PUBLICIDADE
Juscelino Kubitschek
Juscelino Kubitschek de Oliveira (Juscelino Kubitschek ) 1956 – 1961
Nasceu em Diamantina, Minas Gerais, em 12 de setembro de 1902, habilidoso em contornar crises sem muita violência ou repressão.
Encampou o projeto “50 anos em 5”, falando em modernizar amplamente o país.
Construiu a Rodovia Belém – Brasília; impulsionou a indústria automobilística; empreendeu, no setor hidrelétrico, as gigantescas obras de Furnas e de Três Marias; auxiliou a expansão da Petrobrás.
Sua grande realização, entretanto, foi a fundação de Brasília.
Terminou seu mandato enfrentando uma enorme dívida externa e uma galopante inflação.
Entregou a Presidência em 1961 a Jânio Quadros.
No governo de Jânio foi eleito senador por Goiás.
Em 1964 seu mandato foi caçado e seus direitos políticos suspensos por 10 anos.
Faleceu em desastre de automóvel quando vinha de São Paulo para o Rio de Janeiro em 22 de agosto de 1976.
1956-1961
Apesar de ser “cria” do Estado Novo, Juscelino não estava sintonizado de forma alguma com os ideais totalitários.
Ao contrário: liberal por formação, democrata por convicção e político por outros motivos, Nonô sempre teve um desempenho administrativo renovador e dinâmico.
Quando ainda era candidato, prometeu que, em seu mandato, o país teria um desenvolvimento só comparável ao de meio século (crescer 50 anos em 5).
Plano de Metas
Foi a chamada política desenvolvimentista, o Plano de Metas (energia, transporte, alimentação, indústria de base, educação e construção de Brasília), tendo o Estado como coordenador dessa tarefa. Os recursos para tal empreendimento foram trazidos na maior parte do exterior, o que nos alinhou de novo com os norte-americanos – e fez crescer escandalosamente a dívida externa -, e num menor grau do interior, com a emissão de papel-moeda, medida inflacionária.
Durante o governo Juscelinista, recrudesceram-se as disparidades regionais, destacando-se o Nordeste como a região mais pobre do país. A preocupação com essas áreas agravaram-se após nova seca, donde o surgimento da SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, 1959).
Desenvolvimento
Novos investimentos públicos são realizados visando a ocupar a mão-de-obra flutuante (construção de estradas, barragens, novas siderúrgicas).
O capital estrangeiro obsoleto é atraído sob a forma de indústria automobilística.
Essa resolveria vários problemas: a superprodução petrolífera daqueles anos; a transferência de maquinaria obsoleta americana para o Brasil; e a expansão das economias alemã e francesa do pós-guerra.
Assim, surgem as fábricas Willis-Overland (americana), a Volkswagen (alemã) e Simca-Chambord (francesa), além de outras.
Forma-se uma elite dirigente convencida da necessidade do capital estrangeiro como dinamizador de nosso desenvolvimento industrial.
Para essa elite, o nosso subdesenvolvimento ligava-se ao antigo modelo agroexportador; bastava, portanto, industrializar o país e nosso atraso seria superado.
Para completar o “desenvolvimento”, Juscelino fez construir uma nova capital, Brasília, síntese do seu programa desenvolvimentista. No planalto central, entre índios e onças, surge o centro administrativo daquilo que seria o futuro Brasil.
Os efeitos desta política não tardaram a ser sentidos.
Custos Sociais
O modelo econômico juscelinista só beneficiava a burguesia e a classe média alta, capaz de comprar os bens de consumo produzidos pelas novas empresas. A inflação, decorrente das constantes emissões de papel-moeda, desvalorizava o dinheiro e os salários, aumentando o custo de vida. O nordestino emigrava para o centro-sul, em busca de melhores oportunidades, agravando a penúria nas periferias dos centros urbanos. A dependência avolumada do capital externo criava enorme déficit no balanço de pagamentos. Os credores internacionais chegaram a temer a insolvência do Brasil. A dívida externa galopante obrigava o governo a pedir empréstimos ao FMI, até que nos foi negado um pedido. Em troca, Juscelino rompeu com o Fundo Monetário.
Nonô não se preocupou: transferiu a solução dos problemas por ele criados para o seu sucessor. A oposição começava a ganhar corpo e forma. À UDN, esperançosa de uma vitória (finalmente), restava encontrar o homem certo. Realizada a eleição venceu Jânio Quadros, candidato udenista, contra o candidato do PTB Mal. Lott.
Fonte: elogica.br.inter.net
Governo Juscelino Kubitschek
Juscelino Kubitschek de Oliveira nasceu em Diamantina (MG) no dia 12 de setembro de 1902, filho de João César de Oliveira e de Júlia Kubitschek.
Ingressou no seminário diocesano em 1914. Aos 15 anos incompletos concluiu o curso de humanidades, abandonando então o seminário, já que não sentia vocação para o sacerdócio.
Em 1919 foi trabalhar na Repartição Geral dos Telégrafos. Exerceu a função de telegrafista até se formar pela Faculdade de Medicina de Belo Horizonte.
Diplomando-se em dezembro de 1927, foi trabalhar na Clínica Cirúrgica da Santa Casa de Misericórdia, na capital mineira. Posteriormente seguiu para Paris com o objetivo de especializar-se em urologia. Ao regressar, além de reassumir seus empregos em Belo Horizonte, montou seu próprio consultório. Em 1931 foi nomeado para integrar o corpo de médicos do Hospital Militar da Força Pública do estado de Minas Gerais. Em dezembro casou-se com Sara Gomes de Lemos, pertencente a família de grande prestígio no estado.
Com o falecimento súbito de Olegário Maciel em 5 de setembro de 1933, agitou-se o cenário político mineiro para a escolha de seu sucessor. Em 12 de dezembro Vargas deu uma solução inesperada ao caso, nomeando Benedito Valadares interventor federal. Este, ao tomar posse no dia seguinte, convidou Juscelino para exercer a chefia de seu Gabinete Civil.
No exercício da chefia do Gabinete Civil de Valadares, Juscelino tornou-se uma espécie de “advogado” das causas de seu município natal. Em abril de 1934, por influência de Valadares, filiou-se ao Partido Progressista de Minas Gerais (PP) com o objetivo de concorrer ao cargo de deputado federal nas eleições de outubro seguinte. Em setembro foi indicado por Antônio Carlos para ocupar a secretaria do partido.
Realizadas as eleições em outubro, Juscelino foi eleito para seu praimeiro mandato parlamentar, iniciado em maio de 1935. Ante a necessidade de permanecer no Rio de Janeiro, então capital da República, licenciou-se do cargo que ocupava no Hospital Militar, bem como das funções que exercia na Santa Casa de Misericórdia em Belo Horizonte.
Diante da agitação reinante no cenário político, Vargas, com o apoio das forças armadas, antecipou o golpe para o dia 10 de novembro de 1937. Fechando nesse dia o Congresso Nacional, instituiu o Estado Novo e assumiu poderes ditatoriais. Juscelino perdeu seu mandato na Câmara e retornou à medicina, reassumindo as funções de chefe do Serviço de Urologia do Hospital Militar em Belo Horizonte. Em fins de 1938 foi promovido a tenente-coronel da Força Pública e, simultaneamente, nomeado chefe do Serviço de Cirurgia do Hospital Militar.
Em fevereiro de 1940 foi convidado por Benedito Valadares para assumir o cargo de prefeito de Belo Horizonte. Durante a entrevista, negou-se a aceitar a nomeação por não desejar, mais uma vez, afastar-se da medicina. Entretanto, dois meses depois do convite inicial, tomou conhecimento de que Valadares mandara publicar no Minas Gerais, órgão oficial do estado, o decreto de sua nomeação para a prefeitura da capital. Considerando o fato consumado, Juscelino tomou posse no cargo no dia seguinte.
Embora ocupando o cargo de prefeito, permaneceu na chefia do Serviço de Cirurgia do Hospital Militar, onde continuou a operar todas as manhãs, e assumiu ainda a chefia do Serviço de Urologia da Santa Casa de Misericórdia. Além dessas atividades proporcionava, pessoalmente, assistência médica a numerosas famílias pobres. Só abandonaria o exercício da medicina no início de 1945, quando passou a dedicar-se exclusivamente à vida política.
Preocupado em remodelar a cidade de Belo Horizonte, Juscelino abriu grandes avenidas e dedicou-se às obras de infra-estrutura da cidade, removendo e ampliando as redes de esgoto e abastecimento de água, além de construiu o conjunto arquitetônico de Pampulha, um dos maros da moderna arquitetura brasileira, projetado por Oscar Niemeyer.
Em março de 1945, quando os agrupamentos que dariam origem aos novos partidos políticos já se organizavam, participou ativamente dos trabalhos de criação do Partido Social Democrático (PSD), que seria formado principalmente em torno dos interventores, com o apoio de Vargas. No dia 8 de outubro reuniu-se em Belo Horizonte a comissão executiva do PSD mineiro com o objetivo de indicar os candidatos do partido à Assembléia Nacional Constituinte. Dentre os concorrentes às cadeiras de deputado federal, teve seu nome lançado.
Com a deposição de Vargas pelas forças armadas em 29 de outubro, assumiu o poder o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro José Linhares. Uma de suas primeiras medidas foi substituir os interventores por representantes do Poder Judiciário e afastar os antigos prefeitos. Juscelino foi então substituído pelo engenheiro João Gusmán Júnior.
O resultado do pleito de 2 de dezembro de 1945 conferiu ampla vitória ao PSD tanto no nível estadual como nacional. Dutra conquistou a presidência da República e Kubitschek foi o segundo candidato mais votado em seu estado, iniciando o mandato ao se instalar a Constituinte em fevereiro de 1946. Promulgada a nova Carta em setembro de 1946, a Assembléia Constituinte foi transformada em Congresso ordinário, permanecendo Juscelino no exercício de seu mandato na Câmara Federal.
A partir de março de 1947 desencadeou franca oposição ao governo de seu estado. De maio a julho de 1948 viajou aos Estados Unidos e Canadá. Segundo suas memórias, essa viagem teria exercido grande influência em suas concepções político-administrativas, por convencê-lo de que o Brasil só atingiria um pleno desenvolvimento com um processo de industrialização intenso e diversificado.
Em 20 de julho de 1950, uma comissão executiva do PSD escolheu Kubitschek para disputar as eleições. Sua candidatura foi finalmente homologada em 30 de julho, durante a convenção do PSD mineiro. Getúlio Vargas elegeu-se presidente da República e Juscelino Kubitschek conquistou o governo mineiro. Em 31 de janeiro de 1951 ambos tomaram posse nos cargos para os quais haviam sido eleitos.
A base de sua administração seria o binômio energia e transporte. Tinha como meta prioritária retirar o estado de Minas da posição de estado agropastoril e lançá-lo na fase da industrialização.
Em fins de 1954 as eleições foram realizadas na data prevista. Por aquela época já se tornara público que Juscelino pretendia concorrer no ano seguinte ao pleito presidencial. Em princípios de novembro o PSD decidiu definitivamente indicar um candidato próprio. O nome de Juscelino se impunha, quase sem divergências, à consideração da liderança do partido. Entretanto, além da oposição dos udenistas e de certos setores militares, teria de enfrentar o problema da sucessão estadual, pois se fosse candidato seria obrigado a deixar o governo mineiro dez meses antes de expirar o mandato.
Teve sua candidatura homologada pela convenção nacional do PSD que se reuniu em 10 de fevereiro de 1955. Após o lançamento oficial de sua candidatura, a movimentação contra as eleições e a favor da intervenção dos militares tornou-se mais evidente. Juscelino era tido como comprometido com as forças getulistas destronadas em agosto de 1954.
Em 31 de março desincompatibilizou-se do governo de Minas Gerais. No dia 4 de abril, em comício realizado em Jataí (GO), assumiu o compromisso de transferir a capital do país para o planalto Central, caso fosse eleito. O programa de seu governo, organizado com o auxilio de uma equipe de técnicos, constituía o famoso Programa de Metas.
No dia 13 de abril o diretório nacional do PSD aceitou a indicação do PTB para que seu líder, João Goulart, figurasse na chapa de Juscelino como candidato à vice-presidente. A candidatura de ambos foi homologada pelo PTB cinco dias depois, durante a convenção nacional do partido.
Garantidas pelas tropas do Exército, em 3 de outubro realizaram-se as eleições, cuja apuração foi concluída em meados do mês. Logo após a divulgação dos resultados, a União Democrática Nacional (UDN) e seus aliados deram início a uma batalha judiciária com o objetivo de anular as eleições e impedir a proclamação dos candidatos eleitos.
