Histórico
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A capoeira surgiu entre os escravos como um grito de liberdade. Os negros da África, a maioria da região de Angola, foram trazidos para o Brasil para trabalhar nas lavouras de cana de açúcar como mão de obra escrava. Segundo Menezes (1976), a vida dos negros trazidos da África de maneira forçada, brutal, consistia em trabalhar de sol a sol para os senhores portugueses que exploravam as riquezas brasileiras desde o descobrimento.
Chegando a nova terra, (os escravos) eram repartidos entre os senhores, marcados a ferro em brasa como gado e empilhados na sua nova moradia: as prisões infectadas das senzalas. Os colonizadores agrupavam os africanos de diferentes tribos, com hábitos, costumes e até línguas diferentes, eliminando, assim, o risco de rebeliões. Os negros chegavam ao Brasil, depois de passarem dias empilhados em navios negreiros, trazendo como única bagagem suas tradições culturais e religiosas. O negro trouxe consigo suas danças e lutas guerreiras que de muita valia veio a se tornar para os escravos fugitivos.
Na África, mais precisamente na região de Angola, os negros lutavam com cabeçadas e pontapés nas chamadas “luta das zebras”, disputando as meninas das suas tribos com a finalidade de torná-las suas esposas. Na ausência de armas, os negros buscaram nas danças guerreiras sua forma de defesa. Da necessidade de preservação da vida, surgiu a capoeira.
Tendo como mestra a mãe natureza, notando brigas dos animais as marradas, coices, saltos e botes, utilizando-se das manifestações culturais trazidas da África (como, por exemplo, brincadeiras, competições etc. que lá praticavam em momentos cerimoniais e ritualísticos), aproveitando-se dos vãos livres que aqui se abriam no interior das matas e capoeiras, os negros criam e praticam uma luta de auto defesa para enfrentar o inimigo .Com o passar dos tempos, os nossos colonizadores perceberam o poder fatal da capoeira, proibindo esta e rotulando-a de “arte negra”, Santos (1998).
Em 1888 foi abolida a escravatura e com isso muitos escravos foram lançados nas cidades sem emprego e a capoeira foi um dos meios utilizados para a sobrevivência. Alguns ex- escravos passaram a ganhar a vida fazendo pequenas apresentações em praça pública, porém muitos deles utilizaram a capoeira para roubar e saquear. Os marginais brancos também aprenderam a nova luta com o convívio mais direto com os negros e introduziram na sua prática as armas brancas. Formaram-se verdadeiros bandos de marginais aterrorizando a população.
Já em 1890 a capoeira foi colocada fora da lei pelo Código Penal da República, que dizia:
Art. 402. Fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade e destreza corporal, conhecidos pela denominação capoeiragem; andar em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir uma lesão corporal, promovendo tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal: Pena: De prisão cellular de dous meses a seis mezes. (Barbieri, 1993, p.118).
Segundo Sodré (1983), as punições aplicadas eram reclusão na ilha Fernando de Noronha e castigos corporais, tais como chibatadas. Pessoas como o regente Feijó, Sampaio Ferraz e o major Vidigal foram os responsáveis para manter a ordem; tiveram pouco sucesso.
Segundo Areias (1983), os seus chefes foram encarcerados ou exterminados. Mas a capoeiragem continuou fazendo o seu trajeto.
A capoeira se espalhou pelo Brasil, porém foi nos estados da Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco onde se encontravam os maiores comentários entre o povo e a imprensa local. Apesar de reprimida a capoeira continuou a ser praticada e ensinada para as gerações seguintes.
Em 1929 ocorreu a quebra da Bolsa de Nova Iorque e a conseqüente crise do capitalismo. O Brasil viveu um momento de ebulição das forças sociais.
Com a entrada de Getúlio Vargas no governo do país, medidas foram tomadas para angariar a simpatia popular, entre elas a liberação de uma série de manifestações populares. Para tal, Getúlio Vargas convidou Manoel dos Reis Machado, o mestre Bimba, para uma apresentação no Palácio do Governo.
Temendo a popularização da arte – luta, Getúlio Vargas permitiu a abertura da primeira academia de capoeira, que teria um cunho folclórico. Após essa passagem, a capoeira perdeu suas características de luta marginal e vadiagem, visto que para freqüentar a academia de mestre Bimba os indivíduos eram obrigados a ter carteira de trabalho assinada.
Grande parte do que se sabe hoje sobre a capoeira praticada pelos escravos foi transmitido pelas gerações de forma oral, visto que “…a documentação referente a época da escravatura foi queimada por Rui Barbosa, Ministro da Fazenda no governo de Deodoro da Fonseca” (Sete, 1997).
Enfim, a capoeira ganhou a popularidade estimada por Bimba, e até os dias de hoje vem reunindo adéptos pelo país.
O significado de capoeira
Capoeiras eram áreas semidesmatadas onde os escravos treinavam seus golpes, e provavelmente veio daí o nome da luta. Seus golpes quase acrobáticos e com aspecto de dança muito contribuíram para enganar os senhores de engenho, que permitiam a prática, julgando-a como uma brincadeira dos escravos. Segundo Areias (1983), a dança, por sua vez, representada pela ginga, servia para disfarçar a luta dando-lhe um caráter lúdico e inofensivo. A capoeira serviu por muitos anos como instrumento de luta dos escravos.O berimbau e outros instrumentos
As rodas de capoeira são ritmadas pelo toque de instrumentos e pelas palmas dos capoeiristas.
O berimbau, que servia para dar rítmo ao jogo, também servia para anunciar a chegada de um feitor, ou seja, a hora de transformar a luta em dança.
O jogo da Capoeira é acompanhado por instrumentos musicais, comandados pela figura máxima do berimbau, o qual dá o tom e comanda o ritmo para a execução das cantigas: Cantos Corridos ou Ladainhas .
Podemos encontrar em uma roda de capoeira, além do berimbau, pandeiro e atabaque e, menos comumente, o agogô e o ganzá. Atualmente não se concebe uma roda de capoeira sem o toque característico do berimbau, podendo no entanto, os demais instrumentos serem dispensados, afirma Menezes (197, p.14-5).
O berimbau dita o rítmo do jogo, é ele que comanda o toque a ser executado.
A capoeira apresenta diversos toques que são executados de acordo com a ocasião.
Dentre eles é destacado:
Angola: É o toque de abertura, lento, onde o mestre da roda, aquele que toca o berimbau, inicia uma ladainha – saudação e os capoeiristas ficam esperando, ao pé do berimbau, a indicação para entrar na roda; o jogo de Angola é lento e rasteiro, servindo para os capoeiras mostrarem flexibilidade e malícia.
São Bento Pequeno: É o toque usado em demonstrações, onde os golpes são executados a poucos centímetros do alvo.
São Bento Grande: É o toque para jogo violento, onde se procura atingir o outro capoeirista, que deve estar muito atento e ter muita agilidade para não ser atingido.
Amazonas: toque usado na chegada de um mestre visitante; é o hino da Capoeira.
Cavalaria: Esse toque antes fazia parte da comunicação entre o capoeira que estava de vigia e os que estavam jogando, indicando a chegada da polícia.
Iuna: É o toque que procura imitar o canto dessa ave; é usado para o jogo entre mestres de capoeira, ou então, no enterro de um deles.
Santa Maria: Toque fatalista, para jogo com navalha na mão ou no pé.
Benguela: Toque para jogo com pau.
Idalina: Toque para jogo de faca.
Barravento: toque para jogo rápido, que exige grande velocidade de reação.
Cantos: Durante a roda são entoadas cantigas que, segundo Areias (1983), se dividem em dois tipos: cantos corridos e ladainhas.
A diferença entre o canto corrido e a ladainha está no fato de, na ladainha, sempre contar-se uma história, geralmente sem a resposta ou interferência do coro, que participa apenas no momento que o cantador acaba a história e entre no canto de entrada dizendo “iê vamos simbora/ iê é hora é hora” e assim por diante, até chegar na expressão “dá volta ao mundo”. Já no canto corrido, o cantador não tem a preocupação de contar nenhuma história, as frases são ditas aleatoriamente, falando de assuntos diversos, e a participação do coro é imediata e necessária desde o seu início.
Durante a roda, os capoeiristas, que ficam de pé formando a roda, acompanham a cantoria com palmas. A única exceção são as rodas de Angola, onde os capoeiristas ficam sentado e não batem palmas, só começando a cantar quando acaba a ladainha.
Várias concepções da capoeira
Acredita-se que a capoeira pode e deve ser ensinada globalmente, deixando que o educando busque a sua identificação em quaisquer dessas enumerações que veremos a seguir. Caberá ao docente um papel relevante orientando e estimulando para que o discente possa aproveitar ao máximo toda a sua potencialidade.
Ribeiro (1992), concebe capoeira das seguintes maneiras:
Capoeira Luta: Representa a sua origem e sobrevivência através dos tempos, na sua forma mais natural, como instrumento de defesa pessoal, genuinamente brasileiro. Deverá ser ministrada com o objetivo de combate e defesa.
Capoeira Dança e Arte: A Arte se faz presente através da música, ritmo, canto, instrumento, expressão corporal e criatividade de movimentos. É também um riquíssimo tema para as artes plásticas, literárias e cênicas. Na Dança, as aulas deverão ser dirigidas no sentido de aproveitar os movimentos da capoeira, desenvolvendo flexibilidade, agilidade, destreza, equilíbrio e coordenação motora, indo em busca da coreografia a da satisfação pessoal.
Capoeira Folclore: É uma expressão popular que faz parte da cultura brasileira, e que deve ser preservada, promovendo a participação dos alunos, tanto na parte prática, como na teórica.
Capoeira Esporte: Como modalidade desportiva, institucionalizada em 1972, pelo conselho nacional de desportos, ela mesma deverá ter um enfoque especial para competição, estabelecendo-se treinamentos físicos, técnicos e táticos.
Capoeira Educação: Apresenta-se como um elemento importantíssimo para a formação integral do aluno, desenvolvendo o físico, o caráter, a personalidade e influenciando nas mudanças de comportamento. Proporciona ainda um auto conhecimento e uma análise crítica das suas potencialidades e limites.
Capoeira Lazer: Funciona como prática não formal, através das “rodas” espontâneas, realizadas nas praças, colégios, universidades, festas de largo e etc, onde há uma troca cultural entre os participantes.
Capoeira Filosofia: Entre muitos fundamentos, trás uma filosofia de vida que prega o respeito ao próximo e aos mais velhos, estes que por sua vez possuem um grau maior de sabedoria. Muitos são os adéptos que se engajam de corpo e alma criando dessa forma uma filosofia de vida, tendo a capoeira como símbolo e até mesmo usando-a para a sua sobrevivência.
CapoeiraTerapia: O esporte exerce um papel fundamental no desenvolvimento somático e funcional de todo indivíduo. Para o portador de deficiência, respeitando-se as suas limitações e capacidades, o esporte tem importância inquestionável.
A capoeira vem tendo destaque muito grande, não só como esporte, mas, no caso dos portadores de deficiência, ela atua, verdadeiramente, como terapia.
Considerando sempre a etapa mental, cronológica e motora do indivíduo, propicia um desenvolvimento orgânico mais satisfatório, melhora o tônus muscular, permite maior agilidade, flexibilidade e ampliação dos movimentos. Auxilia o ajuste postural, bem como o esquema corporal, a coordenação dinâmica e, ainda, desenvolve a agilidade e força. Vale ressaltar que a capoeira proporciona a liberação de sentimentos como a agressividade e o medo, levando o ser humano a adquirir uma condição física mais satisfatória e um comportamento mais socializado.
A Capoeira hoje
Capoeira nas Academias A capoeira, antes treinada livremente pelos escravos, é agora treinada dentro das academias. A passagem dos campos de mata aberta para as salas das academias não foi a única modificação sofrida pela arte. Com a entrada da capoeira nas academias, algumas modificações ocorreram na capoeira dos escravos do engenho. Além de lugar fixo para o treinamento, foram implantados também horários para tal. Foi padronizado um uniforme que consiste em calça branca (representando as calças de saco que os negros usavam para a lida) e uma corda que deve ser amarrada na cintura da calça. Alguns grupos que praticam a capoeira Angola utilizam-se de calça preta. Os capoeiras, ou capoeiristas, agora se dividem em grupos que carregam um nome que normalmente representa a força negra nos tempos da escravidão.
Comumente, os capoeiristas representam o grupo, ao qual participam, com o símbolo gravado na calça. Esses grupos ou associações tem por objetivo expandir a arte da capoeira pelo país, alguns chegando até a levar a nossa arte para o exterior. A maioria dos grupos de capoeira convivem pacificamente, apesar de cada um interpretar a capoeira de uma maneira diferente (alguns trabalham a capoeira numa visão mais folclórica, outros a entendem mais como luta, uns dão maior ênfase a parte esportiva, outros valorizam principalmente a educação pela capoeira). Como prova do convívio de amizade entre os grupos, são realizados periodicamente encontros entre eles, que se reúnem com a finalidade de compartilhar conhecimentos.
Graduação e o Batizado
Nos tempos modernos, os capoeiras são graduados de acordo com os seus conhecimentos e com o tempo de prática nacapoeira. Cada graduação é representada por uma cor na corda, que é amarrada na calça do capoeirista. Cada grupo designa um conjunto de cores que irá representar as graduações. Os indivíduos entram para as aulas de capoeira, em seguida, começam um treinamento. Nesse período inicial eles são chamados de “pagãos”, ou seja, eles não foram ainda batizados.
O batizado de capoeira representa o momento em que os indivíduos recebem a sua primeira graduação pelo grupo. Nesse dia eles deixam de ser pagãos, pois durante esse evento é costume entre os grupos dar um apelido ao capoeirista. O apelido é uma tradição desde os tempos que a capoeira era considerada uma arte marginal e os capoeiristas eram obrigados a usar codinomes para não serem identificados, mediante isto, serem presos pela polícia. O dia do batizado é um dia de grande importância para os capoeiristas, posto que, nesse dia realiza-se uma festa em que os novos capoeiras são apresentados a comunidade capoeiristica, jogam com outras pessoas e desfrutam da oportunidade de até conhecerem os mestres mais antigos.
