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Maior conflito armado ocorrido na América do Sul, a Guerra do Paraguai (1864-1870) foi o desfecho inevitável das lutas travadas durante quase dois séculos entre Portugal e Espanha e, depois, entre Brasil e as repúblicas hispano-americanas pela hegemonia na região do Prata.
A Guerra do Paraguai surgiu de um complexo encadeamento de rivalidades internacionais, de ambições pessoais e das peculiares condições geográficas da região platina. Na época do conflito, o Império do Brasil emergia provavelmente como a nação mais influente e bem organizada da América do Sul, tendo fortalecido sua posição no continente após o período de lutas contra Rosas (na Argentina) e Oribe (no Uruguai).
Desde a independência do Paraguai, em 1813, o Brasil passara a manter relações satisfatórias com esse país, mesmo durante o longo período de isolamento que sofrera a nação paraguaia sob os governos de Francia e de Carlos Antonio López.
O marechal paraguaio Francisco Solano López sucedeu ao pai no momento em que arrefecera a rivalidade entre a Argentina e o Brasil, os dois pólos de poder do continente. Sua ambição era tornar o Paraguai uma potência platina, capaz de competir com a Argentina e o Brasil pela preeminência na América do Sul.
Atribuía o confinamento de seu país, em parte, às maquinações diplomáticas entre o Brasil e os argentinos, que dificultavam ao Paraguai a navegação fluvial e o exercício de um relevante comércio internacional. Em seu avanço para oeste, o Brasil poria em risco a nação paraguaia, e a consolidação das províncias argentinas criaria um poderoso rival na fronteira sul do país. López alimentava o plano de uma confederação das populações hispânicas do interior. Reunindo o Paraguai, as províncias argentinas de Entre Ríos e Corrientes, o Uruguai e talvez a parte meridional do Rio Grande do Sul, teria condições de fazer frente tanto ao Brasil quanto à Argentina.
Com a reviravolta política ocorrida na Argentina, em 1861, após a batalha de Pavón, em que os unitários de Bartolomé Mitre derrotaram os federais de Justo José Urquiza, e a instalação posterior dos liberais em Buenos Aires e por toda a Confederação Argentina, López se convenceu da inviabilidade de seu plano da “confederação do interior”, que lhe daria o livre acesso ao mar.
Descartada essa possibilidade, o ditador paraguaio preparou sua nação para a guerra: já em 1864, o Paraguai, em flagrante contradição com os recursos de que dispunha, surgia como a principal potência militar do Prata.
Às vésperas do conflito, o Paraguai dispunha de sessenta mil homens bem treinados e 400 canhões. Os recursos de transporte e abastecimento, porém, não atendiam às exigências de uma movimentação de tropas em campanha. A maioria dos canhões estava fixada na fortaleza de Humaitá, onde também se encontravam grandes efetivos de infantaria. Quanto às forças navais, essenciais para um país cuja única via de comunicação com o exterior era a bacia platina, López só dispunha de 14 pequenas canhoneiras fluviais.
O Brasil podia lançar em campo 18.000 homens, dos quais oito mil estavam nas guarnições do sul; contava com uma força naval considerável e bem treinada, com uma esquadra de 42 navios, embora alguns deles, pelo calado, não fossem apropriados à navegação fluvial. A Argentina possuía apenas oito mil homens e não dispunha de uma marinha de guerra quantitativamente apreciável. As forças do Uruguai contavam menos de três mil homens, sem unidades navais.
1 INTRODUÇÃO
Guerra que opôs, entre 1864 e 1870, de um lado o Brasil, a Argentina e o Uruguai, formando a Tríplice Aliança e de outro o Paraguai. O equilíbrio na região platina sempre foi buscado pelos países que a compunham, de forma a assegurar que um deles detivesse poder excessivo na região.
O conflito teve início quando as relações entre o Brasil e o Uruguai chegaram a um ponto crítico, devido a constantes choques fronteiriços entre estancieiros uruguaios e rio-grandenses.
Apoiado pelo presidente paraguaio Francisco Solano López, o presidente uruguaio Atanasio Aguirre recusou as exigências brasileiras de reparação formuladas pelo enviado especial José Antônio Saraiva.
Quando os brasileiros sitiaram Montevidéu, terminando por derrubar Aguirre, Lopez invadiu a província de Mato Grosso, tomando Nova Coimbra e Dourados e logo depois a província argentina de Corrientes, visando chegar a seus aliados uruguaios. Em conseqüência, foi assinado em 1º de maio de 1865 o Tratado da Tríplice Aliança contra o Paraguai.
Os aliados conseguiram, em 1865, a vitória naval da batalha do Riachuelo e a rendição dos paraguaios que haviam chegado a Uruguaiana, no Rio Grande do Sul.
Tomando a ofensiva, sob o comando de Bartolomeu Mitre, presidente argentino, os aliados venceram as batalhas de Passo da Pátria e Tuiuti (1866). Quando o então marquês de Caxias, Luís Alves de Lima e Silva, assumiu o comando, a fortaleza de Humaitá foi conquistada. (1867).
Lopez retirou-se para mais próximo de Assunção, onde acabou derrotado nas batalhas da “dezembrada”(1868): Avaí, Itororó e Lomas Valentinas.
Assunção caiu e a última fase da guerra foi comandada pelo conde d’Eu, encerrando-se com a morte de Lopez em Cerro Corá (1870).
2 DEFINIÇÕES
Maior conflito armado ocorrido na América do Sul, a guerra do Paraguai (1864-1870) foi o desfecho inevitável das lutas travadas durante quase dois séculos entre Portugal e Espanha e, depois, entre Brasil e as repúblicas hispano-americanas pela hegemonia na região do Prata.
A guerra do Paraguai surgiu de um complexo encadeamento de rivalidades internacionais, de ambições pessoais e das peculiares condições geográficas da região platina.
Na época do conflito, o Império do Brasil emergia provavelmente como a nação mais influente e bem organizada da América do Sul, tendo fortalecido sua posição no continente após o período de lutas contra Rosas (na Argentina) e Oribe (no Uruguai).
Desde a independência do Paraguai, em 1813, o Brasil passara a manter relações satisfatórias com esse país, mesmo durante o longo período de isolamento que sofrera a nação paraguaia sob os governos de Francia e de Carlos Antonio López. O marechal paraguaio Francisco Solano López sucedeu ao pai no momento em que arrefecera a rivalidade entre a Argentina e o Brasil, os dois pólos de poder do continente.
Sua ambição era tornar o Paraguai uma potência platina, capaz de competir com a Argentina e o Brasil pela preeminência na América do Sul. Atribuía o confinamento de seu país, em parte, às maquinações diplomáticas entre o Brasil e os argentinos, que dificultavam ao Paraguai a navegação fluvial e o exercício de um relevante comércio internacional.
