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Primeira República – História do Brasil
O Brasil tem uma república recente.
Tudo começou quando o Marechal Deodoro da Fonseca liderou um golpe militar que tomou o poder longe da monarquia e estabeleceu a república militar.
O Brasil monárquico falhou por uma série de razões que acabou em um golpe, em 1889, quando em 15 de novembro, o Marechal Deodoro da Fonseca reuniu cerca as forças armadas e liderou o grupo que proclamou a república brasileira, para a queda da monarquia constitucional brasileira e, portanto, do imperador Dom Pedro II.
A Velha ou Primeira República – 1889-1930
Os fundadores da república brasileira enfrentaram uma séria questão de legitimidade.
Como poderia um ato ilegal e traidor estabelecer uma ordem política legal?
Os oficiais que se juntaram ao Marechal Deodoro da Fonseca para acabar com o império estavam violando juramentos solenes de defender o imperador e o império.
O corpo de oficiais acabaria por resolver a contradição vinculando seu dever e destino ao Brasil, a pátria, e não a governos transitórios.
Além disso, a república nasceu por acaso: Deodoro pretendia apenas substituir o gabinete, mas os republicanos o manipularam para gerar uma república.
A república brasileira não era fruto espiritual das repúblicas nascidas das revoluções francesa ou americana, ainda que o regime brasileiro tentasse associar-se a ambas.
A república não tinha apoio popular suficiente para arriscar eleições abertas. Foi um regime nascido de um golpe de estado que se manteve pela força. Os republicanos nomearam Deodoro presidente (1889-91) e, após uma crise financeira, nomearam o marechal-de-campo Floriano Vieira Peixoto ministro da guerra para garantir a fidelidade dos militares. De fato, o povo brasileiro foi espectador dos eventos que moldaram sua história. Nas últimas décadas do século XIX, os Estados Unidos, grande parte da Europa e a vizinha Argentina expandiram o direito ao voto. O Brasil, no entanto, passou a restringir o acesso às urnas. Em 1874, em uma população de cerca de 10 milhões, a franquia era detida por cerca de 1 milhão, mas em 1881 isso foi reduzido para 145.296.
Essa redução foi uma das razões pelas quais a legitimidade do império afundou, mas a república não se moveu para corrigir a situação. Em 1910, havia apenas 627.000 eleitores em uma população de 22 milhões.
Ao longo da década de 1920, apenas entre 2,3% e 3,4% da população total votou.
A instabilidade e a violência da década de 1890 estavam relacionadas à ausência de consenso entre as elites sobre um modelo de governo; e as forças armadas estavam divididas sobre seu status, relação com o regime político e objetivos institucionais.
A falta de unidade militar e o desacordo entre as elites civis sobre o papel dos militares na sociedade explicam parcialmente por que uma ditadura militar de longo prazo não foi estabelecida, como queriam alguns oficiais que defendiam o positivismo (ver Glossário). No entanto, os militares eram muito ativos na política; no início da década, dez dos vinte governadores estaduais eram oficiais.
A Constituinte que elaborou a Constituição de 1891 foi um campo de batalha entre aqueles que buscavam limitar o poder executivo, que era ditatorial sob o presidente Deodoro da Fonseca, e os jacobinos, autoritários radicais que se opunham à oligarquia cafeeira paulista e que desejavam preservar e intensificar o poder presidencial. autoridade.
A nova carta estabeleceu uma federação governada supostamente por um presidente, um Congresso Nacional bicameral (Congresso Nacional; doravante, Congresso) e um judiciário. No entanto, o poder real estava nas pátrias regionais e nas mãos dos potentados locais, chamados “coronéis” (coroneis; coronelismo – ver Glossário). Assim, o sistema constitucional não funcionou como aquele documento havia previsto. Levaria até o final da década para que uma distribuição informal, mas real do poder, a chamada política dos governadores, tomasse forma como resultado de lutas armadas e barganhas.
O Artigo 14 sobre os militares era particularmente importante para o futuro. Declarou o exército e a marinha como instituições nacionais permanentes responsáveis pela manutenção da lei e da ordem e por assegurar a continuidade dos três poderes constitucionais. Os oficiais insistiram na declaração de status permanente porque temiam que as elites dissolvessem seus serviços.
As forças armadas deveriam ser as moderadoras do sistema, e os oficiais militares eram a única elite constitucionalmente mandatada do Brasil. O artigo também exigia que os militares fossem obedientes ao presidente, mas “dentro dos limites da lei”. Assim, as forças armadas deveriam obedecer apenas se determinassem que uma ordem presidencial fosse legal. Estranhamente, os oficiais militares não estavam muito entusiasmados com a obediência discricionária, que consideravam subversiva; os políticos civis, no entanto, queriam isso como um controle do poder presidencial. Curiosamente, as constituições de 1934 e 1946 mantiveram a cláusula discricionária inalterada. No entanto, a constituição de 1937 do Estado Novo ditatorial, que era um regime militar em trajes civis, colocou os militares em segurança sob a obediência do presidente.