Capoeira x Violência
O jogo de capoeira não possui mais características violentas, perdeu seu objetivo principal do tempo da escravidão, que era a luta pela liberdade. Numa roda de capoeira um jogador não tem como finalidade acertar, ferir, lesionar ou matar o outro jogador. O jogo de capoeira não passa de uma representação, simbolismo esportivo. Na realidade eles, os capoeiristas, são companheiros que querem brincar de capoeira, recrear. Eventualmente acontecem quedas, que são interpretadas como descuido por parte de quem caiu. Importante ressaltar que o jogo, só atribui este valor recreativo dentro das academias, ou seja, em seus próprios grupos. Em se tratando de rodas informais, jogos que acontecem em parques, ruas, praias, a capoeira às vezes, perde o seu atributo de lazer e encarna o seu valor de capoeira – Luta.
Rodas
Os capoeiristas se cumprimentam todas as vezes que entram ou saem de uma roda como sinal de respeito pelo companheiro. Fazem uma reverência também ao berimbau, pedindo e agradecendo proteção aos céus. Acontece também um outro tipo de encontro de capoeiristas chamado “roda de rua”. Essas manifestações ocorrem livremente em praças, ruas e praias. As rodas de rua são gerenciadas por qualquer capoeirista, independendo da graduação que ele carrega, e são abertas para qualquer um que queira participar. Normalmente essas rodas são pacíficas, mas como elas são abertas para o público, alguns capoeiristas acabam querendo resolver suas rixas com outros capoeiristas nessas rodas, afim de demonstrar superioridade sobre qualquer aspecto.
Para iniciar o jogo da capoeira, os capoeiristas dirigem-se para onde estão os instrumentistas e agacham-se ao pé do berimbau” afirma Areias (1983, p.96).
Durante a roda, que é comandada por instrumentos como o berimbau, o pandeiro e o atabaque, são entoadas cantigas que tem seu refrão repetido por todos os participantes da roda. Quem define as músicas e dita a velocidade do jogo é o tocador de berimbau. O ritmo começa lento e termina rápido, onde só os capoeiristas mais graduados devem jogar. Depois da roda, alguns capoeiristas optam por fazer exercícios de força, como abdominais, flexões de braço ou elevação em barra fixa. Outros treinam saltos acrobáticos, ou treinam golpes atingindo sacos de areia.
A aula
As aulas de capoeira são realizadas em salões abertos que podem ser espelhados ou não, o que facilita aos capoeiristas a observação de sua performance. As aulas são normalmente ministradas por capoeiristas de graduações elevadas, superiores, a maioria deles sem nenhuma formação acadêmica em Educação Física.
“Existem vários métodos de ensino, e cada professor, cada academia, cada grupo alardeia que o seu é genuinamente original, é o melhor” (Capoeira, 1992, p.147).
Freqüentemente os capoeiristas acabam ministrando aulas exatamente iguais aos que seus mestres ministram. Na verdade, de uma forma ou de outra, todos se baseiam na “seqüência” e na “cintura desprezada” criadas por mestre Bimba, adicionados aos treinos sistemáticos e repetitivos entre duplas introduzidas pelo Grupo Senzala na década de 1960. Mesmo os que praticam e ensinam a capoeira angola, que originalmente não tinha métodos de ensino, utilizam variações adaptadas desses elementos didáticos.
Capoeira Angola, corresponde a capoeira original dos escravos. Geralmente encontra-se nas academias um programa de treinamento de duas ou três aulas semanais, chegando a ser encontrado nas academias sede de alguns grupos, treinamentos de segunda a sábado.
A duração da aula varia entre quarenta e cinco minutos a uma hora e meia. As aulas são divididas em quatro blocos: aquecimento; treino de golpes, quedas e movimentações individualmente; treinamento de seqüências em dupla; roda de capoeira. O aquecimento freqüentemente começa com uma corrida, seguida de seqüências de movimentos calistênicos e um alongamento. “Se alguém quiser aproveitar para malhar uma abdominal, uma abertura, um alongamento ou exercícios de elasticidade, tudo bem, mas não é esse o objetivo” (Capoeira, 1992, p.146).
Depois do aquecimento, o segundo bloco da aula corresponde ao treinamento dos golpes individualmente. As aulas começam com os movimentos mais simples, passando para os mais complexos e, posteriormente, para a combinação dos movimentos sequenciados. Esses movimentos compreendem os golpes, as esquivas e as quedas. O professor indica e executa o golpe ou a seqüência de golpes e os alunos os executam repetidas vezes e para ambos os lados. Durante a execução dos movimentos os alunos são observados e corrigidos pelo professor. Nos salões com espelhos os alunos podem observar a execução dos seus movimentos.
O terceiro bloco da aula corresponde ao treinamento das seqüências em dupla.. Nesta parte da aula os capoeiristas se encontram sujeitos a receberem os golpes dos companheiros, porém o risco é menor do que durante o jogo.
O treino em dupla se dá em forma de seqüências coordenadas. O professor dita exatamente o que deve ser feito e os alunos executam. Para os iniciantes, o professor apresenta uma seqüência de um golpe e uma esquiva; um dos capoeiristas executa um golpe enquanto o outro esquiva. Com o tempo de prática essa seqüência aumenta em número e variações de golpes, associados a floreios e saltos.
O jogo da capoeira é o momento que o capoeirista apresenta o que ele aprendeu durante a prática. Além de executar os golpes num jogo com um companheiro, entra em jogo um elemento novo, a surpresa. Não se sabe o que o outro capoeira vai fazer, os golpes já não são mais ditados pelo professor, por isso o capoeirista deve estar preparado e atento no jogo do outro para não ser atingido”.
Fonte: www.cdof.com.br
Capoeira
A própria palavra já denuncia seu nascimento no campo entre grandes movimentos de plantação de cana de açúcar.
As clareiras abertas na mata serviram de canal para a fuga dos negros em busca de liberdade e melhor condição de vida nos quilombos.
Mas há quem diga que a capoeira é própria da cidade, onde aquela brincadeira quase inocente das fazendas teria evoluído para a arte marcial. “Sem dúvida, ela nasceu no meio rural com a luta pela liberdade porem a malicia (mandinga capoeiristica) é urbana”, afirma o pesquisador baiano Waldeloir Rego, autor de um clássico sobre o assunto, ensaio sócio-etnográfico à respeito do jogo de angola.
Só não podemos afirmar se a capoeira teve inicio em Salvador ou no Rio de Janeiro ou, provavelmente, se fez ao mesmo tempo nas duas cidades, e ainda em Recife.
Escravos negros
Os escravos negros começaram a ser desembarcado no Brasil por volta de 1548 e, nos três séculos seguintes, seriam predominantes do tronco lingüístico banto, do qual faz parte a língua Quimbundo.
Esse grupo englobava angolas, benguelas, Moçambique, canbindas e congos: “Eram povos de pequenos reinos e com um razoável domínio de técnicas agrícolas e cuja grande característica era possuir uma visão muito plástica e imaginosa da vida, com grande capacidade de adaptação cultural”, (explica o antropólogo Oderp Serra).
No Brasil, esses grupos étnicos, antes rivais, se uniram pela escravidão formando uma cultura africana no Brasil a qual plantou bases e tradições muito fortes na cultura brasileira, na dança, música e técnicas de movimentos do corpo “Não existe na historiografia recente do Brasil, nenhum dado que possa afirmar que a capoeira é proveniente da África”.
Com certeza ela foi desenvolvida por escravos no Brasil, portanto, a capoeira é legítima e genuinamente brasileira, não podemos afirmar com certeza, se a capoeira teve seu inicio no passado em Salvador, Rio de Janeiro ou Recife, provavelmente, se fez ao mesmo tempo nestas cidades, sabe-se que a capoeira realmente surgiu como “instrumentos de libertação contra um sistema dominante predominante opressor”.
O homem negro na condição de escravo era tratado como peça desse sistema dominante, os meninos negros como moleques e as mulheres escravas com filhos como fêmeas com suas crias. Os registros que determinam datas para seu surgimento utilizam datas que variam entre 1578 e 1632.
Dessa forma, o surgimento da capoeira se funde com a história da resistência dos negros no Brasil. Eis porque as maiorias dos autores que escrevem sobre a questão associam o aparecimento da capoeira ao surgimento dos primeiros quilombos; alguns chegam a se referir especificamente ao Quilombo de Palmares (que foi o que reuniu um número maior de pessoas, cerca de 25 a 50 mil, e foi destruído em 1694) como sendo o berço da capoeira.
No século passado, as principais cidades portuárias brasileiras, como Salvador, Recife e Rio de Janeiro, eram uns aglomerados de gente.
Era comum a figura do escravo de ganho, aquele que tinha permissão de vender ou prestar serviços na rua e em troca dar uma porcentagem do dinheiro que obtivesse ao seu senhor. Sem outra coisa a oferecer senão a força física para carregar móveis, mercadorias e dejetos, muitos fazia ponto perto do porto. Não demorou para que esses grupos se organizassem sob a chefia de algum valente chamado de “capitão” que era exímio em capoeira.
Segundo o historiador Carlos Eugênio Líbano Soares, que examinou o registro de prisões de escravos do século XIX, os anos entre a chegada da família real, em 1808, e a abdicação do primeiro imperador, em 1831, foram marcados pelo “terror da capoeira” no Rio de Janeiro. A Bahia não ficava atrás. Salvador era um barril de pólvora, os negros fizeram mais de trinta revoluções nesse período.
Antigos capoeiras figuram em fatos memoráveis. Mais também, diversos atos oficiais procuram acabar com as desordens das lutas de capoeira. Uma portaria de 16 de março de 1826 do intendente geral de polícia do Rio de Janeiro mandou que fossem presos e imediatamente punidos com 100 açoites os escravos encontrados jogando a capoeira.
Capoeiras baianos lutaram pela nossa independência, na boa terra de todos os santos.
No Rio de Janeiro em junho de 1828, capoeiras prestaram grande ajuda para dominar os batalhões de mercenários alemães e irlandeses que, revoltados, colocaram a população em pânico.
A câmara municipal de São Paulo, atendendo a uma representação do presidente da província, Coronel de Milícias Rafael Tobias de Aguiar, aprovou, em 24 de Janeiro de 1833, uma postura mandando que qualquer pessoa que praticasse a capoeira em lugar público, sendo livre seria presa por três dias e pagaria multa de um a três mil réis, sendo cativa seria presa por vinte e quatro horas com a pena de 25 a 50 açoites.
O quadro de Johan Moritz Rugendas intitulado “jogar capoeira ou danse de la guerre”, de 1835, é considerado o primeiro registro preciso sobre a capoeira. Neste quadro dois negros se situam em posição de luta enquanto um outro, sentado, toca um atabaque que segura com as pernas. Outros negros, homens e mulheres, assistem à luta (ou jogo) que se realiza.
Em 10 de julho de 1843 faleceu no Rio o Marechal Miguel Nunes Vidigal, capoeira exímio e que apareceu, como o Major Vidigal, no livro “memórias de um sargento de milícias”, um dos clássicos da nossa literatura.
Ao longo do século dezenove a capoeira torna-se uma nítida expressão da situação vivida pelo negro no Brasil.
As mudanças ocorridas na economia e na política do império vinham gerando um intenso processo de desescravização. Lembremo-nos de que a Lei Eusébio de Queirós, de 1850, já havia proibido o tráfico negreiro para o Brasil. A lógica do sistema econômico mundial e brasileiro impunha a substituição do negro pelo trabalhador imigrante e isso gerava uma inevitável situação de marginalidade. A capoeira floresceu dessa forma, e são inúmeros os relatos de jornais do século passado que narram as aventuras dos capoeiras (esse nome, até meados deste século, era utilizado para designar o lutador; a luta era denominada capoeiragem).
Naquela época, a capoeira reunia não só ex-escravos e seus filhos, mas também figuras importantes da sociedade. Aos poucos a capoeira foi se envolvendo com a vida política e chegou a ser amplamente utilizada como arma na luta entre as facções que se enfrentavam nos tempos do império e nos primórdios da república, sobretudo nas cidades do Rio de Janeiro, Salvador, Recife e São Paulo. Os capoeiras eram contratados para interferir em comícios, tumultuar eleições e fazer a segurança de figurões da política.
Em 1864 na Bahia, grupos de capoeiras foram desorganizados por causa da convocação para a guerra do Paraguai, que tiveram uma participação ativa lutando contra os mercenários (soldados estrangeiros contratados para guerra), que se rebelaram e foram rechaçados pelos capoeiras. E após a abolição de 1888, como sabemos, o fim do regime escravocrata não significou a aceitação imediata da comunidade negra na vida social.
Ao contrário, vários aspectos da cultura afro-brasileira sofreram violenta repressão, como a capoeira no Rio de Janeiro em todo o Brasil e principalmente no nordeste.
Talvez o caso da capoeira seja o mais evidente: essa forma de rebeldia, que já havia sido utilizada como arma de luta em inúmeras fugas durante a escravidão, tornou-se um símbolo da resistência do negro à dominação.
Assim, o Governo Republicano, instaurado em 1889, deu continuidade a essa política e associou diretamente a capoeira à criminalidade, como consta do decreto 847 de 11 de outubro de 1890, com o título “Dos Vadios e Capoeiras”:
ARTIGO 402 – Fazer nas ruas ou praças públicas exercícios de destreza corporal conhecidos pela denominação de capoeiragem: pena de dois a seis meses de reclusão.
PARÁGRAFO ÚNICO – É considerada circunstancia agravante pertencer o capoeira a alguma banda ou malta.
Aos chefes, ou cabeças, impor-se-á a pena em dobro. Na capital paulista, março de 1892, alguns “morcegos” (praças de uma polícia fardada da época ) maltrataram soldados do exército recentemente recrutados.
Doendo-se pelos companheiros, soldados capoeiras promoveram violentos distúrbios na cidade. Por ocasião da revolta da armada, setembro de 1893, lutaram entre si grupos de praças capoeiras do exército e da marinha. Em 1907, surge a primeira tentativa de instituição de uma “ginástica brasileira” com o título “O Guia da Capoeira” cujo autor, um oficial do exército que julgou prudente não revelar o nome pelos preconceitos então existentes – ocultou-se sob as iniciais O.D.C.
Em 1908 toda capoeiragem vibrou com a vitória do “Moleque Círiaco” sobre o Conde Koma, oficial superior da marinha de guerra do Japão e campeão de jiu-jitsu considerado invencível. Ciriaco, com um violentíssimo rabo-de-arraia na cabeça do campeão nipônico, lançou-o por cima de duas fileiras de cadeiras, desacordando e com forte hemorragia nasal. Anos mais tarde, um marinheiro do encouraçado São Paulo, ancorado no porto de Nova York, envolveu-se em briga de rua e derrubou, um por um, oito vigorosos policias conseguindo fugir para bordo do seu navio, onde declarou não ter necessitado fazer uso da sardinha ( navalha ) para o golpe decisivo do corta-jaca ( navalha na barriga ).
