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Guerra do Camboja – O que foi
Guerra civil e luta de classes no Camboja – 1945-1953
Velhos fantasmas voltam a atormentar o imperialismo no país dos Khmers, com o reinício de uma violenta luta interburguesa após o golpe de Estado de julho deste ano e do alarde da imprensa mundial em torno da guerrilha maoísta do Khmer Vermelho (KV).
O KV, em meados da década de 70, dirigiu uma revolução social vitoriosa e, fruto dela, o Estado Operário deformado cambojano.
Embora tenha sido derrubado do poder por uma intervenção reacionária, apoiada pelas burocracias do Vietnã, da URSS e do próprio imperialismo ianque em 79, não foi esmagado, continuando suas ações militares contra o regime até hoje. Receioso de que o golpe desencadeie a volta de uma ofensiva guerrilheira diante da disputa entre as frações capitalistas, os EUA exigem atualmente a captura definitiva pelo novo governo golpista, do principal dirigente da guerrilha, Pol Pot.
Esta conjuntura no Camboja reafirma ironicamente a velha frase de Marx, segundo a qual quem enterra seus inimigos ainda vivos está condenando-os a viver por um longo período.
A guerra civil volta à cena no ex-Estado operário do Camboja.
Da Luta Antiimperialista à Revolução Anticapitalista
Laos, Camboja e Vietnã fazem parte da Indochina, uma península asiática que foi colônia da França desde meados do século passado. Na II Guerra Mundial, a região foi tomada pelo Japão e, em seguida, reconquistada pelo imperialismo francês que, finalmente, foi expulso da península em 1954 numa luta anti-colonial.
No Camboja, a derrota do imperialismo deu um novo impulso à luta pela independência nacional e à reforma agrária. Tarefas que as seculares dinastias ou os capitalistas orientais se mostraram incapazes de realizar, dado o seu servilismo às grandes potências ocidentais e ao Japão.
Para chegar ao poder, o rei Norodon Sihanouk abraça a causa anti-colonial e cria o partido da Comunidade Socialista Popular, que vence todas as eleições para a Assembléia Nacional, de 1955 até 1966.
Temeroso de perder o poder diante do ascenso da luta antiimperialista, procurou se manter isolado de todas as potências capitalistas e também do bloco de Estados operários. Em 1962, para atrair simpatia e exercer o controle do movimento de massas, nomeou como ministros vários intelectuais pró-stalinistas, alguns dos quais viriam a dirigir o Partido Comunista do Camboja (criado em 1951) no final da década de 60. Também, sob a pressão das massas cambojanas, o monarca permitiu que a Frente de Libertação Nacional (FLN) norte-vietnamita, dirigida por Ho Chi Min, que combatia a ditadura pró-ianque sul-vietnamita, se utilizasse de duas províncias no nordeste do país como postos de reabastecimento de armas, munições e víveres durante a Guerra do Vietnã, através da chamada trilha Ho Chi Min. Isso provocou um rompimento diplomático dos EUA com o Camboja em 1965.
Impulsionadas pela luta das massas vietnamitas que aprofundavam sua revolução rumo ao sul da península, os trabalhadores cambojanos se insurgiram contra seus capitalistas locais e a monarquia. Em 1967, Batambang, no principal distrito produtor de arroz, desencadeou-se um poderoso levante camponês espontâneo quando os latifundiários tentaram impor o pagamento de um aluguel pelas terras que os trabalhadores utilizavam livremente há um século.
Temendo que os trabalhadores cambojanos seguissem o exemplo de seus irmãos do país vizinho, Sihanouk expulsou de seu gabinete os intelectuais pró-stalinistas e reprimiu violentamente a rebelião, os comunistas e o conjunto das organizações de esquerda. Isto só fez atrair a simpatia da população para o PC, que foi obrigado a se refugiar no interior do país, organizando as guerrilhas contra o regime. Em 1970, o partido já tinha em suas fileiras cerca de 40 mil combatentes. Uma fração dirigida por Pol Pot e Hieng Samrin (ex-ministro de Sihanouk), que se inspirava na guerrilha camponesa dirigida por Mao na China, assume o controle do partido que passa a chamar-se Khmer Vermelho.
Em 1970, aproveitando-se de uma viagem ao exterior de Sihanouk, ocorre um golpe de Estado, encabeçado pelo general Lon Nol, antigo primeiro ministro de Sihanouk, que recebe o apoio das classes dominantes locais, da ditadura sul-vietnamita e dos EUA para deter a crescente influência do KV e expulsar a FLN do país, destruindo a trilha Ho Chin Min e interrompendo os reforços recebidos pelos vietcongs. Lon Nol instaura a República, mas continua isolado, com o poder restrito aos centros urbanos e sem apoio das áreas rurais controladas pelo KV.
Em 1970, os EUA invadem o Camboja e desencadeiam o maior bombardeio de todos os tempos contra um país oprimido, até então com alvos bastante precisos: dizimar a guerrilha do Khmer Vermelho e interceptar a trilha de Ho Chi Min. Foram 400 mil toneladas de bombas descarregadas pelos B-52 americanos, o equivalente a 7 bombas atômicas iguais a que foi solta sobre Hiroshima. Durante a guerra civil, impulsionada pelos ianques de 1970 a 1975, cerca de 600 mil pessoas morreram e outras 600 mil foram feridas.
Centenas de aldeias foram destruídas. O país se transformou no maior depósito de minas explosivas ativas até hoje. Para cada 267 habitantes um foi mutilado por explosões. Neste período, a população do campo, para onde foram voltados os bombardeios ianques, fugiu em massa da capital, Phnom Penh, e o número de habitantes subiu de 600 mil para 3 milhões. Além de provocar uma imensa tragédia logo de imediato, isso também deixou profundas sequelas na economia do país, que foi completamente destroçada, em particular a agricultura. A falta de alimentos levou milhões de pessoas à morte.
Toda essa tragédia que, posteriormente, a imprensa burguesa mundial (seguidas por Moscou e Hanói) veio atribuir única e exclusivamente ao KV e ao Estado operário, na verdade foram atrocidades cometidas ou provocadas pelos bárbaros imperialistas e seus títeres locais.
Sihanouk, exilado na China, e o KV, comandando a guerrilha dentro do país, formaram uma frente popular com o apoio dos vietcongs e da guerrilha do Laos para retomar o poder, foi a chamada Frente Unida Nacional do Kampuchea (FUNK). A guerra civil toma um novo impulso com o golpe de Estado e o ataque massivo e sistemático da Força Aérea americana.
