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Nascimento: 28 de abril de 1865, Campanha, Minas Gerais.
Falecimento: 8 de maio de 1950, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
Vital Brazil – Vida
Vital Brazil
Vital Brasil Mineiro da Campanha, conhecido como Vital Brasil foi um médico brasileiro, cientista biomédica e imunologista, reconhecido internacionalmente pela descoberta do polivalente soro anti-antiofídicos usado para tratar picadas de cobras venenosas dos gêneros Crotalus, Bothrops e Elaps.
Ele passou a ser também o primeiro a desenvolver soros anti-escorpião e anti-aranha.
Ele foi o fundador do Instituto Butantan, centro de pesquisa localizado em São Paulo, que foi a primeira no mundo dedicada exclusivamente ao básico e toxicologia aplicada, a ciência de animais peçonhentos.
Vital Brasil nasceu em 28 de abril de 1865, na cidade de Campanha, no estado de Minas Gerais, sudeste do Brasil. Seu pai lhe deu este nome curioso em homenagem ao país, o estado ea cidade onde ele nasceu.
Formou-se em Medicina em 1891, no Rio de Janeiro, trabalhando como assistente técnico na cadeira de Fisiologia, a fim de pagar por suas despesas de matrícula e de vida.
Depois de se formar, começou a trabalhar na saúde pública, inicialmente como um inspetor sanitário em São Paulo, onde adquiriu experiência nas doenças epidêmicas predominantes da época (varíola, febre tifóide, febre amarela e cólera), e em seguida como um médico particular na cidade de Botucatu, 1895-1896.
Vital Brasil foi atraído pela pesquisa médica nos campos crescentes de bacteriologia, virologia e imunologia no final do século 19, que estavam sendo alimentados pelos grandes descobertas na Europa, por Louis Pasteur, Robert Koch, Paul Ehrlich e muitos outros. Portanto, ele voltou para São Paulo em 1897 e aceitou uma posição no Instituto Bacteriológico de São Paulo (Instituto Bacteriológico de São Paulo), sob a direção do grande patologista brasileiro e epidemiologista Adolfo Lutz. Lá, trabalhou na preparação de soros contra várias doenças, particularmente a peste bubônica, dos quais ele caiu gravemente doente, felizmente sobreviver a ele.
Devido ao seu excelente trabalho, o governo de São Paulo fundou um novo Instituto soroterapia em 1901 e deu a sua diretoria para Vital Brasil. Ele também fundou o Instituto de Higiene, soroterapia e Medicina Veterinária, na cidade de Niterói, em 1919.
Vital Brasil realizou viagens científicas para a Europa em 1904 e 1914 e a 1925 para os Estados Unidos. Ele continuou a trabalhar no Instituto Butantan por várias décadas até sua aposentadoria em 1919.
Ele morreu em 8 de maio de 1950, celebrado como um dos mais importantes cientistas brasileiros de todos os tempos.
Trabalho
O novo Instituto São Paulo foi construída em uma parte da cidade chamada Butantan, no momento em um lugar distante, perto do rio Pinheiros, um pantanoso, área pouco habitada. Sob Vital Brasil, logo se tornou um centro de pesquisa energética e exemplar em vacinas e soros de todos os tipos, que foram produzidos localmente para a profilaxia e tratamento de tétano, difteria, febre amarela, varíola e várias zoonoses (doenças transmitidas ao homem por animais) , tais como a hidrofobia temido.
O Instituto passou a ser conhecido por seu apelido original, do Instituto Butantan, e ainda é ativo hoje.
Vital Brasil estava convencido, desde seus primeiros trabalhos no Butantan que envenomations (envenenamento por acidentes com animais peçonhentos, como cobras, escorpiões, aranhas e batrachia, então a causa de milhares de mortes em enormes Brasil rural, que fervilhava com esses animais tropicais) pode ser combatido com os anti-soros, ou seja, os anticorpos produzidos especificamente para venenos que eram proteínas ou péptidos de cadeia longa. A imunologista francês, Albert Calmette (1863-1933) tinha demonstrado isso pela primeira vez em 1892, através do desenvolvimento de um soro monovalente para tratar picadas de cobra indiana (tripudians Naja).
Vital Brasil começou, assim, uma série de investigações experimentais, e em 1901 le foi capaz de provar que sera monovalente contra as espécies asiáticas foram ineficazes contra cobras da América do Sul, e passou a desenvolver seu primeiro soros monovalente contra os acidentes por animais peçonhentos mais comuns no Brasil, os produzidos pelos Bothrops, Crotalus e gêneros Elaps (representados respectivamente pela cobra jararaca, a cascavel, ea cobra coral).
Ele descobriu várias semelhanças clínicas e bioquímicas entre envonomations botrópico e crotálico e por isso ele foi o primeiro a conseguir um soro polivalente, ou seja, simultaneamente, eficaz contra ambas as espécies, o que representou um triunfo sobre a mortalidade stark causados ??por estas espécies em Norte, Central e do Sul América. Em poucas décadas, esta mortalidade, que foi superior a 25% a 20% de pessoas picadas, caiu para menos do que 2%.
Aplicando as mesmas técnicas (que envolve a imunização gradual de cavalos e ovelhas por administração de pequenas doses de venenos, e, em seguida, extrair, purificar e liofilização a porção de anticorpo a partir do sangue de animais injetados), Vital Brasil e os seus colegas de trabalho estavam capaz de descobrir a primeira soros contra duas espécies de escorpiões “(1908) e aranhas ‘(1925) venenos.
Nos EUA, o nome de Vital do Brasil fez as manchetes quando ele usou seu soro para salvar a vida de um trabalhador no zoológico do Bronx, em Nova York, que foi mordido por uma cascavel.
Mais importante de tudo, o Instituto Butantan tornou-se uma escola fértil para a criação de uma nova geração de bioquímicos brasileiros, fisiologistas e patologistas, como José Moura Gonçalves, Carlos Ribeiro Diniz, Gastão Rosenfeld, Wilson Teixeira Beraldo e Maurício Rocha e Silva, que passou para fundar um número crescente de escolas, departamentos e laboratórios de pesquisa em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, dando um grande impulso para o desenvolvimento da pesquisa médica e biológica e ensino no Brasil na segunda metade do século 20.
Vital Brazil – Biografia
Vital Brazil
Vital Brazil, médico brasileiro, nasceu em Campanha Minas Gerais, em 28 de abril de 1865; seus pais, José Manoel dos Santos Pereira e Mariana Carolina dos Santos Pereira.
Trabalhou para pagar os seus estudos básicos, em São Paulo, seguindo depois para o Rio de Janeiro, a fim de estudar medicina.
Ao formar-se, partiu para a França, especializando-se, em Paris, nos estudos de laboratório, com os professores Mesnil, Metchinikoft, Borel e Roux.
Ao regressar de Paris, passou a cuidar dos doentes do interior de São Paulo, e percebeu que a maioria perdia a vida em conseqüência de picadas de cobras; daí passou a estudar aplicando todas as suas energias para descobrir um remédio para sanar esse mal.