A luta brasileira, portanto, começou a ser tratada como esporte nacional e surgiram os primeiros estudos sobre sua utilização como método de defesa pessoal e ginástica. Em 1928, Annibal Burlamaqui pública “Gymnastica Nacional” (Capoeiragem ) Methodizada e Regrada, e em 1945, Inezil Pena Marinho, especialista em educação Física, pública “Subsídio para o Estudo da Metodologia do Treinamento da Capoeiragem”.
Verdadeira capoeira
Bimba e Pastinha são consideradas os maiores nomes da história da capoeira em todo mundo.
É importante ressaltar que a Regional gerou uma grande polêmica no ambiente da capoeira, uma vez que muitos entenderam as inovações de Mestre Bimba como sendo uma descaracterização das tradições da luta. Iniciou-se, nos anos 30, um debate que dura até hoje sobre o que é a “verdadeira capoeira” e que modificações podem ser introduzidas sem desrespeitar os princípios e tradições da luta.
Com Mestre Bimba a capoeira começa a ganhar espaço institucional na sociedade.
O mestre teve apoio dos estudantes universitários de Salvador que contribuíram para a sistematização de suas idéias e para a formulação de seu método de ensino.
Bimba fundou a primeira academia de capoeira em 1932 ( Centro de Cultura Física e Luta Regional da Bahia ), ensinou capoeira em quartéis e chegou apresentar uma roda de capoeira para o presidente Getúlio Vargas, em 1953.
Na história dos esforços pelo reconhecimento
Na história dos esforços pelo reconhecimento da Capoeira como esporte ou luta nacional de origem étnico brasileira, há um verdadeiro calendário.
Em 1907, apareceu um trabalho, cujo autor se ocultou sob as iniciais O.D.C. (Ofereço, Dedico e Consagro), intitulado O Guia da Capoeira ou Ginástica Brasileira.
Em 1928, Annibal Burlamaqui assina Ginástica Nacional (Capoeiragem) Metodizada e Regrada.
Em 1932, fundação do Centro de Cultura Física e Capoeira Regional, do Mestre Bimba.
Em 1937, registro oficial do Centro de Cultura Física e Capoeira Regional.
Em 1942, foi feito um inquérito pela Divisão de Educação Física do Ministério da Marinha, consultando sobre os melhores elementos para a instalação de um método de ensino da Capoeira.
Em 1945, Inezil Penna Marinho lança o livro Subsídios Para o Estudo da Metodologia do Treinamento da Capoeiragem.
Em 1960, Lamartine Pereira da Costa, então oficial da Marinha, diplomado em Educação Física pela E.E.F.E e instrutor chefe dos cursos da Escola de Educação Física da Marinha, CEM-RJ, lança um livro que se tornou clássico: Capoeiragem – A Arte da Defesa Pessoal Brasileira.
Em 1968, Waldeloir Rego lança o livro Capoeira Angola – Ensaio Sócio-Etnográfico, considerado um dos mais completos sobre Capoeira.
Em 01 de janeiro de 1973, entra em vigor o Regulamento Técnico da Capoeira, oficializando a Capoeira como o ESPORTE NACIONAL BRASILEIRO.
Em 27 de outubro de 1973 é registrada varias associações de capoeira no rio de janeiro.
Em 14 de julho de 1974 é fundada a Federação Paulista de Capoeira (FPC).
Em 17 de maio de 1984 é fundada a liga de capoeira cordel vermelho em Minas Gerais
Em 20 de julho de 1984 é fundada a Federação de Capoeira do Estado do Rio de Janeiro (FCERJ).
Em 21 de abril de 1989 é fundada a Liga Niteroiense de Capoeira (LINC).
Em 23 de outubro de 1992 é fundada a Confederação Brasileira de Capoeira (CBC).
Em 13 de maio de 1995 é fundada a Federação de Capoeira Desportiva do Estado do Rio de Janeiro (FCDRJ).
Em 03 de junho de 1995 é fundada a Liga Carioca de Capoeira.
Graduação
Sistema oficial de graduação, idealizado desde 1972
O sistema oficial de graduação, que já existe desde 1972, foi idealizado pelos grandes mestres do Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia. Tem sua fundamentação nas cores da Bandeira Nacional, estabelecida de forma lógica, sendo a primeira cor o verde, depois o amarelo e o azul. A cor branca só entra no nível de mestre.
A relevância da importância da fundamentação desta graduação é que como a Capoeira é um esporte genuinamente nacional, nada mais justo e patriótico do que estabelecer as cores nacionais para se graduar.
A idéia da regulamentação da Capoeira surgiu no II Simpósio Sobre Capoeira, realizado em 1969, em Campo dos Afonsos – RJ, com a presença de pessoas de renome e mestres de Capoeira, principalmente dos estados do Rio de Janeiro, da Bahia e de São Paulo.
A princípio, a proposta do Simpósio era definir e unificar a Capoeira sem que a mesma sofresse qualquer tipo de perda relativa às suas tradições.
A partir daí, ficou decidido que a Confederação Brasileira de Pugilismo organizaria o projeto através de sugestões e trabalhos de pessoas envolvidas com a Capoeira.
Finalmente, em 26 de dezembro de 1972, o Regulamento Técnico da Capoeira foi aprovado pelo Conselho Nacional de Desportos.
O texto do Regulamento Técnico foi revisto e atualizado pela Assessoria de Capoeira da Confederação Brasileira de Pugilismo através de inúmeros congressos técnicos, até chegar a atual edição, que considera os seguintes itens: graduação, vestuário e característica dos cordéis de classificação.
Regulamento Técnico oficial da Capoeira elaborado em 26 de dezembro de 1972
Nível do aluno
As graduações do Regulamento Técnico da Capoeira de 26 de dezembro de 1972 são as seguintes por estágios:
Nível de aluno
1º Estágio – Cordel verde
2º Estágio – Cordel verde-amarelo
3º Estágio – Cordel amarelo
Nível do instrutor
4º Estágio – Cordel amarelo-azul
5º Estágio – Cordel azul (formado)
6º Estágio – Cordel verde-amarelo-azul (Contramestre)
Nível de mestre
Mestre 1º Grau – Cordel branco-verde
Mestre 2º Grau – Cordel branco-amarelo
Mestre 3º Grau – Cordel branco-azul
Mestre 4º Grau – Cordel branco
Obs os níveis de graduação de mestre foram adotados pelo conselho nacional de desporto da confederação brasileira de pugilismo para melhor organização dos capoeiristas na época em que foi elaborado Regulamentos Técnico oficial da Capoeira, ficando livre a escolha de cada grupo referente à graduação de mestre.
Nota: A liga Brasileira da capoeira cordel vermelho tem seu sistema de graduação com base nas dez bandeiras arvoradas em solo Brasileiro
Vestuário
O vestuário do capoeirista para intervir em qualquer competição oficial, consiste em:
a) calça branca, em helanca ou brim ou tecido similar, cuja bainha alcance o tornozelo, atada à cintura pelo cordel indicativo da classe a que pertence o atleta. É proibido o uso de calça de outra cor que não seja branca e bem assim o uso de cintos, bolsos, fivelas etc.;
b) o capoeirista vestirá camisa branca de malha, tendo estampado no peito o escudo de sua entidade;
c) nas competições individuais e por equipes, o atleta deve participar das lutas sem o cordel de classificação.
Características dos cordéis de classificação:
O cordel de classificação é confeccionado com o fio de seda chamado rabo de rato ou similar.
O seu preparo consta de um trançado de nove fios, ou seja, três grupos de três fios. Faltando 10cm. Para as extremidades do cordel, serão dadas três laçadas.
Como acabamento e amarração, será dado um nó em cada fio.
O cordel será colocado na calça do capoeirista, transpondo as passadeiras, de maneira que seja dado o nó no lado direito da cintura e que fiquem pendentes as duas pontas do cordel.
Os cordéis nas cores verde, amarelo, azul e branco serão constituídos por nove fios da mesma cor.
Os cordéis verde-amarelo, amarelo-azul, branco-verde, branco-amarelo e branco-azul serão confeccionados com seis fios da primeira cor e três da segunda.
O cordel verde-amarelo-azul contará de três fios de cada cor.
Fonte: www.capoeiratorino.it
Capoeira
Existem várias histórias e lendas sobre a origem da Capoeira, mas nenhuma delas tem a documentação necessária para sua confirmação, pois logo após Proclamação da República no governo de Deodoro da Fonseca, todos os documentos referentes a escravidão no Brasil foram destruídos com a desculpa dos republicanos de que queriam apagar essa vergonha da história do Brasil.
Com início da colonização, os portugueses viram no trabalho escravo um instrumento para o desenvolvimento desejado por eles. Tentaram, no começo, escravizar e explorar o trabalho dos indígenas que aqui já viviam, mas as características físicas e culturais, somadas à resistência ao trabalho cativo por parte dos índios, acabou não dando o resultado esperado, e a saída encontrada pelos colonizadores foi a escravidão negra, o tráfico de homens negros, trazidos do continente africano para o início de grande saga que marcou a sociedade brasileira.
Ao iniciar-se o tráfico de escravos para a América, dos negros aprisionados na África das mais variadas raças que eram trazidos e vendidos para o trabalho forçado em regime de completa escravidão, e entre elas encontramos os Gêges, Nagôs e Hauras, que se confundem com os bantu, procedentes em sua maior parte de Angola, do Congo, de Benguela, de Cambinda, de Mossamedes que foram trazidos contra sua vontade mas, naturalmente, trouxeram sua cultura, sua vivência e, com ela, a semente da liberdade que nunca morreu, mesmo na terra marcada pelos horrores da escravidão.
E que chegavam no Brasil atraves dos três maiores centros de importação da mercadoria negra: Recife, Salvador e Rio de Janeiro e eram destribuidos atraves das lavoura, aos encargos domésticos dos senhores brancos e ao trabalho nas minas, e para tornar o negro escravo os escravistas suprimiam sua cultura, sua alma e torturavam. pois somente se interessavam pelo corpo e sua força de trabalho. porém esta situação desumana a que foi submetido o negro, não foi suficiente para suprimir sua condição de ser inteiro, de corpo e alma.
É essa cultura era guardada no corpo, na mente, na vivência histórica do povo e transmitida há séculos através das gerações e que se manifestava-se por intermédio da música, da dança, da comida, da filosofia e da religião, e como o negro nunca deixou de praticar sua cultura, era comum, durante o período da escravidão, que se juntassem grupos de homens e mulheres para a cantoria, para a dança e mesmo para o culto aos orixás que também são saudados com ritmos e cantos.
E neste período e que nasce a capoeira, e segundo alguns autores, criada pelos escravos do grupo Bantú-Angoleses e Gongoleses, e nasceu conjugado aos movimentos de danças, os encontros festivos ou místicos e passaram também a ser mais uma oportunidade para a sua prática.
Já que esses encontros, principalmente os festivos, não eram reprimidos pelos donos de escravos, assim a Capoeira ganhou o acompanhamento de cantos e ritmos que acabaram incorporados eram os disponíveis e já conhecidos pelo negro com destaque para o berimbau, o atabaque e o agogô.
Mas foi o berimbau que ficou como uma espécie de símbolo da Capoeira, desta forma, o berimbau e considerado o mestre dos mestres na Capoeira, ganhou importância nas lutas pelas suas possibilidades rítmicas e sonoras, ganhou a função de comandar o jogo da capoeira com seus diferentes toques. Então, ao som dos instrumentos, palmas e cantorias, o negro recriava o seu universo cultural, cultivava o seu misticismo, alegrava-se ou lamentava-se e ainda se preparava para a luta, e no momento em que os feitores e capatazes passavam ao lado da festança eles acreditavam ser apenas um encontro para a “dança de Angola”, que recebia esse nome em função da nação africana que mais cedeu negros para o tráfico de escravos.
E no momento em que eles se afastavam, os negros intensificava-se o treinamento e aparelhava-se cada vez mais para lutar, mesmo que um feitor parasse e ficasse admirando a dança, dificilmente compreenderia que aqueles movimentos, executados com leveza dos felinos e com a plástica de um bailarino, pudesse trazer, no seu conjunto, poderosos golpes desequilibrantes, traumatizantes e rápidos, e como nenhum povo vive eternamente sob o jogo da escravidão sem se revoltar, com o negro no Brasil não foi diferente, pois suas primeiras reações contra o cativeiro foram as fugas e as revoltas individuais e desorganizadas.
Com o tempo, sentiu a necessidade de organizar sua resistência contra o opressor e passou a planejar as fugas e a pensar as formas de luta que travaria para se libertar e para isto utilizaram a capeira, e é de aceitação geral a hipótese do jogo de agilidade corporal ter sido o instrumento utilizado pelos escravos fugitivos na defesa contra seus perseguidores, representados pela figura do capitão do mato.
E foi no mato que se travava a luta decisiva, e foi desse tipo de mato – a capoeira – onde os negros buscavam refúgio e ofereciam resistência aos perseguidores, que surgiu também a polêmica que por longo tempo consumiu em debates intermináveis inúmeros intelectuais que defenderam a teorias quanto à origem da expressão capoeira estabelecida na língua tupy como aquela de onde procederia a vernaculização: caá-puêra (caá = mato; puêra = que já foi) resultaria nos brasileirismos capuíra, capoêra e capoeira.
Fonte: www.segal1945.hpg.ig.com.br
Capoeira
História da Capoeira
O Brasil a partir do século XVI foi palco de uma das maiores violências contra um povo. Mais de dois milhões de negros foram trazidos da África, pelos colonizadores portugueses, para se tornarem escravos nas lavouras da cana-de-açúcar. Tribos inteiras foram subjugadas e obrigadas a cruzar o oceano como animais em grandes galeotas chamadas de navios negreiros. Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro foram os portos finais da maior parte desse tráfico.
