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Idioma do Brasil – História
No Brasil dos paradoxos, acontecem coisas que a mais fértil imaginação não teria condição de acreditar.
O retrato da identidade nacional é composto por um branco, um índio e um negro e, obviamente, falamos um idioma formado por palavras oriundas destas três fontes linguísticas. No entanto, temos a coragem de dizer que “no Brasil, fala-se o português”. Ledo engano.
No Brasil fala-se um idioma que só se fala no Brasil e em nenhum lugar mais. Aliás, somos a única ex-colônia portuguesa que não fala com sotaque português. E isto deve-se à influência da língua tupi ou seja, o nheengatú – ou, como quer o presidente, ao “nhen,nhen,nhen”. Esta espinha dorsal linguística brasileira está um tanto desbotada diante de tantas “lavagens culturais” à que foi submetida ultimamente pelos estrangeirismos que empesteiam o nosso idioma.
A língua portuguesa original trazida para o Brasil continha 140 mil verbetes ou palavras. O português, esta “língua de marinheiro”, contém hoje 260 mil verbetes, fato que o torna a mais rica língua em sinonímica do mundo.
Os 120 mil verbetes excedentes em nosso idioma falado, ficam por conta das culturas africanas e tupi-guarani. Portanto, a tão alardeada “unificação ortográfica e gramatical” torna-se impossível a partir da própria consequência linguística que este idioma adquiriu no Brasil. Isto porque, o significado de milhares de palavras oriundas da língua tupi e falados diariamente, são completamente desconhecidos por todos indistintamente. Isto sem mencionarmos obviamente, a contribuição linguística africana.
As três línguas que formam o idioma brasílico têm um sentido e uma objetividade declaradamente importante: O africano nos deu verbetes com os quais nos expressamos na forma espiritual, culinária, lazer, gíria e glotologias Ex: Bunda, Xodó, Bizú, Gogó, Tijolo, Zureta, Muvuca, Mumunha, Maluco, Garfo e por aí vai aos milhares também.
O Tupi nos deu verbetes que nos permitem ir e vir no real sentido locativo e toponímico. O Português nos deu verbetes que nos fornecem condições jurídicas, políticas e didáticas.
Tornar-se-ia impossível a um brasileiro fazer tudo que faz diariamente usando apenas o recurso da língua portuguesa. Daí que….
É IMPOSSÍVEL UMA UNIFICAÇÃO ORTOGRÁFICA COM OS DEMAIS PAÍSES DE “LÍNGUA PORTUGUESA”!
Corrigir a injustiça histórica secular para com a cultura ameríndia brasílica, origem da formação nacional e espírito latente de insubmissão à dominação estrangeira, deve ser o objetivo de todos aqueles que lidam com a Educação e Cultura deste país e que tenham um pouco de amor ao verde e amarelo.
Devemos propiciar aos milhões de brasileiros que diariamente expressam-se na língua tupi, a oportunidade de saberem o significado dessas palavras e, sabendo-o, terem condições de conhecer a história da grande nação Tupi, fato que gerará o inevitável espírito nacionalista e a responsabilidade em sua preservação.
A consequência imediata desta providência será a expansão para além das nossas fronteiras da verdadeira epopeia da estruturação brasileira, permitindo ainda que as demais nações, por intermédio dos milhares de turistas que pisam o território nacional, saibam, em seu próprio idioma, o significado dos nomes e palavras tão comuns nos logradouros públicos, locais e cidades mundialmente famosas, e, cujos nomes em língua Tupi, até a presente data, não têm tradução literal e significação, uma vez que os próprios brasileiros não o sabem.
E apenas para informação, longe de ser alguma língua morta e sem origem, o tupi ou nhengatú possui uma gramática expositiva dividida em quatro partes exatamente como a língua portuguesa: Fonologia Morfologia Taxinomia e Sintaxe.