Na eleição que se seguiu à adoção da nova constituição em 1891, Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto foram eleitos presidente e vice-presidente, respectivamente, mas o primeiro obteve apenas 129 votos e o segundo 153. O primeiro presidente, Deodoro da Fonseca, teve dificuldade em se ajustar à divisão do poder com o Congresso e, à moda imperial, dissolveu-o em novembro de 1891, provocando rebeliões na marinha e no Rio Grande do Sul. Para acalmar a oposição, renunciou em favor do vice-presidente Peixoto (presidente em exercício, 1891-94). Peixoto, conhecido como o “Marechal de Ferro”, derrubou todos os governadores estaduais que haviam apoiado Deodoro, provocando violência em várias partes do país. Uma das mais sangrentas dessas lutas foi a guerra civil que explodiu no Rio Grande do Sul em 1893 e logo se espalhou por Santa Catarina e Paraná, opondo ex-monarquistas liberais contra republicanos. Concomitantemente, a frota na Baía de Guanabara no Rio de Janeiro desafiou Peixoto, e a revolta naval rapidamente se vinculou à luta no Sul. O diplomata de Peixoto em Washington, Salvador de Mendonça, com a ajuda do empresário nova-iorquino Charles Flint, conseguiu montar um esquadrão de navios com tripulações americanas, o que se mostrou decisivo para acabar com o impasse na Baía de Guanabara. O governo dos Estados Unidos, interessado no comércio brasileiro e na sobrevivência da república, permitiu que esse esforço mercenário ocorresse e enviou vários cruzadores para fornecer uma escolta mal disfarçada.
Esta foi a primeira intervenção americana documentada nos assuntos internos do Brasil e, significativamente, foi organizada de forma privada.
A dissolução do Congresso por Deodoro da Fonseca, sua renúncia, a ascensão de Peixoto ao poder e a eclosão da guerra civil dividiram o corpo de oficiais e levaram à prisão e expulsão de vários oficiais superiores.
Embora as lutas pelo poder que produziram as lutas no Rio Grande do Sul durante 1893-95 fossem de origem local, Peixoto as nacionalizou ao se aliar ao governador republicano Júlio de Castilhos.
O combate selvagem e a execução de prisioneiros e simpatizantes suspeitos, no que o historiador José Maria Bello chamou de “a mais cruel das guerras civis do Brasil”, foi vergonhoso para ambos os lados.
A defesa feroz de Peixoto da república fez dele o queridinho dos jacobinos e, a partir de então, um símbolo do nacionalismo brasileiro. Em novembro de 1894, por problemas de saúde (falecido em 1895) e desunião dos militares, Peixoto entregou o governo a um porta-voz da elite agrária do café, o paulista Prudente José de Morais Barros, também conhecido como Prudente de Morais, o primeiro presidente civil (1894-98). Prudente de Morais negociou o fim da guerra no Sul e concedeu anistia aos rebeldes e aos oficiais expulsos.
Ele enfraqueceu os republicanos mais convictos do exército e procurou diminuir o peso político dos militares.
Promoveu oficiais comprometidos com a criação de uma força profissional que estaria à disposição das autoridades nacionais, que determinariam como deveria ser empregada. Um Estado-Maior General (Estado Geral), estabelecido em 1896 segundo o modelo alemão, viria a dar forma a este novo exército.
No entanto, antes que o novo exército tomasse forma, ele foi usado em 1897 para destruir a comunidade religiosa de Canudos, no sertão da Bahia, que os jacobinos equivocadamente pensavam ser um foco de sedição monárquica. O governo do Rio de Janeiro, que via monarquistas por toda parte, lançou uma força de 9.500 homens contra uma população de talvez 30.000. Cerca de 4.193 soldados foram feridos entre julho e outubro de 1897, e os habitantes da cidade foram mortos, feitos prisioneiros ou fugiram.
Canudos foi apagada da mesma forma que as aldeias indígenas foram e continuam sendo apagadas.
Embora o valor simbólico da campanha como defesa da república tenha se desvanecido à medida que a realidade se tornava conhecida, permaneceu um poderoso alerta aos marginais (ver Glossário) em todo o Brasil de que não lhes seria permitido desafiar a ordem hierárquica da sociedade. Nesse sentido, Canudos foi um passo na criação de mecanismos de controle social na era pós-escravidão.
Canudos afetou a cena política imediatamente quando um soldado que retornava, o contraponto de uma conspiração jacobina de alto nível, tentou assassinar o presidente Prudente de Morais, mas matou o ministro da Guerra, agindo assim como um catalisador para angariar apoio ao governo. O assassinato abortado possibilitou a eleição de Manuel Ferraz de Campos Sales (presidente, 1898-1902).
No exército, a tentativa consolidou o domínio de generais que se opunham a Floriano Peixoto e estavam interessados em profissionalizar a instituição.
A agitação da década de 1890 e, particularmente, Canudos suspendeu a capacidade dos militares de exercer o papel moderador que supostamente herdaram da monarquia. Em 1898, as oligarquias regionais de base rural haviam recuperado o comando do sistema político. Suas políticas fiscais refletiam a crença de que o Brasil era um país agrícola cuja força estava no fornecimento de café, borracha, açúcar, tabaco e muitos recursos naturais para a Europa e a América do Norte. O Brasil produziu 75% do café do mundo. Com o aumento da concorrência, no entanto, os preços caíram continuamente, fazendo com que o governo desvalorizasse a moeda em relação à libra esterlina. Essa desvalorização forçou o preço das mercadorias importadas a subir, reduzindo assim o consumo e as receitas fiscais do governo com as importações. Esses déficits levaram à suspensão dos pagamentos da dívida externa, e a economia geralmente pobre causou o colapso de metade dos bancos.
A oligarquia respondeu à situação tentando preservar sua própria posição e limitando a indústria e infraestrutura nacional ao necessário para sustentar a economia agrícola.
A sociedade que a economia sustentava era aquela em que as elites consideravam a maioria das pessoas meramente como mão-de-obra barata.
As elites encorajavam a imigração para manter a mão de obra abundante e barata, embora também quisessem “embranquecer” a população.
Consideravam a educação pública de pouca utilidade e potencialmente subversiva.