Em seu avanço para oeste, o Brasil poria em risco a nação paraguaia, e a consolidação das províncias argentinas criaria um poderoso rival na fronteira sul do país. López alimentava o plano de uma confederação das populações hispânicas do interior.
Reunindo o Paraguai, as províncias argentinas de Entre Ríos e Corrientes, o Uruguai e talvez a parte meridional do Rio Grande do Sul, teria condições de fazer frente tanto ao Brasil quanto à Argentina. Com a reviravolta política ocorrida na Argentina, em 1861, após a batalha de Pavón, em que os unitários de Bartolomé Mitre derrotaram os federais de Justo José Urquiza, e a instalação posterior dos liberais em Buenos Aires e por toda a Confederação Argentina, López se convenceu da inviabilidade de seu plano da “confederação do interior”, que lhe daria o livre acesso ao mar.
Descartada essa possibilidade, o ditador paraguaio preparou sua nação para a guerra: já em 1864, o Paraguai, em flagrante contradição com os recursos de que dispunha, surgia como a principal potência militar do Prata. Às vésperas do conflito, o Paraguai dispunha de sessenta mil homens bem treinados e 400 canhões. Os recursos de transporte e abastecimento, porém, não atendiam às exigências de uma movimentação de tropas em campanha.
A maioria dos canhões estava fixada na fortaleza de Humaitá, onde também se encontravam grandes efetivos de infantaria. Quanto às forças navais, essenciais para um país cuja única via de comunicação com o exterior era a bacia platina, López só dispunha de 14 pequenas canhoneiras fluviais.
O Brasil podia lançar em campo 18.000 homens, dos quais oito mil estavam nas guarnições do sul; contava com uma força naval considerável e bem treinada, com uma esquadra de 42 navios, embora alguns deles, pelo calado, não fossem apropriados à navegação fluvial.
A Argentina possuía apenas oito mil homens e não dispunha de uma marinha de guerra quantitativamente apreciável. As forças do Uruguai contavam menos de três mil homens, sem unidades navais.
3 INÍCIO DA GUERRA
O pretexto para a guerra foi a intervenção do Brasil na política uruguaia entre agosto de 1864 e fevereiro de 1865. Para atender ao pedido do governador dos blancos de Aguirre, López tentou servir de mediador entre o Império do Brasil e a República Oriental do Uruguai, mas, ao ver rejeitada sua pretensão pelo governo brasileiro, deu início às hostilidades.
Em 12 de novembro de 1864, mandou capturar o navio mercante brasileiro Marquês de Olinda, que subia o rio Paraguai, e, em 11 de dezembro, iniciou a invasão da província de Mato Grosso. Dois dias depois declarou guerra ao Brasil, que ainda estava em meio à intervenção armada no Uruguai.
Para a invasão de Mato Grosso, López mobilizou duas fortes colunas: uma por via fluvial, que atacou e dominou o forte Coimbra, apoderando-se em seguida de Albuquerque e de Corumbá; e outra por via terrestre, que venceu a guarnição de Dourados, ocupou depois Nioaque e Miranda e enviou um destacamento para tomar Coxim, em abril de 1865.
4 TOMADA DE HUMAITÁ
Em 1º de agosto Mitre retornou ao comando e deu ordens para que a esquadra imperial forçasse a passagem em Curupaiti e Humaitá. Em 15 de agosto, duas divisões de cinco encouraçados ultrapassaram, sem perdas, Curupaiti, mas foram obrigadas a deter-se frente aos poderosos canhões da fortaleza de Humaitá.
O fato causou novas dissensões no alto comando aliado. Ao contrário de Mitre, os brasileiros consideravam imprudente e inútil prosseguir, enquanto não se concatenassem ataques terrestres para envolver o Quadrilátero, que se iniciaram, finalmente, em 18 de agosto.
A partir de Tuiu-Cuê, os aliados rumaram para o norte e tomaram São Solano, Vila do Pilar e Tayi, às margens do rio Paraguai, onde completaram o cerco da fortaleza por terra e cortaram as comunicações fluviais entre Humaitá e Assunção.
Em 3 de novembro de 1867 os paraguaios atacaram a posição aliada de Tuiuti (segunda batalha de Tuiuti), mas foram derrotados. Com o afastamento definitivo de Mitre, que retornou à Argentina, Caxias voltou a assumir o comando geral dos aliados. Em 19 de fevereiro a esquadra imperial forçou a passagem de Humaitá que, totalmente cercada, só caiu em 25 de julho de 1868.
5 TRATADO DA TRÍPLICE ALIANÇA
O principal objetivo da invasão do Mato Grosso era distrair a atenção do Exército brasileiro para o norte do Paraguai, enquanto a guerra se decidia no sul.
Em 18 de março de 1865, com a recusa do presidente argentino Bartolomé Mitre a conceder autorização para que tropas paraguaias cruzassem seu território, Solano López declarou guerra à Argentina e lançou-se à ofensiva: capturou duas canhoneiras argentinas fundeadas no porto de Corrientes e invadiu a província em 14 de abril.
O fato motivou a formação, em 1º de maio de 1865, da Tríplice Aliança, que reunia o Brasil, a Argentina e o Uruguai (governado por Venancio Flores, chefe dos colorados) e destinava-se a conter os avanços do Paraguai. Enquanto isso, no Mato Grosso, uma expedição de aproximadamente 2.500 homens, organizada em São Paulo, Minas Gerais e Goiás, foi enviada para combater os invasores.
A coluna percorreu mais de dois mil quilômetros e, com grande número de baixas, causadas por enchentes e doenças, atingiu Coxim em dezembro de 1865, quando a região já havia sido abandonada. O mesmo aconteceu em Miranda, aonde chegaram em setembro de 1866.
Essa mesma expedição decidiu em seguida invadir o território paraguaio, onde atingiu Laguna. Perseguida pelos inimigos, a coluna foi obrigada a recuar, ação que ficou conhecida como a retirada da Laguna.
6 RENDIÇÃO DE URUGUAIANA
Em 16 de julho, o Exército brasileiro chegou à fronteira do Rio Grande do Sul e logo depois cercou Uruguaiana. Em 18 de setembro Estigarribia rendeu-se, na presença de D. Pedro II e dos presidentes Bartolomé Mitre e Venancio Flores. Encerrava-se com esse episódio a primeira fase da guerra, em que Solano López lançara sua grande ofensiva nas operações de invasão da Argentina e do Brasil.
No início de outubro, as tropas paraguaias de ocupação em Corrientes receberam de López ordem para retornar a suas bases em Humaitá. Ao mesmo tempo, as tropas aliadas, com Mitre como comandante-em-chefe, libertavam Corrientes e São Cosme, na confluência dos rios Paraná e Paraguai, no final de 1865.