Estamos diante, portanto, de uma prova que os milhares de nomes toponímicos que descrevem e definem lugares, cidades, praças, ruas, produtos, objetos ou fenômenos da terra, não foram jogados ao vento “por um caboclo brejeiro qualquer” como quer a explicação até hoje passada nas escolas do país, mas sim, fazem parte do aspecto topográfico local, traduzido pelo idioma brasílico, genuíno irmão linguístico do português.
Se observarmos apenas algumas das palavras que falamos diariamente, já teremos uma pequena ideia da nossa ignorância e a consequente responsabilidade para com o futuro: Jacarepaguá, é Lago do Jacaré Andaraí, é Água do morcego Aracaju, é Tempo de Caju Tijuca, é barro mola – Pará, é mar Paraná, é rio afluente Paraguai, é rio do papagaio Paraíba, é rio ruivo ou encachoeirado – Pirapora, é peixe que salta Pindorama, é país das palmeiras Sergipe, é rio dos siris Goiás, é gente da mesma raça Piratininga, é seca peixe Curitiba, é barro branco Mogi-Mirim, é riacho das cobras Carioca, é casa de branco Anhangabaú, é buraco do diabo e Ipanema, é água suja.
Estas são apenas algumas das milhares de palavras do idioma tupi faladas e escritas diariamente e que, identificando locais e cidades nacional e internacionalmente conhecidas, fazem parte do nosso vocabulário diário, porém as suas traduções ou significados são desconhecidos por todos. Os padres jesuítas José de Anchieta e Nóbrega dedicaram suas vidas aos estudos e codificação da língua tupi-guarani, seus usos, costumes, história e origem antropológica desta grande nação cujo sangue corre em nossas veias, direta ou indiretamente. Centenas de outros jesuítas sucederam aos pioneiros na continuidade deste trabalho, legando-nos verdadeiros tratados acerca de tal assunto, vez que, já àquela época, previam a necessidade das futuras gerações acerca do conhecimento da língua brasílica que faria parte da nossa existência como nação.
Mas a leviandade, o preconceito e o racismo de alguns “intelectualóides de beira de jardim” que se revezaram durante anos no controle da educação e cultura, desprezaria por completo o trabalho destes jesuítas, preferindo dar cunho oficial aos anglicanismos, galicismos e estrangeirismos que corroem o nosso idioma e alteram o nosso comportamento.
De tal maneira desafiaram o conceito de nação que hoje, nas faculdades, ninguém sabe gramática portuguesa e muito menos gramática tupi-guarani.
E só para exemplificar aí vai um texto que prova a importância da cultura indígena na nossa vida:
“Aí, o presidente Fernando Henrique Cardoso saiu do palácio às margens do Lago do Paranoá, observou uma Siriema que ciscava no palácio do Jaburu, chegou ao seu gabinete sendo recebido pelo mordomo Peri, lembrou a um assessor sobre as comemorações da Batalha do Humaitá, convocou o ministro do Itamaraty e o governador do Goiás, que visitava seu colega no palácio do Buriti, e, uma vez juntos, tomaram um suco de Maracujá, comentaram sobre as reformas do estádio do Maracanã e as recentes obras no vale do Anhangabaú, riram de um antigo comentário do Barão de Itararé sobre obras públicas, e, abrindo uma agenda de pele de Jacaré, passaram, a decidir sobre o carvão de Criciúma, os suínos de Chapecó e a safra de arroz de Unaí.” Viram, falaram, beberam e escreveram em tupi e não se aperceberam disto.
O embaraço maior, seria se tivessem que traduzir todas estas palavras para o chanceler francês que visitava o Brasil.
E já que é assim, por que não inserir em todas as placas de ruas, praças, avenidas, estradas, rodovias, monumentos e locais cujos nomes sejam originalmente em língua tupi, o significado em português, o qual, via de regra, poderá ser traduzido para qualquer idioma estrangeiro.