Enquanto isso, no Vietnã, além do envio de centenas de pelotões para o Sul do país, do bloqueio de portos marítimos e do bombardeio de indústrias, vias de comunicações no norte do país, os EUA também estenderam o ataque genocida às escolas, hospitais e ao conjunto da população civil vietnamita, utilizando o que havia de mais destruidor em artefatos químicos (bombas de nalpam, desfolhantes químicos, bombas de fragmentação). Isto só fez aumentar o ódio da população que praticamente alistou-se toda na FLN. Homens, mulheres e crianças se armaram contra o inimigo ianque e seu títere no sul da península. Apesar de contar com o mais sofisticado armamento ocidental, os EUA foram incapazes de diminuir as forças defensivas da guerrilha vietcong; ao contrário, estimularam a revolução Indochina.
Os bombardeios americanos à trilha de Ho Chi Min que passava por dentro do Laos e Camboja, promoveram a unificação das massas contra a intervenção americana. O campesinato pobre cambojano, uma vez empurrado para a revolução pela política genocida de todos os setores da burguesia (monarquia, títeres pró-imperialistas, tropas de ocupação, etc), passa a controlar todo o interior do país.
Após sofrerem sucessivas baixas, os EUA foram obrigados a recuar. Tentando evitar o desastre completo de suas operações na região, os EUA buscaram um acordo diplomático com o Vietnã do Norte em 1973.
Durante os Acordos de Paz de Paris, em janeiro daquele ano, Washington se comprometia a retirar suas tropas do Vietnã e do Camboja, contanto que Hanói se opusesse à Revolução no Camboja, estimulando um governo de coalizão entre o KV e Lon Nol. Um blefe do imperialismo que já não reunia condições internas (protestos contra a guerra, divisão da burguesia sobre a intervenção), nem externas (baixas militares, alastramento da guerrilha a outros países) para o caso de ter que continuar a intervenção. Com a retirada das tropas do imperialismo, os governos títeres de Saigon e Phnom Penh ficaram desprotegidos e caíram diante do levante popular nos dois países quase que simultaneamente em 1975.
O Estado Operário do Kampuchea, uma Versão Extremada do Stalinismo
Ao lado do crescimento da guerrilha, poderosas manifestações de massas se alastraram no país entre os anos de 1974 e 1975 contra a burguesia dominante, incluindo a greve geral em Phnom Penh em 1974.
O governo Lon Nol, sem o apoio militar e econômico estrangeiro, completamente minado no interior e agora enfrentando a oposição dos trabalhadores das cidades, durou pouco para cair. Finalmente, os proletários e camponeses cambojanos acertaram as contas com os senhores de terra, coletores de impostos, usurários, funcionários corruptos e o conjunto da classe dominante do país. No dia 17 de abril de 1975, o KV conquista Phnom Penh, sendo saudado nas ruas da capital por uma massa de milhões de operários, estudantes e pobres agitando bandeiras vermelhas.
O KV começou a traçar uma linha independente de Moscou e Hanói quando a burocracia do Kremlin aproximou-se do Lon Nol, enquanto este último perseguia e massacrava milhares de comunistas, trabalhadores, estudantes e camponeses cambojanos. Para forçar o KV a aceitar um acordo com Lon Nol, o Vietnã chegou a suspender a ajuda que dava à guerrilha num dos momentos mais difíceis da guerra civil (provavelmente com o apoio tático de Pequim). Com base nas experiências desastrosas já ocorridas na China entre o PCCh e o Kuomitang e em sua própria experiência recente com o governo Sihanouk (1967), os dirigentes guerrilheiros cambojanos negaram-se a seguir os conselhos de Moscou, Pequim e Hanói em torno a um governo de coalizão com a burguesia, não porque fossem socialistas, mas por uma questão propriamente de sobrevivência.
Por outro lado, era impossível reconstruir o país com a economia completamente destroçada, combater a fome, a desnutrição e as epidemias generalizadas sem contar com todos os meios de produção existentes nas mãos do Estado, sem expropriar os capitalistas e os senhores de terra. Ao assumir o poder, o Khmer executa quase todos os membros do governo anterior. Praticamente só sobrevivem os que fugiram do país. O aparato burguês estatal foi completamente esmagado.
Foi praticamente extinta a propriedade privada. Não só a burguesia, mas imediatamente também o campesinato foi completamente expropriado e a agricultura foi coletivizada com a criação das unidades coletivas de produção organizada, em torno de 30 mil cooperativas agrícolas em todo o país. A revolução e a expropriação da burguesia significaram um avanço para as massas proletárias, do ponto de vista das violentas condições de atraso e exploração a que estavam submetidas em toda a história anterior do Camboja.
O Camboja passa a se chamar de República Popular do Kampuchea (RPK). Na nova Constituição cambojana, adotada em janeiro de 1976, em seu artigo 1º, o Camboja é proclamado “o Estado dos operários, camponeses, e de todas as outras camadas trabalhadoras do Camboja.” No artigo 2º é estabelecido que “todos os meios de produção importantes são propriedade coletiva do Estado e propriedade coletiva das pessoas comuns”. Como dirigentes do governo e do partido estão Pol Pot, Hieng Samrin e Khieu Sampham.
O Khmer passou a utilizar-se da demagogia xenofóbica e nacionalista para justificar a política reacionária de construir o socialismo isoladamente no Camboja, apostando num desenvolvimento completamente auto-suficiente. Boa parte desta campanha de conteúdo racista se orientava contra o Vietnã, que havia suspendido a ajuda financeira e militar à guerrilha, desde que o KV se negou a pactuar com Lon Nol. O regime tinha pretensões de transformar a RPK num grande exportador de arroz e produtos agrícolas em troca de ferramentas e maquinaria moderna.
A lógica era quanto maior a produção de arroz sob um trabalho intensivo e um consumo mínimo da população, maiores condições o país teria de se tornar auto-suficiente e acumular um excedente em produtos agrícolas, que poderia ser trocado no mercado mundial por maquinários e financiamentos da industrialização futura.
Este sistema mostrou-se completamente esgotado em menos de um ano, pois provocou uma imensa fome na população e estrangulou o desenvolvimento das forças produtivas.
Em comparação aos períodos da Revolução Russa, a situação da RPK foi pior do que se o país tivesse saído da condição do cerco imperialista e do comunismo de guerra (de 1917 a 21 na URSS) diretamente para a coletivização forçada e para os expurgos stalinistas, agravada a situação pela pouca industrialização, pela carência de riquezas minerais, pela pequena população de pouco mais de 6 milhões de habitantes (eram 7 milhões antes do golpe de Lon Nol).