7 BATALHA DO RIACHUELO
Em 11 de junho de 1865 travou-se no rio Paraná a batalha do Riachuelo, em que a esquadra brasileira, comandada por Francisco Manuel Barroso da Silva, futuro barão do Amazonas, aniquilou a paraguaia, comandada por Pedro Inacio Meza.
A vitória do Riachuelo teve notável influência nos rumos da guerra: impediu a invasão da província argentina de Entre Ríos e cortou a marcha, até então triunfante, de López. Desse momento até a derrota final, o Paraguai teve de recorrer à guerra defensiva. Quase ao mesmo tempo, as tropas imperiais repeliam o Exército paraguaio que invadira o Rio Grande do Sul.
Os paraguaios, sob o comando do tenente-coronel Antonio de la Cruz Estigarribia, haviam atravessado o rio Uruguai e ocupado sucessivamente, de junho a agosto, as povoações de São Borja, Itaqui e Uruguaiana. Outra coluna, que, sob as ordens do major Pedro Duarte, pretendia chegar ao Uruguai, foi detida por Flores, em 17 de agosto, na batalha de Jataí.
8 INVASÃO DO PARAGUAI
Começava então uma segunda fase do conflito, com a transferência da iniciativa do Exército paraguaio para o aliado. Fortalecidos, com um efetivo de cinqüenta mil homens, os aliados lançaram-se à ofensiva. Sob o comando do general Manuel Luís Osório, e com o auxílio da esquadra imperial, transpuseram o rio Paraná, em 16 de abril de 1866, e conquistaram posição em território inimigo, em Passo da Pátria, uma semana depois.
Estabeleceram-se em 20 de maio, em Tuiuti, onde sofreram um ataque paraguaio quatro dias depois. A batalha de Tuiuti, considerada a mais renhida e sangrenta de todas as que se realizaram na América do Sul, trouxe expressiva vitória às forças aliadas.
O caminho para Humaitá, entretanto, não fora desimpedido. O comandante Mitre aproveitou as reservas de dez mil homens trazidos pelo barão de Porto Alegre e decidiu atacar as baterias de Curuzu e Curupaiti, que guarneciam a direita da posição de Humaitá, às margens do rio Paraguai. Atacada de surpresa, a bateria de Curuzu foi conquistada em 3 de setembro.
Não se obteve, porém, o mesmo êxito em Curupaiti, onde em 22 de setembro os aliados foram dizimados pelo inimigo: cinco mil homens morreram.
9 DEZEMBRADA
Efetuada a ocupação de Humaitá, Caxias concentrou as forças aliadas, em 30 de setembro, na região de Palmas, fronteiriça às novas fortificações inimigas.
Situadas ao longo do arroio Piquissiri, essas fortificações barravam o caminho para Assunção, apoiadas nos dois fortes de Ita-Ibaté (Lomas Valentinas) e Angostura, este à margem esquerda do rio Paraguai.
O comandante brasileiro idealizou, então, a mais brilhante e ousada operação do conflito: a manobra do Piquissiri. Em 23 dias fez construir uma estrada de 11km através do Chaco pantanoso que se estendia pela margem direita do rio Paraguai, enquanto forças brasileiras e argentinas encarregavam-se de diversões frente à linha do Piquissiri.
Executou-se então a manobra: três corpos do Exército brasileiro, com 23.000 homens, foram transportados pela esquadra imperial de Humaitá para a margem direita do rio, percorreram a estrada do Chaco, reembarcaram em frente ao porto de Villeta, e desceram em terra no porto de Santo Antônio e Ipané, novamente na margem esquerda, vinte quilômetros à retaguarda das linhas paraguaias do Piquissiri.
López foi inteiramente surpreendido por esse movimento, tamanha era sua confiança na impossibilidade de grandes contingentes atravessarem o Chaco. Na noite de 5 de dezembro, as tropas brasileiras encontravam-se em terra e iniciaram no dia seguinte o movimento para o sul, conhecido como a “dezembrada”.
No mesmo dia, o general Bernardino Caballero tentou barrar-lhes a passagem na ponte sobre o arroio Itororó. Vencida a batalha, o Exército brasileiro prosseguiu na marcha e aniquilou na localidade de Avaí, em 11 de dezembro, as duas divisões de Caballero.
Em 21 de dezembro, tendo recebido o necessário abastecimento por Villeta, os brasileiros atacaram o Piquissiri pela retaguarda e, após seis dias de combates contínuos, conquistaram a posição de Lomas Valentinas, com o que obrigou a guarnição de Angostura a render-se em 30 de dezembro. López, acompanhado apenas de alguns contingentes, fugiu para o norte, na direção da cordilheira.
Em 1º de janeiro de 1869 os aliados ocuparam Assunção. López, prosseguindo na resistência, refez um pequeno exército de 12.000 homens e 36 canhões na região montanhosa de Ascurra-Caacupê-Peribebuí, aldeia que transformou em sua capital. Caxias, por motivo de saúde, regressou ao Brasil.
Em abril de 1869, assumiu o comando geral das operações, o marechal-de-exército Gastão d’Órléans, conde d’Eu, genro do imperador, que empreendeu a chamada campanha das cordilheiras. O Exército brasileiro flanqueou as posições inimigas de Ascurra e venceu as batalhas de Peribebuí (12 de agosto) e Campo Grande ou Nhu-Guaçu (16 de agosto).
López abandonou Ascurra e, seguido por menos de trezentos homens, embrenhou-se nas matas, marchando sempre para o norte, até ser alcançado pelas tropas brasileiras em Cerro-Corá, à margem do arroio Aquidabanigui, onde foi morto após recusar-se à rendição, em 1º de março de 1870. Em 20 de junho de 1870, Brasil e Paraguai assinaram um acordo preliminar de paz.
As baixas da nação paraguaia foram estimadas em cerca de 300.000, incluídos os civis mortos pela fome e em conseqüência da cólera. O Brasil, que chegou a mobilizar 180.000 homens durante a luta, teve cerca de trinta mil baixas.
O tratado definitivo de paz entre Brasil e Paraguai, assinado somente em 9 de janeiro de 1872, consagrava a liberdade de navegação no rio Paraguai e as fronteiras reivindicadas pelo Brasil antes da guerra.
10 CONCLUSÃO
Nos anos 60 do século XIX uma nova crise na região do Prata se transformaria no em longo e sangrento conflito conhecido como a Guerra do Paraguai. Este episódio durante algum tempo, foi entendido pelo lado brasileiro como uma luta realizada contra o ditador Solano López e seus planos expansionistas.
Mais adiante, na década de 1960, segundo a versão de historiadores como o argentino León Pomer, a razão da guerra seria relacionada aos interesses ingleses, que viam com desagrado a crescente autonomia paraguaia. Assim, havia uma emergente necessidade, por parte do Governo inglês, de desarticular o Paraguai, mantendo o controle econômico sobre a América Latina.