O governo de São Paulo, observando o interesse do Dr. Vital Brasil, no que tange aos estudos de um antídoto para mordidas de serpente, resolveu fundar numa fazenda, às margens do Rio Pinheiros, em Butantã, um laboratório científico, que se denominou Instituto Soroterápico Butantã, para produzir soros e vacinas, e nomeou o referido médico como chefe dos cientistas.
Os estudos continuaram, naquele instituto, até que foi descoberto o soro antiofídico, que ficou universalmente conhecido e aplicado, com êxito, nas picadas de cobras venenosas.
Com a descoberta do novo soro, o Dr. Vital Brasil partiu para os Estados Unidos, em Washington, para apresentar o seu trabalho ao Congresso Científico Pan Americano; ali fez uma demonstração da descoberta do seu produto e foi aprovado, por unanimidade, pelos cientistas daquele congresso.
Em 1916, no serpentário do Jardim Zoológico de Bronx em New York, onde deslizavam no chão muitas serpentes, John Toomey, servidor daquele jardim, ao limpar a gaiola descuidou-se e uma grande cascavel deu-lhe um bote fatal, cravando bem fundo os dentes na sua mão.
O diretor do referido jardim, Raymond Ditmars, fez-lhe uma aplicação dos cristais antivenenosos, que eram o único contraveneno que possuía. Estes cristais, antes de serem aplicados, eram fervidos por 45 minutos, até formarem o soro. Raymond constatou que na maioria dos casos o soro não dava resultado.
A injeção do mencionado soro não surtiu o menor efeito em John, pois a inflamação aumentava e ele parecia estar destinado ao falecimento físico.
Neste momento um homem que estava presente disse que conhecia um senhor, o único que poderia salvar a vida de Toomey. Ele apresentou ao Sr. Ditmars as coordenadas de onde se encontrava o cientista, conseguindo trazer, no espaço de uma hora, uma forte criatura ao hospital onde a vítima torcia-se de forte dor. Era o Dr. Vital Brasil, que perguntou qual foi a cobra. Disseram-lhe que foi a cascavel.
Como o Dr. Vital Brasil andava prevenido para estes e outros casos, selecionou uma das ampolas da sua maleta e aplicou-lhe uma injeção; duas horas depois a vítima estava fora de perigo.
Como todo homem que traz no fundo da sua alma a gratidão, John agradeceu-lhe com muito entusiasmo; o cientista brasileiro sorriu e disse-lhe: “Eu é quem devo agradecer-lhe; o senhor era exatamente o homem que eu estava procurando”.
De volta ao Brasil, em 1919, criou o Instituto Vital Brasil, em Niterói, que foi dirigido pelo Butantã; e, assim, coube ao Dr. Vital Brasil administrar as duas instituições.
No Instituto Butantã estudou um medicamento para curar o veneno das picadas de aranha, e obteve ótimo resultado.
Para conquistar a confiança dos brasileiros incrédulos do interior, Dr. Vital Brasil expôs uma vaca idosa à mordida de uma jararaca, e ao cair o animal ele injetou-lhe o soro, e em algumas horas o quadrúpede estava livre do veneno.
Aos 75 anos deixou de administrar os laboratórios de Niterói, mas continuou a dirigir o Butantã até o seu falecimento, que se verificou no dia 8 de maio de 1950, aos 85 anos de idade.
Muitas pessoas de todo o Mundo Terra devem a vida a este grande e humano cientista, o Dr. Vital Brasil.
Centenas de cientistas foram discípulos de Vital Brasil, tais como bioquímicos, bacteriologistas e pesquisadores de outros campos.
Seus seis filhos dedicaram-se à medicina e pesquisas; um, deles, o Dr. Vital Brasil Filho, faleceu vítima de uma infecção contraída durante uma experiência.
Vital Brazil – História
Para compreender a trajetória profissional de um cientista é fundamental que se conheça a História de sua Vida Privada. Em geral, quando se escreve a história de um cientista, a dimensão íntima é negligenciada em detrimento de seus grandes feitos e descobertas.
O objetivo não é transformar Vital Brazil em mais um mito da ciência brasileira.
Ao resgatar alguns momentos de sua história serão valorizadas algumas singularidades de sua vida íntima que contribuíram para a construção de sua carreira profissional.
A História da Vida Privada de Vital Brazil pode ser dividida em três momentos: a vida com os pais, com Maria da Conceição – sua primeira esposa; e com Dinah – sua segunda esposa.
A face de cientista de Vital Brazil iniciou-se em janeiro de 1892, com a defesa de sua tese de doutoramento intitulada As funções do baço.
Quando Vital Brazil concluiu a faculdade, o conhecimento médico não era tão especializado como hoje. O ofidismo e a produção de soros foram temas que, aos poucos dominaram o coração e a mente do cientista. A necessidade de produzir um soro que evitasse a morte por acidentes ofídicos chegou até Vital Brazil como uma demanda dos cafeicultores e políticos.
Vital Brazil pode ser considerado, ao mesmo tempo, um bioquímico e um farmacêutico, pois pesquisava e produzia soros; um biólogo, pois pesquisava a anatomia, fisiologia e o comportamento das serpentes e um médico clínico, pois atendia e diagnosticava pacientes, vítimas de acidentes ofídicos.
Para Vital Brazil, ser cientista era ser empresário. Para ele, não havia contradição entre estas duas faces de sua prática profissional.
Ele foi empresário quando fez da atividade administrativa uma de suas prioridades. Para ele, o sucesso de sua atividade no laboratório dependia da quantidade de dinheiro que conseguisse atrair para a instituição que dirigia.
Sua competência como empresário merece destaque. Assim foi no tempo do Butantan. Assim foi no tempo de Niterói. Nos dois casos, ele partiu da lama do chão para construir dois sólidos prédios que abrigam instituições científicas de ponta.
Vital Brazil – 1911
Ser cientista é ser educador. Educador como alguém que convence o outro de alguma coisa, que aconselha o outro a fazer determinada coisa, a tomar determinada decisão.
Ser cientista e ser educador, podem parecer atividades pouco conciliáveis.
A imagem que se tem do cientista é a do cidadão circunspecto, trabalhando atrás da bancada de um laboratório, alheio ao que ocorre à sua volta. Não caberia a tarefa de convencer o público da importância de sua descoberta. Esta atividade pode ser considerada menor, já que tem que falar uma linguagem compreensível nos lares.
Pelo contrário! O sucesso de um empreendimento científico depende dos esforços feitos pelo cientista para convencer os colegas e os consumidores da relevância de uma descoberta e de sua capacidade de resolver problemas vitais para o cidadão comum.
As estratégias persuasivas dirigidas aos colegas e consumidores são, portanto, fundamentais.
Vital Brazil, ao longo de sua vida profissional, demonstrou extrema habilidade política.
