conhecida é contada por Carneiro em seu livro de1999:
“Durante a solenidade de inauguração, Assis Chateaubriand, entusiasmado, resolveu quebrar uma garrafa de champagne numa das três únicas câmeras do estúdio, pondo-a imediatamente fora do ar…”. (isto não é verdade)
Já Fernando Morais em seu livro de 1994, conta outra versão da história:
“Não é verdadeira a versão de que o defeito tenha sido provocado por uma garrafa de champagne quebrada na câmera por Assis Chateaubriand durante a cerimônia da tarde até porque não houve batismo com champanhe. A suspeita que reinava entre os técnicos era a de que, a água benta espargida sobre as câmeras por D. Paulo Rolim Lourenço tivesse molhado e danificado alguma válvula”. (conta Fernando Morais em seu livro 1994, p.502)
O que se sabe realmente é que o defeito não conseguia ser localizado e o tempo passava. A cerimônia oficial de inauguração, com transmissão, estava marcada para as 20 horas e já começava a atrasar. Assis Chateaubriand improvisava com discursos diversos enquanto os técnicos procuravam o defeito.
No estúdio, Walther Obermüller chegava a conclusão: era melhor cancelar a inauguração pelo fato de ter apenas duas câmeras e tudo fora ensaiado com três. Dermival Costa Lima e Cassiano Gabus Mendes assumiram a responsabilidade e colocaram a emissora no ar, mesmo com duas câmeras, após discussão com o norte-americano. Para alegria de todos, tudo saiu como planejado e a inauguração foi um sucesso. Participaram do show de inauguração Homero Silva, Mazzaroppi, Aurélio Campos, Walter Foster, entre tantos outros.
Reproduzimos abaixo parte do discurso de Assis Chateaubriand durante a inauguração da emissora:
O empreendimento da televisão no Brasil, em primeiro lugar, devemo-lo, a quatro organizações que, logo, desde 1946, se uniram aos Rádios e Diários Associados para estudá-lo e possibilitá-lo neste país. Foram a Companhia Antarctica Paulista, a Sul América de Seguros de Vida e suas subsidiárias, o Moinho Santista e a Organização Francisco Pignatari. Não pensem que lhes impusemos pesados ônus, dado o volume da força publicitária que detemos.
Este transmissor foi erguido, pois, com a prata da casa; isto é, com os recursos de publicidade que levantamos sobre a prata Wolff e outras não menos macias pratas da casa: a Sul América, que é o que pode haver de bem brasileiro; as lãs Sams, do Moinho Santista, arrancadas ao coro das ovelhas do Rio Grande do Sul e, mais que tudo isso, ao Guaraná Champagne da Antarctica, que é a bebida dos nossos selvagens, o cauim dos bugres do Pantanal mato-grossense e de trechos do vale amazônico.
Atentai bem e vereis como é mais fácil do que se pensa alcançar uma televisão: com prata Wolff, lãs Sams, bem quentinhas, Guaraná Champagne, borbulhante de bugre e tudo isto bem amarrado e seguro na Sul América, faz-se um bouquet de aço e pendura-se no alto da torre do Banco do Estado de São Paulo, um sinal da mais subversiva máquina de influir na opinião pública uma máquina que dá asas à fantasia mais caprichosa e poderá juntar os grupos humanos mais afastados.
Nos dias seguintes, foi colocada no ar a programação da emissora, composta por, shows musicais, teleteatros, programas de entrevistas, e um pequeno noticiário, “Imagens do Dia”. A emissora funcionava geralmente, entre as 17 e 22 horas, com grandes intervalos para que o programa seguinte pudesse ser preparado tudo era ao vivo.
Em 1951, foi ao ar a primeira telenovela da televisão brasileira. “Sua Vida Me Pertence” era apresentada ao vivo, com dois capítulos por semana e foi estrelada por Walter Foster e Vida Alves, que protagonizaram, na mesma trama, o primeiro beijo da televisão brasileira o que causou um misto de revolta e surpresa na conversadora sociedade paulistana da época.
A TV Tupi do Rio de Janeiro, canal 6
Em 1948, quando fez a encomenda de equipamentos na RCA, nos Estados Unidos, Assis Chateaubriand desejava montar duas emissoras de televisão: uma em São Paulo, outra no Rio de Janeiro. A emissora da então capital federal, foi inaugurada pouco menos de seis meses depois da estréia paulistana.
No dia 20 de janeiro de 1951, o presidente Eurico Gaspar Dutra acionou o botão e ligou o transmissor da TV Tupi do Rio de Janeiro, canal 6. J. Almeida Castro em seu livro de 2000, destaca os pormenores da inauguração da emissora carioca. Quando a televisão paulista foi inaugurada, os cariocas já haviam erguido a torre, no alto do Pão de Açúcar.
“No Rio de Janeiro, desde a fase experimental, talvez pelas dificuldades de ter recebido apenas duas câmeras e o estúdio ser pequeno, o Canal 6 foi para a rua e transmitiu espetáculos tais como eram encenados nos teatros. O elenco do rádio-teatro, concentrado na Rádio Tamoio, custou a receber o estímulo da própria direção, pois Paulo de Gramont (paulista, cunhado e amigo de Costa Lima), optou por continuar sendo um homem de rádio (…) Grandes nomes dos anos dourados dos shows dos três cassinos do Distrito Federal (com a proibição dos cassinos por Dutra) migraram para a televisão, juntando-se a uma nova geração de diretores, atores, cenógrafos e cenotécnicos.”. (conta J. Almeida Castro em seu livro de 2000, p.42-43)
O começo da televisão, assim como em São Paulo, não foi fácil. Loredo em seu livro de 2000, destaca as dificuldades do início da TV Tupi do Rio de Janeiro, referentes, principalmente, aos estúdios acanhados e a falta de estrutura. A emissora instalou-se no quarto andar do prédio onde funcionavam as rádios Tupi e Tamoio do Rio de Janeiro, também das Associadas, na avenida Venezuela, 43. O quarto andar foi desativado e o querido engenheiro italiano Orázio Pagliari e sua equipe montaram a emissora.
“Os estúdios não tinham nenhum tratamento acústico e, além disso, as janelas ficavam abertas para evitar o calor quando os panelões (refletores de estúdio da época) fossem acesos. Mesmo assim era uma sauna. O suor pingava do rosto dos atores e das atrizes nas cenas ambientadas em pleno inverno. E ali, entre fios espalhados pelo chão, microfones, barulhos de carros e apitos de navio entrando pelas janelas visto que os estúdios eram construídos ao lado do cais do porto os programas iam ao ar”. (conta Loredo em seu livro de 2000, p.5)
Loredo ainda fala de uma história interessante: muitas vezes os funcionários da televisão pagavam “pobres coitados” que dormiam nas calçadas da rua Venezuela para gritarem, enquanto os programas estavam no ar à frase “Chateaubriand não paga ninguém”, já que os atrasos eram constantes e assim, sempre foram.
