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Em 1904, a cidade do Rio de Janeiro no Brasil foi assolada por tumultos ao longo de quatro dias em novembro.
O motivo do tumulto foi a resistência a uma lei de vacinação obrigatória que havia sido aprovada pelo Congresso no início daquele ano.
Cidadãos que foram deslocados pela gentrificação da cidade e estavam entre os grupos mais desfavorecidos se uniram a grupos antivacinas e antigovernamentais, incluindo alguns membros das forças armadas.
Quando o governo começou a tentar vacinar à força contra a varíola, a violência eclodiu.
Ao final dos tumultos, dezenas estavam mortos e centenas ficaram feridos. O governo de alguma forma conseguiu evitar um golpe, e o presidente brasileiro decidiu não pressionar mais com a vacinação obrigatória.
Pouco mais de cem anos depois, os brasileiros fariam longas filas para tomar a vacina da Febre Amarela depois que uma epidemia varreu o país, demonstrando mais uma vez que a política de vacinas é inatamente política.
Revolta da Vacina – História do Brasil
Rio de Janeiro, capital federal, ano de 1904.
O povo amotinado levanta barricadas. Bondes são depredados e incendiados. Lojas saqueadas. O episódio fica conhecido como a Revolta da Vacina.
O Rio de Janeiro é uma cidade com ruelas estreitas, sujas. Cheia de cortiços onde se amontoa a população pobre. A falta de saneamento básico e as condições de higiene fazem da cidade um foco de epidemias, principalmente Febre Amarela, Varíola e Peste.
Em 1895, ao atracar no Rio de Janeiro, o navio italiano Lombardia perdeu 234 de seus 337 tripulantes, mortos por Febre Amarela.
“Viaje direto para Argentina sem passar pelos perigosos focos de epidemias do Brasil”.
Com esta propaganda, uma companhia de viagem europeia tranquilizava seus clientes, no início do século.
Rodrigues Alves (1902) assume a presidência do Brasil com o programa de sanear e reformar o Rio de Janeiro, nos moldes das cidades europeias. Os motivos são manter o turismo e atrair investidores estrangeiros.
Mais de seiscentos cortiços são derrubados no centro da cidade para a construção de avenidas.
Populações de bairros inteiros, sem ter para onde ir, são desalojadas à força e se refugiam nos morros. As favelas começam a se expandir.
O médico sanitarista Oswaldo Cruz é encarregado de combater as epidemias.
Para atacar a Febre Amarela, Oswaldo Cruz segue uma teoria de médicos cubanos, que aponta um tipo de mosquito como o seu transmissor.
Para acabar com a peste, transmitida pela pulga do rato, um esquadrão de 50 homens percorre a cidade espalhando raticidas e removendo lixo.
Um novo cargo público é criado: o dos compradores de ratos, que saem pelas ruas pagando trezentos réis por rato capturado.
Brigadas de Mata-Mosquitos desinfetam ruas e casas. A população acha uma maluquice responsabilizar um mosquito pela Febre Amarela.
Quase toda a imprensa fica contra Oswaldo Cruz e ridiculariza sua campanha. Mas foi a Varíola que pôs a cidade em pé de guerra.
Apoiadas em uma lei federal, as Brigadas Sanitárias entravam nas casas e vacinavam pessoas à força. Setores de oposição ao governo gritavam contra as medidas autoritárias de Oswaldo Cruz.
Oswaldo Cruz
Em novembro de 1904, explode a revolta. Por mais de uma semana as ruas do Rio de Janeiro vivem uma guerra civil. A Escola Militar de Praia Vermelha, comandada por altos escalões do Exército, alia-se aos revoltosos. Militares insatisfeitos com o presidente Rodrigues Alves armam um golpe de Estado.
O governo reage. Tropas leais atacam os revoltosos. No centro da cidade, pelotões disparam contra a multidão. O número de mortos da Revolta da Vacina é desconhecido. O de feridos ultrapassa cem.
Mais de mil pessoas são presas e deportadas para o Acre.