Fazer política não é apenas freqüentar os corredores e as sessões do Congresso Nacional. Nós fazemos política quando nos esforçamos para representar e lutar por nossos interesses, idéias e ideais.
Vital Brazil soube fazer política: lidou com opostos, recuou, avançou. Tomou decisões. Soube enfrentar o indeterminado e se aproveitar do acaso.
Foi hábil ao conseguir tirar proveito das relações interpessoais estabelecidas ao longo de sua vida.
Mostrou-se um político competente em São Paulo e em Niterói. Talvez esteja aí mais uma razão para seu sucesso.
Vital Brazil – A paixão pelas serpentes
Vital Brazil
Vital Brazil criou soros capazes de combater o veneno de várias espécies de cobras
Não tenho orgulho de minha pobre ciência, mas estou satisfeito com minha alma e meu coração.
Para uma alma bem formada não há como fazer bem aos outros; o bem que consegui fazer é que conforta e tranqüiliza meu velho coração.”
Vital Brazil, aos 84 anos, ao ser homenageado no programa Honra ao Mérito, da Rádio Nacional
Fazer do combate de acidentes provocados por picadas de cobras a grande meta de sua vida: esse foi o projeto do médico Vital Brazil Mineiro da Campanha.
Após cinco anos de pesquisas obstinadas, ele chegou a sua maior descoberta: o soro antiofídico, que serve para combater o efeito do veneno tanto de jararaca quanto de cascavel. Até o advento do soro, 25% dos acidentes com cobras venenosas resultavam em morte. Hoje, o percentual é de apenas 0,4%.
Vital Brazil extrai o veneno de uma serpente com a ajuda de um auxiliar
Vital Brazil desenvolveu esse soro — hoje chamado antibotrópico/crotálico — no Instituto Butantan, em São Paulo, onde trabalhou por vinte anos. Suas pesquisas experimentais de soros contra venenos de cascavel e jararaca tiveram início em 1897.
Vital provou que o veneno de ambas só poderia ser neutralizado pelo soro específico de cada espécie: estava estabelecido assim o conceito da especificidade da soroterapia. Até então, acreditava-se que o soro do cientista francês Albert Calmette (1863-1933), baseado em cobras naja, inexistentes no Brasil, era universal, ou seja, serviria para picadas de cobras de qualquer espécie.
Nascido a 28 de abril de 1865, Vital tornou-se médico em 1891. Ao se mudar para Botucatu (SP), constatou grande incidência de acidentes ofídicos (causados por picadas de cobras), devido ao desmatamento de florestas para a plantação de mudas de café. Isso despertou a curiosidade do médico, que começou a investigar os acidentes e suas possíveis curas. Aos poucos, seu lado clínico foi cedendo lugar ao de pesquisador.
Nessa época, a peste bubônica ameaçava a vida de milhares de brasileiros, e o soro antipestoso contra a doença produzido na Europa demorava muito a chegar. Coube a Vital Brazil a fabricação local desse soro. O fato de ter contraído essa doença e febre amarela durante seu trabalho não o impediu de levar adiante seus estudos — ele realizaria pesquisas nas áreas de biologia, bioquímica e farmacologia.
Vital Brazil faleceria a 8 de maio de 1950. Em vida, recebeu de cientistas das mais conceituadas instituições internacionais o reconhecimento da importância de sua descoberta. “Quando estive no Instituto Pasteur, de Paris, fiquei muito emocionado quando, ao término de uma conferência, mostraram-me a assinatura do Vô Vital no livro de atas das reuniões científicas”, diz o bisneto do pesquisador, Osvaldo Sant’Anna.
“Vital Brazil legou ao povo brasileiro uma gigantesca obra, patrimônio da ciência nacional reconhecida e respeitada em todos os centros científicos do mundo”, diz Lael Vital Brazil, seu penúltimo filho.
Em março de 2002, essa obra foi reunida no livro Vital Brazil: obras científicas completas, organizado por André Pereira Neto, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz. André prepara ainda o livro em CD-ROM e uma biografia do cientista. “Vital foi um cientista que, com perseverança, aproveitou seu tempo e construiu conhecimento de acordo com as necessidades da sociedade”, diz.
Vital Brazil – Produtos
Vital Brazil
Depois que Émile Roux demonstrou que a bactéria da difteria, descoberta por Loeffler em 1883, exercia sua ação deletéria por meio de uma exotoxina absorvida pelos linfáticos da orofaringe, surgiu a idéia de neutralizar esta toxina por agentes químicos ou biológicos.
Von Behring, depois de exaustivos experimentos, verificou que o soro de um animal antes inoculado com a toxina diftérica, produzia a desejada antitoxina, tornando o soro deste animal capaz de neutralizar doses letais da toxina injetadas em outro animal não imune. Kitasato, que trabalhava juntamente com Behring nos laboratórios de Koch, em Berlim, comprovou que o mesmo se passava em relação ao tétano. Em 1890 ambos assinaram em conjunto um artigo que se tornou clássico, intitulado “Mecanismo de imunidade em animais à difteria e ao tétano”.
Em 1893 von Behring aplicou pela primeira vez o soro antidiftérico em humanos, porém os resultados não foram tão bons quanto se esperava. Contudo, no ano seguinte já se notava um declínio na mortalidade por difteria na Alemanha.
Até então, os animais usados nos experimentos eram a cobaia, carneiro e cabra. Visando aumentar o teor de antitoxina no soro, ambos tiveram a idéia de usar um animal de grande porte e passaram a imunizar o cavalo, cujo soro se mostrou mais eficaz.
Em 1898 já não havia mais dúvida quanto ao valor da grande descoberta. Em 1901 von Behring recebeu o prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina, o primeiro a ser concedido pela Fundação Nobel. É de se estranhar que Kitasato não haja compartilhado dessa premiação.
O processo passou a ser utilizado no tratamento de outras doenças infecciosas de origem bacteriana, como a peste bubônica.
Comprovada a possibilidade de se produzir biologicamente uma antitoxina específica para as diferentes toxinas bacterianas, nada mais natural do que estender o método também às toxinas não bacterianas. Foi o que sucedeu com o veneno das serpentes.
Em 1888, em Saigon, capital da então possessão francesa, a Indochina, foi fundado um Instituto para tratamento anti-rábico segundo o método descoberto por Pasteur. Trabalhando neste Instituto, Albert Calmette, em 1891, um ano após a publicação das experiências de von Behring e Kitasato, iniciou pesquisas objetivando a produção de soro antiofídico, capaz de neutralizar a peçonha das serpentes.
A espécie de serpente comum na região é a Naja tripudians. Calmette extraiu o veneno de 19 exemplares, inoculando-o em doses crescentes em animais, os quais se tornaram resistentes a doses letais do mesmo veneno.
Em 1894, regressando à França, continuou seus estudos no Instituto Pasteur de Lille, onde recebia de Saigon grande quantidade de veneno da Naja, suficiente para inocular grandes animais.