Ao contrário do que muitos pensam, os negros não aceitaram pacificamente o cativeiro; a história brasileira está cheia de episódios onde os escravos se rebelaram contra a humilhante situação em que se encontravam. Uma das formas dessa resistência foi o quilombo; comunidades organizadas pelos negros fugitivos, em locais de difícil acesso. Geralmente em pontos altos das matas. O maior desses quilombos estabeleceu-se em Pernambuco no século XVII, numa região conhecida como Palmares. Uma espécie de Estado africano foi formado. Distribuído em pequenas povoações chamadas mocambos e com uma hierarquia onde no ápice encontrava-se o rei Ganga-Zumbi, Palmares pode ter sido o berço das primeiras manifestações da Capoeira.
Desenvolvida para ser uma defesa, a Capoeira foi sendo ensinada aos negros ainda cativos, por aqueles que eram capturados e voltavam aos engenhos. Para não levantar suspeitas, os movimentos da luta foram sendo adaptados às cantorias e músicas africanas para que parecessem uma dança. Assim, como no Candomblé, cercada de segredos, a Capoeira pode se desenvolver como forma de resistência.
Do campo para a cidade a Capoeira ganhou a malícia dos escravos de ‘ganho’ e dos frequentadores da zona portuária. Na cidade de Salvador, capoeiristas organizados em bandos provocavam arruaças nas festas populares e reforçavam o caráter marginal da luta. Durante décadas a Capoeira foi proibida no Brasil. A liberação da sua prática deu-se apenas na década de 30, quando uma variação da Capoeira (mais para o esporte do que manifestação cultural) foi apresentada ao então presidente, Getúlio Vargas. De lá para cá a Capoeira Angola aperfeiçoou-se na Bahia mantendo fidelidade às tradições, graças principalmente ao seu grande guru, Mestre Pastinha , que jogou Capoeira até os 79 anos, formando gerações de angoleiros .
Elementos da Capoeira Angola
Mestre Pastinha
Já dizia o Mestre Pastinha, “Capoeira Angola é, antes de tudo, luta e luta violenta.” Mas atualmente a Capoeira é normalmente praticada como um esporte ou simplesmente folclore para perservar as tradições.
É claro que entre os praticantes sérios, em seus treinos, os golpes são apenas simulados e a Capoeira torna-se um exercício físico e mental. A violência dos seus golpes, no entanto, não deixa espaço para meio termo; ou joga-se Capoeira ‘para valer’, com as suas sérias consequências ou apenas simula-se um jogo. A possibilidade de enquadrá-la em regras esportivas é inexistente; quem assim o faz está sendo leviano ou não conhece de fato a Capoeira.
Os Golpes
A Capoeira Angola tem um número relativamente pequeno de golpes que podem, no entanto, atingir uma harmoniosa complexidade através de suas variações. Assim como a música tem apenas sete notas .
Os seus principais golpes são: Cabeçada, Rasteira, Rabo de Arraia, Chapa de Frente, Chapa de Costas, Meia Lua e Cutilada de Mão.
A Música
A Capoeira é a única modalidade de luta marcial que se faz acompanhada por instrumentos musicais. Isso deve-se basicamente às suas origens entre os escravos, que dessa forma disfarçavam a prática da luta numa espécie de dança, enganando os senhores de engenho e os capitães-do-mato. No início esse acompanhamento era feito apenas com palmas e toques de tambores. Posteriormente foi introduzido o Berimbau (foto), instrumento composto de uma haste tensionada por um arame, tendo por caixa de ressonância uma cabaça cortada. O som é obtido percutindo-se uma haste no arame; pode-se variar o som abafando-se o som da cabaça e (ou) encostando uma moeda de cobre no arame; complementa o instrumento o caxixi, uma cestinha de vime com sementes secas no seu interior.
O Berimbau, um instrumento usado inicialmente por vendedores ambulantes para atrair fregueses, tornou-se instrumento símbolo da Capoeira, conduzindo o jogo com o seu timbre peculiar. Os ritmos são em compasso binário e os andamentos – lento, moderado e rápido são indicados pelos toques do Berimbau. Entre os mais conhecidos estão o São Bento Grande, o São Bento Pequeno (mais rápido), Angola, Santa Maria, o toque de Cavalaria (que servia para avisar a chegada da polícia), o Amazonas e o Iuna.
Numa roda de angoleiros o conjunto rítmico completo é composto por: três berimbaus (um grave – Gunga; um médio e um agudo – Viola); dois pandeiros; um reco-reco; um agogô e um atabaque. A parte musical tem ainda ladainhas que são cantadas e repetidas em coro por todos na roda. Um bom capoeirista tem obrigação de saber tocar e cantar os temas da Capoeira.
O Jogo
“Capoeira é um diálogo de corpos, eu venço quando o meu parceiro não tem mais respostas para as minhas perguntas” – Mestre Moraes. O jogo da Capoeira na forma amistosa, ou seja, na roda é verdadeiramente um diálogo de corpos. Dois capoeiristas se benzem ao pé do Berimbau e iniciam um lento balé de perguntas e respostas corporais, até que um terceiro ‘compre o jogo’ e assim desenvolve-se sucessivamente até que todos entrem na roda.
A Malícia
Elemento básico da Capoeira Angola, a malícia ou mandinga a torna ainda mais perigosa. Essa malandragem que faz que vai e não vai, retira-se e volta rapidamente; essa ginga de corpo que engana o adversário, faz o diferencial da Capoeira em relação às outras artes marciais. Essa é uma característica que não se aprende apenas treinando.
Mestres
Vicente Ferreira Pastinha (1889-1982) – Mestre Pastinha, “mestre da Capoeira de Angola e da cordialidade baiana, ser de alta civilização, homem do povo com toda a sua picardia, é um dos seus ilustres, um de seus obás, de seus chefes. É o primeiro em sua arte; senhor da agilidade e da coragem…” Jorge Amado. Baiano de Salvador, do Pelourinho, Pastinha foi o grande mestre da Capoeira Angola, aperfeiçoando a arte centenária dos escravos. Ele organizou uma escola, estabeleceu um método de ensino com base nas antigas tradições e ainda escreveu o primeiro livro do gênero, onde expõe a sua concepção filosófica. Foi com o Mestre Pastinha que foram instituidas as cores amarelo e preto para o uniforme dos angoleiros e a constituição da bateria composta por três berimbaus, dois pandeiros, um atabaque, um reco-reco e um agogô. “Capoeira é tudo o que a boca come”, dizia ele na sua singular filosofia. Formou capoeiristas como João Grande, João Pequeno, Curió e tantos outros.
Antônio Carlos Moraes
Mestre Caiçara
Uma das lendas da Capoeira; sua história mais parece tirada de livros de ficção. Numa época em que o Pelourinho não tinha o glamour de hoje, Mestre Caiçara ditava as regras num território de prostitutas e cafetões; de traficantes e malandros. Todos tinham que pedir a sua benção. Gravou um dos principais discos da Capoeira Angola onde exemplifica os diversos toques de berimbau, além de cantar ladainhas e sambas de roda. Faleceu em agosto de 1997.
João Pereira dos Santos
Mestre João Pequeno
Aluno do Mestre Pastinha e um dos mais antigos e importantes mestres da Capoeira Angola em atividade. Pela academia do Mestre João Pequeno, no Centro Histórico de Salvador, passaram alguns dos principais angoleiros da nova geração. É possível vê-lo quase todas as noites jogando e ensinando a tradicional arte da Capoeira. Academia de Capoeira Angola de Mestre João Pequeno Centro de Cultura Popular Forte de Santo Antônio – Santo Antônio além do Carmo Salvador – Bahia
João Oliveira dos Santos
Mestre João Grande
Phd Honoris Causa. Um dos principais díscipulos do mestre Pastinha. Por mais de 40 anos o Mestre João Grande tem praticado e ensinado Capoeira Angola. Ele viajou para África, Europa e América do Norte, onde ensina atualmente, em sua academia na cidade de New York. De lá ele continua mantendo o intercâmbio com a Bahia e acompanhando a movimentação da Associação Brasileira de Capoeira Angola.
Fonte: www.abrasoffa.org.br
Capoeira
De arte negra a esporte branco
Introdução
A Capoeira, chamada hoje de “o esporte brasileiro”, ou “a arte marcial brasileira”, é, na realidade, uma rica expressão artística (mistura de luta e dança) que faz parte do patrimônio cultural afro-brasileiro. Depois de sofrer duras perseguições, chega ao Brasil, na primeira metade do nosso século, sob a forma de Capoeira Angola. É a partir desta forma inicial que o famoso Mestre Bimba cria outra variante, a chamada Capoeira Regional, forma que hoje se expande por todo o Brasil, chegando até a outros países.
O presente trabalho propõe oito características que, de acordo com o nosso critério, definem a Capoeira tradicional (Angola) como uma forma artística única, criação afro-brasileira que reflete fielmente as pautas do grupo étnico do qual surge. Como chega até nós, tem aspectos de dança, luta, jogo, música, ritual e mímica A conjunção de todos esses elementos gera um produto que não pode ser classificado atendendo apenas a uma única dessas facetas, sob pena de perder sua originalidade como arte.
Com base nessas características, apresentaremos um rápido panorama do desenvolvimento histórico dessa arte, desde a terceira década do século até nossos dias.
A partir do surgimento da Capoeira Regional, descreveremos as transformações que se vão produzindo – tanto nas práticas como na própria concepçã do que é a Capoeira, à medida que esta se expande para outros grupos sociais e horizontes geográficos. Essas transformações, segundo acreditamos, não escapam à influência da peculiar estruturação de classes da sociedade brasileira e, neste sentido, são comparáveis às que sofreram a religião afro-brasileira com o surgimento da Umbanda.
Essas duas expressões da cultura popular negra, a religião e esse singular jogo/luta/dança, para serem legitimadas e integradas ao sistema, precisam perder várias das características que lhes são próprias, em virtude de sua origem étnica, para adquirirem outros traços que as tornem mais aceitáveis aos olhos das classes dominantes. Podemos então interpretar o aparecimento da Capoeira Regional como um “embranquecimento” da Capoeira tradicional (Angola), seguindo um esquema semelhante ao proposto por Ortiz (1978) para a Umbanda.
Nossa análise baseia-se principalmente em observações feitas em 1983, 1985, 1986 e 1987 (um total de oito meses) nas academias de Capoeira Angola mais importantes da Bahia e em visitas a academias de Capoeira Regional na Bahia, São Paulo, Belo Horizonte, Los Angeles, São Francisco, Nova Iorque e Buenos Aires (1).
Estas observações são complementadas com a bibliografia relativa ao assunto e com nosso aprendizado de Capoeira Angola com o Mestre João Pequeno, na Bahia, nos anos citados, e de Capoeira Regional, desde 1982, principalmente nos Estados Unidos e em Buenos Aires (2).
A Capoeira como arte
As oito características que, segundo nossa maneira de ver, diferenciam a Capoeira Angola e a definem como arte são as seguintes:
1) Malícia: Quase todos os autores (e praticantes) são unânimes em admitir que este é um dos “fundamentos” da Capoeira – a habilidade de surpreender o adversário, de “fechar-se” e evitar ser apanhado de surpresa pelo outro. O bom capoeirista está sempre “fechado” e sabe que a qualquer movimento seu corresponderá um equivalente do adversário, exigindo que esteja preparado até para os mais inesperados.
A picardia no jogo é admirada (e desfrutada) pelo público e pelo próprio adversário. O “angoleiro” distrai seu rival, brinca com ele, engana-o, mostrando-se desprotegido, para ser atacado justamente onde deseja e, assim, lançar seu contra-ataque com mais eficácia.
2) Complementação: Os dois jogadores ficam atentos aos movimentos um do outro e sempre se deslocam, atacam ou se defendem em função do que fizer o adversário, ou para provocar determinado movimento deste. Joga-se sempre perto do rival e respondendo a seus movimentos através de ataques, defesas e contra-ataques.
Os capoeiristas não devem entrar em choque direto, porque assim a harmonia do jogo será rompida. É preciso contribuir para criar essa harmonia desenvolvendo o próprio jogo, mas deixando que o adversário possa fazer o seu próprio É preciso jogar e deixar jogar.
3) Jogo baixo: O jogo de Angola tem movimentos predominantemente (mas não apenas) baixos. Isto significa que, embora grande parte dos movimentos requeira que ambas as mãos estejam apoiadas no chão, as pernadas são, em geral, de pouca altura, e as posições de guarda (com as quais se espera o movimento do rival e se prepara o próprio) exigem que as pernas estejam flexionadas e o tronco e a cintura a baixa altura.
Ao contrário do estereótipo, Angola também se joga de pé, mas as pernadas são baixas. Embora predomine o jogo a baixa altura, os movimentos de pé e em posições intermediárias (que permitem passar de um plano alto para outro, baixo) têm importância quase equivalente, já que esta alternância possibilita maior quantidade de movimentos e dá uma dinâmica especial ao jogo.
4) Ausência de violência: Na Capoeira Angola, os jogos, em geral; são exatamente isso – jogos. Pretende-se, sim, atingir o adversário com alguns golpes, evitar que ele nos alcance, mas na Angola bem feita, jogada por mestres e alunos adiantados, a luta (no sentido de atingir o adversário) está sempre inseparavelmente misturada com o jogo. Esta paródia de um combate traz prazer, diverte tanto os que jogam como os que observam. Isto se verifica nos corpos descontraídos e nos rostos sorridentes dos jogadores, e no prazer desfrutado por quem observa. Freqüentemente, quem é (apesar de todos os esforços em contrário) atingido por algum golpe sorri e se diverte com essa picardia de seu adversário, que conseguiu penetrar suas defesas. Certa vez, Canjiquinha, um dos mestres da velha guarda baiana, como comentário apreciativo sobre um dos melhores angoleiros da nova geração, declarou: “Ele joga rindo o tempo todo”. Esta atitude descontraída também é observada na duração dos jogos, muito mais longos do que os da Regional.
Apesar disso, não se deve incorrer no equívoco freqüente de considerar a Capoeira Angola apenas um jogo. É um jogo sim, mas apenas a partir do momento em que ambos os jogadores, respeitando a tradição, decidem divertir-se dentro de uma roda. A violação deste acordo tácito por algum dos adversários pode fazer com que o jogo se transforme em luta. Citando o Mestre João Pequeno, o mais antigo angoleiro dos que ainda ensinam esta arte: “A Capoeira é brincadeira, a Capoeira é festa, é alegria mas, na hora exata, ela é defesa”.