As medidas sanitárias continuam. Em 1903, 469 pessoas morrem de Febre Amarela. No ano seguinte, este número cai para 39.
Em 1904, a Varíola havia matado cerca de 3.500 pessoas. Dois anos depois, esta doença faz apenas 9 vítimas. A cidade fica livre das epidemias. Mas começa a sofrer com a proliferação das favelas.
Revolta da Vacina – Movimento
A Revolta da Vacina foi um movimento que ocorreu no ano de 1904, no qual o governo da cidade do Rio de Janeiro determinou que a vacinação contra a varíola fosse obrigatória para a população.
Essa revolta não aconteceu apenas pelo motivo da vacinação ser obrigatória, mas também porque as autoridades da época estavam reestruturando a cidade carioca para que houvesse uma melhor estrutura sanitária, com o intuito da contaminação da população por doenças diminuísse.
Oswaldo Cruz foi a pessoa encarregada para combater as doenças: Varíola, Febre Amarela e Peste Bubônica. As doenças Febre Amarela e Peste Bubônica foram controladas de outras maneiras, mas Oswaldo Cruz não viu outra solução se não utilizar vacinas para diminuir os casos com Varíola.
Oficiais da Praia Vermelha se uniram à população e foram às ruas do Rio de Janeiro para protestar com essas medidas, pois alegavam que essas “acabariam com a estrutura tradicional da cidade” além do deslocamento de moradores de suas moradias para outros bairros e locais. O governo respondeu à altura, e mandou militares combaterem esses manifestantes.
A vacinação se tornando obrigatória, dois anos depois, Oswaldo Cruz percebeu que as mortes diminuíram de 3.500 pessoas para apenas 9 pessoas.
E desde então Oswaldo Cruz se tornou um agente importante na saúde do Brasil e do mundo.
Revolta da Vacina – Governo
Pobreza. Preconceito. Desemprego. Os sintomas estavam todos lá e combinados explodiram numa convulsão que há exatos 100 anos tomou as ruas da capital do Brasil e ficou conhecida como Revolta da Vacina
Havia alguma coisa diferente no ar naquela manha abafada e úmida de novembro. Nos últimos dias, boatos haviam tomado os bares, as conversas em família depois que estudantes e operários saíram em passeata pelo centro do Rio de Janeiro, gritando palavras de ordem e protestando contra o governo do presidente Rodrigues Alves.
Mas nem quem acompanhava de perto as notícias podia prever os acontecimentos que se seguiriam. De repente, sem que parecesse haver qualquer organização, grupos de pessoas começaram a chegar ao centro.
Tomaram as ruas do Ouvidor, da Quitanda, da Assembleia e, quando chegaram à praça Tiradentes, já eram milhares. Abaixo a vacina, gritavam. O comércio baixou as portas e a polícia chegou.
A multidão respondeu em coro: Morra a polícia. Houve tiros. Correria. O centro virou campo de batalha. No meio de cacetadas, tiros e pernadas, talvez ninguém do lado dos manifestantes ou dos homens da lei se lembrasse de como aquilo havia começado.
Para entender melhor os sangrentos dias de novembro de 1904, vamos recuar um pouco mais no tempo e ver como andavam as coisas no Rio, na virada do século 19 para o 20. Na época, a maioria dos moradores tinha motivos de sobra para reclamar da vida em geral e do governo em particular. Faltava tudo, desde empregos até esgoto, saneamento básico e moradia. Cerca de 50% da população vivia de bicos ou serviços domésticos, se não era simplesmente desocupada. O censo de 1890 mostrou que havia 48,1 mil pessoas de profissão desconhecida ou desempregada quase 10% do total de habitantes.
Capital da recente república do Brasil, o Rio era a cidade para onde todos se mudavam: ex-escravos libertados em 1888, imigrantes europeus em busca de emprego, desertores e excedentes das Forças Armadas e migrantes das fazendas de café, que não iam lá muito bem das pernas. Entre 1872 e 1890, a população do Rio passou de 266 mil para 522 mil pessoas.