E por que não explicar nas escolas primárias e secundárias esta fusão da língua portuguesa com a língua tupi-guarani e seus fenômenos toponímicos e gramaticais usados no cotidiano desde a tenra idade
Achamos esta saída ideal para um problema que tem gerado situações embaraçosas para brasileiros no exterior, quando alguém pergunta o significado da palavra Ipanema ou, dentro do seu próprio país, quando um filho ou uma filha pergunta: “…papai, o que quer dizer Carioca ” Diante do desconhecimento total por parte dos brasileiros acerca desta cultura e herança, corremos os risco de permitir que as gerações futuras pensem que tais palavras, hábitos e costumes, fazem parte da cultura e língua portuguesa, porém, sem significado e explicação. É o máximo !
E, caso algum especialista em educação e cultura ache que é possível viver sem esta influência linguística, poderá começar por retirar todas as palavras da língua tupi do nosso vocabulário. Inicialmente, terá que trocar o nome de dez estados e sete capitais brasileiras, cujos nomes são em tupi. Depois trocar os nomes de centenas de municípios, milhões de ruas, praças, avenidas, estradas, rodovias e localidades topográficas cujos nomes também são originários da língua tupi. E finalmente, terá que mudar milhares de nomes próprios e palavras comuns do nosso dia-a-dia, as quais são verbetes da língua tupi. Aí verá que a comunicação e a locomoção tornar-se-ão impossíveis.
E já que esta terra era propriedade de uma raça tão importante que mesmo dizimada nos legou um tratado linguístico e antropológico de beleza impar, nada melhor do que repetir a célebre frase de Aimberê, o cacique-comandante da Confederação dos Tamoios no Rio de Janeiro: “Nhandê Coive Ore Retama!” Esta terra, é nossa ! – E é, por esta razão que me considero um legítimo Tupinambá…porque no Brasil, TODO DIA, É DIA DE ÍNDIO !
OS CINCO SÉCULOS DA LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL
Brasil – Colônia
O idioma português, já dotado de rica literatura e de disciplina gramatical, não encontrou, na Terra de Santa Cruz, ambiente propício à sua imediata implantação por serem predominantes o elemento indígena e o africano (os primeiros escravos negros datam do século XVI).
O próprio elemento branco domiciliado na colônia também foi responsável por essa dificuldade de se impor a língua portuguesa.
Os cruzamentos eram quase todos de mulheres índias com portugueses, que, dedicados integralmente aos seus afazeres agrícolas ou comerciais, não dispunham de tempo para ensinar aos filhos o idioma pátrio, ensejando, assim, às mulheres iniciarem-nos no uso da língua nativa. Houve até, nessa época, certa predileção pelo tupi, pois os portugueses, por necessidade de comunicação com os selvagens, tiveram também de aprender esse falar indígena da costa colonial, o qual era mais ou menos uniforme.
Os jesuítas, com destaque para Anchieta, igualmente contribuíram para o crescente predomínio do tupi. Visando à catequese dos selvagens, estudavam-lhes a língua, organizando a sua gramática e o dicionário para melhor resultado do apostolado. Por outro lado, nos colégios que fundaram, ensinavam aos filhos dos colonos não só o português mas também o tupi.
Outro fator para o crescente uso e expansão do tupi foram as entradas e as bandeiras. Nas expedições ao sertão a dentro, ligando o litoral ao interior, os bandeirantes, que tinham ordinariamente guias índios, faziam do abanheém (nome da língua geral do Brasil, vulgarmente dita tupi-guarani) o instrumento de suas comunicações diárias, o que explica os inúmeros topônimos indígenas em regiões que não eram ocupadas pelos tupis.
A influência da língua geral foi grande, porquanto era necessária aos mercadores nas suas viagens, aos aventureiros em suas investidas pelo interior, aos habitantes da colônia em seu contato com o gentio.