Ao contrário da URSS, a revolução no Camboja não foi dirigida por um partido revolucionário como o partido bolchevique de Lênin e Trotsky, mas por uma guerrilha de inspiração maoísta.
As massas cambojanas não conheceram a democracia operária em suas organizações de massas. Isso foi um dos fatores principais para determinar a política da direção do Estado operário logo após a revolução.
Enquanto a URSS burocratizou-se alguns anos após a revolução, a República Popular do Kampuchéa já nasceu degenerada, com todos os vícios das burocracias stalinistas.
O aventureirismo sectário do regime de Pol Pot suprimiu virtualmente todas as formas de comércio e substituiu o uso do dinheiro pelo escambo primitivo. A política do primeiro ano, 75 a 1976, foi de voltar toda a economia do país para o desenvolvimento da agricultura, secundarizando a industrialização, restringindo-a à produção de manufaturas e deslocando uma grande parte da mão-de-obra urbana para o trabalho no campo. Toda esta reviravolta, denominada de “radical revolução social em todos os campos” pelo próprio regime, foi realizada com base em terríveis métodos repressivos e com a execução em massa dos que se opunham a orientação do KV. Muitas escolas, vias de transporte, hospitais, comunicações, não foram somente destruídos, como entraram em colapso durante esse período.
As medidas aplicadas no Camboja, já arrasado pela bárbarie imperialista, não foram uma originalidade surgida na cabeça de Pol Pot, mas uma cópia (ainda mais distorcida) da coletivização forçada que já havia sido colocada em prática com métodos tão ou mais cruéis por Stálin e Mao e, como na URSS e na China, revelou-se um terrível desastre, levando à morte milhões de pessoas.
Se pretendemos definir exatamente a política da camarilha de Pol Pot, teremos que fazê-la usando como instrumento o materialismo histórico e não pinçando xingamentos das páginas da imprensa burguesa.
Temos que entender o regime estabelecido como reflexo do extremo atraso do país e da bárbarie trazida não pelo Khmer Vermelho, mas pela pilhagem imperialista.
Pode-se dizer que a tragédia da revolução cambojana é uma versão extremada da tragédia do stalinismo, num país onde a revolução proletária se realizou sob as piores condições possíveis.
Somente esta clareza marxista, e não o impressionismo pequeno-burguês, impactado por uma ostensiva campanha da mídia imperialista, é que nos levará ao entendimento correto das tarefas da revolução indochina.
Ao invés de suprimir o comércio, era necessário restaurar a economia, introduzindo elementos do mercado livre até certo ponto, permitindo que ao lado das cooperativas agrícolas coletivizadas pudessem haver pequenas propriedades rurais particulares, onde o pequeno camponês pudesse decidir por continuar cultivando o seu lote de terra enquanto achasse necessário e possível.
Era necessário planificar urgentemente a economia com vistas não a retroceder o país a uma economia agrária, mas para fazê-lo avançar rumo à industrialização. Era preciso recorrer urgente a uma NEP.
Mas antes de tudo, seria fundamental a construção de um partido revolucionário internacionalista por dentro das fileiras da guerrilha, através de um trabalho clandestino em suas bases.
Era necessário impulsionar a formação de conselhos de operários, soldados, estudantes e camponeses contra a política da direção stalinista, que colocasse a coordenação do Estado operário contra o cerco imperialista e o isolamento, estabelecendo uma democracia operária.
Após o desastre inicial da coletivização forçada e das deportações em massa, o regime volta atrás, e começa a reconstruir as indústrias têxteis, de pescado, borracheira, etc., trazendo de volta a população às cidades.
Em 1976, o país tem aproximadamente 100 fábricas e a população da capital chega a quase 300 mil habitantes. Antes do final da década, a economia volta a ter uma pequena recuperação.
A carência de mão-de-obra mais qualificada obriga o regime a reabrir as escolas e hospitais improvisados.
A Guerra entre Estados Operários e a Intervenção Contra-revolucionária dos Stalinistas de Hanói
Em resposta à ostensiva campanha nacionalista e anti-vietnamita, a burocracia de Hanói, que já havia utilizado de vários expedientes (chantagens, corte de toda a ajuda econômica e militar) para exercer o controle sobre a camarilha de Pol Pot, incita uma disputa dentro do aparato do KV, provocando um grande racha no partido de Pol Pot, que rompeu relações diplomáticas com o Vietnã, acusando-o de estar preparando uma invasão do país. Hieng Samrin, o segundo homem em importância e Secretário Geral do PC Cambojano rompeu com o KV, juntamente com Hun Sen, e fugiu para o Vietnã.
Os burocratas dissidentes voltam meses depois, em dezembro de 1978, liderando a Frente Unida de Salvação Nacional do Kampuchea (FUSNK) numa intervenção militar que ocupou a capital e as principais cidades do país. A partir de então, o PC Cambojano e o KV passaram a ser dois partidos distintos e inimigos.
Heng Samrin passa a ser o presidente do país e Hun Sen, o seu primeiro-ministro, apoiados por uma intervenção militar da URSS e Vietnã, que golpeou o regime de Pol Pot.
Em represália, a política de Hanói impulsionada pelo Kremlin, a China, sob o pretexto de defender a integridade de uma minoria chinesa residente no Vietnã, armou provocações reacionárias na fronteira do Vietnã em fevereiro de 1979. O Khmer Vermelho foi destituído, mas não foi derrotado, rearticulando a guerrilha no interior do país com a ajuda militar de Pequim.
A intervenção militar vietnamita cumpria o duplo objetivo de frear a revolução indochina e, ao mesmo tempo, estender o controle de Hanói sobre o país vizinho, como mecanismo de barganha junto ao imperialismo.
A ocupação militar de territórios pela burocracia pode desempenhar uma função necessária e progressista, quando se trata da defesa das bases sociais do Estado operário sitiado pelo imperialismo que buscava se utilizar do território que foi ocupado como ponta de lança contra o Estado operário.
Mas esse não foi o caso da ocupação do Camboja, e essa lei não é válida quando se trata de um outro Estado operário.
A política externa da burocracia do Kremlin e de Hanói é a continuação da política interna em seus respectivos países e, no Camboja, afirmou-se como uma correia de transmissão do imperialismo para destruir as bases sociais do Estado operário que teve como consequência a restauração capitalista no país.
Apesar do chauvinismo anti-vietnamita de Pol Pot, a RPK não constituía uma ameaça do imperialismo à existência do Estado Operário vietnamita.