Sem os golpes espetaculares da Capoeira Regional, o angoleiro desde o início aprende a fechar-se, a não deixar resquícios de seus movimentos e a atacar no momento certo. Um bom angoleiro é muito difícil de agarrar e aproveitará a mínima falha ou vacilação de seu adversário para atingi-lo.
5) Movimentos bonitos: Este é um dos elementos mais importantes da Capoeira Angola, e dos menos entendidos. Nesta mistura indissolúvel de luta e jogo, o elemento estético adquire grande importância. Mas é uma estética própria, que surge de um contexto étnico determinado (o afro-brasileiro) e que, por isso, não é bem compreendido e se transforma rapidamente (para não dizer se perde) quando essa forma artística se desloca para outros segmentos sociais que não a compartilham.
Essa característica se soma às anteriores, e, embora o angoleiro procure fazer movimentos bonitos, por causa da importância da malícia, da complementação e união de jogo e luta, nunca, ou quase nunca, os fará pela beleza em si. Os movimentos, embora sempre bonitos, servem como defesa para o deslocamento ou, ainda, para o ataque, e são respostas a movimentos dos adversários. É difícil ver um angoleiro ficar desprotegido por fazer um movimento belo. Ele o fará, mas de forma tal a ficar protegido ou a levar seu adversário a pensar que está. Aí inventará um contra-ataque fulminante. Tampouco interromperán o fluir do jogo para fazer alguma pirueta que não seja exigida.
É importante a idéia de uma estética própria, porque este é um dos aspectos da Capoeira que mais está se perdendo com a incorporação de elementos e modelos provenientes das artes marciais e/ou da ginástica esportiva. Assim, se a técnica da Capoeira Regional requer ou enfatiza os movimentos altos, retos, estilizados, a beleza particular da Capoeira Angola reside em movimentos encolhidos, fechados, para dar pouco espaço ao adversário, mas com um perfeito controle do corpo, para desarmá-los ou transformá-los segundo o momento o exija. A expressão do rosto, a gestualidade das mãos e braços, a ginga mais dançada e, freqüentemente, quase substituída por passos do bailado de outras manifestações negras, a cadência geral dos movimentos – tudo isso é parte importante dessa estética (quase impossível de descrever adequadamente por escrito), que reflete fielmente sua origem social e cultural.
6 ) Música lenta: A Capoeira Angola é cadenciada e se realiza com um ritmo lento, em comparação com o de outras variantes. É um jogo de domínio do corpo, mas também da mente. Num bom aprendizado, os movimentos de um jogo são esmiuçados e as várias possibilidades de ação estudadas, como num jogo de xadrez. A descontração do corpo e os movimentos lentos permitem que os jogos de Angola sejam muito mais demorados que os da Regional.
7) Importância do ritual: A Capoeira é um jogo com regras não escritas mas que, assim mesmo, estão presentes e regem seu desenrolar. No caso da Angola, o conhecimento dessas regras (que regem um número de aspectos muito mais diversificado do que em outras variantes) é muito importante. Não se pode ser bom angoleiro quando não se sabe direito quando sair do pé do berimbau, que gestos invocando proteção se realizam antes disso, ou como se faz adequadamente uma “pedida de aú”. A infração a estas regras provocará gestos de desaprovação entre os assistentes, ou o infrator será ridicularizado. Como no Candomblé, no qual saber que cantiga cantar no momento adequado demonstra conhecimento, “estar por dentro” desta manifestação da cultura popular, assim também acontece com a Capoeira. A correta apreciação do que está acontecendo num jogo e de como atuar com relação a isto também é motivo de orgulho e prestígio dentro do grupo.
8) Teatratidade: Este é outro aspecto geralmente relegado quando se fala de Capoeira. Na prática, cada vez mais é deixado de lado como coisa do passado, próprio da Capoeira classificada como “folclore”.
No entanto, as expressões do rosto, os movimentos das mãos, fingindo medo, distração, alegria, conviidando o adversário a jogar ou distraindo sua atenção; a maneira como certas canções são gestualizadas; tudo isso faz parte da essência da Capoeira Angola.
Assim, desde antes do início do jogo propriamente dito, ao pé do berimbau, um dos jogadores pode cantar uma ladainha, expressando sua posição com relação ao mundo, da roda ou de seu adversário. Se este não responde com outra, alusiva à sua mensagem, então se passará ao canto de entrada, durante o qual se fará sinais com gestos em direção ao alto (ao cantar “Viva meu Deus), ao mestre (“Viva meu Mestre”), ao adversário (“é mandingueiro”, ou “sabe jogar”), para os lados (“joga aqui pra cá”) ou em torno (“pelo mundo afora”). Em seguida, o rival será convidado a sair e começará o jogo propriamente dito. Ao começar o canto de entrada, também podem ser feitos gestos que invocam a proteção divina (sinal da cruz, traçar o signo de Salomão – estrela de seis pontas – no chão, juntar as mãos, olhando para o alto) para o jogo que se realizará. Dá-se a mão ao adversário e este é convidado (ao terminar o canto de entrada e começarem as cantigas) a jogar. Isto não é feito necessariamente sempre assim, mas se a intenção é jogar como se deve, serão respeitadas várias dessas formas.
Em seguida, durante o jogo, as expressões do rosto, os gestos das mãos, convidam o oponente a jogar, distraem sua atenção, fingem medo e surpresa ante os movimentos dele, alegria ante o prazer de jogar. Um golpe recebido, através da “dramatização” adequada, pode ser incorporado ao fluir do jogo e demonstrará que quem o recebeu o fez com picardia, com o verdadeiro espírito de um angoleiro, que sabe que coisas assim acontecem na vida e as aceita como algo natural.
Esta dramatização do fato pode também servir como disfarce para o próximo golpe que se lançará.
A Capoeira tradicional é como um “teatro mágico”, como bem a define Nestor Capoeira (1985, p109): uma “escola para a vida” que, reproduzindo metaforicamente as situações que o jogador pode encontrar na realidade, prepara-o para melhor encará-las.
Dessa teatralização também podem participar todos os que assistem à roda, não apenas quem joga naquele momento. Como os cantos podem ser iniciados por qualquer um dos participantes, às vezes, através destes, será feita referência (em geral brincalhona) ao que está acontecendo dentro da roda.
Essas oito qualidades, segundo acreditamos, são as que caracterizam a Capoeira Angola atual. São, portanto, também, representativas de como era a Capoeira existente antes de se criar o estilo da Capoeira Regional. Embora a Capoeira Angola também tenha se modificado com a passagem do tempo, conversas com velhos mestres e o jogo de quem, com 60 anos ou mais, ainda a pratica nos dão a demonstração de que a Angola atual conserva muito da tradicional.
A Capoeira é, insistimos, uma forma artística complexa, um jogo-luta, uma dança-ritual-teatro, fruto da criação coletiva de um grupo social determinado – no caso, as camadas populares negras do Brasil. Como tal, deve refletir as características mais gerais do grupo do qual surge. Isto se vê claramente na ênfase que se dá, na Capoeira, à malícia e à picardia.
Estar sempre atento, para aproveitar a menor oportunidade e tirar vantagem (e evitar ser vítima disso), são traços próprios de quem deve esmerar-se na arte de sobreviver com os magros recursos a seu alcance, traços que se observam ainda hoje nas atitudes cotidianas dos setores populares baianos. A picardia se expressa tanto no samba como na Capoeira, na conquista de uma mulher como nos brincalhões duelos verbais, tão peculiares a este setor. É um estilo étnico próprio (Kochman, 1981) que se reflete nas diversas modalidades da cultura grupal.
O que acontece quando uma arte que reflete as características culturais de um grupo começa a estender-se para fora dele, chegando a outras camadas sociais e a diversos contextos geográficos? Tem; forçosamente, de mudar. Mas a mudança, embora inevitável, quando se trata de qualquer manifestação social e cultural (para uma crítica pormenorizada das visões estáticas de outros aspectos da cultura afro-brasileira, neste caso o Candomblé, ver Frigerio, 1983), também vai expressar as assimétricas relações de poder existentes na sociedade. Quem tem maior poder econômico e social poderá com maior facilidade influir no processo de mudança, impondo seus valores e visões de mundo.
Ainda considerando os fatores sociais como condicionadores de todo o processo de mudança, ao analisar a transformação da Capoeira não se pode perder de vista a influência que um homem teve sobre esse processo. Idolatrado pelos praticantes da Capoeira Regional, menosprezado ou ignorado pelos angoleiros, toda a evolução posterior da arte tem como ponto de referência inevitável o Mestre Bimba.
A Capoeira como luta
Todos os autores que já escreveram sobre Capoeira (Rego, 1968; Moura, 1980; Almeida, 1981 e 1986; Capoeira, 1981 e 1985; Areias, 1983), ao falarem de Mestre Bimba, são unânimes em afirmar que:
1) Bimba era um capoeirista consumado, praticante de Angola (única variante existente na época).
2) Achando que essa modalidade deixava “muito a desejar em termos de luta” (Itapoan, 1982, p. 14), criou um novo estilo, que chamou de “Luta Regional Baiana” (Rego, 1968, p. 269) e que logo passaria a ser conhecido como Capoeira Regional.
3) Foi o primeiro Mestre a abrir uma escola (academia) de Capoeira, em 1932. Seu “Centro de Cultura Física e Capoeira Regional” foi também a primeira escola de Capoeira reconhecida oficialmente pelo governo, em 1937.
4) Acredita-se, também, que ele foi o primeiro Mestre a desenvolver uma metodologia de ensino. Os alunos aprendiam um determinado número de lições e distinguiam-se três níveis de praticantes: iniciantes, “formados” e “formados especializados” (Capoeira, 1985, p. 95). Introduziu, ainda, suas oito famosas “seqüências”, combinações programadas de ataque e defesa praticadas, todas elas, por seus alunos, que, ainda hoje, utilizam amplamente seus ensinamentos
5) Outra característica peculiar a sua escola, e que terá importantes conseqüências para o futuro desenvolvimento da Capoeira, é que um setor majoritário (ou pelo menos importante, já que não há estimativas exatas) de seus alunos pertencia à classe média e alta baiana: “seus discípulos variam desde o homem do povo até políticos, ex-chefes de Estado, doutores, artistas e intelectuais” (Rego, 1968, p. 283). Segundo Mestre Acordeon, ex-aluno seu, “a maior-parte dos capoeiristas de Mestre Bimba estudava em colégios e universidades” (Almeida, 1981, p.45).
Esse fato traz conseqüências diversas. Segundo a maioria dos autores (Rego, 1968, p. 361; Areias, 1983, p. 68; Capoeira, 1985, p. 111; Almeida, 1981, p. 40), é graças a isso que a Capoeira começa a ganhar mais aceitação social, deixando de ser considerada como algo praticado por desqualificados marginais e passando a ser vista como uma manifestação cultural do povo baiano. Em 1937 (Areias, 1983, p. 67), a escola de Bimba, primeiro grupo de Capoeira a realizar uma apresentação no palácio do governo baiano, é reconhecida oficialmente. Com o passar dos anos, o Mestre realiza várias apresentações perante diversas autoridades, e em 1953 apresenta-se para o Presidente Getúlio Vargas.
Outras conseqüências da irrupção de jovens dos setores acomodados baianos na prática da Capoeira são menos positivas. Segundo Areias (1983, p. 69), o fato de que a academia era freqüentada por membros da burguesia acarreta uma alienação com relação ao meio que deu origem à arte (algo parecido, embora sem precisar exatamente a escola, sugere Rego, 1968, p. 290), já que “uma das medidas adotadas (…) foi a de aceitar apenas alunos que tivessem carteira profissional assinada, ou que fossem estudantes ou tivessem alguma outra ocupação reconhecida (…)” (Areias, 1983, p. 69), para evitar a afluência de “maus elementos”. Com a mesma finalidade, “era proibido ao aluno freqüentar e participar das rodas de Capoeira Angola e das rodas de rua” (Areias, 1983, p. 69).
Segundo Mestre Gato, capoeirista antigo:
“Formou-se um grupo de alunos brancos em torno de Bimba que, de certa maneira, até mandavam. Bimba, apesar de ser um homem excepcional, era ignorante.
A verdade é que os negros tinham muito poucas oportunidades de ir para a academia de Bimba aprender Regional. Não estou dizendo que não havia negros praticando Regional, mas, mas para seis negros, havia seiscentos brancos, enquanto em Angola 80% eram negros” (Capoeira, 1985, p. 162).
Com Bimba, então, a Capoeira começa a sofrer uma transformação acelerada. Com ele, deixa de ser brincadeira, vadiação, para ser uma luta propriamente dita. Bimba era um temível lutador e talvez fosse sua fama que atraísse os jovens da burguesia.
A Capoeira de Bimba elimina ou reduz a ênfase nos efeitos cerimoniais, rituais e lúdicos da Capoeira Angola e incorpora novos elementos de luta que, até aquele momento, eram-lhe estranhos: agarramentos, defesas contra estes e certos golpes novos. Não se sabe ao certo a origem desses novos movimentos. Segundo o que próprio Bimba disse a Rego (1968, p. 33), ele “se valeu de golpes de batuque (..) assim como de detalhes da coreografia do maculelê (…) além dos golpes da luta greco-romana, jiu-jitsu, judô e savate (…)”. A influência do batuque chegara até ele através de seu pai, consumado praticante dessa arte popular. A verdadeira influência das lutas orientais e européias na Regional de Bimba é objeto de discussão: Carneiro (1975, p. 14) a enfatiza; seus ex-alunos a negam (Itapoan, 1982) ou minimizam (Almeida, 1981, p. 42); outros autores, como Rego (1968, p. 269) ou Areias (1985, pp. 67 e 70), registram-na, mas não a destacam.
O certo é que, a partir de Bimba, na década de 30, a Capoeira sofre uma grande transformação. Enfatizam-se os aspectos de luta, são acrescentados novos movimentos, aparece um grupo importante de praticantes das classes médias e altas e a Capoeira começa a ser praticada dentro da legalidade.
A Capoeira como “folclore”
Começa, assim, o que poderíamos denominar de processo de legitimação social da Capoeira, já que ela não é mais considerada uma prática de marginais, mas começa a ser valorizada como luta e também como uma tradição cultural baiana.
Começa, também, no entanto, junto com a legitimação, o processo de descaracterização (para usar um vocábulo popular entre os angoleiros) da Capoeira. Sua prática diminui no ambiente que lhe deu origem, a rua e as festas de largo, para evitar associações com o meio popular, com seu passado turvo, e passa-se a praticá-la em recintos fechados, escolas que servem como meio de vida para os mestres.