Surgem as primeiras concorrentes
A TV Tupi, tanto em São Paulo, quanto no Rio de Janeiro, reinaram sozinhas por pouco tempo. Aos poucos, outros grupos de comunicação conseguiram autorizações do governo e montaram suas emissoras, que se tornaram as primeiras concorrentes do império de Assis Chateaubriand.
No dia 14 de março de 1952 é inaugurada a TV Paulista, canal 5 de São Paulo, pertencente às Organizações Victor Costa. Também em São Paulo, no dia 27 de setembro de 1953, é levada ao ar pela primeira vez a TV Record, canal 7, de Paulo Machado de Carvalho. Esta emissora seria, em pouco tempo, a grande concorrente da TV Tupi na capital paulista, apresentando atrações de qualidade.
No Rio de Janeiro, a primeira concorrente da TV Tupi surgiu em 15 de julho de 1955: TV Rio, do empresário João Baptista do Amaral, o Pipa, ligado, inclusive, a Paulo Machado de Carvalho. Loredo em seu livro de 2000, conta que a segunda emissora do Distrito Federal seria a TV Nacional, da Rádio Nacional, utilizando a concessão da Rádio Mauá que também pertencia ao governo. Como eles não tinham condições de montar a emissora, o canal foi repassado para Pipa com a condição de que este cedesse, gratuitamente, uma hora por dia a Rádio Nacional, o que ele nunca fez.
Novas emissoras do grupo são inauguradas
Na década de 50, como já abordamos anteriormente, os Diários Associados viveram um período de auge e expansão. Apesar do surgimento de concorrentes a cada ano, novas emissoras do grupo também foram inauguradas.
Carneiro em seu livro de 1999, conta que Assis Chateaubriand queria a expansão da televisão no país.
Uma campanha publicitária foi lançada, em que a mensagem era clara e direta: não bastava aplaudir as emissoras existentes: era preciso comprar aparelhos receptores. No ano de 1951, inclusive, começou no Brasil a fabricação de televisores da marca “Invictus”, de Bernardo Kocubej.
Ainda nos 50, os Diários Associados inauguraram novas emissoras pelo Brasil: TV Itacolomi canal 4 (Belo Horizonte/MG), em 1955; TV Piratini canal 5 (Porto Alegre/RS) e TV Cultura canal 2 (São Paulo/SP), em 1959; TV Itapoan canal 5 (Salvador/BA), TV Brasília canal 6 (DF), TV Rádio Clube canal 6 (Recife/PE), TV Paraná canal 6 (Curitiba/PR), TV Ceará canal 2 (Fortaleza), TV Goiânia, TV Marino Procópio (Juiz de Fora/MG), Tupi-Difusora canal 8 (São José do Rio Preto/SP), todas em 1960 e TV Vitória canal 6 (Vitória/ES), TV Coroados canal 3 (Londrina), TV Borborema (Campina Grande/PB), TV Alterosa canal 4 (Belo Horizonte/MG), TV Baré canal 4 (Manaus/AM), TV Uberaba, TV Florianópolis, TV Aracaju, TV Campo Grande e TV Corumbá, estas em 1961.
Os programas de sucesso
Os principais programas da TV Tupi nos anos 50, todos apresentados ao vivo, foram: “TV de Vanguarda”, que apresentava peças teatrais; “O Céu é o Limite”, jogo de perguntas e respostas e “Clube dos Artistas” e “Almoço com as Estrelas”, que reuniam astros da televisão para almoços nos estúdios da emissora, entre outros.
Loredo em seu livro de 2000, destaca mais programas que fizeram sucesso nos primeiros anos da TV Tupi: “Espetáculos Tonelux”, “Telessemana Garson”, “Teletestes Lutz”, “Teatro Moinho de Ouro”, “O casamento é assim…”, “Coelhinho Trol”, “Teatrinho Kibon”, “O Circo do Arrelia”, “Tragédia de Bolso”, “Aulas de Inglês”, “Teatro Gebara”, entre outros.
No dia 17 de junho de 1953, era escrita uma nova página na história da televisão brasileira: entrava no ar um dos mais famosos telejornais, até hoje conhecido mesmo depois de extinto. Era o “Repórter Esso”. Loredo em seu livro de 2000, relata que, quando perdeu o patrocínio de seu telejornal, a TV Tupi foi bater às portas da agência McCann-Erickson, detentora da conta da Esso.
A empresa norte-americana acabou patrocinando o telejornal e escolheu seu apresentador no Rio de Janeiro: Gontijo Teodoro.
“No entanto, surgiu um impasse. A Rádio Nacional que apresentava o Repórter Esso no rádio não permitiu que a televisão usasse o mesmo nome, razão pela qual ao estrear, em 1º de abril de 1952, chamava-se Telejornal Tupi. Um mês depois, o nome foi mudado para Telejornal Esso, mas a Esso ainda não estava satisfeita. Somente depois de muita discussão, todos entratam num acordo e o programa recebeu seu nome definitivo, Repórter Esso. (Loredo em seu livro de 2000, p.5)
O” Repórter Esso “ficou no ar por 18 anos consecutivos, sendo extinto em 31 de dezembro de 1970. Contribuíram para seu desaparecimento, entre outros fatores, a criação do” Jornal Nacional “, da Rede Globo, em 1969 e também o fato dos programas, a partir da década de 70, não conterem mais o nome de seus patrocinadores, prática comum nas duas primeiras décadas da televisão brasileira.
Situação financeira do grupo começa a se complicar
Em 1955, Assis Chateaubriand passa a direção-geral dos Diários Associados para João Calmon, até então diretor dos veículos do grupo em Pernambuco (Rádio Tamandaré e Diário de Pernambuco). Após obter bons resultados no Nordeste, João Calmon foi chamado, em princípio, para dirigir a TV Tupi e as rádios Tupi e Tamoio no Rio de Janeiro. No entanto, apenas três meses depois, foi elevado ao posto de diretor-geral dos Diários Associados. Carneiro em seu livro de 1999, destaca as primeiras dificuldades enfrentadas e ações realizadas por João Calmon no Rio de Janeiro.
“O novo diretor-geral chegou com todo o gás que havia caracterizado sua gestão no Nordeste. Só que o cenário carioca era outro e a presença de Assis Chateaubriand, senão obstrutiva, era pelo menos intimidante. Mesmo assim, João Calmon tratou de implantar medidas de racionalização administrativa, que encontraram amplo respaldo em todo o país, com duas exceções: áreas de São Paulo (Edmundo Monteiro) que supervisionava as empresas do Sul de Goiás; e de O Cruzeiro (Leão Gondim de Oliveira), a essa época vivendo ainda a sua grande fase e se preparando para atingir o exterior”. (conta Carneiro em seu livro de 1999, p.394)
A situação financeira dos Diários Associados começava a ficar complicada. Assis Chateaubriand estava contraindo muitos empréstimos para comprar mais obras de arte para o MASP e também para instalar novos veículos Associados em todo o Brasil.
