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No ano de 1821, o Brigadeiro Manuel Rodrigues Jordão comprou uma gleba de terras na lendária Sesmaria do Morro Azul pertencente aos irmão Galvão de França e Manuel de Barros Ferraz. Seu filho, o Barão de São João de Rio Claro, fundou em parte desta gleba, em 1854 a Fazenda Santa Gertrudes.
O nome de Santa Gertrudes foi posto pelo Barão em homenagem à memória de sua mãe D. Gertrudes Galvão de Moura Lacerda. Após a morte do Barão, sua mulher e viúva Baronesa D. Maria Hipólita dos Santos casa-se, em 1873, com o Marquês de Três Rios que assim passou a ser o 2º proprietário da fazenda. Por sua iniciativa a fazenda foi servida pela estrada de ferro que trouxe grande progresso e desenvolvimento à região.
Por morte do Marquês e de sua mulher, que não deixaram geração, a fazenda foi herdada por D. Antônia dos Santos Silva Prates, irmã da Marquesa de Três Rios e casada com o Conde de Prates.
Foi exatamente nesta época e por iniciativa do Conde, homem influente e grande empreendedor, que a fazenda atingiu seu maior apogeu.
Entre 1890 e 1910, o Conde construiu uma das maiores e mais tecnificadas estruturas de plantação, benefício e comercialização do café o que implicava em carpintaria, ferraria, selaria, tulha de café, máquinas de benefício, armazéns, mercearia, escola, cinema, cocheiras, currais, barragens, aquedutos, igreja, mirantes, usina a vapor para fornecimento da energia elétrica além de cunhar sua própria moeda.
Toda essa estrutura continua preservada. São mais de vinte e dois mil metros quadrados de construção, harmonio-samente criada pelo bom gosto de um arquiteto francês que, há mais de um século, se sujeitava às regras de um plano acadêmico diretor.
Nas primeiras décadas do Século XX, a Fazenda foi sempre considerada modelo e por isso foi visitada por pessoas ilustres que chegavam de São Paulo vindas de trem e eram recebidas na estação da Vila, antes chamada Gramado e hoje Santa Gertrudes, pelo Conde de Prates com suas carruagens sempre reluzentes e impecáveis.
Atrativos
A fazenda, com sua arquitetura francesa e já centenária, recebe visitas levando-as aos tempos áureos do café desde a colheita até ao embarque na estação de trem, passando por todos os processos intermediários.
O percurso com duração aproximadamente de duas horas permitirá ao visitante uma idéia real do trabalho e da técnica numa época em que todo o transporte era efetuado em lombo de burro, de carroção ou em carros de bois, e a energia elétrica provinha do vapor e de rodas de água, a mão-de-obra era toda importada da Europa além de todos os produtos acabados como o ferro, o cimento e as telhas.
As visitas são realizadas sob agendamento antecipado através de grupos.
Informações: (19) 3545.1317
Rodovia Washington Luis, Km 165 – Cx. Postal 5 – CEP 13511-970 – Sta. Gertrudes/SP
Fonte: www.limeira.sp.gov.br
Fazenda Santa Gertrudes
A Fazenda Santa Gertrudes, com mais de um século de existência, 1854 – 1998, ao contrário de muitas fazendas cafeeiras que tiveram um curto período de vida, venceu todas as crises e mudanças sociais e econômicas advindas durante todo esse período constituindo-se num caso raro deste período.
Alicerçada na sólida fortuna da família proprietária, que permitia investimentos em longo prazo em culturas e maquinarias na eficiente organização administrativa, na observância fiel a legislação, chegando muitas vezes a antecipar-se aos cuidados legais, nas boas relações de trabalho que não chegaram a gerar crises agudas, a fazenda Santa Gertrudes sempre procurou se adaptar em lugar de sucumbir, as novas circunstâncias. Passou o café, mais a existência desta fazenda como instituição continua, e o ar de decadência ainda não pairou sobre ela.
Esta fazenda constitui, pois um marco na história agrária de São Paulo.
A Fazenda Santa Gertrudes originou-se de uma sesmaria, a do Morro Azul (a sesmaria do Morro Azul foi concedida, em 1817, a Joaquim Galvão de França, José Galvão de França, moradores de Itu, e Manoel de Barros Ferraz da Freguesia de Piracicaba) a semelhança de outras importantes fazendas de cana e café como Ibicaba, Morro Azul e Paraguaçu.
Como Ibicaba, que pertenceu a Nicolau de Campos Vergueiro, Santa Gertrudes também teve como ponto de partida as terras de um engenho. Sua origem prendeu-se ao Sítio Laranja Azeda que Amador de Lacerda Rodrigues Jordão (era filho do Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão, um dos homens mais notáveis de seu tempo pela sua riqueza e prestígio, e de Dona Gertrudes Galvão de Moura Lacerda, dama honorária do passo imperial, figura representativa da sociedade paulista do século XIX e proprietária de várias fazendas.
Amador de Lacerda Rodrigues Jordão casou-se em 1852 com Maria Hypólita dos Santos Silva, filha do Barão de Itapetininga; foi agraciado em 1858 com o título de Barão de São João do Rio Claro; foi deputado provincial por diversas legislaturas e deputado geral), futuro Barão de São João do Rio Claro, recebeu na partilha dos bens de sua mãe Gertrudes, realizada em 1848.
O Sítio denominado Laranja Azeda, conta à tradição que Amador de Lacerda Rodrigues Jordão teria mudado para Santa Gertrudes em homenagem a sua mãe.
Mas esta designação passou a predominar na documentação, a partir de 1856. Inicialmente voltada para o cultivo de cana, com vistas à produção do açúcar e da aguardente, a fazenda Santa Gertrudes pouco a pouco foi deixando de cultivar este produto e paralelamente introduzindo o café.
Em 1857 a fazenda é relacionada como fazenda de açúcar e café, ocupando uma área aproximada de 585 alqueires. No ano de 1861 que marcou o aparecimento do café com a principal atividade agrícola do município de Rio Claro, a propriedade produzia 6000 arrobas de café, 2000 de açúcar e 30 pipas de aguardente.
Entretanto, por volta de 1870, apenas 20 anos a sua formação, a fazenda Santa Gertrudes vinha a ser uma das maiores de São Paulo e seu proprietário um dos maiores fazendeiros de seu tempo com lavouras de riquíssima produção. Quando do falecimento do Barão São João do Rio Claro, em 1873, a Fazenda Santa Gertrudes passou para sua esposa, Maria Hipólita dos Santos Silva. A Baronesa de São João do Rio Claro, em 1876, contraiu segundas núpcias com o Barão e posteriormente Marques de Três Rios que passou então a dirigir os destinos da fazenda até 1893.
Aliás, o ano de 1876 se constitui um marco na história da Fazenda Santa Gertrudes não só pela mudança de seu proprietário como também pela chegada dos trilhos da Companhia Paulista de Estrada de Ferro a Rio Claro.
Pouco mais de 40 anos após a sua formação, em 1893, a Fazenda Santa Gertrudes cobria uma área de aproximadamente 700 alqueires, portanto sua expansão já se fizera por mais de uma centena de alqueires; produzia 30000 arrobas de café, quintuplicara sua produção em 1861 quando o número de arrobas chegava apenas a 6000, colocando-se como o maior produtor de café do município de Rio Claro.
A sede da fazenda, com requintes de uma verdadeira casa urbana, fato normal em São Paulo no período áureo da expansão cafeeira, consistia de uma verdadeira casa senhorial. Os terreiros em parte atijolados e as dependências para máquinas de benefício do café, situados nas proximidades da sede completavam-se com as colônias espalhadas entre os 600000 pés de café.
Oitenta e cinco casas para colonos formavam o núcleo habitacional dos trabalhadores. Os bens móveis e imóveis da fazenda foram avaliados em 1893 e as transformações operadas pelo café de 1848 a 1893 aumentaram aproximadamente em 90 vezes o valor da propriedade nesses 45 anos de atividade cafeeira.
Em 1893, com o falecimento do Marques de Três Rios e da Marquesa nos anos seguinte, a fazenda foi herdada por Eduardo Prates casado com a irmã da Marquesa de Três Rios, pois aquela não deixará descendentes diretos. Apesar das alterações resultantes da mudança de proprietário em 1895 não houve quebra no ritmo ascendente da fazenda.
Eduardo Prates acelerou ainda mais. Tornou-se proprietário da fazenda num período excepcionalmente favorável à expansão do café. Eduardo Prates conde pela Santa Sé, de acordo com o título agraciado pelo Papa Leão XIII, era ativo homem de negócios, o capitalista de São Paulo, em 1895 se viu fazendeiro de café, proprietário da Fazenda Santa Gertrudes, considerada uma das mais importantes cafeeiras.
Não era Eduardo Prates o pioneiro em terras novas a despender energia e capacidade na luta contra a natureza, mas o proprietário enérgico e capaz, preocupado em estabelecer uma tecnologia mais avançada para o maior desenvolvimento de sua propriedade. Era o citadino transformado em fazendeiro, que ao receber como herança à fazenda (que pertencera à irmã de sua esposa), levou para o campo toda a sua vivência de homem de negócios, sempre aberto às inovações.
Dedicava-se as atividades comerciais (importações e imóveis urbanos), bancárias, ao fomento da companhia paulista de estradas de ferro, da companhia de armazéns gerais de São Paulo e ainda a outras companhias de transportes e indústrias.
Atuante, como exigia sua época Eduardo Prates foi membro de associações para os seus interesses econômicos como a associação comercial e agrícola de São Paulo e a Sociedade Rural Brasileira. Eduardo Prates, entre os muitos afazeres empresariais da sua vida, completava com atividades religiosas e filantrópicas, o que no Brasil, país oficialmente católico, não era só prova de fervor religioso, como proporcionava as pessoas que as executavam um grande prestigio social e que a Eduardo Prates valeu, inclusive, o título de conde pela Santa Sé.
Em 1898 a sede já era iluminada a gás acetileno e quatro anos mais tarde 1902, um contrato com a central elétrica de Rio Claro trouxe este novo tipo de energia e iluminação para a fazenda. Em 1904 o telefone colocava a propriedade em contato com vários núcleos urbanos. Uma maior necessidade de energia para movimentar suas máquinas e as constantes quedas de energia elétrica prejudicavam a produção, o que levou Eduardo Prates a romper com a central elétrica de Rio Claro e acentou um motor Wolf, instalando assim uma usina elétrica própria.
O desenvolvimento da fazenda Santa Gertrudes e a construção da estação da companhia paulista de estrada de ferro nas suas proximidades fizeram com que surgisse e prosperasse o atual município de Santa Gertrudes (1948) A proximidade da fazenda com a capital Paulista – apenas quatro ou cinco horas por via férrea, permitia ao viajante tomar contato com uma fazenda cafeeira em um ou no máximo dois dias, tempo suficiente para percorrer as instalações e plantação.
Os visitantes da fazenda eram muitas vezes convidados pelo próprio governo do estado de São Paulo; outros convidados do proprietário ou de seus amigos. As visitas vinham geralmente da capital em trens da Companhia Paulista de Ferro.
A importância da fazenda Santa Gertrudes não reside apenas no fato dela ter sido uma propriedade modelar na cafeicultura paulista, digna de ser vista por ilustres personalidades.
