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A palavra logos é uma das principais noções da filosofia, podendo significar: razão, substância ou causa do mundo, explicação, ciência, dentre outros tantos usos feitos ao longo do percurso filosófico desde os Pré-socráticos aos contemporâneos.
Entretanto, para entender a expressiva importância que o logos assumirá na experiência intelectual da Filosofia faz-se necessário regredir para avançar. Anterior à existência do logos tínhamos o pensamento mitológico.
Do mito ao logos
O conhecimento mítico, assim como o filosófico e o científico busca as causas para explicar os fenômenos existentes. Entretanto, para o conhecimento mítico, essas causas baseiam-se na intervenção direta ou indireta dos deuses na natureza. Dessa forma, a existência dos raios e relâmpagos poderiam ser explicados como oriundos dos arremessos de Zeus do alto do Olimpo, as ondas do mar seriam provocadas pelo tridente de Poseidon, e assim seriam explicados todos os fenômenos naturais.
Quando magoavam os deuses os homens eram punidos a exemplo do herói Prometeu que teria roubado o fogo dos deuses do olimpo e dado aos homens. Como punição, relata o mito, Zeus teria o prendido no monte Cáucaso sendo bicado diariamente em seu fígado pela águia. Devido à sua imortalidade esse fígado se regeneraria para no dia seguinte a águia retornar a devorá-lo provocando-lhe uma agonia e sofrimento eterno.
Percebam que essas explicações, de caráter fantástico, num primeiro momento deram conta de satisfazer a ânsia humana pelo conhecimento, pela investigação das causas.Todavia, com o passar do tempo, o homem grego começou a perceber que essas explicações eram muito frágeis, pouco consistentes na solução de muitos dos novos problemas que lhes eram apresentados em seus cotidianos.
Daí, surgem com papel preponderante os filósofos naturalistas que para além de promover uma mera ruptura como pensamento mítico realizam eficazmente a transição do mito ao logos. Se antes os fenômenos naturais eram explicados pela simples intervenção dos deuses na realidade, agora esses primeiros filósofos (Pré-socráticos) inauguram o uso do logos como forma de se entender a natureza a partir da compreensão dos princípios constitutivos de tudo o que existe, a arché (princípio/fundamento) lócus da transição da leitura mitológica da realidade para o logos pautado agora na racionalidade filosófica que buscava a essência de tudo o que existe. Dessa forma, a mitologia é, sem dúvida, uma pré-condição para o que posteriormente convencionou-se a chamar de Filosofia.
Esse primeiro uso do logos como instrumento para conhecer a natureza, feito pelos filósofos Pré-socráticos, assemelha-se às investigações dos atuais cientistas que buscam leis sobre o funcionamento dos fenômenos naturais.O objetivo deles era o de descobrir a matéria primordial de que os corpos eram constituídos.
A partir disso, vários elementos foram levantados como a água (Tales de Mileto), o ar (Anaxímenes), o fogo (Heráclito), a união dos quatro elementos básicos terra, água, ar e fogo (Empédocles), o ápeiron – indeterminado, infinito (Anaximandro), nous (Anaxágoras),átomos (Leucipo e Demócrito), etc.
A transição do mito ao logos efetiva uma profunda mudança no trato das investigações acerca dos fenômenos naturais, não mais pautadas na crença, mas no uso do logos, essa razão que a tudo governa; passo fundamental para a ciência que posteriormente se devolverá.
Fábio Guimarães de Castro
Referências Bibliográficas
ANTISERI, Dario; REALE, Giovanni. História da Filosofia (vol. I). 12. ed. São Paulo: Paulus, 2014.
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