O sistema político que se formou no início do século XX tinha aspectos aparentes e reais. Havia o sistema constitucional, e havia o sistema real de acordos não escritos (coronelismo) entre os chefes locais, os coronéis.
O coronelismo, que defendia a autonomia do Estado, era chamado de “política dos governadores”. Sob ela, as oligarquias locais escolhiam os governadores estaduais, que por sua vez escolhiam o presidente.
Os populosos e prósperos estados de Minas Gerais e São Paulo dominaram o sistema e trocaram a presidência entre eles por muitos anos.
O sistema consolidou as oligarquias estatais em torno de famílias que haviam sido membros da antiga elite monárquica. E para verificar as tendências nacionalizantes do exército, essa república oligárquica e seus componentes estaduais fortaleceram a marinha e a polícia estadual. Nos estados maiores, a polícia estadual logo se transformou em pequenos exércitos; no caso extremo de São Paulo, conselheiros militares franceses foram contratados após 1906.
A “política dos governadores” manteve relativa paz até o fim da Primeira Guerra Mundial. O Brasil urbano, aquele que os estrangeiros viam dos conveses dos navios, prosperou.
Mas não havia economia nacional integrada. Em vez disso, o Brasil tinha um agrupamento de economias regionais que exportavam seus próprios produtos especiais para os mercados europeu e norte-americano.
A ausência de transporte terrestre, com exceção dos trens de mulas, impedia a integração econômica interna, a coesão política e a eficiência militar. As regiões, “os Brasis” como os ingleses as chamavam, moviam-se ao seu próprio ritmo. O Nordeste exportou seu excedente de mão de obra barata e viu sua influência política diminuir à medida que seu açúcar perdia mercados estrangeiros para produtores caribenhos.
O boom da borracha selvagem na Amazônia perdeu sua primazia mundial para as eficientes plantações coloniais do Sudeste Asiático depois de 1912.
As economias de mercado de orientação nacional do Sul não foram dramáticas, mas seu crescimento foi constante e, na década de 1920, permitiu que o Rio Grande do Sul exercesse considerável influência política. aproveitar. O poder real residia nos estados cafeicultores do Sudeste (Sudeste) – São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro – que produziam a maior receita de exportação. Esses três e o Rio Grande do Sul colheram 60% das safras do Brasil, produziram 75% de seus produtos industriais e de carne e detinham 80% de seus recursos bancários.
Um fator que acabaria aproximando “os Brasis” foi o elevado senso de nacionalismo que se desenvolveu entre as classes média e alta urbanas antes da Primeira Guerra Mundial.
Esse sentimento de nacionalismo pode ser explicado parcialmente pelo foco da elite brasileira no Rio de Janeiro como o centro de seu mundo. Embora o governo nacional fosse fraco, ainda era fonte de prestígio e clientelismo. Os projetos de saneamento do Rio e seu centro remodelado (1903-04) logo foram copiados pelas capitais e portos.
As elites tinham motivos para pensar que o status do Brasil no mundo estava subindo. Em 1905 o arcebispo do Rio de Janeiro recebeu o primeiro cardinalato da América Latina.
O Brasil sediou a Terceira Conferência Pan-Americana, elevou sua legação de Washington a uma embaixada (1904), enviou uma notável delegação à Segunda Conferência de Paz de Haia (1907), ganhou a posse por arbitragem de centenas de milhares de quilômetros quadrados de território disputado, estabeleceu o Serviço de Proteção da Índia, uniu os confins do país via telégrafo e comprou dois dos maiores dreadnoughts do mundo para sua marinha. Muitos aplaudiram o escritor Afonso Celso quando afirmou que a época era “a aurora da nossa grandeza…
Seremos a segunda ou a primeira potência do mundo”.
No entanto, o entusiasmo não foi suficiente para vencer a resistência dos brasileiros de todos os níveis ao serviço militar. Quando uma Lei do Serviço Militar Obrigatório foi promulgada em 1908, ela não foi aplicada até 1916. O serviço militar não era atraente porque os membros eram continuamente chamados a pegar em armas. Durante a presidência do marechal Hermes Rodrigues da Fonseca (1910-14), sobrinho de Deodoro da Fonseca, a turbulência se espalhou pelo Brasil. Em 1910, marinheiros que protestavam contra punições físicas extremas na marinha apreenderam os novos encouraçados São Paulo e Minas Gerais e algumas embarcações menores na baía do Rio de Janeiro e ameaçaram bombardear a cidade.
Hermes da Fonseca foi obrigado a atender os rebeldes e anistia-los.
A imagem de estabilidade nacional com que o governo anterior de Campos Sales tentou deslumbrar os banqueiros estrangeiros também foi abalada por uma série de intervenções militares, conhecidas como Salvações, que substituíram vários governos estaduais. O governo nacional, um pouco contra a inclinação de Hermes da Fonseca, patrocinou o que equivaleu a golpes de estado contra governos estaduais em Sergipe, Pernambuco, Alagoas, Pará, Piauí, Bahia e Ceará. De forma desordenada, uma aliança oligárquica substituiu outra, muitas vezes com um oficial do exército no comando. No caso desastroso da Bahia, o comandante do exército local bombardeou o palácio do governador e os prédios ao redor. Em 1911, a Força Pública (Força Pública) e os Batalhões Patrióticos civis de São Paulo salvaram a cidade de uma intervenção federal semelhante.
Lutando para manter o controle do exército, Hermes da Fonseca substituiu o ministro da guerra três vezes em dezesseis meses e forçou a aposentadoria de cerca de 100 coronéis e generais.