Liderados por Carlos Lacerda, setores udenistas passaram a pregar abertamente a deflagração de um golpe militar. Na manhã do dia 3 de novembro, o presidente Café Filho adoeceu repentinamente, transmitindo cinco dias depois o governo ao seu sucessor legal, o presidente da Câmara, Carlos Luz. Entretanto, no dia 11 de novembro, o Congresso Nacional, em sessão especial, aprovou o impedimento de Carlos Luz , dando posse na presidência da República a Nereu Ramos.
Na madrugada de 22 de novembro o Congresso aprovou o impedimento de Café Filho, confirmando Nereu Ramos como presidente legal até a posse de Juscelino, em janeiro do ano seguinte.
Ao assumir a presidência da República em 31 de janeiro de 1956, Juscelino solicitou ao Congresso a abolição do estado de sítio, no que seria logo atendido. Para imprimir um cunho ainda mais democrático à sua gestão, também aboliu, no dia seguinte, a censura à imprensa.
Logo no início de seu governo defrontou-se com séria oposição deflagrada por oficiais da Aeronáutica que, inconformados com sua posse, pregavam a sua deposição. Entretanto, no dia 29 de fevereiro o levante já havia sido totalmente debelado. Uma vez encerrado o episódio, Juscelino enviou ao Congresso um projeto de lei concedendo anistia ampla e irrestrita a todos os civis e militares que tivessem participado de movimentos políticos ou militares no período de 10 de novembro de 1955 a 19 de março de 1956.
Em 18 de abril assinou, no aeroporto de Anápolis (GO), a mensagem a ser enviada ao Congresso, juntamente com o projeto de lei propondo a transferência da capital da República para o planalto Central. A despeito da séria resistência por parte da UDN em relação à transferência da capital do país, o projeto foi aprovado pelo Congresso Nacional. Em 19 de setembro Juscelino sancionou a lei que fixava os limites do futuro Distrito Federal e autorizava o governo a instituir a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap).
Em fins de 1956, atendendo a reivindicação da Marinha e da Aeronáutica, autorizou a compra do porta-aviões Minas Gerais, fabricado na Inglaterra. O fato suscitou grave crise entre as duas armas, pois a Marinha, apesar dos fortes protestos da Aeronáutica, reivindicava controle da aviação embarcada no porta-aviões. A questão iria estender-se por governos posteriores, só sendo resolvida em agosto de 1964 pelo presidente Humberto Castelo Branco, que garantiu à Aeronáutica a posse das aeronaves embarcadas.
Também no final de 1956, o recrudescimento no cenário mundial da chamada guerra fria, e o interesse norte-americano em ampliar suas instalações defensivas contra a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), fizeram com que o embaixador dos Estados Unidos da América (EUA) no Brasil, Ellis Briggs, em nome de seu país, solicitasse permissão ao governo brasileiro, no sentido de ser instalada em Pernambuco uma estação de rastreamento de foguetes. Kubitschek submeteu o assunto aos ministros militares, os quais vetaram o local escolhido, sugerindo o território de Fernando de Noronha. Em 17 de dezembro foi assinado o acordo que tinha por base os termos e resoluções do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, de 1947, e do Acordo de Assistência Militar, de 1952.
Em março de 1957, em concurso organizado por Oscar Niemeyer, foi aprovado o plano-piloto de autoria do arquiteto e urbanista Lúcio Costa para a construção de Brasília.
Ainda em 1957 , depois de pleitear empréstimos junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), conhecido como Banco Mundial, foi proposto o reatamento das relações comerciais com a URSS tendo em vista, sobretudo, o interesse na venda do café. Todavia, o ministro da Guerra, general Lott, opôs-se resolutamente à medida, alegando motivo de segurança nacional.
Em março de 1958 uma terrível seca assolou o Nordeste. Devido ao estado de emergência configurado, Kubitschek seguiu, em 17 de abril, para o interior do Ceará, não só para avaliar a gravidade da situação, como para visitar as obras do açude de Araras, regressando três dias depois.
Em fins de 1958, contrária à transferência da capital da República, a UDN tomou iniciativas para adiar o evento. Carlos Lacerda requereu uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que intimava os diretores da Novacap e todos os empreiteiros das obras a prestarem depoimento alegando irregularidades na construção de Brasília. Entretanto, as forças que apoiavam o governo comprometeram-se a adiar a CPI até a inauguração da nova capital.
No dia 17 de junho tornou-se público o rompimento de Juscelino com o FMI, provocado pela recusa do governo brasileiro em ceder às exigências do órgão para a concessão de financiamentos. A população do Rio, representada por suas organizações de classe, compareceu em massa ao Palácio do Catete em atitude de solidariedade ao presidente, portando faixas e cartazes em favor do estabelecimento de relações diplomáticas do Brasil com a União Soviética e a China Popular.
Em julho, ainda em meio à celeuma decorrente da ruptura do governo com o FMI, Walter Moreira Sales foi nomeado embaixador do Brasil em Washington. Ernâni Amaral Peixoto, que exercia essas funções, assumiu o Ministério da Viação e Obras Públicas em substituição a Lúcio Meira, que substitui Roberto Campos, exonerado também neste mês da presidência do BNDE.
Diante da tensão reinante no cenário político, no início de 1959 o governo chegou a ameaçar a decretação do estado de sítio. Em março deste ano o Nordeste foi submetido novamente a uma situação dramática, pelo desabamento de fortes temporais que ameaçavam a população com enchentes e inundações.
Em 21 de abril de 1960 Kubitschek declarou inaugurada a nova capital, Brasília. Durante a primeira reunião ministerial realizada no Palácio do Planalto, assinou mensagem dirigida ao Congresso, propondo a criação da Universidade de Brasília (UnB).
Durante a primeira reunião de seu ministério, realizada no dia 1º de fevereiro de 1956, Juscelino expôs seu plano de governo – o Programa de Metas – e instituiu o Conselho de Desenvolvimento, órgão controlador da economia, diretamente subordinado à Presidência, designando para integrá-lo os ministros de Estado, os chefes dos gabinetes Civil e Militar e os presidentes do Banco do Brasil (BB) e do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDE).
Em princípios de outubro de 1957, o ministro da Fazenda José Maria Alkmin compareceu à reunião da junta de governadores do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), conhecido como Banco Mundial, realizada em Washington.
No intuito de atender às exigências do FMI, Lucas Lopes elaborou o Plano de Estabilização Monetária (PEM), que estabelecia uma rigorosa política antiinflacionária. Embora considerasse relevante a adoção dessa política ante a delicada situação financeira do país, Juscelino mostrou-se intransigente em relação à liberação das verbas destinadas ao Programa de Metas.
No âmbito econômico, ao assumir a presidência Juscelino herdou a difícil situação dos governos Vargas e Café Filho. A superprodução do café, os déficits do Tesouro e perda do poder de compra das exportações formavam na época, segundo analisou o economista Carlos Lessa, um “quadro impressionante de desequilíbrios econômicos”.
Embora a economia acusasse instabilidade e crescente inflação, o ministro da Fazenda, José Maria Alkmin, propôs-se basicamente a impedir que os desequilíbrios tomassem vulto a ponto de comprometer o êxito do programa desenvolvimentista de Kubitschek.
O Programa de Metas, destinado sobretudo a promover o desenvolvimento acelerando o processo de industrialização, teve vários de seus objetivos consideravelmente ultrapassados em relação aos previamente estipulados. Para a implementação desse programa foram criados grupos de trabalho subordinados ao Conselho de Desenvolvimento.
Além dos estímulos permitidos pela legislação que favorecia a entrada de capital estrangeiro, o governo dispunha de outra importante fonte para angariar recursos. Através do BNDE assegurava o acesso a créditos do exterior aos empresários, que assumiam a co-responsabilidade pela liquidação do débito. A grande entrada de capital estrangeiro foi, no entanto, a principal fonte de oposição à política econômica de Juscelino, notadamente por parte da esquerda. De um lado, o mecanismo de proteção às manufaturas de origem nacional obrigava as empresas norte-americanas a investir diretamente no Brasil, a fim de não perderem o mercado. Do outro, o governo concedia isenções e privilégios, permitindo que aquelas empresas importassem bens de produção, sem cobertura cambial, enquanto negava o mesmo direito às brasileiras.
Como a participação inicial do capital norte-americano para a execução do Plano de Metas era irrisória, o processo de aceleração industrial encontrou viabilidade na entrada de capitais europeus e japoneses. Entretanto, a entrada destes capitais, notadamente do alemão, fortaleceu no Brasil a área de resistência aos Estados Unidos, ao mesmo tempo que impeliu este país a incrementar os investimentos na indústria brasileira para manter e consolidar sua hegemonia.
O complexo Plano de Estabilização Monetária (Pem) envolvia sérias providências corretivas nos setores da moeda, do crédito, das finanças públicas e salários e do balanço de pagamentos. Diante da difícil situação financeira do país, ao ser discutido no Congresso, o Pem sofreu inúmeros cortes e modificações. A solução encontrada foi a sustentação do plano, com as emendas introduzidas e a simultânea concessão de um “abono de emergência” ao funcionalismo civil e militar da União.
Enquanto aguardava a decisão do Congresso, Lucas Lopes, com o objetivo de minorar os efeitos da crise financeira, tomou medidas corretivas, comprimindo as despesas, controlando com rigor a política de liberação de verbas, sustando a execução de obras consideradas adiáveis e alterando substancialmente o nível das taxas de câmbio.
Em represália ao pouco interesse demonstrado pelos EUA em empreender um programa de assistência ao Brasil e aos outros países da América Latina, em novembro de 1958, Juscelino manifestou-se publicamente pelo reatamento das relações comerciais com a União Soviética e outros países socialistas, sob aplausos de líderes sindicais que compareceram ao Catete.
Em 1959, quando o Pem entrou em execução, determinando uma vertiginosa elevação dos preços, ocorreu forte reação popular em oposição às medidas implementadas. Entretanto, como essa política de estabilização foi considerada insatisfatória pelo FMI, Lucas Lopes seguiu para os EUA, assumindo o compromisso, junto às autoridades daquele órgão, de ampliar as medidas corretivas do Pem.
Embora o FMI aceitasse a contraproposta do Brasil, os jornais ligados a esse organismo desencadearam uma campanha de descrédito contra a economia brasileira. Tendo Lucas Lopes adoecido repentinamente, Juscelino decidiu conduzir as negociações com o FMI.
Assim, ao se iniciar o mês de junho de 1959, Juscelino teve que optar por uma atitude a ser assumida pelo governo: ou submeteria o país às condições exigidas pelo FMI ou romperia com aquela entidade. Decidido a dar prosseguimento ao programa desenvolvimentista, optou pela ruptura com o FMI.
A política econômica do governo Kubitschek teria fortes repercussões sobre o processo de sucessão presidencial. Nas eleições realizadas em 3 de outubro de 1960, o candidato apoiado pela UDN, Jânio Quadros, obteve esmagadora vitória, apesar da reeleição de João Goulart à vice-presidência da República. Em 31 de janeiro de 1961, Kubitschek transmitiu o poder a Jânio Quadros. Nas eleições extraordinárias realizadas em 4 de junho de 1961, Juscelino elegeu-se senador por Goiás na legenda do PSD.
Em 31 de março de 1964 eclodiu o movimento militar que depôs Goulart. No dia 7 de daquele mês, Juscelino, em encontro proposto por Castelo Branco, manteve com este conversações acerca do problema sucessório. Ante o declarado interesse de Castelo Branco em concorrer às eleições presidenciais, apoiou essa pretensão. No dia 9 de abril, o Comando Supremo da Revolução promulgou o Ato Institucional Nº 1 (AI-1), que determinava a eleição dois dias depois, pelo Congresso Nacional, do presidente da República, que exerceria o poder até 31 de janeiro de 1966, quando seria empossado seu sucessor a ser eleito pelo sufrágio popular. O AI-1 também outorgava ao chefe do Executivo o poder de cassar mandatos parlamentares e suspender direitos políticos.
Em 3 de junho de 1964, Costa e Silva formulou o pedido de cassação de Juscelino. Enquanto o processo caminhava o PSD procurou sustá-lo. Em 8 de junho de 1964, porém, foi assinado o ato – divulgado dois dias depois – que cassava o mandato de Juscelino e suspendia seus direitos por dez anos, provocando a imediata decisão do PSD de retirar-se do bloco parlamentar de apoio ao presidente Castelo Branco.
Decidindo exilar-se, Juscelino seguiu para a Europa no dia 14 daquele mês. Em 4 de outubro de 1965, após longa permanência na Europa, parte na França e parte em Portugal, voltou ao Brasil, contrariando a direção do PSD e sendo recebido em meio a grande manifestação por parte de seus correligionários.