Em 1956, por exemplo, João Calmon e Edmundo Monteiro redigiram uma carta para advertir o empresário: estava gastando muito, e esse processo poderia levar os Diários Associados à insolvência.
“Os argumentos foram alinhados: demora no pagamento das contribuições atrasadas aos institutos de previdência; generalização do sistema de desconto dos contratos de publicidade, sem qualquer indagação sobre a capacidade da empresa de suportar novos desvios de sua receita normal, o que tornava as mesmas empresas inadministráveis: ”Nos últimos meses, para fazer face ao pagamento da prestação de 500 mil dólares do museu, foram nossas organizações oneradas em 20 milhões de cruzeiros…”. A carta receitava a sugestão para Assis Chateaubriand vender fazendas, laboratórios e a Schering, laboratório que adquirira no tempo da guerra: “Talvez esse ponto de vista resulte de excesso de pessimismo, dirá o senhor. Mas então, aponte-nos, com um de seus lampejos de gênio, outra saída, que escapa inteiramente à nossa limitada compreensão”. (Carneiro em seu livro de 1999, p.395)
A partir desta correspondência, Assis Chateaubriand passou a olhar com mais atenção para a administração das empresas e o desvio de recursos para pagamento de dívidas e empréstimos. Em outubro de 1955, inclusive, foi realizado o 1º Congresso dos Diários e Emissoras Associadas, uma iniciativa pioneira entre os meios de comunicação, até então administrados com amadorismo as primeiras experiências profissionais seriam vistas nos anos 60, com TV Excelsior e Rede Globo.
Em sua autobiografia, de 1999, João Calmon, aborda, as primeiras dificuldades vividas em sua gestão, e também os apuros por que passavam os Diários Associados na metade dos anos 50, começando um processo que terminaria na extinção, em 1980, da TV Tupi e também um grande encolhimento do grupo. Reproduzimos abaixo alguns dos trechos do livro que abordam o assunto.
A origem das dificuldades estava na precariedade da incipiente televisão brasileira. Pioneiro, Assis Chateaubriand implantara em São Paulo a primeira emissora de TV da América do Sul, a TV Tupi. Pouco depois criava a TV Tupi do Rio. Obviamente, existiam poucos receptores de televisão no País; era preciso arcar com o ônus do pioneirismo. Não havia forma de evitar, diante da necessidade de investimentos e das despesas com pessoal, vultosos déficits a cada mês. As instalações eram extremamente precárias; o principal e único estúdio da TV Tupi, por exemplo, funcionava na sala anteriormente ocupada pelo diretor-geral dos Associados. Os salários do pessoal do Rio estavam atrasados. E não havia como adiantar a adaptação do prédio que deveria vir a ser a sede da TV Tupi carioca. Pouco depois, porém, Carlos Rizzini e Edmundo Monteiro conseguiram torpedear a gestão de Vitor Costa, que foi afastado.
(…) A primeira batalha nos Diários Associados nesses meus primeiros anos como diretor-geral foi a expansão de sua rede de televisão. Essa batalha, por seu pioneirismo, teve lances épicos. No momento em que assumi as novas funções, o grupo possuía apenas duas emissoras de televisão: a TV Tupi de São Paulo, a primeira, cujo equipamento fora adquirido da RCA Victor, e a TV Tupi do Rio, com equipamento da General Eletric. E Assis Chateaubriand começava a cogitar da ampliação da rede, para cobrir todo o País.
As coisas, porém, não eram tão simples. Mesmo a instalação das emissoras do Rio e de São Paulo já constituía uma aventura temerária para a época. Os próprios norte-americanos hesitaram em vender o equipamento para aos Diários Associados, lembrando que mesmo nos Estados Unidos a televisão ainda era pesadamente deficitária. O pequeno número de receptores e a audiência diminuta não estimulavam os anunciantes. Em contrapartida, os custos eram altíssimos. Assis Chateaubriand, teimoso, insistiu.
As previsões dos norte-americanos cumpriram-se. Quando assumiu a direção-geral dos Diários Associados, o déficit era vultoso e a empresa já não pagava as prestações estabelecidas nos contratos com a RCA Victor e a General Eletric. Assis Chateaubriand se limitara a pagar a primeira parcela, de 10 por cento do valor total da compra por ocasião da assinatura do contrato, e mais 10 por cento para liberar o material nas alfândegas do Rio e de Santos. Depois, suspendeu-as. Era humanamente impossível cumprir o contrato, que se estenderia por mais cinco anos.
Via-me, portanto, entre dois fogos. De um lado, o pioneirismo de Assis Chateaubriand, de cujo impulso muitos de nós compartilhávamos, desejando ampliar a televisão no País. De outro, as dificuldades de cobrir os imensos investimentos indispensáveis para colocá-la no ar. Como diretor-geral em todo o país, deixando apenas de atuar em São Paulo, Paraná e Santa Catarina, busquei saídas para o problema, ao mesmo tempo em que participava com o máximo de meus esforços para a extensão de nossa rede ao resto do país.
Quando cheguei ao Rio, já estava encomendado o equipamento de nossa terceira emissora de televisão, que se tornaria a TV Itacolomi canal 4, de Belo Horizonte, numa tentativa que deve ser creditada ao companheiro que então digiria as empresas associadas da capital mineira, Newton Paiva Ferreira.
(…) Cuidei então de renegociar a dívida já existente com o fornecedor de equipamento da TV Tupi do Rio, a General Eletric. Elaborei uma proposta totalmente nova, embora audaciosa, e a levei ao diretor da GE do Brasil, Sr. Romanaghi. Nosso débito, contraído quando eu me encontrava ainda no Nordeste, elevava-se, então, a 350 mil dólares e aumentava dia a dia por causa dos juros. (…). A matriz (nos Estados Unidos) aprovara integralmente a reivindicação que eu apresentara à revelia de Assis Chateaubriand. Passaríamos então a elaborar o contrato e tratar de descontá-lo no banco de que a GE era cliente. Em menos de 10 dias o acerto fora feito e remetíamos para os Estados Unidos os 360 mil dólares devidos.
Creio ter sido esse meu primeiro êxito, significativo após a volta para o Rio. A General Eletric não precisou sequer de três anos para consumir a verba de publicidade que destinara assim aos Diários Associados. Em 23 meses, o empréstimo bancário fora integralmente pago, pouco tempo depois, por sugestão minha, o mesmo esquema foi empregado em São Paulo para liquidar a dívida vencida com a RCA Victor, fornecedora do equipamento da pioneira TV Tupi paulista.