Mas para impedi-los de se rebelar, todos foram aposentados em cargos e salários mais altos. O sistema político brasileiro não era tanto de compromisso, mas de cooptação. Com esse expurgo interno do exército, o Movimento Salvacionista se esgotou e a maré se afastou das intervenções militares federais para substituir as oligarquias regionais dominantes em direção à neutralidade ou preservação do status quo.
O movimento pode ser visto como uma tentativa confusa de reduzir a autonomia do Estado e aumentar o poder do governo central.
Enquanto isso, a visão de ordem e progresso brasileiros vista pela elite urbana, intelectuais e editoriais de jornais foi novamente desafiada pelo sertão supostamente anárquico, desta vez no Sul. Em agosto de 1914, com a atenção mundial voltada para a eclosão da guerra na Europa, um conflito muito diferente eclodiu na região do Contestado de Santa Catarina. Uma rebelião popular, também conhecida como Contestado, confrontou o sistema socioeconômico e político dominado pelos “coronéis”. Onde o Movimento Salvacionista pretendia substituir uma oligarquia por outra, os rebeldes do Contestado rejeitavam o sistema nacional e queriam refazer sua parte na realidade brasileira. Assim como em Canudos, a resposta das autoridades estaduais e federais foi pulverizar a violência.
A economia da região era baseada na pecuária, na coleta de erva-mate e na extração de madeira. Sua estrutura social concentrava riqueza e poder nas mãos de alguns “coronéis”, em torno dos quais se agrupavam pequenos proprietários de terras. A maioria das famílias vivia à custa desses homens ou tinha títulos de terra instáveis.
Uma disputa jurisdicional entre Santa Catarina e Paraná surgiu porque cada estado emitiu títulos para a mesma terra. A terra de ninguém atraiu fugitivos de todo o Brasil.
A construção da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande do Sul e as operações madeireiras e colonizadoras do capitalista estadunidense Percival Farquhar acrescentaram elementos estranhos à mistura já volátil.
A Estrada de Ferro do Brasil e a Companhia Madeireira e Colonizadora do Sul do Brasil expulsaram os brasileiros de suas terras desapropriadas, importaram imigrantes europeus e cortaram pinheiros virgens, cedros e nogueiras. Pessoas cujas famílias viviam na região há um século de repente viram suas terras alugadas ou vendidas a terceiros. Como se isso não bastasse, em 1910 a ameaça de guerra com a Argentina se aproximava, e as autoridades aceleraram a construção da ferrovia e expandiram as equipes de trabalho para cerca de 8.000.
Nesse ambiente de destruição tumultuada das florestas, as tensões sociais aumentaram com os despejos e a introdução repentina de estrangeiros e tecnologia moderna. Os “coronéis” locais garantiram seus próprios interesses, abandonando seu paternalismo costumeiro e deixando a massa de pessoas à deriva. O Contestado foi afligido por uma crise de identidade coletiva, que fez com que muitos se voltassem para a religião messiânica como consolo.
O povo do Contestado seguiu um curandeiro local, Miguel Lucena Boaventura, conhecido como José Maria, que logo morreu em confronto com a Polícia Militar do Paraná.
Seus seguidores se recusaram a aceitar sua morte, no entanto, e acreditavam que ele estava vivo ou ressuscitaria. Sua história misturada com a crença luso-brasileira na assistência sobrenatural em tempos de desespero.
Esse fenômeno, chamado sebastianismo, transformou a população submissa, acostumada a atuar apenas com a aprovação do “coronel”, em uma resoluta força de combate.
Seus ataques às ferrovias e operações madeireiras e o fracasso das negociações com as autoridades federais levaram a uma escalada de hostilidades em 1912 e uma campanha militar feroz que em 1915 envolveu 6.000 soldados, artilharia moderna e metralhadoras, telefones de campo e telégrafo, e o primeiro uso de aeronaves em um conflito brasileiro. A luta se espalhou por uma ampla área, e os muitos redutos de cerca de 20.000 “fanáticos”, como o exército os chamava, tornavam a supressão lenta e difícil e também revelavam as fraquezas dos militares. O número de baixas era incerto, mas considerável, e doravante o exército manteve uma guarnição na região. O Contestado foi subjugado no final de 1917.
Os reformadores do Exército, um grupo-chave dos quais retornou do treinamento na Alemanha no final de 1913, escreveram comentários sobre a campanha no novo mensal militar, A Defesa Nacional.
Consideravam o Contestado “um conflito inglório que desacreditou nossas armas”. Culpavam a república por sua “falta de normas políticas elevadas, o abandono de milhares de brasileiros… segregados da sociedade nacional pela falta de instrução, pela escassez de meios de comunicação fáceis, pela falta de energia e pela pobreza de iniciativa que, infelizmente, caracterizou as administrações em geral desde o tempo da monarquia”. Alertaram os líderes militares de que “a lição do Contestado” era que a passividade do Exército em aceitar medidas políticas mal concebidas só o prejudicaria “moralmente” e traria ao Brasil “as mais funerárias consequências”.
O Contestado se juntou a Canudos como um importante componente da memória institucional do Exército. Os veteranos desempenharam papéis significativos nos assuntos militares e nacionais nas próximas décadas.
Dentro de alguns anos, a crítica reformista faria parte do pensamento que subjaz às revoltas dos tenentes dos anos 1920, começando com a Revolta de Copacabana em 1922.
O Movimento Salvacionista e o Contestado arrastaram o exército e o governo central profundamente para dentro da assuntos internos dos estados, diminuindo assim a sua cobiçada autonomia.
O legado da época de intervenção política e supressão de dissidências turvou a missão e a autoimagem do exército, mas ampliou o poder do governo central (Rio de Janeiro).