Um dos fatores que mais contribuem para sua descaracterização é (Rego, 1968, p. 361) o próprio órgão municipal de turismo da Bahia. Este programa freqüentes apresentações para turistas, e as academias começam a disputar entre os favores da entidade, acrescentando ingredientes diferentes (samba de roda, pilhérias etc.) a suas apresentações, a fim de torná-las mais agradáveis para o turista.
Assim a Capoeira se “folcloriza”. Em vez de se impor como uma manifestação cultural popular, com características próprias, apresenta-se uma imagem adulterada da mesma, procurando o que mais impressione e agrade o turista.
A capoeira como esporte
Na década de 60, a Bahia continuava sendo o centro nevrálgico da Capoeira. Mas, por essa época, muitos Mestres, atraídos pelas possibilidades econômicas do Sul, começaram a emigrar para o Rio de Janeiro e São Paulo. A Capoeira, aos poucos, espalhava-se pelo Brasil inteiro.
Fora de seu contexto geográfico e social, distante de suas raízes negras e baianas, a Capoeira já não pode ser praticada como uma manifestação artística espontânea, e tampouco estereotipada como folclore. Também não pode ser uma luta ao estilo de Bimba, que desafiava “qualquer lutador, de qualquer luta, a enfrentá-lo com sua Regional” (Itapoan, 1982, p. 16) e que treinava esquivando-se de pedras jogadas por seus alunos e de navalhas suspensas por um fio (Itapoan, 1982, p 39).
Começa então a ganhar popularidade a idéia de que, devidamente regulamentada, a Capoeira poderia ganhar um lugar junto às artes marciais orientais, já aceitas pela sociedade brasileira. Passaria, assim, a ser “a arte marcial brasileira”, uma luta esportiva com competições regulamentadas.
Surgem, assim, em fins da década de sessenta, os primeiros campeonatos e tentativas de regulamentação da Capoeira. Em 1968 e 1969, realizam-se, numa base da Força Aérea, no Rio de Janeiro, o primeiro e o segundo simpósios brasileiros de Capoeira. Neles, tentou-se “criar uma única nomenclatura para os golpes, um único sistema de graduação de alunos, critérios para graduação de Mestres, tudo com a intenção de fundar federações de Capoeira (…) e transformá-la no esporte nacional (Capoeira, 1985, p. 132). Naquela mesma época, realizam-se na Bahia os primeiros campeonatos de Capoeira.
Em 1972, a Capoeira é declarada “esporte” pelo Conselho Nacional de Desportos, e sua prática, como tal, é regulamentada oficialmente, através da Confederação brasileira de Pugilismo. Em 1974, é criada a primeira Federação de Capoeira em São Paulo, e em 1984, a segunda, no Rio de Janeiro. Falta ainda surgir outra, num terceiro estado, para que se possa criar a Confederação Nacional de Capoeira, livrando-a da tutela do pugilismo. Em meados da década de 70 realizam-se também os primeiros campeonatos nacionais de Capoeira.
Esse desenvolvimento da Capoeira/esporte acarreta várias conseqüências para a prática e a concepção vigente quanto a esta atividade.
Entre elas, destacamos:
1) Uma crescente burocratização: A Capoeira, para poder ser considerada esporte, tem de ser competitiva e regulamentada (Capoeira, 1985, p. 147), tornando-se necessário, portanto, que existam associações, federações e uma confederação que, agrupando-as, consagre um regulamento único para a competição, o ensino da atividade e os critérios de graduação de Mestres. Tudo isso conduz a uma burocratização crescente e a uma submissão do esporte/luta à política oficial, já que as federações dependem, em última instância, do Conselho Nacional de Desportos.
Os torneios, a regulamentação e as federações provocaram uma grande controvérsia nos últimos 15 anos. Os torneios tiveram bastante aceitação, mas não a organização de federações. Em grande parte, os capoeiristas não estão filiados às duas existentes, por não estarem de acordo com o direito que elas se arrogam de deter o monopólio da fiscalização da prática. Como toda atividade de origem popular, não codificada, existem diferentes concepções em torno do que ela é e de como deve ser praticada e ensinada. Zelosos de sua individualidade -que a tradição da própria arte fomenta -, os Mestres não querem ser controlados por uma federação.
2) A incorporação de elementos das artes marciais orientais: A capoeira é definida globalmente como esporte mas, por suas características, é considerada uma luta. O uso predominante das pernas faz com que, dentro das lutas/esportes, seja equiparada às artes marciais orientais, mais do que ao boxe ou à luta greco-romana, por exemplo. Assim, é considerada a “arte marcial brasileira”. Esta definição é vantajosa, já que apela não apenas para o nacionalismo mas também para a legitimidade que s outras artes marciais conseguiram. Ao tomá-las como modelo (consciente ou não) a ser imitado, a Capoeira incorpora elementos que as caracterizam: o uniforme branco, a prática de pés descalços, o uso de cordões para classificar diferentes etapas do aprendizado, a atitude séria e marcial durante os treinos, a saudação ritual (em posição marcial) no início e no fim da aula. Também foram acrescentados pontapés e golpes de mão que, tradicionalmente, não existiam na Capoeira, modificou-se a execução de certos golpes que já existiam, tornando-os “mais técnicos” (portanto, mais parecidos com os do karatê), introduziram-se técnicas de “defesa pessoal” e, às vezes, até são utilizadas “guardas” com nítida influência oriental durante os jogos e práticas.
Os torneios também parecem estruturados dentro desse modelo, com quatro juízes, bandeiras para anunciar as faltas de cada praticante etc. É mantido o uso do berimbau durante a competição, mas com uma função meramente simbólica, já que parece não ter a menor influência sobre o jogo (que já não é um jogo, mas sim uma luta, com contato).
A arte marcial brasileira, então, para gozar do prestígio das outras artes marciais mais bem-sucedidas, precisa ser cada vez menos brasileira, perdendo suas características próprias e incorporando outras que lhe são alheias. Influi também, neste processo, o fato de que os mais fervorosos defensores da Capoeira/esporte são professores de educação física e/ou especialistas em alguma arte marcial oriental. Este currículo e esta influência são claramente observados numa recente publicação de difusão maciça sobre Capoeira (Pinatti e Oliveira Silva, 1984, cap. II), apresentando várias técnicas (especialmente pp. 14-24 e 50-65) que poderiam ter sido tiradas, foto por foto, de um livro de karatê.
3) Uma cooptação ideológica e política da arte pelo sistema: As raízes populares, negras e contraculturais da Capoeira se perdem para dar lugar a uma Capoeira que “é sinônimo de educação, cultura, civismo e saúde” (Pinatti e Oliveira Silva, 1984, II: Regulamento de Competição, p. 3). Segundo esta visão, a prática da Capoeira, além de diversão, relax para quem apratica, ajuda a desenvolver o poder da vontade, a cultivar a cortesia, e patrocina a moderação da linguagem, coopera com a formação do caráter (…) (Senna, 1980, p13).
Este apelo extremado ao civismo se vê complementado por uma crescente intromissão do militar na prática do esporte/luta. Isto se nota, por exemplo no uso compulsivo do uniforme (que deve estar bem dobrado, passado e limpo”); na postura marcial do “Salve”; na rígida hierarquização que se impõe com o uso dos cordões; nas exaltações da ordem máxima, disciplina rígida e respeito absoluto, a serem mantidos dentro fora do Templo de Capoeira (Senna, 1980, p.19, grifo nosso).
Há aspectos menos formais ou inocentes dentro dessa intromissão do marcial na Capoeira: o desenvolvimeto da Capoeira/arte marcial brasileira se produz durante os anos da última ditadura militar; as primeiras tentativas de homogeneização das práticas e regras (simpósios de 1968 e 1969) foram patrocinados pela Força Aérea; uma das primeiras tentativas de regulamentação e sistematização de Capoeira provém de um mestre que a ensina no Colégio Militar. Dirigentes das federações também foram acusados de tentar integrar a Capoeira (para conseguir alcançar sua legitimação e em troca de dádivas diversas) à ideologia política da ditadura militar que dominou o Brasil de 1964 a 1985 (Areias, 1983, p. 77; Capoeira, 1985, p. 155).
4) Concepções evolucionistas subjacentes: Para certo setor dos praticantes, essa evolução da Capoeira de luta “folclórica” a arte marcial/esporte, é uma evolução natural, necessária: “Em todas as partes do globo, cada povo possui um método mais ou menos elaborado de combater – autodefesa (…) que vai fazendo evoluir o progresso da civilização (…) ” ( Senna, 1980, p. 11).
Segundo essa visão, a partir dessa modalidade de luta popular, que se desenvolveu de forma empírica – portanto considerada “inexata”, “ingênua” -, chega-se ao que muitas vezes é denominado de “Capoeira objetiva”. Nesta, supostamente, através do estudo dos movimentos e do conhecimento científico que possuímos do corpo humano, seriam alcançados movimentos e técnicas com um grau máximo de eficiência. O saber popular negro, “primitivo”, deve assim ser substituído pelo conhecimento “científico” (não esqueçamos de que muitos dos novos Mestres são professores de educação física) que possuem as classes médias, brancas.
“A Capoeira é executada e praticada de forma empírica, intuitiva e perigosa. Seus participantes não se dão conta de que, racionalizada e com um método adequado, muitos seriam os resultados sociais, físicos e espirituais com que ela poderia contribuir decisivamente para a formação do elemento humano (…) Alcancemos o caminho da codificação da Capoeira como esporte e conseguiremos a posição a que chegaram todas as formas naturais de defesa pessoal de vários povos, as chamadas Artes Marciais, que passaram pelas mesmas fases de marginalização, lendas, crenças, fanatismo etc.” (Senna, 1980, p. 14).
Essa concepção evolucionista (e tacitamente racista) está graficamente expressa em Capoeira: A Arte Marcial Brasileira, publicação de grande tiragem, escrita com a assessoria de dirigentes da Federação Paulista de Capoeira. O primeiro volume (Pinatti e Oliveira Silva, 1984, cap. I) consta de duas partes: Capoeira/Cultura e Capoeira/Esporte. Na apresentação da primeira, aparecem quatro capoeiristas negros e o professor, branco. Os capoeiristas negros ilustram aqui as formas como se entra no jogo (as “regras” não escritas), os movimentos básicos e os “movimentos em desuso” (que, parecem ignorá-lo, têm ainda plena vigência nas academias Angola de Salvador). A segunda parte, Capoeira/Esporte, está ilustrada por oito capoeiristas brancos, que mostram as formas de aquecimento (contribuição da educação física) e os movimentos de cintura solta (agarramentos e quedas) desenvolvidos por Bimba. A mensagem é muito clara: a Capoeira como cultura pertence aos negros (e aqui só entram os movimentos básicos, e outros já em desuso) e a Capoeira como esporte (com técnicas mais complexas e assessoria da educação física – o pré-aquecimento) pertence aos brancos. Seguindo esta linha, o segundo volume (Pinatti e Oliveira Silva, 1984, cap. II) desenvolve movimentos de ataque e defesa (luta) que são ilustrados por sete capoeiristas brancos e um mulato (o professor). Desses oito capoeiristas, seis são professores de educação física, confirmando a intromissão de uma disciplina na outra.
Essa versão da passagem da Capoeira, de cultura negra, para esporte branco é basicamente correta, faltando mencionar o fato de que se realiza uma valoração ideológica: a Capoeira como cultura é igualada ao “folclore” e este, estereotipado, como algo pitoresco, estático, do passado. Por isso se pergunta, na mesma publicação: “Será que [a Capoeira] sobreviverá e se massificará como manifestação exclusivamente folclórica? Quantas academias de folclore se conhecem?” (A. Ghiberti em Pinatti e Oliveira Silva, 1984, cap. I, p. 65). A Capoeira, para estes autores, só pode sobreviver regulamentada como esporte, ou seja, obedecendo às pautas da classe dominante. Esta apreciação é mascarada como algo necessário, que está “na natureza das coisas”.
Tendências atuais da Capoeira
Qual a influência desse desenvolvimento da Capoeira esporte/arte marcial sobre os elementos que, segundo propusemos no início deste trabalho, caracterizam a Capoeira como arte original?
1) Malícia: Este é um dos aspectos que a Capoeira atual mais perdeu. Quanto a isto, os velhos Mestres, na maioria, são unânimes (Capoeira, 1985, pp. 166-8) em ressaltar que, agora, a ênfase recai na velocidade, na força e nos movimentos acrobáticos, em detrimento da burla e da picardia. Somente depois de vários anos de prática, e de acúmulo de experiência, é que os capoeiristas que praticam esta modalidade adquirem algo da malícia. Nas academias de Angola existentes, os alunos desenvolvem esta qualidade desde o princípio.
2) Complementação: A sincronização, o fluir do jogo e o estímulo-resposta da Capoeira tradicional tampouco são enfatizados nos jogos. A tendência é jogar mais afastado, seja por causa da maior rapidez dos movimentos, e pelo fato de estes serem mais espetaculares, seja pela crescente introdução de movimentos acrobáticos no jogo. Já estes, embora lhe proporcionem a característica de ser um jogo muito vistoso, quebram totalmente a complementação, já que, em geral, não são feitos como resposta a um movimento do adversário, mas sim para o próprio brilho. Na forma mais extremada, encontramos dois praticantes que exibem juntos, mas individualmente, sua destreza física, em vez de jogarem um com o outro.
3) Jogo baixo: Embora não se possa falar, atualmente, de jogo baixo propriamente dito, sem dúvida existe algo que ainda caracteriza e diferencia a Capoeira de outras artes marciais – o uso freqüente de ataques e defesas realizados abaixando-se até o chão.
Provavelmente, no entanto (e sem querer), a maior “descaracterização” (para empregar o termo popular entre os angoleiros baianos) da Capoeira tradicional se dá, justamente, quando praticantes claramente acostumados com a Regional fazem jogos de Angola – fazem-no respondendo ao estereótipo vigente de que o jogo de Angola é algo lindo, porém “passado”, sem vigência ou valor como luta, e também sem saber como este jogo realmente é. Jogam lento, mas todo o tempo abaixados (ignorando, como dissemos no início, que Angola utiliza movimentos de pé e em posições intermediárias), e o que fazem, basicamente, são movimentos de destreza física próximos do chão, sem buscar maior complementação com o adversário ou considerar que, na realidade, deveriam também estar lutando. De modo geral, quando há roda, começa-se com o jogo de Angola, lento, “um jogo” (ou seja, sem maior importância), e logo se passa para a Capoeira “a sério”, a Regional.
