História
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Hesíodo – Poeta Grego
Hesíodo um poeta, viveu por volta de 700 aC.
Hesíodo é sempre comparado a Homero e é um daqueles poetas raros cujas composições sobrevivem até hoje.
Ninguém sabe quem nasceu primeiro Homero ou Hesíodo, mas alguns supõem que viveram na mesma época.
Obras e Composição
Apenas três das muitas obras de Hesíodo estão em bom estado hoje. Outros restos são fragmentados e, portanto, incompleta. A primeira edição de “Trabalhos e os Dias” saiu em 1493 compiladas por Demetrius Chalcondyles. Junto com esta composição outras obras foram compiladas e publicadas em Veneza por Aldus Manutius em 1495.
Principal diferença poemas de Homero e de Hesíodo é que, enquanto Homero descreveram os pessoas ricas e real em suas obras, Hesíodo é conhecido por descrever a vida do homem comum. De fato, alguns detalhes de sua própria vida, é conhecida em ‘Trabalhos e os Dias “.
Trabalho e Dias
Este trabalho, que contém cerca de 800 versos, é a base para dois fatos no Universo: Trabalho é o lote universal do homem, mas aquele que está disposto a trabalhar vai sobreviver. O pano de fundo deste trabalho pode ser datada para a crise terras agrícolas na Grécia que levou a colônias em busca de novas terras.
Os trabalhos descreve as cinco idades do homem; principalmente a Idade de Ouro, governado por Cronos. Nesta época, as pessoas tinham vidas extremamente longas e não havia tristeza. Também são mencionados A Era de Prata, que foi governado por Zeus, o período Idade do Bronze de guerras e da Idade Heróica, o tempo da guerra de Tróia e da idade do ferro, o presente era corrupto.
‘Trabalhos e os Dias “também descreve os valores éticos, o trabalho duro e dias de azar e sorte para ocasiões específicas.
Hesíodo – Poeta Grego
Hesíodo foi um dos dois grandes poetas gregos da idade arcaica. Junto com a de Homero, sua obra constitui um dos pilares sobre os quais se edificou a identidade helênica.
Hesíodo viveu por volta de 800 a.C. na Beócia, região situada no centro da Grécia. Passou a maior parte da vida em Ascra, a aldeia natal. Sabe-se que viajou a Cálcis, na ilha de Eubéia (a cerca de 800m da costa grega), com o objetivo de participar dos jogos funerários realizados em honra de um certo Anfidamos, e foi o ganhador do prêmio. Sabe-se também – sempre pelas informações do próprio poeta – que depois da morte do pai, seu irmão Perses corrompeu os juízes locais e apoderou-se da maior parte da herança que correspondia a ambos.
Por esse motivo, em suas obras, Hesíodo exalta particularmente a virtude da justiça, cuja guarda atribui a Zeus.
Hesíodo relata ainda que foi pastor, até que lhe apareceram as Musas e ordenaram-lhe “cantar a raça dos benditos deuses imortais”.
Dessa exortação nasceram a Gênese dos deuses e Os trabalhos e os dias, as duas únicas obras autênticas do poeta que permaneceram. A Gênese dos deuses parece ser o primeiro poema escrito por Hesíodo. Relata a sangrenta história dos deuses da mitologia grega pré-homérica. No início existem o Caos, a Terra e Eros.
Da Terra (ou Gaia, ou Géia) nasceu Urano, o primeiro rei dos deuses, que contraiu matrimônio com sua mãe. Entre os filhos de ambos encontra-se o titã Cronos, que se rebelou contra Urano e, depois de castrá-lo, governou o universo. Cronos foi destronado pelo filho Zeus, que fundou o panteão helênico clássico. Os trabalhos e os dias trata de temas mais terrenos.
A primeira parte é dedicada a mitos que ressaltam a necessidade do trabalho duro e honesto. Exalta a Justiça, filha predileta de Zeus e única esperança dos homens.
A segunda parte do poema tem propósitos didáticos: estabelece normas para a agricultura e para a educação dos filhos, além de mencionar superstições do dia-a-dia. Diferentemente de Homero, Hesíodo não se ocupou das esplêndidas façanhas dos heróis gregos. Seus temas são os deuses, regentes do destino do homem, e o próprio ser humano, com suas fadigas e misérias.
Dividiu a história da humanidade em cinco períodos, da idade do ouro à do ferro, das quais o último correspondia ao difícil período histórico em que ele próprio viveu.
Para Hesíodo, só o trabalho e o exercício das virtudes morais permitem aos seres humanos chegar a uma existência discretamente feliz na infausta idade do ferro.
Hesíodo morreu, ao que tudo indica, em Ascra.
Fonte: www.ancientgreece.com/www.nomismatike.hpg.ig.com.br
Hesíodo
Prometeu e Pandora
Possuidoras de defeitos e virtudes, as divindades primordiais tinham no Olimpo o remanso. Procriavam deuses e deusas gerados de suas próprias paixões; paixões que dariam forma à personalidade de cada um, transformados em mitos e colocados, assim, acima do bem e do mal. Eram deuses, enfim.,
Prometeu
Júpiter diz a Prometeu: “Filho de Iápeto, rejubilas-te por haveres roubado o fogo divino e iludido a minha sabedoria; mas esse ato será fatal a ti e aos homens que hão de vir. Para vingar-me, enviarlhes-ei um funesto presente que os enfeitiçará e fará com que amem o seu próprio flagelo.” (Hesíodo).
Por serem concebidos sob os auspícios dos espasmos de Gaia, os imortais desfrutavam de privilégios. Donos de matéria sutil, metamorfoseavam-se e se multiplicavam. No Olimpo não havia a idéia de perfeição conforme a concebemos a partir do Cristianismo, pois segundo o pensamento clássico, no Universo, tudo, absolutamente tudo, está em processo de evolução, portanto, da ameba aos deuses todos evoluem todo o tempo. Assim, Hera andava infeliz porque seus filhos gerados com Zeus, do qual era irmã, eram criaturas grotescas, eventualmente deformadas, a exemplo dos cíclopes, tríclopes e depois os titãs. E o deus do Olimpo, compadecido pela dor de sua mulher, mandou que exterminassem os titânicos, e uma batalha entre eles e os olímpicos foi instaurada.
Céu e terra já estavam criados. A parte ígnea, mais leve, havia se espalhado e formado o firmamento. O ar colocou-se em seguida. A terra, sendo a mais pesada, ficou para baixo e a água ocupou o ponto inferior, fazendo flutuar a terra. E neste mundo assim criado, habitavam as plantas e os animais. Mas faltava a criatura na qual pudesse habitar o espírito divino. Foi então que chegou à terra o titã Prometeu, descendente da antiga raça de deuses, destronada por Zeus.
Prometeu, “aquele que pensa antes” ou “aquele que prevê” (o nome Prometeu, segundo a etimologia popular, teria vindo da conjunção das palavras gregas pró (antes) e manthánein (saber, ver), ou seja, Prometeu equivaleria a prudente ou previdente), filho de Iápeto (ou Jápeto), um titã, permanecera neutro e vira sua raça ser dizimada pelos olímpicos. Era, entretanto, admirado por Zeus, que gostava de seus dons premonitórios; fora recebido entre os imortais, participando dos banquetes e assembléias das divindades. Enviado à Terra a fim de criar um ser diferente dos animais, decidira vingar-se de Zeus, que destruíra sua raça. O gigante sabia que na terra estava adormecida a semente dos céus. Por isso apanhou um bocado de argila e molhou com um pouco de água de um rio.
Com essa matéria prima fez o homem, à semelhança dos deuses, para que fosse o senhor da terra e soprou-lhe as narinas com a essência de que seriam feitos, apanhou das almas dos animais características boas e más, animando sua criatura: a fidelidade dos cavalos, a força do touro, a esperteza da raposa, a avidez do lobo. Minerva dera néctar às novas criaturas e elas ganharam espírito divino. Foi assim que surgiram os primeiros seres humanos, que logo povoaram a terra.
Mas faltavam-lhes os conhecimentos sobre os assuntos da terra e do céu. Vagavam sem saber a arte da construção, da agricultura, da filosofia. Não sabiam caçar ou pescar e nada sabiam da sua origem divina. Prometeu se aproximou e ensinou às suas criaturas todos esses segredos. Inventou o arado para que o homem plantasse, a cunhagem das moedas para que houvesse o comércio, a escrita e a mineração. Ensinou-lhes a arte da profecia e da astronomia, enfim todas as artes necessárias ao desenvolvimento da humanidade. Os orgulhosos homens de Prometeu eram belos como deuses, entretanto, a condição de humanos, reles mortais, faria com que pagassem pelo status adquirido, transformados assim no alvo da ira dos deuses.
Então houve um banquete. Prometeu, encarregado da partilha do boi, o fizera de modo a humilhar os imortais, oferecendo a eles as entranhas, enquanto que aos humanos reservou a carne saborosa.