Em face da sucessão de inquéritos policiais-militares perante os quais foi convocado para prestar depoimento, Juscelino decidiu ausentar-se de novo do país. Só retornaria ao Brasil em junho de 1966, quando foi autorizado pelo governo a permanecer no país por 72 horas a fim de assistir aos funerais de sua irmã.
Em setembro de 1966 a imprensa divulgou a constituição de uma frente política – a Frente Ampla – que reunia Lacerda, seu principal articulador, Kubitschek e Goulart.
Em março de 1967, já estando Costa e Silva na presidência, foi por várias vezes noticiado o lançamento de um manifesto da Frente Ampla. Em maio Juscelino retornou definitivamente ao Brasil, fixando residência no Rio de Janeiro. Embora tivesse obtido do governo a garantia de plena liberdade de movimento, foi advertido de que estaria sujeito a prestar depoimentos nos inquéritos em que estivesse envolvido. Ainda em 1967, Juscelino assumiu o cargo de diretor-presidente do conselho administrativo do Banco Denasa de Investimento, de cuja organização participara.
O agravamento da situação política levou o governo a um enrijecimento de suas posições, extingüindo a Frente Ampla no dia 5 de abril de 1968. Com a extinção do movimento, Juscelino abandonou definitivamente o cenário político, dedicando-se à área empresarial.
Em junho de 1974 foi eleito membro da Academia Mineira de Letras. Em 18 de junho de 1976 recebeu o troféu “Juca Pato” conferido pela União Brasileira de Escritores, em São Paulo, por ter sido eleito o intelectual do ano de 1975. Por essa época, abandonou suas funções junto ao Banco Denasa, passando a dedicar-se à administração da fazenda que possuía em Luziânia (GO). Em 22 de agosto de 1976 faleceu, vítima de desastre sofrido na via Dutra, nas proximidades de Resende (RJ).
Em abril de 1980, teve início em Brasília a construção de um monumento em homenagem a Juscelino – O Memorial JK – projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Em 12 de setembro, dia em que JK completaria 79 anos, dona Sara e o presidente João Batista Figueiredo inauguraram o Memorial JK, no qual seria instalado um museu e uma biblioteca.
Fonte: www.cpdoc.fgv.br
Governo Juscelino Kubitschek
Nascido a 12 de setembro de 1902 na histórica cidade de Diamantina em Minas Gerais, onde fez seus primeiros estudos, Juscelino Kubitschek de Oliveira era filho de uma família modesta: o pai, caixeiro viajante; a mãe, dedicada professora primária, que o criou desde a infância após a morte prematura do genitor.
Espirito inquieto e sonhador, Juscelino Kubitschek se emprega como telegrafista e inicia seus estudos na Faculdade de Medicina de Minas Gerais. Diplomado, especializa-se em urologia na França e ingressa, em 1931, na Polícia Militar de Minas Gerais, onde alcança o posto de Coronel-médico, participando, como defensor do governo constituído, do combate à Revolução de 1932.
Em 1931, casa-se com D. Sarah Luiza Gomes de Lemos.Dotado de notável inteligência e vasta cultura humanística, inicia sua resplandecente vida politica, em 1933, na Chefia de Gabinete do Governador Benedito Valadares, em Minas Gerais.
Foi Deputado Federal em duas legislaturas, Senador, Prefeito de Belo Horizonte e Governador de Minas Gerais, época em que, com seu largo descortinio de homem público, se afirma como admirável administrador e politico sagaz. O êxito de sua administração fértil e dinâmica repercute em todos os recantos do Pais.
Percebe, então que havia chegado o momento de lançar-se candidato à Suprema Magistratura do Pais para realizar seu acalentado sonho de transformar o Brasil numa respeitável Nação progressista.
Venceu as eleições, enfrentou sérios obstáculos para assumir a Presidência da República a 31 de janeiro de 1956.
Durante a campanha presidencial lançara o slogan “Cinqüenta anos em cinco”, e elaborara um audacioso “Programa de Metas” cumprido integralmente. Promoveu o desenvolvimento e a modernização do Pais infundindo no povo brasileiro um otimismo contangiante.
No âmbito internacional, teve o mérito de criar a Operação Pan-ameticana, cuja principal finalidade era despertar as esperanças e as energias dos povos americanos, principalmente da América Latina, com o objetivo comum do combate ao subdesenvolvimento.
Na realidade Juscelino Kubitschek inspirou uma época que corria ó risco de afogar-se na trivialidade.
Foi um sonhador e um realizador. Ousava fazer e sabia fazer. E também como todos os gênios tinha o dom da previsão.
Não for;a esta virtude, não téria aceito o desafio de construir Brasília, sua Meta-sintese nem teria profetizado, na sua primeira viagem ao ermo dó Planalto, a 2 de outubro de 1956, numa explosão de entusiasmo:
“Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das mais altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu Pais e antevejo esta alvorada, com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino”.
Com a visão de estadista, que pensa nas gerações futuras, e a paciência do político, chegou ao fim do governo consagrado pelo povo.
Cassado seu mandato e suspensos seus direitos políticos, em 1964, suportou com estoicismo o exílio, desenvolvendo, após regressar ao Brasil, intensa atividade na literatura, na agricultura e na empresa privada.
Violento acidente a 22 de agosto de 1976 roubou-lhe a vida. Permanece porém, como indelével recordação, o edificante exemplo que legou às gerações futuras.
Fonte: www.vivabrazil.com
Governo Juscelino Kubitschek
1956-1961
Nascido em 12 de setembro de 1902, na cidade de Diamantina, Minas Gerais, Juscelino Kubitschek de Oliveira foi um dos mais importantes políticos brasileiros.
Mudou-se, 19 anos mais tarde, para a cidade de Belo Horizonte onde diplomou-se como médico sendo nomeado capitão médico da polícia mineira.
Em 1931, casou-se com Sarah Luiza Gomes de Lemos.
Juscelino Kubitschek
Sua carreira política iniciou-se em 1934, quando foi escolhido como chefe do gabinete do recém-nomeado interventor federal em Minas Gerais, Benedito Valadares. No mesmo ano foi eleito deputado federal, perdendo o mandato com o advento do Estado Novo em 1937, voltando então a clinicar.
Nomeado prefeito de Belo Horizonte pelo governador Benedito Valadares em 1940, contou com a colaboração do arquiteto Oscar Niemeyer para realizar várias obras, inclusive a urbanização da Pampulha. Elegeu-se deputado à Assembléia Nacional Constituinte de 1946 e governador de Minas Gerais em 1950, norteando sua administração pelo binômio “Energia e Transporte”.
Em 1955, foi eleito à Presidência da República. Inaugurando um estilo de atuação inteiramente novo, Juscelino Kubitschek caracterizou-se por construir em torno de si uma aura de simpatia e confiança. Seu governo, tendo como base um ambicioso plano de metas, implantou a indústria automobilística. Para promover a integração do país, JK executou o antigo projeto de mudança da capital, construindo Brasília, considerada hoje uma das mais relevantes obras da arquitetura e do urbanismo contemporâneos. Em seu período presidencial, o país todo conheceu um grande desenvolvimento econômico, em meio à estabilidade política.
No governo de seu sucessor, elegeu-se Senador por Goiás. Em 1964, teve seu mandato cassado e seus direitos políticos suspensos pelo regime militar por 10 anos, sendo assim impedido de disputar as eleições presidenciais de 1965. Faleceu em 22 de agosto de 1976, vítima de um acidente automobilístico.
Nascimento: Diamantina-MG, em 12.09.1902
Falecimento: Resende-RJ, em 22.08.1976
Profissão: Médico
Período de Governo: 31.01.1956 a 31.01.1961 (05a)
Idade ao assumir: 54 anos
Tipo de eleição: Direta
Votos recebidos: 3.077.411 (três milhões, setenta e sete mil, quatrocentos e onze)
Posse: Em 31.01.1956, em sessão solene do Congresso Nacional, presidida pelo Senador Carlos Gomes de Oliveira
Afastamento: 19 a 27.07.1956 período em que visitou o Panamá e de 05. a 11.08.1960 quando viajou com o Vice-Presidente à Argentina, Uruguai e Chile, período em que assumiu o Presidente da Câmara dos Deputados.
As eleições presidenciais de 1965.
Faleceu em 22 de agosto de 1976, vítima de um acidente automobilístico.
Resumo
Vida
Médico, nascido na cidade de Diamantina, estado de Minas Gerais, em 12 de setembro de 1902. Foi chefe do Gabinete Civil do Estado de Minas Gerais (1933-1934).
Filiou-se ao Partido Progressista (PP) de Minas Gerais, elegendo-se deputado federal em 1935, cargo que exerceu até o fechamento do Congresso, com o golpe de 1937. Foi nomeado prefeito de Belo Horizonte (1940-1945), participou da criação do Partido Social Democrático (PSD) em Minas Gerais, elegeu-se deputado federal (1946-1950) e governador de Minas Gerais (1951-1955).
Concorreu à presidência da República pela coligação PSD-PTB, tendo como vice João Goulart, e tomou posse em 31 de janeiro de 1956, após grave crise política.
Com o fim de seu mandato, elegeu-se senador por Goiás (1962-1964).
Após o golpe militar de 1964, teve seu mandato cassado e os direitos políticos suspensos por dez anos. Exilado, retornou ao Brasil em 1967.
Faleceu em acidente automobilístico na via Dutra, próximo a Resende, em 22 de agosto de 1976.
Período presidencial
Juscelino Kubitschek iniciou seu governo quando o país contava aproximadamente 60 milhões de habitantes. Sua gestão foi marcada pelo Plano de Metas, cujo lema “cinqüenta anos de progresso em cinco anos de governo” se traduziu, sobretudo, em crescimento industrial. Entre 1955 e 1961, a produção do setor cresceu 80% destacando-se as indústrias de aço, mecânicas, elétricas, de comunicações e de equipamentos de transportes. Entre 1957 e 1961, a taxa de crescimento real foi de 7% ao ano. Esse processo, orientado pelo projeto nacional-desenvolvimentista, foi possibilitado pela existência de um amplo mercado interno, pela capacidade de produção de ferro e de aço e pela disposição externa de investimento. Além do incentivo à entrada de capitais externos, o governo voltou-se para as áreas de transporte e de energia, constituindo uma infra-estrutura para a expansão do parque industrial.
O planejamento estatal setorizado, articulado em grupos de trabalho e grupos executivos ligados ao recém-criado Conselho de Desenvolvimento, resolveu-se eficiente. Esses grupos eram voltados, respectivamente, para a aprovação de projetos de leis e decretos, e de projetos empresariais (como órgãos mistos, formados por técnicos do Estado e empresas privadas). O governo também orientou os investimentos segundo os estudos e projetos formulados pelos representantes da Comissão Econômica para América Latina (Cepal) e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE).
A política econômica dos anos JK obteve resultados expressivos na área da expansão industrial, mas gerou contradições, como o favorecimento à concentração de capital, com a entrada de empresas multinacionais no país, que deixou poucas oportunidades para o pequeno capital. Do ponto de vista dos trabalhadores, verificou-se que o aumento de produtividade decorrente do aprimoramento tecnológico não foi transferido nem para os preços nem para os salários. Apesar disso, alguns aumentos salariais e o subsídio estatal ao petróleo e ao trigo buscavam atender as demandas sindicais. As importações, que visavam suprir a escassez interna de insumos, aprofundaram a dependência externa da economia brasileira, elevando o desequilíbrio financeiro e o déficit da balança de pagamentos, o que influiu decisivamente para o retorno do processo inflacionário, um dos maiores problemas enfrentados pelo presidente Kubitschek. Um plano de estabilização antiinflacionário foi formulado pelo ministro da Fazenda, Lucas Lopes, e pelo diretor do BNDE, Roberto Campos, e submetido ao Fundo Monetário Internacional (FMI), que deveria avalizar um crédito de 300 milhões de dólares provenientes dos Estados Unidos.
Diante das exigências de ajuste da economia brasileira pelo FMI, o governo teve duas opções: levar adiante o Plano de Metas ou conter a economia interna, satisfazendo os credores externos e os defensores brasileiros do programa de estabilização. Foram muitas as pressões internas, gerando um debate que envolveu também os intelectuais nacionalistas e aqueles de tendência liberal, representados no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB). Em junho de 1959, o presidente Kubitschek rompeu as negociações com o FMI.
