Cartilha da gravidez na adolescência
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Desde 1970, tem aumentado os casos de gravidez na adolescência e diminuído a idade das adolescentes grávidas.
Enquanto isso, a taxa de gravidez em mulheres adultas está caindo. Em 1940, a média de filhos por mulher era de 6. Essa média, calculada no ano de 2000 caiu para 2,3 filhos para cada mulher. Porém, o mesmo não acontece com as adolescentes.
Segundo os dados do IBGE, desde 1980 o número de adolescentes entre 15 e 19 anos grávidas aumentou 15%. Só para ter idéia do que isso significa, são cerca de 700 mil meninas se tornando mães a cada ano no Brasil. Desse total, 1,3% são partos realizados em garotas de 10 a 14 anos.
A gravidez ocorre geralmente entre a primeira e a quinta relação sendo o parto normal a principal causa de internação de brasileiras entre 10 e 14 anos.
Aproximadamente 27% dos partos feitos no SUS (Sistema Único de Saúde) no ano de 1999, foram em adolescentes de 10 a 19 anos, isso quer dizer que a cada 100 partos, 27 foram em adolescentes, dando um total de 756.553, naquele ano.
Cerca de 10% das adolescentes, de acordo com uma pesquisa feita em alguns Estados brasileiros em 1996, tinham pelo menos 2 filhos aos 19 anos.
Entre 1993 e 1999 houve aumento de aproximadamente 30% do número de partos feitos no SUS em adolescentes mais jovens, entre 10 a 14 anos.
Aproximadamente 17% dos homens entre 15 e 24 anos, segundo uma pesquisa feita em alguns Estados brasileiros, em 1996, já engravidaram alguma parceira.
Gravidez na Adolescência
As principais causas da gravidez são: o desconhecimento de métodos anti-concepcionais, a educação dada a adolescente faz com que ela não queira assumir que tem uma vida sexual ativa e por isso não usa métodos ou usa outros de baixa eficiência (coito interrompido, tabelinha) porque esses não deixam “rastros”.
O uso de drogas e bebidas alcóolicas comprometem a contracepção, além das que engravidam para casar-se.
A adolescente tem problemas emocionais devido a mudança rápida em seu corpo ou, como ela esconde a gravidez, o atendimento pré-natal não é adequado.
Podem ocorrer problemas como aborto ou dificuldade na amamentação. Por que acontece a gravidez na adolescência?
Já não causa tanto espanto sabermos que meninas de 10, 11, 12 anos tenham vida sexual ativa, assim como aparecem em consultórios portando alguma doença sexualmente transmissível (DSTs) e ou grávida.
O que levaria as adolescentes a engravidar? Nunca foi tão divulgado os meios para evitar a gravidez como nos dias atuais, e mesmo assim, o número de adolescentes grávidas á cada vez maior.
Porém, são muitos os motivos que tornam uma adolescente mais vulnerável a uma gravidez, mas o principal deles, é a falta de um projeto de vida, a falta de perspectiva futura.
Não podemos dizer que toda gravidez na adolescência é indesejada, indesejadas são as gravidezes que acontecem por abuso sexual ou por falha de métodos anticoncepcionais.
A maioria das gravidezes na adolescência não são planejadas, isto é, acontecem sem intenção, causada por diferentes fatores individuais ou sociais. Porém, não é por isso que a gravidez não vai ser bem vinda.
Existem vários fatores que contribuem com esse quadro:
Os repetidos casos que aparecem nos consultório de psicólogos e médicos, apontam que muitas dessas adolescentes possuem um desejo de serem mães, da qual elas não tem consciencia.
A falta de um projeto de orientação sexual nas escolas, família, comunidade de bairro, igrejas.
A mídia é outro vilão nessa questão, exagerando na erotização do corpo feminino.
Algumas pessoas que são vistas na passarela, revista, cinema e televisão são para os adolescentes verdadeiros ídolos, ídolos esses que passam uma imagem de liberação sexual, e a tendência de um fã é sempre copiar o que seu ídolo faz.
A falta de informação dos pais de adolescentes é um fator fundamental. Não havendo em casa alguém que possa informa-los, que sirva de modelo, que tire suas dúvidas e angústias, como esperar dos adolescentes comportamentos mais adequados? Como querer que eles aguardem o tempo mais adequado para aproveitar a sexualidade como algo bom, saudável e necessário para o ser humano?
Quando acontece de uma adolescente ficar grávida ela deve tomar todos os cuidados normais da gravidez.
Fazer o pré-natal é importantíssimo; é durante o pré-natal que o médico acompanha o desenvolvimento do bebê e da mãe.
Muito Importante: Os especialistas já comprovaram que, se a adolescente grávida fizer o pré-natal corretamente, ela e o bebê não terão mais chance de problemas do que uma grávida adulta, ou seja, não há mais risco com a gravidez somente por ser adolescente.
Por isso, o controle pré-natal é muito importante para a adolescente grávida. Quanto mais cedo a adolescente começar o acompanhamento pré-natal, melhores serão os cuidados com a sua saúde e a saúde do bebê.
Lembrando que a adolescente não fica grávida sozinha, é fundamental que os adolescentes homens participem de todo o processo, e nos cuidados necessários que devem ser tomados durante e após a gravidez. Estas informações podem ajudar.
Gravidez na Adolescência – Riscos
Gravidez na Adolescência
QUAIS SÃO OS RISCOS DA GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA?
Algumas adolescentes escondem a gravidez por medo da reação dos pais, familiares e amigos e, como sabemos, a gravidez é uma fase que requer cuidados e acompanhamento de pré-natal.
Se a adolescente decide fazer um aborto, além de estar cometendo um crime, os riscos para sua saúde são ainda maiores. Além de perder o bebê, a mãe pode perder também a própria vida. O aborto provocado também pode trazer problemas como infecções, hemorragias e até a esterilidade, isto é, ela pode ter difi culdades para engravidar ou nunca mais poderá ter fi lhos. Tudo isso sem contar o sentimento de culpa que poderá carregar por toda a vida.
Muitas vezes, a união com o pai da criança parece ser a solução ideal. Assim, alguns jovens acabam se casando e assumindo uma série de obrigações e responsabilidades que não estavam preparados para assumir. Assim, há mais possibilidades de acontecer uma separação, o que não é bom para os jovens e muito menos para a criança.
Quando a jovem adolescente é abandonada pelo parceiro e este não reconhece a paternidade, resta aos pais dela assumirem a criação e a educação dessa criança. Nesses casos, a jovem deixa de se sentir responsável pelos cuidados com o bebê, correndo o risco de engravidar de novo, do mesmo ou de outro parceiro.
