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Nascimento: 6 de novembro de 1946, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
Waltercio Caldas – Vida
Waltercio Caldas
Sua obra caminha na contramão do mundo espetacular e barulhento em que vivemos.
Aliando uma fina inteligência formal e jogos provocativos e por vezes bem humorados para o olhar, Waltercio Caldas gera interrogações sutis para cada espectador, nos ensinando a ver para além do que hábito nos ensina.
O artista estudou no Museu de Arte Moderna com Ivan Serpa, ainda nos anos 1960.
Nos anos 1970, editou a revista Malasartes e lecionou artes e percepção visual no Instituto Villa-Lobos.
Começou a expor em 1973.
Nessa mesma década, fez exposições individuais nos principais museus do Rio de Janeiro e de São Paulo.
É hoje considerado um dos artistas brasileiros de maior renome internacional, tendo exposto em diversos países: Kanaal Art Foundation (Kortrijk, Bélgica, 1991); Stedelijk Museum (Schiedam, Holanda, 1992) e Documenta 9 de Kassel (Alemanha, 1992); Centre d’Art Contemporain (Genebra, Suíça, 1993).
Participou da exposição ‘Latin American artists of the twentieth century’ no Museum of Modern Art (MoMA) em Nova York, 1993.
Foi convidado para as Bienais de São Paulo em 1983, 1987 e 1996.
Representou o Brasil na Bienal de Veneza de 1997.
Seus trabalhos estão nos acervos dos principais museus do mundo como o MoMA ou ainda a Neue Galerie (Kassel) e museus brasileiros como os Museus de Arte Moderna de São Paulo e Rio de Janeiro.
Suas esculturas em espaços públicos podem ser vistas em Leirfjord (Noruega), Paseo de las Américas em Punta del Este (Uruguay) ou ainda na Avenida Beira Mar, no Rio de Janeiro.
Sua produção é analisada em diversos livros como, por exemplo, Aparelhos, com ensaio de Ronaldo Brito (1976) e Waltercio Caldas com texto de Paulo Sergio Duarte editado pela Cosac Naify (2001).
Waltercio Caldas é também autor de livros como Manual da Ciência Popular (1982), Velásquez (1996) e Notas, ( ) etc (2006) e dirigiu o vídeo Rio (1996).
Waltercio Caldas – Obras
Waltercio Caldas
As obras de Waltercio Caldas provocam um estado de suspensâo naqueles que as contemplam.
Desmontam a certeza da experiència, pulverizam a acuidade do olhar, deslocam o espectador para uma posiçâo inquietante, onde a percepçâo visual nâo se diz como rotineiramente.
De fato, nâo se oferecem como simples alteridades.
Sâo antes o móvel por onde acontece o ataque aos olhos absortos do espectador, o campo de ativaçâo do seu pensamento, de uma relaçâo conflitante deflagrada pelo cžlculo preciso e parcimonioso de meios.
A limpidez de suas formas, sua elegéncia, contrasta com o inacabamento ou a virtualidade que tambëm sugerem. O olhar os vai adejando cautelosamente para ao final recolher a impressâo de que só teve acesso a uma fraçâo apenas. Assim ë que essas obras postam-se frequentemente como porç§es delicadas, rarefeitas de matëria, rondando e desafiando perigosamente sua própria existència.
Nâo sâo corpos inequìvocos, evidentes, que, são maneira das tradicionais esculturas constituìdas de matëria e opacidade, abrem clareiras na vacuidade do espaço.
Como se a substéncia de que sâo feitas, mesmo quando pouca, desejasse e se confundisse com o ar mais próximo. Sâo mais propensos ao estabelecimento de situaç§es tensas do que a mera ocupaçâo de um lugar. Seriam – como quer o próprio artista – instantes escultóricos, talvez o nome mais adequado para pensar-se o modo como invadem sob a forma de reverberações e virtualidades esse território imediatamente vizinho, esse intervalo invisìvel e silencioso que hž entre as coisas, ou que envolve cada uma delas, e que com descuido frequente chamamos de vazio.
Ainda segundo as obras elaboradas por Waltercio Caldas, ausència e presença sâo termos intercambižveis do mesmo modo como na mösica o som conjuga-se com o silèncio. O certo que possuem interior e superfìcie, mas deles tambëm faz parte o que acontece alëm de suas próprias fronteiras. Mesmo porque, nâo obstante o despojamento desses instantes escultóricos, o fato ë que se servem do pouco para enfeixar o espaço, volumetrizá-lo, modulá-lo, conferir-lhe carne e qualidade.
O inevitžvel que algumas indagaç§es brotem desses trabalhos, a prova cabal do sucesso de suas existèncias como hipóteses: quanto de matëria cabe adormecida nos limites de um volume no espaço? Quanto dela, por efeito do atrito com o ar, descola-se desse volume e no ar vai se propagando? Quanto dela se desdobra em imagens que se vâo colando as nossas retinas? E quanto desse volume existe pela potència do nosso olho que, engatado no nosso pensamento, na nossa experiència transmutada em memória, persistentemente injeta-lhe significados persistentemente empreende sua paralisia e captura?
Tudo, enfim, concorre para a indefiniçâo dessas obras, ao fim e ao cabo afamiliadas com aquelas que a história da arte convencionou chamar de esculturas. Mas matëria, forma e escala estâo longe de ser foco primordial, todos vèm a reboque da idëia, sâo seu suporte milimëtrico.
Do mesmo modo essas obras nâo se prestam a serem trespassadas por significaç§es de natureza afetiva como as que uma certa concepçâo de arte, produtora de cenas, figurativas ou abstratas, nos acostumou a esperar. E, por öltimo, mesmo a reconstruçâo do processo que os gestou nâo os explica.
De fato nâo importa, uma vez que nâo foram deixados rastros capazes de conferir um sentido extra, uma escora que facilite a vivència do ato perceptivo. Sem apelos exteriores, essas obras se mantèm incólumes, a distância do espectador, ensejando tâo somente o contato de olhar realizado com a respiraçâo calma. E de tâo sintëticos parecem abstrações efemeramente encarnadas. Sâo, por assim dizer, presenças em estado puro, exaltadas pelo encanto de suas aparências sutis e condensadas.
Cronologia
Nasceu em 1946 no Rio de Janeiro, Brasil. Estudou com Ivan Serpa em 1965. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
Exposições coletivas
1995
Brasil in New York, Galerie Lelong, Nova York, Estados Unidos; Desafios Contemporéneos, Galeria PA Objetos de Arte, Rio de Janeiro, Brasil; Brasil; Dinheiro, Diversâo e Arte, Centro Cultural Banco do Brasil, Brasil; Exposiçâo Internacional de Gravura de Curitiba, Brasil; Drawing on Chance, Museum of Modern Art of New York.
1994
Brasil Sëculo XX, Fundaçâo Bienal de Sâo Paulo, Brasil; A Arte com a Palavra, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil; Weltanschauung, Goethe Institute, Turin, Itžlia; Entretexto, Universidade Federal Fluminense, Niterói, Brasil; A Fronteira dos Vazios, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil; Precisâo, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil; Global Climate, Ludwig Forum fÆr Internationale Kunst, Aachen, Alemanha; Trincheiras, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil; Gravura Brasileira, Galeria GB Arte, Rio de Janeiro, Brasil; Arte Cidade, Projeto da Secretaria de Cultura do Estado de Sâo Paulo, Brasil; A Espessura do Signo, Karmeliter Kloster, Frankfurt, Alemanha; Mapping, Museum of Modern Art, Nova York, Estados Unidos.
1993
Klima Global, Staatliche Kunsthalle, Col–nia, Alemanha; Latinamerikanische Kunst im 20. Jahrhundert, Josef Hanbrich Kunsthalle, Col–nia Alemanha; Latin American Artists of the Twentieth Century, Museum of Modern Art, Nova York, Estados Unidos; Espaço Namour, Gravuras, Sâo Paulo, Brasil; John Gibson Gallery, Nova York, Estados Unidos; Pëtica, Gabinete de Arte Raquel Arnaud, Sâo Paulo; Desenho Moderno no Brasil, Galeria do SESI, Sâo Paulo, Brasil; Segni d’Arte, Fundacione Stanpalia, Veneza, Itžlia; Segni d’Arte, Biblioteca Nazionale, Milâo, Itžlia; Segni d’Arte, Biblioteca Nazionale, Florença, Itžlia; Segni d’Arte, Palasso Pamphili, Roma, Itžlia; Out of Place, Vancouver Art Gallery, Canadž; L’ordre des choses, Domaine de Kerguehennac, França; A Presença do Ready-Made 80 anos, Museu de Arte Contemporénea, Sâo Paulo, Brasil; Arte Erótica, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Um Olhar sobre Joseph Beuys, Museu de Arte de Brasìlia, Brasil; Emblemas do Corpo, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil; Brasil 100 Anos de Arte Moderna, Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil (Coleçâo Sërgio Fadel).