Encolerizado, Zeus esconde daquelas criaturas o privilégio da luz e do movimento, simbolicamente, da luz na alma, da inteligência: o fogo, último privilégio para que se constituísse e se consumasse a civilização. E não havia movimento na Terra, não havia luz entre as criaturas de Prometeu.
Andavam à esmo… errando, até que, indignado e movido por um gesto de profundo inconformismo, Prometeu apanhou um caule do nártex, aproximou-se da carruagem do Sol e incendiou-o. Roubara o fogo dos céus. Com esta tocha, Prometeu entregou o fogo para a humanidade, o que dava a ela a possibilidade de dominar o mundo e seus habitantes.
Ah, os belos e orgulhos homens de Prometeu dançavam em torno do fogo e conheciam o movimento, a luz, a cor… Mas os céus tremiam. Como tivera, Prometeu, a coragem de colocar seus homens e os deuses no mesmo plano de existência? Tal soberba lhe reservaria a ira de Zeus, o deus dos deuses que por isso tramou a sua vingança. Convocando os deuses do Olimpo, decide dar a Prometeu e aos tolos homens um castigo. Que Prometeu fosse acorrentado a um rochedo por trinta séculos, à disposição dos abutres que deveriam mordiscar-lhe quase todo o fígado ao longo do dia.
Não havia perdão no coração endurecido de Zeus, personificado na figura do rochedo. Durante a noite o órgão se recomporia para ser novamente semi-devorado quando o dia amanhecesse. Estava lançado o suplício de Prometeu. Mas era pouco ainda. A tentativa de comparar grosseiras criaturas feitas do barro com os deuses era um evento tal que merecia do Olimpo uma vingança maior.
Assim, com a ajuda dos olímpicos e ninfas, Zeus manda criar um ser oposto aos homens: uma mulher, única naquele universo masculino. Deveria ser belíssima, e dela se encarregariam primeiramente Minerva e Vulcano. Dotada de beleza inigualável, sagacidade, graça, audácia, força, persuasão, habilidade manual e sensualidade delicada, receberia de Mercúrio gotas de sedutora dissimulação. Deveria seduzir todos os homens e tirar-lhes o rumo. Esta mulher foi batizada por Hermes como Pandora, (pan = todos, dora = presente), pois cada um dos deuses deu à donzela um dom. Afrodite deu-lhe a beleza, Hermes o dom da fala, Apolo, a música. Ainda vários outros encantos foram colocados na criatura pelos deuses. Zeus pediu ainda que cada imortal reservasse um malefício para a humanidade.
Esses presentes maléficos foram guardados numa caixa, que a donzela levava nas mãos. Pandora, desceu à terra, conduzida por Hermes, e foi dada como esposa a Epimeteu, “o que pensa depois” ou “o que reflete tardiamente”, o irmão de Prometeu; que, deslumbrado com sua beleza perfeita, aceitou apesar dos avisos do irmão, para que não aceitasse nada dos deuses. Pandora, então, diante dele abriu a tampa do presente de núpcias de Zeus, e de dentro, como nuvem negra, escaparam todas as maldições e pragas que assolaram todo o planeta. Desgraças que até hoje atormentam a humanidade.
Pandora ainda tenta fechar a caixa divina, mas era tarde demais: ela estava vazia, com exceção da “esperança”, que permaneceu presa junto à borda da caixa. A única forma do homem não sucumbir às dores e aos sofrimentos da vida.
Deste mito ficou a expressão caixa de Pandora, que se usa, em sentido figurado, quando se quer dizer que alguma coisa, sob uma aparente inocência ou beleza, é na verdade uma fonte de calamidades. Abrir a Caixa de Pandora significa que uma ação pequena pode liberar uma avalanche de repercussões negativas.
Há ainda um detalhe intrigante que poderíamos levantar: do por quê a esperança estava guardada na caixa entre todos os males. Porque a esperança pode também ter uma conotação negativa, já que ela pode minar as nossas ações nos paralisando diante de coisas que deveríamos confrontar.
Pandora
A maior dificuldade de relatar um mito não está em traduzir as suas múltiplas conexões e desdobramentos, mas em resolver onde parar, onde recortar este mito do todo da mitologia. Por isso, a história de Pandora começa antes da própria Pandora. Divindade criada pelos deuses do Olimpo sob as ordens de Zeus para a vingança contra a humanidade por esta ter recebido de Prometeu o segredo do fogo, o que dava a ela a possibilidade de dominar o mundo e seus habitantes. Zeus tramou a sua vingança mandando que Hefestos moldasse uma estátua de uma linda donzela. Chamou-a de Pandora, a que possui todos os dons, e ordenou a cada um dos deuses que desse à donzela um dom.
Vários encantos foram colocados na criatura, por exemplo: Afrodite deulhe a beleza, Hermes o dom da fala, Apolo, a música, etc. Em seguida Zeus pediu ainda que cada imortal escolhesse um malefício para a humanidade e os depositasse em uma caixa, que a donzela levava nas mãos, como presente de núpcias a Epimeteu; a caixa de Pandora.
Então ela desceu à terra, conduzida por Hermes, aproximou-se de Epimeteu, o irmão de Prometeu, e diante dele abriu a tampa do presente de Zeus. E da Caixa de Pandora escaparam a dor, as doenças, a inveja, a morte, a hipocrisia, a peste, a desunião, o desamor, a guerra, o ódio, a loucura… Pandora, percebendo a intenção dos deuses e tudo o que se espalhara sobre os homens, fechou a caixa rapidamente, entretanto, era tarde demais, os males haviam sido despejados sobre a raça de Prometeu. Havia lágrimas nos desavisados olhos de Pandora, a primeira mulher, ingenuamente, usada como ferramenta para a vingança Olímpica.
No fundo de sua Caixa havia sobrado, a despeito dos males, um único elemento bom: a Esperança.
Foi então que a humanidade, que até aquele momento havia habitado um mundo sem doenças ou sofrimentos, se viu assaltada por inúmeros males, e somente a Esperança lhe dá forças e alento para sobreviver aos problemas.
Outra versão do mito, diz que Pandora é a deusa da ressurreição. Ela, por não nascer como divindade, é conhecida como uma semi-deusa. Sua ambição em se tornar deusa do Olimpo e esposa de Zeus, fez com que ela abrisse a caixa divina. Zeus para castigá-la tirou a sua vida. Hades com interesse nas ambições de Pandora, procurou as pacas (dominadoras do tempo) e pediu para que o tempo voltasse, mas sem a permissão de Zeus elas não puderam fazer nada. Hades convenceu o irmão a ressuscitar Pandora, e devido aos argumentos do irmão, Zeus a ressuscitou dando-lhe a divindade que ela desejava. Assim, Pandora tornou-se a deusa da ressurreição. Para um espírito ressuscitar Pandora entrega-lhe uma tarefa, se o espírito cumprir ele é ressuscitado. Pandora, com ódio de Zeus por ele tê-la tornado uma deusa sem importância, entrega aos espíritos somente tarefas impossíveis. Assim nenhum espírito conseguiu e nem conseguirá ressuscitar.
O mito mais conhecido sobre Pandora é o que conta a história da sua criação pelos deuses, e de seu maléfico presente para a humanidade, escondido em uma caixa. Esse mito é o descrito acima. Há, porém, outra versão que remonta aos povos pré-helênicos, que tinham de Pandora, uma idéia diametralmente oposta da conhecida. Esta é a mitologia de um povo agrícola, com seu culto à deusa-mãe…
Assim o novo mito tornou-se a doadora de talentos divinos e de todos os males da humanidade. Certa manhã os homens descobriram uma colina coberta de arbustos com frutos vermelhos. Eles começaram a banquetear-se imediatamente. Depois de um estremecimento, uma fenda abriu-se no topo do morro, e dela emergiu a deusa com suas serpentes terrenas. Os mortais estavam paralisados de medo, mas a deusa acalmou-os dizendo: – Eu sou Pandora, a Doadora de todos os Presentes – e retirou a tampa de sua grande caixa. Dela tirou uma romã, que tornou-se uma maçã, que tornou-se um limão, que tornou-se uma pera. – Eu trago árvores cheias de flores que dão muitos frutos, árvores retorcidas com olivas penduradas e essa videira que irá sustentar vocês -. A deusa pegou da caixa uma porção de sementes as quais espalhou pela colina e continuou seu discurso. – Eu trago a vocês plantas para matar a fome e para curar a doença, para tecelagem e tinturaria. Sob a superfície da terra vocês encontrarão minerais e argila de inúmeras formas. Eu trago maravilhas, curiosidades e memória. Eu trago sabedoria. Eu trago justiça com misericórdia. Eu trago laços de cuidado e de comunhão. Eu trago coragem, força e persistência. Eu trago amabilidade para todos os seres. Eu trago as sementes da paz.
Pandora e Eva
Os mitos ocidentais relacionados com a origem humana, por vezes, tratam da perda de uma condição feliz jamais alcançada depois, na história. Tanto os assírios, babilônios, judeus e helenos, como os índios do Brasil, concordam que a matéria prima para feitura dos primeiros homens seria o barro. O termo hebraico adam vem de adama, terra, e quer dizer aquele que surgiu da terra.