Orientado por Émile Roux, Calmette produziu um soro muito ativo contra o veneno da Naja, de ação preventiva e curativa, e que se mostrou igualmente ativo para outras espécies de serpentes asiáticas.
No Brasil preocupava-se com o problema do ofidismo um dos mais eminentes personagens dentre os cientistas que implantaram a pesquisa científica no País: Vital Brazil Mineiro da Campanha.
Como o seu próprio nome de batismo sugere, nasceu em Campanha, no Estado de Minas Gerais, no dia de São Vital, 28 de abril de 1865. Estudou medicina no Rio de Janeiro de 1886 a 1891. Sem o suporte financeiro da família, teve de custear os seus estudos. Ainda como estudante prestou concurso para preparador auxiliar da cadeira de Fisiologia, função que desempenhou até o final do curso e que lhe foi muito proveitosa em sua formação de futuro pesquisador.
Terminando o curso, transferiu-se para São Paulo, onde foi admitido no Serviço de Saúde Pública do Estado, na campanha de combate à febre amarela, cólera, difteria e varíola. Em 1893 foi nomeado Inspetor Sanitário, tendo trabalhado em várias cidades do interior paulista. Na cidade de Descalvado contraiu febre amarela, à qual sobreviveu com grande risco de vida. Em 1895 chefiou a Comissão Sanitária de Combate ao Cólera, que grassava no vale do rio Paranaíba.
Em suas peregrinações pelo interior, presenciou muitos acidentes ofídicos e começou a se interessar pelo problema. Deixando o serviço público, foi clinicar em Botucatu, onde encontrou um velho conhecido seu, Reverendo Carvalho Braga. Segundo relato do próprio Vital Brazil, o Reverendo Braga teve influência decisiva na sua carreira futura, quando lhe falou de várias plantas usadas empiricamente no tratamento das mordeduras de cobras e o encorajou a estudar este campo. “Segui o conselho do Reverendo”, diz Vital Brazil, “e comecei a estudar as substâncias contidas em tais plantas”.
Neste ínterim, Vital Brazil tomou conhecimento dos trabalhos de Calmette, na Indochina, e convenceu-se de que deveria dar novo rumo às suas pesquisas. Como não poderia desenvolver experimentos de soroterapia e imunologia em Botucatu, transferiu-se para a capital, São Paulo, onde conseguiu, em julho de 1897, um lugar de assistente no Instituto Bacteriológico, sob a direção de Adolfo Lutz.
Lutz permitiu a Vital Brazil continuar seus estudos sobre ofidismo, agora como parte das atividades do Instituto.
Um ano depois e já ele apresentava ao diretor do Instituto os primeiros resultados obtidos com o veneno de duas espécies de serpentes, as mais freqüentes no Brasil: Bothrops jararaca e Crotalus terrificus. Esta última espécie é facilmente reconhecida pela existência do “chocalho” na extremidade da cauda.
Crotalus terrficus
Bothrops jararaca
Ao contrário de Calmette, que acreditava que o soro anti-Naja fosse polivalente, servindo para qualquer espécie de serpente, Vital Brazil defendia a idéia da especificidade do soro, baseado no fato de que o soro por ele preparado com o veneno da jararaca, do gênero Bothrops, não neutralizava o veneno da cascavel, do gênero Crotalus, e vice-versa. Experimentou ele o soro de Calmette, que se mostrou destituído de ação contra o veneno das serpentes brasileiras.
Em 1899 ocorreram na cidade de Santos vários casos de óbitos, atribuídos inicialmente à febre amarela. Tais casos foram precedidos de uma mortandade nos ratos, que eram abundantes na região portuária, o que fez suspeitar de peste bubônica.
Vital Brazil foi encarregado pelo Instituto Bacteriológico de estudar in loco a natureza da doença. Em instalações precárias e improvisadas realizou autópsias, examinou bubões dos doentes e obteve culturas positivas para o bacilo da peste no sangue e no baço de ratos infectados. Comprovou, assim, tratar-se realmente de um surto epidêmico de peste bubônica, que havia entrado no Brasil pelo porto de Santos, o que foi confirmado por Oswaldo Cruz, designado pelo Governo Federal para acompanhar os trabalhos.
No contato com os doentes, Vital Brazil contraiu a peste e por pouco não encerrava ali a sua carreira. Assim como vencera a febre amarela, no entanto, também sobreviveu à peste bubônica.
A epidemia estendeu-se a vários municípios do Estado de São Paulo, ao mesmo tempo que se registraram casos no Maranhão, Bahia, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul.
O tratamento da peste, na época, era feito com soro e vacina, e o controle epidemiológico pela desratização. Tendo em vista a rápida propagação da peste e dadas as dificuldades de importação de soro e vacina da Europa, tornou-se necessário e urgente iniciar a fabricação do soro em nosso País, o que foi feito no Rio de Janeiro por Oswaldo Cruz, e em São Paulo, por Vital Brazil.
Emílio Ribas, diretor do Serviço Sanitário do Estado de São Paulo, cônscio da falta de espaço e de condições no Instituto Bacteriológico para imunização de cavalos e considerando o temor da população a um possível contágio pelo bacilo da peste, propôs ao Governo a criação de um Instituto Soroterápico, longe do centro da Capital.
Uma Comissão constituída por Adolfo Lutz, Oswaldo Cruz e Vital Brazil escolheram como local adequado para instalação do novo Instituto, a fazenda Butantan, distante 9km da Capital, com uma área de 4.000.000 m2.
A chefia do novo Instituto foi entregue a Vital Brazil, que ficou responsável pela produção do soro antipestoso. Um primitivo rancho junto ao estábulo, antes utilizado para a ordenha de vacas, foi transformado em laboratório improvisado e ali tiveram início os primeiros trabalhos para a produção do soro.
Em fevereiro de 1901 o Instituto foi legalmente oficializado com o nome de Instituto Butantan e Vital Brazil nomeado seu diretor. Em junho do mesmo ano, o Instituto entregava para consumo a primeira partida de soro antipestoso, que foi utilizado na epidemia da cidade de Campos, no Estado do Rio de Janeiro. Foi encarregado de acompanhar a aplicação do soro o assistente de Vital Brazil, Abdon Petit Carneiro.
Apesar de todos os contratempos e dos inesperados acontecimentos que reclamavam a sua participação, Vital Brazil não desistira das suas investigações sobre ofidismo e no Instituto Butantan encontrou espaço e ambiente adequados à continuidade de seu trabalho nesse setor. E tal foi o seu empenho, que em agosto de 1901 os soros anticrotálico, antibotrópico e misto foram liberados para uso no homem.
A fim de obter uma quantidade suficiente de veneno para a produção destes soros, O Instituto Butantan deflagrou uma campanha, inicialmente no interior do Estado de São Paulo e, a seguir, em todo o País, de esclarecimento à população sobre o novo tratamento para mordedura de cobra, oferecendo o soro em troca de serpentes vivas. Foram dadas instruções de como as cobras deveriam ser capturadas, acondicionadas em caixas de madeira e remetidas ao Instituto.