1992
Arte Amazonas, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil; Artistas Latinoamericanos del Siglo Veinte, Sevilha, Espanha; Arte Amazonas, Museu de Arte de Brasìlia, Distrito Federal, Brasil; Quatro Artistas na Documenta, Museu da Repöblica, Rio de Janeiro, Brasil; Art Contemporain de L’Amërique Latine, H–tel des Arts, Paris, França; Artistas na Documenta, Museu de Arte de Sâo Paulo, Brasil; Brazilian Contemporary Art, Galeria do IBAC, Rio de Janeiro, Brasil; Coleçâo Chateaubriand, anos 60 e 70, Galeria de Arte do SESI, Sâo Paulo, Brasil; Exposiçâo Internacional de Gravuras, Curitiba, Paranž, Brasil; Raum fÆr den nächsten Augenblick, Documenta IX, Kassel, Alemanha.
1991
Imagem sobre Imagem, Espaço Cultural Sërgio Porto/RIOARTE, Rio de Janeiro, Brasil; Festival de Inverno, Centro Cultural da Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil, II Exposiçâo Internacional de Esculturas Efèmeras, Fortaleza, Brasil; Clžssico no Contemporéneo, Paço das Artes, Sâo Paulo, Brasil; Amërica, Koninkjik Museum Voor Shone Kunsten, Antuërpia, Bëlgica.
1990
Transcontinental, Ikon Gallery, Birmingham, Inglaterra; Panorama do Desenho; Museu de Arte Moderna de Sâo Paulo, Brasil; Transcontinental, Cornerhouse Gallery, Manchester, Inglaterra; Cor na Arte Brasileira, Paço das Artes, Sâo Paulo, Brasil; Art L.A. 1990, Los Angeles, Estados Unidos.
1989
Rio Hoje, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil, Caminhos, Rio Design Center, Rio de Janeiro, Brasil; Nossos Anos 80, GB Arte, Casa de Cultura Laura Alvim, Rio de Janeiro, Brasil; Desenho, Uma Geraçâo, Galeria Graffiti, Bauru, Brasil; 10 Escultores, Gabinete de Arte Raquel Arnaud, Sâo Paulo, Brasil; Arte em Jornal, XX Bienal de Sâo Paulo, Brasil.
1988
Expressâo e Conceito Anos 70, Galeria G. Chateaubriand, Rio de Janeiro, Brasil; Modernidade, Museu de Arte de Sâo Paulo, Brasil; Arte Hoje 88, Ribeirâo Preto, Brasil; Papel no Espaço, Galeria Aktuel, Rio de Janeiro, Brasil.
1987
Arte e Palavra, Fórum de Ciència e Cultura, Rio de Janeiro, Brasil; A Ousadia da Forma, Shopping da Gžvea, Rio de Janeiro, Brasil; Imaginžrios Singulares, XIX Bienal de Sâo Paulo, Brasil; Elementos do Reducionismo no Brasil, XIX Bienal de Sâo Paulo, Brasil; Arte Imžgica, Museu de Arte Contemporénea de Sâo Paulo, Brasil.
1985
Formas Tridimensionais, Museu de Arte Moderna de Sâo Paulo, Brasil; A Nova Dimensâo do Objeto, Museu de Arte Contemporénea de Sâo Paulo, Brasil; Coleçâo Knijnik, Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Brasil; Galeria Montessanti, Rio de Janeiro, Brasil; Petite Galerie, Rio de Janeiro, Brasil; 12 Anos, Galeria Luisa Strina, Sâo Paulo, Brasil; Coleçâo Denison, Museu de Arte de Sâo Paulo, Brasil.
1984
Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil; Abstract Attitudes, Center for Inter-American Relations, Nova York, Estados Unidos; Arte Brasileira Atual, Universidade Federal Fluminense, Niterói, Brasil; Abstract Attitudes, Rhode Island Museum of Art, Providence, Estados Unidos; I Bienal de Havana, Cuba; Tradiçâo e Ruptura, Museu de Arte de Sâo Paulo, Brasil.
1981
Do Moderno ao Contemporéneo, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil, (Coleçâo Gilberto Chateaubriand); Artistas Contemporéneos Brasileiros, Galeria Sâo Paulo, Brasil; Artistas Brasileiros, Museu de Arte de Sâo Paulo, Fundaçâo Bienal de Sâo Paulo, Brasil; Fundaçâo Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal; International Scuptors Meeting, Punta del Este, Uruguai; 3000 m3, Galpâo RIOARTE, Rio de Janeiro, Brasil; Gabinete de Arte Raquel Arnaud, Sâo Paulo, Brasil; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil; XVII Bienal de Sâo Paulo (artista convidado).
1976
Museu de Arte da Bahia, Salvador, Brasil; Casarâo de Joâo Alfredo, Recife, Brasil; Fundaçâo Cultural de Brasìlia, DF, Brasil;, Raìzes e Atualidades, Palžcio da Artes, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
1975
Panorama do Desenho Brasileiro, Campinas, Sâo Paulo, Brasil; Novas Aquisiç§es, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil; Museu de Campinas, Sâo Paulo, Brasil; Art Graphique Brësilien, Musëe Galiera, Paris, França.
1974
Desenhistas Brasileiros, Galeria Maison de France, Rio de Janeiro, Brasil; Galeria Intercontinental, Rio de Janeiro; Arte Grafico Brasile˜o Hoy, Barcelona, Espanha.
1973
Vanguarda Internacional, Galeria IBEU, Rio de Janeiro, Brasil, (Coleçâo Thomas Cohn); O Rosto e a Obra, Galeria Grupo B, Rio de Janeiro, Brasil; Indagaçâo sobre a natureza, significado e funçâo da obra de arte, Galeria IBEU, Rio de Janeiro, Brasil.
1972
Exposiçâo Vergara, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil; Galeria Veste Sagrada, Rio de Janeiro, Brasil; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil; Salâo de Verâo. Mençâo Especial do Jöri.
1971
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil; Salâo de Verâo, Mençâo Especial do Jöri.
1967
Galeria Gead, Prèmio Categoria Desenho, Rio de Janeiro, Brasil.
Esculturas em espaços pöblicos
1994: Omkring, Leirfjord, Noruega; Projeto Sckupturlandskap Nordland.
1992: Formato Cego, Paseo de Las Americas, Punta del Este, Uruguai.
1991: Raum fÆr den nächsten Augenblick, Neue Galerie, Kassel, Alemanha.
1989: Software, escultura luminosa instalada temporariamente no Vale do Anhabagaö, Sâo Paulo, Brasil; O Jardim Instanténeo, jardim/escultura, instalado no Parque do Carmo, Sâo Paulo, Brasil.
Vìdeo
1996: Um Rio, realizado por ocasiâo da exposiçâo Anotaç§es 1969/1996, no Paço Imperial, direçâo: Waltercio Caldas, Brasil.
1989: Software, uma escultura, direçâo: Ronaldo Tapajós.
1986: Apaga-te Sësamo, objetos e esculturas, direçâo: Miguel Rio Branco, Prèmio Especial do Jöri da Jornada de Cinema da Bahia e Prèmio Melhor Vìdeo, Melhor Direçâo do Festival de Cinema e Vìdeo do Maranhâo.
Prêmios
1993: Prèmio Mžrio Pedrosa, Exposiçâo do Ano, Associaçâo Brasileira de Crìticos de Arte.
1990: Prèmio Brasìlia, Museu de Arte de Brasìlia, Brasil.
1973: Prèmio Anual de Viagem, Melhor Exposiçâo, Associaçâo Brasileira de Crìticos de Arte.
Waltercio Caldas – Biografia
Waltercio Caldas
1946 – Waltercio Caldas Junior nasce na cidade do Rio de Janeiro, filho de Diva Fialho Caldas e Waltercio Caldas, engenheiro civil. Em virtude da profissão paterna, convive com desenhos e maquetes. Aos 8 anos visita uma réplica do avião 14 Bis, exposta no saguão do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, considero pelo artista “o primeiro objeto ‘construtivo’ que conheci”.
1960 – No início desse decênio, Waltercio realiza uma exposição de objetos, em caráter amador, no Diretório Acadêmico do curso de Filosofia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro / Uerj e a primeira reportagem sobre seu trabalho é publicada pelo Diário de Notícias. Começa a freqüentar as galerias de arte Bonino, Relevo e Gead, do Rio de Janeiro.
1964 – Estuda com o artista e professor Ivan Serpa, no Museu de Arte Moderna – MAM, do Rio de Janeiro, que o informa sobre a viabilidade da carreira artística e a complexidade das questões da arte. A visita constante à biblioteca do MAM reforça a formação do jovem artista, já deflagrada no ambiente doméstico e incentivada pela ida permanente às galerias. Ver obras de arte estimula no artista o desejo de responder àquilo que via. Segundo declara, começa a ser “artista”, sendo público. A produção alheia desperta a vontade do diálogo.