O crescente poder do Rio de Janeiro refletiu-se nas relações exteriores brasileiras sob a orientação de José Maria da Silva Paranhos, o Barão do Rio Branco, que atuou como ministro das Relações Exteriores de 1902 a 1912, sob os presidentes Francisco de Paula Rodrigues Alves (presidente interino, 1902-3; presidente, 1903-6) e Afonso Pena (1906-9), o presidente em exercício Nilo Peçanha (1909-10) e o presidente Hermes da Fonseca. Sua visão moldou tanto as fronteiras do país quanto as tradições das relações exteriores brasileiras. No auge do imperialismo internacional, ele foi fundamental na negociação de limites sobre os quais as grandes potências não deveriam se intrometer.
Defendeu a reforma militar para respaldar uma diplomacia enérgica e iniciou o processo de tirar o Brasil da órbita britânica para a dos Estados Unidos.
Este último estava recebendo metade das exportações totais do Brasil em 1926, mas o Brasil ainda devia à Grã-Bretanha mais de US$ 100 milhões em meados da década de 1920.
Os bancos britânicos financiaram o intercâmbio comercial internacional do país, e os investidores britânicos forneceram 53% do investimento estrangeiro total até 1930. Mas, no final da década de 1920, os bancos dos Estados Unidos detinham quase 35% da dívida externa. O objetivo de Rio Branco, perseguido por seus sucessores, era difundir a dependência do país entre os poderes para que nenhum pudesse intervir sem ser controlado por outro. Os laços comerciais e financeiros com os Estados Unidos foram aumentados às custas britânicas, e estes seriam equilibrados por laços militares com a Alemanha e depois com a França. A França continuaria por décadas a fornecer um modelo cultural para as elites.
Os anos Rio Branco foram a base do que ficou conhecido como a tradição do Itamaraty (nome do prédio que abrigava o Ministério das Relações Exteriores do Rio de Janeiro), mas nem todos os governos entenderam seu propósito. Alguns confundiram seus aspectos táticos – dependência de empréstimos e investimentos estrangeiros, pan-americanismo e aliança com os Estados Unidos – com sua substância essencial, a busca pela independência e grandeza nacional.
A Primeira Guerra Mundial encontrou o Brasil com quase metade de seu exército empenhado no Contestado. A guerra na Europa foi traumática para o exército, que então iniciava uma reorganização sob a influência de trinta e dois oficiais que haviam retornado recentemente do serviço nas unidades do exército alemão. Uma missão militar alemã era esperada, mas a pressão de São Paulo e de Paris resultou em um contrato de missão com a França. A economia, a decisão de Washington de entrar na guerra e os ataques de submarinos alemães a navios mercantes brasileiros puxaram o Brasil para o conflito do lado aliado. Os militares se mobilizaram, mas os generais, sentindo-se excessivamente comprometidos e mal preparados, recusaram-se a enviar tropas para a Europa.
O pan-americanismo forneceu alguma saída para as pretensões de status internacional do Brasil, mas o período entre as guerras mundiais muitas vezes fez com que sua vizinha Argentina suspeitasse de melhorias inofensivas nas forças armadas brasileiras. O serviço militar obrigatório do Brasil, sua construção de novos quartéis, suas compras de armas modernas e seus contratos para uma missão militar francesa e uma missão naval dos Estados Unidos foram vistos por oficiais militares em Buenos Aires como ameaçadores.
Os líderes brasileiros queriam que seu país fosse considerado o mais poderoso da América do Sul, mas entendiam que o público não aceitaria, e a Constituição proibia, uma guerra de agressão. Independentemente do que pensassem os argentinos, os militares não estavam preparados para travar uma guerra estrangeira.
A tensão entre Argentina e Brasil e as manobras por maior influência no Paraguai e no Uruguai são características de suas relações desde a Guerra da Tríplice Aliança.
Os anos entre guerras no Brasil viram um aumento na agitação trabalhista à medida que a economia se expandia, a industrialização e a urbanização se intensificavam e os imigrantes afluíam para o país.
A superprodução de café na virada do século provocou programas de subsídios nos níveis estadual e nacional que ajudaram os fazendeiros, mas não conseguiram impedir o declínio da capacidade da economia de pagar pelos produtos manufaturados importados. A indústria local começou a preencher a lacuna.
A Primeira Guerra Mundial restringiu ainda mais o comércio e a produção industrial brasileira aumentou substancialmente.
O governo enfatizou a necessidade de maior independência industrial dos produtores estrangeiros e estimulou a substituição de importações, principalmente em têxteis. Muitas das fábricas eram pequenas, com uma média de vinte e um trabalhadores. Em 1920, cerca de um milhão de trabalhadores urbanos concentravam-se no Rio de Janeiro e em São Paulo.
O Brasil estava apenas começando a desenvolver sua base industrial, mas ainda era um país principalmente agrícola com 6,3 milhões de pessoas trabalhando no solo.
As condições de vida dos trabalhadores urbanos eram ruins. Habitação, transporte, esgoto e abastecimento de água ficaram muito atrás do rápido crescimento populacional e produziram sérios problemas de saúde pública.
As campanhas de limpeza no início do século atingiram a alta incidência de febre amarela, malária e varíola nos portos do Rio de Janeiro, Santos e Nordeste. Os centros das cidades ficaram mais seguros, mas os trabalhadores que se amontoaram em sórdidos “cortiços” e favelas sofreram todo tipo de doença.