Passados mais dois anos, a própria RCA se dispôs a fornecer o equipamento necessário à instalação das seis novas emissoras de televisão dos Diários Associados, assim como a ligação entre Rio e Belo Horizonte por microondas e entre Rio e São Paulo por UHF. Mais uma vez dirigi negociações, que envolviam uma encomenda no valor total de três milhões e meio de dólares. A garantia foi feita pelo Banco Moreira Salles, graças a providências diretas de Assis Chateaubriand.
1950-1960: O NASCIMENTO DA TELEVISÃO NO BRASIL: SURGE A REDE TUPI
O Condomínio Acionário
Assis Chateaubriand ficava preocupado, a cada dia que passava, a partir dos anos 40, com a continuidade dos Diários Associados. Segundo Carneiro em seu livro de 1999, afastado de sua família natural, embora os filhos Fernando e Gilberto ocupassem esporadicamente algumas funções na empresa, o jornalista não acreditava no interesse deles pela preservação dos Associados e de sua obra.
Em 1945, ele revelara ao general Anápio Gomes a intenção de constituir uma fundação para integrar seus colaboradores na propriedade e na gestão do grupo. Chatô colocou o plano em ação a partir de 1959, quando decidiu criar o Condomínio Acionário a idéia de gestão, Chateaubriand conheceu na França, numa de suas viagens a Europa.
“Perante o tabelião e velho amigo Menotti Del Picchia, no 20º Cartório de São Paulo, Assis Chateaubriand assinou, a 21 de setembro de 1959, a escritura pública que instituiu o Condomínio Acionário dos jornais, revistas, emissoras de rádio e de televisão que formavam a rede nacional dos Associados. Assinaram ainda os documentos como testemunhas, Joaquim Bento Alves de Lima, Gastão Eduardo de Bueno Vidigal, Paulo Machado de Carvalho, João Di Pietro e Joaquim Pinto Nazario”. (destaca Carneiro, 1999, p.406).
Também foi realizada uma cerimônia, pouco depois, na sede dos Associados, que contou a participação de personalidades e políticos, como ministro das Relações Extraordinárias Horácio Lafer.
Relata Carneiro em seu livro de 1999, que o Condomínio Acionário, não daria a ninguém a posse dos Diários Associados e nem a posse das ações seria legada a família de cada participante. Para cada membro que deixasse o Condomínio, outro seria eleito, seguindo os ideais de Assis Chateaubriand.
As doações foram feitas em duas partes: a primeira em 21 de setembro de 1959, em São Paulo, quando foram doadas 49% da maior parte de ações e quotas de Assis Chateaubriand e a segunda, em 19 de julho de 1962, também em São Paulo, consolidando a criação do Condomínio.
Carneiro em seu livro de 1999, explica como funciona o Condomínio Acionário dos Diários Associados:
Para garantir a continuidade da obra, foram gravadas as ações e quotas com as cláusulas de inalienabilidade impenhorabilidade, incomunicabilidade e intransmissibilidade. Isso significa que, ao morrer um integrante do Condomínio, sua família não recebe a participação que ele tinha nas empresas. Calcula-se o valor da quota do condômino falecido no dia do seu óbito, de acordo com o balanço das empresas, e os descendentes recebem o valor correspondente no prazo de cinco anos. Dessa forma, não se fraciona o capital das empresas dos Diários Associados e preserva-se a filosofia legada pelo fundador.
O Condomínio é um colégio de acionistas, que se reúne obrigatoriamente no mínimo uma vez por ano, sempre no aniversário de morte de Assis Chateaubriand.
Como esse colegiado exerce sua atuação?
Cada unidade Associada tem sua autonomia e personalidade jurídica de sociedade anônima, exercendo plenamente a administração da empresa. O que o Condomínio faz é eleger sua diretoria. Desse modo, o Condômino não tem, ele próprio, ação direta sobre as empresas, uma vez que é uma comunhão de ações, de pessoas físicas, não possuindo personalidade jurídica, assim como não tem empregados nem contabilidade. O Condômino participa das assembléias gerais das empresas, através do membro chamado cabecel, que representa todos os demais condôminos nas reuniões legais dessas organizações dos Associados. Os membros do Condomínio, assim, tendo a maioria das ações em todas as empresas, exercem seu controle através de diretores que, devidamente indicados por eles e regularmente eleitos de acordo com a Lei das Sociedades Anônimas, exercem a administração das mesmas empresas, de acordo com a filosofia e a política operacional dos Diários Associados.
No correr do tempo, a posição de cabecel seria exercida por Leão Gondim de Oliveira, Martinho de Luna Alencar e Manuel Eduardo Pinheiro Campos.
A perda da liderança
A Rede Tupi liderou a audiência durante toda a década de 50 e começou a ver sua posição ameaçada no início dos anos 60, tanto em São Paulo, quanto no Rio de Janeiro. Em 1964, segundo João Calmon em seu livro de 1999, perdeu, pela primeira vez, a liderança da audiência no Rio de Janeiro para a TV Rio, dirigida por Walter Clark, que estaria no comando da Rede Globo pouco tempo depois.
Com a exibição da novela “O Direito de Nascer”, naquele ano, a emissora caiu para o segundo lugar. O curioso é que a novela foi produzida em São Paulo, pela TV Tupi. Naquela época, as emissoras de um mesmo grupo em vários Estados ainda não formavam uma rede, com programação simultânea e colaboração mútua. Esse conceito foi introduzido no Brasil preliminarmente pela TV Excelsior, na década de 60, e depois, a partir da década de 70, com a criação da Embratel, pela Rede Globo. Além disso, segundo João Calmon, o detentor dos direitos autorais, em Cuba, vendeu a novela para TV Tupi em São Paulo e para a TV Rio, no Rio de Janeiro.
Ainda em 1963 e 1964, o Grupo Simonsen, investia milhões na TV Excelsior de São Paulo e do Rio de Janeiro, encerrando o “convênio” entre os donos das emissoras e contratando grandes estrelas. Antes do golpe militar de 1964, já liderava a audiência nas duas capitais.
E, para completar, em abril de 1965 surgiu a TV Globo no Rio de Janeiro, do empresário Roberto Marinho, dono do jornal O Globo.
O caso Time-Life
A Rede Globo foi inaugurada no dia 26 de abril de 1965. Os Diários Associados, que faziam campanha contra a presença de capital estrangeiro na mídia brasileira, denunciaram a existência de um acordo entre Roberto Marinho e o grupo Time-Life, que detinha alguns dos maiores veículos de comunicação do mundo.
Após diferenças entre Marinho e o governador Carlos Lacerda, este mandou prender norte-americanos e cubanos que trabalhavam na TV Globo como representantes do Time-Life. João Calmon em seu livro de 1999, conta que desse episódio nasceu a campanha contra a invasão estrangeira na mídia brasileira.
Além de ser contra a presença do capital internacional, os Diários Associados brigavam diretamente com a revista Life, já que editavam O Cruzeiro em espanhol para distribuição na América Latina. A revista Life Internacional era sua grande concorrente e conseguia muitos anúncios, enquanto a revista de Assis Chateaubriand só dava prejuízos.