1965 – Realiza seu primeiro trabalho gráfico: a capa do livro A Amazônia e a cobiça internacional, de Arthur Cezar Ferreira Reis, para a Editora Edinova, Rio de Janeiro.
1967 – Começa a trabalhar como desenhista técnico da Eletrobrás, acumulando a função de programador visual. No futuro Waltercio Caldas iria desenvolver a atividade de artista gráfico, ao lado da de artista plástico, como meio de subsistência. Faz a sua primeira apresentação coletiva na galeria Gead, obtendo prêmio da categoria desenho. Realiza as primeiras obras que reconhece como manifestações de uma linguagem própria: pequenas maquetes em papel cartão, que sugerem escalas de grande porte, com caráter arquitetônico. Introduz, porém, à arquitetura e à idéia de projeto um toque de humor e de enigma. Ao lado dos objetos e esculturas, o desenho mantém-se ampla e sistematicamente praticado. Entra em contato com as cenografias e maquetes realizadas pelo cenógrafo checo Joseph Svoboda, apresentadas nesse mesmo ano, na Bienal Internacional de São Paulo.
1969 – Realiza os objetos Condutores de percepção, que abre para um movo campo e já desvenda uma linguagem. A obra o acompanha como referência constante, núcleo-chave de significações que basicamente anuncia o universo de todo o seu trabalho. Entre 1969 e 1975 faz inúmeros desenhos e outros objetos-caixas, à semelhança de Condutores de percepção, como As 7 estrelas do silêncio (1970), Centro de razão primitiva (1970) e Você é cego (1972). Por vezes, o artista nomeia essas caixas de “urnas”, admitindo uma ligação entre elas a certa memória da infância. Uma visita à galeria do Cineac Trianon o faz assistir ao faquir Silk, deitado sobre pregos em uma urna, cercado de cobras, durante meses sem comer. Waltercio sugere, com humor, que a visão de tal cena “exercitou” sua imaginação.
1970 – Realiza cenários para a peça A lição. de Eugène Ionesco, dirigida por Ronaldo Tapajós e montada no Conservatório Nacional do Teatro do Rio de Janeiro, constituindo seu primeiro trabalho de caráter público. Em 1967, já havia notado as cenografias de Svoboda na Bienal Internacional de São Paulo.
1971 – Participa pela primeira vez de um salão de arte – Salão de Verão, no MAM, Rio de Janeiro – onde exibe três objetos-caixas. Ocorre nesse momento o primeiro contato com o colecionador Gilberto Chateaubriand, que adquire as peças da exposição.
1971/1972 – A convite do músico Reginaldo de Carvalho, diretor do Instituto Villa-Lobos, leciona ali o curso de Arte e Percepção Visual.
1972 – Participa novamente do Salão de Verão no MAM-RJ. Convidado pelo artista Carlos Vergara, que conhece na ocasião, apresenta o trabalho Eu sou você e Eu não sou você no evento coletivo “Ex-posição”, idealizado por Vergara, também no MAM. No ano seguinte, essa obra será o elemento principal do catálogo de sua primeira mostra individual.
1973 – Faz a primeira individual no MAM, Rio de Janeiro, com 21 desenhos e 13 objetos-caixas. A exposição obtém excelente resposta de crítica, do público e do mercado, Com ela, o artista ganha, juntamente com Alfredo Volpi, o Prêmio Anual de Viagem da Associação Brasileira de Críticos de Arte. O crítico Ronaldo Brito escreveu o seu primeiro texto sobre a obra de Waltercio Caldas – “Racional e absurdo” – a propósito dessa exposição, publicado no jornal Opinião, e marca o início da relação entre o artista e o crítico. No texto, Ronaldo Brito comenta:
O que lhe interessa é a produção de um clic que provoque no espectador um momento de desorientação psíquica. A arte, dessa maneira, é muito menos objeto de contemplação do que uma forma ativa de veicular um pensamento, de produzir uma crise nos hábitos mentais do espectador. (…) Num momento em que ver arte parece sobretudo um requintado compromisso social, a exposição de Waltercio Caldas tem o valor de um desmentido: que a arte não é apenas para ser olhada, mas para se pensar a respeito.
Outros comentários surgem na imprensa, como os de Walmir Alaya, Roberto Pontual e Frederico Morais. O texto do catálogo, no entanto, foi composto pelo artista, a partir de extratos do livro Alice no país das maravilhas, de Lewis Caroll. Participa da exposição coletiva “Indagações sobre a natureza, significado e função da obra de arte”, com curadoria de Fernando Morais, na galeria do Instituto Brasil – Estados Unidos/Ibeu, Rio de Janeiro. Participa da coletiva “Vanguarda internacional – Coleção Thomas Cohn”, Ibeu, Rio de Janeiro.
1974 – Faz a exposição individual “Narrativas”, segunda mostra da recém-inaugurada Galeria Luiz Buarque de Hollanda e Paulo Bittencourt, no Rio de Janeiro. Participa com desenhos de sua primeira exibição internacional – “Artista gráfico brasileño hoy”, coletiva promovida pelo Itamaraty, em Barcelona, Espanha. Os desenhos são adquiridos pelo Itamaraty e, até hoje, mantidos em seu acervo.
1975 – É convidado por Pietro Maria Bardi a participar do “Expo Bruxelas”, na Bélgica, junto com o artista Alvim Correa (brasileiro, ilustrador da primeira edição do romance A guerra dos mundos, de H. G. Wells, de 1906, um dos pioneiros da literatura de ficção científica). O evento não acontece, mas Bardi convida o artista para se apresentar no Museu de Arte de São Paulo – MASP, do qual era diretor. Faz então a primeira individual na cidade de São Paulo com o título “A natureza dos objetos”. Nela apresenta 100 obras, entre desenhos, objetos e fotografias, abrangendo o período de 1969 a 1975. São exibidos pela primeira vez os objetos Espelho com luz (1974), Garrafa com rolha (1975) e Água, Cálice/Espelho (1975). No catálogo da mostra, o texto “O espelho crítico”, de Ronaldo Brito, afirma que o trabalho do artista repropõe a arte “como exercício de linguagem e como jogo, indagando-se sobre as suas significações”. Realiza a exposição individual “Objetos e desenhos”, na Galeria Luisa Strina, em São Paulo. Participa como co-editor (junto com Carlos Vergara, Bernardo de Vilhena, Cildo Meireles, Carlos Zílio, Ronaldo Brito, José Resende, Luiz Paulo Baravelli e Rubens Gerchman) da revista Malasartes, que teve três números editados entre 1975 e 1976. A revista foi uma das principais publicações de arte no Brasil e pretendia enfatizar o significado da obra de arte como produção cultural e não como objeto mercantil. Malasartes representou o primeiro esforço de um grupo de artistas, críticos e poetas em discutir a política das artes no país, propondo a arte como expressão a ser debatida em um espaço intelectual.
1976 – Realiza exposição individual no MAM, Rio de Janeiro, onde mostra pela primeira vez os objetos Circunferência com espelho a 30º, Dado no gelo e Pontos, datados do mesmo ano. A exposição marca diferenças em relação às anteriores, com obras de maior poder de síntese e mais transparência. Algumas delas ganham ampliação de escala. O crítico Roberto Pontual comenta a exposição no texto “O quadro no esquadro”, publicado no Jornal do Brasil. Publica, juntamente com Carlos Zílio, José Resende e Ronaldo Brito, o artigo “O boom, o pós-boom, o disboom”, no jornal Opinião. Participa da Comissão de Planejamento Cultural do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que discute o destino da sala experimental do museu.
1977 – Renuncia à sua indicação para a Bienal de Veneza, por questão político-cultural. Realiza os primeiros trabalhos com cédulas de dinheiro, como Notas para ambiente e Dinheiro para treinamento.
1978 – Ano rico de realizações, quando o artista produz inúmeros trabalhos, como Talco sobre livro ilustrado de Henri Matisse, Convite ao raciocínio, Aparelho de arte, Prato comum com elásticos, Tubo de ferro / Copo de leite e A experiência Mondrian. É também o ano em que Waltercio Caldas a preparar Aparelhos, primeiro livro sobre o conjunto de sua obra.