Henrique Buzatto Storck
REFERÊNCIAS
MADUREIRA, Antônio de Sena. Guerra do Paraguai. Coleção Temas Brasileiros. Brasília, 1982. v. 22. Editora Universidade de Brasília.
VIANA, Hélio. História do Brasil. 14. ed. rev. São Paulo. Edições Melhoramentos.
O maior conflito ocorrido nessa área foi, A Guerra do Paraguai, que envolveu os quatro países da região ( Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) e se estendeu de 1865 a 1870.
O Paraguai havia surgido como país independente em 1811, quando conseguiu libertar-se do domínio espanhol.
Ao contrário de todas de todas as outras nações da América Latina, o Paraguai, desde o governo do primeiro presidente, Rodríguez Francia, organizou-se de forma verdadeira independente.
Isso era fundamental para o país, que ficava encravado entre o Brasil, a Argentina e o Uruguai, sem saída para o mar. Todo o comércio paraguaio com o exterior dependia do rio Prata, controlado pela Argentina.
Rancho do comandante do Batalhão Argentino
A passagem de navios de outros países pelo estuário só podia ser feita mediante a pagamento de impostos à Argentina. Após a morte de Francia, seu sucessor continuou promovendo o desenvolvimento do Paraguai.
A indústria paraguaia se desenvolveu tanto, que o país não precisava comprar mercadorias estrangeiras para o seu consumo interno. E todos esses empreendimentos se faziam sem a presença dos empréstimos ingleses, como ocorria nos outros países da América Latina.
Igreja de Humaitá durante a guerra
O terceiro presidente do paraguaio, general Francisco Solano Lopes, transformou o exército de seu país mais disciplinada força militar da América do Sul. Ele sabia que o desenvolvimento do Paraguai incomodava os países vizinhos e contrariava os interesses da Inglaterra. Por isso, preparava-se para um confronto armado e estava disposto a lutar para conseguir uma saída para o Atlântico.
Com isso, o Paraguai ameaçou os interesses dos vizinhos: Brasil, Argentina e Paraguai.
Em maio de 1865, esses três países formaram uma aliança (a Tríplice Aliança) contra o Paraguai. A Inglaterra, logicamente, estava apoiando essa aliança, pois também tinha interesse na destruição do Paraguai. Desejava controlar os rios navegáveis que atravessavam aquele país e, além disso, cobiçavam suas terras férteis e excelentes para o cultivo do algodão.
Logo no início da guerra, ficou demostrado que o exército paraguaio estava muito mais preparado do que os seus inimigos. Venceu as primeiras batalhas sem dificuldades.
No entanto, apesar do preparo das tropas paraguaias, as forças navais brasileiras estavam mais bem aparelhadas, o que acabou resultando na superioridade do Brasil na guerra. Assim mesmo, o Paraguai resistiu por cinco anos, até o limite de suas forças.
MORTE E DESTRUIÇÃO
O país foi praticamente destruído. Quando a guerra começou, o Paraguai possuia 800 mil habitantes; ao final do conflito restavam apenas 194 mil (14 mil homens e 180 mil mulheres).
As propriedades dos pequenos agricultores foram vendidas a holandeses, ingleses e americanos. As fábricas foram destruídas, a estrada de ferro que ligava as várias região foi vendida aos ingleses.
Interior da Igreja Humaitá toda destruída em consequência da guerra
Sangrento conflito do Paraguai com a Argentina, Brasil e Uruguai.
Também conhecida como a Guerra da Tríplice Aliança, este foi o mais longo conflito entre as nações independentes da América Latina, com duração de novembro 1864 a março de 1870, quando o líder paraguaio, o marechal Solano López, foi morto no cerco final dentro de si Paraguai.
A própria guerra
Resumidamente, a guerra foi o resultado do desejo do Paraguai para transformar suas riquezas da indústria de erva-mate em uma transformação de seu status como um estado-tampão entre Brasil e Argentina em uma potência de pleno direito regional. Para isso foi necessário dominar o Uruguai para garantir o acesso ao mar, levando a irrefletidas invasões do país, assim como a Argentina eo Brasil muito maior.
De 150 para mais de 200 mil pessoas morreram em consequência da guerra, seja no campo de batalha ou de doença ou outras conseqüências do conflito.
População masculina do Paraguai foi devastada, enquanto as sociedades de todas as nações envolvidas foram irrevogavelmente alterada.
A Guerra do Paraguai
A guerra do Paraguai, que envolveu o Brasil, a Argentina, o Paraguai e o Uruguai, foi uma das mais sangrentas guerras que ocorreram na América do Sul no século passado. Tratava-se da disputa sobre o controle da navegação comercial na Bacia do Prata (Rio Prata) entre esses países.
O Paraguai havia sido uma província Argentina que havia ganhe sua independência em 1852 e seu governo era aliado do partido Blanco, dos latifundiários do Uruguai. Paraguai é um país da América Latina que não tem saída para o oceano. O Uruguai era a antiga Província de Cisplatina, região disputada entre os governos espanhóis e portugueses que foi invadida por D. João VI quando este esteve no Brasil. O Uruguai conseguiu se libertar do Brasil no final do governo de D. Pedro I.
Solano Lopez, presidente paraguaio, contava com o apoio de seus aliados quando iniciou a guerra em seu objetivo de conquistar para seu país uma saída para o Atlântico a fim de comercializar produtos paraguaios. Quando as tropas brasileiras invadiram o Uruguai para colocar o partido Colorado no poder, em 1867, Lopez, em defesa dos blancos, invadiu o Mato Grosso do Sul. Como a Argentina não quis deixar que as tropas paraguaias passassem em seu território, Solano invadiu a província argentina Corrientes.
Sem seus aliados no poder uruguaio, o Paraguai acabou tendo que enfrentar a Argentina, o Brasil e o Uruguai dos Colorados juntos. Mas, com o tempo, a guerra trouxe fome e dívidas para todos, pois a Inglaterra emprestou dinheiro para compra de armas para o Brasil e para a Argentina.
O exército brasileiro era o maior de todos, mas também era o mais despreparado. Naquela época, não era o exército o encarregado de proteger o território brasileiro, mas a Guarda nacional.
A Guarda Nacional era uma força criada ainda na época das Regências. Os comandantes eram os latifundiários que tinham condições de contratar e armar pessoas por seus próprios recursos. Esses latifundiários ganharam o título de coronéis mesmo sem pertencer a nenhuma instituição militar e eram encarregados de proteger apenas seu Estado. O exército, daquela época, eram mercenários, sem nenhum vínculo com o exército. Mercenários são guerreiros que lutam apenas se forem pagos, independente de qual país está pagando.