O seu domínio se prolongou por dois séculos e meio de colonização portuguesa, sendo interessante o depoimento de Francisco Xavier Mendonça Furtado, que chamava à língua geral ” invenção diabólica”, acerca de dois fatos que muito o irritaram e o obrigaram a adotar medidas mais efetivas na repressão ao uso dessa língua: O primeiro foi virem à minha casa umas crianças filhos de umas pessoas Principais desta terra, e falando eu com elas, que entendendo pouco Português, compreendiam e se explicavam bastante na língua tapuia, ou chamada geral. O segundo foi ver debaixo de minha janela dois negros dos que proximamente se estão introduzindo da Costa da África, falando desembaraçadamente a sobredita língua e não compreendendo nada da portuguesa.
Por outro lado, a necessidade de comunicação entre os senhores e escravos negros fez surgir um falar de emergência que tinha por base a língua portuguesa. Alterada e simplificada na boca dos escravos, formaram-se, consequentemente, os dialetos crioulos do Brasil.
Até a metade do século XVIII, nas regiões periféricas das vilas e cidades, na zona rural ou nos lugares onde não havia ocorrido a transculturação, falou-se tupi, nagô ou quimbundo, e principalmente a língua de circunstância, a qual, sendo meio-português, ia servindo de instrumento de comunicação para quem não tinha conhecimento de qualquer idioma africano ou indígena.
O governo metropolitano, porém, preocupava-se em difundir a língua portuguesa, sobretudo a partir da primeira metade do século XVIII, recomendando aos missionários que ensinassem aos índios o português. Em 1757, com a expulsão dos jesuítas, proibiu-se o uso da língua geral e, concomitantemente, tornava-se obrigatório o emprego da língua portuguesa, pois a classe dominante não descartaria o prestígio advindo da sua condição de senhores da terra, substituindo a sua própria língua.
Outros fatores contribuíram para a consagração da língua portuguesa: exprimia a melhor forma de civilização; era a língua da administração; exigia-se seu conhecimento nos concursos públicos; nela eram redigidos os livros de ficção ou de ciência, os contratos, testamentos, registros, transmissões e todos os documentos jurídicos; era a língua da escola; sendo apenas falado, o tupi carecia da categoria de língua escrita literária; esmoreceu-se o uso da língua geral por não contar mais com o amparo dos jesuítas, expulsos e perseguidos por Marquês de Pombal; sem os jesuítas, houve o consequente retorno dos índios à primitiva selvageria, indo eles para as zonas mais distantes do Oeste; o Brasil se comunicava em português com o resto do mundo – o progresso da civilização favorece o uso de uma língua literária em detrimento de um falar exclusivamente local; a proliferação do mestiço, cuja ascensão social se tornara imperativa da melhor condição paterna, sendo, para tal, indispensável o conhecimento da língua culta ou padrão, fazia aumentar o número de usuários da língua portuguesa; as sucessivas imigrações de famílias portuguesas (800.000 portugueses segundo Gladstone Chaves de Melo atraídas pelo progresso da colônia, aqui se estabeleceram, irradiando lusitanidade e ensinando espontaneamente a língua na sua feição continental.
A chegada de D.João VI em 1807 veio favorecer a expansão e a consolidação do emprego da língua portuguesa.
A passagem do Brasil à condição de Vice-Reino e mais tarde a transformação do Rio de Janeiro na capital da nação portuguesa fizeram da escola importante agente para o definitivo aportuguesamento da linguagem brasileira. O surgimento da Impressão Régia, proporcionando a edição de livros e jornais no Brasil, aumentou o número de leitores nacionais.
Antes da chegada do Príncipe Regente, o português já sobressaía como língua de cultura; o tupi e os dialetos crioulos eram utilizados apenas como língua de circunstância ou geral, facilitando os contatos entre gente analfabeta e inculta.
A língua geral foi paulatinamente deixando de ser usada, firmando-se a língua portuguesa, a partir da segunda metade do século XVIII, como língua própria e única do país, com a qual todos se comunicavam e expressavam por escrito seus pensamentos e sentimentos e na qual eram expedidos todos os documentos oficiais.