Os governos federal e estadual subsidiaram a imigração da Itália, Portugal, Espanha, Alemanha e Japão para fornecer trabalhadores para as plantações de café. No entanto, muitos imigrantes logo fugiram das condições adversas no campo para melhores oportunidades nas cidades. Eles inundaram os grupos de trabalhadores, tornando difícil para os sindicatos forçar os donos das fábricas a pagar melhores salários. As mulheres, que eram a maioria dos trabalhadores nas indústrias têxtil e de vestuário, eram frequentemente ativas na organização de comissões de fábrica para reivindicar melhores condições, liberdade de abuso sexual e salários mais altos. Greves ocorreram em 1903, 1906 e 1912, e em 1917 eclodiram greves gerais no Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Santos e Porto Alegre.
Como a mentalidade dos industriais estava enraizada na era da escravidão e enfatizava seu bem-estar sobre o da comunidade e porque funcionavam com uma pequena margem de lucro, eles tendiam a demitir trabalhadores por greve ou filiação a sindicatos. Os industriais também colocaram encrenqueiros na lista negra, empregaram bandidos armados para manter o controle dentro e fora das fábricas e pediram ao governo que reprimisse qualquer sinal de organização trabalhista. Não houve grandes massacres de grevistas, como ocorreu no México e no Chile, mas a violência física foi marcante.
Alguns defensores da reforma foram ouvidos. Por exemplo, nacionalistas econômicos como Roberto Simonsen defendiam melhores incentivos salariais para evitar que trabalhadores individuais se sindicalizassem.
Durante a década de 1920, a Igreja Católica Romana, como parte de seu esforço para reviver seu status, organizou os Jovens Trabalhadores Católicos e pregou o exemplo da Sagrada Família aceitando “a vontade da Providência, na dor e na felicidade”. Em 1930, sociedades eclesiásticas, instituições de caridade privadas, clubes recreativos patrocinados por fábricas e agências governamentais lutaram por mais controle sobre as organizações de trabalhadores e o tempo de lazer.
Durante a República Velha, o Brasil mudou a um ritmo assustador. À medida que sua população aumentou 162% entre 1890 e 1930, tornou-se mais urbanizada e industrializada, e seu sistema político foi estendido além da tolerância. A preocupação com o ressurgimento da atividade trabalhista no final da década de 1920 foi um dos fatores que levaram ao colapso da República Velha em 1930 e à consequente mudança significativa na política trabalhista e social.
A Proclamação da República – 1889
Proclamação da República
15 de novembro – Proclamação da República
Em 15 de novembro de 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca liderou o grupo que proclamou a república brasileira, tornando-se o primeiro presidente do país já teve.
As províncias se tornaram estados e ganhou autonomia política para tomar suas próprias decisões.
O Brasil é oficialmente dividido em cinco regiões: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul.
Regiões brasileiras
O Brasil é o maior país da América do Sul e o quinto maior do mundo, com uma área de 8,515,767 km².
O país está dividido em 26 estados e no Distrito Federal. Durante o século 20, o Brasil foi dividido pelo IBGE em três áreas diferentes: as mesorregiões, microrregiões e as macro-regiões.
A divisão macro-região é a divisão oficial adotada pelo governo brasileiro. Diferentemente da meso-região e micro-região, este tipo de divisão é uma regionalização administrativa e científica que obedece aos limites das fronteiras entre os estados brasileiros.
É composto por cinco macro-regiões: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Eles foram criados de acordo com semelhanças físicas, políticas, sociais e econômicas.
Norte
A região Norte é a maior região do Brasil, que faz fronteira com seis países sul-americanos diferentes.
Amazonas (EM)
Roraima (RR)
Amapá (AP)
Pará (Pará)
Tocantins (TO)
Rondônia (RO)
Acre (AC)
Nordeste
Nordeste é a região brasileira com o maior litoral do país, o que torna a região muito atraente para os turistas de todo o mundo. Eles são uma fonte muito importante de renda para o Nordeste, milhares de turistas brasileiros e estrangeiros visitam o Nordeste anualmente em busca de belas praias, paisagens e sol.
Maranhão (MA)
Piauí (PI)
Ceará (CE)
Rio Grande do Norte (RN)
Pernambuco (PE)
Paraíba (PB)
Sergipe (SE)
Alagoas (AL)
Bahia (BA)
Centro-Oeste
O Centro-Oeste é a segunda maior região do Brasil pela área, mas em termos de população é a que menos povoada.
É a única região que tem fronteiras com todas as outras regiões do Brasil e também com outros países. É por isso que bases militares foram construídas no passado, a fim de defender as fronteiras brasileiras.
As fronteiras e a construção de Brasília ajudou a povoar esta região interior.
Mato Grosso (MT)
Mato Grosso do Sul (MS)
Goiás (GO)
Distrito Federal (DF)
Sudeste
O Sudeste é o centro vital do país, onde as maiores cidades, a maior densidade populacional, os maiores depósitos de minério de ferro, as maiores centrais hidroelétricas, a maior rede ferroviária e os melhores portos estão concentrados. É a região industrial, comercial e financeiro mais importante do Brasil, empregando 70% da classe trabalhadora brasileira.
São Paulo (SP)
Rio de Janeiro (RJ)
Espírito Santo (ES)
Minas Gerais (MG)
Sul
O Sul pode ser a menor área do território brasileiro, mas sua população é duas vezes maior que o número de habitantes das regiões Norte e Centro-Oeste.
Com um desenvolvimento relativamente igual nos setores primário, secundário e superior, esta população apresenta as maiores taxas de alfabetização registrados no Brasil, o que explica o desenvolvimento social e cultural da região.