1979 – Aparelhos é publicado pela GBM Editora de Arte, Rio de Janeiro, com ensaio de Ronaldo Brito. O livro apresenta uma seleção de trabalhos realizados entre 1967 e 1978. Com características editoriais diferenciadas, incluindo trabalhos inéditos, feitos exclusivamente para contextos gráficos, entre eles Como funciona a máquina fotográfica de 1977, o livro teve programação visual do artista e de Paulo Venancio Filho. Na capa o trabalho Dado no gelo. Na abertura do ensaio, de título “Os limites da arte e a arte dos limites”, Ronaldo Brito declara:
O trabalho está preso aos limites da arte, a sua exigência é de, ali, situar-se nos extremos máximos. Mais do que consciência, o trabalho tem a obsessão dos limites. Respira essa tensão e extrai força dessa ambigüidade. O que é arte, o que não é, quando é e quando deixa de ser, como pode sê-lo e como pode não sê-lo, são essas questões. Mas ele não as coloca diretamente porque isso equivaleria a negá-las, escapar de sua pressão contínua, definir-se como consciência que interroga e responde. O trabalho vibra nessas questões, estas são o seu meio ambiente: só ali produz sentido, organiza e agita sentidos. O seu espaço é portanto a iminência do vazio, os limites, o que está entre, as linhas que existem como processo de demarcação de regiões diferentes. É sobre essas linhas que atua, captando a tensão circundante. E o trabalho não é senão essas linhas.
Sobre o livro, o crítico Rodrigo Naves acrescentou, em texto de agosto de 1979, no jornal Leia Livros:
Este livro de Waltercio Caldas Jr. e Ronaldo Brito (texto) é uma obra com desejo de si. (…) Tentemos então abri-lo de uma nova maneira. Penetrá-lo e percorrê-lo de modo como ele se desdobra. (…) Depois de tentar várias alternativas, só me restou uma: atravessar este livro com um furo e ter algum contato com esta superfície circular que estaria sendo criada interiormente à espessura de papel. Coincidentemente ou não, é bem este o movimento deste trabalho. Todavia (…) concomitante ao buraco deve haver a memória da resistência oferecida pelo material que foi perfurado, pois a sua reação ao corte é condição para a delimitação deste perfil de papel. O nada que vai ser criado rescende à espessura atravessada. E esta espessura, no caso, são as linguagens e o circuito da arte.
E, ainda sobre o livro, escreve Zulmira Ribeiro Tavares, em seu texto “Ironia e sentido”
Mais do que em outros livros que difundem o visual, nesse o próprio projeto gráfico resulta em uma montagem fortemente estruturada. Os seus elementos são parte de uma diagramação/produção, ou seja: de uma diagramação que condiciona a percepção a se dirigir a um sobre-suporte-material unificado: o próprio livro. Volumes, superfícies, cores, figurações perdem parte de sua condição original e ganham outra, a partir do espaço gráfico. (…) Cria-se portanto, a partir do livro, realmente um novo espaço, quase com características cênicas. Transmite ele por meio das reproduções uma forte impressão de instante retido e privilegiado, exatamente como se dá em um palco, no caso um palco povoado não por seres, mas por objetos em situações programadas… (revista Módulo, nº 61, novembro de 1980).
Realiza a exposição “Aparelhos” na Galeria Luisa Strina, lançando o livro em São Paulo. Apresenta nessa mostra dez objetos de 1977 e 1978, como Convite ao raciocínio, Aparelho de ate e Objeto de aço, esses três, de 1978. A exposição teve catálogo independente do livro, com texto – “Olho de vidro” – do crítico Paulo Venancio Filho.
Comentando a exposição, a crítica Sheila Leirner nomeia o trabalho de Waltercio Caldas de “objeto pleno” (síntese de experiências sensoriais e mentais) e diz:
Os aparelhos de Waltercio não são analogias, mas contêm uma proposta poética. O seu único elo com as máquinas cotidianas que nos circundam é a noção comum que se tem de “aparelho”. Ou seja, um objeto funcional e complexo que produz alguma coisa. Nesse sentido, os trabalhos da exposição são aparelhos de fato; produzem relações estéticas e transmitem conceitos. No entanto, o seu caráter automórfico, autocéfalo e autofágico os independentiza da associação literal. (…) Esses trabalhos não possuem a clareza deste tipo de interação funcional entre o corpo externo e o conteúdo, e devem ser apreciados separadamente, como objetos portadores (não geradores) das relações e idéias. (…) O aparelho funciona de si para si mesmo como um porta-voz independente da experiência. (Folha de São Paulo, 21 de abril de 1979).
1980 – Realiza individual na Galeria Saramenha, Rio de Janeiro, onde apresenta a instalação Ping Ping. O catálogo, ensaio gráfico exclusivo do artista, traz poema de sua autoria. Sobre a obra, o crítico Paulo Sergio Duarte comenta:
O trabalho não se esgota na experiência imediata de expulsar o espectador de seu lugar, de deixá-lo por fora. É isso, mas não é isso. Uma política está em jogo – além desse lado naif: talvez o próprio jogo da arte. (…) Ping ping, ao contrário de Dado no gelo, dilatou a questão de jogo e de sua impossibilidade (…). Os elementos palpáveis estão lá: raquete, bola, rede, mesa. Aquele que aposta nas certezas sensíveis não vê o trabalho. Participa do jogo primário, assiste a um ambiente primitivo de vanguarda. Mas alguma coisa está congelada que não é o dado. Pode-se pensar ser o tempo. (…) Os óculos escuros de cego deixam a impossibilidade de jogar o jogo da arte. O cego constrói o espaço sem a luz. (revista Módulo, edição 61, nov. 1980).
Realiza outra instalação – Zero é um – dentro do projeto Espaço ABC/ Funarte, no Parque da Catacumba, Rio de Janeiro. O catálogo da mostra traz texto de Rodrigo Naves, onde se lê:
… o trabalho aponta para uma suspensão, vertigem do sentido. (…) No sistema Zero é um os elementos remetem igualmente um ao outro, mas dentro de um deslocamento paradoxal que só produz um movimento: o do olhar a querer complementar censuras absurdas. O trabalho ironiza o olho-complemento, não pode resolver o paradoxo que é. Aqui a fissura lateja e não pode ser preenchida. (…) Não há onde se pegar. Tudo acontece “de costas” para o espectador, que é alguém que se costumou a ver as coisas “de frente”, para poder agir. Logo de saída o trabalho quer produzir essa obsessão do agir onde não há como agir. (…) Em meio à maior calmaria, sopra por esse espaço um vento demente. Não há o que possa canalizar.
Co-edita – com Cildo Meireles, José Resende, João Moura Júnior, Paulo Venancio Filho, Paulo Sérgio Duarte, Ronaldo Brito, Rodrigo Naves e Tunga – um único número da revista A Parte do Fogo, projeto editorial que pretendia intervir no espaço cultural brasileiro, refletindo sobre questões de linguagem, circuito e mercado. O projeto incluía a divulgação de obras importantes da produção contemporânea em artes visuais, literatura e outros setores, a impressão de textos inéditos da crítica brasileira e textos publicados no exterior. Conforme os editores declaram à época, não se tratava de “reivindicar um lugar a mais no território do saber instituído, pois para a produção contemporânea este lugar não existe. A Parte do Fogo é um lugar em que trabalhos vão agir” (citado em reportagem de Fernando Cerqueira Lemos, Folha de São Paulo, 1980). Sobre a revista, escreveu Sheila Leirner:
A Parte do Fogo é um duro golpe para a audiência, a crítica, o mercado, o circuito, enfim, que regula arte neste país e que pactua com o momento político, encobrindo, homogeneizando e desvirtuando sempre as genuínas linguagens (O Estado de São Paulo, 1980).
1981 – Realiza, com o músico Sérgio Araújo, um disco com os trabalhos A entrada da Gruta de Maquiné (Waltercio Caldas) e Três músicas (Sérgio Araújo). Em 33 rotações, cada lado do disco contém uma composição de um dos artistas. Realiza as seguintes exposições coletivas: “Artistas brasileiros”, no Museu de Arte Contemporânea – MAC / Fundação Bienal de São Paulo; “Artistas brasileiros contemporâneos”, na Galeria São Paulo; “Do moderno ao contemporâneo – Coleção Gilberto Chateaubriand”, no MAM, Rio de Janeiro.
1982 – Faz exposição individual no Gabinete de Arte Raquel Arnaud, São Paulo. Edita, por ocasião da mostra, e à guisa de catálogo, seu O livro mais rápido, com escritos pessoais selecionados. O livro é apresentado como uma oitava obra participante da exposição. A convite do filósofo Gerd Bornheim, faz uma palestra na Universidade Federal do Rio de Janeiro, dando um tratamento ambiental à sala de palestra, o que constituiu a obra A superfície algébrica. A exposição coletiva “Do moderno ao contemporâneo – Coleção Gilberto Chateaubriand”, da qual participa, é apresentada na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Realiza a sua primeira “escultura pública” – The blind shape (O formato cego) – no Paseo de las Américas, em Punta del Este, Uruguai, por ocasião do Encuentro Internacional de Escultura al Aire Libre, a convite de Angel Kalemberg. Lança o Manual da Ciência Popular, coleção ABC / Funarte, de 52 páginas. Com prefácio do artista e texto de Paulo Venancio Filho, a publicação assume perfil de “livro de artista”, apresenta obras de Waltercio Caldas que usam elementos cotidianos em suas construções gerando porém associações extremamente perturbadoras. Objetos do tipo “faça você mesmo”, passíveis, à primeira vista, de serem instruídos por um simples manual, as obras reproduzidas precipitam inquietações desconhecidas no leitor. E é a esse leitor que o artista oferece sua “construção de um abismo funcional no espaço da publicação de arte”. O livro é uma discussão sobre a reprodução mecânica da obra de arte, sua ressonância negativa sobre o conceito de originalidade e unicidade na obra tradicional, e as operações dinâmicas com que o trabalho contemporâneo inverte essa negatividade.