É verdade que não estava completamente descartada a possibilidade de que a China instigasse a RPK a invadir o Vietnã,o que de fato ocorreu, instigado por Moscou. Mas, inclusive para os burocratas de Pequim, era mais importante conter a revolução indochinesa.
A medida reacionária levada adiante por Hanói apenas substituiu a burocracia autóctone por outra ainda mais estranha aos interesses das massas, trazendo de volta a guerra civil, colocando à frente do Estado um regime pró-imperialista, anticoletivista, contra a revolução cambojana. Isto enfraqueceu ainda mais profundamente o Estado operário degenerado, arruinando o pouco desenvolvimento conseguido pela expropriação da burguesia e a recuperação do país após a guerra civil precedente.
A intervenção burocrática definitivamente preparou as bases para a volta dos capitalistas ao poder.
O imperialismo imediatamente saudou a intervenção, ressaltando seus aspectos positivos.
Seu principal porta-voz no Camboja passou ser a guerrilha de direita alimentada pelos EUA e formada pelos restos dos antigos partidários de Lon Nol, reunida em torno de Son Sann, que havia se exilado em Paris.
Chamava-se Frente Popular de Libertação do Povo cambojano ou Khmer Serei. Através do jornal Le Martin de Paris, de 05/03/1979, fizeram um balanço positivo da intervenção e do novo regime da FUNSK.
Os principais objetivos do Khmer Serei eram liquidar a guerrilha do Khmer Vermelho e restabelecer um governo genuínamente capitalista em aliança com a monarquia, também exilada, para reconstruir o Estado burguês.
Embora o imperialismo tenha apoiado de imediato a intervenção, isso de modo algum significa que estivesse satisfeito com o novo governo pró-vietnamita, fazendo de tudo para corroer suas bases.
Em 1982, as forças da oposição formam um governo no exílio, tendo como presidente o rei Sihanouk; Son Sann, do Khmer Serei, como primeiro-ministro e Khieu Sampham, dirigente do KV, no cargo de vice-presidente. Isso demonstra também que, afastado da condição parasitária sobre a economia, o stalinismo volta à sua condição habitual de frente populista.
Da Ocupação Vietnamita à Crise Atual
Apesar de sua disposição, os agentes da burocracia de Hanói não conseguiram levar adiante de imediato a restauração capitalista e a contra-revolução no país:
1) porque ainda se encontrava sob a tormenta da experiência da guerra pela conquista do Vietnã do Sul, onde se mostrou impossível a política de convivência pacífica com os capitalistas sulistas e com o imperialismo, onde os stalinistas foram obrigados a ir além de onde queriam chegar, na via de ruptura com a burguesia;
2) porque o imperialismo não tinha o menor interesse na extensão da influência política dos stalinistas vietnamitas, de quem tinham acabado de sofrer a sua maior derrota militar e política de toda a história, nem na manutenção do governo de Hieng Samrin. Os EUA queriam a derrubada de Pol Pot, para restaurar o capitalismo no país e restabelecer o domínio de uma burguesia sob a sua inteira confiança. A invasão só lhe serviu para fazer retroceder a revolução indochina com base nas disputas inter-burocráticas. Mas o novo governo pró-vietnamita não lhe servia de nada. Por isso, pela negativa do imperialismo e das classes dominantes locais, que condicionavam qualquer negociação à retirada das tropas vietnamitas do país, não foi possível à burocracia stalinista fazer retroceder de imediato a RPK à condição de semi-colônia do imperialismo, sob um governo de frente popular;
3) Em nenhum processo contra-revolucionário é possível operar a transformação imediata, da noite para o dia, de uma economia coletivizada para uma economia onde os principais meios de produção tornem-se propriedades de capitalistas, principalmente num país onde a propriedade privada havia sido completamente extinta. Estabeleceu-se um conflito entre a economia e o Estado.
Sem contar no esforço redobrado que teria de ser feito pelas tropas de ocupação para arrancar das massas cambojanas as conquistas da revolução.
Isso somente foi possível após uma das mais violentas guerras civis da história, onde a economia, antes de passar para as mãos dos capitalistas, foi liquidada em meados de 80.
Os trotskistas deveriam defender uma frente militar com o KV contra a intervenção reacionária da burocracia de Hanói, com seu próprio programa, no sentido de superar a burocracia do KV no decorrer da luta, rumo à revolução política e aproveitar a crise inter-burocrática para forjar uma seção da IV internacional no Kampuchéa. Mas, uma vez que a intervenção reacionária da burocracia de Hanói tenha se estabelecido no poder, no início da década de 80, continuamos a luta contra ela sob um programa defensista, em defesa da propriedade coletiva, mas sem emprestar qualquer apoio à frente popular oposicionista formada em torno da Coalizão do Governo Democrático do Camboja, em 1982.
Ainda que o governo de Hieng Samrin tenha feito vários acordos para a abertura do mercado ao imperialismo desde que tomou o poder, os capitalistas só sentiram confiança para investir no país a partir de meados da década de 80. Não se pode falar que a contra-revolução foi operada ?à frio? no Camboja, a menos que se despreze os milhões de mortes provocadas pela fome e pela guerra civil ininterrupta que durou mais de 10 anos. Em oposição aos desvios da política coletivista do Khmer Vermelho (que mais parecia uma ideia emprestada da coletivização forçada de Stálin resumida na fórmula “esmagar os kulaks enquanto classe”), o regime de Heng Samrin e Hun Sen vai ao extremo oposto, restabelecendo a economia de mercado para estimular o investimento interno e a iniciativa privada, patrocinando o desenvolvimento de empresas privadas e fazendo surgir uma classe de “novos ricos”.
Imerso numa profunda crise econômica o Vietnã, submetido ao bloqueio econômico ianque, passa a depender cada vez mais da ajuda soviética. “No auge da relação soviética-vietnamita, a contribuição anual de Moscou a seu aliado foi estimada em um bilhão de dólares. Mais de nove mil técnicos e conselheiros viviam em Hanói” (Cadernos do Terceiro Mundo, nº191). Em 1988, Pequim condicionou o reatamento de relações entre a China e a URSS à retirada das tropas vietnamitas da RPK e ao fim da ajuda soviética ao Vietnã.
Esta última condição vem definitivamente ocorrer com a contra-revolução na URSS. Em janeiro de 1989, China e Vietnã estabeleceram um acordo sobre a retirada total das forças de Hanói do território Cambojano.
Em contrapartida, a China se comprometia a reduzir gradualmente a ajuda militar à Coalizão e a abandonar a ideia de um retorno do KV ao poder. Em junho de 1989, o nome do país volta a ser Camboja.
