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O que é o Princípio de Identidade?
O princípio de identidade estabelece que “tudo é idêntico a si mesmo”, noutros termos, todo enunciado escrito sob a forma lógica “A é A” será sempre verdadeiro, haja vista ser tautológico tal qual nas frases “Todas as flores são flores”, “Todos os pássaros são pássaros”, “Todos os homens são homens” etc.
Como assinala Irving Copi, em Introdução à Lógica, o Princípio de Identidade foi erroneamente criticado sob alegação do devir natural das coisas, assim, “Aqueles “enunciados” cujos valores de verdade mudam com o tempo são expressões elípticas ou incompletas de proposições que não mudam e são destas que a Lógica se ocupa” (p. 257). Desse modo, ainda segundo Copi devemos descartar os enunciados ditos elípticos (que mudam com o tempo) para focar nos não-elípticos ou completos possibilitando a utilização sensata dos enunciados marcados pelo Princípio de Identidade.
Em Parmênides de Eleia, a cosmologia sofre um abalo e transforma-se boa parte em uma ontologia – estudo do ser (REALE, 2011, p. 50). Em seu poema Sobre a Natureza, Parmênides, tendo como emissora uma deusa, revela-nos a clássica proposição de que “o ser é, o não-ser não é”. Desse modo, o filósofo pré-socrático coloca o “não-ser” na categoria de ilusão dos sentidos haja vista a simples nomeação do “não-ser” torná-lo “ser” impossibilitando a existência do “não-ser”.
De acordo Reale, “pensar o nada significa não pensar absolutamente e dizer o nada significa não dizer nada. Por isso, o nada é impensável e indizível” (REALE, 2011, p. 51). Ou, sob outros termos, “O que Parmênides descobre, admirado, é que não há como escapar ao ser. Se por acaso dizemos “não-ser” relativamente a qualquer coisa que seja, isto só pode ser ilusão, pois o que assim é nomeado, está já mergulhado na dimensão do ser” (BOCAYUVA, 2010, p. 404).
Dentre as características definidoras do Ser, o filósofo conclui como angular o imobilismo, que segundo Bocayuva, “nada tem a ver com estaticidade” contrariando grande parte das tradicionais leituras sobre Parmênides que lhe colocam no campo do imobilismo estático e contrapondo-o a Heráclito de Éfeso (defensor da eterna mobilidade do ser).
Destarte, o caráter ilusório do não-ser em Parmênides se dá na medida em que “Toda vez que entendemos que algo se transforma dizemos que ele vem a ser o que não era, mas segundo a compreensão radical de Parmênides, cada vez que digo sobre algo que ele não é, me engano, já que nada escapa à concentração do ser que a tudo sempre já abarcou” (BOCAYUVA, 2010, p. 404).
Para justificar a inexistência do não-ser, segundo Reale, Parmênides concebe o Ser como “incriado” e “incorruptível”. Isto é, “incriado” porque caso fosse gerado deveria surgir do não-ser, mas como esse não existe torna-se impossível esse atributo ao ser. E incorruptível haja vista a impossibilidade do Ser se tornar não-ser, pois o não-ser não passa de uma ilusão dos sentidos.
Como se não bastassem essas características, o ser possui apenas presente, daí seu caráter eterno. E é imutável e imóvel haja vista para o contrário de tais atributos requerer um não-ser tornando-se ser (REALE, 2011, p. 51-53). Destarte, interpretando Parmênides conclui ainda o historiador da Filosofia, “A única verdade, portanto, é o ser incriado, incorruptível, imutável, imóvel, igual, esferiforme e uno” (REALE, 2011, p. 54), resumo do projeto identitário parmediano do Ser, expresso na célebre frase: “O ser é, o não ser não é”.
Tales de Mileto embora não seja o criador do termo arché, mas de alcunha de seu colega Anaximandro, é o primeiro dos pré-socráticos a pensar um princípio unificador para toda a realidade existente. Não à toa que Aristóteles posteriormente referindo-se a Tales dirá que ele é o iniciador da Filosofia da physis. Em suas buscas Tales chegou à conclusão que o princípio primordial “arché” seria a água haja vista a sua presença em todos os corpos existentes.
Em Anaximandro tem-se uma menção ao princípio de identidade quando esse elege como princípio constitutivo de toda a realidade existente o “ápeiron” que livre de limites internos e externos torna-se imortal, infinito, indissolúvel.
Desse modo, de acordo Bocayuva, “nomeação do Princípio por parte de Anaximandro se dá através de um termo evidentemente negativo: á-peiron, o sem limite, o sem determinação, o sem forma, o “não-lugar” (BOCAYUVA, 2010, p. 405).
Assim, Anaximandro modifica o princípio de seu mestre Tales de Mileto, afirmando que a água já é algo derivado não podendo, portanto, ser tida como princípio constitutivo de tudo o que existe.
Fábio Guimarães de Castro
Referências Bibliográficas
BOCAYUVA, Isabela. Parmênides e Heráclito: diferença e sintonia. Revista kriterion, Belo Horizonte, nº 122, Dez./2010, p. 399-412.
COPI, Irving M. Introdução a lógica.3. ed. São Paulo, SP: Mestre Jou, 1981.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia. 5.ed. São Paulo, SP: Paulus, 2011.
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