4) Ausência de violência: A ênfase na luta e a Capoeira identificada exclusivamente como arte marcial, em detrimento dos outros aspectos, faz com que a violência esteja cada vez mais presente nos jogos. Já não se joga “com” um adversário, mas “contra” ele.
5) Movimentos bonitos: A estética continua sendo importante e prossegue a busca de beleza nos movimentos, mas a concepção de beleza que se tem é totalmente diferente. A beleza que se busca nos movimentos corresponde, como dissemos no início deste trabalho, a uma estética diferente. O modelo a imitar, com as pernadas, é o das artes marciais orientais e, no aspecto acrobático, o da ginástica esportiva.
Há, além disso, uma ênfase nos movimentos bonitos pela beleza em si, desprovidos de qualquer intenção de deslocamento, ataque ou defesa. Isto não acontece com a Capoeira Angola, na qual todos os movimentos, por mais que se pretenda torná-los bonitos, têm um objetivo. A pirueta bonita, mas sem outro propósito que não seja o visual, ajuda a quebrar a complementação do jogo.
6) Música lenta: Utilizam-se (ou deveriam ser utilizados, já que isto nem sempre é respeiado) diferentes ritmos para diferentes tipos de jogo. A Regional, no entanto, caracteriza-se por seus ritmos rápidos.
7) Importância do ritual: Embora em menor quantidade que na Capoeira tradicional, continuam existindo regras não escritas para o correto desempenho do jogo. Há, no entanto, certos aspectos que poderíamos classificar como ritualísticos que raras vezes são vistos fora das academias de Angola (como o denominado “pedida de aú”, ou “chamada de Angola”), e também gestos rituais próprios da Capoeira tradicional que, talvez por desconhecimento, má interpretação ou, ainda, reinterpretação, são substituídos por outros. Como exemplo, observamos que está bastante disseminado no Sul o costume de “pedir a bença do berimbau”, que consiste em levar a mão até o extremo inferior do berimbau e, em seguida, fazer o sinal da cruz, antes de partir para o jogo. Isto substitui todos os gestos que, no mesmo momento, realiza o angoleiro, invocando proteção (trazer o signo de Salomão etc.). No Sul, também, toca-se o chão em frente ao berimbau, imediatamente depois de concluir o jogo, costume que tampouco se observa na Capoeira tradicional.
8) Teatralidade: Este é o aspecto que mais se perdeu. O teatral, o pantomínico, na Capoeira, sempre esteve misturado com o ritual, e sobretudo com a malícia, que o sustenta e lhe dá sentido. É por malícia que sai da teatralização, enganoso e inesperado, o ataque certeiro. Reduzida a parte ritual (que só tem importância no início do jogo e quase não aparece durante este), tirada a ênfase da malícia e valorizada a luta em si, a teatralização quase desaparece.
As afirmações que fizemos sobre o que acontece com as características originais só podem ser consideradas como um reflexo das tendências gerais na prática da Capoeira. Como já mencionamos, esta ainda é uma atividade que exprime a individualidade de cada Mestre e de cada praticante Por isso é que não vingaram as tentativas de homogeneização de sua prática.
Essas características se mantêm, em graus diferentes, nas diversas academias. Mesmo dentro de cada uma pode haver variações, de indivíduo para indivíduo.
Também há variações de acordo com o tipo de jogo que se adote (devemos lembrar que há diferentes toques de berimbau, que correspondem a distintas formas de jogo) e do contexto em que é realizado (roda fechada, roda aberta, apresentação, torneio etc.).
Há, também, diferenças zonais. Na Bahia, por exemplo, por ter sido o epicentro do desenvolvimento da Capoeira, sempre estarão presentes, por mais que se enfatize o aspecto da luta, a malícia e a teatralização. No Sul, os movimentos estarão mais próximos das artes marciais e da ginástica.
Academias “mais tradicionais” e “menos tradicionais”
Se é difícil estabelecer uma classificação rígida das academias, o mais acertado, então, seria defender a existência de um continuum unindo dois pólos ideais, entre os quais poderíamos classificá-las ou situá-las de acordo com a medida em que a Capoeira praticada por elas conserva as características apontadas por nós como tradicionais. Um esquema parecido é proposto por Ortiz (1978, p. 88) ao analisar a transformação sofrida pelas religiões afro-brasileiras, em especial com o surgimento da Umbanda.
Então, existirá um pólo “mais tradicional”, em que a Capoeira praticada conservaria em maior medida as oito características propostas como típicas da Capoeira tradicional; e outro, “menos tradicional”, em que estas características estariam pouco presentes (pouca malícia, pouca complementação, ênfase na luta, violência, movimentos bonitos segundo a estética branca, pouca ritualização e teatralização etc).
Vimo-nos quase tentados a chamar a um dos pólos de Capoeira Angola e ao outro de Capoeira Regional. Mas, como só existem raríssimas academias de Angola no Brasil, e como a Capoeira Regional passou a ser a capoeira neste país, pareceu-nos mais adequada a nomenclatura finalmente proposta. Fica entendido que as academias de Angola estariam situadas no extremo “mais tradicional” da tipologia. Isto não impede que uma academia, por mais que seja de Regional, embora respeite as características desta, também se aproxime do outro pólo. Por exemplo, as opiniões de Mestre Atanilo (um dos discípulos mais antigos de Bimba) sobre a Capoeira atual (Capoeira, 1985, pp. 168-169) poderiam ter sido subscritas por qualquer angoleiro. Depoimentos recolhidos em Salvador demonstram também que as práticas de Bimba eram muito mais parecidas com as de Angola do que as atuais.
Seria interessante verificar, como propõe Ortiz para sua tipologia (Ortiz, 1968, p. 88), se também não poderia a nossa ser relacionada com as diferenças de classe existentes na sociedade, ou seja, se as academias “mais tradicionais” são mais freqüentadas pelas classes mais populares e as “menos tradicionais” pelas classes médias e, “na medida em que a linha de classe coincida com a linha de cor” (Ortiz, 1978, p. 89), verificar se os negros tendem a freqüentar mais o primeiro tipo de academia. Seguramente, haveria também uma diferenciação geográfica: as academias da Bahia podem ser situadas mais perto do pólo “mais tradicional” e as de São Paulo do oposto.
Essa tipologia não pretende ser valorativa, implicando, de alguma forma, que as academias “menos tradicionais” sejam piores do que as “tradicionais.” É certo, no entanto, que a Capoeira praticada nas primeiras perdeu várias das características que a configuravam como forma artística própria de um povo, o afro-brasileiro.
Este fato se agrava quando se justifica esta perda como algo natural e necessário para a evolução desta arte, quando se propõe como “natural” o desenvolvimento da Capoeira de “luta ingênua”, “folclórica,” (negra) para “arte marcial/esporte”, “objetiva” (branca). Ao proceder-se assim, mascara-se a relação assimétrica de poder existente na sociedade e se justifica (mediante uma ideologia racista e evolucionista) a apropriação da arte de um grupo étnico por outro e a mutilação e perda da memória e da identidade desse grupo.
Umbanda e Capoeira regional: dois desenvolvimentos paralelos?
Depois de esboçar um breve panorama do desenvolvimento da Capoeira em nosso século, e de assinalar os condicionamentos sociais que influíram nesse desenvolvimento, acreditamos que uma comparação com a evolução das religiões afro-brasileiras (especialmente com o surgimento da Umbanda) pode ser altamente instrutiva. Sem tentar equiparar exatamente a Umbanda com a Capoeira Regional, há certos paralelismos óbvios no desenvolvimento de ambas, demonstrando que as mesmas forças sociais foram acionadas nos dois casos, principalmente o impulso para um “embranquecimento” das expressões culturais negras.
Como afirmamos anteriormente, não pretendemos negar a essas novas manifestações mestiças sua importância ou valor, já que sua ampla aceitação popular mostra que, além dos interesses de classe que possam ter causado seu aparecimento (ou ter influído neste), constituem, atualmente, manifestações autênticas da cultura popular brasileira. No entanto, sustentamos que têm, efetivamente (ou lhes são conferidas), conotações ideológicas, quando são utilizadas para monopolizar a legitimidade na área que lhes diz respeito, ou são apresentadas como meta à qual, inevitavelmente, devem aspirar as expressões negras que lhes deram origem (por exemplo, quando se clama que a Umbanda é religião e o Candomblé, ou qualquer variante ortodoxa, é superstição, ou que a Capoeira Regional é uma arte marcial e a Capoeira mais tradicional “apenas” folclore).
Nossa análise deverá, forçosamente, ser superficial, mas acreditamos que pode proporcionar pistas interessantes a serem aprofundadas em trabalhos posteriores.
As religiões afro-brasileiras, durante o fim do século passado e parte da metade deste, foram perseguidas e reprimidas pela polícia. Isto se devia ao fato de que o uso de tambores, as danças, os transes, os sacrifícios de animais, a ênfase em melhorar a vida dos adeptos através de meios sobrenaturais (adivinhação, oferendas, trabalhos) eram todos elementos que caracterizavam a religiosidade africana, mas não coincidiam com a visão dominante, branca e católica do que deveria ser uma religião. Seus praticantes, negros e pertencentes às camadas sociais mais baixas, desprovidos de poder político, não podiam opor argumentos à visão racista que os considerava, junto com suas manifestações culturais, um estigma do qual a sociedade brasileira deveria livrar-se para “progredir”.
Durante a segunda metade do século passado, o Espiritismo de Allan Kardec se populariza na sociedade brasileira. Nas classes baixas, mistura-se com as práticas afro-brasileiras, influindo enormemente sobre elas. Surge assim a Macumba carioca, o Candomblé de Caboclos baiano etc. Nas classes médias, impõe-se uma versão mais ortodoxa do Kardecismo.
Durante meados da década de 20, um grupo de homens de classe média, brancos, de procedência espírita, insatisfeitos com o que consideravam uma ênfase desproporcional dada aos aspectos doutrinário e intelectual por parte do Kardecismo, começam a freqüentar os centros afro-brasileiros da periferia. Somando à sua bagagem espírita uma ênfase no utilitário e em diferentes aspectos do colorido ritual desses centros, criam uma nova religião que denominam Umbanda (Brown, 1977, p. 33). Esta “Umbanda Branca,”, ou “Pura”, como é apresentada, elimina elementos de origem africana desses centros: sacrifícios de animais, oferendas materiais, tambores, danças. Estes aspectos, aos quais consideravam “primitivos”, chocavam-se com seus valores de classe média.
Esse grupo, a partir de uma casa mãe, começa a fundar outros centros e, em 1939, cria a primeira Federação de Umbanda, com o objetivo de proteger seus filiados contra a perseguição da polícia. Em 1941, realizam o Primeiro Congresso de Espiritismo de Umbanda, no qual propuseram-se a codificar o ritual e a ideologia umbandistas e deram sua versão da origem da mesma, remontando às antigas civilizações da índia ou do Egito (e não da África, porque, aqui, na opinião deles, os grupos só possuíam uma cultura “rudimentar”) (Brown, 1977, p. 34).
Essa religião, já “brasileira” e expurgada do “afro”, durante certo tempo vê-se restrita, majoritariamente, a núcleos de classe média.
A queda do regime de Vargas possibilita uma aceleração da organização e da difusão da nova religião, através dos meios de comunicação. Multiplicam-se as federações e os líderes de classe média, com sua Umbanda Branca, conseguem maior prestígio e legitimidade para a religião. Este fato, além de sua influência ante políticos locais e a polícia, fazem com que vários centros de menor nível sócio-econômico e com raízes africanas mais fortes entrem em sua esfera de influência, em troca de favores políticos. Por sua vez, os líderes dessas federações de classe média têm de flexibilizar um pouco sua definição de religião, para permitir o ingresso destes centros de classe baixa que, por seu grande número, formavam uma clientela política notável. Para finalidades da década de 50, políticos umbandistas conquistam cargos de vereadores e também de deputados estaduais.
Na década de 60, esses líderes umbandistas de classe média já haviam obtido “uma posição de considerável influência sobre o crescimento da Umbanda no Rio (…) dominavam a apresentação da Umbanda ao público em geral e o processo de sua legitimação e institucionalização dentro da sociedade brasileira (…)” (Brown, 1977, p. 39). Embora não conseguissem unificar os rituais e a ideologia de todos os centros do Rio, sua concepção cresceu por todo o Brasil e teve “um efeito nivelador sobre as tradições regionais de muitas cidades, influenciando-as na direção de uma religião nacional mais uniforme” (Brown, 1977, p. 40).
A ditadura militar que se estabelece em 1964 é benévola com essa nova religião, que considera um possível meio de controle político. “Os militares, rapidamente, tornam-se muito mais visíveis e numerosos, como líderes de centros e federações de Umbanda” (Brown, 1985, p. 35). É sob o governo militar que o registro dos templos passa da jurisdição policial à civil, a Umbanda é reconhecida como religião no censo oficial e muitos de seus feriados religiosos são incorporados aos calendários públicos (Brown, 1985, p. 35).
Assim, a Umbanda, como variante “mais branca” (Ortiz, 1978) da religiosidade afro-brasileira, acomoda-se bem aos valores sociais vigentes e é integrada ao sistema e legitimada. Por esta razão, expande-se nos diferentes níveis sociais e em todas as áreas geográficas, influindo fortemente, ainda, nas outras variantes da religião afro, tanto as mais sincréticas (Batuque do Pará, Pajelança) como as mais ortodoxas (Candomblé da Bahia, Xangô de Recife, Batuque de Porto Alegre).
Não existe, porém, uma única Umbanda apenas. A Umbanda branca, influencia, como dissemos, os centros mais africanizados, mas não chega a impor completamente sua ideologia e ritual. Por isso é que, a partir de Ortiz (1978), reconhece-se, em geral, que se pode agrupar os templos de Umbanda ao longo de um continuum que vai desde os “menos ocidentalizados” (os que conservam vários traços africanos, como tambores, sacrifícios etc.) até os “mais ocidentalizados”, que prescindem desses elementos e adotam uma prática mais parecida com a do espiritismo.
Comparando o desenvolvimento de ambas as expressões populares (a Umbanda e a em 1972 Capoeira Regional), que paralelismos podem ser estabelecidos?
