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Behaviorismo Ryleano – O que é
Gilbert Ryle, contrário à mente substancial cartesiana, defende a mente relacional. Essa, de acordo com (LOPES; ABID, 2003), poderia ser advogada pelo behaviorismo radical o que, no limite, efetivaria a verossimilhança dessa Ciência Comportamental constituir esteio para uma filosofia da mente.
Todavia, essa afirmação coloca-nos mediante um problema: Teria Skinner eliminado a mente do behaviorismo radical, focando-se na análise comportamental e prescindido da ação mental?
Para solucionar esse problema, Lopes e Abidem O Behaviorismo Radical como Filosofia da Mente propõe tomar como base o conceito de mente de Ryle, que a seu ver: “um representante da Filosofia Analítica, que busca, através de uma análise gramatical, desvendar o verdadeiro significado do vocabulário mental, dissolvendo assim o problema do mentalismo. Esse autor ensina que os termos mentais muitas vezes são enunciados quase-ontológicos […] e, portanto, caracterizam-se por serem expressões sistematicamente enganadoras, no sentido de que sua utilização no senso comum pode induzir teóricos, dispostos a interpretá-las fora desse contexto original, a graves erros. Um desses erros seria considerar a mente como pertencente a uma categoria lógica incorreta”.
O erro categorial no uso filosófico dos termos mentais, exarado por Ryle em A Concepção de Mente, embasa-se numa análise gramatical segundo a qual o senso comum, referindo-se à mente tende a utilizar dum vocabulário mental, preferindo o uso dos verbos no gerúndio ao passo que os teóricos da doutrina oficial utilizando-se dum vocabulário mentalista partem de semelhante senso comum porém o substantivam para possibilitar a existência duma mente substancial.
Todavia, afirmam Lopes e Abid: “é justamente nesse processo que os teóricos se enganam: ao se deparar com um substantivo passam a inferir a existência de um evento ou entidade. É até possível utilizar um substantivo para referir-se a uma propriedade disposicional, como por exemplo, compreensão ou inteligência, entretanto, isso não significa que a disposição exista como substância” mote, segundo Ryle, do erro categorial.
Desta forma, compreender-se-á a mente como um erro categorial cometido pelos teóricos oficiais, que atribuíam substancialidade a categorias de existência distinta.
Compreendida a mente dessa forma, os doutrinadores oficiais seriam “vítimas das armadilhas do vocabulário mental do senso comum”. Pois, sendo tais vocábulos sistematicamente enganadores e causadores dos erros categoriais acabam por substancializar o que originariamente não era substância.
Destarte, a crítica ryleana à interpretação substancialista da mente acaba por tornar inviável uma série de oposições binárias, por exemplo, “físico/mental, interno/externo, mente/matéria” acreditáveis pela doutrina oficial.
A mente, segundo a proposta ryleana, a ver de Lopes e Abid “deixa de ser algo obscuro e inacessível e, atribuir tal caráter aos processos mentais é uma demonstração da ignorância acerca da teoria das categorias fundada por Aristóteles” cuja afirmava a pluralidade categórica de existência do ser.
Uma vez corrigido o erro lógico em identificar disposição com ocorrência, “não há como reduzir o significado dos conceitos mentais a comportamento”, ainda que, a ver de Lopes e Abid, a partir da proposta ryleana, mente seja comportamento. O que impõe o questionamento: qual o limite delineador entre o comportamento mental e o não mental?
Para responder à inquirição Lopes e Abid propõe um retorno à linguagem ordinária proposta por Ryle segundo a qual a inexatidão terminológica se encontra não no senso comum, mas nos teóricos que atribuíram existência a gerúndios tornados substantivos.
Desta forma, “Talvez um dos critérios para fazer essa classificação seja o resultado e a originalidade diante de um problema, um comportamento mental será aquele que resolver o problema com originalidade. Outro critério pode ser a velocidade com que esse problema é resolvido quanto mais rápido se resolve um problema maior o indício de que aquele comportamento é mental”.
Destarte, concluem Lopes e Abid, “Ao contrário da filosofia da mente tradicional, que defende a existência de uma mente imaterial e inacessível, e de uma mais atual, que identifica a mente com o cérebro, o Behaviorismo Radical pode ser considerado uma filosofia da mente na exata medida em que considera a mente como uma relação complexa como comportamento, que não pode ser reduzido aos seus constituintes”.
A noção de mente. Para uma crítica dos conceitos mentais
Nós não pensamos com a nossa cabeça. Esta é uma das ideias-chave deste grande clássico da filosofia publicado em 1949.
Filósofo de Oxford, Gilbert Ryle (1900-1976) desenvolveu uma análise aprofundada dos conceitos mentais para mostrar o absurdo da abordagem clássica ao problema da relação entre corpo e mente. Segundo essa abordagem, é possível distinguir o aspecto mental, interior e privado do aspecto corporal e, portanto, espacial de qualquer indivíduo. Por um lado, pensamentos, crenças, emoções, etc.; de outro, o corpo e seus movimentos. Essa maneira de proceder levou muitos filósofos a imaginar que a mente? ou o que G. Ryle chama de “fantasma na máquina”? direciona os movimentos do corpo humano de “dentro”. Resta então determinar a natureza da mente e como ela age no corpo.
Mas para Gilbert Ryle, fazer da mente um tipo de coisa dessa maneira equivale a cometer um erro de categoria desde o início. Imagine, ele escreve, um visitante de Oxford a quem são mostrados vários edifícios? faculdades, bibliotecas, laboratórios, etc.? e que, no final da sua visita, perguntava: “Mas onde fica a universidade?” “Assim como a universidade não é separada dos prédios que a constituem, G. Ryle acredita que a mente nada mais é do que a maneira como um indivíduo se comporta. Em outras palavras, estados mentais são apenas propriedades de comportamentos. Por exemplo, agir de forma inteligente não é fazer duas coisas, uma mental e outra física; é agir efetivamente em uma situação complexa. Da mesma forma, conhecer sua tabuada é, acima de tudo, saber recitá-la ou usá-la.
Com esse esclarecimento conceitual, G. Ryle pretendia dissolver alguns problemas pseudofilosóficos. Sua obra, desprovida de qualquer jargão, cheia de exemplos concretos, base da filosofia contemporânea da mente, tornou-se inatingível. Aqui está finalmente reeditado.
Fonte: Colégio São Francisco/Fábio Guimarães de Castro/www.scienceshumaines.com
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