Do ponto de vista linguístico a consequência será o triunfo da língua de maior potência cultural, ou seja, o Português, tal como as elites procuravam praticá-lo.
Toda essa massa ondulante e sequiosa de ascensão social buscava integrar-se no estilo de vida das classes superiores e encontrava no polimento da linguagem um dos instrumentos mais eficientes para consegui-lo.
A escola representou, então, um papel decisivo no definitivo aportuguesamento da linguagem brasileira padrão.
Brasil – Independente
Até as margens plácidas do Ipiranga ouvirem o brado retumbante de um povo heroico, os modelos linguísticos e literários eram importados da Corte de Lisboa e da Universidade de Coimbra.
Condenava-se tudo aquilo que não se coadunava com o figurino ditado pela metrópole. Os puristas e os gramáticos não aceitavam as alterações que aqui se processavam naturalmente, exigindo total submissão aos padrões literários e linguísticos.
Contudo, certas manifestações de sentimento de brasilidade na literatura colonial já começavam aflorar sobretudo nas obras do Grupo Mineiro ou Plêiade Mineira, célebre por conter as principais figuras da Inconfidência. Esse grupo de poetas reunia épicos e líricos impregnados do sentimento nativista, cantando em seus poemas a terra virgem da pátria nas suas cores, nos seus frutos, na sua exuberância tropical.
O influxo do movimento literário proveniente da França o Romantismo veio satisfazer plenamente as nossas aspirações de liberdade ao coincidir com os primeiros anos de independência e transformou-se num poderoso veículo de emancipação literária. Das características românticas, a que mais se acentuou no Brasil foi a do patriotismo. A fobia lusitana fazia que os escritores repudiassem a imitação dos clássicos portugueses e buscassem novas fontes de inspiração genuinamente brasileiras.
Os temas nacionais ganhavam a sua preferência: transformavam o índio em supimpa matéria literária, surgindo daí o indianismo, cujos arautos foram Gonçalves Dias no verso e José de Alencar na prosa; insurgem-se contra tudo que é luso, pretendendo mesmo criar uma língua nacional, cujo movimento foi encabeçado pelos mesmos Gonçalves Dias e José de Alencar; iam abeberar-se no folclore brasileiro para as suas criações literárias; usavam a literatura como arma política e social, servindo à causa da Abolição e da República.
O Romantismo quebrou a fidelidade da produção literária aos padrões clássicos portugueses, não podendo ser mais, como antes, simples ramo da literatura lusa.
Introduziu na nossa literatura a maneira brasileira de sentir e encarar o mundo, de traduzir os sentimentos e as reações. Data de então a existência de uma literatura brasileira pelo conteúdo e pela forma. No entanto, nada há que afete a estrutura linguística comum aos dois povos; a língua é a mesma, apenas os estilos nacionais são diferentes.
Em 13 de fevereiro de 1922, com a Semana da Arte Moderna, outro surto da literatura brasileira o Modernismo levanta novamente o problema do nacionalismo linguístico. Com Mário de Andrade, o uso da língua popular na língua literária foi muito além do Romantismo. Em Macunaíma, obra de Mário de Andrade, o aproveitamento excessivo da língua falada em busca da criação de uma língua literária essencialmente brasileira em seus modismos léxicos e sintáticos, sem preocupação alguma com os moldes clássicos e tradicionais da língua padrão, chega a prejudicar o entendimento da mensagem do autor.
Surge, então, o movimento da língua brasileira, resultante do confronto entre as falas regionais ou populares do Brasil e as de Portugal. Esse movimento identifica diferenças na pronúncia, no vocabulário e na sintaxe, ignorando que, acima das variantes regionais e dos estratos sociais, existe a forma linguística padrão que as pessoas cultas de qualquer região do mesmo país procuram praticar.
É incontestável que a língua culta é a mesma nos dois países, bem como nos demais da comunidade lusófona; constituímos uma estrutura linguística comum e que, em consequência, fazemos parte do mesmo domínio linguístico, aliás ainda mais vasto, pois engloba territórios de África e de Ásia.”