SERPENTÁRIO PARA TANATOFÍDIOS
A iniciativa foi bem recebida e permitiu a instalação de um serpentário no Instituto, assegurando a obtenção de veneno na quantidade desejada.
Até 1949, o Instituto havia recebido cerca de 500.000 serpentes entre venenosas e não venenosas, e extraído 51 litros de veneno. A mortalidade por acidentes ofídicos no País caiu verticalmente e milhares de vidas foram poupadas na zona rural.
A primeira consagração ao trabalho de Vital Brazil ocorreu no V Congresso de Medicina e Cirurgia, realizado no Rio de Janeiro em 1903. Por indicação deste Congresso, o Governo Federal concedeu-lhe um prêmio e o Governo do Estado de São Paulo proporcionou-lhe uma viagem de estudos à Europa, com a duração de um ano.
Regressando ao Brasil em 1905, além da produção dos soros antiofídicos, iniciou a produção do soro andidiftérico e dedicou-se ao estudo de outros animais peçonhentos como o escorpião e as aranhas venenosas.
Em 1910 descobriu que a muçurana (Cloelia cloelia) só se alimenta de outras serpentes, sendo imune ao veneno botrópico. Deveria, portanto, ser preservada em seu habitat natural.
Em 1911 Vital Brazil publicou um livro de divulgação sobre o ofidismo, intitulado “Defesa contra o ofidismo”, o qual foi traduzido para o francês em edição ampliada.
Em 1915 Vital Brazil foi oficialmente convidado a participar de um Congresso Pan-americano em Washington, no qual discorreu sobre o ofidismo e seu tratamento. Teve a feliz lembrança de levar consigo algumas amostras dos soros produzidos no Instituto Butantan.
Nesta sua viagem aos Estados Unidos ocorreu a providencial coincidência referida no título deste artigo, que iria projetar a medicina brasileira em âmbito internacional e comprovar o acerto da teoria defendida por Vital Brazil, da especificidade do soro, senão quanto à espécie, pelo menos quanto ao gênero das serpentes.
Vamos transcrever a seguir a narrativa do episódio com suas próprias palavras:
“De volta de Washington, de pois de encerrado o Congresso o acaso nos forneceu feliz oportunidade de socorrer, em Ne York, um empregado do Bronx Park, o qual fora ofendido por uma Crotalus atrox do Texas. Quando fomos procurado no hotel, pelo Dr. Ditmars, diretor da seção de répteis daquele Jardim e pelo diretor do Hospital Alemão, onde fora recolhida a vítima, já eram passadas cerca de 36 horas. Atendendo ao apelo de auxílio que se nos fazia, encontramos o doente em estado desanimador; sonolência profunda, da qual saía a custo, respondendo, com dificuldade, às perguntas que lhe eram dirigidas; pulso filiforme e extremamente freqüente; membro superior direito extraordinariamente edemaciado, apresentando seguramente o duplo do seu volume normal; a pelo de revestimento desse membro apresentava-se cianótica e luzidia, e no ponto de mordedura, que foi na mão, duas placas negras, onde se viam duas incisões profundas praticadas pelo cirurgião. Já haviam empregado o permanganato de potássio e o soro Calmette, sem que o estado do doente se modificasse para melhor. Ao contrário, segundo a observação dos médicos assistentes, os sintomas de envenenamento haviam seguido uma marcha ascendente.
Aconselhamos logo que fosse aplicado desde logo o soro anticrotálico que havíamos levado conosco. Esse soro dosava 2,50 mg de veneno de Crotalus terrificus por centímetro cúbico, dose essa que corresponde a 2.500 mínimas mortais para o pombo. Na falta de um soro especial, que contivesse anticorpos resultantes do veneno da espécie determinadora do acidente, era o único que poderia ter efeito, pois fora obtido pela imunização contra o veneno de uma espécie do mesmo gênero. Tivemos, entretanto, o cuidado de prevenir aos médicos assistentes, de que o resultado não poderia ser garantido, por não ter ainda experimentado o soro naquela sorte de envenenamento. A ação do específico não se fez esperar; seis horas após a sua aplicação, o doente começou a melhorar, e 12 horas depois era considerado livre do perigo.”
O episódio foi noticiado com destaque pela imprensa e divulgado na comunidade científica internacional, o que lhe valeu o respeito e a consagração de seu trabalho.
Vital Brazil permaneceu na direção do Instituto Butantan até 1919, quando, por razões políticas, afastou-se do cargo, voltando a exercê-lo, posteriormente, no período de 1924 a 1927.
Sucedeu-o na direção do Instituto, Afrânio do Amaral, quem deu continuidade à sua obra. O Instituto Butantan expandiu suas atividades e tornou-se uma das instituições científicas mais importantes e respeitadas do País no campo da saúde pública.
No período em que esteve afastado do Instituto Butantan, Vital Brazil fundou em Niterói, um instituto privado com o seu nome, dedicado a pesquisas e produção de medicamentos.
Na vida familiar, Vital Brazil casou-se por duas vezes e deixou numerosa descendência, com 22 filhos. Faleceu aos 85 anos de idade, em sua residência, na cidade do Rio de Janeiro, no dia 8 de maio de 1950.
Vital Brazil foi um dos mais eminentes construtores da moderna medicina brasileira, além de um grande benfeitor da humanidade.
Sobre ele e sua obra assim se manifestaram os mais destacados cientistas de outras nações:
ÉMILE BRUMPT (Fac. Med. de Paris): “Conhecidos do mundo inteiro, os trabalhos do Dr. Brazil são particularmente apreciados na França”;
A. CALMETTE (Instituto Pasteur, Paris): “A obra científica de Vital Brazil é absolutamente de primeira ordem. Os seus trabalhos sobre venenos e sobre as soroterapias salvaram milhares de existências”.
ERNST BRESSLAU (Univ. Köln, Alemanha): “Testemunho a minha admiração pelos notáveis trabalhos de Vital Brazil, sábio e pesquisador. O conceito mundial de que goza o Instituto Butantan provém, em não pequena parte, de sua personalidade”.
F. FULLEBORN (Inst. de Doenças Tropicais de Hamburgo, Alemanha): “Tanto por sua importância científica quanto prática, me despertaram a maior admiração os trabalhos do Prof. Vital Brazil, a quem considero pesquisador dos mais notáveis no domínio da biologia”.
RUDOLF KRAUS (Inst. Soroterápico de Viena): “Creio lícito afirmar que, do ponto de vista da sorologia e da imunologia, ao lado do Instituto Oswaldo Cruz, o Instituto Butantan, fundado por Vital Brazil, ocupa o segundo lugar na América do Sul. Na luta contra o ofidismo, Vital Brazil eqüivale a Oswaldo Cruz na campanha da febre amarela”.
TH. MADSEN (Inst. Soroterápico de Copenhagen): “A obra executada no Brasil pelo Prof. Vital Brazil e o seu devotamento provocaram uma unânime admiração.”