A Fazenda Santa Gertrudes foi a mais importante propriedade cafeeira do município de Rio Claro, no velho oeste paulista. Propriedade modelo era um exemplo da complexa empresa capitalista cafeeira.
Esta fazenda possuía a maior concentração de trabalhadores estrangeiros e seus descendentes, dentre as fazendas da região. Foi possível localizar para o período de 1897 – 1902 famílias italianas que se destinaram a fazendas de Santa Gertrudes, assim como famílias nacionais, cearenses, que em 1920 também se encaminhavam para aquela propriedade.
Para o período de 1903 – 1914 os registros das hospedarias anotam algumas poucas famílias italianas, austríacas, portuguesas e espanholas que se dirigiram àquela fazenda, já para 1915 – 1920 os livros não apresentam nenhuma família para Santa Gertrudes.
Porém os documentos da fazenda mostram a chegada de várias famílias italianas e espanholas, procedentes da Argentina, e para 1918 – 1919 a entrada de japoneses nesta propriedade. Para o ano de 1920 os registro das hospedarias mostram que mais de uma centena de trabalhadores nacionais, cearenses, se encaminharam para aquela fazenda. Para o período de 1921 – 1930, quando a imigração nacional começou a sobrepujar a estrangeira, a hospedaria não registra mais imigrantes em direção àquela fazenda.
Nos livros preservados, e que compõem o acervo da fazenda Santa Gertrudes, encontram-se informações minuciosas sobre a família trabalhadora, no que diz respeito a seu tamanho, sua força de trabalho, sua produção e seus rendimentos monetários, além de fornecer algumas pistas sobre a lavoura de subsistência por ela praticada.
Na Fazenda Santa Gertrudes predominavam os trabalhadores europeus, tanto no cultivo de café como, em atividades complementares. Os italianos e seus descendentes sempre se constituíram maioria entre os colonos; a seguir vinham os portugueses, espanhóis, e alguns poucos de origem germânica.
Os japoneses não se adaptaram ao trabalho nesta propriedade e os nacionais até 1920 foram uma pequena minoria, aparecendo com mais intensidade após esta data, quando uma grande leva de cearenses foi aí introduzida.
Entre 1895 a 1930, os trabalhadores de origem italiana representavam em média, cerca de 65% da mão-de-obra empregada sobre o regime de Colonato. Esta porcentagem foi maior nos anos próximos aos 1900, uma vez que a entrada de italianos no Brasil foi, na virada do século, também mais volumosa.
No período de 1909 – 1918, quando a imigração italiana para o café já havia declinado bastante, os colonos de origem italiana, perfaziam em média, 64% do total dos colonos da fazenda. Para cuidar de aproximadamente 1.000.000 de pés de café, esta propriedade necessitava manter por volta de 150 famílias para não ter que se utilizar trabalhadores avulsos assalariados.
O emprego destes, os camaradas, aumentava em muito o custo da produção. Assim sendo, para evitar os prejuízos que a instabilidade do colono provocava, o recrutamento constante de novas famílias, era sempre a grande preocupação do fazendeiro.
Cálculos efetuados mostram que na Santa Gertrudes deveriam ser contratadas, em média, 35 novas famílias todo ano. Estas famílias proviam ou diretamente das hospedarias dos imigrantes em São Paulo, ou eram arregimentadas nas fazendas da redondeza e ou nos municípios da região.
Famílias para o Café: italianos e cearenses.
Os dados levantados na hospedaria dos imigrantes, sobre as famílias com destino a Santa Gertrudes, referem-se principalmente as famílias italianas que se dirigiram à fazenda entre 1897 – 1902 e as famílias cearenses. Que adentraram nesta propriedade em 1920.
O tamanho e composição das famílias têm a ver com a própria estrutura familiar do grupo no país de origem, no caso da Itália, por exemplo, as famílias de pequenos proprietários, arrendatários e meeiros de Veneto, que predominaram na imigração para o Brasil no período anterior a 1885 eram famílias ampliadas, formadas por dois ou três homens, respectivas mulheres e filhos.
Já, as famílias de Braccianti também de Veneto, que formaram a grande maioria de braços para o café, após 1885, segundo depoimentos da época, possuíam cinco pessoas no máximo, normalmente casal com filhos e algumas vezes integravam-na o pai ou a mãe do chefe.
Para o período de 1903 – 1914 os registros das hospedarias anotam 30 famílias de origem européia para Santa Gertrudes. Destas 63% eram italianas e austríacas e as restantes portuguesas e espanholas. Em 1920 foram introduzidos na fazenda, os cearenses num total de 132 famílias, e cujo tamanho era, em média de 4,8 pessoas.
Diferentemente das italianas, as famílias cearenses incluíram com muita freqüência além de pais e irmãos do chefe, agregados, cunhados, tios, primos, sobrinhos, avós e netos, numa clara demonstração de que se afrouxaram as exigências quanto à composição da família que deveria receber a passagem para a cafeicultura paulista.
Constata-se por outro lado, que mulheres chefes de família apareciam com certa regularidade o que era bastante raro entre as famílias italianas e européias de modo geral. No caso dos cearenses predominava como chefe às viúvas, mas ocorriam também caso de mulheres solteiras com filhos e mulheres casadas, sem marido, com filhos e outros parentes.
Para a cafeicultura, o que mais importava era a quantidade de elementos aptos para o trabalho preferencialmente homens. Entendia-se por “pessoa de trabalho” o indivíduo a partir dos 12 anos de idade até por volta de 60 – 65 anos. Interessava também ao fazendeiro conhecer, além do número de elementos de trabalho, o tamanho e composição da família, pois os demais membros poderiam ser utilizados na colheita, o que podia ocorrer a partir de 7 ou 8 anos de idade.
A própria hospedaria dos imigrantes, como agente de mão-de-obra vinculado, na época, aos interesses do café, além de classificar os indivíduos por sexo, distribuía-os em três grupos etários: de 0 a 12 anos, de 12 a 45 anos e mais de 45
“Benefício do Café” de Antonio Ferrigno.
Óleo sobre tela, pintado em 1903 na fazenda,
hoje exposto no Museu do Ipiranga
anos, numa clara demonstração da importância de se conhecer o potencial da força de trabalho destas famílias. Aliás, entreas exigências para que a família conseguisse obter a passagem subsidiada era que ela fosse de agricultores e tivesse pelo menos um elemento masculino entre 12 e 45 anos. Dos italianos (55%) e dos cearenses (60%) possuíam 12 anos ou mais e, portanto, eram considerados aptos para o trabalho.
Uma amostra significativa destas mesmas famílias, localizada na documentação da fazenda Santa Gertrudes, no momento de sua chegada na fazenda aponta que 49% dos italianos e também dos cearenses eram “pessoas de trabalho”. Esta amostra compõe-se de 26 famílias italianas com 126 pessoas, sendo 62 “de trabalho” e 101 famílias cearenses com 498 pessoas sendo 246 “de trabalho”.
Partindo-se então do pressuposto de que todos os homens maiores de 12 anos fossem trabalhadores efetivos, poder-se-ia deduzir que a diferença entre as porcentagens apresentadas acima (55% – 49% = 6% para os italianos e 60% – 49% = 11% para os cearenses) ficasse por conta das mulheres com mais de 12 anos que não participavam do trabalho produtivo.
Aplicando-se estas porcentagens as 26 destas famílias identificadas na documentação da fazenda Santa Gertrudes obtém-se que 70 das 126 pessoas deveriam possuir 12 anos ou mais (36 eram homens e 34 mulheres).
Se todos os homens com 12 anos ou mais fossem considerados trabalhadores e se o total de trabalhadores era 62, concluí-se que das 34 mulheres, 26 apenas estavam incluídas na força de trabalho.
O retrato das famílias imigrantes para o café, no momento de sua introdução a São Paulo, deixa entrever que independente de sua origem e ao contrário do que pretendia os fazendeiros, famílias numerosas e com muitos braços, essas famílias não eram grandes. Possuíam tamanhos médios de cinco elementos e relativamente jovens.
A Família no Trabalho do Café: Produção e Assalariamento
O Colonato ao combinar distintas formas de produção, proporcionava ao colono um pagamento em dinheiro pelo trato e colheita e também a produção da sua subsistência. O dinheiro que ele recebia pelo trato e pela colheita geralmente não cobria as necessidades de sobrevivência da família.
Os salários pagos aos colonos variavam de região para região, de fazenda para fazenda, de ano para ano, dentro de uma própria fazenda. Seu valor estava diretamente ligado as condições oferecidas para a lavoura de subsistência e praticamente independia das condições de oferta e demanda de mão-de-obra.
Estes salários provinham de três fontes: Do trato, de um certo número de pés de café, pago por unidade de 1000 pés; o trato consistia em fazer a limpeza das ervas daninhas de três a cinco vezes ao ano; Da colheita paga pela quantidade de alqueires de café colhido (um alqueire de café equivalia a 50 litros); Das diárias, isto é, dias de trabalho avulso prestado ao fazendeiro conforme as necessidades da fazenda.
A documentação da fazenda Santa Gertrudes permite verificar o quanto cada uma das fontes de rendimento monetário representava no total do rendimento familiar, quer em relação ao tamanho da família, quer em relação à força de trabalho, quer ainda em relação aos anos de boa ou má safra.
O trato tanto em relação ao tamanho da família quanto ao número de trabalhadores chegava a representar quase a metade do rendimento monetário do colono, enquanto a colheita era responsável por cerca de 39% ficando o restante por conta da diária e outros serviços.
Embora estas proporções não variem muito quando se trata do tamanho da família, o trato quando é relacionado com um número de trabalhadores tem uma leve tendência a diminuir enquanto as outras fontes no geral tendiam a aumentar ligeiramente a sua participação no rendimento, à medida que aumentava também o número de trabalhadores no grupo familiar.
A documentação da fazenda Santa Gertrudes permitiu estimar o orçamento de uma família colona naquela propriedade, para o ano de 1913. Esta família, composta de marido, mulher, dois adolescente entre 12 e 16 anos e mais uma criança pequena aparece na documentação da fazenda como uma família de 5 pessoas e duas enxadas.
Em 1913 ela tratou de 5081 pés de café recebendo por isso a importância de R$ 406$480, colheu 903 alqueires de café no valor de R$ 415$500 (este foi um ano de excelente safra) e executou 33,25 diárias no total de R$ 74$625, além de receber R$ 90$300 de gratificação pela colheita paga pelo fazendeiro a todos os colonos que concluíram o ano agrícola em Santa Gertrudes.
Portanto, esta família recebeu da fazenda a importância de R$ 986$905. Isto posto, pode-se inferir que o sistema de colonato apresentava-se vantajoso para as famílias que se e encontravam no ápice de sua capacidade produtiva e soubessem se beneficiar ao máximo da mesma.
As famílias empregadas nas fazendas mais próximas aos núcleos urbanos possuíam uma opção de vender o excedente da sua produção de subsistência e fazer aí as suas compras evitando os preços mais altos cobrados no armazém da fazenda, numa época em que os gêneros de primeira necessidade estavam bastante caros.