Em ambos os casos, havia uma manifestação cultural de origem africana, praticada majoritariamente por setores sociais mais baixos, nos quais predomina a gente de cor (Capoeira tradicional, Macumba e Candomblé). Estas práticas eram estigmatizadas e perseguidas em virtude de sua origem étnica e social.
Num determinado momento, um grupo de homens das classes mais acomodadas interessa-se por essas manifestações culturais. Assim, em meados da década de 20, um grupo de “kardecistas insatisfeitos” toma elementos dos centros afro-brasileiros e cria a Umbanda. Em meados da década de 30, Mestre Bimba, negro, cria a Capoeira Regional, a partir da tradicional.Sua ênfase na luta, em detrimento de outros elementos culturais, faz com que sua academia passe a ser freqüentada, na maioria, por brancos da classe média.
Essas novas variantes, purgadas de vários de seus elementos negros (a Umbanda não utiliza sacrifícios nem tambores; a Capoeira Regional tira a ênfase do jogo, do ritual e da teatralidade) e praticadas por indivíduos com maior prestígio e poder social, vão aos poucos legitimando-se (cria-se a primeira Federação de Umbanda, em 1939, e a academia de Bimba é reconhecida oficialmente em 1937).
O processo é lento mas, em fins da década de 50, a Umbanda expande-se para vários outros estados, cria no Rio várias federações e elege os primeiros políticos umbandistas. A Capoeira ainda é explorada como “folclore” na Bahia, mas também ganha, como método de luta, cada vez mais adeptos nas classes médias. Começa a emigração de capoeiristas que vão ensinar Capoeira Regional em outros estados.
Em fins da década de 60, a Umbanda expande-se nacionalmente. Sua heterogeneidade ritual e ideológica não impede que seja praticada em quase todo o Brasil e que conceitos seus se infiltrem até nas variantes religiosas regionais mais ortodoxas. O governo militar a favorece como forma de aumentar seu consenso na população. Por outro lado, a Força Aérea da época fomenta simpósios para homogeneizar a prática da Capoeira. Realizam-se os primeiros torneios e se começa a visualizá-la, como esporte. Assim, o governo a reconhece oficialmente em 1972.
Durante a década de 70 e os anos que se seguiram, a Umbanda se fez presente no Brasil inteiro e tornou-se “a religião brasileira”. A Capoeira Regional (que, por causa do ínfimo número de academias que ainda praticam Angola, passou a ser a Capoeira) torna-se a “arte marcial brasileira” e é praticada no Brasil inteiro. Ambas as variantes, com as transformações sofridas, tendo sido renegados os elementos negros que inicialmente as caracterizavam, são integradas ao sistema e legitimadas. O estigma, no entanto, não foi completamente eliminado. Uma crescente burocracia, através de federações cujos dirigentes são, em geral, brancos, tenta regulamentar e depurar ainda mais essas variantes. Mas estas, embora modificadas, ainda têm em seus praticantes individuais grande parte do caráter popular que lhes deu origem e resistem a encaixar-se nos rígidos moldes que lhes impõe o sistema.
ALEJANDRO FRIGERIO
Bibliografia
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Fonte: www.anpocs.org.br
Capoeira
Vantagens
Oferece condicionamento físico para o sistema cardio-vascular e para todos os grupos musculares.
Desenvolve a força, a elasticidade, o equilíbrio, o ritmo e a coordenação motora.
É uma atividade lúdica.
Por ser um esporte praticado por pessoas muito diferentes, incentiva a tolerância.
Riscos
O risco de se praticar a capoeira está relacionado, principalmente, com a qualificação do professor. Um professor bem qualificado tem condições de coordenar um trabalho com pouco desgaste físico.
Período mínimo para fazer efeito
O aprendizado dos movimentos depende muito da pessoa que pratica a capoeira. Quanto aos efeitos físicos, podem ser sentidos rapidamente, pois trata-de de um esporte muito completo.
Gasto calórico
Em uma aula movimentada, pode chegar a 1000kcal/h.
Quem deve fazer
A prática é indicada para pessoas de todas as idades, mas, para crianças, deve ser desenvolvido um trabalho específico. Para garantir a eficácia do exercício, é fundamental fazer uma avaliação física preliminar, e informar ao professor sobre o diagnóstico.
Dicas da especialista
O que mais afasta as pessoas da capoeira é a timidez, o medo da exposição. Mas é preciso que as pessoas entendam que a primeira coisa que aprendemos na capoeira é o jeito certo de cair – e, depois, de levantar.
Paulo Renato Hermógenes
Fonte: www.saudenarede.com.br
Capoeira
Graduações
O sistema hierárquico montado pela Confederação Nacional Brasileira de Capoeira(CNBC), com a combinação das cores da bandeira do Brasil são:
Iniciantes
1°. Estágio |
aluno iniciante | sem cordao |
2°. Estágio |
aluno batizado | verde |
3°. Estágio |
aluno graduado | amarelo |
4°. Estágio |
aluno graduado | azul |
5°. Estágio |
aluno intermediário | verde/amarelo |
6°. Estágio |
aluno adiantado | verde/azul |
7°. Estágio |
aluno estagiário | amarelo/azul |
8°. Estágio | aluno formado | verde/amarelo/azul |
Instrutores
9°. Estágio |
Monitor | verde/branco |
10°. Estágio |
Professor | amarelo/branco |
11°. Estágio |
Contra-Mestre | azul/branco |
12°. Estágio | Mestre | branco |
Superiores e Mestres
13°. Estágio |
Mestre Aspirante | branco/bronze |
14°. Estágio |
Mestre Efetivo | branco/prata |
15°. Estágio |
Mestre de Honra | branco/ouro |
16°. Estágio | Mestríssimo | ouro |
Golpes
Podemos dividir os golpes da capoeira em três categorias, ou seja, em três grupos:
Golpes Traumatizantes
Golpes Desequilibrantes
Golpes Mortais
Golpes Traumatizantes
Bênção
Chapa
Martelo
Queixada
Meia-lua de frente
Armada
Meia-lua solta
Meia-lua de compasso
Rabo de arraia
Chapa Giratória
Parafuso
Gancho
Martelo rodado
Chapa rodada
Ponteira
Cutilada
Galopante
Joelhada
Cabeçada
Chapéu de couro
Eclipse
Vôo de morcego
Godeme
Giro de Costas
Esporão
Martelo de chão
Chapa de costas
Golpes Desequilibrantes
Vingativa
Banda de costas
Arrastão
Boca de calça
Rasteira
Banda
Tesoura de costas
Tesoura de Frente
Tesoura em uma perna
Banda trançada
Apanhada
Balão de lado
Crucifixo
Dentinho
Arqueado
Baianada
Balão cinturado
Gravata baixa
Rasteira de mão
Gravata alta
Tesoura em ambas as pernas
Golpes Mortais
Os que podemos chamar de golpes mortais são todos estes e mais alguns que por ventura apareçam, pois há uma infinidade de golpes na capoeira. Para que um golpe destes seja mortal, basta que ele seja aplicado com maldade em pontos vitais ou mais sensíveis do corpo, como as têmporas, a nuca, o mediano da coluna vertebral, o estômago, os pulmões, o fígado e outros pontos do abdomem ou da cabeça.
Se mal aplicados, estes golpes ou qualquer outro golpe de capoeira poderá ser mortal ou deixar inválido o capoeirista desatento.
Exemplo de um golpe mortal é a PONTEIRA, que se for aplicada com maldade e força na altura do estômago, causa uma hemorragia imediata, sem muito o que se fazer para socorrer a vítima. Outro golpe que pode ser fatal e imediato é o MARTELO CINTURADO que acerta, na maioria das vezes, as costelas do adversário no rumo do baço. Quando acontece um ataque destes, pouco há de se fazer. Geralmente a vítima morre no meio da roda ou até mesmo pode ser atirada para fora da roda, tendo além do traumatismo fatal no baço, fraturas múltiplas devido à queda.
Termos Utilizados nas Rodas de Capoeira
Abadá: Camisolão comprido e folgado usado pelos nagôs, semelhante ao traje nacional de Nigéria. Na Capoeira Abada significa a roupa ou o uniforme do Capoeirista.
Amazonas: Toque de Berimbau.
Angola: Nome de um país africano; um estilo tradicional de capoeira, a primeira capoeira, a mae da capoeira.
Apelido: Nome de Guerra dado para um jogador no curso dele treinamento, às vezes como separa de uma iniciação do batizado. Como exemplo temos Mestre Bimba, Mestre Pastinha, Mestre Itapoan, etc
Aviso: Toque de berimbau usado para avisar a chegada do capitão-do-mato, feitor ou polícia.
Axé: É a boa energia que orixá dá ou nega.
Barravento: Termo náutico: “ladode onde sopra o vento”. designa também o ato de uma perder o equilíbrio do corpo, como se sentisse uma ligeira tontura. Nome em que se dá a um toque litúrgico, nos camdomblés de “nação” Angola. É, também, designativo de um golpe.
Batizado: A cerimônia de iniciação do capoeira; batismo, onde ele faz o seu primeiro jogo oficial jogando com um profsso; evento em que os alunos recebem corda e trocam graduação na capoeira, isso ao toque do berimbau.
Batuque: Jogo semelhante à capoeira onde dois oponentes de pé, um defronte para o outro, dão pernadas, um no outro, cada um tentando derrubar o adversário; o pai de mestre Bimba era capião de batuque; foi a junção do batuque com a angola que Bimba Criou a regional.
Bimba: Mestre de capoeira do passado que criou a capoeira regional; foi um dos capoeiras mais importantes de todos os tempos.
Biriba: Madeira da qual é feita o berimbau.
Cabaça: Utilizado como o resonator no berimbau.
Capitão-do-Mato: Indivíduo que se dedica à captura dos escravos fugidos.
Capoeira: Jogo atlético, constituído por um sistema de ataque e defesa, de caráter individual e origem folclórica genuinamente brasileira, surgido entre os escravos bantos, procedentes de Angola, no Brasil Colônia, e que, apesar de intensamente perseguido até as primeiras décadas do séc. XX, sobreviveu à repressão e atualmente se amplia e se institucionaliza como pratica desportiva regulamentada.
Capoeira de Angola: Capoeira que surgiu na época da escravidão. Possui ritmo lento, trabalha com a ginga e malícia dos jogadores.
Capoeira Regional: Capoeira mais defensiva, onde os movimentos são mais rápidos, há a introdução de golpes de outras lutas e o jogador está quase sempre de pé. Tem caráter desportivo, é praticada com método, exercícios físicos, possui regras e pode ser praticada em campeonatos.
Capoeirista: Um jogador de capoeira
Cavalaria: Toque de berimbau usado na década de 20 para avisar a chegada do esquadrão de cavalaria do temível delegado de Polícia Pedrito (Pedro de Azevedo Gordilho) que teve sua ação contra os adeptos do candomblé e da capoeira no período de 1920 a 1927.
Caxixi: Saquinho de palha, provido de alga, que o tocador de berimbau segura juntamente com a vareta com que tange o instrumento.
Chamada dos Capoeiras: Toque de berimbau avisando os capoeiristas que a roda está se formando.
Cintura Desprezada: Jogo de balão, ou seja, todos os movimentos em que o capoeirista arremessa seu adversário para o chão.
Contragolpe: Contra ataque; para responder para uma iniciativa.
Contramestre: Um instrutor trabalhando sob orientação de um mestre em uma academia.
Corda: Corda feita de lã ou de nylon, que o capoeirista usa amarrada na cintura identificando sua graduação na capoeira ou no seu grupo. No Brasil não há uma homogeneidade entre os grupos de capoeira na forma de graduar os alunos.
Dá Volta ao Mundo: Geralmete quando o capoeira vai ao chão ou esta muito cansado ou alguem compra e ele quer fazer um jogo duro, o capoeira faz um sinal e da uma “volta ao mundo”, ou seja, uma volta na roda sempre no sentido anti-horario, onde para agachado no pé do berimbau e começa a jogar de novo.
Defesa: Movimento defensivo ou resposta de movimento
Desequilibrante: Movimento que desequilibra, derruba o adversário.
Discípulo: Discípulo, estudante de um mestre do capoeira
Dobrão: Moeda utilizada para tocar o berimbau
Esquiva: Movimento de defesa em que o indivíduo flexiona uma perna e estende a outra para a frente encaixando o pé por trás do calcanhar do adversário, inclinando o corpo para o lado da perna flexionada, dando as costas para o golpe, sempre saindo ou se afastando deste.
Formatura: Cerimônia de formatura para um novo mestre do capoeira
Ginga: Balanço do corpo de um lado para outro, ritmado, que exprime cadência ao jogo; o movimento do capoeira fundamental.
Golpe: Greve ou sopro; atacando movimento.
Graduado: É o estagio onde o capoeira já tem um certo domínio da capoeira e já está preparado para dar aulas.
Grão-Mestre: O mais alto nível que um capoeira pode chegar; domínio total da capoeira; existe poucos com este titulo.
Iê: Interjeição que na capoeira significa silêncio e atenção; interjeição usada para interromper o jogo de capoeira na roda ou para substituir os jogadores; corrutela de ê! Uso exclusivo das cantigas de capoeira; .
Iuna: Toque de berimbau sem canto criado por mestre Bimba, jogado por alunos mais avançados onde predomina os floreios na roda, é o “jogo bonito de se ver”.
Jogo: A roda de capoeira; os movimentos que os dois capoeiristas fazem, um com ataque e o outro se defendendo e contra-atacando.
Maculelê: Misto de dança de bastões, de Santo Amaro, remanescente dos antigos cucumbis, incorporada à capoeira e demonstrada em apresentações e cerimônias de batismo; dança guerreira.
Mestre: O capoeira mais com o nível mais elevado de todos, é o professor, é o que cria novas técnicas e ensina a todos os alunos.
Pastinha: Mestre de capoeira muito famoso e um dos mais importantes, pois foi ele que “criou” a capoeira angola, que é a base de toda a capoeira, ele pegou aquela capoeira de rua e deu objetivos e fundamentos passando a ensinar em academias.
Pé do Berimbau: Posição em frente ao berimbau
Roda: Círculo formado por capoeiristas onde duas pessoas, ao centro, jogam capoeira, sendo substituidas por outras ao decorrer do jogo, enquanto as pessoas que estão em volta batem palmas e respondem ao coro cantado e tocado por capoeiristas.
Fonte: www.micropic.com.br
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