Não havia emprego para todos e a maioria se virava como podia: carregava e descarregava navios, vendia tranqueiras, fazia pequenos serviços. É claro que ainda havia entre eles ladrões, prostitutas e trambiqueiros.
Toda essa turma que as autoridades chamavam de ralé, malandros ou desocupados, mas que também se pode chamar de pobres, ou, simplesmente, de povo se acotovelavam nos cortiços.
Essas habitações coletivas, além de serem uma opção barata de moradia, tinham boa localização: ficavam no centro da cidade.
A mais famosa delas, conhecida como Cabeça de Porco, no número 154 da rua Barão de São Félix, chegou a ter 4 mil moradores. As autoridades consideravam os cortiços antros de doenças e de pouca-vergonha.
Para a mentalidade da época, que aliás não mudou muito, as moradias pobres abrigavam as classes perigosas, sujas, de onde saíam as epidemias e toda sorte de ruindade, diz o historiador Sidney Chalhoub, da Unicamp, autor de Cidade Febril: Cortiços e Epidemias na Corte Imperial.
“Bota-abaixo”
Quando Rodrigues Alves assumiu a presidência em 1902, prometendo trazer o país para o novo século, viu naqueles cortiços um obstáculo a ser removido. A ideia era abrir novas avenidas, ruas e praças e, ao mesmo tempo, afastar do centro da cidade os moradores pobres. A inspiração vinha das obras realizadas, alguns anos antes, na capital da França. Em Paris, o barão Haussmann havia conduzido uma reforma geral que acabara com grande parte das antigas vias e construções medievais. Grandes avenidas e parques tomaram o lugar dos bairros operários, celeiros das revoltas populares que haviam chacoalhado o século 19.
Rodrigues Alves, presidente do Brasil de 15 de novembro de 1902 até 15 de novembro de 1906
Mas se, em 1902, Paris já merecia o apelido de Cidade-Luz, o Rio estava longe de se tornar maravilhoso. E não era só uma questão estética. Com tanta gente desabrigada, vivendo de comercializar comida e bebida nas ruas, com pouquíssima infra-estrutura de esgoto e água encanada, as condições de higiene eram para lá de precárias. O Rio era uma cidade doente. Epidemias de peste, febre amarela e varíola dizimavam a população. Isso sem falar nas doenças endêmicas, como a tuberculose. No verão de 1850 um terço dos cariocas contraiu febre amarela e 4160 pessoas morreram. Em 1855 foi a cólera e em 1891 houve surtos de febre amarela e peste bubônica. Em 1903 a varíola atacou fazendo vítimas até o ano seguinte. Só nos primeiros cinco meses de 1904, 1800 pessoas foram internadas com a doença.
Essa situação tinha consequências drásticas que iam além da saúde pública. Por causa da imagem de ser reduto de doenças, navios estrangeiros se recusavam a aportar no Brasil.
E a fama não era injustificada: em 1895, o navio italiano Lombardia, atracado no Rio, perdeu 234 de seus 340 tripulantes, vítimas de febre amarela.
Companhias europeias faziam questão de anunciar viagens diretas à Argentina, garantindo aos interessados que seus navios passariam ao largo da costa brasileira. Uma tragédia para um país que vivia da exportação.
A economia, que já não andava bem, não precisava de mais essa dor de cabeça. O Brasil vivia às voltas com a crise no mercado de café, único produto de exportação brasileiro, e tinha uma dívida externa crescente.
O país passou a emitir cada vez mais papel-moeda, provocando uma inflação generalizada. Nos primeiros cinco anos do governo republicano, a coisa foi feia. Os preços subiram 300%, enquanto os salários não aumentaram 100%, diz o historiador José Murilo de Carvalho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em Os Bestializados.
Era preciso agir. Rodrigues Alves ele próprio um grande fazendeiro de café nomeou como prefeito da capital federal o engenheiro Pereira Passos, que havia morado em Paris e conhecia bem as reformas de Haussmann. Foi Passos que liderou a derrubada de 1 600 velhos edifícios, numa reforma radical que ficou conhecida como bota-abaixo.