No âmbito das relações internacionais, o governo apresentou aos Estados Unidos a proposta da Operação Pan-Americana, de promoção multilateral do desenvolvimento do continente com apoio norte-americano, que só posteriormente foi adotada, através da Aliança para o Progresso.
O período presidencial notabilizou-se, ainda, pela construção da nova capital federal, a cidade de Brasília, inaugurada em 21 de abril de 1960. Símbolo do desenvolvimento do país, a cidade foi projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer e pelo urbanista Lúcio Costa, tornando-se um exemplo da arquitetura moderna.
Em 7 de setembro de 1987, foi tombada pela Unesco e registrada como patrimônio histórico e cultural da humanidade.
Fonte: www.senado.gov.br/www.planalto.gov.br
Governo Juscelino Kubitschek
Trajetória
1902 – Nasce em 12 de setembro, Diamantina, MG
1905 – Morre o pai de Juscelino A morte de João César de Oliveira , pai de JK, agravou a situação da família. Apesar das suas origens, caixeiro viajante, sua família passava por momentos difíceis, dispondo de precários meios de sobrevivência. Dona Júlia, embora não tivesse com quem deixar seus filhos, estava determinada a dar-lhes o melhor. Assim levava-os todos os dias, para a sala de aula, um dos cômodos da casa em que morava. Foi assim que Nonô (como Juscelino era chamado) e Naná, sua irmã, terminaram o curso primário. Juscelino sempre se mostrou um garoto estudioso e interessado. Apesar do pouco contato que teve com seu pai, pois quando este morreu; em 10 de janeiro de 1905, Juscelino tinha apenas 2 anos de idade, sempre houve uma semelhança na personalidade de ambos, fato que agradava Juscelino. Segundo ele próprio, isto fazia com que se sentisse mais próximo da figura paterna, com a qual teve pouco contato. Dona Júlia, por sua vez, era uma pessoa reservada e discreta. Raramente participava de atividades sociais. Professora desde 1895 dedicava a maior parte do seu tempo aos compromissos da escola onde lecionava.
Era neta de Jan Nepomusky Kubitschek, o “João Alemão”, um imigrante católico natural da Boêmia, que se estabeleceu no Brasil como marceneiro pelos idos do primeiro reinado. Foi ela que arcou com as responsabilidades da família quando da morte de João César aos 33 anos. Dona Júlia morreu em 1971 com mais de 90 anos. Juscelino teve duas irmãs Eufrosina, que viveu poucos meses, e Maria da Conceição, a Naná (1901-1966).
1914 – Ingressa no seminário dos padres Lazaristas, único ginásio de Diamantina. Juscelino, com 12 anos, através de um pedido de sua mãe aos padres Lazaristas, ingressa no seminário de Diamantina a fim de cursar o secundário. Este era o único local na cidade onde era possível cursá-lo. Logo de início, Juscelino deixou claro aos padres que não possuía vocação eclesiástica e após 3 anos, antes de completar 15 anos, conclui seus estudos no seminário.
A idéia de ser médico, sempre constante, fez com que continuasse a buscar novos caminhos a fim de dar andamento a seus estudos. Ainda faltavam algumas matérias para que o seu curso secundário fosse concluído e isto só era possível em outras cidades. Tomou conhecimento, então, de que era possível fazê-lo através do que na época era chamado “exame por decreto”, ou seja, o candidato deveria estudar por conta própria, requerer os exames, e, se fosse aprovado, receber o certificado. Prontamente, Juscelino passou a empenhar-se ainda mais em seus estudos. Eram 12 exames que ele deveria prestar. Ao terminá-los o próximo passo seria a universidade.
1919 – É aprovado no concurso para telegrafista dos Correios em Belo Horizonte. Em 1919, o Diário Oficial publicou um edital abrindo concurso para telegrafista em Belo horizonte. Juscelino viu aí sua grande chance. Seria a oportunidade de realizar seu antigo sonho de morar na capital com um emprego garantido, o que possibilitar-lhe-ia cursar a faculdade de medicina.
Assim, viajou para Belo Horizonte com 200 mil réis que D. Júlia, sua mãe, havia conseguido através da venda da única jóia que possuía: um colar de ouro herdado de sua mãe. Participaram do concurso 89 candidatos. Após 6 meses de espera é divulgado o resultado. Juscelino havia tirado o 19o lugar, o que praticamente significava a nomeação. Esta, porém, só ocorreu em maio de 1921.
1921 – Nomeado telegrafista-auxiliar, em Belo Horizonte. Quase dois anos após ter prestado exame para telegrafista em Belo Horizonte, sai, em maio de 1921, a sua nomeação. Neste meio tempo, Juscelino, sempre determinado, continuou estudando por conta própria com grandes sacrifícios.
1922 – Ingressa na Fac. de Medicina de Minas Gerais. Em dezembro de 1921, Juscelino completou os exames necessários para adquirir o diploma de conclusão do secundário. Finalmente poderia realizar o seu anseio de ingressar na universidade. Juscelino prestou exames vestibulares, passou, e matriculou-se imediatamente na Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais.
1927 – Forma-se em Medicina. Os anos na Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais sucederam-se e, apesar das dificuldades de ter de trabalhar durante o dia, o jovem diamantinense Juscelino Kubitschek mostrou-se, como sempre, um excelente aluno. Juscelino formou-se em 17 de dezembro de 1927. Foi em seu baile de formatura que D. Júlia, sua mãe, conheceu Sarah Gomes de Lemos, filha de Dona Luísa Negrão e Jaime Gomes de Souza Lemos, ex-Senador mineiro. Sarah viria a casar-se com Juscelino em dezembro de 1931.
1928 – Nomeado professor assistente na Faculdade de Medicina de Minas Gerais. Ao formar-se em Medicina, Juscelino atuava como interno na 3a. Enfermaria da Clínica Cirúrgica da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. Após sua formatura passa a assistente do Dr. Júlio Soares, seu cunhado e amigo, nesta mesma Clínica. Passa, também, a participar como sócio de Júlio em seu consultório particular, desenvolvendo, desta forma, a carreira que escolhera com tanta determinação.
1930 – Cursos e estágios na Europa. Após formar-se em Medicina, tudo corria normalmente mas Juscelino sentia necessidade de ir além. Queria especializar-se e já tinha escolhido a área: Urologia. Assim o fez. Rumou para a Europa em fins de abril de 1930. Além de Paris, onde foi aluno do Dr. Maurice Chevassu, grande médico urologista, Juscelino também estagiou em Viena e Berlim. Ao regressar ao Brasil, em outubro de 1930, reassumiu suas funções, no seu antigo consultório e assumiu o serviço gratuito que prestava na Santa Casa e o cargo de médico da Caixa Beneficente da Impressa Oficial. Absorvido como estava pelas obrigações de sua profissão, apesar de estar sempre bem informado, a política lhe parecia algo distante.
1931 – Casa-se com Sarah Lemos.
1932 – Convocado para a Força Pública. Em 1932, através de um convite de Gustavo Capanema, que na época era secretário do interior e como tal, comandante da polícia, Juscelino ingressa no corpo médico da Força Pública de Minas Gerais, hoje Polícia Militar, juntamente com vários outros médicos e professores de medicina do Estado.
Este foi o primeiro passo para a mudança radical na vida do jovem Juscelino Kubitschek de Oliveira. Quando estoura a Revolução Constitucionalista, em 09 de julho de 1932, Juscelino é imediatamente convocado para o corpo médico que atuaria no “front”. Durante a revolução, que durou 4 meses, Juscelino exerceu sua medicina com louvor. Atuou na cidade de Passa Quatro que ficava no setor do Túnel da Mantiqueira, região onde os conflitos entre paulistas e mineiros foram mais acirrados por ser região de fronteira entre os dois estados. No “front”, tornou-se amigo de personagens que futuramente iriam exercer cargos políticos da maior importância, como Eurico Gaspar Dutra, na época coronel, que mais tarde viria a ser Ministro da Guerra e posteriormente, Presidente da República.
Conheceu também Benedito Valadares, que havia sido nomeado delegado de polícia da região do Túnel e mais tarde seria nomeado por Getúlio Vargas interventor em Minas Gerais.
1933 – Escolhido secretário executivo por Valadares. A vida política de Juscelino iniciou-se na Revolução Constitucionalista de 1932. As amizades feitas durante sua permanência na frente de combate direcionaram sua vida a caminhos que ele jamais pensou. Quando é que aquele jovem médico poderia esperar que Benedito Valadares viria a ser nomeado Interventor de Minas Gerais pelo Governo Provisório de Getúlio Vargas e que partiria do próprio Benedito (com o qual uma amizade havia nascido durante a Revolução) o convite para que Juscelino atuasse como Secretário do Governo de Minas Gerais? Juscelino pensou muito antes de aceitar o convite, uma vez que não queria abrir mão de sua profissão de médico. Porém, devido à insistência do Interventor e amigo, o convite foi aceito em dezembro de 1933. Iniciou-se, então, a carreira política de JK
1934 – Candidata-se a Deputado Federal. Em 1933, Juscelino é escolhido por Benedito Valadares para atuar como Secretário do Governo de Minas Gerais.
Desde o início, Juscelino desenvolveu um trabalho dinâmico que impressionou muito a todos. Seu contato com o público era diário. Tentando ajudar a quem lhe procurasse, em pouco tempo sua popularidade subira vertiginosamente nos meios políticos e populares. Isto contribuiu para que o Partido Progressista (PP) o indicasse para concorrer à eleição para Deputado Federal em outubro de 1934. Juscelino foi eleito com um número do votos que ultrapassou todos os outros candidatos.
Tomou posse do cargo em 1935 mas exerceu seu mandato por apenas 2 anos. Nestes dois anos, de 1935 a 1937, Juscelino dedicou-se principalmente à política. Como Secretário do Partido (PP) teve papéis importantíssimos a desempenhar no estruturação deste, e seu trabalho foi, na maior parte do tempo, desempenhado pelo interior do Estado.
1937 – O Estado Novo extingue todos os mandatos legislativos do país. Devido ao golpe de estado dado por Getúlio Vargas instituindo o Estado Novo em 10 de novembro do 1937, o Congresso Nacional é fechado e uma nova estrutura de poder é montada:a ditadura. O mandato de Juscelino, que havia iniciado em 1935, é extinto. JK, que não aceitava o novo quadro que surgia, decidiu-se a voltar a clinicar e, desta vez, segundo ele, para sempre.
1940 – Nomeado Prefeito de Belo Horizonte por Valadares. Em 1937, os interventores estaduais que permaneceram em suas funções após o golpe de estado que instituiu o Estado Novo passaram a ser denominados Governadores. Permanecendo em seu cargo, Benedito Valadares, em 1940, chama Juscelino a seu gabinete e convida-o para ser Prefeito de Belo Horizonte. Evidentemente que Juscelino ficou surpreso com o convite, uma vez que sempre havia ficado muito claro seu posicionamento contra a ditadura de Vargas. Porém, devido às pressões do Governador e à garantia de que haveria eleições em um curto espaço de tempo, o convite foi aceito.
JK retorna à sua carreira política, definitivamente, no dia 16 de abril de 1940, quando sua nomeação foi publicada no “Minas Gerais”. Em seu novo cargo, desenvolveu trabalhos que marcaram de forma bastante positiva a sua vida política. Enquanto prefeito, JK não deixou de clinicar, contrabalançando, dentro do possível, as duas atividades. Juscelino só veio a abandonar a medicina definitivamente em 1945. Neste período, além de prefeito e médico, JK desempenhou o cargo de 1o Secretário do recém formado Partido Social Democrata, o PSD. Juscelino foi um prefeito democrático e dinâmico. Desenvolveu trabalhos nas mais diversas áreas.
Suas realizações podem ser agrupadas em 3 pontos:
a) obras públicas e embelezamento da cidade
b) incentivo à cultura
c) assistência às classes proletárias.
No referente às obras públicas, JK restaurou, pavimentou e construiu dezenas de avenidas.
Entre as realizações nesta área, podemos citar: o asfaltamento da Avenida Afonso Pena, importante artéria de Belo Horizonte; a abertura de grandes avenidas radicais com o intuito de facilitar o acesso ao centro da cidade, como a Av. da Pampulha, Av. Tereza Cristina, em continuação à Av. do Contorno, Av. Silviano Brandão e Avenida Pedro II; e o prolongamento da Av. Amazonas.
Ainda em relação às obras públicas, Juscelino realizou obras de canalização das águas que banham a cidade visando o saneamento básico de Belo Horizonte. Construiu pontes e realizou terraplanagens a fim de integrar o centro da cidade a vários núcleos populacionais da zona suburbana, e desenvolveu em Belo Horizonte a rede subterrânea de luz e telefone.