A gravidez indesejada na adolescência é vivida pela jovem como um período de muitas perdas. Ela deixa de viver sua juventude, interrompendo seus estudos, abandonando o sonho da formação profi ssional e seus projetos de vida.
Por causa dessa nova responsabilidade, a jovem pode afastar-se dos amigos, perder a confi ança e o apoio da família, que muitas vezes a expulsa de casa. E quando a jovem se sente abandonada pela família e comunidade, pode até cair na prostituição.
Por tudo isso, podemos ver que a adolescência não é o melhor momento para a maternidade.
COMO AJUDAR A FAMÍLIA E A ADOLESCENTE QUE ESTÁ GRÁVIDA?
Além de encaminhar a gestante adolescente para o pré-natal, na visita domiciliar o líder deve orientar a família sobre a importância do apoio e compreensão deles para que a adolescente viva esse momento com serenidade, responsabilidade e amor.
É importante também animar os pais a se envolverem com o bebê desde o início da gestação, pois o bebê sente quando é amado ou rejeitado. A mãe e o pai devem conversar com o bebê, explicando para ele porque não estavam querendo uma gravidez, isso vai ajudando aos próprios pais a aceitarem a gravidez e a se prepararem melhor para receber o bebê. Uma criança bem aceita tem mais chances de ser saudável e feliz.
Essa é uma gestante que deve ser acompanhada mais de perto pelo líder da Pastoral da Criança. As cartelas do LAÇOS DE AMOR vão ajudar bastante tanto o líder quanto a gestante, seu companheiro e ambas as famílias.
COMO OS PAIS PODEM AJUDAR A PREVENIR A GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA?
Se desde cedo os pais conversarem com a criança, respondendo o que ela pergunta e respeitando a curiosidade sem violência e sem críticas, estarão criando um cretal aberto de comunicação. Isso vai facilitar as conversas quando os fi lhos se tornarem adolescentes, fazendo com que eles se sintam mais seguros, amados e respeitados. Se o adolescente desenvolver uma boa imagem de si mesmo e do mundo, vai cuidar melhor de si e saber se defender e se preservar, agindo com respeito e responsabilidade. Assim, menor é o risco de uma gravidez nessa fase.
Através do diálogo e do relacionamento amigo com os fi lhos, os pais vão orientando os adolescentes sobre a importância de iniciar o relacionamento sexual quando estiverem mais preparados para assumir uma relação madura e responsável.
Um filho não pode ser fruto de uma atitude impensada. Precisa ser planejado, ser fruto de um projeto de vida. Quando os pais têm um bom relacionamento e engravidam porque desejaram, o bebê tem mais chances de se desenvolver saudável e feliz.
Quando o adolescente se sente feliz e confi ante na família, pode adiar o início da atividade sexual. Para que isso ocorra, é preciso que seus pais criem, desde cedo, um ambiente de respeito, amor e paz.
Gravidez na Adolescência – Brasil
Gravidez na Adolescência
A puberdade marca o início da vida reprodutiva da mulher, sendo caracterizada pelas mudanças fisiológicas corporais e psicológicas da adolescente. Uma gravidez na adolescência provoca mudanças maiores ainda na transformação que já vinha ocorrendo de forma natural.
A gravidez na adolescência é, portanto, um problema que deve ser levado muito a sério e não deve ser subestimado. Segundo os dados do IBGE, desde 1980 o número de adolescentes entre 15 e 19 anos grávidas aumentou 15%. Só para ter idéia do que isso significa, são cerca de 700 mil meninas tornando-se mães a cada ano no Brasil. Desse total, 1,3% são partos realizados em garotas de 10 a 14 anos.
No Brasil, a cada ano, cerca de 20% das crianças que nascem são filhas de adolescentes, encontramos nos dias de hoje três vezes mais garotas com menos de 15 anos grávidas que na década de 70.
A Pesquisa Nacional em Demografia e Saúde, de 1996, mostrou um dado alarmante; 14% das adolescentes já tinhas pelo menos um filho e as jovens mais pobres apresentavam fecundidade dez vezes maior. Entre as garotas grávidas atendidas pelo SUS no período de 1993 a 1998, houve aumento de 31% dos casos de meninas grávidas entre 10 e 14 anos. Nesses cinco anos, 50 mil adolescentes foram parar nos hospitais públicos devido a complicações de abortos clandestinos. Quase três mil na faixa dos 10 a 14 anos.
No Brasil, o parto é a primeira causa de internação de adolescentes no sistema público de saúde, já que o processo do parto pode ser dificultado por problemas anatômicos e comuns da adolescente, tais como o tamanho e conformidade da pelve, a elasticidade dos músculos uterinos, os temores, desinformação e fantasias da mãe ex-criança, além dos importantíssimos elementos psicológicos e afetivos possivelmente presentes.
Em 1996, 14% das jovens com menos de 15 anos já tinham pelo menos um filho; e de cada 10 mulheres que hoje têm filhos, duas são adolescentes.
Em uma gestante adolescente podem ocorrer complicações tanto para ela como para o bebê, pois segundo Gama et al, 2001, a porcentagem de nascimentos de recém nascidos de baixo peso é muito maior quando a mãe é adolescente. A suplementação da dieta durante a gravidez pode tomar a forma adicional, proteína, vitaminas ou minerais que excedem sua ingestão diária.O ganho de peso recomendado durante a gravidez pode ser levemente maior para a adolescente do que para adulta, porque seu próprio corpo ainda está em processo de formação.
É recomendado que adolescentes, na média, ganhem de 10 a 15 kg durante a gravidez; o ganho de peso recomendado é individualizado dependendo do peso pré-gravidez e idade ginecológica, sendo que as adolescentes grávidas estão na idade ginecológica jovem (definida como: número de anos entre o início da menstruação e a data da concepção).
Um método clinicamente prático de garantir a adequação nutricional é encorajar a adolescente grávida a ganhar a quantidade recomendada de peso, consumindo alimentos ricos em nutrientes, Já que nesta fase conturbada, as adolescentes não estão apenas maturando fisicamente como também cognitiva e psicossocialmente, além disso, elas procuram sua identidade, lutam por independência e aceitação e estão preocupadas com a aparência.
Ao engravidar, a jovem tem de enfrentar, paralelamente, tanto os processos de transformação da adolescência como os da gestação, representando uma sobrecarga de esforços físicos e psicológicos muito grande.
Gravidez na Adolescência – Fatores
Gravidez na Adolescência
A gravidez na adolescência tem sérias implicações biológicas, familiares, emocionais e econômicas, além das jurídico-sociais, que atingem o indivíduo isoladamente e a sociedade como um todo, limitando ou mesmo adiando as possibilidades de desenvolvimento e engajamento dessas jovens na sociedade.