Finalmente, é preciso ressaltar que para o sucesso ou insucesso da família neste sistema também interferiam em outros fatores.
Turismo / Roteiro Pedagógico
A Fazenda Santa Gertrudes recebe grupos, agendados previamente para um roteiro pedagógico, onde são visitadas todas as instalações que eram usadas há 100 anos, quando a cultura do café teve seu apogeu na Fazenda, tais como: tulha, máquina de benefício, casa sede, igreja, carpintaria, serraria, selaria, represa, terreiros, jardins, mirantes, lavador de café, currais, esterqueira, cocheiras e muito mais.
Tudo construído em harmonia seguindo regras de um mesmo plano diretor, em mais de 22 mil metros quadrados de construção.
História da Fazenda de Santa Gertrudes pelo Conde Eduardo Prates
A Fazenda de Santa Gertrudes, na estação – “Santa Gertrudes” – da linha férrea da Companhia Paulista de Vias Férreas e Fluviaes, pertencente ao município e comarca de S. João do Rio claro, n’ este Estado de S. Paulo.
Houve ao seu primeiro proprietário e fundador Tenente Coronel Amador Rodrigues de Lacerda Jordão, depois Barão de S. João do Rio Claro, por herança de seus paes o Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão e Dona Gertrudes Galvão de Oliveira Lacerda.
Compõe-se a mesma fazenda, de terras da antiga sesmaria – “Morro Azul”- adquirida por compra feita à 18 de junho de 1821, pelo mesmo Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão do Tenente Joaquim Galvão de França e sua mulher Dona Maria Dias Leite e filho João Galvão de França (doc.), sesmaria essa medida e demarcada a 21 de outubro de 1817 (doc.).
Terreiro de Café – Início século XX
Foram essas terras anexadas às do Sítio e Engenho sob a antiga denominação de – Laranja Azeda- acquisição feita pela referida Dona Gertrudes Galvão de Oliveira Lacerda, de Antonio Goes Maciel e sua mulher Dona Anna da Rocha Camargo à 20 de fevereiro de 1841 (doc.), venda a estes feita pelo major Marcelino de Godoy Bueno, e que houve o dito Tenente Coronel Amador Rodrigues de Lacerda Jordão, depois Barão de S. João do Rio Claro, pela herança de sua mãe a mesma Dona Gertrudes Galvão de Oliveira Lacerda, conforme certidão de inventário d’ esta, julgado à 14 de setembro de 1862 (doc.).
Dividia a mesma fazenda, com terras da – “Fazenda S. Joaquim” – pertencente então ao Major Marcelino de Godoy Bueno, conforme escriptura publica de divisas passada à 9 de janeiro de 1865, entre este, sua mulher Dona Maria Custodia de Camargo, e o Barão e a Baroneza de S. João do Rio Claro (doc.) com a Fazenda Ibicaba pertencente então ao Commendador José Vergueiro (doc.) com a Fazenda -“Morro Azul”- pertencente então à Silverio Rodrigues Jordão Pae com a fazenda -“Palmeiras”- pertencente então a João Bueno de Athayde e sua mulher Dona Anna Candida Rodrigues (doc.) e com as fazendas -“Itaúna”- e -“Faxina”- de propriedade dos Snrs. Negreiros e Irmãos (doc.). Falecendo a 31 de agosto de 1873, o Barão de S. João do Rio Claro, sem filhos, sua viúva a Baroneza do mesmo título Dona Maria Hyppolita dos Santos Silva, ficou de posse da referida fazenda.
Casando-se ela depois em segundas núpcias com o Barão de Tres Rios, depois Visconde, Conde e Marquez do mesmo título, adquiriu esta por compra feita à 20 de fevereiro de 1880 do Coronel Silvério Rodrigues Jordão e sua mulher Dona Maria Benedicta Jordão uma parte de terras de culturas da fazenda “Morro Azul” contíguas à mesma – “Fazenda de Santa Gertrudes”- e a ella annexadas; bem como por compra feita a 21 de agosto de 1890 de Candido da Rocha Campos (doc.) o Sitio sob a denominação de “Barreiro” contíguas à mesma fazenda que a ella foi também annexado como as terras contíguas tambem, que o mesmo Marquez arrematou em hasta publica á 28 de outubro de 1890, em execussão movida por João Baptista de Souza Freire e Benedicto de Almeida e outros contra Manoel Barbosa Guimarães (doc.).
Pelo falecimento do Marquez de Tres Rios, a 19 de maio de 1893, no seu inventario á que procedeu-se, foi levada a referida fazenda á meação de sua viúva a marqueza.
Falecendo à 19 de outubro de 1894, a mesma Marqueza de Tres Rios: Eduardo Prates, seu sucessor e herdeiro universal, por cabeça de sua mulher Dona Antonia dos Santos Silva Prates, tomou posse da referida fazenda, conforme o inventario á que precedeu pelo juízo dos feitos da fazenda do estado, e avaliada a mesma fazenda á 6 de junho de 1895, e fazendo-a depois medir, certificou-se que a sua superfície total de 866 alqueires, ou 2,095 hectares = 20.957.750 metros quadrados.
Posteriormente o referido Eduardo Prates, adquiriu por compra feita à José Ferraz de Sampaio Junior, á 17 de junho de 1897, uma parte de terras de pastagens contíguas e que annexou as da mesma fazenda (doc.) bem como adquiriu mais outras sortes de terras no mesmo municipio e comarca, pela venda que fez-lhe Dona Olimpia de Almeida Camargo á 30 de julho de 1897 (doc.), e Zacharias de Godoy Bueno e sua mulher Dona Cecilia Maria Joaquina, á 23 de julho de 1898 (doc.) e á 26 de janeiro de 1899 por Dona Anna de Almeida Rocha, viúva e Sucessora de João Evangelista de Almeida Campos.
Atualmente divide a mesma fazenda com a Fazenda “Ibicaba” de propriedade hoje de José Levy; com a Fazenda “Morro Azul” – hoje de propriedade do Dr. Francisco Rodrigues Jordão, com a Fazenda “Morro Alto” – de propriedade do mesmo; com a Fazenda “Palmeiras” do Sr. Clodomiro Franco de Andrade; com as Fazendas: “Itaúna” e “Faxina”- dos Snrs. Negreiros e Irmão; com a linha Férrea da Companhia Paulista de Vias Ferreas e Fluviaes; e com terrenos de partes Amancio de Godoy Bueno, João Evangelista de Almeida e outros.
S. Paulo, 15 de agosto de 1898
Eduardo Prates
(Obs. O texto acima foi mantido no original)
Entrada Portão Avenida
A visita tem seu início a partir de um ponto que mostra a dimensão do planejamento com que foi construída a Fazenda. Desse ponto pode-se observar, à esquerda, a barragem que armazenava a água usada para movimentar o maquinário através de uma roda d’água e a direita a tulha e máquina do benefício onde eram beneficiados café, arroz e também feita a moagem de milho. Em frente, observa-se o muro de arrimo que sustenta o aterro, sobre o qual foram construídos a sede, igreja e os grandes terreiros.
Posteriormente, foi construído o edifício de tijolos à vista com sua chaminé onde posteriormente foi instalada a máquina a vapor. Esta máquina usava água da represa e lenha da própria propriedade. Esse ponto de observação situa-se em uma ponte sob a qual passa o excedente da represa. Mais acima existe outro canal para o escoamento da água que era usada para mover as máquinas e, posteriormente, desviada para este mesmo canal.
O roteiro prossegue fazendo então o percurso inverso daquele que era feito com o café, desde a colheita até o ponto de embarque para a estação ferroviária construída para a Fazenda, em torno da qual se desenvolveu o município de Santa Gertrudes.
Chega-se então ao ponto onde o café era embarcado em carroções de tração animal, já pronto para exportação. O café saía deste local e fazia o percurso inverso ao que é feito ao se chegar na Fazenda, terminando o percurso na estação de trem.
Chega-se então ao local onde o café era beneficiado e ensacado. Neste local o piso é ladrilhado para facilitar o transporte da sacaria, uma vez que eram arrastados. No teto nota-se a passarela que o Conde de Prates usava para averiguar o trabalho e no seu final há um terraço para a vistoria do terreiro.
Porão do Beneficiamento e da Tulha de Café
Nas instalações do beneficiamento e da tulha de café podemos ver as máquinas alojadas no porão com polias de diferentes tamanhos e cuja utilização variava conforme a necessidade de potência e torque das máquinas. A tração era uma só; ou de um motor elétrico ou de uma roda d’água. Um aspecto inovador para época era o fato dessas polias ficarem no subsolo, para maior segurança dos funcionários. No porão também situa-se a rosca-sem-fim que transportava o café a granel da tulha para o beneficiamento.
O transporte do café a granel foi também um avanço para época, considerando-se que o uso de sistema a granel na agricultura existe em escala no Brasil há apenas 20 anos. É possível também se observar que a construção é anterior à do beneficiamento, onde há madeira ainda lavrada a machado, portanto anteriores à construção da serraria.
Terreiro de Café da Fazenda Santa Gertrudes
Terreiro de Café – Início século XX.
Casa Sede ao fundo
O terreiro era onde se secava o café antes do beneficiamento. Todo o café era distribuído pelo terreiro por água, aproveitando desníveis do terreno. O café era lavado em uma instalação situada em um nível mais elevado e vinha pelo subsolo por gravidade saindo pelos buracos que são vistos no muro. Dali era distribuído pelos terreiros. O café era então espalhado, seco e depois recolhido em um monte que se chama de lua onde ficava amontoado e coberto por uma lona.
Vagonetas no Terreiro
Depois, era recolhido por uma vagoneta, que chegava neste ponto através de trilhos girava nas placas giratória e subia pela ponte, sendo puxada por um cabo de aço até a entrada da tulha.
Vista Aérea da Fazenda Santa Gertrudes
Em primeiro plano, a partir da esquerda, pode-se observar a Usina de Força, Complexo Tulha e Máquina do Benefício, Moinho de Milho e Ferraria, Serraria e Carpintaria, Galpões para Depósito e Chiqueirões. No centro, Sede e Igreja. Ao fundo, a partir da direita, Tulha de Arroz, Cinema e Empório, Casa do Administrador, Escritório, Casas de Funcionários da Sede, Escola, Armazém e Açougue.
O planejamento da Fazenda iniciou-se com a construção das barragens. Era primordial haver água para o funcionamento do maquinário. Ao todo, são seis barragens das quais três ainda abastecidas. Na época das chuvas, as comportas eram todas fechadas e as represas enchidas e, depois, paulatinamente, iam sendo esgotadas, uma a uma, suprindo às necessidades de água da Fazenda para uso geral e para o maquinário.
A primeira instalação a usar o sistema hidráulico foi a serraria. Com ela se beneficiou toda a madeira, extraída da própria Fazenda, para a construção de telhados, portas, janelas e assoalho dos barracões e das casas da propriedade.
Ao todo, foram construídas mais de 306 casas, além dos barracões, que somavam mais de 20 mil metros quadrados de área construída. As águas eram importantes também para população, pois, com exceção da sede, não havia água encanada, sendo portanto uma preocupação geral o abastecimento para uso nas residências.