1983 – Participa, em sala especial, da XVII Bienal Internacional de São Paulo, com a instalação A velocidade. Utilizando uma embalagem industrial como metáfora (caixas de chiclete Adams), a obra trata o espaço como vertigem, fazendo menção à rapidez com que o espectador percorre as exposições desse porte.
No cartaz que acompanhou a apresentação, o crítico Paulo Sergio Duarte, no texto “Doppo Seraut”, comenta:
Trata-se de um filtro e um acelerador. Depura e pede uma certa velocidade. Trabalha com parâmetros entre a transparência e a opacidade introduzindo valores intermediários. Os suportes coloridos seqüestrados de sua banalidade cotidiana são transformados e adquirem nova identidade nos relevos. A materialidade é ambígua. Nada funciona num sentido único, por um instante seu papel é o de embaralhar, trocar as cartas de um lugar para impedir uma escolha. Nesse mundo, todo e qualquer processo de olhar é um pouco assim. (…). O dispositivo de Waltercio tem por finalidade destituir o olhar de seu lado mecânico subordinado à atenção, à certeza, a esse tipo de exatidão onde a falha deve aparecer como fracasso do sujeito.
Faz a primeira colaboração gráfica especial para o caderno “Folhetim”, da Folha de São Paulo. A partir de então, realiza outras para este mesmo jornal. Apresenta a mostra individual “Esculturas”, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud, São Paulo. Nessa mesma galeria, torna a se apresentar na coletiva “Imaginar o presente”. Participa da exposição coletiva “3.000m3”, com a instalação Ping ping (1980), que o artista considera “a construção do abismo no piscar dos cegos”, no Galpão Rioarte, Rio de Janeiro.
1984 – Participa da I Bienal de Havana, Cuba, com dois trabalhos de parede, sendo um deles, Para todos, feito de papel contact preto, primeira experiência do artista com o material. Faz sua primeira exibição nos Estados Unidos, participando da mostra coletiva “Abstract Attitudes”, no Center for Inter American Relations, em Nova Iorque, e no Museum of Art / Rhode Island School of Design, Providence, com curadoria de John Stringer. O texto crítico sobre as obras, intitulado “Não”, foi escrito por Paulo Venancio Filho. Realiza a exposição individual “Esculturas” na Galeria GB Arte, Rio de Janeiro. Participa ainda das seguintes exposições coletivas: “Tradição e ruptura”, Museu de Arte de São Paulo, “Arte brasileira atual: 1984”, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ; “Coleção Gilberto Chateaubriand – retrato e auto-retrato da arte brasileira”, Museu de Arte Moderna de São Paulo.
1985 – Muda-se para Nova Iorque, onde vive por um ano. Nesse período, trabalha em projetos e elabora a obra Escultura para todos os materiais não-transparentes, que se multiplica em diversos pares de semi-esferas, diferentes tamanhos e materiais (madeira, granito, mármore etc.), trabalho de uma constante expansão, que se funde com o ar. Integra, neste mesmo ano, o “Panorama de arte atual brasileira – Formas tridimensionais”, no Museu de Arte Moderna de São Paulo.
1986 – Realiza, simultaneamente, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud (São Paulo) e na Galeria Paulo Klabin (Rio de Janeiro), duas exposições individuais, cada uma com 8 pares de semi-esferas da série Escultura para todos os materiais não-transparentes. A idéia do “duplo”, intrínseca à própria obra, repete-se também no par das exposições embora os trabalhos expostos fossem diferentes, nas dimensões e nos materiais. Participa da coletiva “A nova dimensão do objeto”, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo – MAC / USP, onde exibe dois trabalhos. Um deles, superpondo três tons de branco: o da parede, o produzido pelo papel contact transparente utilizado diretamente contra a parede e o do papel vegetal. O outro, quase ambiental, com duas folhas de papel-carbono no chão, distante oito metros em si, onde pingam gotas de água que caem de dois filtros colocados sobre o painel. O vídeo Apaga-te Sésamo, com direção e fotografia de Miguel do Rio Branco, é realizado sobre uma seleção da obra. Com produção do Studio Line / Rio Arte, o vídeo, com onze minutos de duração, ganhou o prêmio de melhor vídeo e direção do Festival de Cinema e Vídeo do Maranhão, Embrafilme, no mesmo ano. No folder de lançamento do vídeo, o artista escreve:
Vídeo é o nome dado a um sinal eletrônico. Os objetos e as esculturas gravadas nesse sistema apresentam-se mais como imagens do que como coisas. Na verdade, quase acredito nessas “coisas transparentes” como se fosse próximas. É que o óbvio, às vezes, é falso.
1987 – É convidado a participar, simultaneamente, de dois segmentos da XIX Bienal Internacional de São Paulo: “Imaginários singulares”, com curadoria de Sônia Salzstein e Ivo Mesquita, onde expõe quinze esculturas, de 1967 a 1987, e “Em busca da essência – elementos de redução na arte brasileira”, com curadoria de Gabriela S. Wilder. Participa de diversas mostras coletivas, entre elas: “Modernidade – art brésilien du 20 siécle”, Musée d´Art Modern, de Paris; “Work on paper”, GDS Gallery, Nova Iorque (nessa exposição apresenta desenhos riscados no filme fotográfico e projetados sobre a parede); “Arte e palavra”, Universidade Federal do Rio de Janeiro / Fórum de Ciência e Cultura.
1988 – Faz a exposição individual “Esculturas”, na Galeria Sérgio Milliet, Funarte, Rio de Janeiro, em que apresenta peças de 1986 a 1988, como Einstein e Paul Valéry. No folder da exposição, a crítica Sônia Salzstein declara:
As peças de Waltercio Caldas parecem surgir dessa imaginária e inquietante geometria da água. Travamentos sucessivos no vazio, ou antes, no plenum; a única maneira de se colocar diante delas é reduzir-se a elas mesmas, o que não significa aniquilar-se, mas, ao contrário, acrescer-se de vitalidade extra, incorporando-as, eletrizando-as completamente até que se dissolvam e seja preciso prosseguir, instalando-se em outra, e assim sucessivamente.
Realiza a mostra individual “Quatro esculturas curvas”, na Galeria Paulo Klabin, Rio de Janeiro, onde expõe pela primeira vez as esculturas Godard e Curva, ambas de 1988. Participa de duas exposições coletivas: “Arte hoje 88”/ XII Salão de Ribeirão Preto, São Paulo; e “Papel no espaço”, na Galeria Aktuell, Rio de Janeiro.
1989 – Volta a participar da XX Bienal Internacional de São Paulo, no evento especial Arte em Jornal. A exposição partiu de uma experiência desenvolvida pelo Jornal da Tarde, de São Paulo, que promoveu intervenções de vários artistas no espaço gráfico do jornal. O trabalho de Waltercio, Software, constituiu-se na exibição alternada de duas frases em um painel luminoso da cidade, durante o período de 9 horas. Esse período coincidia exatamente com o tempo de impressão do jornal, até a madrugada. Na manhã seguinte, o jornal era distribuído com a imagem impressa do trabalho. A obra de Waltercio esculpia o espaço da mídia em processo digital. Na ocasião, faz ensaio gráfico exclusivo de seis páginas para a revista Guia das Artes, que dedica a maior parte daquele número à Bienal. Instala em caráter permanente a obra pública O jardim instantâneo, no Parque do Carmo, São Paulo, em comemoração do Bicentenário da Declaração dos Direitos Humanos, projeto da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. A obra segue de perto a própria topografia do terreno e da paisagem, guiando-se por sua horizontalidade. Duas escadas colocadas lado a lado, como de costas uma para a outra, (uma subindo, outra descendo), obrigam o passante a alterar o ritmo normal do seu passo, estendendo-se em cada degrau. Somente no topo, na passagem para a outra escada, ele recupera o ritmo natural do caminhar. Segundo o artista, tratava-se de “sugerir uma relação poética entre a experiência e a visão da linha imaginária de horizonte”. Participa também da coletiva “Rio hoje”, que comemorava a reabertura do MAM, Rio de Janeiro. Realiza nova exposição individual – “Esculturas” – no Gabinete de Arte Raquel Arnaud, São Paulo.