Foi apenas na Guerra do Paraguai que o governo brasileiro criou um exército com soldados não mercenários, profissionais. Os soldados que lutaram na Guerra do Paraguai eram, em boa parte, negros, escravos que ganhavam a liberdade para lutarem. O Brasil era o único país na guerra a adotar a Monarquia e a manter a escravidão.
Sem nunca chegarem ao Uruguai para colocarem os Blancos novamente no poder, as tropas paraguaias, depois de vitórias iniciais, foram sofrendo derrotas. Mesmo tendo a Argentina, que sofria suas revoltas internas, e o Uruguai fora da guerra, as tropas brasileiras, com o apoio da potente frota naval, aos poucos conseguiam expulsar os paraguaios do território brasileiro.
A derrota definitiva do Paraguai ocorreu com o massacre nas tropas paraguaias em 16 de agosto de 1869. Todos os países envolvidos na guerra tiveram suas economias abaladas com enormes dívidas, mas o Paraguai praticamente viu seu exército dizimado, sua economia arrasada e seu território diminuído em 40%. Brasil e Argentina ganharam territórios do país derrotado.
História
O Paraguai no século XIX era um país que destoava do conjunto latino-americano por ter alcançado um certo progresso econômico autônomo, a partir da independência em 1811.
Durante os longos governos de José Francía (1811-1840) e Carlos López (1840-1862), erradicara-se o analfabetismo no país e haviam surgido fábricas — inclusive de armas e pólvora –, indústrias siderúrgicas, estradas de ferro e um eficiente sistema de telégrafo.
As “estâncias da pátria” (unidades econômicas formadas por terras e instrumentos de trabalho destribuídos pelo Estado aos camponeses, desde o governo Francía) abasteciam o consumo nacional de produtos agrícolas e garantiam à população emprego e invejável padrão alimentar.
Nesse quadro de relativo sucesso socioeconômico e de autonomia internacional, Solano López, cujo governo iniciou-se em 1862, enfatizou a política militar-expansionista, a fim de ampliar o território paraguaio.
Pretendia criar o “Paraguai Maior”, anexando, para isso, regiões da Argentina, do Uruguai e do Brasil (como Rio Grande do Sul e Mato Grosso). Obteria, dessa forma, acesso ao Atlântico, tido como imprescindível para a continuação do progresso econômico do país. A expansão econômica paraguaia, contudo, prejudicava os interesses ingleses na região, na medida em que reduzia o mercado consumidor paraguaio para seus produtos.
Havia, ainda, a ameaça de que o país eventualmente se transformasse em exportador de manufaturados ou que seu modelo de desenvolvimento autônomo e independente pudesse servir de exemplo para outros países da região. Dessa forma, a Inglaterra tinha sólidos interesses que justificavam estimular e financiar uma guerra contra o Paraguai.
Usando como pretexto a intervenção brasileira no Uruguai e contando com um exército bem mais numeroso que o do oponente brasileiro, Solano López tomou a ofensiva ao romper relações diplomáticas com o Brasil, em 1864. Logo depois, como medida complementar, ordenou o aprisionamento do navio brasileiro Marquês de Olinda, no rio Paraguai, retendo, entre seus passageiros e tripulantes, o presidente da província do Mato Grosso, Carneiro de Campos. A resposta brasileira foi a imediata declaração de guerra ao Paraguai.
Em 1865, mantendo-se na ofensiva, o Paraguai havia invadido o Mato Grosso e o Norte da Argentina, e os governos do Brasil, Argentina e Uruguai criaram a Tríplice Aliança contra Solano López.
Apesar de as primeiras vitórias da guerra terem sido paraguaias, o país não pôde resistir a uma guerra prolongada. A população paraguaia era muito menor que a dos países da Tríplice Aliança e, por maior que fosse a competência do exército paraguaio, a ocupação militar dos territórios desses países era fisicamente impossível, enquanto o pequeno Paraguai podia ser facilmente ocupado pelas tropas da Aliança.
Finalmente, Brasil, Argentina e Uruguai contavam com o apoio inglês, recebendo empréstimos para equipar e manter poderosos exércitos. A vitória brasileira do almirante Barroso na batalha de Riachuelo, já em 1865, levou à destruição da frota paraguaia. A partir daí, as forças da Tríplice Aliança passaram a ter a iniciativa na guerra, controlando rios, principais meios de comunicação da bacia platina.
Apesar de todas essas limitações, o Paraguai resistiu a quase cinco anos de guerra, mostrando o grau relativamente alto de desenvolvimento e auto-suficiência que havia obtido, além do engajamento da sua população em defesa do país.
O maior contigente das tropas da Aliança foi fornecido pelo exército brasileiro, que até então praticamente inexistia. Como sabemos, a Guarda Nacional cumpria, ainda que mal, as funções normalmente destinadas ao exército.
Diante de uma tropa bem-organizada e treinada como a paraguaia, era necessária uma nova força a rmada para o Brasil. O reduzido corpo de oficiais profissionais do exército brasileiro encarregou-se dessa função com bastante sucesso, ainda que isso demandasse tempo.
Para ampliar o contigente de soldados, em novembro de 1866 foi decretado que os escravos voluntariamente se apresentassem para lutar na guerra obteriam a liberdade. Muitos se alistaram dessa maneira, mas alguns foram obrigados a fazê-lo no lugar dos filhos de seus senhores que haviam sido recrutados.
No mesmo ano, o Brasil alcançou expressiva vitória na batalha de Tuiuti. Luís Alves de Lima e Silva, barão de Caxias, assumiu o comando das forças militares imperiais, vencendo rapidamente importante batalhas como as de Itororó, Avaí, Angosturas e Lomas Valentinas, chamadas “dezembradas” por terem acontecidos no mês de dezembro de 1868.
Essas batalhas abriram caminho para a invasão de Assunção, capital paraguaia, tomada em janeiro de 1869. O conde D’Eu, genro do imperador, liderou a última fase da guerra, conhecida como campanha da Cordilheira, completada com a morte de Solano López em 1870.
A guerra devastou o território paraguaio, desestruturando sua economia e causando a morte de cerca de 75% da população (aproximadamente 600 mil mortos).
Acredita-se que a guerra foi responsável pela morte de mais de 99% da população masculina com mais de 20 anos, sobrevivendo a população formada, predominantemente, por velhos, crianças e mulheres.
Além das mortes em combate, foram devastadoras as epidemais, principalmente a de cólera, que atingiram os homens de ambos os lados da guerra.
Acrescente-se, ainda, que os governos da Tríplice Aliança adotaram uma política genocida contra a população paraguaia.
Para o Brasil, além da morte de aproximadamente 40 mil homens (sobretudo negros), a guerra trouxe forte endividamento em relação à Inglaterra. Apontada como a principal beneficiária do conflito, forneceu armas e empréstimos, ampliando seus negócios na região e acabando com a experiência econômica paraguaia.