A Fazenda Santa Gertrudes na época possuía próximo de 1500 alqueires e o máximo de área que se conseguiu produzindo café foi de 400 alqueires. O fato é que, há 100 anos, ainda não havia sido introduzida energia elétrica e térmica nas empresas agrícolas. Tudo tinha de ser produzido na própria Fazenda. Desde as necessidades dos funcionários até os fertilizantes agrícolas. Na sede tudo se produzia para satisfazer às necessidades dos funcionários e da empresa.
Podem ser vistas as cocheiras, a selaria, depois a escola, o armazém e também o açougue. O escritório, a casa do administrador, o cinema, a igreja, a serraria-carpintaria, a ferraria, o moinho de milho, a tulha e o beneficiamento de café.
Todo produto acabado era importado da Europa, as telhas são francesas (Marseille), o cimento, alemão e os trilhos, belgas. Os tijolos eram produzidos aqui mesmo trazendo a marca EP = Eduardo Prates e toda a madeira era extraída na própria Fazenda e desdobrada na serraria.
Igreja da Fazenda Santa Gertrudes
A igreja da Fazenda de Santa Gertrudes foi construída no ano de 1866 pelo então Barão de São João do Rio Claro, o Sr. Amador Rodrigues de Lacerda Jordão em homenagem à padroeira da fazenda que foi escolhida por ser esse o nome da mãe do Barão, Dona Gertrudes Galvão de Oliveira Lacerda. Essa primeira construção foi feita de pau a pique e nessa data foi instalada a Pedra D’ara no altar, consagrando-a como igreja segundo as leis do Vaticano.
No ano de 1897, quando a Fazenda já pertencia a Eduardo Prates, futuro Conde de Prates, ela foi reconstruída e suas paredes foram substituídas por alvenaria e sua área aumentada. Essa reforma, terminada em 1898, foi empreendida por um empreiteiro de origem italiana e sua equipe, talvez por isso ou por pedido de Eduardo Prates, a arquitetura sofreu influências européias marcadas com ritmo por pilastras; influências “goticisantes” nas arcadas das portas e janelas, e no altar mor.
A igreja, no final do séc. XIX e início do séc. XX, além de suprir as pessoas com amparo espiritual, era importante também na vida social dos trabalhadores da Fazenda. Aos Domingos, que era e continua sendo o principal dia de lazer, o dia se iniciava com a missa e depois de cumprida a obrigação religiosa é que os trabalhadores aproveitavam para se dedicar ao lazer, iam visitar amigos e parentes e fazer compras.
Além disso, os dias santos, com missas, procissões e outras solenidades festivas, marcavam a vida social do trabalhador, uma vez que constituíam a um mesmo tempo forma de lazer, meio de inter-relação social e expressão religiosa, traço típico da sociedade rural, que encontra efetivamente nos quadros da religião uma expressão de autêntica diversão e lazer. Assim, a vida religiosa ocupava parte substancial da vida social do trabalhador, sendo o padre, a figura central desse segmento.
Deve ser considerada, em princípio, uma diferença fundamental entre a posição do padre ou capelão, na vida rural do Nordeste e das regiões cafeicultoras, em especial a Fazenda de Santa Gertrudes. No Nordeste o capelão escapava ao domínio da Igreja para tornar-se como que uma espécie de criado do senhor de engenho, nessa medida sua presença era permanente no Engenho, sua atuação visava atender basicamente aos interesses do senhor, identificados que estavam em seu status de camada dominante. De certa forma o mesmo ocorreu no Vale do Paraíba, onde embora os padres não residissem na fazenda, todo seu trabalho era colaborar com a manutenção da ordem escravista.
Quanto à Fazenda Santa Gertrudes, desde o início os padres que a serviram, pertenciam às ordens religiosas italianas: Scalabrinos e posteriormente Stigmatinos. Como em toda a zona da cafeicultura, o sacerdote não residia na Fazenda, mas sua presença era constante. Ao contrário do que era comum, aqui suas funções eram ambivalentes, de um lado, cuidava de assegurar a assistência espiritual dos trabalhadores católicos, e em sua maioria imigrantes italianos, o que era totalmente exeqüível, em virtude da identidade de origem.
Pode-se inferir como era importante para o imigrante italiano trabalhar numa Fazenda cuja Capela lhe dava as mesmas regalias das grandes Igrejas da terra natal e ainda ser atendido espiritualmente por padres de sua nacionalidade. De outra parte, o patrão, Conde Papal, na medida em que era atendido por padres vindos diretamente da Itália, estava sendo atendido à altura de seu status.
Porém, o mais importante era que ao cuidar do trabalhador, em especial italiano, o sacerdote servia como um elemento tendente a garantir a fixação desse trabalhador na fazenda.
A facilidade da fazenda de Santa Gertrudes em concentrar padres que permaneciam a Semana Santa toda na Fazenda (inclusive 2 ou 3, de Sexta a Domingo), deve-se ao fato da Semana Santa, na época, representar para os padres uma oportunidade de trabalho extra e Santa Gertrudes, além de excelente trato despendido aos sacerdotes, pagava bem os seus serviços.
Em 1925 foi pago “pela celebração de missas e gratificações aos padres pelos serviços da Semana Santa – Rs 500$000 (Quinhentos mil réis)”, quantia bem elevada se levarmos em conta que nessa mesma época a renda bruta anual dos empregados era aproximadamente o dobro disso Rs 1:000$000 (Um conto de réis = Mil mil réis).
Além disso, o zelo de um sacerdote na ocasião, media-se pelo número de confissões e comunhões, e certamente, na Fazenda de Santa Gertrudes, isto já estava garantido, pois as mesmas alcançavam freqüentemente a casa dos 500, nas grandes festividades. Segundo Cândido Procópio F. de Camargo, o Catolicismo Tradicional Rural brasileiro, no qual deveria se enquadrar o catolicismo da Fazenda de Santa Gertrudes, comporta diversos elementos, cuja relação com os componentes da vida religiosa daquela propriedade, nem sempre coincidem.
Assim, no que tange aos valores religiosos e sua identificação com os da sociedade inclusiva, a Fazenda de Santa Gertrudes revela-se como expressão acabada desta relação, principalmente quando se tem em vista a origem católica da maioria dos trabalhadores, a tradição católica da própria fazenda, aliadas a uma situação de mudanças dos imigrantes que procuravam na religião uma orientação de vida, capaz de norteá-los nessa nova condição.
Quanto aos reflexos da estrutura social na coletividade religiosa, a Fazenda apresentava-se de forma incompleta uma vez que somente dois estratos eram distinguidos através da distribuição dos lugares ocupados durante as práticas religiosas: os proprietários, na lateral esquerda do altar-mor, em cadeiras austríacas, com genuflexórios individuais; empregados na nave em bancos coletivos de madeira.
Há de se observar que não se verificou qualquer distinção entre os empregados.
No que se refere à vinculação dos valores religiosos à vida social especialmente nas atividades de lazer e diversão, constatou-se a estreita relação dos mesmos na Fazenda de Santa Gertrudes. Toda a vida do trabalhador e dos proprietários quando presentes, tinham a marcar seu ritmo o tempo sagrado, no caso o domingo e dias santificados, quando a missa é o evento mais importante, aproveitavam também para visitas, comércio, jogos, etc. As procissões, além do caráter religioso intrínseco, permitiam atividades de lazer paralelas, quando das reuniões para sua preparação, na própria procissão e nas conversas ao fim das mesmas.
Nos dias considerados santificados trabalhavam apenas os empregados cujos serviços não podiam deixar de ser realizados. Na véspera de Natal, Primeiro do ano, sábado de Aleluia e terça-feira de carnaval o trabalho encerrava-se ao meio-dia. As festas de junho eram comemoradas com atividades religiosas e profanas. Pela manhã sempre missa cantada, e à tarde, procissão. Havia grande queima de fogos, churrasco e bebida distribuída aos trabalhadores por conta da fazenda.
No que diz respeito às rezas coletivas e festas dos santos, na Fazenda era observado o calendário regular, exceto as festas de Santa Cruz e de Santa Gertrudes cuja inclusão se deveu à presença dos padres Stigmatinos e à padroeira respectivamente.
Procissão passando pelo Terreiro, Igreja ao fundo – 1930
Na Fazenda de Santa Gertrudes faziam-se rezas e procissões ligadas aos fenômenos da natureza. Realizavam-se na capela, preces, tríduos, missas e procissões por ocasião das grandes secas. Também, contrário do Nordeste, onde há o ciclo de rezas de Santa Luzia (13 de dezembro) a São José (19 de março), aqui elas ocorriam conforme a ocasião dos flagelos ao invés de serem dirigidas a um santo o eram diretamente à divindade.
Também, contrário do Nordeste, onde há o ciclo de rezas de Santa Luzia (13 de dezembro) a São José (19 de março), aqui elas ocorriam conforme a ocasião dos flagelos ao invés de serem dirigidas a um santo o eram diretamente à divindade.
Entretanto, vários elementos do catolicismo tradicional rural inexistiam na Fazenda de santa Gertrudes. Como já foi visto, o padre estava constantemente na Fazenda, além disso, havia o emprego do sacristão, que atendia aos serviços de manutenção da capela e acompanhava os ofícios religiosos. Assim não houve oportunidade para que “rezadores” ou “rezadoras” assumissem liderança religiosa marcante.
Quanto ao escasso conteúdo litúrgico e sacramental das práticas religiosas, na Fazenda de Santa Gertrudes, ocorria justamente o oposto, onde o cerimonial religioso correspondia ao de Igreja Matriz, e em relação a outras, era mais requintado, assim a capela da Fazenda superava o padrão ideal.
Missas eram celebradas todos os domingos, salvo em alguns períodos cuja celebração era no 1º e 3º domingos do mês. Nos dias considerados santificados era geralmente celebrada missa cantada pela manhã e a tarde havia procissão em louvor ao santo ou à Nossa Senhora, cujo dia se comemorava a festa.
O Natal era precedido pelo tríduo de Natal, e no dia à meia-noite celebrava-se a missa do galo e pela manhã nova missa, sendo algumas vezes realizada a Primeira Comunhão das crianças. No último dia do ano, havia o Te Deum Laudamus e missa solene cantada na manhã seguinte.
A observância do culto às almas ocorria na Fazenda apenas em parte. Eram realizadas missas de sétimo e trigésimo dias para os membros da família proprietária falecidos, com a presença compulsória, de todos os empregados. Todavia não há nenhuma referencia à missas fúnebres para empregados, o que se deve, possivelmente, ao fato de não se realizar este tipo de missa em domingos e dias santos, impedindo assim, essa prática religiosa pelos trabalhadores. Quanto aos cultos domésticos às almas, nada foi observado na documentação.
O Ano Santo de Deus – Ano do Perdão
União da Igreja de Santa Gertrudes à Basílica de São João Latrão
Cópia do Documento de União com a Basílica de São João Latrão – 1950
egundo as Escrituras, desde o começo dos tempos, foi-se criando uma dívida espiritual entre os fortes e fracos no mundo, fato esse que levou os Povos de Israel, já no ano de 670 AC a instituírem “O ANO DOS PERDÕES”, ou “ANO SANTO”, que deveria acontecer de 50 em 50 anos. Nesse ano em questão, todos os pecados, dívidas e rixas deveriam ser perdoados.