1990 – Faz sua primeira individual – com desenhos – na Europa, na cidade de Amsterdam, Holanda, na Pulitzer Art Gallery. Participa também de uma coletiva na Inglaterra, com curadoria de Guy Brett, com a apresentação consecutiva na Ikon Gallery, em Birmighan, e na Corner House Gallery, em Manchester. É convidado para integrar o Panorama de Arte Atual Brasileira/90 – Museu de Arte Moderna de São Paulo. Ganha o Prêmio Brasília de Artes Plásticas, no Museu de Arte de Brasília, que incorpora a seu acervo a peça Einstein, de 1987. Faz exposição individual, com seus novos desenhos, na galeria 110 Arte Contemporânea, Rio de Janeiro. No catálogo da exposição, o crítico Paulo Sergio Duarte publica o texto “Esses desenhos são líquidos”, onde escreve:
Esses desenhos são líquidos na ordem da delicadeza. Delicado, na sua origem latina, é se tornar líquido, frágil, sutil (delicatus, posteriormente, deliquatus). São fugas da ostentação e um exercício no limite da expressividade mínima. No mundo de excessos que vivemos, o excedente tem que ser objeto da inteligência, hoje, confundida com a astúcia. Boa parte da produção contemporânea explora astuciosamente uma sobra de olhar. Os desenhos são uma reação a esse culto. Qual o lugar da delicadeza nesse mundo onde toda a história se exterioriza e por isso mesmo é falsa? Diante dos romances, filmes e pinturas pseudo-expressionistas, onde a linguagem toma a forma do artefato pré-fabricado, o que podem lembrar os desenhos senão o traçado solitário que, na alegria de ser o oposto de toda essa melancolia realçada, dá voltas, e na cor, soberbo, se exibe?.
1991 – Exibe esculturas e desenhos em mostra individual na cidade de Kortrijk, Bélgica, na Kanaal Art Foundation. O crítico Ronaldo Brito assina o texto de apresentação da exposição, “Clear Bias” / “Desvio Claro”. Participa de várias exposições coletivas no Brasil, entre elas “Imagem sobre imagem”, no Rio de Janeiro, II Exposição Internacional de Esculturas Efêmeras, em Fortaleza, e Festival de Inverno, em Belo Horizonte. Faz novamente exposição individual no Gabinete de Arte Raquel Arnaud, São Paulo, onde apresenta pela primeira vez a série das esculturas modulares intituladas Próximos, realizadas no mesmo ano.
1992 – Waltercio Caldas é convidado a participar da “Documenta 9”, em Kassel, na Alemanha. Apresenta ali a instalação Raum für nächsten Augenblick, inédita e exclusiva para o evento. A instalação é formada por oito mesas de vidro, com um corte central que as separa em dois níveis distintos de altura, onde, ao centro, grãos e pó de mármore são pulverizados, caindo aleatoriamente sobre as superfícies disjuntivas. O vidro e o aço inox das mesas, associados à matéria etérea do mármore pulverizado, dispersam o olhar do espectador, adiando-o sempre para mais adiante, onde novamente se perde no vazio. A eficácia do trabalho nesse desvio constante de “alvo”, nessa imprecisão de limites dos corpos, torna-se ainda mais enfática quando a obra se revela uma das de mais difícil reprodução fotográfica de sua carreira. A sobreposição do pó das diferentes espessuras dos grãos do mármore sobre o vidro é quase impossível de ser registrada pela lente fotográfica. Neste mesmo ano, a instalação passa a fazer parte da coleção e a ser exibida em caráter permanente na Neue Galerie, em Kassel. O catálogo da apresentação na Documenta foi assinado por três autores: Ilse Kujken, com o texto “Replicando (à arte)”, Paulo Venancio Filho (com a republicação do texto “Não”, de 1984) e Sônia Salzstein, com o texto “Calor branco”. Waltercio Caldas volta a expor objetos e desenhos em mostra individual na Holanda, desta vez no Stedelijk Museum Schiedam. Ainda na Europa, participa de coletivas na Antuérpia (Bélgica), em Sevilha e em Paris. No Brasil participa, junto com artistas convidados, da exposição “Klima global – arte Amazonas”, evento artístico paralelo à ECO 92, primeiro encontro internacional de grande porte a discutir a política mundial sobre a questão ecológica. Tanto o encontro, quanto a exposição, desenvolveram-se no museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, seguindo a mostra depois para o Museu de Arte de Brasília e, no ano seguinte, para o Staatliche Kunstalle de Colônia, Alemanha. A proposta da exposição constituiu-se no envio dos artistas a diferentes cidades da Amazônia, onde captaram e selecionaram questões e matérias locais a serem processadas em suas obras. O trabalho de Waltercio Caldas foi uma instalação repleta de algarismos “zeros”, cada um feito em madeira diversa, originárias da Amazônia. Sintético e contundente, o trabalho, ao mesmo tempo que mantinha intacta a poética sutil e delicada do artista, era ardilosamente crítico em relação ao descaso público nas questões da preservação ambiental, sendo uma das obras presentes a atuar nessa ambigüidade.
1993 – Realiza a exposição individual “O ar mais próximo”, no Museu Nacional de Belas Artes, Rio de janeiro. A enorme galeria do museu foi ocupada com finas, rarefeitas e sinuosas linhas de lã coloridas que pendiam do teto, formando pequenos e configurando, talvez, a exposição mais radical do artista na questão dos limites entre o visível e o invisível, questão recorrente de uma obra que repropõe o “ar” como “corpo”. Aqui, Waltercio radicaliza igualmente a improbabilidade fotográfica de suas peças, que se esquivam, desta vez mais ainda, da reprodução. A exposição recebe o prêmio de melhor do ano no país, Prêmio Mário Pedrosa, conferido pela Associação de Críticos de Arte. Participa de diversas exposições coletivas no Brasil e no mundo, destacando-se a “Latin American artists of the twentieth century”, no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, e no Joseph Hanbrich Kunstalle, Colônia (a mesma mostra já havia se apresentado no ano anterior na Plaza de Armas, em Sevilha); “Two works” junto com o artista José Resende, na John Gibson Gallery, em Nova Iorque; “Out of place”, na Vancouver Art Gallery, Canadá, e “Brasil: segni d’arte – libri e vídeo, 1959-1993”, que se apresentou consecutivamente em Veneza, Florença e Roma.
1994 – Instala em caráter permanente a escultura Omkring, na cidade de Leirfjord, Noruega, projeto Skulptulandskap. Pura articulação de linhas, a escultura contrapõe à sua própria leveza uma tensão excepcional, pois parte de sua estrutura sustenta-se sobre um penhasco. Expõe três desenhos de 1972 na mostra coletiva “Mapping”, com tema mapas, no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque. Um dos desenhos foi adquirido pelo MoMA, passando a fazer parte da coleção. Participa junto com Amílcar de Castro e Eduardo Sued da mostra “Precisão”, com curadoria de Irma Arestizábal, no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro. É convidado pelo curador Nelson Brissac Peixoto a integrar a segunda edição do Projeto Arte/Cidade – intitulada “A cidade e seus fluxos” . Nela, Waltercio Caldas realiza o trabalho A matéria tem dois corações, instalado no Edifício Guanabara, no centro da cidade. O trabalho – um cubo de vidro de dois metros de altura preenchido com leite, com um coração de touro dentro –, permanece em exibição durante um mês, produzindo alterações físicas na matéria: o leite modifica a sua cor ao contato com o coração, e o coração expande-se com o líquido. Apesar de a obra lidar com matérias orgânicas, não é o processamento orgânico que interessa, e sim o movimento invisível que ocorre dentro desse processo, mantendo a obra com a aparência absolutamente estática.
1995 – Faz exposição individual na galeria Joel Edelstein Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, e no Centre d’Art Contemporain, em Genebra, Suíça. Participa de várias coletivas, destacando-se: “Drawing on chance”, MoMA, Nova Iorque; “Uma poética da reflexão” , Conjunto Cultural da Caixa, Rio de Janeiro; “Entre o desenho e a escultura”, Museu de Arte Moderna de São Paulo.
1996 – Faz a exposição individual “Anotações: 1969 – 1996”, no Paço Imperial do Rio de Janeiro, onde expõe pela primeira vez pequenos cahiers de anotações, a maioria já com caráter de obra autônoma. Exposição bastante diversa de todas as realizadas anteriormente, apresenta ali trabalhos a título de ensaios e estudos na íntegra, revelando porém um surpreendente “laboratório” de idéias e imagens, até então mantidas fora do caso público. A amostra fez parte do programa Atelier Finep e o folder que a acompanhou trazia texto do próprio artista. Faz, na Chácara do Céu, Rio de Janeiro, a exposição “A história da pedra”, onde exibe uma série de histórias em quadrinhos com “pedras dormindo”. A exposição acompanhou o lançamento de uma gravura de Waltercio Caldas no programa de edições gráficas da instituição. Lança o livro Velázquez, pela Editora Anônima, São Paulo. Livro-obra dos mais importantes da carreira do artista, Velázquez reproduz em suas páginas imagens e textos propositadamente sem foco, impossibilitando “leituras”, enfatizando a presença dessas imagens, restando no livro não mais que ambientes interiores em sua rica articulação de planos. O espaço, o ar, a relação das coisas com seu lugar, afinal tão constituinte da coisa impressa quanto sua própria concretude física, continuam aqui questões essenciais em Waltercio, que desvenda um outro Velázquez, dando ênfase a aspectos “invisíveis” das telas do artista. Participa com esculturas da XXIII Bienal Internacional de São Paulo, como único artista representante do Brasil.