Quanto à mulher, entretanto, há divergências. No Antigo Testamento, Eva seria uma parte retirada do próprio homem, por Deus, a fim de lhe fazer companhia.
Por outro lado, na Teogonia e em Trabalhos e os Dias, de Hesíodo (sécs. VIII ou VII a.C.), Pandora seria um presente que Zeus mandara fazer para prejudicar os homens, criaturas de Prometeu. Em ambos casos, a desatenção da mulher acaba por levar à perda do paraíso para a humanidade, que passa a conviver com os males do mundo, sendo obrigada a sobreviver com o suor do rosto.
Antes vivia sobre a terra a grei dos humanos a recato dos males, dos difíceis trabalhos, das terríveis doenças que ao homem põem fim; mas a mulher, a grande tampa do jarro alçado, dispersou-os e para os homens tramou tristes pesares. Sozinha, ali, a Expectativa em indestrutível morada abaixo das bordas restou e para fora não voou, pois antes repôs ela a tampa do jarro, por desígnios de Zeus porta-égide, o agrega nuvens (HESIODO, Trabalhos e os Dias, v. 90 a 99).
A comparação de Eva com Pandora é muito óbvia para ter escapado a Milton, que a apresenta no Livro IV do Paraíso Perdido:
Mais bela que Pandora a quem os deuses Cumularam de todos os seus bens E, ah! bem semelhante na desgraça, Quando ao insensato filho de Jápeto Por Hermes conduzido, a humanidade Tomou, com sua esplêndida beleza, E caiu a vingança sobre aquele Que de Júpiter furtou o sacro fogo.”
O Mito de Prometeu e Epimeteu segundo Ésquilo, Hesíodo e Platão
O Mito por Hesíodo e Ésquilo
O mito de Prometeu é descrito na literatura clássica principalmente em Hesíodo. Aparece nas duas obras do poeta, Teogonia e Os trabalhos e os Dias, sendo que na segunda ele é recontado e complementado. Afora Hesíodo, outra obra importante, a tragédia Prometeu Acorrentado, é dedicada a ele. Porém nesta tragédia o mito não está completo, pois começa no instante em que Hefesto e Cratos castigam o titã, a mando de Zeus pai. Prometeu, em diversas partes da tragédia, se refere aos motivos que o levaram a ser acorrentado. A tragédia fazia parte de uma trilogia sobre Prometeu, mas as outras duas partes se perderam.
O nome Prometeu, segundo a etimologia popular, teria vindo da conjunção das palavras gregas pró (antes) e manthánein (saber, ver). Ou seja, Prometeu equivaleria a prudente ou previdente. Embora, como afirma Ésquilo, Prometeu não supusesse o teor do castigo de Zeus ao desafiá-lo, ainda assim lhe é atribuído um caráter oracular, por ter proferido um vaticínio sobre a queda de Zeus, o governador. A profecia diz que o filho da nereida Tétis e de Zeus destronaria o pai.
Por causa disso, Zeus desiste de seduzir a nereida e se apressa a lhe dar um esposo mortal, que acabou sendo Peleu. Este cuidado de Zeus também se verifica quando ele engole a mãe de Atena, Métis (sabedoria, astúcia), sua primeira esposa, para que não nascesse dela um segundo filho mais poderoso que o pai. Zeus engole Métis ainda grávida, e Atena, deusa da sabedoria, nasce da cabeça do pai.
Prometeu, que parece detestar Zeus – como se observa na tragédia esquiliana pelo desprezo a seu mensageiro Hermes ou quando critica a arrogância de Zeus e diz abominar os demais deuses – era filho do titã Iápeto e da oceânide Clímene. Apenas em Ésquilo a mãe de Prometeu é Têmis, a deusa da justiça. Tinha como irmãos Atlas, Menécio e Epimeteu, sendo que todos eles foram castigados por Zeus. Iápeto era irmão de Crono (Prometeu era, portanto, primo de Zeus) e de Oceano, que em Ésquilo sai do seu reino e avança sobre a Terra para tentar dissuadir o sobrinho Prometeu de sua revolta e dizer a ele que intercederia junto a Zeus, uma prova ferrenha de sua amizade.
Nos versos 510 a 516 da Teogonia, estes contam a história de Prometeu segundo Hesíodo. Consta ali que a primeira falta de Prometeu para com Zeus em favor dos homens foi quando dividiu um boi em duas partes, uma cabendo a Zeus e outra aos mortais. Na primeira estavam as carnes e as vísceras, cobertas com o couro. Na segunda, apenas ossos, cobertos com a banha do animal. Zeus, atraído pela banha, escolhe a segunda, e então a raiva, o rancor, e a cólera lhe subiram a cabeça e ao coração. Por conta disso, Zeus castiga os homens, negando a eles a força do fogo infatigável. O fogo representa simbolicamente a inteligência do homem. A afronta definitiva de Prometeu, porém, ocorre quando este rouba o brilho longevisível do infatigável fogo em oca Férula (Teogonia, 566). Com isto, Prometeu reanimou a inteligência do homem, que antes era semelhante aos fantasmas dos sonhos.
A fala de Prometeu na tragédia de Ésquilo remete para ele a dívida dos mortais por terem a habilidade de, por exemplo, construir casas de tijolos e madeira. Os mortais, diz o titã, tudo faziam sem tino até que este lhes ensinasse as intricadas saídas e portas dos astros. Por elas inventei os números (…) a composição das letras e a memória (…), matriz universal. Prometeu diz, enfim, que os homens devem a ele todas as artes, inclusive a de domesticar animais selvagens e fazê-los trabalhar para si.
Por conta dos mortais terem o fogo, Zeus armou uma armadilha: mandou o filho de Hera, o deus coxo e ferreiro Hefesto, plasmar uma mulher ideal, fascinante, ao qual os deuses presentearam com alguns atributos de forma a torná-la irresistível. Esta mulher foi batizada por Hermes como Pandora, (pan = todos, dora = presente) e ela recebeu de Atena a arte da tecelagem, de Afrodite o poder de sedução, de Hermes as artimanhas e assim por diante. Pandora foi dada de presente para o atrapalhado Epimeteu, que ingenuamente aceitou, a despeito da advertência de seu irmão Prometeu. A vingança planejada por Zeus estava contida numa caixa, que foi levada como presente de núpcias para Epimeteu e Pandora. Quando esta, por curiosidade feminina, abriu a caixa e rapidamente a fechou, escaparam todas as desgraças e calamidades da humanidade, restando apenas a esperança.
Quanto a Prometeu, foi castigado sendo preso pelas inquebráveis correntes de Hefesto no meio de uma coluna, e uma águia de longas asas enviada por Zeus comia-lhe o fígado imortal. Ao cabo do dia, chegava a negra noite por Prometeu ansiada, e seu fígado tornava a crescer. Teria sido assim eternamente se não fosse por intervenção de Hércules, que matou a águia como consentimento de Zeus.
O Mito por Platão
No Protágoras de Platão, todas as criaturas vivas aparecem como obra de vários deuses, que as plasmaram inicialmente com terra, limo e fogo. A palavra latina homem está ligada a humus (terra) e os gregos acreditavam que uma centelha divina de imortalidade percorria toda a Terra. São os outros deuses que incumbem Prometeu e Epimeteu de dar aos seres as qualidades necessárias para se sustentarem quando viessem à luz. Epimeteu, por ser atrapalhado, torna-se um reversor dos benefícios de Prometeu aos homens, tanto em Hesíodo quanto em Platão. Protágoras continua a narrativa dizendo que Epimeteu pediu a seu irmão para que deixasse por sua conta a distribuição das qualidades, cabendo a Prometeu apenas uma revisão final.
Começa então a divisão compensatória de Epimeteu: a alguns dá força sem velocidade, a outros dá apenas velocidade. Para algumas criaturas, Epimeteu deu armas. Aos que não a tinham, achou diferentes soluções, como asas para fugir aos pequenos e tamanho a outros. É certo que asas são um meio de transporte ideal para as fugas, mas também o são para a caça. As qualidades foram assim distribuídas para que houvesse um equilíbrio, e não viessem as espécies destruir umas às outras.
Depois Epimeteu provê os seres com o necessário para sobreviverem no frio, os pêlos.
Por último determinou o que cada um deveria comer, de acordo com a sua constituição: ervas, frutos, raízes e carne. Os que comiam carne, de acordo com o mito, se reproduziriam menos do que os herbívoros.
Epimeteu, por não refletir, termina a sua distribuição das qualidades, mas deixa de lado um ser: o homem. O que sobrou para o homem? Nada, permanecera nu e sem defesa. Estava se aproximando a hora determinada para que o homem chegasse à luz e Prometeu aparece para fazer sua parte. Não encontrando outra solução, Prometeu é obrigado a roubar o fogo de Hefesto e a sabedoria de Atena, deusa de olhos verde-mar. De posse dessas duas qualidades, o homem estava apto a trabalhar o fogo nas suas diversas utilidades, e assim garantir a sobrevivência.