Em cerca de dois meses de obras, milhares de pessoas foram despejadas e empurradas morros acima, onde construíram barracos e casas improvisadas.
Sem dinheiro, sem emprego e sem ter onde morar, o cenário estava pronto para que o povo se rebelasse. Só faltava um estopim.
Medo de injeção
Para combater as doenças que abatiam os cariocas, não bastariam as reformas urbanas no centro da cidade. Mesmo que (e muita gente duvida disso) esse fosse o objetivo principal das obras.
Mais uma vez apoiando-se no exemplo francês, o governo brasileiro apostou nas técnicas de saúde pública que estavam sendo colocadas em prática por médicos como Louis Pasteur. Para apoia-lo nessa área, Rodrigues Alves convocou um jovem médico do interior de São Paulo que acabara de estagiar em Paris, Oswaldo Cruz.
Assim que assumiu a diretoria de Saúde Pública, em 1903, Oswaldo encarou batalhas contra a peste bubônica e formou brigadas sanitárias que saíram pelo centro da cidade caçando ratos pelas casas e ruas.
Chegou a adotar o método pouco ortodoxo de comprar ratos, para estimular a população a caçar o roedor. Apesar das inevitáveis fraudes houve gente que foi presa por criar ratos para vender às autoridades a campanha contra a peste foi um sucesso.
Para enfrentar a febre amarela, no entanto, Oswaldo encontrou oposição. Nem o combate aos mosquitos era consenso. Na época, não se sabia que a doença era causada por um vírus nem se conhecia seu mecanismo de transmissão, e, embora o cubano Carlos Finley já houvesse publicado sua tese de que a doença era transmitida por um mosquito, um grande número de médicos brasileiros acreditava que a febre amarela era causada por alimentos contaminados.
O vírus da varíola
Em 1904, seria a vez de combater a varíola. Já havia leis que tornavam obrigatória a vacinação desde 1884, mas essas leis não pegaram, diz José Murilo. O governo resolveu, então, fazer uma nova lei obrigando toda a população a se vacinar, em novembro de 1904. O projeto, que permitia que os agentes sanitários entrassem na casa das pessoas para vaciná-las, foi aprovado na Câmara e no Senado, mas não sem antes quase levar aos sopapos os partidários de Rodrigues Alves e seus opositores, que não eram poucos.
Entre eles havia os partidários do ex-presidente Floriano Peixoto, que não se conformavam com um governo civil, como o senador (e tenente-coronel) Lauro Sodré e, na Câmara, o major Barbosa Lima.
O senador Ruy Barbosa se manifestou, em plenário, dizendo: Assim como o direito veda ao poder humano invadir a consciência, assim lhe veda transpor-nos a epiderme.
Com a querela política, o assunto chegou à imprensa.
Os jornais se dividiram: o Commercio do Brazil, do deputado florianista Alfredo Varela, e O Correio da Manhã, de Barbosa Lima, atacavam a vacinação, enquanto o diário governista O Paiz defendia a ideia com unhas e dentes. Logo, não se falava em outra coisa no Rio. Os representantes dos trabalhadores não concordavam com a nova lei, que, entre outras coisas, exigia o atestado de vacina para conseguir emprego, e criaram a Liga Contra a Vacina Obrigatória, que em poucos dias arregimentou mais de 2 mil pessoas.
Não é difícil entender por que o povo ficou contra a vacina. Pela lei, os agentes de saúde tinham o direito de invadir as casas, levantar os braços ou pernas das pessoas, fosse homem ou mulher, e, com uma espécie de estilete (não era uma seringa como as de hoje), aplicar a substância. Para alguns, isso era uma invasão de privacidade e, na sociedade de 100 anos atrás, um atentado ao pudor.
Os homens não queriam sair de casa para trabalhar, sabendo que suas esposas e filhas seriam visitadas por desconhecidos.