Também colaborou para a campanha um almoço ocorrido entre Roberto Marinho e João Calmon, como este relata em sua autobiografia.
“(Marinho) deu-me várias informações sobre as suas ligações com o grupo norte-americano e expôs-me também seus planos para o lançamento de uma revista noticiosa semanal. Durante bom tempo, na qualidade de presidente da Abert e do Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas, procurei fazer com que Roberto Marinho exibisse, publicamente, os documentos relativos a sua transação com o grupo”. (conta Calmon em seu livro de 1999, p. 186).
Voltando a prisão dos membros da Time-Life que trabalhavam na Rede Globo, a partir do depoimento de um deles descobriu-se a existência de um contrato entre a Globo e o Time-Life. Segundo João Calmon em seu livro de 1999, como mostrava o governador carioca Carlos Lacerda, isso violava o regulamento dos Serviços de Radiodifusão, o decreto 52.795, que proibia ser firmado qualquer convênio, acordo ou ajuste relativo à exploração de serviços de teledifusão sem prévia autorização do Contel. A denúncia de Carlos Lacerda foi enviada ao Ministério da Justiça em 15 de junho de 1965, três meses após a inauguração da Tv Globo do Rio de Janeiro.
Foi aberta na Câmara dos Deputados, em Brasília, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a relação entre os grupos, que começou a atuar em março de 1966, sob a presidência do deputado Roberto Saturnino.
Borgerth em seu livro de 2003, relata que a pessoa que encorajou Roberto Marinho a entrar no ramo da televisão foi Andrew Heiskell, chairman do Time Inc. E que, na verdade, a campanha nacionalista da Rede Tupi fora realizada por que tentativas de associações dos Diários Associados com outras empresas norte-americanos não deram resultados.
“Roberto Marinho aventurou-se, às vésperas de seu sexagésimo aniversário, a fazer sua televisão, em associação com o Time-life, inaugurando a TV Globo em 1965, ano em que faria 61 anos. (…) Sua associação com o Time-Life deflagrou uma violenta campanha” “nacionalista” promovida pelos Diários Associados, denunciando a presença de capital estrangeiro na radiodifusão, então proibida pela Constituição. Hoje, doutor Roberto Marinho seria enaltecido. Naquela data, a TV Tupi tinha tentado a mesma coisa com a CBS e a NBC, sem resultados. Daí, o extremado nacionalismo”. (afirma Borgerth em seu livro de 2003, p. 29-30).
João Calmon denominou como “Invasão Branca” o acordo.
A preocupação ainda era outra: naquela época de Guerra Fria e ditadura militar, os Diários Associados ainda poderiam prejudicar sua reputação de anticomunistas, passando a criticar um grupo norte-americano.
“A documentação que João Calmon reuniu sobre o acordo TV Globo/Time-Life convenceu-o de que havia uma violação flagrante ao artigo 160 da Constituição do Brasil, que proibia a propriedade de empresas jornalísticas a estrangeiros. (…) Em fins de 1966, o Ministro da Justiça, pressionado pela campanha dos Diários Associados, dispunha-se a promover “rigorosa investigação” a respeito das denúncias sobre a infiltração de grupos estrangeiros na imprensa, rádio e televisão do país “. (Carneiro em seu livro de 1999, p.436).
Essas e outras denúncias foram analisadas e investigadas, seguidas de inúmeras reclamações dos Diários Associados em extensos artigos e reportagens nos veículos da rede. Mas o feitiço, virou contra o feiticeiro.
Borgerth em seu livro de 2003, explica que a campanha dos Diários Associados impressionou os militares, então nacionalistas, que resultou no decreto que limitava o número de canais para cada grupo, impedindo a Tupi de seguir o mesmo caminho da TV Globo.
Além disso, Borgerth explica o acordo Time-Life e a rescisão:
” Na realidade, a contribuição do Time-Life não passou de um financiamento sem juros e sem prazo, da escolha de equipamentos insuficientes e de um totalmente novo, bonito e inadequado projeto arquitetônico que em nada contribuiu para a TV Globo, cujos concorrentes achavam-se instalados em velhos cassinos ou cinemas caindo aos pedaços, como viríamos a estar em São Paulo e, até certo ponto, no Rio, o que em nada perturbava e jamais perturbou um único telespectador. Time-Life nada sabia do Brasil, o que não era desdouro nenhum; fracassaram em todos os lugares onde se meterem em televisão aberta, nos Estados Unidos, inclusive, onde tinham as cinco emissoras permitidas por lei em “grandes” metrópoles, a saber, se não me falha a minha falha memória: Buffalo, Grand Rapids, San Antonio, Denver e San Diego! Este ponto de exclamação tem duplo significado, o outro sendo o fato de que San Diego teria uma importância fundamental para o futuro da TV Globo “. (Borgerth em seu livro de 2003, p.30-31).
Ainda segundo Borgerth, após jogar fora pouco mais de US$ 5 milhões (1965, 1966 e 1967) na operação, Time desistiu. Mais do que desistiu, queriam ir embora de qualquer jeito. Já no governo Médici, segundo João Calmon em seu livro de 1999, foram rescindidos os acordos entre Roberto Marinho e o grupo Time-Life. Como havia no contrato uma cláusula prevendo a desistência de qualquer das partes, Roberto Marinho procurou o presidente e lamentou-se dos contratempos que lhe trouxera a campanha contra o acordo.
” Em 1972, Roberto Marinho devolveu-lhes parte do investimento, tão pequena que eu tenho vergonha de escrever aqui, e, salvo erro, sem juros, e nunca mais se falou nisso. Acredite se quiser”. (Borgerth em seu livro de 2003, p.39).
Ao deixar a presidência, em 1967, Castelo Branco, segundo Carneiro em seu livro de 1999, deixou um abacaxi para o Marechal Costa e Silva, seu sucessor. Baixou um decreto-lei limitando o número de televisões a cada grupo, atingindo diretamente os Diários Associados, proprietários de uma grande cadeia de emissoras no País. Assis Chateaubriand escrevia, em artigos, que existia uma conspiração para destruir os Diários Associados.
Fernando Morais em seu livro de 1994, afirma que ou Assis Chateaubriand delirava ou, de fato, o mundo se juntara para reduzir a pó a cadeia que ele levara quase meio século para edificar. No artigo 12 do decreto, Castelo limitou a cinco o número de estações por grupo. Naquela data, segundo Morais, começava a desmoronar a rede Associada de televisão, cujo prestígio e poder seriam ocupados, anos depois, exatamente pela Rede Globo de Televisão. Era a primeira grande derrota de Assis Chateaubriand.
A partir desse momento, a batalha contra o acordo Globo/Time-Life terminou, os Diários Associados, oficialmente, não abordaram mais o assunto, após dois anos de grande polêmica.