O Brasil conseguiu a manutenção da situação na bacia Platina, embora a um preço exorbitantemente alto. Mas a principal conseqüência da Guerra do Paraguai foi o fortalecimento e a institucionalização do exército, com o surgimento de um grande e disciplinado corpo de oficiais experientes, pronto a defender os interesses da instituição. Além disso, seu poder bélico tornava-o uma organização capaz de impor suas idéias a força, caso necessário, acrescentando uma dose de instabilidade ao regime imperial.
Carlos Leite Ribeiro
11 de junho de 1865, nove da manhã. A Esquadra do Império Brasileiro, ancorada no rio Paraná perto da cidade argentina de Corrientes, é surpreendida, em pleno desjejum, pela Marinha Paraguaia em peso.
Estava para começar a batalha mais decisiva do maior conflito do nosso continente.
Estudei História Militar por achar que eram nos momentos-limites, como guerras, que os povos mais se revelavam.
Pois a Batalha de Riachuelo mostra com clareza tudo o que o brasileiro tem de melhor e pior.
Difícil dizer quando começa a Guerra do Paraguai. Depende de que lado você está.
Explico a situação aos meus alunos do Ensino Médio do seguinte modo.
Quem começa uma briga: o valentão que desenha uma linha no chão e diz que quem passar da linha, apanha, ou o outro valentão que vai e passa?
Foi mais ou menos isso que aconteceu.
O Paraguai declarou considerar a independência do Uruguai estratégica e que uma invasão brasileira do Uruguai seria uma declaração de guerra.
Dom Pedro II cagou e invadiu assim mesmo.
E então, quem começou a guerra?
Você pode argumentar que o Brasil não tinha direito de invadir ninguém. Você pode argumentar que o Paraguai não tinha direito de determinar quem pode ou não ser invadido.
Imediatamente, o Paraguai fechou o rio Paraná e invadiu o Mato Grosso, o Rio Grande do Sul e a província argentina de Corrientes.
Por seis meses, enquanto os aliados organizavam suas forças, López era dono da iniciativa e fez o que quis.
Em breve, a Tríplice Aliança foi consolidada, entre Brasil, Argentina e Uruguai. Em uma das muitas ironias da guerra, López, que iniciou o conflito ostensivamente para proteger o Uruguai, acabou lutando contra o próprio Uruguai. Naturalmente, o governo uruguaio que se uniu à Aliança foi o governo instalado pelo Brasil – o governo anterior, sumariamente derrubado, apoiava López.
Os aliados combatem os paraguaios em Corrientes e no Rio Grande do Sul, enquanto a Esquadra Imperial, moderna e numerosa, vai subindo o rio, em direção ao Paraguai.
Sempre ousado, López decide apostar todas as suas fichas em uma batalha decisiva: enviar sua Marinha inteira rio abaixo para tomar a armada brasileira.
Era tudo ou nada. Se ganhasse, o Paraguai teria acesso ao mar e poderia receber armas e suprimentos para continuar a luta. Se perdesse, não teria nem navios para tentar de novo. O Paraguai estaria ilhado.
Tudo favorecia o Brasil. Ninguém na Marinha Paraguaia tinha qualquer experiência guerreira ou naval. Só havia um navio de guerra. Os outros eram mercantes convertidos, a maioria apresada do Brasil nos primeiros dias da guerra.
Já o Brasil possuía um corpo de oficiais treinados em uma Escola Naval considerada completa pelos padrões europeus; navios de última geração, tanto encouraçados quanto adaptados para combate em rio; e, talvez o mais importante, muita experiência em guerra naval.
A geração dos almirantes brasileiros dessa guerra, nascidos por volta de 1800 e sessentões, tinham combatido portugueses na Guerra de Independência (1822-23), argentinos, na Guerra Cisplatina (1825-1828), cabanos, farrapos e todo tipo de rebeldes nas lagoas, mares e rios do Brasil durante as agitações da Regência, mais uma vez, argentinos durante as Guerras contra Rosas (1850-1851) e, por fim, uruguaios na guerra imediatamente anterior (1864).
Nunca houve (nem, espero, nunca haverá) uma geração tão guerreira quanto essa no Brasil.
O espanto é terem quase perdido o raio da batalha.
Brasileiro é Um Bicho Preguiçoso, Arrogante e Negligente
Como pode uma esquadra em território inimigo, numa manhã ensolarada, ser surpreendida com as calças na mão?
Só isso já era pra ter dado corte marcial pra todo mundo.
Naturalmente, o brasileiro já é meio preguiçoso e negligente. Quando ele acha que tem uma enorme superioridade material e que está invandindo o país de um bando de índio ignorante, mais ainda.
Brasileiro É Um Bicho Sortudo
A situação estava preta.
Os paraguaios já chegaram atirando antes mesmo que as âncoras fossem levantadas. Pior, durante a noite, os paraguaios também tinham guarnecido as margens do rio com homens e canhões.
Tinham pensado em tudo, menos em uma coisa: ninguém lembrou de trazer ganchos de abordagem.
O objetivo da batalha não era destruir a esquadra imperial.
De que adiantaria isso?
Os aliados mandariam mais navios.
O grande objetivo da batalha era capturar a marinha brasileira e já aproveitá-la para descer o rio barbarizando.
Mas como, sem ganchos de abordagem?
Pra quem nunca viu filme de pirata, ganchos de abordagem são aqueles ganchos que seguram os navios juntos, lado a lado, para os atacantes possam pular de um barco pro outro.
A esquadra paraguaia havia saído de Assunção em festa, López presente e tudo, uma operação cuidadosamente planejada. E esqueceram os ganchos!
Essa eu juro que nunca engoli. Pesquisei muito. Investiguei arquivos. Falei com experts. Mas não encontrei nenhuma outra explicação além de um fortuito esquecimento.
Algum dia escreverei um romance sobre o agente secreto imperial que se infiltrou na esquadra paraguaia, jogou os ganchos ao rio e ganhou a guerra. Pois ganhou mesmo.
Os navios paraguaios passaram várias vezes ao lado dos brasileiros e tudo o que podiam fazer era atirar com munição de pequeno calibre. Um ou outro soldado conseguia pular para dentro dos navios brasileiros, mas não fazia muito estrago.
Com os ganchos, a abordagem teria sido imediata. A batalha não duraria nem meia hora.
Se foi mesmo só esquecimento, então brasileiro é um bicho muito sortudo.
Brasileiro É Um Bicho Arretado de Bravo
Com os ganchos, a batalha teria sido paraguaia, com certeza. Mas, sem os ganchos, ela também não estava nem um pouco decidida.