Devido às repercussões sobre a mãe e sobre o concepto é considerada gestação de alto risco pela Organização Mundial da Saúde (OMS 1977, 1978), porém, atualmente postula-se que o risco seja mais social do que biológico.
A atividade sexual na adolescência vem se iniciando cada vez mais precocemente, com conseqüências indesejáveis imediatas como o aumento da freqüência de doenças sexualmente transmissíveis (DST) nessa faixa etária; e gravidez, muitas vezes também indesejável e que por isso, pode terminar em aborto (Basso et al, 1991; Mimica & Piato, 1991; Taquete, 1992; Oh et al, 1993; Crespin, 1998; Chabon et al., 2000). Quando a atividade sexual tem como resultante a gravidez, gera consequências tardias e a longo prazo, tanto para a adolescente quanto para o recém-nascido. A adolescente poderá apresentar problemas de crescimento e desenvolvimento, emocionais e comportamentais, educacionais e de aprendizado, além de complicações da gravidez e problemas de parto. Há inclusive quem considere a gravidez na adolescência como complicação da atividade sexual (Creatsas et al., 1991; Piyasil, 1998; Wilcox & Field, 1998).
Causas
A gravidez na adolescência é multicausal e sua etiologia está relacionada a uma série de aspectos que podem ser agrupados em:
Fatores Biológicos
Que envolvem desde a idade do advento da menarca até o aumento do número de adolescentes na população geral. Sabe-se que as adolescentes engravidam mais e mais a cada dia e em idades cada vez mais precoces. Observa-se que a idade em que ocorre a menarca tem se adiantado em torno de quatro meses por década no nosso século. De modo geral se admite que a idade de ocorrência da menarca tenha uma distribuição gaussiana e o desvio-padrão é aproximadamente 1 ano na maioria das populações, conseqüentemente, 95% da sua ocorrência se encontra nos limites de 11,0 a 15,0 anos de idade (Marshal & Tanner, 1969; Bezerra et al, 1973; Sedenho & Souza Freitas, 1984; Colli, 1988; Chompootaweep et al., 1997).
Sendo a menarca, em última análise, a resposta orgânica que reflete a interação dos vários segmentos do eixo neuroendócrino feminino, quanto mais precocemente ocorrer, mais exposta estará a adolescente à gestação. E nas classes econômicas mais desfavorecidas onde há maior abandono e promiscüidade, maior desinformação, menor acesso à contracepção, está a grande incidência da gestação na adolescência (Behle, 1991).
Fatores de Ordem Familiar
O contexto familiar tem relação direta com a época em que se inicia a atividade sexual. Assim sendo, adolescentes que iniciam vida sexual precocemente ou engravidam nesse período, geralmente vêm de famílias cujas mães também iniciaram vida sexual precocemente ou engravidaram durante a adolescência (Newcomer et al, 1983; Davis, 1989). De qualquer modo, quanto mais jovens e imaturos os pais, maiores as possibilidades de desajustes e desagregação familiar (Baldwin & Cain, 1980; Young et al, 1991; Dadoorian, 1996).
O relacionamento entre irmãos também está associado com a atividade sexual: experiências sexuais mais cedo são observadas naqueles adolescentes em cuja família os irmãos mais velhos têm vida sexual ativa.
Fatores Sociais
As atitudes individuais são condicionadas tanto pela família quanto pela sociedade. A sociedade tem passado por profundas mudanças em sua estrutura, inclusive aceitando melhor a sexualidade na adolescência, sexo antes do casamento e também a gravidez na adolescência. Portanto tabus, inibições e estigmas estão diminuindo e a atividade sexual e gravidez aumentando (Hechtman, 1989, Block et al., 1981; Lima et al, 1985; Almeida & Fernandes, 1998; McCabe & Cummins, 1998; Medrado & Lyra, 1999 ).
Por outro lado, dependendo do contexto social em que está inserida a adolescente, a gravidez pode ser encarada como evento normal, não problemático, aceito dentro de suas normas e costumes (Necchi, 1998).
A identificação com a postura da religião adotada se relaciona com o comportamento sexual. Alguns trabalhos mostram que a religião tem participação importante como preditora de atitudes sexuais. Adolescentes que têm atividade religiosa apresentam um sistema de valores que os encoraja a desenvolverem comportamento sexual responsável (Glass, 1972; Werner-Wilson, 1998). No nosso meio, nos últimos anos as novas religiões evangélicas têm florescido, e são , de modo geral, bastante rígidas no que diz respeito à prática sexual pré-marital. Alguns profissionais de saúde que trabalham com adolescentes têm a impressão de que as adolescentes que freqüentam essas igrejas iniciam a prática sexual mais tardiamente, porém, não há pesquisas comprovando essas impressões (Guimarães, 2001).
Fatores psicológicos e contracepção
A utilização de métodos contraceptivos não ocorre de modo eficaz na adolescência, e isso está vinculado inclusive aos fatores psicológicos inerentes ao período pois a adolescente nega a possibilidade de engravidar e essa negação é tanto maior quanto menor a faixa etária; o encontro sexual é mantido de forma eventual, não justificando, conforme acreditam, o uso rotineiro da contracepção; não assumem perante a família a sua sexualidade e a posse do contraceptivo seria a prova formal de vida sexual ativa (American Academy of Pediatrics, 1979; Zelnick & Kartner, 1979; McAnarney & Hendee, 1989; Stevens-Simon et al., 1996). A gravidez e o risco de engravidar podem estar associados a uma menor auto-estima, ao funcionamento intrafamiliar inadequado ou à menor qualidade de atividades do seu tempo livre. A falta de apoio e afeto da família, em uma adolescente cuja auto-estima é baixa, com mau rendimento escolar, grande permissividade familiar e disponibilidade inadequada do seu tempo livre, poderiam induzi-la a buscar na maternidade precoce o meio para conseguir um afeto incondicional, talvez uma família própria, reafirmando assim o seu papel de mulher, ou sentir-se ainda indispensável a alguém. A facilidade de acesso à inforrmação sexual não garante maior proteção contra doenças sexualmente transmissíveis e gravidez não desejada (Sumano, 1998; Campos, 2000).
Estudo realizado na emergência obstétrica de hospital em Porto Alegre revelou que das adolescentes com vida sexual ativa que usavam algum método contraceptivo, 41% o faziam de forma incorreta ou realizavam trocas indadequadas. Apenas 18% relataram o uso de condom.
Entre aquelas que não utilizavam nenhum método anticoncepcional, como justificativa argumentavam: o desconhecimento dos métodos; não quere usar e desejar engravidar; não acreditavam que pudessem engravidar; não ter condições para comprar; ser alérgica; ter medo que os pais decubram; o parceiro não querer usar (Gobbatto et al., 1999).