Paraná (PR)
Rio Grande do Sul (RS)
Santa Catarina (SC)
Brasil – A Primeira República 1889 a 1930
Primeira República ou República Velha
O primeiro período republicano no Brasil, também chamado de Primeira República, e durou de 1889 a 1930. Foi controlado pelas oligarquias agrárias de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, ligadas à cultura cafeeira.
De 1889 a 1894, o Brasil foi dominado pelos setores militares envolvidos diretamente na proclamação da República. Chefe do governo provisório, o marechal Deodoro da Fonseca assumiu a Presidência em 1891.
Desfavorecido pela oposição do Congresso à sua política econômica, Deodoro renunciou em novembro do mesmo ano. Seu vice, Floriano Peixoto, assumiu o governo e usou o apoio popular para radicalizar a luta contra os monarquistas.
Presidência civil
Republicano histórico, Prudente de Moraes, que governou entre 1894 e 1898, inaugurou a fase dos governos civis e a sucessão de presidentes eleitos pelo Partido Republicano Paulista (PRP) – Campos Salles (gravura ao lado) (de 1898 a 1902) e Rodrigues Alves (1902 a 1906) – e pelo Partido Republicano Mineiro (PRM) – Afonso Pena (1906 a 1909) e Wenceslau Braz (1914 a 1918). Formado pelas oligarquias paulista, mineira e fluminense, o núcleo central do republicanismo controlou as eleições, fez presidentes e dominou o país.
Política dos governadores
Com a intenção de garantir o domínio das grandes oligarquias sobre a república, o paulista Campos Salles montou um esquema de poder que ficou conhecido como “política dos governadores”: o presidente da República dava suporte aos candidatos oficiais nas disputas estaduais e os governadores apoiavam seu indicado nas eleições presidenciais. Para dar certo, o plano dependeu do poder dos coronéis sobre o eleitorado local e do controle da Comissão de Verificação de Poderes do Congresso Nacional, responsável pelos resultados eleitorais finais e pela diplomação dos eleitos.
Café-com-leite
Com a política econômica voltada à cafeicultura e os governadores garantindo a sustentação das oligarquias regionais, implantou-se a república do café-com-leite – alusão à aliança que alternou paulistas e mineiros no poder. Nem o governo do marechal Hermes da Fonseca (1910 a 1914), dominado pelo senador gaúcho Pinheiro Machado e seu programa de “salvações militares”, abalou a aliança. Na verdade, as salvações não passavam de intervenções do governo federal nos estados (Bahia, Alagoas, Pernambuco, Ceará) para substituir as oligarquias de oposição por grupos políticos aliados ao poder central.
Divisões
As primeiras rachaduras nessa estrutura aparecem no final da década de 1910. Em 1918, o paulista Rodrigues Alves é eleito para suceder o mineiro Venceslau Brás. Rodrigues Alves morre antes da posse, e paulistas e mineiros não chegam a um acordo para sua substituição. Lançam, então, o paraibano Epitácio Pessoa, que governa de 1919 a 1922. Seu sucessor é o mineiro Artur Bernardes (1922 a 1926), que não tem a unanimidade de paulistas e mineiros. Bernardes desperta uma oposição militar que desemboca nas revoltas tenentistas, tendo de governar sob estado de sítio. O paulista Washington Luís (1926 a 1930) também assume a Presidência sem a sustentação das lideranças de seu estado. Enfrenta o endividamento interno e externo do país, a retração das exportações e, a partir de 1929, os problemas provocados pela crise econômica mundial.
Aliança Liberal
Pela política do café-com-leite, cabe ao PRM indicar o candidato à sucessão de Washington Luís. O partido já tem um nome, o do governador de Minas Gerais, Antônio Carlos. Sustentado pelo PRP, o presidente lança o nome de Júlio Prestes, governador de São Paulo. O gesto rompe o acordo das oligarquias paulista e mineira. Com o apoio do Rio Grande do Sul e da Paraíba, o PRM compõe a Aliança Liberal, que parte para a disputa tendo o gaúcho Getúlio Vargas como candidato a presidente e o paraibano João Pessoa, a vice. Em abril de 1930, a chapa de Júlio Prestes vence a eleição. Inconformados, os aliancistas provocam a Revolução de 1930, que põe fim à República Velha.
República Velha – História
Durante muito tempo a fase inicial da República brasileira foi chamada de “República Velha”.
O termo nasceu após 1930, quando um movimento liderado por Getúlio Vargas derrubou os grupos políticos e sociais que então comandavam o país.
Os novos governantes definiram seu tempo como “República Nova” e trataram o período anterior como “velho”, “ultrapassado”, “encerrado”.
Outra expressão usada pra designar os primeiros tempos republicanos no Brasil é “República Oligárquica”. Esse termo enfatiza o fato de que o poder, naquele período, se concentrava nas mãos das oligarquias estaduais, ou seja, das poderosas famílias latifundiárias.
O NASCIMENTO DE NOSSA REPÚBLICA
No dia 15 de novembro de 1889, a república foi proclamada no Brasil.
Deposto, Pedro II e sua família foram obrigados a partir para o exílio em Portugal.
O país passava pela primeira grande mudança de forma de governo desde a proclamação da independência.
Os republicanos estavam divididos em vários grupos.
Alguns, como o advogado Silva Jardim, propunham transformações mais radicais, com a abertura de espaços na política para a atuação popular.
Outros, como o jornalista Quintino Bocaiuva, defendiam mudanças mais moderadas e limites para a participação política da sociedade.
Existia também um terceiro grupo, composto de positivistas liderados por Benjamim Constant, que eram partidários da instauração de uma “ditadura republicana” controlada por militares. No embate entre esses grupos, prevaleceu a moderação e o interesse em manter a ordem social vigente. Os militares, que lideraram a proclamação da república, assumiram o comando do governo provisório, instituído após a queda da monarquia.