Porém, a qualidade necessária para os homens se relacionarem entre si se encontrava nas mãos de Zeus: a política. E era proibido a Prometeu penetrar na Acrópole de Zeus, vigiada por temíveis sentinelas.
Protágoras termina o mito dizendo que consta ter sido Prometeu morto por este crime, o que não é possível, pois Prometeu era imortal. As diferenças entre as narrativas de Platão e Hesíodo são mais visíveis que as semelhanças. Por exemplo, em Hesíodo o trabalho é um castigo do Crônida aos mortais, o mito platônico nos leva a crer que o trabalho é uma dádiva.
O nascimento dos mortais em Hesíodo é bem anterior a Platão, se tomarmos como referência o roubo do fogo, que em Hesíodo se dá depois do nascimento dos homens. Em Ésquilo, o homem vive por séculos sem conseguir a aptidão necessária, antes de receber o fogo como presente. Isto representa a dificuldade de sobrevivência do homem nas eras primitivas, ou a miséria do homem na Idade do Ferro.
Em Platão o homem já obtém a capacidade de trabalhar o fogo desde a sua criação. A miséria em Platão consiste na falta da arte política, indispensável para a fortificação dos homens em cidades e a instituição de um governo virtuoso baseado na justiça.
Diz Platão que não demorou aos homens usarem a sabedoria herdada de Atena para desenvolverem uma linguagem, construir casas e roupas e procurar alimentos. Porém, não tendo política, não conseguia vencer as feras nem guerrear, pois não tinham a arte militar, parte da política. E, ao tentar se reunirem em grupos, a anarquia reinante fazia de todos, inimigos e vítimas de querelas militares. Os homens então passaram a se destruir, vítimas das feras e deles próprios.
Zeus, preocupado com o iminente desaparecimento do homem, mandou seu filho e mensageiro Hermes distribuir pudor e justiça, para que pudessem se relacionar e subsistir. O pudor e a justiça deveriam, ao contrário das demais artes, serem distribuídos igualmente a todos os homens, e aqueles que não a tivessem deveriam morrer, por estarem contra o princípio unificador da sociedade.
Sócrates apresentara a Protágoras, como principal objeção à impossibilidade do ensino da virtude o fato de homens virtuosos, como Péricles, não terem tido filhos virtuosos. Como ficaria o mito de Protágoras então, se ele diz que a virtude é necessária e comum a todos? Protágoras não pretendia o seu mito verdadeiro, ele é um instrumento escolhido, dentre outros, para expor a sua teoria. Para Protágoras todos os homens são capazes de alcançar a virtude, mas somente pelo estudo e aplicação. Ninguém puniria as pessoas que tem algum defeito sem ter culpa – como a feiúra ou a baixa estatura – , mas alguém que se apresenta injusto é punido.
Para ser justo, o cidadão grego era ensinado desde pequeno a ser racional e a caminhar para a virtude, pelos pais, que procuram a cada ato demonstrar as virtudes como justiça, temperança e santidade. Na formação das crianças, também é usado o exemplo de heróis virtuosos do passado, cantado em poemas como os de Homero. Se a criança aprende, tudo bem, senão, ela é levada a se corrigir através da ameaça de castigos violentos. Isto é explicado por Protágoras com o exemplo dos tocadores de flauta.
A virtude é generalizada, imaginemos que tocar flauta também o fosse: é de se esperar que os filhos dos melhores tocadores de flauta fossem melhores também? Não necessariamente. Todos saberiam tocar flauta minimamente, mas os grandes talentos nasceriam em famílias diferentes.
Fica assim respondida a questão de Sócrates, que ficou muito impressionado com a sabedoria de Protágoras: todos teriam virtude em potência, mas somente os mais aplicados conseguirão. A virtude, portanto, é a razão, mas exercida por favor divino. A base é o mito, é necessário receber um bom quinhão das moiras para poder agir retamente, conforme a razão e o raciocínio ditam. Platão nos leva a crer que quem age com virtude – elevando assim o seu espírito- é recompensado. No mito de Protágoras, a virtude é presente divino, mantenedor da coesão social, mas só alcançável pela prática e estudo aplicado.
O Mito Interpretado
“Essas coisas não aconteceram nunca, mas existiram sempre” Salústio, Degli Dei e del mondo
Foi descrito que da união de Urano (Céu) com a Terra (Gaia), teriam se originado Cronos (Saturno) e Iápeto. Cronos daria origem a Zeus (Júpiter).
Por sua vez Iápeto se uniria a Clímene, dando origem a linhagem dos Titãs: Menécio, Atlas, Epimeteu e Prometeu. Epimeteu se uniria a Pandora, Prometeu se uniria a Celeno (ou a Clímene?), da primeira união surgiu Pirra, e da segunda, Deucalião. Como veremos adiante, após o “dilúvio”, Pirra e Deucalião se uniram dando origem a toda a humanidade atual. Verificamos a iniciativa dos antigos gregos em descrever a genealogia de uma “família” divina.
A palavra grega para Prometeu teria parentesco, também com o sânscrito, dando a idéia de pensar, premeditar, prevenir, relacionada ainda com a “produção do fogo por perfuração”. Prometeu em grego, significa na acepção do termo, “pré-pensador” e pode ser interpretado como aquele que pensa antes de agir. Epimeteu é o “pós-pensador”, ou aquele que age antes de pensar. Enquanto o primeiro calcula, delibera, buscando prever e domar o futuro, Epimeteu se entrega ao impulso, desfruta, buscando tirar do momento tudo o que ele oferece de melhor. Portanto, Prometeu e Epimeteu, primos de Zeus, representam pólos extremos e simétricos da relação entre o pensar e o agir.
Antes da criação da terra, do mar e do céu, todas as coisas tinham aspecto de uma massa confusa e disforme denominada Caos. Posteriormente, as divindades primitivas separaram a água da terra e o céu de ambas. Mais adiante, criaram as plantas e os animais. Mas era preciso um animal mais nobre, então, as divindades incumbiram os dois titãs da tarefa de criar o homem. Não se sabe se ele foi criado a partir de matérias divinas ou da terra, recentemente separada do céu, e onde ainda restavam algumas sementes celestes. A criatura humana altamente contraditória que resultou reflete a grandeza e as fraquezas peculiares a cada um dos criadores.
Aparentemente, ao completar a tarefa, Prometeu troca de lado e se alia aos mortais na luta contra a opressão e a avareza dos deuses. Durante a criação dos animais e do homem, coube a Epimeteu, supervisionado por Prometeu, a tarefa de providenciar os meios necessários para a sobrevivência e o crescimento deles.
Epimeteu começou a distribuir as diversas qualidades aos vários animais: coragem, força, velocidade, sagacidade; as asas a uns, garras a outros, uma cobertura de concha a outros, etc. Quando chegou a vez do homem, Epimeteu que fora liberal na distribuição das várias qualidades, nada mais tinha para conceder.
Prometeu percebendo a situação, com a ajuda de Minerva, subiu ao céu, acendeu sua tocha no carro do sol e trouxe o fogo à terra para o homem. O fogo permitiu-lhe fabricar armas, com as quais submeteu os outros animais; criar ferramentas, com as quais cultivou a terra; aquecer a sua moradia, ficando de certo modo independente do clima; e finalmente, promover as artes e cunhar moedas, com as quais pôde comerciar.
Zeus não gostou da insubordinação de Prometeu e ordenou que se moldasse um ser esplêndido e irresistível, Pandora, que poderia ser entendida como “todos os encantos, todas as virtudes”. Zeus incumbiu Hermes, o mensageiro dos deuses, para que, disfarçado como um velho brincalhão, conduzisse Pandora, juntamente com um porta-jóias, até a terra. A intenção era que ela seduzisse Prometeu e oferecesse a ele uma caixa nupcial contendo as mais valiosas prendas do Olimpo.
Prometeu, espertamente esquivou-se da oferta, além de alertar Epimeteu dizendo que “nunca devemos aceitar um presente dos deuses”. Epimeteu cedeu aos encantos e casou-se com Pandora. Em seguida, num ato intempestivo, talvez de Pandora, ou de Epimeteu, a caixa nupcial foi aberta.
Da caixa de Pandora emergiram toda forma de males e sofrimentos que assolam a humanidade: a velhice, o trabalho, as doenças, os vícios e as paixões.
Ou, no dizer de Pandora: “Eu trago amor mas também loucura e todo tipo de sofrimento”. Há uma outra versão, na qual Pandora foi enviada de boa fé por Zeus, para abençoar o homem. Nessa versão, os deuses dão-lhe a caixa, dentro da qual colocaram suas várias bênçãos. Pandora teria aberto esta caixa sem o devido cuidado e todas as bênçãos escaparam, permanecendo apenas a esperança. Essa história parece ser mais provável que a anterior, pois como poderia a esperança, jóia tão preciosa, ter sido guardada num recipiente cheio de toda a sorte de males, como se diz na primeira versão?