CHARLES MARTIN (Inst. Lister, Londres): “Pelas suas pesquisas relativamente aos venenos das serpentes e de outros animais, o Dr. Brazil, não somente enriqueceu a fisiologia, como colocou uma valiosa medida terapêutica a serviço da humanidade.”
SIMON FLEXNER (Inst. Rockffeler, New York): “O mundo inteiro está em dívida com o Dr. Brazil pelas suas pesquisas fundamentais relativamente às peçonhas e antipeçonhas; os benefícios que resultaram do Instituto por ele criado são sentidos não somente por todo o Brasil, mas também em países distantes.”
BERNARDO HOUSSAY (Instituto de Fisiologia, Buenos Aires): “Vital Brazil é uma glória sul-americana e seu nome deve ser citado como o de Oswaldo Cruz entre os que iniciaram a verdadeira ciência imunológica na América do Sul.”
O nome de Vital Brazil tem sido escrito de duas maneiras: Brazil com z e Brasil com s. Optamos por Brazil com z porquanto foi a grafia por ele utilizada em suas publicações.
Convém lembrar que, ao final do século XIX e início do século XX, o próprio nome do País escrevia-se tanto com z como com s, o que levou Medeiros e Albuquerque a dizer: “O Brasil é a única nação civilizada que não sabe como escrever o próprio nome”.
Até Ruy Barbosa usou as duas formas: Brazil com z em “Lições das cousas” (1886) e Brasil com s em “Cartas da Inglaterra” (1896).
Esta incerteza estendia-se aos meios oficiais e havia moedas cunhadas com z e com s, A grafia com s foi finalmente oficializada e aceita como definitiva, tendo contribuído para isso o extenso e exaustivo estudo realizado por Assis Cintra e publicado em 1920, no qual ele analisa 13 diferentes hipóteses etimológicas anteriormente aventadas e demonstra que a palavra brasil, assim como brasa, provêm do alto alemão bras, que significa fogo, tanto no sentido material como metafórico.. O vocábulo era usado pelos visigodos que dominaram a península ibérica após a queda do Império romano do ocidente, antes da invasão árabe.
VITAL BRASIL E O INSTITUTO BUTANTAN
Vital Brazil
Vital Brazil nasceu na cidade de Campanha, Minas Gerais, em 28 de abril de 1865. Diplomou-se médico, em 1891, pela faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e logo dirigiu-se para São Paulo, que acreditava ser um estado preocupado com a saúde e higiene de sua população.
Desde 1893, como inspetor sanitário, percorreu o interior do estado, tomando conhecimento das precárias condições de saúde em que vivia a população.
Afastou-se do serviço público, estabelecendo-se como clínico em Botucatu, quando, em contato com acidentes, iniciou as primeiras experiências com serpentes peçonhentas.
Em 1896, a convite de Adolfo Lutz, iniciou suas pesquisas no Instituto Bacteriológico.
Em 1898 participou da identificação do surto epidêmico de peste bubônica em Santos, e passou a preparar o soro contra esta doença na Fazenda Butantan (local onde se originou a Instituto). Médico clínico no interior de São Paulo, percebeu a necessidade de combater os sintomas de envenenamento por animais peçonhentos. Nesta época, ocorriam quase 3.000 acidentes por ano no Estado de São Paulo.
A Fazenda dispunha de um laboratório improvisado, uma cocheira adaptada para enfermaria, um alpendre para sangria de cavalos imunizados e um pavilhão para acondicionamento e distribuição de soros. Nesse ambiente prosseguiram os seus estudos e primeiros trabalhos técnicos até 23 de fevereiro de 1901, quando o Presidente do Estado, Rodrigues Alves deu organização oficial ao Instituto Butantan, que recebeu inicialmente o nome de Instituto Serumtherápico. Neste mesmo ano foram entregues as primeiras partidas de soros antipestosos e antipeçonhentos.
Todo este pioneiro e importante trabalho cientifico foi reconhecido pela primeira vez na comunidade cientifica durante a 5º Congresso de Medicina e Cirurgia, no Rio de Janeiro. Vital Brazil demonstrou neste congresso que a única arma contra a envenenamento ofídico era o anti-veneno especifico (o soro obtido a partir do veneno do animal que causa o acidente neutraliza a ação desse veneno).
Muitos trabalhos científicos passaram a ser desenvolvidos par Vital Brazil e técnicos do Instituto Butantan. Estes estudos com animais peçonhentos levaram à publicação do livro “Defesa contra a Ofidismo”, em 1911, reeditado mais tarde em francês.
O Instituto Butantan ganhava prestígio e importância nestes anos, e sua ampliação era emergente. Inaugurou-se então, em 1914, o chamado Prédio Central do Instituto, o primeiro a ser construído para instalar propriamente vários laboratórios. Hoje, o prédio abriga a Biblioteca, a Divisão Cultural do Instituto e os Laboratórios de Bioquímica e Farmacologia. Esta ampliação também atingiu a população, que precisava conhecer medidas de prevenção de acidentes peçonhentos, foi através de permuta com fornecedores de animais, com posterior troca de correspondência, que estas medidas começaram a ser divulgadas. Nos anos seguintes, o Butantan passou a estender as suas pesquisas sobre os problemas ligados à higiene e preparo de produtos para a defesa da saùde da população paulista e brasileira.
Estudou-se a difteria, tétano, gangrena, tifo, varíola (hoje erradicada), parasitoses, febre maculosa e lepra. Lemos Monteiro, destacado pesquisador desta fase do Instituto, e seu assistente, Edson Dias, foram infectados no laboratório quando preparavam a vacina contra a febre maculosa (tifo exantemático), vindo a falecer poucos dias depois.
Vital Brazil retirou-se da direção do Instituto em 1919, retornando em 1924. Neste ano, intensificou os trabalhos, no campo da Microbiologia, Imunologia, criou novos laboratórios e estabeleceu um intenso programa de informação ao público, organizando cursos de higiene para professores e exposição de painéis informativos. Desenvolveu novos estudos, e produziu, em alta escala, vacinas para a produção da febre tifóide, que atingiu São Paulo nesta época.
Os laboratórios de produção têm hoje (2004) uma capacidade instalada para a produzir 180 milhões de doses/ano de vacinas e 800 mil ampolas/ano de soros.
O Butantan hoje desenvolve projetos para novos laboratórios de produção de soros e vacinas e outras substâncias para a saúde pública (eritropoetina, surfactante pulmonar, hemoderivados), modernizacâo de instalações, pesquisas biomédicas em novas áreas e ampliação das atividades de ensino e divulgação.
Crescendo sempre em função das necessidades da população, o Butantan fornece atualmente cerca de 75% de todas as vacinas e 80% dos soros utilizadas no Brasil.
O Hospital Vital Brazil, para atender vítimas de envenenamento por animais peçonhentos, começou a funcionar em 1945. Em 1948, como parte de uma homenagem a Vital Brazil, um novo prédio para laboratórios de pesquisa foi inaugurado no Instituto, dando inicio a mais uma fase de ampliação. Foram também construídos o heliporto, biotérios (onde sâo criados e mantidos animais para experimentos cientificos) e outros laboratórios.