Uma das obras mais importantes no setor de obras públicas foi a construção de uma das grandes inovações no referente à arquitetura Nacional: a Pampulha.
Projetada por Oscar Niemeyer (que mais tarde iria projetar os prédios de Brasília), tinha por finalidade básica o turismo. No local foi construído um grande lago artificial e em torno deste, residências e casa de diversões. Para tal, construiu-se uma avenida para que o acesso ao local fosse facilitado. As obras da Pampulha duraram apenas 9 meses. Em tempo recorde haviam sido construídos um local de recreação e um novo ponto turístico para os cidadãos de Belo Horizonte.
Juscelino também muito fez pela cultura da cidade de Belo Horizonte durante a sua administração.Entre as suas realizações, as mais significativas foram a criação do Museu de Belo Horizonte, do Instituto de Belas Artes e do Curso de Extensão Musical.
O início da construção do Teatro Municipal, a oficialização da Orquestra Sinfônica, e ainda, o apoio da Prefeitura a uma série de Instituições. Com isto, JK pretendeu incentivar o surgimento de uma nova geração de jovens ligados às artes. Com relação à assistência às classes proletárias, JK muito fez no plano de Assistência Social. Além do apoio dado às instituições que já existiam em Belo Horizonte, JK estimulou a criação de novas casas e desenvolveu uma rede de organismos de assistência social aos trabalhadores, dando a eles assistência médica, hospitalar e dentária gratuitas, alimentação barata, e outras facilidades a fim de garantir o seu bem estar.
Além de tudo isto, a prefeitura de Belo Horizonte construiu, durante o mandato Kubitschek, o Hospital Municipal no Bairro da Lagoinha. A fim de amparar o trabalhador enfermo, o prédio possuía 306 leitos e instalações moderníssimas para a época. Quanto aos indigentes, de acordo com a gravidade da enfermidade, o tratamento hospitalar passou a ser-lhes oferecido através de um convênio altamente bem desenvolvido entre a Prefeitura e a Santa Casa de Misericórdia. JK também desenvolveu um programa de bairros e restaurantes populares para facilitar a vida daqueles que não tinham condições para se manterem.
JK foi um prefeito dinâmico e voltado para todos os campos. Os bons resultados desta dinâmica marcaram seu nome no cenário político Nacional, acabando por incentivar seus colegas de partido (PSD) a lançar a sua candidatura a Deputado Federal em 1945, 1o passo para a governadoria de Minas Gerais em 1950, e para a Presidência da República em 1955.
1945 – Elege-se Deputado Federal pelo PSD. Juscelino, nomeado prefeito de Belo Horizonte em 1940, permaneceu na Prefeitura por 5 anos, quando terminou o Estado Novo e novas eleições foram marcadas para o dia 2 de dezembro de 1945. Nestas eleições, Juscelino foi eleito Deputado Federal pelo Partido Social Democrata (PSD), confirmando seu prestígio junto ao público. Como ele, foram eleitos Eurico Gaspar Dutra e Getúlio Vargas, Presidente e Senador da República, respectivamente. Foram eleitos também Tancredo Neves, José Maria Alkimin, Gustavo Capanema e Benedito Valadares para a Câmara dos Deputados, além de outros.
1950 – Elege-se Governador . Os 23 membros deveriam escolher através do voto quem seria o candidato do partido ao Governo de Minas nas próximas eleições: JK ou Bias Fortes. JK venceu por 3 votos e sua candidatura foi homologada no dia 30 do julho. Imediatamente deu-se início a sua campanha. O binômio “Energia e Transporte” seria o tema da mesma, assim como suas realizações frente à Prefeitura de Belo Horizonte. JK elege-se governador de Minas Gerais em 3 de outubro de 1950.
JK assumiu o Governo de Minas Gerais no dia 31 de janeiro de 1951. Foi para ele uma experiência gratificante e da máxima importância uma vez que foi necessário o uso total de sua capacidade e dinamismo. JK quis desenvolver um governo à altura das expectativas daqueles que nele haviam votado. Suas propostas eram audazes, o que suscitou uma série de divergências dos seus opositores. Porém ele sabia que a melhor forma de comprovar a sua eficiência era através do trabalho, e assim o fez. JK sabia perfeitamente das condições em que se encontrava o estado, pois, mesmo antes de tomar posse do cargo, ele já havia adquirido informações concretas sobre os assuntos mais importantes referentes a sua administração.
Minas Gerais parecia parada no tempo. Apesar de haver na época mostras de desenvolvimento em um número resumidíssimo de regiões, por exemplo, na região de Juiz de Fora, que possuía um Núcleo Industrial desenvolvido, o estado não possuía nem potencial energético e nem estradas. Portanto, JK tratou de desenvolver estes dois setores o mais rápido possível. Pretendia, assim, dar andamento àquilo que havia prometido ao povo de Minas Gerais através do binômio que dinamizou sua campanha: “Energia e Transporte”.
Era necessário, portanto, elevar o potencial energético do Estado, que na época era de 205 mil KW, para pelo menos 600 mil KW, e implantar um novo sistema de comunicações através da construção de 3 mil km de estradas. Para desenvolver este trabalho, o apoio efetivo do povo era imprescindível e, a fim de demonstrar a sua afeição e respeito a este, JK, logo que assumiu, tratou de elaborar alguns planos para por em dia o pagamento do funcionalismo público. Para tal, era necessário sanar as dívidas que JK havia recebido do Governo anterior, que estava na época por volta de 1 bilhão e 650 mil contos.
JK conseguiu mobilizar o povo em torno de suas propostas que eram na realidade três:
a) eletrificação
b) estradas
c) industrialização
Quanto à questão energética havia uma série de coisas a serem desenvolvidas durante os 4 anos de Governo. E, sendo assim, a equipe de energia necessitava de um órgão centralizador que organizasse suas atividades. Para tal criou-se a CEMIG (Centrais Elétricas de Minas Gerais). Esta não só desenvolveu seus trabalhos durante o governo que a criou, como também durante os governos que sucederam a sua criação.
Através da eletrificação foi possível estimular a industrialização. A criação de uma siderúrgica dentro do estado era de especial importância para o estímulo desta.
Sendo assim, foi instalado em Minas Gerais o conjunto de produção Metalúrgica de Mannesmann, uma empresa alemã, que possibilitou a concretização dos planos de JK de tirar Minas daquela situação “agropastoril” em que se encontrava e elevar o estado às condições de industrialização. Era necessário construir rodovias que possibilitariam o tráfego pelo interior e incentivariam a comunicação social e o escoamento da produção interna. Desenvolver-se-ia, desta forma, a situação econômica de Minas. Construiu-se, então, 3087 km de estradas sob a supervisão do DER e 251 pontes distribuídas por todo o Estado. A construção de estradas favoreceu a integração econômica em todos os sentidos, inclusive no que diz respeito à produção agropecuária.
A fim de incentivar a agropecuária, JK implantou a FRIMISA e a FERTISA, visando a modernização da pecuária e agricultura. JK não se concentrou apenas naquilo que havia prometido em campanha. Além do pleno desenvolvimento das metas prioritárias contidas no binômio que caracterizou sua campanha, muito foi feito no setor de saúde pública e educação.
Foram criados mais 120 postos de saúde. Distribuídos pelo interior, a fim de melhorar as condições de saúde do povo, estes postos em muito ajudaram o crescimento de Minas Gerais, uma vez que o cidadão com saúde se vê em condições de produzir em favor de si próprio e da comunidade. Quanto à educação, deve ser ressaltado que as matrículas no curso primário duplicaram, ou seja, quando JK tomou posse, apenas 680 mil alunos freqüentavam a escola primária e ao findar do seu governo 1.100.000 alunos possuíam a matrícula escolar. Além disso, “foram construídos 137 prédios escolares, 37 novas praças de esportes, instaladas 2 faculdades de Medicina, 1 de Direito, 1 de Farmácia e Odontologia, 5 conservatórios de música, 1 Escola de Belas Artes …” e deu-se inicio à construção da Biblioteca Municipal em Belo Horizonte.
JK governou do 1950 à 1954. O seu governo não decepcionou aqueles que nele haviam votado. O desenvolvimento do estado foi uma intenção visível e palpável, digna de um homem que soube calar a oposição, criando condições para dar o próximo passo: a Presidência da República. Seus ideais permaneceriam intactos: trabalho e responsabilidade para com o povo que nele havia confiado.
1955 – Elege-se Presidente da República. Quando JK elegeu-se Governador em 1950, Getúlio Vargas elegeu-se Presidente da República. Getúlio Vargas suicidou-se em 1954 e seu vice, Café Filho, assumiu a presidência. Café Filho viria a ser um dos opositores à candidatura JK à presidência e faria tudo para impedir futuras candidaturas que não conviessem a sua linha política, a UDN (União Democrática Nacional). Apesar de não ser este o seu partido político, Café Filho aliara-se ao mesmo para impedir a candidatura de JK.
No PSD a candidatura de Juscelino Kubitschek à presidência já era tida como certa. Esta foi oficialmente homologada dia 10 de fevereiro de 1955. O “slogan” de sua campanha era “50 anos em 5” (50 anos de progresso em 5 anos de governo). Seu companheiro de chapa era João Goulart, o “Jango”, que pertencia ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Estes dois partidos juntos muito significaram para a estabilidade do Governo JK.
Uma infinidade de pressões por parte das oposições, principalmente da UDN, desencadearam um processo de “luta” contra a candidatura de JK e Jango.
Estas pressões, entretanto, não deram resultado algum. No dia 3 de outubro de 1955 JK é eleito o 20o presidente do Brasil e João Goulart seu vice-presidente.
Seus opositores foram Ademar de Barros, candidato pelo PSD, Juarez Távora pela UDN e Plínio Salgado pelo Partido Integralista. A vantagem de JK sobre Juarez Távora, o candidato derrotado mais votado, foi de quase 500 mil votos.
1956 – Empossado na Presidência da República. Mesmo após JK ter sido eleito Presidente da República pelo voto popular ainda houve tentativas por parte da oposição de anular as eleições e de até mesmo de dar um golpe. Porém uma facção do Exército, sob a Liderança do Gal. Lott, garante a posse de JK no dia 31 de janeiro de 1956. Os militares desempenharam um papel muito importante no que diz respeito à estabilidade política do governo JK.
JK foi um líder inteiramente identificado com sua ideologia desenvolvimentista: desenvolvimento autônomo, industrialização e democracia. Concretizou idéias baseadas naquilo que considerava básico em termos do desenvolvimento econômico e social. O progresso foi a característica básica de seu governo. O “Plano de Metas” traçava a forma de se atingir “50 anos de desenvolvimento em 5 anos de governo”. Basicamente, este “visava acelerar o processo de acumulação, aumentando a produtividade dos investimentos em atividades produtoras”. Ao todo foram 30 metas e mais a meta síntese: Brasília.
Estas metas podem ser agrupadas em 6 grandes grupos:
1) Energia
2) Transportes
3) Alimentação
4) Indústria de Base
5) Educação e
6) Construção de Brasília
O “Plano de Metas” alcançou total sucesso, apenas algumas metas não foram totalmente concluídas.
Enfim, o governo JK foi um governo dinâmico que não aceitou imposições de forma alguma, chegando até a romper com o FMI, em 1959, em decorrência de “imposições monetárias” que este pretendia fazer ao governo Brasileiro. JK deixou a presidência da República em 31 de janeiro de 1961 ao passar a faixa presidencial ao seu sucessor Jânio da Silva Quadros.
1961 – Defende a posse de João Goulart e elege-se Senador por Goiás. JK passou a faixa Presidencial ao seu sucessor Jânio Quadros, no dia 31 de janeiro de 1961, exatamente 5 anos após tê-la recebido. Segue-se um período peculiar na história do Brasil. O presidente Jânio Quadros renuncia à Presidência da República após 7 meses de mandato. João Goulart, que continuava como vice-presidente após o período JK, assume a Presidência da República.
Após passar a faixa de Presidente da República, JK partiu para Paris. Retornou ao Brasil em maio e deu início imediatamente a sua campanha para Senador por Goiás. Eleito em 3 de outubro de 1961, JK tomou posse no Senado.
Como Senador continuou mantendo o dinamismo de sempre. Neste mesmo ano, o PSD pede a JK que assuma a presidência do partido. JK não aceita devido, principalmente, a constantes viagens que fazia a fim de manter contatos políticos para avaliar as condições sociais e políticas da época. A idéia de JK voltar à presidência já era algo quase que certo, já se ouvia falar pelo Brasil todo em “JK 65”. A campanha mais tarde tornou-se realidade, só que desta vez o “slogan” seria “Educação e Agricultura” (5 anos de agricultura para 50 anos de fartura).