O GOVERNO DEODORO DA FONSECA
A chefia do governo provisório foi assumida pelo marechal Deodoro da Fonseca, um dos líderes da proclamação da república.
O novo governo era composto de representantes das várias tendências republicanas, com exceção dos radicais. Ele dissolveu as Assembleias Provinciais e as Câmaras Municipais e destituiu os presidentes de províncias (governadores da época). Iniciava-se o processo de reorganização do poder político, que não impediu o domínio das oligarquias locais, mas assegurou sua obediência ao novo regime.
O novo governo convocou eleições para a Assembleia Constituinte, que elaborou um projeto constitucional. Em fevereiro de 1891, nascia a primeira Constituição do Brasil Republicano. A Assembleia, transformada em Congresso Nacional, também escolheu, por eleição indireta, Deodoro da Fonseca como presidente constitucional e o marechal Floriano Peixoto como vice.
A forte centralização política nas mãos do presidente, porém, desagradou os setores oligárquicos regionais, que defendiam maior autonomia para os estados.
Além disso, exigiam uma participação mais ativa na definição dos rumos econômicos do Brasil, que, desde 1890, vivia uma profunda crise financeira, conhecida com Encilhamento.
As dificuldades políticas levaram Deodoro a dissolver o Congresso e a defender reformas constitucionais que lhe assegurassem maiores poderes, o que desagradou ainda mais os opositores do governo. Pressionado, Deodoro acabou renunciando à presidência em novembro de 1891.
A REPÚBLICA SE CONSOLIDA
Floriano Peixoto assumiu a presidência em 1891 e se esforçou para controlar a inflação e recuperar a economia.
Apesar de as novas medidas não terem resolvido a crise econômica, algumas delas levaram o governo a obter algum apoio popular, sobretudo entre trabalhadores pobres da capital federal.
O controle dos preços dos alugueis e de alguns alimentos e a isenção de impostos nas vendas de carne, por exemplo, atenuaram os protestos populares contra a nascente república.
Floriano consolidou o regime republicano por meio da centralização política e do comando rigoroso das forças armadas.
Ele enfrentou as duas principais manifestações do período: a Revolta da Armada e a Revolução Federalista. Nos dois casos, a repressão foi violenta e o governo republicano mostrou sua disposição de não tolerar mobilizações oposicionistas.
A Revolta da Armada explodiu em setembro de 1893. Os oficiais da marinha do Rio de Janeiro recusaram o domínio do exército e a limitada participação da armada na política brasileira. Insatisfeitos, eles se rebelaram e exigiram novas eleições.
Os conflitos se prolongaram até março de 1894 e incluíram o bombardeio da cidade do Rio de Janeiro pelos encouraçados da marinha. A Revolução Federalista estourou no Rio Grande do Sul, em 1893.
Os combates foram travados entre republicanos partidários de Floriano Peixoto, que defendiam o presidencialismo e a forte centralização e federalistas, defensores de um Estado parlamentarista menos centralizado.
As lutas se estenderam pelo Rio Grande do Sul e atingiram os estados de Santa Catarina e Paraná. A revolta foi derrotada pelo governo, em 1895, deixando um saldo de aproximadamente 10 mil mortos.
POLÍTICA DOS GOVERNADORES
Em 1894, Prudente de Moraes ganhou as eleições pelo Partido Republicano Federal, tornando-se o primeiro presidente civil do Brasil.
A principal aliança ocorria entre os setores oligárquicos mineiro e paulista.
São Paulo, grande produtor de café, era a principal força econômica do país. Já Minas Gerais, produtor de leite, era o estado com o maior número de eleitores. Por esse motivo, muitos historiadores usaram a expressão “política do café com leite” para definir o período.
Embora essa associação entre as elites dos dois estados tenha sido fundamental, é equivocada a ideia de que mineiros e paulistas se alternavam na presidência.
Os três primeiros presidentes civis, por exemplo, foram paulistas, mas teve presidente gaúcho, paraibano e até fluminense, embora este tenha feito toda sua carreira política em São Paulo.
Apesar de os políticos e os cafeicultores do estado de São Paulo e Minas Gerais terem forte influência política durante a Primeira República, os acordos oligárquicos não se resumiam ao “café com leite”. Pelo contrário, havia muitas divergências internas, e representantes de outros estados também governavam.
O principal exemplo desse jogo político foi chamada de política dos governadores.
A política dos governadores ou política dos estados, arquitetada por Campos Salles, foi um sistema de alianças entre o governo federal e os governos estaduais, estes últimos controlados pelas oligarquias locais.
O governo federal procurava não interferir nas disputas locais e atribuía aos presidentes dos estados (governadores) a definição de seus representantes no Congresso. Tais representantes eram escolhidos em eleições diretas, quase sempre fraudulentas, e se comprometiam a apoiar a presidência.
A Comissão de Verificação de Poderes, controlada por pessoas ligadas ao presidente e encarregada de diplomar os deputados eleitos (validar a eleição), impedia que eventuais candidatos da oposição chegassem ao Congresso. Por meio desses acordos, o governo central ganhava força, neutralizava os parlamentares da oposição e garantia a manutenção do controle político local pelas oligarquias estaduais.
O sistema articulava os diferentes estados da União; porém, os estados economicamente mais fortes tinham mais peso nas decisões. Dessa forma, apesar de não ter havido nenhum presidente de São Paulo por vinte anos, a oligarquia paulista manteve-se hegemônica.
Fonte: thebrazilbusiness.com/Enciclopédia do Brasil/countrystudies.us
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