Vital Brazil Mineiro da Campanha morreu em 8 de maio de 1950. Responsável por um trabalho pioneiro em medicina experimental no Estado de São Paulo, ajudou a construir o enorme patrimônio que o Instituto Butantan hoje representa para a Ciência.
No final do século XIX, a descoberta dos agentes causadores de doenças infecciosas representou um passo fundamental no avanço da medicina experimental, através do desenvolvimento de métodos de diagnóstico e tratamento de doenças como a difteria, tétano e cólera. Um dos principais aspectos desse avanço foi o desenvolvimento da soroterapia, que consiste na aplicação no paciente de um soro contendo um concentrado de anticorpos. A soroterapia tem a finalidade de combater uma doença específica (no caso de moléstias infecciosas), ou um agente tóxico específico (venenos ou toxinas).
O Dr. Vital Brazil Mineiro da Campanha, médico sanitarista, residindo em Botucatu, consciente do grande número de acidentes com serpentes peçonhentas no Estado, passou a realizar experimentos com os venenos ofídicos. Baseando-se nos primeiros trabalhos com soroterapia realizados pelo francês Albert Calmette, desenvolveu estudos sobre soros contra o veneno de serpentes, descobrindo a sua especificidade, ou seja, cada tipo de veneno ofídico requer um soro específico, preparado com o veneno do mesmo gênero de serpente que causou o acidente.
Já em São Paulo, Vital Brazil identificou um surto de peste bubônica na cidade de Santos em 1898. Iniciou, então, em condições precárias, o preparo de soro contra essa doença em instalações da Fazenda Butantan. Essa produção iniciou-se oficialmente em 1901, dando origem ao Instituto Serumtheráphico de Butantan, nome original do Instituto Butantan. Controlada a peste, o Dr. Vital Brazil deu prosseguimento à preparação de soros antiofídicos nesse Instituto, para atender ao grande número de acidentes com serpentes peçonhentas, já que o Brasil era um país com grande população rural, na época, tendo, ainda, Vital Brazil iniciado a produção de vacinas e outros produtos para a Saúde Pública.
Soros & vacinas são produtos de origem biológica (chamados imunobiológicos) usados na prevenção e tratamento de doenças. A diferença entre esses dois produtos está no fato dos soros já conterem os anticorpos necessários para combater uma determinada doença ou intoxicação, enquanto que as vacinas contêm agentes infecciosos incapazes de provocar a doença (a vacina é inócua), mas que induzem o sistema imunológico da pessoa a produzir anticorpos, evitando a contração da doença. Portanto, o soro é curativo, enquanto a vacina é, essencialmente, preventiva.
O BUTANTAN E A PRODUÇÃO NACIONAL DE SOROS
Em 1984 foi lançado o Programa de Auto-Suficiência Nacional em Imunobiológicos, para atender à demanda nacional por esses produtos e tentar eliminar a necessidade de importação. Para tanto, foram realizados investimentos em instalações e equipamentos para os laboratórios, contando com a colaboração do Ministério da Saúde.
No Instituto Butantan, além do investimento na produção, percebeu-se a importância do investimento em pesquisas & desenvolvimento, e criou-se o Centro de Biotecnologia, visando o desenvolvimento de novas tecnologias para a produção de soros e vacinas e de novos produtos.
Toda a produção de imunobiológicos (o Instituto Butantan produz cerca de 80% dos soros e vacinas utilizados hoje no País) é enviada ao Ministério da Saúde, e por ele redistribuída às secretarias de Saúde dos Estados.
A PRODUÇÃO DE SORO
Os soros são utilizados para tratar intoxicações provocadas pelo veneno de animais peçonhentos ou por toxinas de agentes infecciosos, como os causadores da difteria, botulismo e tétano. A primeira etapa da produção de soros antipeçonhentos é a extração do veneno – também chamado peçonha – de animais como serpentes, escorpiões, aranhas e taturanas. Após a extração, a peçonha é submetida a um processo chamado liofilizacão, que desidrata e cristaliza o veneno.
A produção do soro obedece às seguintes etapas:
1. O veneno liofilizado (antígeno) é diluído e injetado no cavalo, em doses adequadas. Esse processo leva 40 dias e é chamado hiperimunizacão.
2. Após a hiperimunizacão, é realizada uma sangria exploratória, retirando uma amostra de sangue para medir o teor de anticorpos produzidos em resposta às injecões do antígeno.
3. Quando o teor de anticorpos atinge o nível desejado, é realizada a sangria final, retirando-se cerca de quinze litros de sangue de um cavalo de 500 Kg em três etapas, com um intervalo de 48 horas.
4. No plasma (parte líquida do sangue) são encontrados os anticorpos. O soro é obtido a partir da purificação e concentração desse plasma.
5. As hemácias (que formam a parte vermelha do sangue) são devolvidas ao animal, através de uma técnica desenvolvida no Instituto Butantan, chamada plasmaferese. Essa técnica de reposição reduz os efeitos colaterais provocados pela sangria do animal.
6. No final do processo, o soro obtido é submetido a testes de controle de qualidade:
6.1. atividade biológica – para verificação da quantidade de anticorpos produzidos;
6.2. esterilidade – para a detecção de eventuais contaminações durante a produção;
6.3. inocuidade – teste de segurança para o uso humano;
6.4. pirogênio – para detectar a presença dessa substância, que provoca alterações de temperatura nos pacientes;
6.5. testes físico-químicos.
A hiperimunização para a obtenção do soro é realizada em cavalos desde o começo do século porque são animais de grande porte. Assim, produzem uma volumosa quantidade de plasma com anticorpos para o processamento industrial de soro para atender à demanda nacional, sem que os animais sejam prejudicados no processo.
Há um acompanhamento médico-veterinário destes cavalos, além de receberem uma alimentação ricamente balanceada.
Processamento do Plasma para obtenção de Soro
O processamento do plasma para obtenção do soro é realizado em um sistema fechado, inteiramente desenvolvido pelo Instituto Butantan, instalado para atingir a produção de 600 mil ampolas de soro por ano, atendendo às exigênicas de controle de qualidade e biossegurança da Organização Mundial de Saúde.
Os soros produzidos pelo instituto Butantan são:
Antibotrópico: para acidentes com jararaca, jararacuçu, urutu, caiçaca, cotiara.
Anticrotálico: para acidentes com cascavel.
Antilaquético: para acidentes com surucucu.
Antielapídico: para acidentes com coral.
Antibotrópico-laquético: para acidentes com jararaca, jararacuçu, urutu, caiçaca, cotiara ou surucucu.
Antiaracnídico: para acidentes com aranhas do género Phoneutria (armadeira), Loxosceles (aranha marrom) e escorpiões brasileiros do género Tityus.
Antiescorpiônico: para acidentes com escorpiões brasileiros do género Tityus.