Pega de surpresa, entre dois fogos, a esquadra brasileira manobrou mal. Em mais uma mostra de incompetência ou negligência, nos primeiros momentos de reação caótica, vários navios brasileiros simplesmente encalharam nos bancos de areia.
Ora, uma esquadra navegando em um rio inimigo tem que ter práticos que conheçam bem as águas.
Imediatamente, os navios encalhados viraram alvos tanto das baterias em terra, como dos navios paraguaios. Na falta dos fatídicos ganchos, os paraguaios tinham que vir nadando das margens, ou pulavam dos navios em movimento, para abordar os encalhados.
Um dos meus antepassados era tenente em um desses navios.
Vocês conseguem se imaginar no passadiço inclinado de um navio encalhado, lutando de espada em punho, o dia todo, de nove às cinco, contra um número interminável e incansável de inimigos tentando tomar o seu navio?
Brasileiro é um bicho arretado: apesar da extrema exaustão física das tripulações, nenhum dos navios brasileiros encalhados foi tomado. Nem perdido.
Brasileiro É Um Bicho Malandro
Por fim, mesmo com tanta negligência, incompetência e bravura, Riachuelo foi ganha no jeitinho, na malandragem.
E quer coisa mais característica do que nossa maior batalha brasileira ter sido decidida na improvisação?
O almirante no comando da esquadra, Barroso, português de nascimento mas, claramente, brasileiro de coração, viu que as coisas não iam nada bem e teve um estalo genial: ressuscitou, fora do nada, uma tática naval em desuso há quase 400 anos, que nem era mais ensinada ou estudada.
Nas guerras navais da antiguidade, usava-se flechas para diminuir o número de soldados ou remadores a bordo, mas o único modo de realmente afundar um inimigo era por abalroamento. Ou seja, um navio enfiava sua proa (seu bico) a toda velocidade contra o costado (o lado) do navio inimigo, literalmente cortando-o ao meio.
As batalhas navais eram verdadeiros números de dança: centenas de navios tentando se colocar na melhor posição para abalroar alguém, ao mesmo tempo em que tentavam evitar de ser abalroados.
O abalroamento, entretanto, não era usado desde Lepanto, em 1570, onde Cervantes perdeu um braço e os turcos foram expulsos do Mediterrâneo.
A razão era simples: com o advento dos grandes canhões, era possível (e recomendável!) afundar navios inimigos de longe. Ninguém mais chegava perto o suficiente do inimigo para sequer pensar em abalroamento.
Qualquer um sabe seguir o manual. Gênio é quem faz associações inesperadas no momento de maior necessidade.
Barroso era um lobo do mar à moda antiga. Nunca tinha nem cursado Escola Naval. Aprendeu seu ofício combatendo no mar durante 50 anos. Era péssimo com burocracias, políticas, frescuras e papeladas.
Um oficial responsável, que seguisse procedimentos à risca, jamais teria sido pego assim, com as calças na mão em território inimigo.
Por outro lado, esse oficial responsável e certinho também jamais teria conseguido, na hora de maior necessidade, puxar da cartola o abalroamento.
Finalmente, o oficial cuidadoso nunca teria se metido na sinuca em que Barroso se meteu.
Em suma, nada poderia ser mais brasileiro do que o final de Riachuelo.
D Pedro II
Antes mesmo que os paraguaios se dessem conta do que estava acontecendo, o Amazonas, capitânea de Barroso, afundou rapidamente os três principais navios inimigos. Sabendo que seriam os próximos, os outros fugiram rio acima. Em poucos minutos, tudo estava encerrado.
A esquadra brasileira preferiu não persegui-los: foi lamber suas feridas e desencalhar seus navios.
Era o fim da tarde de 11 de junho de 1865.
Epílogo
Barroso merecia uma corte-marcial, mas ninguém pune o herói da maior batalha naval da história.
Circularam boatos de que ele se escondera no banheiro durante o grosso da ação e que a idéia do abalroamento e a condução do navio tinham ficado a cargo do prático. Naturalmente, são Pomer e Chiavenatto que dizem isso. Naturalmente, sem prova alguma.
Barroso participou de dezenas de batalhas, algumas mais desesperadoras e perigosas, embora nenhuma mais decisiva, que Riachuelo. Não há razão para supor, ainda mais sem evidências, que depois de 50 anos de combates ele teria entrado em pânico logo nesse momento.
Os poucos navios paraguaios que sobraram nunca mais enfrentaram a esquadra brasileira. Subindo o rio, as únicas ameaças ao avanço aliado eram as fortalezas fluviais como Humaitá e Curupaiti.
Em Riachuelo, López perdeu algo muito mais importante do que o acesso ao mar e o controle do rio: perdeu a iniciativa.
Francisco Solano Lopez
O Exército Paraguaio no Rio Grande do Sul se rendeu ao Imperador em Uruguaiana, e os paraguaios no Mato Grosso voltaram para defender a pátria. Depois de Riachuelo, seriam os aliados a ditar o ritmo das operações. Dali em diante, a guerra seria travada no próprio Paraguai.
Vários fatores fizeram com que a guerra ainda durasse cinco anos: os aliados foram excessivamente tímidos enquanto os paraguaios, excessivamente bravos e Dom Pedro não abriu mão da cabeça de López enquanto López não abriu mão da Presidência.
O que foi
Maior conflito armado da história sul-americana, tanto pela duração (1864-1870) como pelo vulto dos efetivos militares envolvidos.
Em novembro de 1864, o ditador paraguaio Francisco Solano López – que tinha planos de formar o Grande Estado do Prata, a ser composto pelo Paraguai, Uruguai e partes da Argentina e do Brasil – declarou guerra ao Brasil, após ter mandado aprisionar o navio mercante brasileiro Marquês de Olinda.
Em janeiro de 1865, Solano López invadiu a província argentina de Corrientes para atacar o Brasil. A Argentina entrou na guerra ao lado do Brasil, que já tinha o Uruguai como aliado. Os três países assinaram o Tratado da Tríplice Aliança, apoiados pela Inglaterra – já que o nacionalismo paraguaio ameaçava os interesses ingleses na América do Sul.
Após várias batalhas, o exército paraguaio foi derrotado e o ditador assassinado em março de 1870. Algumas das batalhas tornaram-se famosas, tais como a do Riachuelo, Tuiuti (considerada a maior batalha campal da América do Sul), Itotoró e Avaí.
Vários brasileiros notabilizaram-se por sua participação no conflito, entre eles o Duque de Caxias, Almirante Francisco Manuel Barroso da Silva e General Manuel Luís Osório.
A Guerra do Paraguai aumentou a crise econômica brasileira e arruinou o Paraguai, até então a nação mais desenvolvida da América do Sul.
A Guerra
Travada contra o Paraguai pela a aliança formada por Brasil, Argentina e Uruguai, foi o maior conflito armado da história da América do Sul. Prolongou-se durante 5 anos, de 1865 a 1870, reduzindo a população paraguaia em quase dois terços.