1962 – JK não pode recusar a sua indicação, feita pela organização dos Estados Americanos (OEA), ao cargo de coordenador da Aliança para o Progresso.
Esta seria uma continuidade da Operação Panamericana, idealizada por JK durante o seu governo. Era portanto um programa que tinha por finalidade básica elevar o modo de vida nos países da América Latina. JK permaneceu como Senador durante 3 anos, sempre viajando muito e dinamizando a política de seu partido (PSD).
1964 – Com a Revolução, seu mandato é cassado e seus direitos políticos suspensos. Com a Revolução de 31 de março de 1964, a situação política no Brasil sofre mudanças consideráveis. O então Presidente da República João Goulart, deposto do cargo, partiu para o exílio, enquanto uma junta militar assume o governo com promessas de organizar o país. Inicialmente, seria escolhido um presidente que durante 1 ano poria as coisas em ordem, estabelecendo após este período eleições diretas para a Presidência da República.
Porém, após um certo período de tempo JK e outros políticos foram percebendo qual a verdadeira intenção daqueles que haviam tomado o poder. JK começa a demonstrar idéias divergentes do Governo imposto. Em decorrência disto, no dia 8 do junho do 1964 o mandato do JK foi cassado e seus direitos políticos suspensos por 10 anos. Em conseqüência das pressões sofridas como homem político e ser humano, JK decidiu partir para o exílio voluntário em 14 de junho de 1964. Em outubro do 1965 ele retornou, e acabou sofrendo novas agressões de ordem moral. Parte para um novo exílio em 9 de novembro deste mesmo ano, onde permaneceria por 2 anos. Sua volta definitiva deu-se 9 de abril de 1967.
1967 – Retorna definitivamente ao Brasil . Após permanecer exilado por um período de dois anos, JK volta definitivamente ao Brasil em 9 de abril de 1967.
Durante sua estada no exterior, JK proferiu palestras nas mais importantes Universidades dos Estados Unidos e da Europa, de onde adquiria recursos financeiros para sua manutenção no exterior. Do volta ao Brasil, fundou o Banco DENASA onde permaneceria até 1975, quando deixou tudo isto para dedicar-se apenas a sua fazenda no interior de Goiás.
1974 – Elege-se para a Academia Mineira de Letras. Publica o livro “Meu caminho para Brasília” e candidata-se à Academia Brasileira de Letras, sendo derrotado por Bernardo Elis. 1975.
1976 – Morre em acidente automobilístico no km 165 da via Dutra, em 22 de Agosto 1976. Seu carro chocou-se de frente com uma carreta após ter sido acidentalmente fechado por um ônibus que vinha na mesma pista em alta velocidade.
Fonte: www.universia.com.br
Governo Juscelino Kubitschek
1956-1961
Presidente do Brasil (1956-1961), Juscelino Kubitschek foi um dos mais importantes políticos brasileiros.
Juscelino inaugurou um estilo de atuação inteiramente novo e caracterizou-se por construir em torno de si uma aura de simpatia e confiança.
Sua Vida
Juscelino Kubitschek de Oliveira nasceu em 12 setembro de 1902 em Diamantina, Minas Gerais.
Era filho de um caixeiro-viajante e de uma professora primária, Júlia Kubitschek. Com apenas três anos de idade, Juscelino ficou órfão de pai e foi criado por sua mãe. Espírito inquieto e sonhador, seus primeiros anos de vida foram marcados de um lado por uma infância profundamente pobre e de outro pelos signos da modernidade e pelo desejo de progresso que via em sua volta. Em 1920, após completar seus estudos no Seminário Diocesano, Juscelino foi para Belo Horizonte, onde se empregou como telegrafista. Em 1922 ingressa na Faculdade de Medicina de Minas Gerais, de onde se forma em 1927. Em 1930, parte para a Europa, especializa-se em urologia na França, e faz um estágio em Berlim.
De volta ao Brasil, em 1931, ingressa na Polícia Militar de Minas Gerais, onde alcança o posto de Coronel-médico e faz amizade com o político e futuro governador Benedito Valadares. No mesmo ano casa-se com D. Sarah Luiza Gomes de Lemos. Participa da Revolução Constitucionalista de 1932 em defesa do governo constituído, como capitão-médico da Força Pública. Sua vida sofre uma grande mudança em 1933 quando Valadares é nomeado interventor federal em Minas Gerais e nomeia o amigo como seu chefe de gabinete. Inteligente e culto, Juscelino inicia sua vida política na Chefia de Gabinete do Governador Benedito Valadares.
No ano de 1934 Juscelino é eleito deputado federal, exercendo o mandato até o fechamento do Congresso Nacional em virtude do golpe do Estado Novo. Com a perda do mandato, Juscelino retorna à medicina, mas não por muito tempo. É nomeado prefeito de Belo Horizonte (1940-1945) pelo governador Benedito Valadares e realiza obras de remodelação da capital . Em 1946, é eleito deputado constituinte pelo Partido Social Democrático (PSD) e, em 1950, governador de Minas Gerais. Durante seu governo, implantou um sistema de metas, com objetivos a serem alcançados através do slogan “Energia e Transporte”.
Durante seu mandato, JK se afirma como um grande administrador e um político sagaz . O êxito de sua administração repercute em todos os recantos do País. JK percebe, então, que havia chegado o momento de lançar-se candidato à Presidência da República, com o apoio do Partido Social Democrático (PSD) e do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). No dia 4 de abril de 1955, JK dá inicio à sua campanha presidencial pela coligação PSD-PTB, em Jataí, Goiás, onde promete construir Brasília. Como candidato, apresenta um discurso desenvolvimentista, cujo lema era “cinqüenta anos em cinco” e um audacioso “Programa de Metas”, cumprido integralmente.
JK foi eleito com 36% dos votos. A oposição derrotada tentou impedir sua posse com a alegação que não havia sido obtida a maioria absoluta (50% mais um). No entanto, o general Henrique Teixeira Lott garante a posse de JK e de seu vice, João Goulart.
JK assume a Presidência da República em 31 de janeiro de 1956. Sua administração foi marcada por um cunho modernizador e desenvolvimentista. Seu governo inaugura uma era pós-Getúlio Vargas, conseguindo criar uma imagem positiva de mudança, com o surgimento de músicas e modas de bossa-nova.
A partir de 1956, JK implantou seu novo programa de metas, apoiado pelo slogan “Cinqüenta anos em cinco”. O Plano Nacional de Desenvolvimento, conhecido como “Plano de Metas”, abrangia vários setores, tais como energia, transporte, alimentação, educação, implantação de indústria automobilística, além de outros incentivos à industrialização. O Plano estimulou o crescimento e a diversificação da economia.
O governo passou a investir na indústria de base, na agricultura, nos transportes e no fornecimento de energia. Com seu lema “50 anos em 5” instalou, através do planejamento dirigido estatal, empresas nas áreas automobilísticas, eletrodomésticas e siderúrgicas. No campo da infra-estrutura, JK concretizou as hidrelétricas de Furnas e Três Marias. Como resultado, a produção industrial aumentou em 80% e no final do seu mandato como Presidente, o Brasil apresentava pela primeira vez um PIB industrial maior do que o PIB agrícola. Em seu período presidencial, o País todo conheceu um grande desenvolvimento econômico, marcado pela estabilidade política.
JK era sonhador e realizador. Ousava fazer e sabia fazer. Executou o antigo projeto de mudança da capital e conseguiu que, em apenas 42 meses, fosse construída Brasília – a nova capital do Brasil. Inaugurada em 21 de abril de 1960, Brasília é considerada hoje uma das mais relevantes obras da arquitetura e do urbanismo contemporâneos. No âmbito internacional, JK criou a Operação Pan-americana, cuja meta era o combate ao subdesenvolvimento da América Latina.
Outros importantes empreendimentos realizados durante o governo de JK foram as construções das rodovias Belém-Brasília e Brasília-Acre, rompendo o isolamento histórico do Centro-Oeste e do Norte do País. Foi criada a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e houve expansão da indústria naval.
Todas essas iniciativas aumentaram consideravelmente a prosperidade econômica do País. No entanto, deixaram um legado de inflação e dívida pública.
JK chegou ao fim do governo consagrado pelo povo. Sucedido, em 1961, por Jânio Quadros, JK foi eleito senador pelo estado de Goiás. No entanto, ao eclodir o Movimento Militar de 1964 que derrubou o governo, JK teve seus direitos políticos cassados em junho desse mesmo ano, e partiu para o exílio no dia 14 de junho de 1964. Viveu em Nova Iorque e Paris até regressar ao Brasil em 1967, onde se voltou para a iniciativa privada e para a vida literária.
Publicou: Meu Caminho para Brasília, livro de memórias em cinco volumes. Membro da Academia Mineira de Letras, ele foi candidato à Academia Brasileira de Letras, mas foi derrotado pelo escritor Bernardo Ellis.
Faleceu em 1976, em um trágico acidente automobilístico na via Dutra, perto da cidade de Resende, no estado do Rio de Janeiro.
Fonte: www.10emtudo.com.br
Governo Juscelino Kubitschek
Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902 – 1976)
Juscelino Kubitschek
Presidente da república brasileira (1956-1960) nascido em Diamantina, MG, cujo feito mais notável foi a construção de Brasília no planalto Central e para lá transferiu a capital federal, inaugurada em 21 de abril (1960).
Filho de um caixeiro-viajante e de uma professora pública, ficou órfão de pai aos três anos de idade.
Estudou no seminário de Diamantina e concluiu o curso de medicina em Belo Horizonte (1927) trabalhando como telegrafista do serviço público, cargo no qual ingressara por concurso (1921).
Estudou cirurgia em Paris com o professor Maurice Chevassu e estagiou no hospital Charité de Berlim (1930).
De volta à Minas Gerais, casou-se com Sara Lemos (1931) e foi nomeado capitão-médico da polícia mineira, chefiando o hospital de sangue de Passa Quatro, MG, onde distinguiu-se como cirurgião durante a revolução (1932).
Ingressou na política como chefe de gabinete de Benedito Valadares, na ocasião interventor federal em Minas Gerais (1934) e, no mesmo ano, elegeu-se deputado federal, mas perdeu o mandato (1937) com o advento do Estado Novo.
Trabalhando como médico foi prefeito de Belo Horizonte (1940-1945), numa administração, que projetou o nome então desconhecido de Oscar Niemeyer, com as obras do bairro de Pampulha.
Eleito deputado federal pelo PSD (1946) e governador de Minas Gerais (1950), criou as Centrais Elétricas de Minas Gerais, a Cemig, e construiu cinco usinas para a produção de energia elétrica, elevando em trinta vezes o potencial instalado do estado.
Com o apoio do PSD e do PTB, e com a oposição na União Democrática Nacional (UDN) e de alguns setores militares, foi eleito presidente da república (1955), mas sua posse só foi garantida após a intervenção do então Ministro da Guerra, General Teixeira Lott, em novembro daquele ano.
Com o propósito de realizar um vasto programa de desenvolvimento econômico, energia e transporte, implantação das indústrias automobilística e de construção naval, além de incentivos à industrialização e à exportação de minérios.
Construiu duas usinas hidrelétricas, Três Marias e Furnas, a abertura de rodovias e a pavimentação das já existentes, como a ligação por estrada asfaltada entre o Rio de Janeiro e Belo Horizonte e a construção das estradas Belo Horizonte-Brasília, Belém-Brasília e Brasília-Acre.
Formulou também nova política social e econômica para a região Nordeste.
Porém a mudança da capital para o planalto Central, prevista nas disposições transitórias da constituição (1946), foi considerada a síntese de suas metas, símbolo da ampliação das fronteiras e do início da integração da Amazônia na vida brasileira.
Entrou em confronto com as recomendações do Fundo Monetário Internacional (FMI), por causa de sua política de investimentos, mas a sensação de progresso despertada no país, fez de seu governo um marco de popularidade.
Após passar o governo para Jânio Quadros e elegeu-se senador por Goiás, foi indicado pela convenção nacional do PSD (1964), porém o governo militar cassou seu mandato e suspendeu seus direitos políticos por dez anos.
Exilado, viveu em Nova York e depois em Paris.
De volta ao Brasil, ingressou na empresa privada e começou a escrever suas memórias, intituladas Meu caminho para Brasília, em cinco volumes, e tornou-se membro da Academia Mineira de Letras (1975).
Morreu num acidente de automóvel, perto de Resende, Rio de Janeiro, quando viajava de São Paulo para o Rio de Janeiro, a 22 de agosto.