Na Conferência de Paz de setembro de 1990, China e URSS resolvem cessar por completo o envio de armas a seus aliados, o KV e o governo Hun Sen, respectivamente. No mesmo período, o monarca Sihanouk procura distanciar-se do Khmer Vermelho e rompe com a Coalizão.
Nos Acordos de Paz de 1991, em Paris, entre Hun Sen, Sihanouk, o KV e a guerrilha de direita de Son Sann, são marcadas eleições para o ano seguinte, mas é exigido do KV que deponha as armas e desmobilize suas tropas. Isolado e perseguido, o KV via nessa possibilidade a sua extinção política e física, sujeitos a serem caçados pelo imperialismo completamente desarmados. Pol Pot retoma a guerrilha, boicotando as eleições.
Só com as eleições e a volta definitiva da burguesia ao poder, (incluindo os ex-stalinistas ligados a Hun Sen que enriqueceram com a destruição do Estado operário, passando de casta burocrática à classe capitalista) é que a burguesia volta a investir na reconstrução da economia capitalista no país destroçado.
Ainda com profundas desconfianças e atritos entre si, os monarquistas e os ex-stalinistas de Hun Sen formam um governo de coalizão. Sob o novo governo capitalista, cresce a insatisfação popular que, pela ausência de um partido revolucionário, é capitalizada pelo Khmer Vermelho, cada vez mais forte em seus confrontos contra as forças do governo de coalizão. Em junho de 1994, a Assembleia Nacional põe o KV na ilegalidade. Em resposta, a guerrilha redobra suas ações e anuncia a formação de um governo paralelo com sede na cidade de Anlong Veng, no norte do país. No ano seguinte, a guerrilha cerca Battambang e exige a renúncia do governo local. Em abril de 1995, Khieu Sampham, dirigente do KV, anuncia pela rádio clandestina da guerrilha a “retomada da guerra popular” para a derrubada do governo.
O Golpe de Hun Sen e o Julgamento de Pol Pot
No dia 05 de julho houve um golpe de Estado no Camboja. O vice primeiro ministro, Hun Sen, do Partido Popular do Camboja (PPC), ex-PC Cambojano, destituiu o primeiro ministro, o príncipe Norodon Ranariddh, com quem dividia um governo de coalizão desde 1993. Desde o golpe, as forças de Hun Sen vêm prendendo, torturando e assassinando todos os suspeitos de serem inimigos do regime a partir dos próprios membros da Funcinpec (Frente da Unidade Nacional para um Camboja Independente, Neutro, Pacífico e Cooperativo), o partido monarquista de Ranariddh. A perseguição conta com requintes de crueldade. As tropas de Hun Sen obrigam suas vítimas a beber água do esgoto, arrancam suas unhas e olhos durante os interrogatórios para depois executá-las sumariamente.
“A Cruz Vermelha do Camboja estima em mais de 3 mil vítimas dos combates entre as tropas de Hun Sen e os soldados leais a Ranariddh” (O Estado de São Paulo, 17/07).
Mas este não é o acontecimento de maior importância que motivou a imprensa mundial a voltar seus holofotes sobre o Camboja nestes últimos dias.
O golpe de Estado foi apenas uma medida preventiva de Hun Sen diante de um outro acontecimento alardeado dezenas de vezes antes, mas que, de fato, só veio a ocorrer vinte dias após o golpe: o julgamento de Pol Pot, o principal dirigente do grupo guerrilheiro KV por mais de 30 anos. Pol Pot foi julgado pela própria guerrilha, mas essa não é a primeira vez que isso ocorre.
O Khmer Vermelho já anunciou que ele teria sido “condenado” e “afastado” da direção do grupo pelo menos outras duas vezes no passado.
As preocupações em torno do KV estão ligadas ao fato deste agrupamento ter dirigido uma revolução social vitoriosa e depois ter ficado a frente do Estado operário cambojano durante os anos de 1975 a 1979.
O que provocou o golpista Hun Sen a desencadear um ataque decisivo contra Norodon Ranariddh, com quem compartilhava o governo desde 1993, foi a aproximação entre a Funcinpec e o KV.
Em crescente desvantagem militar e em conflitos frente a Hun Sen, desde o início do mandato, o monarca fechou um acordo de paz com a guerrilha tendo em vista as eleições do próximo ano.
O julgamento de Pol Pot significou uma reorientação da política do Khmer para integrar-se institucionalmente ao regime bur-guês, legalizando-se como partido político a exemplo do que ocorreu com outras guerrilhas, como a Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN) de El Salvador em 1992, a União Revolucionária Nacional Guatemalteca (URNG) em maio de 96 e agora, o EZLN no México.
O imperialismo Condiciona o Apoio ao Golpe à Captura de Pol Pot
O imperialismo há muito quer a cabeça de Pol Pot como quem busca desesperadamente por um troféu. Há quase 20 anos o KV foi arrancado do poder, todavia não foi esmagado.
O objetivo é definitivamente exorcizar o país do fantasma da revolução com a condenação pública e internacional daquele que mais foi identificado pelo terror do Estado operário contra as classes dominantes e o grande capital internacional.
O governo Clinton aposta na mesma via utilizada por Fujimori e a CIA, quando da prisão de Abimael Guzman, dirigente do Sendero Luminoso, para desmoralizar a guerrilha cambojana. Transformou, desse modo, a captura de Pol Pot em condição para aceitar o golpe de Hun Sen.
“Estamos atrás de Pol Pot, disse um membro do governo Clinton. Um ponto de discussão que queremos ter com Hun Sen é dizer que ele pode voltar às boas graças com o mundo entregando o sujeito. Oficialmente, um porta-voz do Departamento de Estado, James Foley, disse que os EUA apóiam os esforços para encontrar Pol Pot, mas não reconhecem o julgamento conduzido na semana passada. Ele disse que os EUA não tinham confirmação independente do paradeiro de Pol Pot. Não damos aval a julgamentos na ausência de procedimentos legais ou incoerentes com as normas jurídicas internacionais aceitas pelas Nações Unidas, o que este julgamento na selva parece ser, disse ele” ( The New York Times, 29/07).
A contra-revolução no Camboja e o acordo entre o PPC e a Funcinpec, que garantiu um frágil governo de coalizão durante os últimos 4 anos no país, são apresentados como “o feito mais importante da ONU até hoje” (OESP, 17/07).
Apesar de contar com a ajuda do stalinismo vietnamita para sufocar a revolução cambojana, a “pacificação” da ONU saiu “ao preço de US$3 bilhões, para os quais os EUA contribuíram com US$160 milhões”.