As diferenças sintáticas apontadas pelos brasileiristas se devem aos recursos expressionais que a língua portuguesa oferece, escolhendo o brasileiro um, e o português outro.
Na conjugação perifrástica, o português usa o verbo no infinitivo: estou a escrever; o brasileiro prefere o gerúndio ao infinitivo, conservando a forma usual no português arcaico: estou escrevendo.
A nossa pronúncia reflete o sistema fonético do século XVI. É abusiva e incompreensível tolice sustentar que a diferença de uma língua, ou dialeto, para outra, consiste apenas na prosódia.
A pronuncia é sinal ou sintoma de outras diferenciações, excêntricas ou concêntricas, que caracterizam qualquer tipo de linguagem. O sotaque tem diferenciações infinitesimais e cada pessoa pode ser conhecida pela voz.
Às diferenças de timbre correspondem outras diferenças fundamentais. O vocabulário foi enriquecido de palavras e expressões indígenas e africanas e o continua sendo com os empréstimos tomados de outras línguas.
Ocorre muitas vezes no Brasil uso de palavras de material essencialmente português, justificando-se a preferência pelo modo de ser e sentir do brasileiro, pela sua cultura linguística, pela influência do meio físico e social, que o sensibiliza para as comparações e criações de imagens e metáforas; assim espátula, aeromoça, fila, refrigerador cochilar correspondem em Portugal, respectivamente, a corta-papel ou faca de cortar papel, hospedeira, bicha, frigorífico, dormitar ou toscanejar. Neste caso, pode-se dizer que tal emprego é português do Brasil, uma vez que a diferença é uma questão de escolha das opções.
Só se devem denominar de brasileirismos as palavras e expressões de uso exclusivamente regional.
A língua portuguesa, escreve Serafim da Silva Neto, pertence a todos que a falam…Por isso os brasileiros são tão proprietários quanto os portugueses dessa língua que nos é comum.
Em 15 de outubro de 1940, a comissão encarregada de opinar sobre a denominação do idioma nacional, dirime essa controvérsia, concluindo pela unidade linguística entre Portugal e o Brasil, conforme a seguir fragmento do seu parecer, cujo relator foi o Professor Sousa da Silveira
Os estudos linguísticos, sérios e imparciais, aplicados ao Brasil, fazem-nos concluir que a nossa língua nacional é a língua portuguesa, com pronúncia nossa, algumas leves divergências sintáticas em relação ao idioma atual de além-mar, e o vocabulário enriquecido por elementos indígenas e africanos e pelas criações e adoções realizadas em nosso meio.
As palavras brasileiras são iguais às portuguesas na sua composição fonética, apenas diferindo na pronúncia; os nomes de números são os mesmos em Portugal e no Brasil; as conjugações são as mesmas, num e noutro país; as mesmas são também as palavras gramaticais: os pronomes (pessoais, possessivos, demonstrativos, relativos, interrogativos, indefinidos), os artigos, os advérbios (de tempo, modo, quantidade, lugar, afirmação, negação) as preposições e as conjunções. Em geral é o mesmo gênero gramatical cá e lá; são as mesmas regras de formação do plural, o mesmo sistema de graus de substantivos e adjetivos; os mesmos preceitos de concordância nominal e verbal; quase na totalidade dos casos é a mesma regência dos complementos dos nomes e dos verbos; o mesmo emprego de modos e tempos, e a mesma estrutura geral do período quanto à sucessão das orações e à ligação de umas com outras.