Repercussões da Gravidez na Adolescência
Sobre a mãe adolescente
Existem relatos de que complicações obstétricas ocorrem em maior proporção nas adolescentes, principalmente nas de faixa etária mais baixa. Há constatações que vão desde anemia, ganho de peso insuficiente, hipertensão, infecção urinária, DST, desproporção céfalo-pélvica, até complicações puerperais (Rubio et al, 1981; Sismondi, et al, 1984; Black & Deblassie, 1985; Stevens-Simon & White, 1991; Zhang & Chan, 1991). Porém, devemos ter o cuidado de nos lembrar que esses achados se relacionam também com os cuidados pré-natais e desde que haja adequado acompanhamento pré-natal, não há maior risco de complicações obstétricas quando se comparam mulheres adultas e adolescentes de mesmo nível socioeconômico (Felice et al, 1981; McAnarney & Thiede, 1981; Madi et al, 1986).
Outro ponto doloroso dessa questão é a morte da mãe decorrente de complicações da gravidez, parto e puerpério; sendo que na adolescência, em estudo realizado no nosso meio, verificou-se ser esta a sexta causa de morte (Siqueira & Tanaka, 1986).
No tocante à educação, a interrupção, temporária ou definitiva, no processo de educação formal, acarretará prejuízo na qualidade de vida e nas oportunidades futuras. E não raro com a conivência do grupamento familiar e social a adolescente se afasta da escola, frente a gravidez indesejada, quer por vergonha, quer por medo da reação de seus pares (McGoldrich, 1985; Aliaga et al, 1985; Fernadéz et al., 1998; Souza, 1999).
As repercussões nutricionais serão tanto maiores quanto mais próxima da menarca acontecer a gestação, já que nesse período o processo de crescimento ainda está ocorrendo. O crescimento materno pode sofrer interferências por que há uma demanda extra requisitada para o crescimento fetal (American Dietetic Association, 1989). A inundação hormonal da gestação promoverá soldadura precoce das epifíses naquelas adolescentes que engravidaram antes de ter completado seu crescimento biológico, podendo ter portanto, prejuízo na estatura final. Lembramos ainda que na adolescência há necessidades maiores de calorias, vitaminas e minerais e estas necessidades somam-se àquelas exigidas para o crescimento do feto e para a lactação.
Dada sua imaturidade e labilidade emocional podem ocorrer importantes alterações psicológicas, gerando extrema dificuldade em adaptar-se à sua nova condição, exarcebando sentimentos que já estavam presentes antes da gravidez, como ansiedade, depressão e hostilidade (Friedman & Phillips, 1981). As taxas de suicídio nas adolescentes grávidas são mais elevadas em relação às não grávidas (Foster & Miller, 1980; Hechtman, 1989), principalmente nas jovens grávidas solteiras (Cabrera, 1995).
Sobre o pai adolescente
De modo geral, o pai costuma ser dois a três anos mais velho que a mãe adolescente. A paternidade precoce se associa com maior freqüência ao abandono dos estudos, à sujeição a trabalhos aquém da sua qualificação, a prole mais numerosa e a maior incidência de divórcios (OPAS, 1995).
Sobre o Concepto
Existem riscos, tanto fisícos, imediatos, quanto psicossociais, que se manifestam a longo prazo, nos filhos de adolescentes. Devido a dificuldade em adaptar-se à sua nova condição a mãe adolescente pode vir a abandonar o filho, dando-o à adoção, e quando o recém-nascido não é abandonado, está mais sujeito, em relação à população geral, a maus tratos.
A literatura mostra que há maior freqüência de prematuridade, de baixo peso ao nascer, Apgar mais baixo, doenças respiratórias, trauma obstétrico, além de maior freqüência de doenças perinatais e mortalidade infantil. Deve-se considerar que estes riscos se associam não só a idade materna, mas principalmente a outros fatores, como a baixa escolaridade, pré-natal inadequado ou não realizado, baixa condição socioeconômica, intervalos interpartais curtos (< de 2 anos) e estado nutricional materno comprometido. Estas complicações biológicas tendem a ser tanto mais freqüentes quanto mais jovem a mãe (< 15 anos) ou quando a idade ginecológica for menor de 2 anos (Correa & Coates, 1993).
Epidemiologia da Gravidez na Adolescência
O aumento das taxas de gravidez na adolescência se deve, principalmente, às custas das faixas etárias mais jovens, em todo mundo.
Em 1980 o Brasil possuía 27.8 milhões de adolescentes entre 10 e 19 anos de idade, o que representava 23% da população geral. A taxa de fecundidade entre os 15 e 19 anos era de 11% . Nessa época, dos partos realizados pela rede do INAMPS, 13% eram de menores de 19 anos (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1980).
Conforme dados da Organização Panamericada da Saúde -OPS (1992), no começo da década de 80, 12,5 % dos nascimentos da América Latina eram de mães menores de 20 anos. A população de 15 a 24 anos (de alto risco para engravidar) chegou a 71 milhões em 1980. Estima-se que chegou a 86 milhões em 1990 e que no ano 2000 estaria em torno de 100 milhões de adolescentes. Isso indica que durante o período 1980 – 2000 a população de adolescentes na América Latina aumentaria aproximadamente 41,6%. A adolescente representaria, no ano 2000, 19% da população latino-americana. Na América Latina nascem 3.312.000 filhos de mães adolescentes por ano. A nível mundial, de cada 100 adolescentes entre 15 e 19 anos, 5 se tornam mães anualmente, o que eleva a 22.473.600 nascidos de mães adolescentes.
No Brasil, é no estrato social mais pobre que se encontram os maiores índices de fecundidade na população adolescente. Assim, no estrato de renda familiar menor de um salário mínimo, cerca de 26% das adolescente entre 15 e 19 anos tiveram filhos, e no estrato de renda mais elevado, somente 2,3% eram mães (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1988). Nas regiões faveladas do Recife, de cada dez mulheres que são mães uma é menor de 15 anos, sendo que 60% das mulheres têm menos de 20 anos de idade (Lima et al., 1990).
Em nosso meio, as taxas de gravidez na adolescência variam de serviço para serviço, mas estima-se que de 20% a 25% do total de mulheres gestantes sejam adolescentes, apontando que há uma gestante adolescente em cada cinco mulheres (Santos Júnior, 1999).
Estudo realizado em 1985, por Nóbrega et al. em nosso meio, mostrava que a distribuição de partos entre adolescentes de baixo nível socioeconômico-BNSE se dava da seguinte forma: 1,4% nas < 15 anos; 18,5% entre 15 e 19 anos, sendo que a população adolescente representava 14,4% do total e as menores de 15 anos 0,2% do total.