Esse fato não tem comprovação histórica. Porém, no ano de 1300, o Papa Bonifácio VIII estabelece que aquele seria o ANO SANTO e que a partir daquela data, em intervalos de 50 em 50 anos, tal celebração fosse realizada pela Igreja Católica.
Nesse ano, a Igreja concede aos fieis novas indulgências. Indulgências são absolvições dos castigos temporais que são sofridos nesta ou na outra vida e servem para purificar a alma dos pecados que já foram perdoados na confissão.
Essas indulgências se aplicam também a todas as almas que estão no Purgatório, que segundo os ensinamentos da Igreja, seria uma espécie de incômoda sala de espera do Paraíso, onde ficam as almas de pessoas que não entram diretamente.
Indulgências também podem ser ganhas com peregrinações às grandes Basílicas de Roma, Jerusalém, Belém e Nazaré, às Catedrais das dioceses do mundo, assim como visitas aos enfermos, presidiários, idosos solitários e inválidos e com a doação de parte da riqueza pessoal em obras de caridade.
Durante o Ano Santo, em alguma das 4 Basílicas de Roma é aberta a “Porta Santa”, e quem passar por ela tem todos seus pecados absolvidos. Esse ato remete ao salmo “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim , será salvo”(Jo 10,9). Essa porta foi aberta pela primeira vez na história no ano de 1423 na Basílica de São João Latrão e tem se repetido desde então seguindo um ritual onde ela é aberta com três marteladas.
Como é impossível que todos os fiéis espalhados pelo mundo se dirijam a Roma, a Basílica onde está localizada a Porta se atrela às outras basílicas que por sua vez se atrelam à outras igrejas espalhadas pelo mundo para que os fiéis que adentrarem tais igrejas recebam as indulgências da mesma forma como tivessem ido pessoalmente à tal Basílica.
Era de interesse da Igreja Católica que o maior número de fiéis conseguisse ter acesso às indulgências, mas tinha ao mesmo tempo que escolher sabiamente quais igrejas seriam atreladas às Basílicas. Essa escolha dependia de vários fatores, um , logicamente era geográfico, mas era também uma forma de agraciar aquelas igrejas que haviam demonstrado especial ligação à Roma.
No caso da Igreja de Santa Gertrudes, pode-se inferir que Eduardo Prates foi um homem de grande prestígio para a Igreja e o atrelar da igreja da fazenda à Basílica de São João Latrão serviu dois propósitos, um seria o de estender o perdão a um grande número de fiéis, neste caso, os trabalhadores da fazenda; outro seria uma forma da Igreja homenagear Eduardo Prates e atestar que a igreja construída por ele era de fato verdadeira e que representava sim a Santa Igreja em terras brasileiras.
Nossa Senhora de Lourdes
Gruta construída no interior da Igreja de Santa Gertrudes – séc. XIX
A gruta que vemos na entrada da igreja é uma representação do local onde Nossa Senhora apareceu para uma garota de 14 anos na cidade de Lourdes na França , no ano de 1858. A Gruta de Massabielle, que ficava numa zona afastada da cidade, era utilizado pelos porcos para se abrigarem, mas a partir do dia 11 de fevereiro de 1858, dia da primeira aparição, se tornou um lugar de oração, reunião e devoção.
Nessa manhã, Bernadette Soubirous, filha de um empregado do Moinho Boly, ouviu um ruído como se fosse uma rajada de vento, ao olhar para a gruta, viu uma jovem vestida de branco, com uma faixa azul na cintura, uma rosa amarela em cada pé e um rosário nos braços. Era a Virgem Maria. Deste dia até o dia 16 de julho de 1858, Bernadette teve 18 encontros com Ela nessa gruta.
A Virgem se apresentou a ela como “A Imaculada Concepção” e foram essas palavras que chamaram a atenção das autoridades eclesiásticas , como poderia uma garota tão simples saber essa expressão? À cada aparição mais e mais pessoas acompanhavam Bernadette, até que em uma delas uma prova foi pedida, dia 25 de fevereiro, a Virgem então apontou para um local da gruta e disse, “Vá, beba dessa fonte e se lave nela”.
Bernadette começou a cavar no local, mas não havia água, só terra e ela começou a “beber” aquela terra; nesse momento as autoridades a carregaram para longe, porém, a fonte começou a jorrar e Bernadette se livrou de ser presa. À noite, um casal se aproximou da fonte com um garoto de colo que estava praticamente morto e ao banhá-lo na água, o bebê começou a chorar e “renasceu”.
Foi a primeira graça alcançada por alguém que visitou a gruta. Bernadette Soubirous recebeu o Hábito Religioso das Irmãs da Caridade de Nevers e o nome de Irmã Marie-Bernard. Faleceu na Quarta-feira de Cinzas de 1879, foi beatificada em 14/06/1925 e finalmente canonizada em 08/12/1933 pelo Papa Pio XI.
Há uma curiosidade sobre Santa Bernadette Soubirous, ela foi a primeira santa da qual se tem uma fotografia. No dia da última aparição, 10 000 pessoas foram até a gruta, hoje cerca de 5 milhões de pessoas visitam o lugar, entre peregrinos e turistas. Na gruta, há uma estátua da Virgem e no pedestal se lê, no dialeto de Lourdes, “Que soy era Immaculada Conceptiou”. No solo, à esquerda, uma pedra marca o ponto exato onde Bernadette rezou.
Ao fundo, se vê a fonte descoberta por Bernadette que agora foi canalizada para torneiras e banheiras. Dentro da gruta, atrás do altar há uma caixa onde as pessoas fazem seus pedidos e à esquerda, estão pendurados objetos que representam as graças recebidas. Os peregrinos, ao chegar em Massabielle, beijam ou colocam a mão na rocha da gruta, demonstrando assim sua fé em Deus, que é a rocha, rocha na qual todos podem descansar e construir suas vidas.
Eles também bebem da água, dessa forma respondendo ao pedido feito pela virgem; e como Bernadette, acendem uma vela ao fazer o pedido e depois a deixam para prolongar a oração.
Santa Gertrudes
Vitral da Igreja de Santa Gertrudes – Século XIX
Era de origem nobre, filha de Pepino de Landen e de Santa Ita, que por sua vez, era irmã de Santa Begge. Retirou-se para um convento, no qual veio a ser a abadessa. Mais tarde, quando sua mãe fundou o mosteiro de Nivelles, Santa Gertrudes passou a governar esse mosteiro, até o final da sua vida, em 659. Essa jovem monja, de família tão rica, destinou todos os bens que lhe cabiam em herança à fundação de outros mosteiros.
Foi um gesto muito oportuno, porque naquela época a vida do povo se desenvolvia muito em torno dos mosteiros, que funcionavam como uma espécie de escola, ali se aprendia de tudo, desde a cozinha até a oração mais profunda. Ela é conhecida como Santa Gertrudes- a Grande ou Santa Gertrudes – a Virgem.
Mirantes
Fachada da Sede voltada para o Terreiro – Mirantes na parte superior
A sede foi construída no centro operacional da Fazenda. Em cada extremidade da sede existe um mirante para que o proprietário pudesse observar o trabalho a longa distância. Ao todo, são sete mirantes estratégicos; um na extremidade da máquina de beneficiamento, três na sede, um no jardim, um na piscina e o último, no São José de onde se pode avistar uma cruz. Isso sem contar com a torre da igreja, onde é possível subir até os sinos e ter uma visão panorâmica de todo o terreiro e arredores.
Casa Sede da Fazenda Santa Gertrudes
A sede foi construída pelo então proprietário da Fazenda o Marquês de Três Rios. Ela foi reformada pelo Conde de Prates e nesta obra ele incluiu 10 banheiros, aumentou a casa acrescentando suas extremidades e fazendo o sótão ser habitado. Sua preocupação era oferecer conforto aos visitantes da então Fazenda modelo. Como essas visitas vinham de trem pela antiga Companhia Paulista, precisavam dormir na Fazenda para poder voltar a São Paulo no dia seguinte.
A Fazenda foi pioneira no Brasil em produzir energia elétrica e em ter na casa principal água encanada e banheiros, todo material foi inteiramente importado da Europa; azulejos, pisos, torneiras, lustres, interruptores, tomadas, banheiros, pias, bidês, vasos sanitários, enfim toda parte hidráulica e elétrica da casa.
Tudo isso continua igual e preservado pois durante esses 100 anos pouquíssimo ou quase nada foi alterado. Reparem também no excelente acabamento das madeiras (portas, janelas, tetos e assoalhos), dignos de uma casa de cidade e não de Fazenda conforme os próprios hóspedes afirmavam. Toda a madeira foi desdobrada na própria Fazenda e inclusive alguns móveis foram feitos inteiramente na serraria da Fazenda, que era equipada com máquinas alemãs.
Árvore das Patacas
Frutos e folhas da Dillenia Indica
Aclimatar as especiarias vindas das Índias Orientais: foi com este objetivo que, em 13 de junho de 1808, foi criado o Jardim de Aclimação por D. João, Príncipe Regente na época, e mais tarde D. João VI. Com a ameaça da invasão das tropas de Napoleão Bonaparte em Portugal, a nobreza portuguesa mudou-se para o Brasil e instalou a sede do governo no Rio de Janeiro.
Entre outros benefícios, a cidade ganhou uma Fábrica de Pólvora, construída no antigo Engenho de Cana de Açúcar de Rodrigo de Freitas. Encantado com a exuberância da natureza do lugar, aí D.João instalou o Jardim, que em 11 de outubro do mesmo ano, passou a Real Horto.
As primeiras plantas foram trazidas do Jardim Gabrielle, nas ilhas Maurício, por Luiz de Abreu Vieira e Silva, que as ofereceu a D. João. Entre elas, provavelmente estava o primeiro exemplar desta árvore, a Dillenia Indica, popularmente conhecida pelo nome de Árvore da Pataca. Esse nome surgiu devido a uma particularidade do fruto dessa árvore; na maioria das plantas, o fruto se desenvolve a partir do centro da flor, com a dillenia, as extremidades da flor se fecham sobre a mesma para a formação do fruto e por causa disso, qualquer objeto que ficar preso à flor acaba ficando no interior do fruto.
Diz uma lenda que Dom Pedro I afixou várias moedas (patacas) a várias flores, e após o fruto estar formado, mandaram-os em uma caixa para Portugal com os seguintes dizeres: “Nesta terra o dinheiro nasce em árvores”. Mais tarde, várias pessoas fizeram o mesmo e usavam esse truque para divertir convidados ou até mesmo aplicar um “conto do vigário”. Sua origem na verdade é a Índia onde os povos tribais de Orissa (Estado indiano localizado na costa oriental do país, banhado pelo mar) têm por costume já há muitos séculos plantarem-na em seus quintais.
Aí ela tem diversos usos, suas folhas são usadas como copos ou pratos, sua madeira é considerada muito boa para lenha e os frutos verdes são cozidos para o preparo de picles. No Panamá, o fruto maduro é comido cru ou cozido e serve ainda para o preparo de doces.
Já no Brasil, seus frutos são considerados “inconvenientes”, sendo aproveitado somente as folhas e flores para ornamentação. Floresce entre Março e Maio e por isso é conhecida também por Flor-de-Abril. Em países de língua inglesa é conhecida por Maçã-de-Elefante.