Todo este dinheiro foi investido para reorganizar o Estado burguês completamente destruído pela revolução.
Dos 3 bilhões resultou uma conta de 1 bilhão de dólares em cotas atrasadas para os EUA pagar. “Os membros do Congresso dos EUA, sempre dispostos a culpar o ocupante da Casa Branca por qualquer revés que a política americana sofra no cenário internacional”… vinculou a quitação desta dívida à estabilidade do regime cambojano.
“Para a reputação da ONU, o colapso do governo de coalizão no Camboja não poderia ter ocorrido em pior momento, dado o recente acordo do Congresso com a Casa Branca e o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, pelo qual os EUA começariam o pagamento das cotas atrasadas, num total de quase US$1 bilhão. Como se recorda, por insistência do influente presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Jesse Helms (o mesmo criador da lei Helms-Burton de bloqueio econômico a Cuba), os pagamentos foram condicionados à reestruturação e a provas concretas de um trabalho efetivo no Camboja” (idem).
Ao que tudo indica, o golpe de Hun Sen teve pelo menos o dedo de setores do imperialismo ianque ligados diretametne ao Partido Republicano, interessado em desacreditar a política internacional de Clinton e, mais ainda, opostos a desembolsar tamanha bolada para a ONU por um país que, do ponto de vista econômico, é completamente secundário, acreditando que este dinheiro poderia servir melhor aos interesses imediatos.
Numa demonstração de que está mais interessado na resolução imediata do conflito, inclusive através do massacre promovido pelas tropas do PPC, do que na volta do príncipe ao poder, os governos imperialistas, entre eles os EUA e Austrália se negaram a conceder visto e fecharam as portas de suas embaixadas a exilados políticos, enquanto as tropas oficiais trucidavam influentes políticos do antigo gabinete como o ministro do interior, Ho Sok, morto com um tiro na cabeça.
O maior temor do imperialismo é que as massas cambojanas que já fizeram uma revolução no país voltem à cena numa situação extremamente explosiva de violenta crise interburguesa.
A pretensão é estancar imediatamente a crise e ?normalizar? a situação. “De Tókio, o governo japonês decidiu ontem restabelecer sua ajuda econômica ao Camboja logo que o Governo de Phnom Penh abra as fronteiras aos cidadãos japoneses, segundo informações oficiais” (ABC espanhol, 18/07).
Através da Associação das Nações do Sudoeste Asiático (ASEN) o Mercosul daquela região que reúne Malásia, Indonésia, Cingapura, Tailândia, Vietnã, Filipinas, Brunei, Mianmá e Laos, o imperialismo procura uma saída negociada para a crise antes da entrada da população em cena contra o novo regime repressor de Hun Sen. Para isso, basta que o novo ditador garanta que vai respeitar o calendário eleitoral para o próximo ano, embora ele já tenha avisado que antes precisa fazer algumas alterações na regra do jogo.
Um importante setor da Funcinpec já foi cooptado pelo novo governo sob as bençãos do rei Sihanouk, exilado na China. O rei se opõe à volta de seu filho ao poder, o príncipe Norodon e apoiou a manobra de substituição do príncipe por outro membro da Funcinpec, o ex-ministro das Relações Exteriores, Ung Huot, no cargo de primeiro-ministro.
Cada vez menos prestigiadas, as forças do príncipe tentam agora se desvincular do KV para atrair o apoio internacional. Embora tenha recebido o apoio do Khmer, através de sua rádio clandestina na luta contra Hun Sen, “o príncipe garantiu aos EUA que não vai tentar cooptar as forças do enfraquecido KV Não vou tentar envolver o KV nas confrontações” (Folha de São Paulo, 12/07). Tentando atrair as simpatias do imperialismo, os partidários de Norodon, hoje refugiados na selva, como o ex-sub-chefe do Estado Maior do Exército do Camboja, Nhek Bunchhay, tentou argumentar que por estarem mais próximos da guerrilha que Hun Sen era mais fácil a eles negociarem a entrega de Pol Pot a um tribunal internacional, garantindo que “os guerrilheiros chefiados por Pol Pot aceitaram entregar seu chefe para que fosse julgado em um tribunal internacional” (FSP, 19/06).
Por sua vez, o golpista tenta vincular os partidários de Norodon ao Khmer. “Hun Sen disse que estava depondo Rennaridh porque o líder tentou negociar uma anistia para alguns membros do KV, e a rendição de Pol Pot” (The New York Times, 29/07) e alega que o julgamento de Pol Pot não passa de uma farsa.
“Hun Sen disse ontem que o julgamento de Pol Pot é uma farsa e assegurou que o chefe histórico do KV continua controlando suas forças no norte do país. ?Este é um jogo político do Khmer, Pol Pot está em Anlong Veng e continua comandando seus guerrilheiros?” (OESP, 29/07).
De qualquer forma, temendo que as forças de Hun Sen sejam impotentes diante de um novo levante de massas, os EUA prometeram reduzir em dois terços a sua equipe diplomática presente no Camboja, enviar ao país três navios de guerra e deslocar 2.200 fuzileiros americanos baseados no Japão. Além disso, “a secretária de Estado americano, Madaleine Albright, pediu ontem a criação de um grupo chamado Amigoss do Camboja? para respaldar os esforços da ASEAN para resolver a crise política cambojana e manter as eleições convocadas para o próximo ano” (idem).
Lutar por um Partido Revolucionário para Reconstruir o Estado Operário
A experiência recente aponta que toda vez que o Khmer anuncia o julgamento de Pol Pot, significa uma nova tentativa de realibitar-se com vistas a uma composição anti-regime pró-vietnamita. Desta vez, Hun Sen se antecipou e sacou primeiro contra uma nova coalizão Khmer Vermelho e monarquistas.
Desde que o KV perdeu o poder, quase todos os anos a morte de Pol Pot é anunciada.
O suposto afastamento do dirigente histórico da guerrilha foi um jogo de cena que o KV utilizou sempre que queria se aproximar de setores da burguesia.
Seu julgamento pelo próprio KV já ocorreu pelo menos outras duas vezes, em 1979 e em 1985. Desta vez, dentre as principais acusações lançadas contra ele é de assassinar o ex-ministro da defesa do Khmer,
Son Sen e de destruir a reconciliação nacional. No entanto, uma vez mais, seus substitutos, dentre eles o histórico homem público do KV, Khieu Samphau, negaram-se a entregar Pol Pot aos tribunais internacionais.