Estavam presentes nesta mostra: Gládio (1996) e A matéria tem dois corações (1995). Instala em caráter permanente a obra Escultura para o Rio, no centro da cidade do Rio de Janeiro. Situada num pequeno entroncamento de vias, até então sem grande expressão no tecido urbano, a escultura “funda” o lugar, personaliza e identifica agora um “outro” lugar, ao alçar duas espécies de colunas que demarcam um espaço. As colunas são revestidas por pedras portuguesas utilizadas na mesma calçada. O Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, MoMA, adquire a obra Espelho com luz, que passa a fazer parte de seu acervo. O trabalho havia participado, um ano antes, da coletiva “Art from Brazil”, em Nova Iorque. A família Jobim encomenda ao artista um projeto de escultura “pública”, realizada sob forma de maquete – Homenagem a Antonio Carlos Jobim –, para ser instalada na lagoa Rodrigo de Freitas. O projeto ainda tramita na prefeitura do Rio de Janeiro. Participa de várias coletivas, com destaque especial para “Arte e espaço urbano – quinze propostas”, no Palácio do Itamatraty, Fundação Athos Bulcão, em Brasília, e curadoria de Aracy Amaral. A exposição foi composta de projetos e maquetes de esculturas públicas que não chegaram ser construídas. Waltercio Caldas apresentou o projeto Museu do Sono.
1997 – É selecionado para compor a delegação brasileira na XLVII Bienal de Veneza, onde apresenta A série Veneza, composta por quatro esculturas de aço inoxidável, com inserções de nomes de artistas da história da arte. Ironizando e exacerbando do “raciocínio” nas leituras históricas, o artista diz, em entrevista à crítica de arte Ligia Canongia, no catálogo que acompanhou a mesma mostra no Centro Cultural Light no Rio de Janeiro, no ano seguinte, que “ordens não precisam ser racionais, pode haver uma ordem poética”. Volta a expor a instalação Lugar para uma pedra mole, que já havia mostrado por ocasião da ECO-92, no MAM – RJ, desta vez na Bienal de Artes Visuais do Mercosul, em Porto Alegre. Instala em caráter permanente a “escultura pública” Espelho sem aço, na Avenida Paulista, Instituto Itaú Cultural, São Paulo. Publica o álbum Desenhos, com vinte serigrafias, pela Reila Gracie Editora, Rio de Janeiro. O álbum traz texto do próprio artista. Faz as exposições individuais “New Sculptures”, na Quitana Gallery, e “Esculturas”, na Galeria Javier Lopes, ambas em Miami.
Participa das seguintes coletivas selecionadas: “Re-aligning vision”, El Museo del Barrio, Nova Iorque, e Arkansas Art Centrer, Litle Rock; “4 Artists from South America”, Christopher Grimes Gallery, Santa Mônica; “A escultura brasileira – perfil de uma identidade”, Centro Cultural BID, Washigton / Banco Safra, BID, São Paulo; “Cegueses”, Museu D’Arte de Girona, Espanha.
1998 – Apresenta A série Veneza, no Centro Cultural Light, Rio de Janeiro. Faz exposições individuais na Galeria Paulo Fernandes, Rio de Janeiro, e na Galerie Lelong, Nova Iorque. Recebe o Prêmio Johnie Walker, apresentando uma escultura no Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. Faz instalação permanente no Parque das Esculturas do Museu de Arte Moderna da Bahia. Participa de mostras coletivas, com destaque “Amnesia”, Track 16 Gallery e Christopher Grimes Gallery, Santa Mônica; “Formas transitivas”, Gabinete de Arte Raquel Arnaud, São Paulo; “Der Brrasilianische Blick”, Haus der Kulturen der Welt, Berlim / Ludwig Foraum für Internacionale Kunst, Aachen / Kunstmuseum, Heidenheim, Alemanha, com obras da Coleção Gilberto Chateaubriand.
1999 – Realiza a exposição individual “Livros”, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e na Casa Imagem de Curitiba. A mostra foi o primeiro recorte efetuado da obra de Waltercio Caldas dedicado à produção de livros-objetos, reunindo vinte peças, desde o livro Vôo noturno, de 1967, até Crítica do milagre, de 1999. Ao longo de trinta anos, o artista realizou “livros” tratados como objetos escultóricos. No texto do catálogo da mostra – “Livros, superfícies rolantes” – a crítica Sônia Salzstein afirma que as motivações poéticas dos “livros” são as mesmas do restante da obra e acrescenta: …esses livros foram surgindo de modo esparso, no curso de muitos anos – sem, portanto, caracterizarem uma especialidade “gráfica” do artista – e que às vezes é mais fácil estabelecer seu parentesco com outros trabalhos, não-livros, do que entre eles mesmos. (…) O trabalho de Waltercio inclina-se por uma forma-livro mais do que por um elenco de procedimentos e técnicas da produção gráfica, ou pela linguagem específica que estes encenam, é uma modalidade de espaço contínuo, uma configuração de superfície que parece reter essa forma-livro.
Já o crítico Paulo Sérgio Duarte, no caderno “Idéias – Livros”, do Jornal do Brasil, de 14 de agosto de 1999, declara:
Na verdade o amor de Waltercio pelos livros é apenas ponto de partida para explorar suas idéias com livros. Os trabalhos apresentados são acontecimentos plásticos resultantes de diferentes investigações do artista. (…)
Essas questões estão coerentemente costuradas pela marca formal maior de Watercio: em todos os trabalhos não falta, não sobra nada. (…) O espectador exigente terá diante de si, nas 20 obras expostas, uma rede cujos nós constituem momentos de condensação do método e as relações invisíveis que interligam de um para o outro.
Posso resumi-las do meu do meu ponto de vista: espaço e lugar, contínuo e descontínuo, opacidade e transparência, são questões centrais em toda a obra às quais virão se somar outras acrescentando-lhes densidade e complexidade.
Ainda em 1999, realiza a exposição individual “Sculptures”, na Christopher Gallery, Santa Mônica.
Dentre as participações em mostras coletivas, destacam-se: “Global conceptualism: point of origin 1950s – 1980s”, Queens Museum of Art, Nova Iorque, e Walker Art Center Lelong, Nova Iorque; “Waltercio Caldasm Cildo Meireles, Mira Schendel, Tunga”, Christopher Grimes Galler, Santa Mônica.
2000 – Realiza a exposição individual “Uma sala para Velázquez”, paralela à mostra “Esplendores de Espanha”, na qual, entre vários mestres espanhóis, havia obras de Velázquez, no Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. A sala de Waltercio apresentava o livro-obra Velázquez, a tela Los Velázquez e mais dois trabalhos referentes a o que o artista denomina “o funcionamento dos espelhos”.
Realiza ainda mais três individuais neste ano: “Esculturas”, na Celma Albuquerque Galeria de Arte, em Belo Horizonte; “Livros”, desta vez no Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, e uma exposição com desenhos e um objeto na Galeria Laura Masiaj Arte Contemporânea, Rio de Janeiro. Instala a escultura pública Momento de fronteira, em Itapiranga, à margem do rio Uruguai, na fronteira entre o Brasil e a Argentina, no âmbito do projeto Fronteiras, promovido pelo Instituto Itaú Cultural.
Dentre mostras coletivas destacam-se: “Icon + Grid + Void / Art of the Americas from the Chase Manhattan Collection”, The Amercican Society, Nova Iorque; “Mostra do redescobrimento / Brasil 500 anos”, Fundação Bienal de São Paulo; “Situações: arte brasileira anos 70”, Casa França-Brasil, Rio de Janeiro; “Século 20: arte do Brasil”, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa (nessa fundação reapresenta o trabalho Ping ping realizado em 1980); “Outros 500 – Highlights of Brazilian contemporary art in UECLAA”, Albert Sloman Librarym Universith of Essex, EUA. Participa das exposições coletivas: “Entre a arte e o design: acervo do MAM”, no Museu de Arte Moderna de São Paulo; e “Leituras construtivas”, Gabinete de Arte Raquel Arnaud, São Paulo.