Fonte: www.dec.ufcg.edu.br
Governo Juscelino Kubitschek
Biografia
Raízes
Juscelino Kubitschek, o vigésimo brasileiro a ocupar a presidência da República, nasceu num sobrado da rua Direita, em Diamantina, cidade mineira a 282 quilômetros de Belo Horizonte, no dia 12 de setembro de 1902.
Juscelino aos 3 anos
Era filho de João César de Oliveira, irrequieto personagem que teve os mais variados ofícios – caixeiro de loja, bombeiro, lapidador de pedras preciosas, caixeiro-viajante, delegado de polícia, fiscal de rendas e capitão da Guarda Nacional – antes de morrer, ainda jovem, de tuberculose.
Sua mãe, a professora primária Júlia Kubitschek, era neta de um marceneiro checo nascido na Boêmia, Jan Nepomuscký Kubitschek, que chegou ao Brasil por volta de 1831, o ano em que d. Pedro I abdicou do trono. O país tinha então pouco mais de 5 milhões de habitantes.
Instalado na região de Diamantina, Jan não tardou a fazer fortuna e viu seu nome ser abrasileirado, pela gente do lugar, para João Alemão. Casado com uma brasileira, teve três garotos – um dos quais, João Nepomuceno Kubitschek, faria carreira política, tendo chegado a senador estadual constituinte e a vice-governador de Minas Gerais no final do século XIX.
Família do avô materno de Juscelino: a tia Sinhá, a avó Mariquinha, o avô Augusto Elias e a filha Júlia, mãe de JK
O mais velho dos filhos de João Alemão morreu menino. O terceiro, Augusto Elias Kubitschek, homem sossegado e de pouca conversa, comerciante de armarinho que trocava tudo por um bom livro, foi o pai da professora Júlia Kubitschek e avô do futuro presidente do Brasil.
Cronologia
1902 12/SET Nasce em Diamantina (MG) Juscelino Kubitschek de Oliveira, filho de Júlia Kubitschek e de João César de Oliveira.
1905 Com a morte do pai, muda-se com a família para o morro da Grupiara e, mais tarde, para uma casinha na rua São Francisco. Faz o curso primário, tendo a mãe como professora.
1914 Na falta de curso ginasial em Diamantina, ingressa no seminário diocesano da cidade.
Juscelino, o Segundo da direita pra esquerda na última fila, no seminário de Diamantina
1917 Conclui o curso de humanidades e, sem vocação para o sacerdócio, abandona o seminário.
1919 É aprovado em concurso para telegrafista dos Correios, em Belo Horizonte.
1921 É nomeado telegrafista-auxiliar e se muda para Belo Horizonte. Conclui em Barbacena os exames preparatórios para o curso superior.
1922 Entra na Faculdade de Medicina de Belo Horizonte. Até o fim do curso, trabalhará como telegrafista.
1927 Forma-se em medicina. Trabalha na Santa Casa de Misericórdia, na Faculdade de Medicina (como assistente de clínica cirúrgica e física médica), na Caixa Beneficente da Imprensa Oficial e divide consultório com o cunhado, Júlio Soares.
1930 Passa sete meses na Europa. Em Paris, especializa-se em urologia. Conhece vários países e retorna ao Brasil pouco depois da vitoriosa Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder. Em Belo Horizonte, reassume seus empregos e monta consultório próprio.
1931 Nomeado para o Hospital Militar da Força Pública de Minas Gerais, como capitão-médico.
30/DEZ Casa-se com Sarah Gomes de Lemos.
Sarah e Juscelino Kubitschek
1932 Médico do 1º Batalhão da Força Pública para a Zona do Túnel da Mantiqueira, no sul de Minas, durante a Revolução Constitucionalista. Torna-se amigo de Benedito Valadares, delegado federal na região.
A PAIXÃO IMPREVISTA (1933-1954)
1933 Chefe da Casa Civil de Benedito Valadares, recém-nomeado interventor federal em Minas Gerais. A primeira obra pública executada por sua iniciativa é uma ponte sobre o ribeirão do Inferno, ligando Diamantina a Rio Vermelho.
1934 Juscelino é eleito deputado federal, com a maior votação de Minas Gerais, pelo Partido Progressista (PP). Torna-se líder político em Diamantina.
JK, Anos 30
1937 NOV Com o golpe que instaura o Estado Novo, perde o mandato. Retoma suas atividades médicas.
1938 É promovido a tenente-coronel da Força Pública e nomeado chefe do Serviço de Cirurgia do Hospital Militar.
1940 a 1945
16/ABR É nomeado prefeito de Belo Horizonte pelo interventor Benedito Valadares, mas não abandona inteiramente suas atividades médicas. Promove grandes obras que lhe valem o apelido de “prefeito furacão”: abertura e asfaltamento de avenidas, criação de bairros como Sion e Cidade Jardim, construção do conjunto arquitetônico da Pampulha, projetado pelo jovem Oscar Niemeyer.
1945 OUT Com a deposição de Getúlio Vargas e o fim do Estado Novo, deixa a prefeitura de Belo Horizonte.
DEZ É o segundo deputado mais votado em Minas para a Assembléia Nacional Constituinte, pelo recém-criado Partido Social Democrático (PSD). Abandona definitivamente a medicina.
1946 18/SET Promulgada a nova Constituição. Juscelino permanece no exercício de seu mandato na Câmara Federal.
1950 3/OUT É eleito governador de Minas, pelo PSD. Getúlio Vargas volta à presidência da República pelo voto direto.
1951 a 1954
31/JAN Toma posse com um programa de governo – “Binômio energia e transporte” – voltado para a industrialização do estado. Abre dezesseis estradas de rodagem, no total de 3087 quilômetros. Constrói (ou amplia) várias usinas hidrelétricas, além de 120 postos de saúde, 137 prédios escolares e 251 pontes. Atrai o grupo alemão Mannesmann, que implanta uma usina siderúrgica em Contagem, nas imediações de Belo Horizonte.
UM FURACÃO NA PRESIDÊNCIA
(1955-1961)
1955 10/FEV Juscelino Kubitschek é escolhido candidato à presidência da República em convenção do Partido Social Democrático (PSD).
ABR João Goulart, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), é escolhido vice na chapa de JK.
4/ABR JK assume, durante comício em Jataí (GO), o compromisso de transferir a capital para o planalto Central.
3/OUT Juscelino é eleito presidente da República com 3077411 votos, ou 36% do total. A UDN e seus aliados iniciam batalha judicial para anular as eleições.
1/NOV O coronel Jurandir de Bizarria Mamede, discursando no enterro do general Canrobert Pereira da Costa, sugere golpe militar para impedir a posse de JK e Goulart.
3/NOV O presidente Café Filho sofre ataque cardíaco.
8/NOV Carlos Luz, presidente da Câmara dos Deputados, assume o poder e se recusa a punir os militares que pregam o golpe.
10/NOV O ministro da Guerra, general Henrique Teixeira Lott, pede demissão, em protesto contra a “inclinação golpista” do novo governo.
11/NOV Para garantir a posse dos eleitos, antes de deixar o ministério Lott põe os tanques nas ruas e dá o “golpe da legalidade”. Carlos Luz é deposto.
22/NOV O Congresso Nacional aprova o impedimento do presidente da República, Café Filho. Nereu Ramos, vice-presidente do Senado, assume o governo até a posse de JK.
1956 31/JAN JK toma posse e pede ao Congresso a abolição do estado de sítio. No dia seguinte, põe fim à censura à imprensa.
FEV É criado o Conselho do Desenvolvimento, primeira tentativa de centralizar o planejamento econômico. Sob o slogan “50 anos em 5”, JK lança o Plano de Metas, seu programa de governo, cujo objetivo é industrializar o país. A “meta-síntese” é a construção de Brasília.
11/FEV Oficiais da Aeronáutica se rebelam contra o governo e tomam a base aérea de Jacareacanga, no Pará. A rebelião é sufocada em dezoito dias. JK propõe e o Congresso aprova anistia para todos que tivessem participado de movimentos políticos ou militares no período de 10/11/55 a 19/3/56.
18/ABR Apresentado no Congresso Nacional projeto de lei visando à transferência da capital da República para o planalto Central.
MAI JK lança, num encontro dos bispos do Nordeste, a idéia do que virá a ser a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Revolta estudantil no Rio, prontamente debelada. JK convida os líderes para um encontro no Palácio do Catete.
SET É lançado o primeiro miniveículo fabricado no Brasil: a Romi-Isetta, para dois passageiros.
19/SET É sancionada a Lei nº 2 874, que dispõe sobre a transferência da capital federal e cria a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), cuja presidência é entregue ao deputado federal Israel Pinheiro, do PSD de Minas Gerais.
2/OUT JK faz, com pequena comitiva, sua primeira viagem ao lugar onde será construída Brasília.
10/NOV É inaugurado o Catetinho, alojamento de madeira onde o presidente se hospedará durante a construção de Brasília.
14/DEZ Compra do porta-aviões inglês Vengeance, rebatizado Minas Gerais. Abre-se crise entre a Marinha e a Aeronáutica, que disputam o controle das aeronaves embarcadas no porta-aviões.
1957 FEV Começa a construção de Brasília.
1956-1961
18/MAR É aprovado o Plano Piloto da nova capital, de autoria do urbanista Lúcio Costa, em concurso organizado por Oscar Niemeyer. As obras atrairão milhares de trabalhadores nordestinos, conhecidos como candangos.
1/OUT JK sanciona a lei que fixa a data de 21 de abril de 1960 para a mudança da capital.
1958 16/MAR O Fundo Monetário Internacional (FMI) estabelece, no Rio, condições para concessão de empréstimo pedido por JK.
AGO John Foster Dulles, secretário de Estado norte-americano, visita o Brasil.
1959 MAI Fidel Castro, primeiro-ministro da vitoriosa Revolução Cubana, visita as obras de Brasília.
17/JUN JK rompe com o FMI, por não aceitar as exigências feitas para a concessão de financiamentos.
3/DEZ Nova revolta na Aeronáutica. Rebeldes se apossam da base aérea de Aragarças (GO). O movimento dura apenas dois dias.
15/DEZ É criada a Sudene.
1960 23/FEV O presidente americano, Dwight Eisenhower, visita o Brasil. Por iniciativa do visitante, abre-se caminho para reatamento, em novas bases, com o FMI, que em maio concederá vultoso empréstimo ao país.
3/OUT Jânio Quadros se elege presidente da República. O vice, João Goulart, é reeleito.
1961 31/JAN Jânio Quadros toma posse.
O TEMPO DA AMARGURA
(1961-1976)
1961 4/JUN JK é eleito senador por Goiás, pelo PSD.
25/AGO Jânio Quadros renuncia à presidência da República. Setores de oposição civil e militar não querem a posse do vice, João Goulart. A crise é contornada com a adoção do regime parlamentarista.
7/SET João Goulart assume a presidência.
1963 6/JAN Plebiscito restabelece o regime presidencialista.
1964 13/MAR Realiza-se, no Rio de Janeiro, com a presença do presidente João Goulart, o “comício da Central do Brasil”, em que se anunciavam medidas para levar a cabo as polêmicas “reformas de base”.
19/MAR Convenção do PSD homologa a candidatura de JK à presidência da República nas eleições de 1965. Realiza-se em São Paulo a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, contra o governo de João Goulart.
31/MAR Golpe militar depõe João Goulart.
2/ABR Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados, é empossado na presidência da República.
10/ABR Sai a primeira lista de cassação de mandatos e suspensão de direitos políticos do regime militar.
11/ABR O general Humberto de Alencar Castelo Branco é eleito presidente da República pelo Congresso Nacional, com o voto de JK.
8/JUN Juscelino tem seu mandato de senador cassado e seus direitos políticos suspensos por dez anos. Cinco dias depois, parte para o exílio.
1965 3/OUT Com o apoio de JK, Francisco Negrão de Lima e Israel Pinheiro elegem-se governadores da Guanabara e de Minas Gerais, respectivamente.
4/OUT Primeira volta do exílio. É intimado a depor, no mesmo dia, no primeiro de vários inquéritos policiais-militares abertos contra ele.
27/OUT É decretado o Ato Institucional nº 2, que reabre o ciclo de cassações, extingue os partidos políticos e acaba com as eleições diretas para a presidência da República.
9/NOV JK parte outra vez para o exílio, abatido pelos massacrantes interrogatórios a que vinha sendo submetido.
1966 4/JUN É autorizado a permanecer no país durante 72 horas, para assistir aos funerais de sua irmã, Naná.
28/OUT Forma-se a Frente Ampla, que reunirá as maiores lideranças civis do país: JK, Carlos Lacerda e João Goulart.