Paralelamente, devemos recordar a relação do mito de Hércules com o de Prometeu. Sabemos que Hércules para se purificar de um crime foi incumbido de desenvolver doze trabalhos, nos quais foi auxiliado e orientado por vários mestres, dentre eles o centauro Chíron (ou Quíron) que habitava uma gruta. Por sua sabedoria, inteligência e virtude, Chíron diferenciava-se dos outros centauros e recebeu de seu pai, Saturno, conhecimentos de medicina, magia, arte de adivinhar o futuro, astronomia e música.
Um dos trabalhos de Hércules foi destruir um monstro, que tinha o corpo aparentemente feminino e deformado, apresentando múltiplas cabeças semelhantes a serpentes que aterrorizava a região de Lerna, que fica próxima a Argos, a chamada Hidra de Lerna. O herói conseguiu vencê-la ao usar toda sua habilidade para decepar as múltiplas cabeças. Hércules sabia que o sangue do monstro era extremamente venenoso, assim, embebeu nele suas flechas, tornando-as mortíferas para sempre.
Um personagem que freqüentemente agredia e ameaçava esse herói era o centauro Nessos. Certa vez, Hércules encontrava-se no interior de uma gruta e percebeu contra a luz da saída da cavidade, um centauro. Rapidamente, ele se armou com seu arco e lançou a flecha envenenada, achando que se tratava de Nessos. Para seu espanto, era Chíron quem ali estava a sua procura. Embora com um ferimento gravíssimo na pata o centauro não morrera, já que era imortal, mas estava sofrendo de dores lancinantes em uma lesão que não cicatrizava. Devido ao sofrimento, Chíron solicitou a Plutão que lhe fosse permitido abandonar o reino dos vivos. O centauro foi alertado que esta passagem do reino dos vivos para o dos mortos, somente seria permitida se encontrasse alguém que aceitasse e recebesse a sua imortalidade. Hércules tratou de rumar ao Cáucaso, onde matou a águia e arrebentou as correntes libertando Prometeu que havia aceito a troca proposta por Chíron. Desta forma, Prometeu retorna de seu castigo, reconcilia-se com Zeus e volta para o Olimpo; mas já que Zeus afirmara que o suplício duraria milhares de anos e que um deus não deve mentir, excogitou-se um subterfúgio. De um dos elos da cadeia que agrilhoava o Titã se fez um anel, no qual se introduziu um pedacinho do rochedo; desse modo, Prometeu continuava, simbolicamente, sempre preso ao Cáucaso.
O Dilúvio
A humanidade anteriormente criada, passou por várias fases, a primeira chamada Idade Áurea, era da inocência e da felicidade, seguida da Idade de Prata, inferior a anterior, embora melhor que a de Bronze, que deu ao homem um temperamento mais violento, obrigando-o a recorrer às armas. A pior e mais dura foi a Idade do Ferro, época que os crimes aumentaram e a modéstia, a verdade e a honra desapareceram.
Zeus, vendo o estado das coisas na terra, encheu-se de ira e convocou os deuses para um concílio. A estrada onde estão os palácios dos deuses, percorrida por eles até o palácio do céu pode ser vista até hoje como a Via Láctea. Quando os deuses estavam reunidos, Zeus descreveu-lhes os acontecimentos e terminou dizendo que era sua intenção destruir a população inteira e criar uma nova raça terrestre diferente da primeira, que fosse mais digna de viver e mais devota dos deuses.
Ao terminar o discurso, pegou um raio e preparou-se para lançá-lo contra a terra, a fim de destruí-la por meio do fogo. Mas foi alertado, a tempo pelos deuses, que uma conflagração dessa poderia incendiar o próprio céu e o Olimpo. Então ele mudou de idéia e resolveu afogá-la com um grande dilúvio.
Desta catástrofe, que encobriu todas as montanhas, somente o Parnaso ficou mais alto que as águas, onde se refugiaram apenas Pirra e Deucalião. Ele, um homem justo e ela, uma devota fiel dos deuses. Com o abaixamento do nível das águas e o reaparecimento da terra, cabe a este casal o repovoamento da terra.
Eles consultaram um oráculo em um templo ainda cheio de lodo e receberam como resposta: “- Saí do templo com as cabeças cobertas e as vestimentas soltas, e atirai para trás de vós os ossos de vossa mãe”.
Depois de muita reflexão, eles entenderam que a terra é a grande mãe e as pedras são seus ossos.
Dessa forma, obedeceram lançando pedras para trás por sobre as cabeças. Quando as pedras caíam, começavam a amolecer e aos poucos tomavam uma aparência tosca humana. Aos poucos, como se estivessem na mão de um escultor, as pedras lançadas pela mão de Pirra transformavam-se em mulheres, enquanto que as lançadas por Deucalião, em homens.
Prometeu desafia os deuses e quer ultrapassá-los. Amarrado ao pilar da necessidade, ele encontra alívio no sono, mas segue aterrado por ansiedades e pensamentos céleres como a águia, que ferem e dilaceram o seu espírito desperto e fazem do seu corpo uma fonte de tormento.
Epimeteu é o servo inconseqüente dos impulsos e que o arrastam pela vida. Jovial, extrovertido e como que embriagado dos sonhos generosos e esperanças que alimenta, ele tropeça pela existência em meio a apuros e prazeres efêmeros. Toda opção tem custos. O conflito entre Prometeu e Epimeteu é de todas as épocas e povoa cada peito humano. Na fábula dos dois irmãos mitológicos, está a lenda de todo um povo que aspira aos poderes e confortos da racionalidade de Prometeu, mas se nega obstinadamente a abrir mão dos gozos e delícias da imprevidência de Epimeteu.
A lição do mito de Prometeu, é que podemos transcender as nossas limitações, desde que isso não seja um gesto gratuito. Perdemos alguma coisa e, às vezes, é a que mais queremos. No caso de Prometeu, perdeu a liberdade, a integridade física, seu contato com os humanos. Porém o que ganhou no final, depois de suportar o castigo de Zeus, foi a integração com o coletivo, seu sacrifício sublimou a sua existência e ele superou o estágio do egoísmo da individualidade. Através desse sofrimento pessoal alcançou a imortalidade.
Sua dor não foi vã: a humanidade sobreviveu graças a seu gesto heróico de roubar o fogo do céu.
O Mito ma Astrologia
Estamos na Idade do Bronze.
Muita coisa estava acontecendo: guerras, injustiças e toda sorte de crimes comuns e hediondos. A vida humana era considerada miserável e dolorosa de ser vivida. Zeus então resolveu acabar com tudo julgando que nenhum homem era merecedor da proteção de quaisquer dos deuses do Olimpo.
Pensando assim, Zeus determinou que se fizesse o dilúvio. Sabendo do que estava para acontecer, Prometeu avisou a seu filho Deucalião e o orientou para construir uma grande arca. Nela seriam colocadas a esposa, os familiares e as provisões necessárias. Choveu intensamente durante nove dias e nove noites. O planeta todo transbordava em água e a arca de Deucalião foi até o Monte Parnaso, um dos locais não invadido pelas águas. Desembarcaram em terra firme e imediatamente ofereceram um sacrifício a Zeus em agradecimento por suas vidas, aparentemente as únicas que restaram no planeta Terra. Porém a medida que as águas foram descendo, o casal entristecido via animais e pessoas mortas. Desesperados, pediram a Zeus que a raça humana fosse reconstituída.
Assim, foram orientados a jogarem pedras para trás. A Terra foi então repovoada, porém pouco depois o homem voltou a apresentar os mesmos padrões de comportamento e nunca mais houve paz.
Prometeu, como aquariano, faz a escolha pelo grupo com o qual se identifica. Como signo fixo, os aquarianos se preocupam profundamente com a lealdade, a fidelidade, a confiança. Neste signo encontra-se o arquétipo da amizade, portanto eles se identificam com o grupo que partilha seus ideais e nem sempre com sua família de sangue. Sua opção é pelos amigos e pela tribo que compartilhe suas idéias sobre a vida e sua visão a respeito do mundo.
A lenda de Prometeu é a que melhor representa o padrão mítico do Aquário. Sendo o grande trabalhador social cósmico, rouba o fogo sagrado para doá-lo à humanidade, para que todos tenham acesso a seus benefícios, mesmo tendo que pagar um alto preço por sua ousadia. O aquariano usa sua rebeldia em obras que favorecem a coletividade. Isto, muitas vezes, é encarado como sua missão na Terra.
Prometeu pode ser considerado um herói porque trouxe o fogo divino aos homens. Porém, do ponto de vista dos deuses, ele cometeu uma transgressão, pela qual foi severamente punido. Primeiro, com a caixa de Pandora, que traz a consciência da limitada condição humana, e depois com o castigo do Cáucaso.
