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Gostaria de aproveitar a oportunidade que me foi dada, escrever algo sobre cultura e fazer algumas considerações importantes.
É muito comum ouvirmos determinadas pessoas dizerem: “Nossa, aquele fulano é muito culto, tem uma cultuuuuura!” Normalmente, esses comentários na verdade querem expressar que aquele “fulano” estudou ou estuda muito, tem muitos diplomas pendurados nas paredes de seu quarto e/ou escritório.
Não podemos negar que existe o sentido de cultura como sendo “diploma” arraigado e na mente de muitas pessoas.
É importante, porém, sabermos que a cultura no sentido técnico do termo é algo bem mais abrangente do que “diploma”.
José Luiz dos Santos, em seu livro “O que é cultura” (que, aliás, todo ser humano deveria ler de “cabo a rabo”), da Editora Brasiliense, coleção primeiros passos, afirma que Cultura é palavra de origem latina e em seu significado original está ligada às atividades agrícolas.
Vem do verbo latino “colere”, que quer dizer cultivar.”
Cultura, na verdade, não se aprende na escola.
Fosse assim, ter cultura seria sinônimo de saber de cor “um monte” de fórmulas matemáticas, de classificações de espécies de animais, plantas, diversos, nomes de países, suas capitais, suas dimensões geográficas, “etc, etc, etc e tal”.
Cultura é o conjunto de comportamentos, atitudes, crenças, valores característicos de determinada comunidade. “Tecnicamente falando, cultura não é sinônimo de “conhecimento de elite”.
A cultura de uma determinada comunidade se adquire conhecendo a origem, o desenvolvimento e os costumes desta comunidade.
É como se analisássemos, por exemplo, o comportamento atual de uma determinada pessoa e depois fizéssemos uma observação criteriosa de sua vida, desde o berço até a sua idade adulta.
Quem foram seus pais, que tipo de ambiente de formação lhe proporcionaram, qual era o local onde esta pessoa morou durante toda a sua vida, quem foram os seus amigos, que hábitos cultivou.
Muito provavelmente, essas observações possibilitarão encontrar as causas de determinados hábitos, costumes e crenças que esta pessoa tem na atualidade.
Em se tratando de Brasil, se analisarmos toda ou parte de sua história, do descobrimento até os dias de hoje, conseguiremos entender melhor a cultura brasileira.
O Brasil, em sua origem, já começou mal (perdoem-me a franqueza). Ele foi vítima da cobiça, do comodismo, do oportunismo e da covardia portugueses desde o seu descobrimento.
Enquanto nos Estados Unidos, por exemplo, os ingleses foram em busca de um novo lar, uma nova terra para se viver, para se cultivar e em defesa da qual lutar, no Brasil, os portugueses vinham para pegar o máximo de riquezas possível, “enfiar” em seus navios e levar para Portugal, para se tornarem cada vez mais ricos à custa da ingenuidade dos nossos índios, que aceitavam espelhos em troca de nosso ouro, bugigangas em troca de produtos agrícolas de boa ou excelente qualidade. Nosso país não foi cultivado, foi explorado desumana, cruel e até covardemente por oportunistas que não tinham sentimento positivo em relação a nossa terra.
E assim foi passando o tempo para o Brasil, tanto quanto para uma criança que durante a sua infância é explorada, agredida, enganada. Isso ajuda a explicar e entender muito a diferença cultural, social e econômica que existe entre o Brasil e os Estados Unidos hoje, por exemplo.
Como se não bastassem essa informações, temos o privilégio de, se tivermos um pouco de interesse, podermos consultar obras que nos forneçam detalhes importantes de várias etapas pelas quais passou o nosso querido Brasil.
Sérgio Buarque de Holanda, em seu livro “Raízes do Brasil”, apresenta uma obra de inestimável valor, mostrando ser um digníssimo historiador de nossa cultura e ensaísta crítico com talentos evidentes de grande escritor, como observam Antonio Cândido e Evaldo Cabral de Mello, na contra-capa do livro citado, em sua 26ª edição.” Holanda apresenta-nos as diferenças entre as culturas japonesa, a portuguesa e a espanhola (a portuguesa, é claro, foi a que influenciou o Brasil, como todo brasileiro “mais ou menos” bem informado sabe.) e aborda com bastante clareza a diferença da exploração indígena e portuguesa em nossas terras, como se deram a criação das cidades brasileiras e das cidades colonizadas pelos espanhóis, por exemplo. Cita, ainda, com bastante propriedade a cordialidade brasileira. Só para se ter uma idéia da importância de conhecer o livro ”Raízes do Brasil” em sua totalidade, basta citar algumas das conquistas e reconhecimentos do autor no Brasil e no mundo.
Em 1953, foi licenciado no Museu Paulista, assume a cadeira de Estudos Brasileiros, criada na Universidade de Roma. Em 1954, na Suíça, profere uma Conferência focalizando o Brasil na vida americana. Em 1955, foi eleito vice-presidente do Museu de Arte Moderna. Em 1956, leciona História do Brasil na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Sorocaba. Em 1957, assume a cátedra de História da Civilização Brasileira na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Em 1959, participa do 2º Colóquio de Estudos Luso-Brasileiros em Salvador, Bahia. Em 1960, recebe do governo francês a condecoração de “Officer de l’Ordre des Arts et des Lettres” (Oficial da ordem das Artes e das Letras). Em 1963, vai a Santiago, no Chile, dar um curso e organizar seminários sobre a História do Brasil. Em 1965, é convidado pelo governo dos Estados Unidos para presidir diversas conferências nas Universidades de Colúmbia, Harvard e Los Angeles. Participou, em Yale (Estados Unidos) de uma banca de doutoramento e de orientação de seminários.
Isso tudo é apenas uma pequena parte das obras e atuações de Sérgio Buarque de Holanda. É impressionante a intensidade de bagagem cultural que pode ser adquirida com a leitura desta obra, haja vista a habilidade e propriedade com que ele aborda o assunto.
Cristovão Pereira de Farias – Professor de Língua Portuguesa e Inglesa com especialização na área de Linguagem, Texto e Ensino
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