Beto Rockfeller e a revolução nas telenovelas
Antes de iniciar a década de 70, quando entrou em profunda crise financeira e administrativa que culminou em sua extinção, a Rede Tupi colaborou para uma revolução na teledramaturgia brasileira. Até 1968, as novelas, principalmente da Rede Globo, eram baseadas em texto cubanos, com histórias que se passavam em séculos passados, muitas vezes desinteressantes para a grande maioria do público.
Em 4 de novembro de 1968, estreou na Rede Tupi, às 20 horas, a novela “Beto Rockfeller”, de Bráulio Pedroso, com direção de Lima Duarte e Walter Avancini e criação de Cassiano Gabus Mendes. Luiz Gustavo fazia um anti-herói papel-título da novela. Ao invés de Chicago dos anos 20 ou a Itália do século 18, a São Paulo de 1968. Pela primeira vez, o brasileiro se via em uma novela. Os artistas passaram a atuar de forma natural, sem dramaticidade, muitas vezes fazendo improvisações nos diálogos. Sucesso nacional com grande audiência que relembrou os primeiros anos da Rede Tupi. A novela teve sua duração aumentada, terminando no final de 1969, tamanho o sucesso.
Altos e baixos nos anos 60
Vários motivos contribuíram para a derrocada da Rede Tupi. A Rede Globo, ainda nos anos 60, investiu contra seu elenco e até diretores, como José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que trabalhava na Tupi.
Em 1967, relata João Calmon em seu livro de 1999, a RCA voltava a pressionar os Diários Associados pelo pagamento das dívidas atrasadas dos canais instalados anos antes. Além disso, Assis Chateaubriand pediu novamente dinheiro para comprar quadros para o MASP e museus regionais.
“Precisei mostrar-lhe que os constantes atrasos no pagamento dos salários do nosso pessoal não permitiriam o desvio de recursos para finalidades artísticas”. (comenta João Calmon em seu livro de 1999, p.219).
Ainda em 1967 foi realizada uma reunião para discutir a crise da Rede Tupi. A audiência caía a cada dia. A emissora estava, naquela ocasião, em quarto lugar, sendo que era, até 1964, a líder absoluta na audiência.
Em 1968, a situação melhorou quando foi feito um plano para salvar a emissora. João Calmon e José Arrabal, novo diretor das emissoras, trabalhavam para negociar dívidas e colocar no ar uma programação atraente. Muitos shows passaram a ser transmitidos ao vivo, prática usada pelas outras emissoras. Deu certo e a emissora conquistou bons pontos no Ibope e brigava pelo segundo e terceiro lugares.
Em relação ao decreto 236, que limitava o número de emissoras de televisão para cada grupo de comunicação brasileiro, o prazo, que era janeiro de 1967, foi prorrogado, garantindo sobrevida para as emissoras que teriam que ser vendidas, coisa que nunca ocorreu, e que de fato, tornou a administração do grupo impossível, vale lembrar que toda vez que se achava um comprador para esta ou aquela empresa, o Governo Federal não autorizava a transferência da concessão, que de fato, só ocorreu depois da intervenção do Governo Federal na Tupi em 1980, e ainda assim não foi para o grupo se adequar ao decreto.
A difícil década de 70
João Calmon em seu livro de 1999, afirma que a TV Tupi encerrou 1972, com um grande salto qualitativo e um substancial aumento de audiência. O elemento central, não único, dessa recuperação, foi a conquista de Chacrinha.
Reproduzimos abaixo vários trechos da autobiografia de João Calmon que demonstra alguns fatos ocorridos em 1972 e 1973:
Quando Antônio Lucena deixou a direção da Tupi, onde substituíra José Arrabal em 1969, a emissora passou a cair. Mantínhamos o segundo lugar, mas desde março de 1970, estávamos com menos da metade da audiência da Globo. Com Catro, que ocupou o lugar de Antônio Lucena a partir de 1971, a queda acentuou-se. Em abril de 1972, por exemplo, alcançávamos das 20 às 22 horas, apenas 10,4 pontos de audiência, contra 50,2 da Globo em São Paulo. No Rio ficava nos 4,8.
Em 1973, tínhamos quatro programas entre os 19 mais vistos da televisão carioca. A “Discoteca do Chacrinha” alcançava 26,1 pontos do Ibope; o “Balança mas não cai”, 25,8; “Buzina do Chacrinha”, 22,2; e, em quarto, vinha “Flávio Cavalcanti”, 20,1 pontos. Agora, perdíamos Flávio Cavalcante que, se não era o responsável pelo aumento de nossa audiência embora talvez até ele próprio pensasse ser garantia um índice razoável. (Flávio Cavalcanti foi suspenso pelo governo militar em 1973 após mostrar uma reportagem de um homem que emprestava sua mulher para outro por esta impotente).
Além disso, outros veículos dos Diários Associados passavam por sérias dificuldades financeiras, como era o caso da revista O Cruzeiro, em fase terminal.
João Calmon em seu livro 1999, continua afirmando que a Tv Tupi pagou o ônus do pioneirismo, não podendo enfrentar a pequenez do mercado ou a poderosa Rede Globo. A Rede Tupi tinha cada vez mais dívidas. Em 1974, o comando da programação nacional foi centralizado em São Paulo, adotando o esquema de rede com atraso de quase cinco anos em relação à Rede Globo. Além disso, o equipamento das emissoras do grupo era obsoleto, efeitos do decreto 236.
As rádios do grupo, no entanto, iam bem: quase todas as emissoras alcançavam o primeiro lugar da audiência em suas cidades. As emissoras de São Paulo e Rio de Janeiro, mesmo não tendo a liderança, eram lucrativas.
“Cada vez mais eu me convencia de que a sobrevivência da obra de Chateaubriand, cinco anos após sua morte, constituía quase um milagre. Vínhamos sendo esmagados entre três tipos diferentes de pressões: o déficit crônico de diversos de nossos órgãos, as despesas financeiras crescentes e a legislação federal que nos exigia a alienação de emissoras em todo o país”. (João Calmon em seu livro de 1999, p.334).
Os condôminos dos Diários Associados entravam cada vez mais em conflito. João Calmon conta que em várias oportunidades foi chamado para discutir problemas em relação aos condôminos.
No final de 1976, Gilberto Chateaubriand entrou na Justiça pedindo a extinção do Condomínio. Segundo Carneiro em seu livro de 1999, Gilberto alegava que essa era a fórmula para resolver problemas econômicos e financeiros da organização. Além disso, a imprensa publicava notícias sobre uma possível venda do grupo.
A partir daí, o que se viu foi uma grave crise administrativa e financeira, com entrada e saída de superintendentes, como Rubens Furtado e Mauro Salles, e os últimos suspiros da emissora que inaugurou a televisão na América Latina.