Essa situação chama a atenção: o senso de pecado que surge quando se faz qualquer esforço no sentido da realização individual. O isolamento de seus semelhantes é um paradoxo para a mente social do aquariano.
Não por acaso, todos os campos de atividades consideradas, classicamente, aquarianas: a ciência, invenção, assistência social, psicologia e mesmo a astrologia, são mescladas pela solidão. Embora todo o trabalho seja feito para os outros, o profissional dessas áreas costuma ser, essencialmente, solitário. É como se precisasse desse tipo de tarefa, de promoção social e humana, para poder aliviar um pouco dessa intensa falta de compreensão, por se sentir um ser de outra dimensão.
vanguarda, nem sempre as pessoas conseguem compreender e nem assimilar a mensagem que ele traz. Radical, original, intempestivo, se fixa em idéias ou em uma ideologia, gostam de olhar o céu e contemplar o firmamento, são utópicos e podem apresentar grande dificuldade em lidar com a rotina do dia-a-dia, devem aprender a contemporizar, suas vidas estão sempre se remodelando e estruturas obsoletas são substituídas pelas novas, normalmente repudiam o animalesco, o primitivo, tem grande instinto civilizador num sentido gregário pois os aquarianos sentem-se confortáveis na criação de grupos. Porém, apesar de estar sempre voltado para a comunidade, para os grupos, é extremamente individualista. Muitas vezes são subtraídos de seus cargos ou do seio de uma comunidade em que representam um papel importante, mas é porque lhes está destinada uma nova função, com novas oportunidades, novos caminhos. Seus atos extremos, que muitas vezes, lhes dão a sua fama de exótico, na verdade são apenas tentativas de compartilhar as sementes do fogo, para que todos tenham acesso à sabedoria.
Como detém em si a mudança do status-quo, são tidos como rebeldes, revolucionários e anarquistas. Muitos inventores e artistas estão em grande número entre os aquarianos. Rompem fronteiras, não aceitam limites, buscam a verdade, são científicos e intelectuais. Tem muitas vezes uma criatividade compulsiva. Preocupam-se com a fidelidade, lealdade e confiança. A amizade lhes é importante pois é com os amigos que compartilham suas idéias. As vezes, os aquarianos tem a sensação de não pertencerem ao planeta terra ou a esta dimensão. Acham que tem uma missão mas nem sempre tem consciência de qual seja, são extremamente apegados a liberdade e defendem com tenacidade suas idéias.
Fonte: www.sca.org.br
Hesíodo
O mito de Prometeu e Epimeteu segundo Ésquilo, Hesíodo e Platão
1. Hesíodo e Ésquilo
O mito de Prometeu é descrito na literatura clássica principalmente em Hesíodo. Aparece nas duas obras do poeta, Teogonia e Os trabalhos e os Dias, sendo que na segunda ele é recontado e complementado. Afora Hesíodo, outra obra importante, a tragédia Prometeu Acorrentado, é dedicada a ele. Porém nesta tragédia o mito não está completo, pois começa no instante em que Hefesto e Cratos castigam o titã, a mando de Zeus pai. Prometeu, em diversas partes da tragédia, se refere aos motivos que o levaram a ser acorrentado. A tragédia fazia parte de uma trilogia sobre Prometeu, mas as outras duas partes se perderam.
Como explica Junito de Souza Brandão, o nome Prometeu, segundo a etimologia popular, teria vindo da conjunção das palavras gregas pró (antes) e manthánein (saber, ver). Ou seja, Prometeu equivaleria a prudente ou previdente. Embora, como afirma Ésquilo, Prometeu não supusesse o teor do castigo de Zeus ao desafiá-lo, ainda assim lhe é atribuído um caráter oracular, por ter proferido um vaticínio sobre a queda de Zeus, o governador. Alguns outros mitógrafos atribuem a teoria desta previsão a Têmis. A profecia diz que o filho da nereida Tétis e de Zeus destronaria o pai. Por causa disso, Zeus desiste de seduzir a nereida e se apressa a lhe dar um esposo mortal, que acabou sendo Peleu. Este cuidado de Zeus também se verifica quando ele engole a mãe de Atena, Métis (sabedoria, astúcia) sua primeira esposa -, para que não nascesse dela um segundo filho mais poderoso que o pai. Zeus engole Métis ainda grávida, e Atena, deusa da sabedoria, nasce da cabeça do pai.
Prometeu, que parece detestar Zeus – como se observa na tragédia esquiliana pelo desprezo a seu mensageiro Hermes ou quando critica a arrogância de Zeus e diz abominar os demais deuses era filho do titã Jápeto e da oceânide Clímene. Apenas em Ésquilo a mãe de Prometeu é Têmis, a deusa da justiça. Tinha como irmãos Atlas, Menécio e Epimeteu, sendo que todos eles foram castigados por Zeus. Jápeto era irmão de Crono (Prometeu era, portanto, primo de Zeus) e de Oceano, que em Ésquilo sai do seu reino e avança sobre a Terra para tentar dissuadir o sobrinho Prometeu de sua revolta e dizer a ele que intercederia junto a Zeus, uma prova ferrenha de sua amizade.
Nos versos 510 a 516 da Teogonia, está contada a história de Prometeu segundo Hesíodo. Consta ali que a primeira falta de Prometeu para com Zeus em favor dos homens foi quando dividiu um boi em duas partes, uma cabendo a Zeus e outra aos mortais. Na primeira estavam as carnes e as vísceras, cobertas com o couro. Na segunda, apenas ossos, cobertos com a banha do animal.
Zeus, atraído pela banha, escolhe a segunda, e então a raiva, o rancor, e a cólera lhe subiram-lhe a cabeça e ao coração. Por conta disso, Zeus castiga os homens, negando a eles a força do fogo infatigável. O fogo representa simbolicamente a inteligência do homem. A afronta definitiva de Prometeu, porém, ocorre quando este rouba o brilho longevisível do infatigável fogo em oca Férula (Teogonia, 566). Com isto, Prometeu reanimou a inteligência do homem, que antes era semelhante aos fantasmas dos sonhos. A fala de Prometeu na tragédia de Ésquilo remete para ele a dívida dos mortais por terem a habilidade de, por exemplo, construir casas de tijolos e madeira. Os mortais, diz o titã, tudo faziam sem tino até que este lhes ensinasse as intricadas saídas e portas dos astros. Por elas inventei os números ( ) a composição das letras e a memória ( ), matriz universal. Prometeu diz, enfim, que os homens devem a ele todas as artes, inclusive a de domesticar animais selvagens e fazê-los trabalhar para os homens.
Por conta dos mortais terem o fogo, Zeus armou uma armadilha: mandou o filho de Hera, o deus coxo e ferreiro Hefesto, plasmar uma mulher ideal, fascinante, ao qual os deuses presentearam com alguns atributos de forma a torná-la irresistível. Esta mulher foi batizada por Hermes como Pandora, (pan = todos, dora = presente) e ela recebeu de Atena a arte da tecelagem, de Afrodite o poder de sedução, de Hermes as artimanhas e assim por diante. Pandora foi dada de presente para o atrapalhado Epimeteu, que ingenuamente a aceitou, a despeito da advertência de seu irmão Prometeu. A vingança planejada por Zeus estava contida numa jarra, que foi levada como presente de núpcias para Epimeteu e Pandora. Quando esta, por curiosidade feminina, abriu a jarra e rapidamente a fechou, escaparam todas as desgraças e calamidades da humanidade, restando na jarra apenas a esperança.
Quanto a Prometeu, foi castigado sendo preso pelas inquebráveis correntes de Hefesto no meio de uma coluna, e uma águia de longas asas enviada por Zeus comia-lhe o fígado imortal. Ao cabo do dia, chegava a negra noite por Prometeu ansiada, e seu fígado tornava a crescer. Teria sido assim eternamente se não fosse por intervenção de Herácles, que matou a águia como consentimento de Zeus.
2 – O mito de Prometeu e Epimeteu segundo Platão
Este é o resumo do mito tal como é contado por Hesíodo, com complementos de Ésquilo, tragediógrafo significativamente posterior a Hesíodo, mas contemporâneo de Platão. No Protágoras de Platão, todas as criaturas vivas aparecem como obra de vários deuses, que as plasmaram inicialmente com terra, limo e fogo. A palavra latina homem está ligada a humus (terra) e os gregos acreditavam que uma centelha divina de imortalidade percorria toda a Terra. São os outros deuses que incubem Prometeu e Epimeteu de dar aos seres as qualidades necessárias para se sustentarem quando viessem à luz. Epimeteu, por ser atrapalhado, torna-se um reversor dos benefícios de Prometeu aos homens, tanto em Hesíodo quanto em Platão. Protágoras continua a narrativa dizendo que Epimeteu pediu a seu irmão para que deixasse por sua conta a distribuição das qualidades aos seres criados, cabendo a Prometeu apenas uma revisão final.