Em trabalho retrospectivo realizado no ano de 1991 no Amparo Maternal (SP), entidade filantrópica que assiste basicamente a população de BNSE encontrou-se: 6.316 partos com recém-nascidos vivos no período, sendo que a população adolescente representava 24,4% do total e as menores de 15 anos 2,6% do total (Vitalle, 1993; Vitalle et al., 1997). Há, portanto, aumento da freqüência de gravidez na adolescência quando comparamos os dois trabalhos.
Rocha (1991), no Recife, encontrou 24,5% de partos na adolescência, em amostra de 5940 recém-nascidos vivos de BNSE, sendo que as menores de 15 anos representavam 0,5% do total e as de 15 a 19 anos 23,9% do total, dados muito semelhantes aos do Amparo Maternal (Vitalle, 1993), exceto pelas mães menores de 15 anos onde se observam percentuais maiores na população estudada em São Paulo, confirmando assim que a gravidez na adolescência está aumentando às custas, inclusive, das gestantes mais jovens.
Estudo de fatores de risco para verificar o surgimento de prematuridade e baixo peso, realizado no Município de São Paulo, mostrou que a adolescência não influencia a ocorrência de baixo peso, porém aumenta em 1,3 vezes o risco de ocorrência de prematuridade. Pode-se responsabilizar a inadequada condição econômica como o fator de risco mais importante na determinação de prematuridade e baixo peso, pois, controladas as demais variáveis (idade materna, tabagismo, cuidado pré-natal) encontrou-se o risco aumentado de 1,8 vezes de prematuridade e 2,1 vezes de baixo peso ao nascimento quando a parturiente provinha do baixo nível econômico (Vitalle, 2001).
A Organização Panamericana de Saúde atribui o aumento do número de filhos de mães menores de 20 anos de idade ao fato de que “o conhecimento sobre a relação sexual livre se difunde mais rapidamente entre os adolescentes, que o conhecimento sobre os efeitos biológicos e psicológicos adversos da gravidez nessa idade, tanto para a mãe quanto para o filho”.
Gravidez na Adolescência – Orientação
Gravidez na Adolescência
A adolescência caracteriza-se por ser um período de descoberta do mundo, dos grupos de amigos, de uma vida social mais ampla. Assim, a gravidez pode vir a interromper, na adolescente, esse processo de desenvolvimento próprio da idade, fazendo-a assumir responsabilidades e papéis de adulta antes da hora, já que dentro em pouco se verá obrigada a dedicar-se aos cuidados maternos.
O prejuízo é duplo: nem adolescente plena, nem adulta inteiramente capaz. A adolescência é também uma fase em que a personalidade da jovem está se formando e, por isso mesmo, é naturalmente instável. Hoje, os meninos e meninas entram na adolescência cada vez mais cedo. O início da ejaculação e da menstruação indicam que eles estão começando a sua vida fértil, isto é, que chegaram àquela fase da vida em que são capazes de procriar.
Repercussões da gravidez na adolescência
Ao engravidar, a jovem tem de enfrentar, paralelamente, tanto os processos de transformação da adolescência como os da gestação. Isto, nesta fase, representa uma sobrecarga de esforços físicos e psicológicos tão grande que para ser bem suportada necessitaria apoiar-se num claro desejo de tornar-se mãe.
Porém, geralmente não é o que acontece: as jovens se assustam e angustiam-se ao constatar que lhes aconteceu algo imprevisto e indesejado. Só este fato torna necessário que seja alvo de cuidados materiais e médicos apropriados, de solidariedade humana e amparo afetivo especiais. A questão é que, na maioria dos casos, essas condições também não existem. Muitas vezes, a dificuldade de contar o fato para a família ou até mesmo constatar a gravidez faz com que as adolescentes iniciem tardiamente o pré-natal – o que possibilita a ocorrência de complicações e aumento do risco de terem bebês prematuros e de baixo peso.
Além disso, não é raro acontecer, em seqüência, uma segunda gravidez indesejada na jovem mãe. Daí a importância adicional do pré-natal como fonte segura de orientação.
Viver ao mesmo tempo a própria adolescência, cuidar da gestação e, mais tarde, do bebê, não é tarefa fácil. E a vida torna-se ainda mais difícil para a adolescente grávida que estuda e trabalha.
Igualmente, essa situação não difere com relação ao jovem adolescente que se torna pai: ele se vê envolvido na dupla tarefa de lidar com as transformações próprias da adolescência e as da paternidade, que requerem trabalho, estudo, educação do filho e cuidados com a esposa ou companheira.
Gravidez na Adolescência – Mulheres
Gravidez na Adolescência
Todo ser humano, no decorrer da vida, passa por transformações, independente da idade: a criança, o jovem, o adulto e o velho, cada um a seu modo, experimentam mudanças. No entanto, existem certas épocas nas quais as modificações que ocorrem em nossos corpos e mentes, nos nossos relacionamentos e compromissos, são particularmente importantes e rápidas. Nestas, certamente situam-se a gravidez e a adolescência.
A experiência da gravidez, por exemplo, afeta de modo profundo e completo a vida das mulheres que a vivenciam, modificando-a definitivamente. A fase da adolescência, entre os 10 e 19 anos, é também um momento especial.
Hoje, os meninos e meninas entram na adolescência cada vez mais cedo. O início da ejaculação e da menstruação indicam que eles estão começando a sua vida fértil, isto é, que chegaram àquela fase da vida em que são capazes de procriar.
As transformações físicas não são as únicas que enfrentam. Suas mentes também passam por grandes alterações. Nem sempre nos damos conta do quanto sua inteligência evolui.
Entretanto, essa é uma fase de dubiedades: num momento, o jovem pode tornar-se mais sonhador ou independente e arrojado, passando a querer experimentar novas possibilidades e vivências; noutro, fica encabulado e retraído, sensível ou agressivo Ao mesmo tempo em que se sente frágil e inseguro, pode achar que não precisa de ninguém; ao mesmo tempo em que se vê retraído, acha-se capaz de tudo; apesar de temer o mundo, acredita que nada pode lhe acontecer.. Muitos começam a trabalhar e a experimentar, cedo, um início de independência material. Outros, trabalhando ou não, procuram, através dos estudos, um encaminhamento para a vida profissional.
Ao adquirir personalidade própria, o jovem geralmente se distancia da família, procurando maior autonomia.
Com isso, sua vida social se modifica: passa a preferir a companhia de outros adolescentes, recusando a dos pais e irmãos. Os amigos de mesma idade passam a ser as pessoas mais importantes. Começa a vestir-se de acordo com o figurino do grupo, a falar a sua linguagem, a freqüentar lugares diferentes, a chegar mais tarde em casa.
A adolescência quase nunca é vivenciada com simplicidade e tranqüilidade. Freqüentemente, é um momento instável. Os sentimentos do jovem não são mais como os da criança, tampouco como os do adulto.