Lemos e compreendemos tão bem uma página de Eça de Queirós quanto uma de Machado de Assis; e quando, em escrito de autor brasileiro ou português, desconhecemos o significado de qualquer palavra, recorremos, salvo tratando-se de algum termo muito restritamente regionalista, a um dicionário da LÍNGUA PORTUGUESA; nunca o brasileiro para ler, compreendendo um jornal ou livro português, precisou de aprender previamente a língua de Portugal como se aprende uma língua estrangeira; não há dicionário Português-Brasileiro, nem Brasileiro-Português, como há, por exemplo, dicionário Português-Espanhol e Espanhol-Português; a gramática da língua nacional do Brasil é a mesma gramática portuguesa.
Afirmações idênticas a essas que acabamos de fazer não teriam lugar se comparássemos o Português com o Espanhol, não obstante serem línguas românicas parecidíssimas uma com a outra: é que Espanhol e Português são línguas diversas, ao passo que é a mesma língua a que se fala e escreve no Brasil e a que se fala e escreve em Portugal.
Quando os linguistas tratam de Geografia das línguas românicas, incluem a língua do Brasil no domínio do Português; e nas estatísticas relativas ao número de pessoas que falam as grandes línguas do globo, o povo brasileiro figura entre os de língua portuguesa.
A Formação da Língua Portuguesa no Brasil
A língua é um organismo vivo que se modifica ao longo do tempo. Palavras novas surgem para expressar conceitos igualmente novos; outras deixam de ser utilizadas, sendo substituídas.
Na época das grandes navegações, Portugal conquistou inúmeras colônias e o idioma português foi influenciado pelas línguas faladas nesses lugares, incorporando termos diferentes como “jangada”, de origem malaia, e “chá”, de origem chinesa. O período renascentista também provocou uma série de modificações na língua, que recebeu termos eruditos, especialmente aqueles relacionados à arte.
Os colonizadores portugueses, principalmente os padres jesuítas, difundiram o idioma no Brasil. No entanto, diversas palavras indígenas foram incorporadas ao português e, posteriormente, expressões utilizadas pelos escravos africanos e imigrantes também foram adotadas. Assim, o idioma português foi se juntando à família linguística tupi-guarani, em especial o Tupinambá, um dos dialetos Tupi. Os índios, subjugados ou aculturados, ensinaram o dialeto aos europeus que, mais tarde, passaram a se comunicar nessa “língua geral”, o Tupinambá. Em 1694, a língua geral reinava na então colônia portuguesa, com características de língua literária, pois os missionários traduziam peças sacras, orações e hinos, na catequese.
Com a chegada do idioma iorubá (Nigéria) e do quimbundo (Angola), por meio dos escravos trazidos da África, e com novos colonizadores, a Corte Portuguesa quis garantir uma maior presença política.
Uma das primeiras medidas que adotou, então, foi obrigar o ensino da Língua Portuguesa aos índios.
Desde o século XVI, época da formação do Português moderno, o português falado em Portugal manteve-se mais impermeável às contribuições linguísticas externas. Já o Brasil, em decorrência do processo de formação de sua nacionalidade, esteve mais aberto às contribuições linguísticas de outros povos.
Ainda hoje o português é constantemente influenciado por outras línguas. É comum surgirem novos termos para denominar as novas tecnologias do mundo moderno, além de palavras técnicas em inglês e em outros idiomas que se aplicam às descobertas da medicina e da ciência. Assim, o contato com línguas estrangeiras faz com que se incorporem ao idioma outros vocábulos, em sua forma original ou aportuguesados.
Atualmente, existem muitas diferenças entre o português que falamos no Brasil e o que se fala em Portugal. Tais diferenças não se limitam apenas à pronúncia das palavras, facilmente notabilizada na linguagem oral.
Existem também diferenças de vocabulário (só para citar um exemplo, no Brasil dizemos “trem”, em Portugal se diz “comboio”) e de construção gramatical (enquanto no Brasil se utiliza uma construção como “estou estudando”, em Portugal prefere-se a forma “estou a estudar”).