Começa então a divisão compensatória de Epimeteu: a alguns dá força sem velocidade, a outros dá apenas velocidade. Tendo em vista o que conhecemos dos animais hoje, sabemos que é perfeitamente possível um animal ter força e velocidade ao mesmo tempo, como no caso de uma leoa ou guepardo.
Para algumas criaturas, Epimeteu deu armas. Aos que não a tinham, achou diferentes soluções, como asas para fugir aos pequenos e tamanho a outros. É certo que asas são um meio de transporte ideal para as fugas, mas também o são para a caça, como comprovam as aves rapinaces predadoras. As qualidades foram assim distribuídas para que houvesse um equilíbrio, e não viessem as espécies destruir umas às outras. Depois Epimeteu provê os seres com o necessário para sobreviverem no frio, os pêlos.
Por último determinou o que cada um deveria comer, de acordo com a sua constituição: ervas, frutos, raízes e carne. Os que comiam carne, de acordo com o mito, se reproduziriam menos do que os herbívoros. Hoje sabemos que o número de filhotes faz parte de duas estratégias de perpetuação de espécie que independem do hábito alimentar. Na primeira, as mães têm filhotes em grande número, sendo que poucos chegarão na vida adulta. Na segunda, a mãe tem poucos filhotes, e se esforça para que todos atinjam a idade da reprodução. Um elefante herbívoro, por exemplo, tem apenas um filhote por vez, ao passo que uma armadeira predadora tem vários.
Epimeteu, por não refletir, termina a sua distribuição das qualidades, mas deixa de lado um ser: o homem. O que sobrou para o homem? Nada, permanecera nu e sem defesa. Estava se aproximando a hora determinada para que o homem chegasse à luz e Prometeu aparece para fazer sua parte. Não encontrando outra solução, Prometeu é obrigado a roubar o fogo de Hefesto e a sabedoria de Atena, deusa de olhos verde-mar. De posse dessas duas qualidades, o homem estava apto a trabalhar o fogo nas suas diversas utilidades, e assim garantir a sobrevivência.
Porém, a qualidade necessária para os homens se relacionarem entre si se encontrava nas mãos de Zeus: a política. E era proibido a Prometeu penetrar na Acrópole de Zeus, vigiada por temíveis sentinelas.
Protágoras termina o mito dizendo que consta ter sido Prometeu morto por este crime, o que não é possível, pois Prometeu era imortal. As diferenças entre as narrativas de Platão e Hesíodo são mais visíveis que as semelhanças. Por exemplo, em Hesíodo o trabalho é um castigo do Crônida aos mortais, o mito platônico nos leva a crer que o trabalho é uma dádiva. O nascimentos dos mortais em Hesíodo é bem anterior a Platão, se tomarmos como referência o roubo do fogo, que em Hesíodo se dá depois do nascimentos dos homens. Em Ésquilo, o homem vive por séculos sem conseguir a aptidão necessária, antes de receber o fogo como presente. Isto representa a dificuldade de sobrevivência do homem nas eras primitivas, ou a miséria do homem na Idade do ferro, como afirma Junito Brandão.
Em Platão o homem já obtém a capacidade de trabalhar o fogo desde a sua criação. A miséria em Platão consiste na falta da arte política, indispensável para a fortificação dos homens em cidades e a instituição de um governo virtuoso baseado na justiça.
Diz Platão que não demorou aos homens usarem a sabedoria herdada de Atena para desenvolverem uma linguagem, construir casas e roupas e procurar alimentos. Porém, não tendo política, não conseguia vencer as feras nem guerrear, pois não tinham a arte militar, parte da política. E, ao tentar se reunirem em grupo, a anarquia reinante fazia de todos inimigos e vítimas de querelas militares. Os homens então passaram a se destruir, vítimas das feras e deles próprios.
Zeus, preocupado com o iminente desaparecimento dos homens, mandou seu filho e mensageiro Hermes distribuir pudor e justiça, para que pudessem se relacionar e subsistir. O pudor e a justiça deveriam, ao contrário das demais artes, serem distribuídos igualmente a todos os homens, e aqueles que não a tivessem deveriam morrer, por estarem contra o princípio unificador da sociedade.
Protágoras exibe o seu modo de ver do mito de Prometeu o qual fiz um resumo, para responder a questão de Sócrates sobre a virtude, se ela pode ou não ser ensinada. Sócrates, neste diálogo, fora levado por Hipócrates na casa de Cálias, o belo. Hipócrates queria desfrutar dos ensinamentos do famoso Protágoras, usando a influência de Sócrates. Protágoras, estrangeiro em Atenas por ser de Abdera, prometia, em troca de dinheiro, tornar o jovem mais sábio e com a alma mais rica. Protágoras, como sofista, exercia uma espécie de ensino superior, no qual os jovens bem nascidos de casas abastadas despontavam para exercer atividades de liderança na pólis.
Protágoras generaliza a atividade do sofista, enxerga como sofistas figuras diversas: Hesíodo, Homero, Simônides, Orfeu, Pítocles e outros (Protágoras, 316d).
Ao mesmo tempo se distancia dos outros sofistas contemporâneos como Hípias ao dizer que não ensinará aos jovens as artes da astronomia, geometria, música e cálculo. (Protágoras, 319 a) O jovem aprendiz, ao iniciar seus estudos superiores, é reconduzido a estas artes, que já estudou.
No método de Protágoras, o aprendiz é levado diretamente ao assunto que o interessava quando procurou o mestre: a prudência nas relações familiares que o deixará mais apto para os assuntos da cidade.
Bem administrar a casa (economia), e o Estado (política), resumiam a virtude política, objeto dos ensinamentos dos sofistas. Para isso o jovem era treinado a falar bem sobre qualquer assunto, e Protágoras, como mestre e grande retórico, orgulha-se disto. Sócrates, pelo contrário, admite sua inaptidão nos debates constituídos de longos períodos, preferindo ao invés destes a investigação em falas curtas. Por duas vezes ameaça interromper o embate com Protágoras se o mesmo não concordar com seus termos. Num dado momento do diálogo, os ouvintes intercedem, e na parte final as falas de Sócrates constituem longos períodos, enquanto Protágoras apenas dá respostas curtas. Mas esta não é a única troca de papéis, como veremos.
Sócrates apresentara a Protágoras, como principal objeção à impossibilidade do ensino da virtude o fato de homens virtuosos, como Péricles, não terem tido filhos virtuosos. Como ficaria o mito de Protágoras então, se ele diz que a virtude é necessária e comum a todos? Protágoras não pretendia o seu mito verdadeiro, ele é um instrumento escolhido, dentre outros, para expor a sua teoria. Para Protágoras todos os homens são capazes de alcançar a virtude, mas somente pelo estudo e aplicação. Ninguém puniria as pessoas que tem algum defeito sem ter culpa como a feiúra ou a baixa estatura , mas alguém que se apresenta injusto é punido. Para ser justo, o cidadão grego era ensinado desde pequeno a ser racional e a caminhar para a virtude, pelos pais, que procuram a cada ato demonstrar as virtudes como justiça, temperança e santidade. Na formação das crianças, também é usado o exemplo de heróis virtuosos do passado, cantado em poemas como os de Homero. Se a criança aprende, tudo o bem, senão, ela é levada a se corrigir através da ameaça de castigos violentos. Isto é explicado por Protágoras com o exemplo dos tocadores de flauta.
A virtude é generalizada, imaginemos que tocar flauta também o fosse: é de se esperar que os filhos dos melhores tocadores de flauta fossem melhores também? Não necessariamente. Todos saberiam tocar flauta minimamente, mas os grandes talentos nasceriam em famílias diferentes.
Fica assim respondida a questão de Sócrates, que ficou muito impressionado com a sabedoria de Protágoras: todos teriam virtude em potência, mas somente os mais aplicados a consegueriam.
Sócrates se refere a Protágoras com o seu maior elogio a alguém: o homem mais sábio de nosso tempo. É neste diálogo também que o oponente de Sócrates apresenta objeções mais sólidas, em outros diálogos os interlocutores geralmente se limitam a concordar.
A resposta agradou a Sócrates, mas ainda resta uma dificuldade pendente: a definição de virtude. Esta dificuldade irá permanecer até o fim do diálogo, e ela também se encontra em Mênon.
Sócrates chegará a cinco exemplos claros de virtude o que será aceito por Protágoras-; que são: a sabedoria. a temperança, a coragem, a justiça e a santidade (394 a); e a uma definição: a virtude é o conhecimento. O problema é saber se cada uma destas partes da virtude são semelhantes entre si e a virtude é Una, ou se cada uma das cinco partes é diferente. sendo virtude ao seu modo.
Todo encadeamento do diálogo Mênon parte da recusa de Sócrates em aceitar a definição de virtude como virtude política, dada pelos sofistas. Para Sócrates, a virtude é única, e tem um caráter geral em virtude do qual as virtudes são virtudes. O efeito-tremelga socrático levará Mênon a reformular várias vezes sua definição de virtude. Sócrates procura distinguir se a virtude é uma ciência, para saber então se ela pode ser ensinada. Recusa a opinião de Mênon, de ser a virtude procurar o bem com justiça, pois a justiça é só parte da virtude. Para Sócrates, a virtude para ser útil e boa deve ser exercida com a razão, o bom-senso.
