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A filosofia política surge na cidade-estado de Atenas. Conforme aponta Strauss (2011), “Toda ação política contém em si mesma um direcionamento ao conhecimento do bem: a boa vida ou a boa sociedade”. Partindo deste pressuposto, podemos assumir que a denominada Filosofia Política emerge da necessidade humana de adquirir conhecimentos para o bem viver em sociedade.
Enquanto ramo da filosofia, a Filosofia política tem por essência a não neutralidade ideológica diante dos fatos observados. Nesse sentido, Strauss (2011) é bastante assertivo ao afirmar: “Todo o conhecimento das coisas políticas implica pressupostos em relação à natureza das coisas políticas”. Isso fica ainda mais claro se pensamos nos nossos posicionamentos políticos diante de fatos veiculados na grande mídia em que a nossa análise do fato tomará como base os diversos pressupostos que temos a cerca do que é certo, errado, tolerável ou intolerável numa determinada situação.
Exemplificando, vale pensar no recente caso da reportagem sobre a vida de mulheres trans nos presídios do Brasil exibida no Fantástico e protagonizada pelo médico brasileiro Drauzio Varella que, em um dos momentos da reportagem, comovido pela solidão e tristeza perceptível no olhar de Suzy, dá-lhe um abraço que despertou paixões das mais diversas em diferentes pessoas que ou compreenderam a atitude humana protagonizada pelo médico ou condenaram a mesma atitude ressaltando os crimes por ela cometidos e usando-os como justificativa para desumanizar a detenta e negar-lhe um simples abraço. Em ambos os posicionamentos se percebe a adoção de pressupostos valorativos que direcionam os nossos posicionamentos políticos tanto para o acolhimento quanto para a rejeição declarada aos fatos e atitudes.
Conceituando Política
A literatura sobre política costuma dar diversas definições para o termo, o que inviabiliza uma univocidade conceitual. Partindo disso, neste texto apresentamos duas possíveis definições que contemplam parte daquilo que comumente denominamos “política”.
A primeira, talvez a mais conhecida do grande público, é a que define política como “a arte de governar”. Tomada neste sentido, a política é compreendida como meio de organização e gestão do bem público. Nesse sentido inicial levantam-se questões que buscam compreender os modos e meios diversos de governabilidade que melhor satisfaçam a comunidade humana.
A segunda, pouco menos conhecida pelo senso comum, é a que compreende política enquanto “teoria de Estado”. Essa, questiona a necessidade do Estado na regulação das comunidades humanas. A título de exemplo, mesmo que sem a pretensão de aprofundar tais abordagens, cumpre sinalizar algumas das respostas dadas por diversos filósofos acerca da necessidade do Estado. Hobbes, de tendência absolutista, propõe que o Estado seria fundamental para evitar a instauração do conflito generalizado, denominado por ele de “estado de guerra de todos contra todos”. Locke, com tendência liberal, entende que o Estado assume a função de guardião da propriedade privada de seus cidadãos.
Outros teóricos também deram suas diversas contribuições tanto no sentido de defenderem a importância do Estado quanto a sua não necessidade, a exemplos dos teóricos de linha anarquista. É evidente que ambos os teóricos aqui citados, quanto suas vertentes de análise política merecem estudos mais aprofundados que não cabem nos propósitos deste texto que visa apenas dar um panorama da Filosofia Política.
Ao estudar filosofia política é fundamental que tenhamos em mente que a participação na vida política ocorre independente de nosso engajamento ou disposição. Nesse sentido, tanto o silêncio e a omissão quanto o protesto e inconformação são posicionamentos políticos. Não há como fugir. Denunciar ou esconder um crime conhecido, seja ele qual for, demonstra posicionamentos políticos e ideológicos daquele que denuncia ou negligencia.
Sugestão de Leitura
A título de aprofundamento e reflexão sobre a temática política aqui veiculada sugerimos a leitura de alguns textos consagrados que têm muito a contribuir com a abordagem aqui adotada:
- POEMA: O analfabeto político – Bertolt Brecht
- CONTO: Uma folha antiga – Franz Kafka
- LIVRO: Ensaio sobre a Lucidez – José Saramago.
Fábio Guimarães de Castro
Referências Bibliográfias
STRAUSS, Leo. O que é a Filosofia Política. Leviathan – Cadernos de Pesquisa Política, n. 2, pp. 167-193, 2011.
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