Muitas vezes, os adolescentes não conversam com os adultos porque acham que todos sabem o que estão pensando; outras, falam muito e reclamam que ninguém lhes escuta. Por tudo isso, a adolescência é um dos momentos mais especiais na evolução de cada pessoa e, portanto, exige atenção muito especial.
Quando a gravidez chega cedo
“A primeira vez a gente nunca esquece. Mas para muitas adolescentes nem sempre essa lembrança está associada a uma saudável nostalgia. Divididos entre os hormônios e a responsabilidade, os adolescentes iniciam a atividade sexual cada vez mais cedo e aumentam a incidência da gravidez precoce, das doenças, dos abortos, dos desencontros amorosos”.
Essas palavras iniciam uma recente reportagem sobre o nosso tema.
Podemos facilmente imaginar como deve ser difícil enfrentar a adolescência e a gravidez, quando ocorrem ao mesmo tempo: como se complica a vida de uma jovem que descobre estar grávida justamente quando passa por todas as transformações dessa fase; as preocupações de um jovem adolescente ao descobrir que vai se tornar pai.
Grave é pensar que essas situações estão, hoje em dia, ocorrendo cada vez mais tanto no Brasil como no mundo.
Pesquisas divulgadas pelo Ministério da Saúde e pela Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional – USAID mostram dados alarmantes sobre o comportamento dos adolescentes: no tocante à precocidade das relações sexuais, entre 1986 e 1996 dobrou o número de jovens que teve sua primeira relação sexual entre os 15 e os 19 anos; enquanto o número médio de filhos de mulheres adultas vem caindo há décadas, a taxa de fecundidade entre adolescentes está em crescimento constante; anualmente, 14 milhões de adolescentes no mundo tornam-se mães e 10% dos abortos realizados são praticados por mulheres entre 15 e 19 anos.
No Brasil, o parto é a primeira causa de internação de adolescentes no sistema público de saúde. Em 1996, 14% das jovens com menos de 15 anos já tinham pelo menos um filho; e de cada 10 mulheres que hoje têm filhos, duas são adolescentes.
Sabemos que uma jovem pode muito bem tornar-se mãe, se assim o quiser. As adolescentes mais velhas têm condições físicas para isto. A questão é diferente quando a adolescente é muito jovem, com idade abaixo dos 16 anos. Neste caso, podem ocorrer complicações tanto para ela como para o bebê, porque seu próprio corpo ainda está em processo de formação. Por isso – e pelas condições sociais, econômicas, psicológicas e de formação moral vinculadas ao fato -, a gravidez da adolescente é considerada como gestação de alto risco.
No passado, as brasileiras casavam-se e tornavam-se mães muito cedo. Possivelmente, as avós ou bisavós de muitos de nós tiveram seus primeiros filhos com 13 ou 14 anos de idade. As mulheres casavam-se jovens, permaneciam exclusivamente no ambiente doméstico, freqüentavam pouco a escola, não tinham recursos, meios nem mentalidade para planejar sua vida reprodutiva. Não havia métodos confiáveis para evitar a gravidez e, geralmente, isso nem era cogitado. Vivia-se menos, havia muitas doenças “incuráveis”, morria-se muito de parto e de complicações da gravidez e a própria estrutura familiar era diferente.
Atualmente, tudo mudou. No entanto, embora quase todos conheçam algum método anticoncepcional, alterações nos padrões de comportamento sexual estão contribuindo para o aumento dos casos de gravidez na adolescência – e esta não é uma questão simples de ser encarada.
Por que tem crescido a gravidez na adolescência?
Mas por que, afinal, apesar de todas estas dificuldades muitas adolescentes engravidam?
Não é fácil responder a esta pergunta. Antigamente, podia-se pensar que era por falta de informação. Mas hoje todos sabem que existem muitos métodos para evitar a gravidez. Eles são acessíveis, baratos e podem ser ampla e facilmente utilizados pelos jovens.
De fato, os adolescentes têm o acesso facilitado às pílulas anticoncepcionais, ao diafragma, à camisinha.. Os meios de comunicação e as escolas fazem freqüentes campanhas de esclarecimento. Os serviços de saúde estão à disposição para prestar informações. No entanto, as estatísticas brasileiras demonstram que apenas 14% das jovens de 15 a 19 anos utilizam métodos contraceptivos; e somente 7,9% delas, a pílula.
O problema é que, muitas vezes, os jovens pensam ou dizem saber tudo sobre sexo, e não sabem. Pode ser que não tenham informações corretas ou que não saibam como aplicá-las às suas vidas, ou que seus pais achem que eles já estão suficientemente esclarecidos e não mais precisam de informação ou conversa sobre um assunto que ainda traz certo constrangimento. E, principalmente, pode ser que os jovens, embora saibam das coisas, acreditem que com eles nada acontecerá.
“Nunca pensei que isso fosse acontecer comigo, embora soubesse do risco que corria, ao não usar a camisinha todas as vezes que mantinha relação”, dizem, surpresos, muitos adolescentes ao descobrirem a gravidez. Isto revela uma característica fundamental da mentalidade do adolescente: achar que as coisas só ocorrem com os outros. O resultado desse comportamento de risco é que, dentre todas as mulheres que se tornam mães, 20% delas são adolescentes!
Outra explicação aponta que os jovens são muito imediatistas. Ante a possibilidade de fazer sexo, sobretudo quando esperaram muito por isso, não pensam nas conseqüências: valem-se do desejo imediato, ignorando os resultados.
Nem toda gravidez precoce e não planejada é uma história sem final feliz. Mas, infelizmente, tudo acabar bem é uma exceção à regra. Há muitos casos em que a menina, para atrair sobre si a atenção ou o afeto da família e dos amigos, ou para segurar o namorado, engravida. Ora, as carências afetivas devem ser consideradas seriamente, e com certeza uma gravidez prematura não é a melhor solução. Além disso, filho não tem o poder de segurar namorado, nem de produzir casamentos felizes e duradouros. Se o relacionamento do casal estiver ruim, dificilmente um bebê facilitará as coisas, pelo contrário.
Ainda existem outros tipos de explicação. Considera-se, por exemplo, que muitas vezes uma jovem desamparada, que não desfrute de uma condição de vida digna, pode pensar que tornando-se mãe se libertará da miséria e obterá o respeito das pessoas. Esta idéia baseia-se na crença de que a sociedade tende a valorizar a figura da mãe e a ter maior consideração pelas gestantes.
Mesmo que exista um pouco de verdade nisto, logo a jovem se verá em situação ainda pior: terá de trabalhar e cuidar do filho em condições adversas, e a maternidade, ao invés de premiá-la com os benefícios esperados, só lhe trará mais dificuldades e responsabilidades.