Antilonomia: para acidentes com taturanas do género Lonomia.
Além dos soros anti-peçonhentos, o Instituto Butantan também produz soros para o tratamento de infecções e prevenção de rejeição de órgãos. A maior parte desses soros é obtida pelo mesmo processo dos soros antipeçonhentos. A única diferença está no tipo de substância injetada no animal para induzir a formação de anticorpos. No caso dos soros contra difteria, botulismo e tétano, é usado o toxóide preparado com materiais das próprias bactérias. Para a produção do anti-rábico, é usado o vírus rábico inativado.
OUTROS SOROS
Anti-tetânico: para o tratamento do tétano.
Anti-rábico: para o tratamento da raiva.
Antidiftérico: para tratamento da difteria.
Anti-botulínico – “A”: para tratamento do botulismo do tipo A.
Anti-botulínico – “B”: para tratamento do botulismo do tipo B.
Anti-botulínico – “ABE”: para tratamento de botulismo dos tipos A, B e E.
Anti-timocitário: o soro antitimocitário é usado para reduzir as possibilidades de rejeição de certos órgãos transplantados. O Instituto Butantan produz dois tipos desse soro: o de origem eqüina e o monoclonal. O primeiro tipo é obtido através da hiperimunizacão de cavalos com células obtidas do timo humano (glândula localizada no pescoço) e, em seguida, são purificados. O segundo tipo é produzido a partir de células obtidas em equipamentos especiais chamados bioreatores.
Como resultado de estudos na área, estão sendo desenvolvidas novas formas de utilização dos soros, aumentando o seu potencial de utilização, seja através da obtenção de graus mais elevados de purificação, da redução de custos ou do aumento do prazo de armazenamento, como os produtos liofilizados. Soros Antipeçonhentos Liofílizados estarão sendo disponibilizados brevemente.
Uma pequena parcela de indivíduos tratados com os soros de origem eqüina torna-se hipersensível a certos componentes desses soros. Para esses casos, o Butantan vem estudando a possibilidade de produção de alguns soros a partir de sangue humano, como o anti-rábico e o anti-tetânico, que também pode ser obtido a partir de mães que foram vacinadas contra o tétano (visando o controle profilático dessa doença em recém-nascidos) já que elas concentram os anticorpos na própria placenta.
VACINAS
As vacinas contêm agentes infecciosos inativados ou seus produtos, que induzem a produção de anticorpos pelo próprio organismo da pessoa vacinada, evitando a contração de uma doença. Isso se dá através de um mecanismo orgânico chamado “memória celular”.
As vacinas diferem dos soros também no processo de produção, sendo feitas a partir de microrganismos inativados ou de suas toxinas, em um processo que, de maneira geral, envolve:
Fermentação;
Detoxificação;
Cromatografia;
Entre as vacinas produzidas pelo Instituto, estão:
Toxóide tetânico: para prevenção do tétano. A produção de toxóide tetânico pelo Instituto Butantan chega a 150 milhões de doses por ano, atendendo a demanda nacional. O toxóide também serve para produzir as vacinas dupla (dTe DT] e tríplice [DTP].
Vacina dupla (dT): para prevenção da difteria e tétano em indivíduos acima dos 11 anos.
Vacina tríplice (DTP): para prevenção da difteria, tétano e coqueluche. Esta vacina é obtida a partir de uma bactéria morta, o que constitui uma dificuldade em sua produção, pois a bactéria deve estar em um determinado estágio de crescimento, que garanta à vacina, ao mesmo tempo, potência e baixa toxicidade.
BCG íntradérmico: para prevenção da tuberculose. O Instituto Butantan produz cerca de 500 mil doses de BCG por ano. Com novas técnicas de envase e liofilizacão, a produção deve ser aumentada em 50%.
Contra a raiva (uso humano): para prevenção da raiva. Produzida em cultura celular, que nos possibilita ter uma vacina menos reatogênica.
NOVAS VACINAS
Em sua tradição pioneira voltada à Saúde Pública, o Instituto Butantan segue realizando pesquisas para a produção de novas vacinas. Está em desenvolvimento uma vacina contra meningite A, B e C, e uma nova vacina contra coqueluche.
Também estão sendo realizadas pesquisas com a utilização de engenharia genética, assim como foi feito com a vacina contra hepatite, desta vez para o desenvolvimento de vacinas contra a dengue e esquistossomose (em conjunto com a FIOCRUZ- Fundação Instituto Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro.)
O Instituto Butantan desenvolveu a primeira vacina recombinante no Brasil (utilizando técnicas de engenharia genética) contra a Hepatite B, com capacidade de produção de 50 milhões de doses por ano. Há uma previsão de aumento dessa produção para suprir a demanda nacional, bem como a perspectiva de combiná-la com a vacina tríplice e a hemophilus, obtendo desta maneira a vacina pentavalente.
Vacina contra a gripe (influenza)
Acordo firmado com Laboratório Aventis Pasteur/França, possibilita ao Instituto receber matéria prima e se responsailizar pelo controle de qualidade e envasametno de doses (17 milhões). Essa transferência de tecnologia vem ocorrendo desde 2000 e, a partir de 2007, o Butantan estará atendendo a demanda nacional.
Novos produtos
Além dos soros & vacinas, o Instituto Butantan continua investindo em novos produtos para a Saúde Pública. Entre estes produtos estão os biofármacos que são medicamentos biológicos para uso humano. Como a maioria da população não tem condições de pagar o valor extremamente alto destes medicamentos importados, o Instituto Butantan, inicia também a produção de biofármacos para que o Ministério da Saúde possa distribuir às unidades de saúde em todo o Brasil para uso gratuito.
Dois exemplos de grande função social são:
Eritropoetina – medicamente necessário para pacientes renais que permanecem na fila de espera aguardando o transplante de rim;
Surfactante – medicamento para bebês prematuros que nascem com pulmões ainda não totalmente desenvolvidos por falta desta substância. Na maioria dos casos em que os pais não têm recursos para pagar o produto importado, estes bebês acabam falecendo.
Hoje, isto representa cerca de 25.000 casos. A produção do surfactante pulmonar para bebês prematuros foi viabilizada por meio de uma parceria do Instituto Butantan com a FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – e a empresa Sadia.
Toxina Botulínica, para tratamento de doenças oculares, ortopédicas e para uso estético.
Hemoderivados, iniciará em 2004 a implantação de planta que através do processamento de plasma produzirá fatores anti-hemofílico, imuno globulina e albumina.
Com alto controle de qualidade aprovado pela Organização Mundial da Saúde, observando os princípios de bioseguranca e bioética, o Instituto Butantan vem cumprindo sua função social na tríplice atividade de pesquisa científica, desenvolvimento & produção de imunobiológicos e educação aplicados à Saúde Pública.
Assim, valoriza seu passado e caminha em direcão ao futuro.
Fonte: www.astrotheme.com/rcristao.tripod.com/usuarios.cultura.com.br/www.butantan.gov.br
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