Represa
Em um determinado ponto da represa pode-se ver a tomada de água que era direcionada para as máquinas no terreiro. A construção da barragem tinha a função de prover água suficiente tanto para as rodas d’água quanto para a máquina a vapor. O lago em frente a casa também permite uma vista privilegiada da Fazenda e de toda a lavoura de café além de proporcionar uma constante brisa refrescando o ambiente, funcionando como um ar condicionado natural.
Além de prover energia para as máquinas a água da represa levava da casa os esgotos líquidos (pias e lavatórios), empresta um efeito decorativo ao jardim e oferece segurança.
Desde aquela época já era comum na Europa se ver castelos e palácios adornados com água e, certamente, aqui na Fazenda também havia este objetivo.
Toda a vegetação em volta da represa recebe mais umidade do solo, dando maior resistência às plantas na estiagem, e favorecendo as frutíferas do pomar ao lado, bem como as flores do jardim.
Um outro ponto da visitação compreende a área da lavagem do café. O café chegava da roça nos carroções de tração animal. Aqui eram tratados em uma estufa, sendo depois despejados em tanques, que funcionavam como um pulmão, controlando a quantidade de café que era enviada aos terreiros.
Mirante e Piscina
Mirante do Lavadouro de Café
A piscina era um reservatório de água para a lavagem de café. Sua água era proporcionada por uma mina de água em um local chamado Pau d’alho e desde lá era canalizada para a piscina. Eram 2.500 metros de canais de pedra cobertos por tijolos que traziam a água até a fonte que se vê nesta área. A água era armazenada neste tanque, que sempre foi chamado de piscina, pois assim era usado pelos proprietários, privilegiados por esta água límpida de nascente. O mirante tem a função mais uma vez de facilitar a supervisão do trabalho com o café na chegada da roça.
Currais, Esterqueira e Cocheiras
A partir da esquerda: Picador, Casa do Cocheiro, Cocheira das Éguas, Casa dos Vaqueiros, Currais, Bezerreiros e ao fundo a Esterqueira
Nesta área situam-se os currais, onde toda estrutura foi planejada para recolher o esterco dos animais. O primeiro prédio é o picador onde se moíam os alimentos para os animais. Nos porões era instalado o motor que por meio de correias, acionava as máquinas, exatamente igual ao sistema utilizado na máquina de beneficiamento de café.
Nas cocheiras ficavam as éguas, que criavam os burros e mulas (força de tração, hoje substituídas pelos tratores). Eram cerca de 40 éguas de raça, grandes e robustas, que, cruzadas com jumentos, produziam burros e mulas, de porte e resistência adequadas para o trabalho na roça.
Seguem-se o curral,o bezerreiro e a esterqueira.São dois poços, um estava sempre enchendo e o outro sendo usado. A razão para isso é que o esterco tem que ser curtido, antes de ser usado. Pelo porte da estrutura da esterqueira, nota-se como era importante o estrume numa época em que não havia o adubo e o café era tão valorizado que qualquer esforço que significasse aumento em produtividade era válido.
O telhado é duplo, para a liberação dos gases, principalmente o metano, que é perigoso se armazenado pois queima com facilidade. Nota-se que, apesar da preocupação com a ventilação, o telhado queimou e parte dele teve de ser refeita.
Cinema
O trabalhador da Fazenda de Santa Gertrudes além de encontrar nos quadros da religião “expressão autêntica de diversão e lazer” , obtinha também, graças ao proprietário, formas de diversões citadinas como espetáculos e sessões cinematográficas de bom nível. Assim é que em 24.12.1908 o humorista Baptista, criador do boneco João Minhoca, de São Paulo, deu espetáculos na Fazenda.
Considerado o introdutor do teatro de marionetes no Estado, com muito êxito havia se apresentado anteriormente no Jockey Club de são Paulo. Já em 1910 destacaram-se os espetáculos de ginástica pelo Grupo Brasileiro de Isidoro Lourenço Gonçalves e em 1912 apresentações da famosa Companhia Pires.
A partir de 1912 instalou-se o primeiro aparelho cinematográfico, dentro da Tulha de café e dois anos depois, em 1914, foi inaugurado o cinema popular que durante muitos anos foi o único cinema da redondeza freqüentado também por pessoas da vila e fazendas vizinhas. As sessões aconteciam aos sábados à noite e logo após a exibição os bancos eram retirados, entrava em cena um sanfoneiro e acontecia um baile.
Escola
Apesar dos italianos que vieram para cá no final do século XIX serem na sua grande maioria analfabetos, não pouparam esforços para se alfabetizarem, mesmo através de iniciativas particulares.
Na Fazenda Santa Gertrudes os próprios colonos procuravam sanar o problema da falta de escola. Reuniam-se à noite na casa daquele que possuía condições de ministrar aulas aos demais e ali aqueles que eram analfabetos conseguiam aprender as primeiras letras e fazer contas, além de obterem outras noções gerais.
Estas aulas eram pagas ao “professor” ou em dinheiro ou em espécie, geralmente querosene. Através da documentação existente verifica-se a existência de uma escola na Fazenda na primeira década do século XX, 1902 aproximadamente, sendo o professor mantido pela fazenda e recebendo Rs 3$000 por aluno a cada 2 meses.
Em 1921 foi instalada a primeira escola pública confiada a professores diplomados e portanto habilitados ao bom desenvolvimento da mesma.
Foram montadas quatro classes: duas mistas em duas colônias e uma feminina e outra masculina na sede.
Embora as professoras fossem nomeadas pelas autoridades governamentais, eram sempre indicadas pelo proprietário. O número de classes instaladas na Fazenda demonstra que deveria haver uma grande quantidade de crianças freqüentando-as. Entretanto há de se salientar que enquanto os pais sentiram a necessidade da alfabetização, o mesmo não se manifestava em relação aos filhos.
Isto ocorria em virtude da importância da mão de obra infantil nos serviços da lavoura , tanto crianças escravas como imigrantes iniciavam sua vida “profissional” ao redor dos 8 anos, fosse, no caso das crianças imigrantes, trabalhando ao lado do pai, fosse familiarizando-se com o trato dos cafezais, fosse ainda carregando as refeições. Assim, a escolarização das crianças, em especial do jovem, encontrou resistências pois significava a perda de braços para a lavoura.
Assistência Médica
O comportamento do Conde Eduardo Prates foi marcante e progressista no que tange à assistência médica. Sua orientação demonstrou grande interesse com o cuidado da saúde de seus trabalhadores. Ele foi pioneiro neste sentido.
Dentro do sistema patriarcal, procurava resolver os casos mais graves, providenciando inclusive internamento em hospitais da Capital:
Conforme já conversei aqui com V. Sa. Segue para São Paulo o colono (ilegível) Eugenio, levando consigo uma menina sega para deixar na Santa Casa de Misericórdia, peço pois a V. Sa. O favor de guial-o ahí.
Peço a V. Sa. O favor de providenciar afim de ser removida para o Hospício a colona d´esta Fazenda Thereza Termi mulher do colono Marquese Vincenzo, pois que se tem agravado muito a moléstia. A mulher do colono Luige declarou-me que não quer se sugeitar a operação na garganta, portanto fica sem effeito o pedido que aqui fiz a V.Sa..
Estas atitudes reforçavam a neutralização de eventuais atritos, uma vez que ao atender um caso isolado, o proprietário tornava explícita sua proteção a todos os empregados. Em 1898 já havia médico atendendo os trabalhadores da fazenda sob pequena remuneração por parte dos empregados. Entretanto em 1903 foi estabelecida na Fazenda Santa Gertrudes uma Sociedade Médica cujos membros teriam direito a consultas realizadas pelo médico da Fazenda, mediante pagamento de uma mensalidade que era proporcional ao número de pés de café que o colono tratava.
A partir de 1912 todos os empregados foram obrigados a fazer parte dessa sociedade além dos colonos. O médico visitava a Fazenda periodicamente. Fora do horário normal era cobrada uma alta taxa para a visita médica na Fazenda. Outras vezes o doente era transportado à cidade o preço da consulta chegava a atingir Rs 50$000, dependendo da maior ou menor gravidade do caso.
Os sócios não tinham direito a remédio.
Este era adquirido em farmácias: da fazenda, da vila de Santa Gertrudes, de Cordeirópolis ou de Rio Claro, mediante vales fornecidos pela Fazenda e depois descontados na conta do empregado ou o próprio empregado pagava quando possuía dinheiro em mãos.
O Pau Brasil
Caesalpinia echinata
Um pouco de História
Há 80 milhões de anos predominava em todo o planeta terra o clima típico dos trópicos, e a vegetação no Brasil já existia na sua forma exuberante. Porém, esta condição ambiental contínua, sofreu alterações pela ocorrência de cataclismas geológicos e períodos de frio intenso, isto é, períodos glaciais, causando modificações na topografia e no clima da biosfera terrestre.
A vegetação que era adaptada a um clima quente e úmido, devido ao resfriamento intenso dos pólos, passou a ocupar apenas uma estreita faixa da Terra, a região tropical situada entre os trópicos de Câncer e Capricórnio.
Fatores como a presença de luz, calor e umidade durante todo ano, possibilitaram que o Brasil possuísse ecossistemas singulares como a Floresta Amazônica, Mata Atlântica, e outras formações vegetais que se mantiveram originais até a chegada dos portugueses, compreendendo uma área de aproximadamente 5,2 milhões de quilômetros quadrados, sendo ocupada até então, apenas pelos índios.
Em 1500, na chegada de Cabral, Pero Vaz Caminha descreveu: “mataria que é tanta, e tão grande, tão densa e de tão variada folhagem, que ninguém pode imaginar.
“Diante da exuberância encontrada pelos portugueses, estes descobriram a existência de uma riqueza para eles inesgotável: o pau-brasil.
Os índios brasileiros já utilizavam esta árvore para a confecção de arcos, flechas, e para pintura de enfeites, com um corante vermelho intenso extraído do cerne.
A técnica foi ensinada aos portugueses pelos próprios índios, que também foram encarregados de cortar, aparar e arrastar as árvores até o litoral, onde carregavam os navios a serem enviados para a Europa. O ciclo econômico teve início em 1503 e até 30 anos após a chegada dos portugueses, era o único recurso explorado pelos colonizadores. Nesse período calcula-se que foram exploradas 300 toneladas de madeira por ano, sempre aumentando nos anos posteriores.
Com a exploração, a terra do pau-brasil tornou-se de muita importância, e em pouco tempo Pindorama (denominação tupi que significa Terra das Palmeiras), oscilou entre os nomes oficiais Ilha de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz, Terra do Brasil e logo em seguida apenas por Brasil.
O carregamento da madeira era enviado para Portugal e, de lá, a matéria-prima era enviada para Antuérpia, na Bélgica, de onde seguia para os principais consumidores, a Inglaterra, Alemanha e Florença, na Itália. A exploração era monopolizada pela coroa, sendo que mesmo após a implementação das Capitanias, seus donos não podiam explorar a madeira nem tão pouco impedir que representantes da coroa o fizessem.