Finalmente, é preciso dizer que significativo número da gravidez de adolescentes decorre do uso da violência, força ou constrangimento. Em geral, resulta de estupro – a realização de ato sexual à força – ou de incesto, isto é, a relação com familiar próximo, como o pai, tio ou irmão. Nas situações de violência, o trauma psicológico geralmente é intenso. Mais do que ninguém, elas precisam de amparo e proteção especiais. Para essas situações de risco, amparadas explicitamente pela lei, é permitida a realização do aborto legal, com atendimento pela rede do Sistema Único de Saúde.
Os serviços de saúde têm condições de informar, orientar e prestar assistência à adolescente grávida, através de um pré-natal diferenciado, já que sua gravidez é considerada como de alto risco, sobretudo para as jovens com menos de 16 anos.
Orientação sexual e afetiva é o remédio
Não vale a pena engravidar por distração ou ignorância. As informações técnicas são importantes e devem continuar a ser oferecidas às crianças que estão entrando na adolescência, e aos jovens. Os programas de educação sexual transmitidos pelas escolas vêm cumprindo papel fundamental, já que permitem o diálogo e a circulação de informações sobre a sexualidade. Os meios de comunicação e as campanhas publicitárias também têm abordado com freqüência esse assunto, particularmente visando a prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, como a AIDS.
É função dos serviços de saúde implantar programas especiais à disposição dos jovens, para informá-los e cuidar deles, se necessário. Os adolescentes não precisam sentir vergonha. Além de ser um direito, os profissionais de saúde têm prazer em recebê-los e, através dos serviços oferecidos, possibilitar-lhes informação a respeito dos vários métodos anticoncepcionais existentes. É bom lembrar que, desde a primeira relação, será necessário se proteger. Quem transa sem os cuidados devidos, pode engravidar.
Mas, atenção: dar apenas informações técnicas aos jovens não basta. É muito importante que também sejam orientados em casa, na família. É essencial que possam fazer perguntas, conversar com amigos e parentes mais velhos e se aconselhar quanto à escolha do melhor método anticonceptivo. O importante é que falem e sejam ouvidos. Esse cretal de comunicação precisa ser criado e mantido, tanto com a filha, desde sua primeira menstruação, quanto com o filho.
A superação das dificuldades de comunicação e diálogo entre os pais e os filhos pode ajudar em muito a diminuir a ocorrência da gravidez indesejada entre adolescentes. Os pais precisam esforçar-se para deixar de lado o medo de ser taxados como caretas, autoritários, ou de serem acusados de estar invadindo a vida pessoal de seus filhos. Conversando e orientando-os não apenas sobre reprodução e sexualidade humana mas também sobre valores como afeto, amizade, amor, intimidade e respeito ao corpo e à vida, permitirão que se sintam mais preparados para assumir as alegrias e responsabilidades inerentes à vida sexual.
Gravidez na Adolescência
ONDE ESTÁ O PROBLEMA
A adolescência é uma espécie de preparação para assumir o papel de adulto, que é definido principalmente por ter um trabalho que garanta a sobrevivência de um lar. Ao mesmo tempo, a juventude é entendida como uma fase da vida que se caracteriza pelo aumento de autonomia em relação à infância, permitindo-se ao jovem que deixe o espaço doméstico e penetre em espaços públicos como ruas e praças. Para a jovem mulher esse processo é mais difícil por causa de condicionamentos culturais, que limitam sua autonomia na elaboração de projetos de vida, quase sempre exigindo que se mantenha nos limites do núcleo familiar.
Se além da dificuldade de construir sua identidade, administrar emoções e entender as mudanças que acontecem com seu corpo, houver uma sobrecarga de necessidades fisiológicas e psicológicas, a adolescência pode se caracterizar como um processo de ruptura, inviabilizando a formação de um adulto saudável, equilibrado, consciente de seus direitos.
No caso das mulheres, vítimas do preconceito sexual, uma ruptura decorrente de uma gravidez precoce pode acarretar o que se chama de risco psicossocial.
E a comunidade médica tem alertado que as conseqüências de uma gravidez na adolescência não se resumem apenas aos fatores psicológicos ou sociais. A gravidez precoce põe em risco de vida tanto a mãe quanto o recém-nascido. Na faixa dos 14 anos a mulher ainda não tem uma estrutura óssea e muscular adequada para o parto e isso significa uma alta probabilidade de risco para ela e para o feto. O resultado mais comum em uma gestação precoce é o nascimento de um bebê com peso abaixo do normal o que exige cuidados médicos especiais de acompanhamento do recém-nascido.
Além disso, o medo da gravidez leva muitas adolescentes à solução do aborto clandestino: segundo dados da Organização Mundial de Saúde, dos 4 milhões de abortos praticados por ano no Brasil, 1 milhão ocorrem entre adolescentes; muitas delas ficam estéreis e cerca de 20% morrem em decorrência do aborto.
INTERVENÇÃO
A gestão municipal pode partir tanto de uma ação coletiva (inserida em uma política municipal de juventude) que propicie o intercâmbio de áreas como saúde, educação, cultura e lazer, tentando inibir a alta incidência de adolescentes grávidas, bem como em situações específicas que permitam resgatar a auto-estima da adolescente e norteiem a prevenção epidêmica.
Na esfera que trata da prevenção da gravidez na adolescência, destacam-se alguns tópicos de possível atuação do poder municipal.
Investir em campanhas de alerta e esclarecimento, que ofereçam informação ao jovem e incentivem o uso de camisinha tem um papel importante na prevenção de Aids, doenças sexualmente transmissíveis e da gravidez precoce.
Outro ponto fundamental é a questão da distribuição gratuita de métodos contraceptivos em escolas e postos de saúde, bem como campanhas e orientação para que as pessoas percam a inibição de pegá-los. (O uso inadequado da pílula anticoncepcional pode provocar anomalias sérias, que vão desde a interrupção no crescimento físico da mulher que estiver em fase de desenvolvimento da estrutura óssea até a esterilização definitiva.)
É importante notar também que as adolescentes, mesmo conhecendo métodos como a pílula, não os usam. Além da dificuldade de acesso, têm receio dos efeitos colaterais, acreditam que são imunes à gravidez, não conhecem o próprio corpo, não conseguem colocar o assunto em discussão na família e tampouco recebem qualquer orientação na escola, pois persiste o mito de que falar de sexo estimula a prática.
A educação sexual nas escolas, portanto, é fundamental para que os jovens possam falar sobre a sua sexualidade, sem preconceitos, superando os tabus. Além disso, a escola é um espaço propício para o auto-conhecimento e a descoberta de outras formas de relacionamento afetivo que não as relações sexuais.