Coragem sem raciocínio não passa de audácia, assim como a temperança não vale muito sem reflexão. A virtude, como qualidade útil da alma, é então definida como a razão, no seu todo ou em parte. ( Mênon, 89). Mas Sócrates e Mênon verificam que os mestres da virtude não concordam entre si, pois ora dizem que a virtude é ensinável, ora não.
Como Sócrates demonstrou com o escravo, no episódio dos quadrados, a reminiscência oferece a base racional para transformar as opiniões certas em ciência através do encadeamento de umas com as outras por um raciocínio de causalidade. (Mênon, 98) Como só o que é ensinável é ciência, e a virtude não é ensinável ( para Sócrates ela é privilégio de poucos ), ela não é ciência. Porém, ela nos guia retamente, então ela é posta como opinião certa, que dá o mesmo resultado da ciência. Os virtuosos acertam sem saber, por isso devem ser chamados de divinos. Os políticos não conseguem formar outros iguais a eles. A virtude, portanto, é a razão, mas exercida por favor divino. A base é o mito, é necessário receber um bom quinhão das moiras para poder agir retamente, conforme a razão e o raciocínio ditam. Platão nos leva a crer que quem age com virtude elevando assim o seu espírito- é recompensado. Um exemplo dito está no final de A República com o mito de Er. No Mênon está presente esta predestinação do bom quinhão da divindade pois a virtude é uma ligação dos homens com os deuses -, na página 81, quando Sócrates expõe sua admiração pelo misticismo oracular e pelos versos de Píndaro, que afirma que Perséfone, esposa de Hades, forma reis gloriosos e homens poderosos com a alma daqueles que pagaram os pecados de outras vidas.
No mito de Protágoras, a virtude é presente divino, mantenedor da coesão social, mas só alcançável pela prática e estudo aplicado. Em Mênon ela é a razão (agir com bom senso) e exercida pelo favor divino, como determina o destino e as moiras. O Destino (fado) é regido pelas moiras, que para Ésquilo são mais poderosas que o próprio Zeus, pois ele não poderia escapar da fortuna que lhe foi preparada. (Prometeu Acorrentado, episódio II) Sócrates, explicando o poema de Simônides a Protágoras, demonstra que é difícil, porém possível se tornar virtuoso, ao passo que permanecer virtuoso é só para os deuses. No Protágoras ocorre então um elogio de Sócrates à razão, ao logos enquanto arte de medir, ou proporção e raciocínio aritmético. Para ele, é impossível o homem querer viver o mal conhecendo o bem, ou querer viver o desagradável se pode viver o agradável. Alguns prazeres, porém, causam danos posteriores, como os excessos de comidas, bebidas ou amor. Mas ao mesmo tempo algumas dores imediatas ocasionam ganhos futuros, como ser medicado ou praticar exercícios físicos. O que está em questão para o homem, no seu âmbito ação, é medir os prazeres e os sofrimentos de uma determinada situação para poder escolher o melhor caminho. Isto, muitas vezes, pode ser a salvação da vida, ou no mínimo ocasionar uma vida agradável. Sócrates demonstra que se você pode escolher o melhor, escolherá, e que as ações erradas decorrem apenas ignorância.
Sócrates admite então que se a virtude, como escolha acertada, depende apenas do conhecimento, ou é o conhecimento, ela pode ser ensinada, enquanto Protágoras parece defender no final do diálogo que a virtude pode ser tudo, menos o conhecimento. É devido a esta inversão de papéis, a qual já nos referimos antes, que Sócrates brinca dizendo não ter restado pedra sobre pedra da investigação. Vale lembrar que no jogo da dialética, uma vez assentado um princípio, não era permitido voltar atrás. A confusão talvez tenha acontecido por culpa de Epimeteu, que já havia se esquecido dos homens antes. Durante a investigação de Sócrates e Protágoras no decurso do diálogo, alguma coisa se perdeu. Seria necessário voltar tudo, e desvelar a questão procurando saber o que é a virtude em si, numa definição universal, o que é essencial para Sócrates. Sócrates toma Prometeu, benfazejo dos homens, como modelo no mito, e se dispõe a examinar novamente a questão. De fato, muitos diálogos platônicos estão envoltos nesta temática do ensino e prática da virtude. Alguns diálogos são ditos aporéticos, por não apresentarem uma solução, enquanto outros, como A República, oferecem algumas respostas mais exatas, no caso, um tratado sobre a educação de modo a selecionar os melhores, que conseguiriam experimentar a virtude e governar a cidade, fazendo dela justa. O importante no método socrático é que, como ele afirma em Mênon, leva quem o pratica a um questionamento constante, a um querer saber, ao auto-conhecimento e ao trabalho, ao passo que o método sofístico leva o homem à preguiça e à indolência.
Miguel Duclós
BIBLIOGRAFIA
1. Brandão, Junito de Souza. Mitologia grega. Volume 1. Editora vozes.
2. Ésquilo, Prometeu acorrentado. Editora vozes
3. Hesíodo. Os trabalhos e os dias. Tradução de Mário da Gama Khuri
4. Hesíodo, Teogonia. Tradução de Mário da Gama Khuri.
5. Platão, Mênon. Editora globo. Tradução de Jorge Paleikat.
6. Platão, Protágoras. Editora Globo, Tradução de Jorge Paleikat.
Fonte: www.consciencia.org
Hesíodo
Hesíodo – Poeta Grego
O Mito
O homem, desde os primórdios, tenta explicar a origem do mundo. Esse assunto sempre interessou a humanidade, devido estar ligado intrinsecamente a existência. Com os mitos o homem busca responder de onde veio e para aonde vai. Se engana quem tem uma leitura apressada dos mitos e acha que se trata apenas de uma visão fictícia da realidade. Os mitos têm linguagem simbólica, mas seu sentido é mais profundo do que pensamos, mesmo porque a realidade é maior que o poder de captação da mente humana, a realidade é feita de caos.
A concepção de mito faz parte indissociável da maneira humana de compreender a realidade. Os mitos não são vistos como lendas por aqueles que os respeitam, mas como histórias que realmente aconteceram nos tempos ancestrais, envolvendo seres sobrenaturais que produzem uma nova realidade (vide o mito de Adão e Eva).
Mito e Filosofia
A filosofia é um fenômeno restrito, surgiu em poucos lugares, como a Grécia e a Índia. Os mitos e a religião, ao contrário, são universais, surgiram em todos os povos do mundo. A filosofia apareceu como uma forma de explicar o mundo racionalmente, sem a utilização de mitos. Mas isso não aconteceu de repente, nem houve um abandono dos mitos, inclusive muitos filósofos se utilizaram de mitos para explicar suas concepções. Portanto, para se entender a filosofia é preciso partir dos mitos.
Existem descrições cosmogônicas que são intermediárias entre os mitos e as concepções filosóficas sobre a origem do universo. Tal é o caso da Teogonia de Hesíodo.
No Princípio era o Caos
Realmente antes de tudo existiu o Khaos (Caos)… (Hesíodo). A concepção de caos que se tem, contemporaneamente, é de desordem e de confusão. Caos vem da palavra grega khínein, que quer dizer abismo. Assim, caos era concebido como o abismo profundo, algo indefinido, anterior a todas as coisas. Alguns autores interpretam como divisão, mas divisão de quê? Muito já se escreveu sobre o Caos, mas sem se chegar a uma conclusão definitiva, aceita por todos.
Hesíodo, em seu poema Teogonia, busca implicitamente demonstrar que tudo tem uma origem.
Segundo ele, os primeiros “filhos” do Caos são: a Gaia, terra; o Tártaro, local mais profundo que Hades (o inferno dos gregos); e o Eros, amor, desejo, deus que supera todas as forças atraindo os opostos. A Terra se apoiava no Tártaro, que por sua vez era possível que se apoiasse no Caos. Naquele tempo, não se tinha a concepção de que a Terra flutuasse no espaço. Posteriormente, se acreditou que a Terra era uma bolha imersa dentro do Caos.
Teogonia significa origem dos deuses. Nesse mito os deuses surgem através do desejo de união de outros deuses ou da separação. Eros é o desejo. Mutantis muntandes, dos primitivos “filhos” do Caos são gerados deuses como Urano (Céu), que inicialmente vivia imerso na Terra, e os Titãs e as Titânidas, filhos e filhas resultantes da união de Gaia e de Urano.
O mito segue explicando que do Caos saiu as trevas. Das trevas saiu a luz. A Gaia (Terra) deu nascimento a Urano (céu), depois às montanhas e ao mar.
Segue-se a apresentação dos filhos da luz, dos filhos das trevas e da descendência da Terra – até o momento do nascimento de Zeus, que triunfará sobre seu pai, Cronos (tempo), começando então a era olímpicos.
Fonte: www.geocities.com
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