A falência da Rede Tupi
O fim da Rede Tupi
Como destaca Carneiro em seu livro 1999, a partir de 1978 vários veículos foram vendidos ou fechados e a crise da Rede Tupi tornou-se incontrolável.
“Em setembro, houve uma greve de uma semana, desencadeada pelos funcionários que estavam com os salários atrasados. Essa greve foi resolvida, quando a empresa começou a efetuar o pagamento a jornalistas, radialistas, artistas e técnicos que colocaram novamente no ar a produção paulista do canal 4, cuja imagem fora gerada pela Tupi do Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, as rádios Tupi e Difusora recolocaram no ar os noticiários, que haviam sido suspensos em decorrência do movimento grevista”. (Carneiro em seu livro de 1999, p.531).
O governo militar não parecia avesso aos Diários Associados, mas apenas o ministro Goubery do Couto e Silva, o único civil do governo militar, era um inimigo declarado de Assis Chateaubriand. Tanto que Carneiro em seu livro de 1999, destaca que o governo de Ernesto Geisel não fora hostil com o Grupo e nem com a Rede Tupi.
Paulo Cabral assumiu, em 1979, o cargo de Procurador Geral dos Diários Associados e começou a negociar, com o governo, a prorrogação, mais uma vez, do decreto 236, que os Diários Associados não tinham como cumprir, e Também enviou relatórios ao governo sobre as greves ocorridas na emissora e explicou seus motivos.
Aconteceu nova greve em janeiro de 1980, também por atrasos salariais.
Carneiro em seu livro de 1999, destaca que desde a renúncia de Edmundo Monteiro e Armando de Oliveira, em julho de 1977, a situação dos Diários Associados e da Rede Tupi ficou ainda mais desesperadora.
“Nos últimos três anos, os prejuízos apurados eram da ordem de um bilhão de cruzeiros novos, com a Rede Tupi e o Canal 4 respondendo por 64,4% dos prejuízos. Para enfrentar o déficit, a receita teria de subir, em 1980, de 600 milhões para 1,6 bilhão. A direção geral de São Paulo não via como assumir o compromisso da continuidade de funcionamento, ainda que precário, das empresas paulistas e da Rede Tupi de Televisão, se a Presidência da Republica não indicasse quais as fontes de suprimento, que iriam atender aos vultosíssimos déficits de caixa”. (Carneiro em seu livro de 1999, p.536).
No começo de 1980, sem perspectiva de melhora na situação, o Condomínio autorizou Paulo Cabral de Araújo a tentar vender a Rede Tupi ou o Grupo de São Paulo, operação que não foi autorizada pelo Governo Federal.
A Rede Tupi vivia seus últimos momentos. Nova greve de funcionários, em janeiro de 1980, agravou a situação.
Trechos da obra de Carneiro de 1999, ajudam a entender o ocorrido:
Depois da concordata, aumentaram os rumores de venda das empresas, sendo citado como eventual comprador um grupo formado pelo deputado Paulo Pimentel, governador Paulo Maluf e o empresário Edevaldo Alves da Silva, presidente da Rádio Capital.
No início de 1980, o ministro Goubery do Couto e Silva afastou, segundo a revista Veja, “a possibilidade de o governo conceder novos financiamentos à atual direção da Tupi.
Disse a Alberto Freitas, que o procurara: “A solução mais viável é mesmo a transferência da concessão. Vocês estão sofrendo e nós estamos cansados”.
João Calmon, mesmo enfrentando a má vontade do presidente João Figueiredo, chegou a procurá-lo nessa fase, garantindo que o ativo da emissora era superior ao passivo, não sendo, este, portanto, obstáculo para a venda. José Arrabal, nessa época diretor-geral da Tupi, disse que os Associados eram vítimas da onda de boataria. Citou exemplo de que desmentira a demissão de 700 funcionários, mas o assunto fora veiculado em Brasília como se fosse verdade. Para José Arrabal, a solução estava em cumprir o Decreto-Lei 236, que limitava a cinco o número de televisões para cada grupo” e que o governo nunca tornou possível.
(…) A greve, que se arrastava por várias semanas, passou a ter lances novos que realmente despertaram a opinião pública. (…) Em 19 de junho, a imprensa publicou nota sobre o acampamento dos grevistas dentro do Salão Negro do Congresso e da sua briga com os seguranças do Legislativo que haviam arrancado uma faixa ofensiva a João Calmon, que era Senador biônico da República.
(…) Depois de vinte dias da segunda greve, o grupo Diários Associados de São Paulo TV Tupi, canal 4, Rádio Tupi, Difusora AM, Difusora FM, Diário da Noite e Diário de São Paulo -, pediu concordata preventiva, por dois anos, “por motivos imperiosos de natureza financeira”. “A situação é de pré-falência”, admitiu João Calmon ao presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão do Estado de São Paulo, Alberto Freitas.
(…) Na segunda quinzena de junho de 1980 uma série devastadora de reportagens contra os Diários Associados começou a ser publicada na imprensa, numa orquestração perfeita, sempre alimentada pelas mesmas fontes das campanhas anteriores.
Na edição de 22/06/80, o Jornal do Brasil informa que “o governo decidiu realmente promover a venda das emissoras do grupo Diários Associados, embora não esteja ainda definido para qual interessado”.
O Grupo Abril chegou a negociar com os Diários Associados para assumir a Rede Tupi, mas a operação como sempre, não foi autorizada pelo Governo Federal.
Em 16 de julho de 1980, o ministro da Comunicação Social, Said Farhat, anunciou em Brasília que o presidente João Figueiredo resolvera, como informa Carneiro em seu livro de 1999, “considerar peremptas” as concessões de sete dos nove canais de televisão controlados diretamente pelos membros do Condomínio Acionário das Emissoras e Diários Associados, que eram sócios em outros 6, e colocá-los em licitação pública, “dentro do mais breve espaço de tempo possível”.
As emissoras cujas concessões foram consideradas suspensas por prescrição (peremptas) eram, a TV Tupi de São Paulo/SP canal 4, TV Tupi do Rio de Janeiro/RJ canal 6, TV Itacolomi de Belo Horizonte/MG canal 4, TV Rádio Clube do Recife/PE canal 6, TV Marajoara de Belém/PA canal 2, TV Ceará de Fortaleza/CE canal 2 e TV Piratini de Porto Alegre/RG canal 5.
Carneiro em seu livro de 1999, ainda destaca a reação dos Diários Associados ao anúncio:
“A reação dos Associados foi de espanto e indignação. Sabiam que a situação da sua rede era insuportável, mas tinham a garantia do governo de prorrogação do prazo para reexame do assunto do enquadramento do grupo no decreto-lei 236. Em outros termos, o próprio governo não levará em conta a suspensão do prazo fatal, garantida por documento. Por outro lado, um comprador fora mobilizado para a rede a Editora Abril e a seguir descartado pelo próprio governo. Os Associados, portanto, não haviam se recusado a vender os canais, nem protelado a busca do comprador”. (afirma Carneiro em seu livro de 1999, p.545).