A gravidez precoce é um problema que também envolve os homens. Deve, portanto, ser tratado também com os meninos, em todos os seus aspectos, do moral ao social.
Os programas devem ser estendidos aos pais, que, em sua maioria, estão despreparados para tratar desta questão com os filhos. Às vezes, a adolescente até quer contar a eles suas experiências, mas muitos não querem ouvir ou fantasiam ter uma eterna criança dentro de casa.
Em muitas cidades, a única opção de lazer para os jovens é beber nos botecos e namorar. Oferecer alternativas de lazer e possibilidades de esporte, que resgatem o lado lúdico e recreativo, é também uma forma de prevenção.
É fundamental priorizar a assistência médica à gestante adolescente no que se refere à saúde básica, mas também deve ser enfatizado o acompanhamento particular em quatro áreas essenciais: assistência ginecológica, exames pré-natais, assistência obstetrícia e exames pós-parto.
O pagamento de uma bolsa-auxílio pela prefeitura à gestante adolescente possibilita a não interrupção de suas atividades normais, incentivando, por exemplo, a continuidade dos estudos, garantindo uma gravidez saudável, e, em alguns casos, pode amenizar a reação adversa da família diante da situação.
Tanto a gravidez em período avançado quanto a recém-maternidade impossibilitam acompanhar os horários escolares normais. A adequação dos horários às exigências da gravidez e da recém-maternidade, bem como a constituição de grupos de adolescentes nesta situação nas escola, auxilia para a continuidade dos estudos.
A existência de creches municipais facilita muito a recém-materna, principalmente quando se trata de uma adolescente. A ação da prefeitura neste sentido pode se dar através do favorecimento de vagas a mães adolescentes em creches municipais ou de subsídio municipal para a locação de vagas em creches particulares (caso o município não possua creches ou vagas suficientes).
A prefeitura deve programar também projetos que incentivem a profissionalização da adolescente para que ela possa se manter e sustentar também o filho.
Não se pode desprezar o atendimento psicológico para que a jovem mãe reconstrua sua auto-estima, sua rede de relações, sua identidade e resgate sua cidadania.
RESULTADOS
O reconhecimento do problema e a incorporação na agenda social do governo municipal dos problemas relacionados à gravidez na adolescência pode trazer resultados com relação à promoção da cidadania das adolescentes e de seus filhos.
Um primeiro resultado é a afirmação do direito das adolescentes serem consideradas cidadãs que não podem ser alvo de discriminação por conta de sua condição e que têm direito a receber atenção do Estado. Isto significa, também, um ponto de partida para uma mudança cultural que enfraqueça o preconceito e a discriminação.
Ações de prevenção à gravidez na adolescência podem significar a redução da incidência e, conseqüentemente, dos problemas e mortes relacionados.
As ações de apoio e assistência trazem resultados diretos para as adolescentes e seus filhos. O oferecimento de apoio psicológico às jovens e aos jovens pais e às suas famílias pode minimizar problemas de relacionamento, evitando a desintegração social e familiar.
A atenção apropriada à saúde ajuda a evitar problemas associados à gravidez e parto para as adolescentes e melhora as condições de saúde de seus filhos.
As ações sociais de uma política municipal de atenção às adolescentes podem trazer resultados positivos para as condições de subsistência das famílias. Pode-se oferecer a garantia de uma renda mínima, ou permitir que elas continuem estudando, facilitando-lhes o acesso ao mercado de trabalho e, portanto, possibilitando que tenham melhores condições de sustentar as crianças, como no caso do programa Parents Too Soon, de Illinois, nos Estados Unidos, que oferece várias ações de apoio às adolescentes, orientadas para a garantia de sua continuidade nos estudos e seu acesso ao mercado de trabalho. Com isso, pode-se evitar diversos problemas sociais e familiares, ligados ao agravamento das condições da família ou à sua desestruturação.
Gravidez na Adolescência – Sociedade
Gravidez na Adolescência
“Crise significa um período temporário de desorganização, precipitado por mudanças internas ou externas. Pode-se afirmar que tanto a adolescência quanto a gravidez são uma crise. A primeira necessária e imprescindível para o crescimento do indivíduo enquanto ser humano; já a segunda, é uma opção, pode-se escolher o momento de viver a gravidez.”
A adolescência caracteriza-se por grandes questões, como: a busca por uma identidade que possibilite a passagem da fase infantil para a adulta, a explosão de novas sensações corporais, a afirmação da escolha sexual, o ingresso da vida profissional, a problemática da dependência dos pais… Acrescer a estas questões um grande mudança de identidade, uma transição existencial como é a gravidez, torna a situação bastante complexa.
O envolvimento de pais e amigos é inevitável. A gravidez na adolescência abrange uma rede de relações e preceitos sociais, portanto, é uma crise sistêmica.
Mas como comportaram-se os atores deste cenário?
A Sociedade
Apesar da sociedade ter criado tantos meios de informação sobre sexo, é elevado o número de adolescentes que engravidam. A maioria dos pais preferem educar seus filhos sobre a sexualidade como foram educados, com repressão e silêncio. Acreditam que se falarem abertamente sobre o assunto, podem despertar o adolescente precocemente para a vida sexual.
Atualmente, a gravidez na adolescência não é mais sinônimo de tragédia, mas de muitos problemas. As famílias e os adolescentes convivem neste momento com os “fantasmas” do aborto e do casamento, carregados de todos os valores sociais que os cercam. Implicações financeiras e morais, desejos frustados com relação aos filhos, novas responsabilidades… Tudo ao mesmo tempo!
O Jovem
Tanto para moça como para o rapaz, a gravidez precoce é um acontecimento desestabilizador. Assumir a maternidade e a paternidade implica em condições emocionais, físicas e econômicas, para as quais eles não estão preparados. É angustiante a perspectiva de que suas vidas serão modificadas por completo.
Na gravidez, a mulher tem a oportunidade de repensar a própria infância e estriar um novo papel existencial. Para uma adolescente em processo torna-se confuso, pois ela ainda transita na infância e não tem uma identidade elaborada. A dependência da relação com à mãe ainda é muito forte, não permitindo que ela mesma encarne essa função com tranqüilidade e discernimento.
Apoio e responsabilidade
A maneira mais saudável para orientar a vida sexual dos adolescentes seria que os pais tivessem liberdade consigo próprios para poder informar e ouvir os filhos, e que desde cedo educassem a criança para responsabilizar-se por suas ações.
É importante que a família apoie, analise a situação e pense junto o que fazer diante da gravidez precoce. Que sejam estabelecidos os limites e responsabilidades de cada um, para possibilitar uma situação com menos conflitos e mais aprendizado.
Fonte: www.picarelli.com.br/www2.fpa.org.br/www.brazilpednews.org.br/bvsms.saude.gov.br
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