O monopólio da coroa portuguesa sobre o pau-brasil teve existência curta, pois a França, Inglaterra, Holanda e Espanha passaram a participar das atividades extrativistas ajudados pelos índios (em troca de quinquilharias).
Este processo de exploração conjunta e contínua consistiu nesse período, possivelmente, a retirada mais intensa e devastadora que se ouviu falar na história do Brasil. Essa prática não se limitou ao pau-brasil, sendo que outras essências foram eliminadas das reservas florestais localizadas mais no interior da Mata Atlântica.
Esse contrabando pode ser afirmado por Paul Gaffarel: “o algodão e as especiarias só figuravam nos carregamentos a título de curiosidade, mas o mesmo não pode dizer quanto às madeiras preciosas, principalmente as de tinturarias, que formavam o carregamento essencial de nossos navios”. As intensas atividades dos contrabandistas obrigaram Portugal a instituir as Capitanias, com o objetivo de povoar e defender o território.
A narrativa do conto europeu de Jean de Lery , mostra o quanto a árvore impressionou os viajantes daquela época:
“Devo começar pela descrição de uma das árvores mais notáveis e apreciadas entre nós por causa da tinta que dela se extrai: o pau-brasil, que deu nome a essa região. Esta árvore, a que os selvagens chamam de arabutan, engalha como o carvalho de nossas florestas, e algumas há tão grossas, que três homens não bastam para abraçar-lhes o tronco”.
O término do ciclo econômico, no século 19, foi determinado pela quase inexistência da espécie na matas e pela descoberta de corante artificial correspondente.
Foram 375 anos de exploração, e por muito tempo extraiu-se a “brasileína” que dava cor às roupas da nobreza e utilizada como tinta de escrever, e além do corante, a madeira do pau-brasil era utilizada nas indústrias civil e naval. O ciclo econômico do pau-brasil se concentrou exclusivamente na Mata Atlântica, sua área original. De sua atividade restou uma floresta devastada, até a quase extinção da espécie com capoeiras de florestas secundárias e terras que passaram a ser utilizadas na plantação da cana do açúcar. Desde o início de sua exploração, restou após 500 anos da chegada dos portugueses, menos de 3% de Floresta Atlântica. Assim, os colonizadores criaram um modelo de devastação, que se fixou profundamente nos sistemas sócio-econômicos seguintes.
Devido à devastação intensa das matas do litoral brasileiro à procura do pau-brasil, no período de 1500 a 1875, foi elaborada em 1542, a 1ª Carta-Régia estabelecendo normas para o corte e punição ao desperdício de madeira. Esta foi a primeira medida, tomada pela coroa portuguesa para defender as florestas no Brasil. Esse interesse não estava diretamente ligado a uma preocupação pela ameaça de desequilíbrio da natureza, mas pela demasiada saída dessa riqueza sem controle da corte. Essas normas, entretanto, jamais foram cumpridas.
Em 1605 surge um Regimento fixando a exploração em 600 toneladas por ano. Este regimento tinha o objetivo apenas de limitar a oferta de madeira na Europa, mantendo assim, preços elevados.
Durante o Império, muitas outras proibições surgiram sem resultado, entre elas a Carta de Lei de outubro de 1827, onde poderes foram delegados aos juizes de paz das províncias na fiscalização das matas e na interdição de corte das madeiras de construção em geral. Surge, então o termo popular madeiras de lei.
Outras leis criminais estabelecendo penas ao corte ilegal de madeiras surgiram, porém sem êxito. Mesmo a lei n° 601, em 1850 editada por D. Pedro II proibindo a exploração florestal em terras descobertas, com fiscalização a cargo do município, foi ignorada, pois justificava-se o desmatamento como necessário ao progresso da agricultura.
A partir de então, instalou-se vasta monocultura cafeeira para alimentar o mercado de exportação. A Princesa Izabel, em 1872, autorizou o funcionamento da primeira companhia privada especializada em corte de madeira, para evitar o desmatamento descontrolado.
Porém, em 1875 liberou totalmente de licença prévia qualquer corte de madeira nas matas particulares.
Em 1920, o Presidente Epitácio Pessoa, preocupado com a preservação e restauração de matas, disse: “dos países cultos dotados de matas e ricas florestas, o Brasil é talvez o único que não possui um código florestal”.
Em 1921, foi criado o serviço florestal com regularização em 1925. Porém de nada adiantou, pois este serviço não tinha respaldo na constituição de 1891, que não mencionava nada a respeito de matas e árvores. Assim o pau-brasil continuou sendo explorado e as florestas sem amparo das leis.
Em 1934, foi criado um anteprojeto do Código Florestal de 1931, pelo decreto n° 23.793 que foi transformado em lei, em defesa das florestas e matas particulares. Assim, primeiro o resultado concreto deste projeto, foi a criação da primeira unidade de conservação no Brasil, o Parque Nacional de Itatiaia.
Mesmo com a existência de um Código Florestal, este não garantia a total proteção das árvores de pau-brasil que ainda restaram na faixa compreendida entre o Rio de Janeiro ao Rio Grande do Norte. Foi necessária a sua quase extinção para que o pau-brasil fosse reconhecido oficialmente na história brasileira. Em 1961, o presidente Jânio Quadros aprovou um projeto declarando o pau-brasil como árvore símbolo nacional e o ipê como flor símbolo.
É realizado um substituto do projeto n.º 1006, de 1972, por meio da lei n.º 6607 de 7/12178, declarando o pau-brasil a Árvore Nacional, e instituindo o dia 03 de maio como o dia do pau-brasil.
A árvore do Pau-Brasil
Em 1789 o naturalista francês Jean Baptiste Lamarck (1744 a 1829) estudou e descreveu a espécie cientificamente, isto é, denominou-a para que todos os cientistas a conhecessem por um único nome: Caesalpinia echinata, sendo os termos Caesalpinia em homenagem ao botânico e médico Andreas Caesalpinus que viveu entre 1519 a1603, e echinata por ser uma árvore que possui acúleos no tronco e galhos. Esses acúleos são saliências duras e pontiagudas e que facilmente são destacadas do tronco. Os acúleos do pau-brasil são semelhantes àqueles encontrados nas roseiras, popularmente conhecidos por “espinhos”.
O pau-brasil possui a casca pardo-acinzentada, ou pardo-rosada nas partes destacadas, e cerne (miolo) vermelho, cor de brasa. Atinge até 30 m de altura (dados da literatura indicam que podem chegar até 40 metros) e 1,5 m de circunferência.
Sua floração ocorre no final do mês de setembro até meados de outubro. Entre os meses de novembro a janeiro ocorre a maturação dos frutos.
O pau-brasil pertence ao mesmo gênero da sibipiruna (Caesalpinia peltophoroides) e pau-ferro (Caesalpinia ferrea) árvores comumente plantadas nas calçadas, e que também são originárias da Mata Atlântica. A diferença básica entre essas espécies é a ausência de acúleos na sibipiruna e pau-ferro.
A árvore pau-brasil também é conhecida popularmente por ibirapitanga, orabutã, brasileto, ibirapiranga, ibirapita, ibirapitã, muirapiranga, pau-rosado e pau-de-pernambuco. Originária da floresta pluvial Atlântica, tem ocorrência natural desde o Estado do Rio Grande do Norte até o Rio de Janeiro, numa larga faixa de 3.000 km.
Quando a árvore ficou escassa na região mais próxima do litoral, os índios percorriam distâncias de até 20 léguas, equivalendo a 120 km. É uma árvore que vive tipicamente em floresta primária densa. Raramente é encontrada em formações secundárias e atualmente, através de levantamentos científicos, poucos exemplares de pau-brasil nascidos em natureza, ocorrem nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Alagoas, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
O Pau-Brasil e os Violinos
Em 1775, em Paris, François Tourte projetou o primeiro arco de violino com a madeira do pau-brasil, conhecida como “Fernambouc”, uma corruptela de Pernambuco, pois foi principalmente na Capitania de Pernambuco que se iniciou a exploração dessa madeira. O projeto foi considerado como padrão, no que diz respeito à extensão e curvatura.
O pau-brasil era considerado a madeira ideal para essa finalidade, pois apresentava peso e espessura ideais, mas também porque era uma madeira abundante na Europa, naquela época. O desperdício da madeira era enorme, pois para a produção de um arco de violino, era exigida a parte mais flexível, sem nó, e cortada no sentido de maior comprimento das fibras, reduzindo o aproveitamento no trabalho artesanal a 15% da tora.
O pau-brasil atualmente continua sendo utilizado na fabricação de arcos de violino.
A produção racional da árvore não é estimulada, pois para esse fim são necessárias árvores com pelo menos 30 anos de vida.
A extinção do Pau-Brasil
O pau-brasil era considerado extinto, quando em 1928 o estudante de agronomia João Vasconcelos Sobrinho e o professor de botânica Bento Pickel, verificaram a presença de uma árvore de pau-brasil, num local chamado Engenho São Bento, hoje sede da Estação Ecológica da Tapacurá da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRP).
Atualmente, a espécie está tão ameaçada quanto outras de ocorrência na Mata Atlântica, que mesmo sendo um dos ecossistemas de maior diversidade é um dos mais ameaçados do planeta. Devido ao esforço de pessoas como o Prof. Roldão Siqueira Fontes e apoiados pela direção da UFRPE (sede da Estação Ecológica do Tapacurá), lançaram em 1972 uma Campanha Nacional em defesa do pau-brasil, recuperando a memória histórica e desencadeando a produção de mudas em todo o país.
Jaca – Artocarpus integrifólia
Jaqueira é uma árvore que pode chegar a atingir 20 m de altura ou mais, de porte ereto e copa densa. Folhas ovais, verde-escura, brilhantes, coriáceas, de 12 a 20 cm de comprimento.
Os frutos nascem presos diretamente ao tronco e aos ramos grossos da planta . Na verdade é um fruto composto, também chamado de infrutescência, já que é resultante da junção de um grande número de frutos simples, intimamente soldados em torno de um eixo central engrossado, podendo ter a forma globosa, oval ou alongada, seu comprimento varia de 12 cm a mais de 70 cm.
A casca é áspera, com projeções triangulares curtas e pontudas, de coloração castanho-amarelada, quando o fruto está maduro. Cada fruto pode conter até 500 sementes, que são envolvidas individualmente por uma polpa visguenta, amarela, bastante perfumada, de sabor bem doce e de consistência mole ou mais endurecida.
Embora seja encontrada em diversos locais do mundo de forma subespontânea, incluindo o Brasil, a espécie é originária da Malásia e Índia. A polpa do fruto é consumida ao natural ou em compotas. As sementes são consumidas depois de cozidas ou assadas, delas também se faz uma farinha usada para biscoitos e outros alimentos. Planta muito utilizada no paisagismo pela sua elegância. Geralmente as flores aparecem entre Setembro e Dezembro e os frutos de Outubro a Março.
Paineira – Chorisia Speciosa
A Paineira, também conhecida pelos nomes de: barriguda, paina-de-seda, paineira-branca, paineira-rosa, árvore-de-paina, árvore-de-lã, paineira-fêmea; é uma árvore de até 30 m de altura, tem o tronco retilíneo e cilíndrico, com engrossamento próximo à base (barriga). Apresenta acúleos na casca, principalmente nos ramos jovens.