Carneiro também ressalta que a qualidade dos canais cassados pelo governo revoltou os integrantes dos Diários Associados. A emissora de São Paulo e Rio de Janeiro realmente estavam em situação complicada, mas canais como a TV Itacolomi, TV Rádio Clube e TV Piratini estavam com pagamentos em dia e situação equilibrada.
No dia 17 de julho de 1980, funcionários do Dentel em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Fortaleza, Belém e Recife, retiraram os cristais que possibilitavam o funcionamento e lacrou os transmissores, encerrando, assim, a existência da primeira emissora de televisão da América Latina, que, dois meses depois, completaria 30 anos de vida.
Thell de Castro
Wanderley Godi Junior
João Paulo Oliveira
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Fonte: www.redetupi.com
História da TV Tupi
Rede Tupi também conhecida como TV Tupi ou formalmente como Rádio Difusora São Paulo SA foi a primeira rede de televisão na América do Sul.
A rede era de propriedade de Diários Associados, que formaram a Rede de Emissoras Associadas
A Rede Tupi foi fundado e lançado em 18 de setembro de 1950 por Assis Chateaubriand em São Paulo, inicialmente transmissões em Tupi Television Channel 3, cuja primeira emissão foi em 20 de setembro desse ano.
Rede Tupi foi exibida em 1960 na TV Tupi Canal 4, após o inauguração da TV Cultura (TV Cultura), Canal 2, Rede associada (Network Associated), e também uma estação de TV de associadas. Seus concorrentes eram Rede Record, Canal 7, e Rede Excelsior (Rede Excelsior).
No Rio de Janeiro , TV Tupi foi transmitido em Tupi Canal 6 , e teve sua própria estação e estúdios de lá. Em Brasília , a TV Tupi foi retransmitido pela TV Brasília, no Canal 6.
Em Salvador, TV Tupi foi retransmitido pela TV Itapoan , no Canal 5.
Outras estações de televisão foram formados pela Rede de Emissoras Associadas (Associated Radiodifusores Networks), todas as afiliadas Tupi e operadas diretamente estações.
História
Rede Tupi foi um pioneiro na programação de televisão em América do Sul , dando o tom para a melhores dramas, programação de notícias, esportes, teatro e entretenimento na década de 1950 e 1960, tais como TV de Vanguarda (Vanguard TV), O repoter Esso (O Repórter Esso ), Alo Doçura, Clube dos Artistas (1952-1980), Beto Rockfeller, O Mundo e das Mulheres (O Mundo para as Mulheres) e muitos mais. Ele abriu o caminho para o estabelecimento de estações de televisão em todo o Brasil e, em 1960, venceu outras estações em brodcasting via satélite (a primeira rede de TV brasileira a conquistar tal feito) em honra da abertura formal de Brasília.
Seu sucesso levou outras nações do continente a ter estações de televisão. A rede acrescentou novos talentos para o show business brasileiro, que era então uma próspera indústria dependendo filmes e rádio. Durante a década de 1960 seus programas revolucionou a televisão através da animação, humor, comédia e programas infantis mais as telenovelas que deram origem a 1965 lançamento de sua rede rival no Rio de Janeiro, Rede Globo.
Tupi teve sua própria marca na notícia: Rede Tupi de Noticias (Tupi News Network) tornou-se uma de suas transmissões bem-sucedidas. O noticiário foi único porque ele foi transmitido três vezes por noite. Ana Maria Braga foi o apresentador principal. Tinha três seções: esportes, notícias locais e nacionais notícias do mundo /.
Em 1964, tornou-se segundo a rede de televisão do Brasil a transmitir em cores seguinte Rede Exclesior, em 1962. Após a morte de seu fundador, em 1968, a rede, devido a uma crise com os seus proprietários, a transição em si tornando-se a primeira rede nacional de televisão, em 1970, composto por seu duas estações principais, canais 4 e 6, as suas outras sete estações e 17 estações afiliadas em todo o país.
Tupi, em 1972, juntou-se outras estações brasileiras no movimento para transmissões completas TV a cores. No dia 31 de março, que programa especial muito ano de Tupi, Mais Cor em Sua Vida (Mais cor na sua vida) começou oficialmente suas transmissões de cor, e estreou um novo logotipo em comemoração, substituindo o antigo número 6 logotipo usado no Rio durante os seus dias monocromáticas.
Após 29 anos de transmissão contínua Rede Tupi se tornou extinta em 16 de julho de 18,1980 quando suas duas estações em São Paulo (Tupi Channel 4 ) e Rio de Janeiro (Tupi Canal 6) desligado, juntamente com os seus outros sete estações em todo o país, por ordem do Governo Federal do Brasil – a ditadura militar na época. O Departamento de Nacional de Telecomunicações não aprovou o projecto de ampliação da concessão de televisão da Rede Tupi. A estação de Rio assinou-off pela última vez sobre o meio-dia do dia 18, seguindo as outras estações do dia anterior. Os últimos dias de transmissões nos estúdios do Rio de Janeiro da rede (incluindo o de 18 horas longa vigília) foram cobertas por várias redes no Brasil, incluindo Rede Bandeirantes.
Ele foi sucedido pelo SBT (Sistema Brasileiro de Televisão, em seguida, TVS, TV Studios Channel 4), do Grupo Silvio Santos (Grupo Silvio Santos) de Silvio Santos depois em agosto de 1981 e pela Rede Manchete (Rede Manchete Channel 9), da Bloch Editores (Editors) Bloch grupo editorial de Adolpho Bloch , em Junho de 1983, as duas estações usando dois canais da Rede Tupi em São Paulo e Rio de Janeiro (Tupi Canal 6 e Tupi Canal 4) como a sua própria, operando a partir de seus próprios centros de radiodifusão.
Resumo
A primeira emissora de televisão do Brasil, a TV Tupi de São Paulo, era fundada em um dia como este, no ano de 1950. Ela pertencia aos Diários Associados, de Assis Chateaubriand. A Tupi paulista permaneceu como única rede de TV brasileira até o ano seguinte, quando o mesmo grupo fundou a TV Tupi Rio. O monopólio foi quebrado em 1952, com a inauguração da TV Paulista, canal 5 VHF.
A Tupi de São Paulo era transmitida no canal 3 até 1960, quando passou ao canal 4 até o fim das suas atividades, em 18 de julho de 1980, quando todas as concessões da Rede Tupi foram cassadas.
Um pouco depois do seu fechamento, o empresário Sílvio Santos adquiriu a concessão do canal 4. Surgia assim o SBT São Paulo, geradora do Sistema Brasileiro de Televisão. O prédio onde funcionava a TV Tupi, construído por Assis no alto do Avenida Sumaré, em São Paulo, abriga hoje a MTV Brasil.
Fonte: en.wikipedia.org
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