2001 – É apresentada uma grande mostra reunindo obras realizadas ao longo de quinze anos na trajetória do artista intitulada “Waltercio Caldas: 1985/2000”, no CCBB/Rio de Janeiro e no CCBB/Brasília, com curadoria da crítica de arte Ligia Canongia. Na ocasião também foi lançado um generoso catálogo, reunindo fortuna crítica sobre a obra de Waltercio Caldas, ensaio gráfico e textos do artista, também organizado e editado por Ligia Canongia.
Realiza a exposição individual “Waltercio Caldas: esculturas e desenhos”, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud, São Paulo.
Integra as mostras coletivas: “Experiment/Experiência – Art in Brazil, 1958-2000”, no Museum of Modern Art, Oxford, Inglaterra; 3ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul, Porto Alegre; “Coleção Liba e Rubem Knijnik: arte brasileira contemporânea”, no Margs, Porto Alegre; “Palavraimagem”, no Mamam, Recife; “O Espírito de Nossa Época”, no MAM/RJ”, Rio de Janeiro; “Anos 70: Trajetórias”, no Itaú Cultural, São Paulo; “O Espírito de Nossa Época”, no Museu de Arte Moderna de São Paulo; “Trajetória da Luz na Arte Brasileira”, no Itaú Cultural, São Paulo.
O crítico de arte Paulo Sergio Duarte lança o livro Waltercio Caldas, pela editora Cosac & Naify, de São Paulo, composto pelos seguintes textos: “A dúvida feliz”, “Espaço substantivado”, “A estranha evidência do silêncio”, “Disparidade calculada”, “Do questionamento de limites à incorporação do espaço”, “Opacidade do saber, transparência da arte”, “Tempo suspenso”.
2002 – Realiza as exposições individuais “Livros”, no Margs, Porto Alegre, e na Pinacoteca do Estado, São Paulo.
Participa de diversas exposições coletivas: “Fragmentos a Seu Ímã”, no Espaço Cultural Contemporâneo Venâncio, Brasília; “Pot”, Liverpool, Inglaterra; “São ou Não São Gravuras?”, no Museu de Arte de Londrina, PR; Arco/2002, no Parque Ferial Juan Carlos I, Madri, Espanha; “Coleção Sattamini: Esculturas e Objetos”, no MAC/Niterói, RJ; “Diálogo, Antagonismo e Replicação na Coleção Sattamini”, no MAC/Niterói, RJ; “Tempo”, no MoMA, Nova Iorque; “Gravuras: Coleção Paulo Dalacorte”, no Museu de Artes Visuais Ruth Schneider, Passo Fundo, RS; “Gravuras: Coleção Paulo Dalacorte”, no Museu do Trabalho Porto Alegre; “Anda Uma Coisa no Ar”, no Paço Imperial, Rio de Janeiro; “Artefoto”, no CCBB, Rio de Janeiro; “Caminhos do Contemporâneo 1952-2002”, no Paço Imperial, Rio de Janeiro; “Entre a Palavra e a Imagem: módulo 1”, no Sala MAM-Cittá América, Rio de Janeiro; “Identidades: o Retrato Brasileiro na Coleção Gilberto Chateaubriand”, no MAM, Rio de Janeiro; “Paralelos: Arte Brasileira da Segunda Metade do Século XX em Contexto, Collección Cisneros”, no MAM/RJ, Rio de Janeiro. Com Figura de linguagem, integra a terceira edição do projeto Arte/Cidade – Zona Leste, e apresenta Meio-Ato, na Mostra Sesc de Artes Ares e Pensares, na cidade de São Paulo, ambas constituintes de uma trilogia realizada por Waltercio que questiona as noções de espectador, platéia e exibição da obra de arte.
Participa também das mostras “Geométricos e Cinéticos”, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud; “Mapa do Agora: arte brasileira recente na Coleção João Sattamini do Museu de Arte Contemporânea de Niterói”, no Instituto Tomie Ohtake, São Paulo; “Paralelos: arte brasileira da segunda metade do século XX em contexto”, Colección Cisneros, no MAM/SP, São Paulo; “Pot”, na Galeria Fortes Vilaça São Paulo.
2003 – Realiza a exposição individual “Waltercio Caldas: desenhos”, no Artur Fidalgo Escritório de Arte, Rio de Janeiro.
Nas páginas iniciais do catálogo que acompanha a mostra, encontra-se o escrito do próprio artista:
E… os olhos, que vão às imagens onde estiverem
E as levam para lá, onde podem sorrir de inexistência.
Integra as mostras coletivas: “Artefoto”, no CCBB, Brasília DF; “Layers of Brazilian Art”, na Faulconer Gallery, Iowa City. EUA; “Arco/2003”, no Parque Ferial Juan Carlos I, Madri; “Desenho Anos 70”, no MAM/RJ, Rio de Janeiro; “Projeto em Preto e Branco”, na Silvia Cintra Galeria de Arte, Rio de Janeiro; “A Subversão dos Meios”, no Itaú Cultural, São Paulo; “Arco 2003”, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud, São Paulo; “Arte e Sociedade: uma relação polêmica”, no Itaú Cultural, São Paulo; “Escultores – Esculturas”, na Pinakotheke, São Paulo; “O Sal da Terra”, no Museu Vale do Rio Doce, Vila Velha, ES.
2004 – Ganha o grande prêmio da Bienal da Coréia do Sul, com a instalação O ar mais próximo. Realiza a individual “The Black Series”, na Galerie Christopher Grimes, em Los Angeles. Realiza individual no Gabinete de Arte Raquel Arnaud, em São Paulo.
No texto que acompanha o catálogo desse exposição, o crítico de arte Lorenzo Mammì declara:
Nos trabalhos dessa exposição, a cor se defronta com um elemento que tradicionalmente lhe é oposto: o desenho. Em geral, a folha de papel possui um estatuto diferente da tela. Não é fundo, embora sua superfície branca preencha a distância das figuras, nem mero suporte, destinado a desaparecer embaixo da tinta; tampouco é anteparo material, sobre o qual as coisas apóiam, como em grande parte da pintura contemporânea.
Ainda que receba uma imagem, o papel mantém sempre, mais ou menos explícita, sua vocação principal: a de ser página, lugar de signos. Sem tentar apagar essa característica, Waltercio exerce sobre ela uma crítica que, levando-a até o limite, a corrói.
Ainda em 2004, participa da mostra coletiva “Arte Contemporânea: uma história em aberto”, com curadoria de Sônia Salzstein, realizada num grande galpão, na cidade de São Paulo – uma iniciativa do Gabinete de Arte Raquel Arnaud. Integra as mostras coletivas: “30 Artistas”, no Mercedes Viegas Escritório de Arte, Rio de Janeiro; “Arte Contemporânea Brasileira nas Coleções do Rio”, no MAM/RJ, Rio de Janeiro; “Fotografia e Escultura no Acervo do MAM – 1995 a 2004”, no Museu de Arte Moderna de São Paulo.
2005 – Assina uma sobrecapa em acetato do livro “Duchamp – uma biografia”, Calvin Tomkins, tradução de Maria Thereza de Rezende Costa, prefácio de Paulo Venancio Filho, editado pela Cosac & Naify. A editora também realiza a edição de colecionador, numerada, capa dura revestida de tecido, com gravações do artista Waltercio Caldas em silk screen. Participa da V Bienal do Mercosul, Porto Alegre, com sala especial, e, à margem do rio Guaíba, constrói a escultura monumental Espelho rápido, com curadoria de Paulo Sergio Duarte. Realiza as cenografias para a ópera Erwartung (A espera) e para o balé Noite transfigurada, ambos do compositor alemão Arnold Schoenberg, apresentadas no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Realiza exposição individual na galeria Denise René, em Paris. Apresenta oito trabalhos totalmente inéditos – cinco esculturas e três desenhos; uma seleção de quatro livros-objetos, em edição limitada. Um deles passou a integrar o acervo do Centre Pompidou. O texto do catálogo é do crítico de arte inglês Guy Brett, que há muitos anos acompanha a carreira e os trabalhos do artista. Realiza cenário para o balé Paisagens imaginárias, em homenagem a Isadora Duncan e John Cage, com o grupo Aquarela, em Belo Horizonte. Participa do projeto “Artista Convidado do Ateliê de Gravura”, Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre. Integra neste mesmo ano as mostras coletivas “Collection Cisneros”, no Museu Nacional de Belas Artes, em Santiago do Chile, e “Beyond Geometry” no LACMA de Los Angeles e no MAC de Miami, USA.
2006 – Participa da coletiva “The Hours: Visual Arts of Contemporary Latin America”, com obras da Coleção Daros, no The Irish Museum, em Dublin, Irlanda. Thiago Honório analisa na dissertação de mestrado “Ensaio”, suas obras Meio-Ato e Figura de linguagem, que constituem uma trilogia, ainda não concluída, que discute o papel das platéias.
Fonte: www.colegiosaofrancisco.com.br/www.cultura.gov.br/www.walterciocaldas.com.br
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