Brasil | Portugal |
Banheiro | Quarto de banho |
Açougue/Açogueiro | Talho/Talhante |
Fila | Bicha |
Ônibus | Autocarro |
Trem | Combóio |
Toca-fitas | Leitor de cassetes |
Tela (de TV) | Écran |
Um “acontecimento” no Brasil… | ….é um “facto” em Portugal |
Terno | Fato |
Menino/garoto | “puto” |
Meias masculinas | Peúgas |
Cueca | Boxer |
Multa | Coima |
“meia” | 6 (seis) |
Galera | Turma |
Embarcação | Galera |
Usuário | Utilizador |
Xerox | Fotocópia |
Caça comprida | Pantalona |
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990
O Acordo Ortográfico de 1990 foi proposto para criar uma norma ortográfica única, de que participaram na altura todos os países de língua oficial portuguesa, com a adesão da delegação de observadores da Galiza.
Os signatários que ratificaram o acordo original foram Portugal (1991), Brasil (1996), Cabo Verde (2006) e S. Tomé e Príncipe (2006). Timor-Leste, não sendo um subscritor do acordo original, ratificou-o em 2004.
Em julho de 2004 foi aprovado, em São Tomé e Príncipe, o Segundo Protocolo Modificativo, durante a Cúpula dos Chefes de Estado e de governo da CPLP.
O Segundo Protocolo permitiu que o Acordo passasse a vigorar com a ratificação de apenas três países, sem a necessidade de aguardar que todos os demais membros da CPLP adotassem o mesmo procedimento.
Assim, tendo em vista que o Segundo Protocolo Modificativo foi ratificado pelo Brasil (2004), Cabo Verde (2006) e S. Tomé e Príncipe (Dez. 2006), e que o Acordo passaria automaticamente a vigorar um mês após a terceira ratificação necessária, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa está em vigor, na ordem jurídica internacional e nos ordenamentos jurídicos dos três Estados acima indicados, desde 1º de Janeiro de 2007. Cf. Nota da CPLP
Português, a língua oficial do Brasil
Português – língua oficial do Brasil
O idioma português chegou ao território brasileiro a bordo das naus portuguesas, no Século XVI, para se juntar à família linguística tupi-guarani, em especial o Tupinambá, um dos dialetos Tupi.
Os índios, subjugados ou aculturados, ensinaram o dialeto aos europeus que, mais tarde, passaram a se comunicar nessa língua geral – o Tupinambá.
Em 1694, a língua geral reinava na então colônia portuguesa, com características de língua literária, pois os missionários traduziam peças sacras, orações e hinos, na catequese.
Com a chegada do idioma iorubá (Nigéria) e do quimbundo (Angola), por meio dos escravos trazidos da África, e com novos colonizadores, a Corte Portuguesa quis garantir uma maior presença política.
Uma das primeiras medidas que adotou, então, foi obrigar o ensino da Língua Portuguesa aos índios.
Lei do diretório
Em seguida, o Marques de Pombal promulgou a Lei do Diretório (1757) que abrangia a área compreendida pelos estados do Pará e do Maranhão, um terço do território brasileiro de então.
Esta lei considerava a língua geral uma invenção verdadeiramente abominável e diabólica e proibia às crianças, filhos de portugueses, e aos indígenas aprenderem outro idioma que não o português.
Em 1759, um alvará ampliou a Lei do Diretório: tornou obrigatório o uso da língua portuguesa como idioma oficial em todo o território nacional.
Portanto, ao longo de dois séculos, o Brasil possuiu dois idiomas: a língua geral ou tupinambá e o português.
Português no mundo
Hoje, o mundo que fala português (lusófono) soma cerca de 200 milhões de pessoas. É o oitavo idioma mais falado no planeta e a terceira entre as línguas ocidentais, após o inglês e o castelhano.
É, ainda, o idioma oficial de sete países, todos eles ex-colônias portuguesas: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe.
Com a admissão de Portugal na União Europeia, o português passou a ser uma de suas línguas oficiais.
Fonte: www.brazzilbrief.com/www.mackenzie.br/www.colegiosantarosa.com/www.brasil.gov.br
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