Copa ampla, muito ramificada, provida de densa folhagem durante o verão. Folhas alternas, digitadas, com 5 a 7 folíolos peciolulados, elípticos, com margem serreada e nervura central proeminente em ambas as faces, pecíolo de 4 a 15 cm de comprimento. Flores solitárias axilares, corola de coloração rósea a arroxeada. Fruto cápsula globosa, com numerosas sementes envoltas por pêlos brancos (paina).
Espécie decídua, de rápido crescimento na fase inicial, mas de ciclo de vida longo, permanecendo na floresta madura. Ocorre da Paraíba ao Rio Grande do Sul, nas formações florestais do complexo atlântico e nas florestas estacionais deciduais e semidecimais. Comum nas florestas ocorrentes ao longo dos cursos d’água.
Madeira leve e mole, de baixa densidade quando jovem e maior na fase adulta, de pouca durabilidade, fácil de trabalhar. Usada na fabricação de canoas e para caixotaria, com potencial para a produção de pasta celulósica.
beleza de floração e devido ao tronco grosso e a paina branca presa à planta é muito utilizada para a ornamentação de parques e ruas. A florada vai de Janeiro a Maio, com a planta despida de sua folhagem e os frutos surgem entre Abril e Outubro.
Jacarandá Mimoso – Jacaranda mimosaefolia
O Jacarandá Mimoso é uma árvore exótica de grande porte, atingindo de 5 a 10 metros de altura, com tronco de 30 a 40 cm de diâmetro, com origem na Argentina, possui floração lilás no período de estiagem. Árvore de até 15 m de altura, com casca fina e acinzentada.
Folhas opostas, compostas bipinada, de 10 a 25 cm de comprimento, com folíolos pequenos, glabros e de bordo serrado. Flores azulado-lilás, arranjadas em panículas piramidais densas. Fruto cápsula lenhosa, muito dura, oval, achatada, com numerosas sementes aladas.
Espécie pioneira, ocorre nos estados de São Paulo e Minas Gerais, nas formações florestais do complexo atlântico. Madeira clara, muito dura, pesada, compacta, de longa durabilidade, porém frágil. Usada na confecção de brinquedos, caixas, instrumentos musicais, carpintaria e móveis em geral.
Espécie de grande valor ornamental pelo porte e delicadeza de suas folhas, cor e abundância de suas flores, comumente utilizada no paisagismo de avenidas e parques. Floresce entre Agosto e Novembro e ao frutos surgem entre Maio e Setembro, com a planta despida de sua folhada.
As Capivaras – Hydrochoerus hydrochoeris
É muito comum a presença de capivaras no lago em frente à Casa Sede da Fazenda Santa Gertrudes, não podemos dizer que sejam os animais mais à vontade com nossa presença, geralmente quando vêem pessoas se atiram na água e fogem, porém, às vezes parecem não se importar muito e ficam bem à vontade tomando sol ou comendo.
A capivara é conhecida por esse nome no Brasil e Paraguai, recebe os nomes de Carpincho na Argentina, Chiguiro na Colômbia, Chiguire na Venezuela e Capybara em Inglês. Vive em florestas úmidas e secas, pastagens próximas à água e pode ser encontrada desde o norte da Argentina até o Panamá.
É um mamífero, o maior roedor do mundo, típico da América do Sul, silvestre, de caça. Mas sabe-se que foi criado desde tempos imemoriais como bicho de estimação por antigas tribos indígenas. Seu nome em tupi-guarani, significa “comedor de capim”. Seus predadores naturais são as onças, os jacarés e as piranhas.
Seus incisivos são gigantescos e medem, cada um, mais de 1 cm de largura, na superfície cortante. Os incisivos crescem sem parar e podem medir até 7 cm se não forem desgastados, coisa que a capivara consegue mordiscando pedras e troncos de árvore. Tem uma pelagem escassa, grosseira e acastanhada com reflexos escuros e avermelhados.
Tem quatro dedos nas patas dianteiras e três nas traseiras, dedos unidos por uma membrana, o que faz dela uma ótima nadadora.
Olhos, orelhas e narinas em linha: quando nada, a capivara mantém apenas essa parte da cabeça acima da flor d’água. Possui muito fôlego e é capaz de ficar sem respirar por 5 minutos ou mais.
Ao nascer pesa já cerca de 2kg e pode chegar até 60 kg, porém em cativeiro, este peso pode ser bem maior . Atinge um comprimento de 1 a 1,30 m de comprimento e 0,50m de altura quando adulto.Vive em manadas e tem hábitos noturnos. De manhã descansa na sombra, à tarde gosta de nadar e à noite sai para alimentar-se.
O grupo anda sempre em trilhas fixas, caminhando em fila, um com a cabeça sobre a anca do outro.
Parada, adota um postura incomum entre os mamíferos: fica sentada, como o cão. Em terra é lenta, por isso, nunca se afasta dos rios ou lagos, onde convive bem com bois, cavalos ou mesmo jacarés (perigosos para os filhotes).
A capivara se alimenta quase exclusivamente de capinas e prefere grama curta, porque seus dentes permitem cortar folhas e talos bem rentes ao solo. Na água, gosta de mergulhar e comer algas que crescem nas pedras. Sempre que seu habitat natural sofre alguma alteração, costuma também invadir plantações, principalmente milharais e canaviais. Não se aventura, porém, a afastar-se por mais de 3 km do habitat.
É muito difícil à primeira vista, diferenciar os machos das fêmeas, porque todos têm os órgãos genitais bem próximos do ânus, e encobertos, formando uma espécie de cloaca, semelhante ao coelho. É mais fácil perceber a diferença pelo calombo que o macho tem entre o focinho e a testa, uma glândula de odor forte e característico que ele esfrega nas fêmeas conquistadas, nos filhotes e nas árvores, para marcar seu território.
A fêmea, geralmente, dá duas crias por ano, com a média de quatro filhotes em cada (varia de 1 a 8 filhotes). Na época do acasalamento, a capivara prefere namorar em águas não muito profundas. E o macho chega a cobrir as fêmeas quinze vezes seguidas, em menos de cinco minutos. Embora a reprodução aconteça o ano todo, há maior concentração de fêmeas prenhes nos primeiros meses da estação chuvosas.
As manadas, geralmente de trinta animais – quando vivem em liberdade -, são compostas por adultos e filhotes de ambos os sexos. Mas sempre existe um macho que domina a tropa e conquista as fêmeas. Os demais podem tornar-se submissos e chegam até a ajudar na criação.
As fêmeas são dóceis companheiras e ótimas mães, fazem o ninho apenas perto do momento de parir, quando buscam um local isolado e abrigado, onde possam juntar umas capinas e folhas secas. Dão de mamar de pé, com seus cinco pares de tetas. Nos grupos, amamentam, sem nenhum problema, os filhos de outras mães, que podem ser ou não parentes.
Em estado selvagem, assim que os filhotes nascem, a fêmea procura manter distância dos machos. Eles costumam ficar agressivos com os recém-nascidos, podem até matá-los. Os filhotes, em liberdade, mamam até os quatro meses de idade e, durante esse tempo, seguirão a mãe por toda parte, sempre em fila indiana.
Os filhotes nascem de olhos abertos, pêlos formados, a dentição completa. Espertos, em três dias já se alimentam de forrageiras e acompanham os pais no descanso e nos passeios. Querem nadar logo na primeira semana de vida, mas a mãe só permite se a água não for funda. Mamam noventa dias e se tornam independentes, podem até formar novas manadas.
Nas criações costuma-se desmamar com 60 dias para que a mãe acasale novamente. As fêmeas, muito cuidadosas, ensinam a descobrir novos alimentos, a nadar e até a vencer obstáculos. E os filhotes prestam muita atenção. Se algum, por acaso, se perder do grupo, pede logo socorro, com gritos fortes e agudos, ouvidos de longe.
As Seriemas – Cariama Cristata
Há cerca de um ano notamos a presença de um casal de seriemas que escolheu a Fazenda Santa Gertrudes para morar.
A princípio ouvíamos apenas seu canto estridente nos alertando de sua presença, com o passar do tempo elas foram cada vez mais se aproximando da parte central e aos poucos se acostumando com a presença das pessoas que trabalham aqui e das que nos visitam. Qual não foi nossa surpresa ao descobrirmos que fizeram um ninho numa árvore de Pau-Brasil que está plantada atrás da Igreja.
A seguir algumas fotos delas e informações sobre esse maravilhoso pássaro que escolheu a Fazenda Santa Gertrudes para morar e procriar.
Mede 90 cm, seu peso varia de 1 a 2 kilos. Ave pernalta de aparência arcaica e porte avantajado; ave terrícola. De asas largas e “duras”, cauda longa. Plumagem cinzenta com ligeira tonalidade parda ou amarelada; na base do bico, o qual é forte e vermelho como as pernas, cresce um feixe de penas eriçadas para adiante, tem o olhar ameaçador.
Vive no cerrado, campos sujos, também nos planaltos descampados. O desmatamento progressivo contribui para expandir seus domínios na medida em que lhe proporciona novas áreas de hábitat favorável.
Ocorre da Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia ao Brasil central e oriental até o oeste do Mato Grosso, sul do Pará e no Maranhão. Andam em casais ou em pequenos grupos. Quando perseguida por um automóvel chega a atingir de 40 até 70 km/h – antes de levantar vôo (só faz quando necessário). À noite empoleira-se nos altos das árvores, durante o dia repousa deitada no solo. Quando percebe algum perigo esconde-se atrás de troncos caídos, deitando no chão. Toma banho de poeira e sol.
Come gafanhotos e outros artrópodes, roedores, calangos, lagartixas e outros animais pequenos inclusive cobras. Começa sempre a comer a vítima pela cabeça. Tem a reputação de devorar “grande quantidade” de cobras, o que aparentemente é exagero. Não é imune ao veneno ofídico. Não gosta de bicho morto.
Sexos semelhantes. Nidificam sobre as árvores, constroem um ninho de porte razoável, com gravetos e galhos frágeis, forrando o fundo com estrume de gado ou folhas secas; a árvore tem que ser de um formato tal que permita a ascensão da ave, em saltos auxiliados por curtas esvoaçadas, até o ninho, o qual pode estar a 4-5 metros do solo. Põe de 2 a 4 ovos brancos , ligeiramente rosados. O casal reveza-se no choco, que dura de 26-29 dias. O filhote é coberto por longa penugem parda pálida com manchas pardas. Abandona o ninho com 12 dias de idade.
O canto é uma estrofe longa, composta de gritos estridentes, tem um alcance superior a 1 km. No início da reprodução vocaliza antes de clarear o dia.
Há outras vozes: quando está irritado, querendo devorar uma presa, durante o galanteio, e, às vezes, quando descansa emite um ranger. Gritam muito quando o tempo está mudando para chover. É interessante vê-las emitir seus altos e estridentes gritos, que a cabeça e o pescoço acompanham numa perfeita sincronização, para baixo e para cima.
Localização
A Fazenda está localizada no Km 165 da rodovia Washington Luiz
Galeria de Fotos Fazenda Santa Gertrudes
Fonte: www.fazendasantagertrudes.com.br
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