19/NOV É divulgada a Declaração de Lisboa, em que JK e Lacerda afirmam ter posto de lado as divergências passadas e se engajam na oposição ao governo militar.
1967 15/MAR O general Artur da Costa e Silva assume a presidência da República, sucedendo a Castelo Branco.
9/ABR JK retorna definitivamente ao Brasil, após 976 dias de exílio. Assume o cargo de diretor-presidente do Banco Denasa de Investimentos, criado com seus genros.
1968 5/ABR O governo militar proscreve a Frente Ampla. JK abandona definitivamente a política.
13/DEZ JK é preso no Rio de Janeiro, em seguida à decretação do Ato Institucional nº 5, e mantido incomunicável por alguns dias.
1972 Compra terras em Luziânia (GO) e vira fazendeiro.
1974 Inicia a publicação do livro em três volumes Meu caminho para Brasília.
JUN É eleito para a Academia Mineira de Letras.
1975 23/OUT É derrotado em eleição para a Academia Brasileira de Letras.
1976 18/JUN É eleito Intelectual do Ano de 1975 pela União Brasileira de Escritores, que lhe confere o troféu Juca Pato.
22/AGO Morre em acidente na via Dutra, quando viajava de automóvel de São Paulo para o Rio.
1981 12/SET É inaugurado em Brasília o Memorial JK, projetado por Oscar Niemeyer.
ESTUDANTE DE MEDICINA
Em janeiro de 1922, com dezenove anos de idade, Juscelino entrou na Faculdade de Medicina de Belo Horizonte, que cinco anos mais tarde viria a formar, com outras faculdades, a Universidade de Minas Gerais.
Trabalhando à noite como telegrafista, ele saía da estação ferroviária com dia claro, a tempo de pegar a primeira aula, às oito horas da manhã. De sua turma, com vinte alunos, fazia parte o futuro escritor Pedro Nava, que evocará o colega numa bela página de um de seus livros de memórias, Beira-mar.
JK com os amigos Pedro Sales e Olemar Lacerda em Santos, 1925
Curiosamente, o futuro presidente não se preocupava com a política. Tinha olhos apenas para a carreira em preparo. A partir do quinto ano, entrou como interno na terceira enfermaria da Santa Casa de Misericórdia, a convite de um colega mais velho, Júlio Soares, que se casou com sua irmã, Maria da Conceição, a Naná. Foi viver em casa deles.
Mais tarde, também a convite do cunhado, tornou-se sócio de seu consultório. Em 1923, saiu pela primeira vez de Minas Gerais, numa viagem ao Rio de Janeiro. Dois anos depois, um congresso de estudantes de medicina o levou a São Paulo, com direito a uma esticada em Santos.
Sua paixão, porém, era Belo Horizonte, uma cidade que, inaugurada havia menos de trinta anos, atravessava então um dos momentos mais fascinantes de sua existência.
CAPITÃO-MÉDICO
Difícil imaginar o que teria sido a vida de Juscelino Kubitschek se ele não tivesse ingressado, em março de 1931, na Força Pública de Minas Gerais, para trabalhar no Hospital Militar.
Era capitão-médico quando, a 9 de julho de 1932, eclodiu em São Paulo a Revolução Constitucionalista. Estava casado havia seis meses – desde o dia 30 de dezembro de 1931 – com Sarah Lemos. De uma hora para outra, foi enviado para o front, na região do túnel da Mantiqueira, divisa com São Paulo, que os revoltosos paulistas haviam atravessado.
Ficou baseado em Passa Quatro, como responsável por um hospital. Mas acabou tendo um papel muito mais importante no conflito, conta o biógrafo Francisco de Assis Barbosa: JK “seria de fato o cirurgião da campanha, infatigável no seu posto, indo e vindo do front para o hospital de sangue, sem conhecer cansaço”.
O que mudou sua vida, no entanto, não foi o desempenho como médico, mas as relações que fez em Passa Quatro. Conheceu, entre outros, o então coronel Eurico Dutra, futuro ministro da Guerra e presidente da República.
Mais decisiva ainda seria a amizade com o obscuro prefeito de Pará de Minas, Benedito Valadares, chefe de polícia na região conflagrada. Nomeado por Getúlio Vargas interventor em Minas, no ano seguinte, Benedito arrastaria para um destino político o capitão-médico que conhecera em Passa Quatro.
Nas palavras de Francisco de Assis Barbosa, “Juscelino receberia, com a campanha de 1932, além do batismo de fogo, o batismo da política”.
Dr. Kubitschek, urologista
Formado em medicina em dezembro de 1927, Juscelino Kubitschek andou pensando em se mudar para Uberaba, no Triângulo Mineiro, mas foi dissuadido pelo cunhado, colega e sócio de consultório Júlio Soares.
Na decisão de permanecer em Belo Horizonte pesou também o namoro com aquela que viria a ser sua mulher, Sarah Gomes de Lemos. Ligando-se a ela, Juscelino de certa forma punha os pés na política, pois a moça era filha de um falecido deputado federal, Jaime Gomes de Souza Lemos.
Por parte da mãe, Luísa Negrão, a namorada tinha dois primos que viriam a se destacar na vida pública: Francisco Negrão de Lima, futuro ministro, embaixador e governador do estado da Guanabara, e Otacílio Negrão de Lima, futuro prefeito de Belo Horizonte. Uma irmã de Sarah, Amélia, vai se casar com Gabriel Passos, que em 1950 perderá para JK a disputa pelo governo de Minas.
Naquela altura, porém, o jovem médico ainda não dava sinais de querer enveredar pela política. Dividia seu tempo entre a Santa Casa de Misericórdia, o consultório e a Faculdade de Medicina, onde era assistente nas cadeiras de clínica cirúrgica e física médica. Logo arranjaria mais trabalho, na Caixa Beneficente da Imprensa Oficial, nomeado por intercessão do amigo José Maria Alkmin, vice-diretor da casa.
Já sem aflições financeiras, o filho da professora Júlia Kubitschek logo pôde comprar seu primeiro carro, um valente Ford que o levava de um emprego a outro.
RUMO A PARIS
Com exceção da irmã, Naná, toda a família achou que Juscelino ia dar um mau passo quando, em 1930, decidiu interromper uma carreira que ia tão bem e buscar especialização na Europa. Ele teria que abrir um parêntese, também, em seu namoro com Sarah Lemos. Mas estava mesmo decidido. Rapou as economias, vendeu o carro, levantou um empréstimo – e, no final de abril, embarcou para a França.
Em Paris, matriculou-se no curso do professor Maurice Chevassu, renomado urologista, que incluía treinamento no Hospital Cochin. (Quase três décadas depois, em 1956, visitando a cidade como presidente eleito, o ex-aluno foi ver o velho mestre, que dele se lembrava.)
Terminado o curso, Juscelino fez uma longa viagem de navio pelo Mediterrâneo. Conheceu o Egito, Síria, Turquia, Grécia, Terra Santa e Líbano. Esticou por terra até Milão, Veneza, Viena, Budapeste. Emocionou-se ao conhecer Praga, a capital da Checoslováquia que o bisavô Jan Nepomuscký Kubitschek trocara pelo Brasil um século antes.
Estava em Berlim quando, a 3 de outubro, irrompeu no Brasil a Revolução de 1930.
Em Paris, teve a confirmação da vitória, que comemorou em companhia de dois brasileiros de quem se tornara amigo na Europa:o pintor Cândido Portinari e o ator Leopoldo Fróis.
De volta ao Rio de Janeiro, a 21 de novembro, por pouco não cruzou no porto com o presidente deposto, Washington Luís, que na véspera tomara o rumo do exílio.
JK NO EXILIO
“Deixo o Brasil porque esta é a melhor forma de exprimir meu protesto contra a violência”, declarou JK ao partir para o exílio, a 13 de junho de 1964. Durante quase mil dias, viveria em Paris, Lisboa e Nova York.
Na capital francesa, o ex-presidente morou num apartamento de dois quartos e teve uma cozinheira portuguesa que parecia ter sido escolhida pelo nome: Diamantina. Sem motorista, dirigia ele mesmo o seu carrinho, um castigado Simca, pelas ruas de Paris. Para pagar as contas, envolveu-se em atividades empresariais em Lisboa; nos Estados Unidos, aceitava convites para fazer palestras.
Em nenhum lugar sentiu-se feliz, à vontade. “Não posso deixar de confessar que viver fora do país, sem saber quando será possível o regresso, é o castigo mais cruel imposto a um homem que só pensava no Brasil”, escreveu a um amigo nos primeiros tempos do exílio.
Tinha medo de morrer longe da pátria. Mas dizia não querer voltar durante o governo de Castelo Branco – o “Monstro”, rotulava –, que lhe cassara o mandato e suspendera os direitos políticos.
Seu exílio (mas não seu calvário) acabou a 9 de abril de 1967, já no governo Costa e Silva. Ao desembarcar no Rio, disse que só morto deixaria o país outra vez.
FAZENDEIRO JK
No dia em que deixou a presidência da República, jornalistas perguntaram a JK que planos tinha ele para o futuro. “Vou ser fazendeiro”, respondeu.
O projeto haveria de realizar-se no final da vida, em 1972, quando Juscelino levantou empréstimos e comprou uma pequena propriedade – 310 alqueires mineiros –, a Fazenda JK, a dezoito quilômetros de Luziânia e 67 de Brasília.
Construiu ali uma casa com projeto de Oscar Niemeyer e uma capela copiando a do Palácio da Alvorada. Plantou soja e milho, além de café, cuja primeira colheita não chegaria a ver.
Passava lá temporadas cada vez maiores. “Há quase um mês estou na minha solidão da Fazenda JK”, escreveu ele a sua amiga Vera Brant no dia 8 de agosto de 1976, duas semanas exatas antes de morrer. “Recolho-me à rede da varanda, afino os ouvidos pelo silêncio das quebradas e leio.”
Tinha com a sua propriedade uma relação de amor e desgosto. “A Fazenda JK está envenenando a minha vida”, anotou em seu diário em dezembro de 1974. “Continuo?” Continuou, até o fim.
Depois de sua morte, a Fazenda JK foi vendida.
MORTE DE JK
No dia 9 de agosto de 1976, uma notícia correu o país: Juscelino Kubitschek morrera num acidente de estrada. Amigos e jornalistas se precipitaram à Fazenda JK, onde não havia telefone – e o encontraram vivo, sorridente. “Estão querendo me matar, mas ainda não conseguiram”, disse ele.
Duas semanas depois, no final da tarde de 22 de agosto, quando a notícia voltou a correr, era verdade: a poucos dias de completar 74 anos, o ex-presidente havia morrido, às 17h55, num acidente no quilômetro 165 da via Dutra, quando viajava de São Paulo para o Rio de Janeiro.
Segundo o inquérito policial, o Chevrolet Opala 1970 em que ia o ex-presidente, conduzido por Geraldo Ribeiro – seu motorista desde o primeiro dia como prefeito de Belo Horizonte, em 1940 –, foi atingido, por trás, por um ônibus. Desgovernado, atravessou o canteiro central e, na outra pista, foi apanhado, de frente, por uma carreta.
Dúvidas surgidas naquela tarde nunca foram esclarecidas. Poderia tratar-se não de acidente, mas de atentado. O caso foi reaberto quase vinte anos depois, sem que nenhuma evidência disso tenha sido encontrada.
Sem endossar a tese de atentado, o escritor Carlos Heitor Cony chamou atenção para o fato de que as três maiores lideranças civis brasileiras desapareceram no espaço de poucos meses, todas em circunstâncias no mínimo estranhas, num momento em que o governo do general Ernesto Geisel promovia um lento – lentíssimo – movimento de retorno à democracia. Carlos Lacerda se internou com uma gripe forte, recebeu uma injeção e morreu. João Goulart, que teria morrido de infarto, foi achado com um travesseiro sobre o rosto.
Anos mais tarde desvendou-se parcialmente um plano conjunto de ditaduras militares do continente sul-americano, a tenebrosa Operação Condor, para eliminar opositores incômodos. Um deles, o chileno Orlando Letelier, ex-chanceler do governo do presidente socialista Salvador Allende, foi assassinado em Washington a 21 de setembro de 1976. Embora não haja provas, há quem sustente que JK, morto poucos dias antes de Letelier, e João Goulart, alguns meses depois, teriam sido, como ele, vítimas da Operação Condor.
“Democracia neste país, só depois de minha morte”, dissera JK ao deputado Carlos Murilo às vésperas do acidente que o matou. “Eles têm muito medo de mim.”
Fonte: www.projetomemoria.art.br
Redes Sociais