Noutras tentativas de demonstrar disposição de negociar com as tropas do príncipe, “o Khmer Vermelho libertou cinco pilotos cambojanos capturados em fevereiro durante uma missão de negociação que resultou na morte de dez militares” (OESP, 31/07) e também decidiu adotar o nome de Partido de Solidariedade Nacional, para participar das eleições no próximo ano.
A política frente populista de acordos com setores da burguesia e de integração às estruturas do Estado capitalista não apresenta nenhuma perspectiva para as massas exploradas reconstruírem o Estado operário do Kampuchea.
Os revolucionários devem se opor a que Pol Pot ou qualquer outro membro da guerrilha seja entregue a um tribunal internacional dos genocidas imperialistas.
Nos opomos à tática da guerrilha de intensificar os ataques ao governo com o único objetivo de obter melhores condições nas negociações de paz e para uma “reconciliação nacional”, ao contrário da luta por tomar de assalto o poder. Também somos contra a que o Khmer entregue suas armas e desmobilize suas forças militares.
Defendemos que coloque suas armas a serviço das organizações de luta dos operários e camponeses cambojanos. Lutamos pela construção de um partido operário revolucionário no Camboja, que embora possa recorrer à guerra de guerrilhas contra o regime de Hun Sen, volte seus esforços à construção dos Conselhos operários, camponeses e populares, utilizando os métodos da democracia proletária para, sob um programa revolucionário, pôr abaixo o governo burguês, forjando um governo operário e camponês.
Guerra do Camboja
Guerra do Camboja -Civil
Na década de 1960 e 1970, o Camboja foi sendo puxado em muitas direções diferentes. Eles estavam no meio de uma guerra civil e, ao mesmo tempo estavam sendo arrastados para o conflito no Vietnã.
O Camboja é um país pequeno, composta principalmente budistas. Príncipe Sihanouk estava no meio de um golpe militar, e estava sendo derrubado pelo general Lon Nol, o presidente da República Khmer.
Príncipe Sihanouk, eventualmente juntou forças com uma organização comunista chamado o Khmer Rouge.
A guerra civil começou causando estragos em todo o país. Enquanto esta guerra civil estava acontecendo, a Guerra do Vietnã estava acontecendo ao lado.
Os americanos mataram mais de 750 mil cambojanos no esforço para destruir os norte-vietnamitas. Estima-se que mais de 150.000 cambojanos morreram na guerra civil, a maioria deles civis.
Em 1975, o Khmer Rouge ganhou a guerra civil e ganhou o poder no Camboja. A organização foi dirigido por um homem nome Pol Pot. Pol Pot foi educado na França e profundamente admirado comunismo chinês.
Ele e seu partido acreditava que todos os intelectuais e qualquer coisa que poderiam ameaçar o comunismo precisava ser abolido.
A primeira parte do genocídio cambojano começou com o Êxodo. Todo mundo foi forçado a deixar as cidades, incluindo os doentes, idosos e crianças.
Pessoas que estavam muito lento ou se recusaram a sair foram mortos no local. O plano de Pol Pot era fazer Camboja em uma organização em fazendas, com os cidadãos como os trabalhadores.
O nome do país foi mudado para Kampuchea e todos os direitos e liberdades civis foram imediatamente levados. Basicamente tudo o que foi desligado; hospitais, faculdades e fábricas incluídas.
O Khmer Vermelho acreditava que suas maiores ameaças eram intelectuais, porque eles tinham a inteligência para questionar a autoridade e, possivelmente, derrubar o regime. Assim, professores, médicos, advogados e até membros do exército foram imediatamente mortos. Mesmo usando óculos foi motivo suficiente para que o Khmer Vermelho para assassinar civis.
Eles levaram eliminando intelectuais tão a sério que até mesmo as famílias alargadas foram mortos; por exemplo, o primo de segundo grau de um médico poderia ser morto por suas relações.
Música e livros foram banidos junto com a religião. Templos foram destruídas e milhares de monges perderam suas vidas ao regime.
Relatos de testemunhas afirmaram ainda que rir era uma razão de ser morto. Relacionamentos foram basicamente banida juntamente com a maioria das formas de afeto físico.
A maioria das pessoas tornou-se trabalhadores forçados, onde as condições eram horríveis. Longos dias, um trabalho exaustivo, e pouca comida contribuiu para muitas mortes.
Pessoas foram propositadamente colocados em campos de longe de casa para que eles não tinham para onde fugir.
O Khmer Vermelho tinha poder, mas com o poder vem a paranoia. Muitos membros do Regime foram assassinados por traição e traição. Em 25 de dezembro de 1978 os vietnamitas invadiram o Camboja e terminou com o reinado de terror do Khmer Rouge.
Pol Pot e outros membros do seu partido foi se esconder no oeste, mas a luta continuou durante vinte anos. Pol Pot foi preso em 1997, e morreu em 1998 de insuficiência cardíaca.
Muitos ex-membros do Khmer Rouge continuar a ir a julgamento por seus crimes contra a humanidades.
A contagem total de pessoas assassinadas durante o genocídio cambojano chegou a mais de dois milhões.
Guerra do Camboja – História
Partido Comunista do Camboja
O país tem sua origem no antigo Império Khmer, que floresce entre os séculos IX e XII, quando é governado por uma Monarquia absolutista budista, e inclui as regiões onde ficam atualmente a Tailândia, o Laos e o sul do Vietnã. Em 1863, a nação torna-se protetorado da França, que preserva a estrutura estatal, mas privatiza a terra (que era de propriedade do rei) e estimula o comércio.
A influência francesa permanece intocada durante a maior parte da ocupação japonesa na II Guerra Mundial. Em março de 1945, porém, os japoneses depõem as autoridades francesas e oferecem a independência ao Camboja. O rei Norodom Sihanouk cancela os tratados com a França, mas não opõe resistência ao restabelecimento do protetorado em outubro de 1945.
O breve período de independência sob a tutela do Japão estimula o surgimento de um forte movimento nacionalista, liderado pelo Partido Comunista do Camboja, fundado em 1951. Pressionado, o rei Sihanouk assume a retórica anticolonial. Em novembro de 1953, a França concede a independência ao Camboja.
A Guerra do Vietnã
Em março de 1955, Sihanouk abdica em favor do pai, volta a usar o título de príncipe e cria a Comunidade Socialista Popular. Seu partido vence todas as eleições para a Assembléia Nacional de 1955 a 1966, e Sihanouk governa com amplo poder. Enfrenta, porém, a oposição de esquerda, que apóia as guerrilhas no vizinho Vietnã do Sul.