E tem mais: pouca gente acreditava que a vacina funcionava. A maioria achava, ao contrário, que ela podia infectar quem a tomasse. O pior é que isso acontecia. A vacina não era tão eficaz como hoje, diz Sidney.
Com a população descontente, a imprensa colocando fogo e os políticos protestando, uma hora a revolta ia tomar as ruas. Pronto, agora podemos voltar para aquela manhã de novembro.
Quebra-quebra
Quando deixamos 1904, policiais e a população trocavam tiros e pauladas pelas ruas do centro da cidade. O corre-corre foi grande a multidão se dispersou, deixando o centro para se reunir mais além, nos bairros populares. Naquele 13 de novembro, houve confusão no Méier, Engenho de Dentro e Andaraí. Vinte e duas pessoas foram presas.
Mas o pior estava por vir. No dia seguinte, logo cedo, grupos aparentemente desarticulados vindos dos bairros rumaram para o Centro. No caminho viraram bondes, derrubaram postes de iluminação, reuniram entulho no meio das ruas e se prepararam para enfrentar a polícia. No bairro da Saúde, próximo ao porto, a barricada reuniu 2 mil pessoas, segundo relato do Jornal do Comercio, que chamou o lugar de Porto Arthur, em alusão a um forte na Manchúria, onde japoneses e russos travavam uma sangrenta batalha. Liderados entre outros por Horácio José da Silva, o Prata Preta (leia quadro ao lado), os defensores de Porto Arthur estavam armados com revólveres e navalhas. Alguns marcharam com armas nos ombros e se espalhou que tinham até um canhão. Por três dias conseguiram repelir a polícia, mas no dia 16 o Exército, apoiado por tropas de São Paulo e Minas Gerais, invadiu o local, numa ação que contou ainda com bombardeios da Marinha. O suposto canhão era um poste deitado sobre uma carroça.
No dia 14, enquanto o pau ainda comia nas ruas, a confusão chegou aos quartéis. O esforço conspiratório que duraria o dia todo começou logo cedo.
O senador Lauro Sodré e o deputado Alfredo Varela reuniram-se no Clube Militar com a cúpula dos militares. No entanto, o ministro da Guerra, marechal Argollo, conseguiu melar o encontro e mandou todo mundo para casa. À noite, uma parte dos conspiradores tentou tomar a Escola Preparatória do Realengo, mas não conseguiu. Outro grupo, liderado pelo próprio Sodré, invadiu a Escola Militar da Praia Vermelha e convenceu cerca de 300 cadetes comandados pelos generais Silva Travassos e Olímpio Silveira a marcharem rumo ao Palácio do Catete. Lá, deram de cara com cerca de 2 mil homens leais ao governo. Houve tiroteio, Lauro Sodré desapareceu, mas o general Travassos foi ferido e preso.
Saldo da quartelada: três golpistas mortos e 32 soldados feridos.
Nas ruas, a batalha só terminou no dia 23, quando o Exército tomou um dos últimos núcleos da revolta, o morro da Favela. Pelos cálculos do historiador José Murilo de Carvalho, durante toda a revolta foram detidas 945 pessoas, sendo que 461, todas com antecedentes criminais, foram deportadas para locais distantes como o Acre e Fernando de Noronha. Não há estatísticas oficiais, mas acredita-se que 23 pessoas tenham morrido, segundo as estimativas dos jornais da época, e pelo menos 67 ficaram feridas.
A vacinação obrigatória foi suspensa. Mas o governo manteve a exigência de atestado para casamentos, certidões, contratos de trabalho, matrículas em escolas públicas, viagens interestaduais e hospedagem em hotéis.
Nem todos esses cuidados, no entanto, impediram um novo surto de varíola. Em 1908, quando a cidade do Rio de Janeiro registrou quase 10 mil casos, o povo fez fila, voluntariamente, para se vacinar.
O médico da vacina
Oswaldo Cruz introduziu-os conceitos da saúde pública no Brasil
Oswaldo Cruz não foi apenas um médico e sanitarista brilhante. O fundador da saúde pública no Brasil era um entusiasta das artes e da escrita, e chegou a ser membro da Academia Brasileira de Letras.