Suas origens mais remotas encontram-se nas disputas pela estratégica região do Rio da Prata.
A disputa entre Brasil e Argentina em torno da navegação naquele rio, de grande importância econômica, agravou-se com a determinação do Paraguai em reivindicar os mesmos direitos sobre a rede fluvial.
Em 1864, o Brasil voltou a atacar o Uruguai. Solano Lopez, presidente do Paraguai, temendo o expansionismo brasileiro, mandou apreender o navio brasileiro Marquês de Olinda, em trânsito pelo rio Paraguai e, em dezembro, declarou guerra ao Brasil, ordenando a invasão da província de Mato Grosso.
Lopez obteve diversas vitórias, cruzou o território argentino e entrou no Rio Grande do Sul para, dali, alcançar o Uruguai. Sua estratégia começou a minar quando, em 1865, Brasil, Argentina e Uruguai, sob o incentivo da Inglaterra, firmaram o Tratado da Tríplice Aliança, desencadeando um pesado contra-ataque.
A partir daí o Império brasileiro adquiriu armamento e navios no exterior e intensificou o recrutamento de soldados, convocando os chamados “voluntários da pátria”, na maioria pobres, mulatos e negros que ganhavam a alforria [liberdade] para lutar nas frentes de batalha.
O exército nacional impôs sérias derrotas aos paraguaios que, apesar da sua inferioridade numérica, mas contando com uma eficiente máquina de guerra e a forte liderança de Solano Lopez, resistiram com bravura.
A contra-ofensiva da Tríplice Aliança ganhou novo impulso entre 1867 e 1868, sob o comando dos brasileiros Manuel Luís Osório e Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias.
Em janeiro de 1869, conseguiram entrar em Assunção, capital do Paraguai.
Solano retirou-se para o norte e prosseguiu enfrentando as tropas inimigas até ser assassinado em Cerro Corá, em 1o de março de 1870, colocando um ponto final na conflagração.
Guerra do Paraguai dizimou a grande maioria da população do país
Desde a primeira metade do século XIX, o Paraguai investe no desenvolvimento econômico auto-suficiente.
Sem as marcas da escravidão, sua população tem um alto índice de alfabetização.
A autonomia do país desafia o imperialismo britânico na América. Em 1862, Francisco Solano López, sucessor de Carlos Antonio López no governo, investe na organização militar.
Os três chefes de Estado do Uruguai, Brasil e Argentina,
numa caricatura da revista A Semana Ilustrada, 1865
Tendo em vista a necessidade de exportar excedentes de produção, era imprescindível a ruptura da política paraguaia de isolamento em relação aos demais países, assim como a necessidade da utilização do Rio da Prata como meio de escoamento dos produtos excedentes.
Possuindo um forte exército e passando a figurar entre os países mais desenvolvidos da América do Sul, o Paraguai passa a reivindicar voz de comando nos assuntos políticos locais. Estas reivindicações se fizeram presentes através do oferecimento de Francisco Solano López como mediador das questões entre o Brasil e o Uruguai.
As relações entre estes países encontravam-se entre a cordialidade e a agressão: o Paraguai passava a questionar os limites territoriais entre os dois países, vendo-se prejudicado na grande perda de terras e ainda dependente da tolerância dos países que dominavam os transportes fluvio-marítimos no Rio da Prata.
Assim, a intermediação de Solano López é recusada pela diplomacia brasileira. Não aceitando as condições impostas pelo Império no Brasil, o Uruguai, por sua vez, é invadido e tem seu governante blanco Atanásio Aguirre deposto.
Apoiando oficialmente Aguirre, Solano López passa da postura diplomática à agressão, ordenando a captura de uma embarcação brasileira que trafegava no Rio Paraguai, o navio “Marquês de Olinda”, em 11 de novembro de 1864, que ia a caminho do Mato Grosso. Posteriormente, Solano López declara guerra ao Brasil, invadindo os territórios do Mato Grosso e do Rio Grande do Sul. Em março de 1865, tropas paraguaias invadem a Argentina. O objetivo paraguaio é obter uma porto marítimo, conquistando uma fatia dos territórios brasileiro e argentino.
Os governos da Argentina, do Brasil e seus aliados uruguaios assinam o Tratado da Tríplice Aliança, em 1º de maio de 1865, contra o Paraguai. Empréstimos ingleses financiam as forças aliadas. O Exército paraguaio, superior em contingente – cerca de 64 mil homens em 1864 – e em organização, defende o território de seu país por quase um ano.
A primeira grande virada da Aliança sobre o Paraguai ocorreu com a famosa Batalha do Riachuelo, em 1865, quando a esquadra paraguaia foi completamente dizimada pelas forças navais brasileiras sob os comandos do Almirante Tamandaré e de Francisco Manuel Barroso da Silva, estas aliadas às forças argentinas sob o comando do general Paunero.
As forças paraguaias, tendo em vista suas intenções agora frustradas, passam da tática ofensiva à defensiva, procurando resistir nos fortes localizados em regiões estratégicas do território paraguaio. Porém, seus exércitos já haviam passado por uma série de desfalques, dando ainda maior ânimo à Tríplice Aliança.
Finalmente, em 16 de abril de 1866, os aliados invadem o Paraguai ao vencer a batalha de Tuiuti, sob o comando do argentino Bartolomeu Mitre.
Em 1868, o comando dos aliados passa para o barão de Caxias. Ele toma a fortaleza de Humaitá, em 5 de agosto de 1868, e invade Assunção em 5 de janeiro.
Passa o comando das tropas brasileiras ao conde d’Eu, marido da princesa Isabel. Solano López resiste no interior. A batalha final acontece em Cerro Corá, em 1º de março de 1870. O país é ocupado por um comando aliado e sua economia é destruída. A população paraguaia, que antes do conflito chegava a 1,3 milhão de pessoas, fica reduzida a pouco mais de 200 mil pessoas.
Para o Brasil, a guerra significa o início da ruptura com o sistema monárquico-escravista. Diante da dificuldade de recrutar soldados, escravos são alforriados para substituí-los, fato que incentiva a campanha abolicionista. A conseqüência mais importante, porém, é o fortalecimento do Exército. Atraídos pela causa republicana, em poucos anos os militares passam a liderá-la. No plano financeiro, o saldo final é uma duplicata de 10 milhões de libras que o Brasil deixa pendente com o Banco Rothchild, de Londres.
Fonte: www.geocities.yahoo.com.br/Academia de Policia Militar de Minas Gerais/br500.tripod.com/conhecimentosgerais.com.br/www.sokarinhos.com/www.sobresites.com/www.senado.gov.br/www.projetomemoria.art.br/www.unificado.com.br
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