A partir de 1964, o governo cambojano enfrenta uma rebelião comunista em seu próprio país, com o surgimento do Khmer Vermelho.
O território cambojano é utilizado como refúgio pelas tropas norte-vietnamitas e por guerrilheiros comunistas do Vietnã do Sul. Por esse motivo, os EUA realizam bombardeios aéreos no país e torna-se cada vez mais difícil manter o Camboja à margem da Guerra do Vietnã.
Sihanouk insiste na neutralidade do Camboja e é deposto em março de 1970 pelo marechal Lon Nol, seu antigo primeiro-ministro, num golpe de Estado apoiado pelos EUA. No exílio, Sihanouk forma o Governo Real de União Nacional do Camboja (Grunc) em parceria com o Khmer Vermelho. Em outubro de 1970, Lon Nol proclama a República, sendo eleito presidente em 1972.
Sem apoio nas áreas rurais, o regime de Lon Nol tem sua autoridade limitada aos centros urbanos, que vão sendo cercados pelos guerrilheiros. Finalmente, em abril de 1975, o Khmer Vermelho toma a capital, Phnom Penh, quase sem resistência.
Sihanouk é declarado chefe de Estado, mas o Khmer Vermelho é, de fato, o detentor do poder. O radicalismo do Khmer faz milhares de presos, desloca à força a população urbana para fazendas coletivas no campo e praticamente elimina a indústria nacional. Em janeiro de 1976, o nome do país é mudado para Kampuchea Democrático. Em abril, Sihanouk renuncia e o Grunc é dissolvido. Pol Pot, líder máximo do Khmer Vermelho, torna-se primeiro-ministro. O regime aproxima-se da China e adota uma política agressiva em relação ao já unificado Vietnã, apoiado pela União Soviética.
A Invasão vietnamita
As freqüentes incursões do Khmer Vermelho em território vietnamita acirram as tensões entre os dois países. Em 1979, o Camboja é invadido por tropas do Vietnã, que tomam Phnom Penh e instalam no poder dissidentes cambojanos liderados por Heng Samrin.
O país está devastado: de 800 mil a 2,5 milhões de cambojanos tinham morrido em conseqüência da fome, de doenças ou em campos de extermínio.
O Khmer Vermelho passa a praticar uma guerra de guerrilhas contra as tropas vietnamitas e o governo de Samrin, que enfrenta também a oposição da Frente de Libertação Nacional do Povo Khmer, liderada pelo ex-primeiro-ministro Son Sann, apoiado pelos EUA. Ocorre uma fuga em massa de cambojanos para a Tailândia.
Em 1980, a ONU reconhece o Khmer Vermelho como legítimo representante do Camboja. Em junho de 1982, as forças oposicionistas formam uma aliança, cujos dirigentes são Sihanouk (presidente), Son Sann (primeiro-ministro) e um dos líderes do Khmer Vermelho, Khieu Samphan, (vice-presidente). A aliança recebe o apoio da China e dos EUA. A URSS continua auxiliando o governo de Samrin.
Negociações
Após uma série de vitórias da aliança oposicionista, a China anuncia, em 1987, seu apoio a um governo de coalizão, liderado por Sihanouk, desde que as tropas vietnamitas abandonem o Camboja. China e URSS, em processo de reaproximação diplomática, pressionam as partes em conflito pelo acordo. Em setembro de 1989, os vietnamitas saem do Camboja. Em setembro de 1990, as duas nações suspendem o envio de armas a seus respectivos aliados, e as quatro facções (o governo, Sihanouk, o Khmer Vermelho e o grupo de Son Sann) aceitam a formação da Autoridade Transitória da ONU no Camboja. O país passa a se chamar Kampuchea.
Acordo de paz
Em outubro de 1991, as quatro facções assinam um acordo de paz, em Paris. Seus líderes voltam a Phnom Penh, mas Khieu Samphan, do Khmer Vermelho, quase é linchado pela população e foge do país.
Enquanto cerca de 400 mil refugiados cambojanos retornam da Tailândia e a ONU chega a Phnom Penh, o Khmer Vermelho reinicia os combates.
O partido de Sihanouk vence as eleições em maio de 1993, obtendo 58 das 120 cadeiras do Parlamento. Em junho, Sihanouk forma um governo de coligação com os membros do antigo regime pró-vietnamita, liderados por Hun Sen – que detém a força militar.
Uma nova Constituição é aprovada em setembro e Sihanouk é coroado rei. Apesar de um número crescente de deserções, o Khmer Vermelho redobra a intensidade de suas ações ao longo de 1995. Sihanouk, com saúde precária, passa a liderança do país ao seu filho, o príncipe Norodom Ranariddh.
Novo golpe
Durante todo o ano de 1996 aumentam as tensões entre os dois primeiros-ministros, Norodom Ranariddh e Hun Sen. Em abril de 1997, um atentado com granadas mata 16 pessoas em frente do Parlamento.
O alvo era Sam Rainsy, ferrenho opositor de Hun Sen, que se vinha aproximando de Ranariddh. O príncipe também se aproximava de uma facção do Khmer Vermelho. Em 5 de julho, Hun Sen desfecha um golpe de Estado, pondo fim a quatro anos de coabitação entre facções inimigas no governo. Três dias de bombardeio deixam pelo menos 35 mortos. Milhares de pessoas saem da capital.
O príncipe Ranariddh foge para Paris um dia antes de ser deposto, e seus aliados são perseguidos. Organismos de defesa de direitos humanos denunciam saques, torturas e assassinatos. Para se consolidar no poder, os golpistas apóiam a indicação de Ung Hout – até então ministro das Relações Exteriores e partidário do príncipe Ranariddh – para o cargo de co-primeiro-ministro. O Parlamento confirma sua nomeação em 6 de agosto.
O ressurgimento de Pol-Pot
Violenta cisão ocorria dentro do Khmer Vermelho pouco antes do golpe de Hun Sen. Após passar 18 anos escondido na selva, chegando muitas vezes a ser dado como morto, Pol-Pot reaparece em cena.
É acusado de mandar matar vários ex-companheiros do Khmer Vermelho, com suas famílias, porque negociavam com Ranariddh.
A crueldade do crime provoca revolta na tropa. Pol-Pot é capturado, julgado (conforme é mostrado num vídeo em 28 de julho) e condenado à prisão perpétua, mas em casa.
Sua prisão é considerada uma providência para a depuração política dentro do Khmer Vermelho, já que sua imagem estava vinculada ao genocídio dos anos 70.
Fonte: www.geocities.com/www.coldwar.org/www.conhecimentosgerais.com.br/notevenpast.org
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