No Rio de Janeiro do início do século, era comum encontrá-lo nas estreias teatrais, nos saraus e em outras manifestações culturais. Mas sua maior paixão eram os micróbios, que ele conheceu enquanto cursava a Faculdade de Medicina, no Rio de Janeiro. Logo após se casar com sua namorada de infância Emília, com quem teve seis filhos, Oswaldo fez as malas, e se mudou para Paris, para estudar microbiologia no prestigiado Instituto Louis Pasteur. Estava aberto o caminho para uma carreira brilhante, que até poucos anos antes ninguém poderia imaginar.
Afinal, Oswaldo saíra de uma pequena cidade do interior de São Paulo, São Luís do Paraitinga, onde nasceu a 5 de agosto de 1872, esperando no máximo ganhar dignamente seu sustento ao se mudar para a capital.
Mal sabia ele que ao colocar novamente os pés no Brasil seria chamado para uma importante missão: diagnosticar a misteriosa doença que, em 1899, atingiu a cidade de Santos. Junto com outros dois médicos célebres, Adolfo Lutz e Vital Brasil, integrou a comissão que identificou a peste bubônica, transmitida por ratos, como a causadora das estranhas mortes.
Daí para o reconhecimento nacional foi um passo. Quando o barão de Pedro Afonso resolveu criar o Instituto Soroterápico do Rio de Janeiro, a direção pediu uma indicação ao Instituto Pasteur, que prontamente deu o nome de Oswaldo Cruz. Poucos anos depois, ao ser convocado pelo prefeito Pereira Passos para erradicar as epidemias na capital, em 1903, o sanitarista se tornaria um dos personagens mais importantes do último século, simplesmente o criador da saúde pública brasileira.
Oswaldo Cruz reorganizou todo o serviço de saúde no Rio de Janeiro. Ele estabeleceu a conjugação de esforços, pela primeira vez, entre os serviços de higiene municipais e federais, unificando a saúde no Brasil, diz o sociólogo Nilson do Rosário Costa. Depois de vencer as epidemias de febre amarela e varíola na capital, foi convocado para combater as sucessivas epidemias de malária na Amazônia nos anos 10, entre 1912 e 1915, quando a extração da borracha atraiu milhares de brasileiros para a região. Lá, lançou uma ampla campanha de controle sanitário, que acabou não dando os efeitos desejados. Infelizmente, fracassou em sua última grande cruzada a favor da saúde pública.
Oswaldo Cruz – Biografia
Oswaldo Cruz
Este perfil biográfico de Oswaldo Cruz destaca sua atuação à frente da Direção Geral de Saúde Pública de 1903 a 1909, quando liderou campanhas sanitárias marcantes no Rio de Janeiro, então capital do país.
Destaca também sua liderança no Instituto Oswaldo Cruz, onde atuou como diretor do final de 1902 a 1916, quando a saúde debilitada o obrigou a renunciar e se mudar para a cidade serrana de Petrópolis, não muito longe do Rio.
O perfil também oferece vislumbres de sua vida privada, testemunhando sentimentos e feitos raramente divulgados quando o sujeito é uma figura pública – por exemplo, seu amor e devoção à esposa e aos filhos, além de instantâneos prosaicos de sua vida cotidiana, onde vemos sua preocupação com a gestão do orçamento familiar, ano após ano minuciosamente registrado em um caderno que ele sugestivamente intitulou “O Livro da Verdade”.
Deve-se notar que algo está faltando em seus arquivos pessoais: não há nenhum sinal de nefrite, a doença incurável que o assediou nos últimos dez anos de sua vida e que o levou aos 44 anos.
Mas é fácil imaginar o impacto dramático dessa doença e as emoções que despertou em sua família e amigos, e na equipe de profissionais que liderou em Manguinhos.
Fonte: www.tvcultura.com.br/historia.abril.com.br(Celso Miranda)/Portal São Francisco/oswaldocruz.fiocruz.br
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