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Nome completo: José Joaquim de Campos Leão.
Pseudônimo: Qorpo Santo.
Nascimento: 19 de abril de 1829, Triunfo, Rio Grande do Sul.
Falecimento: 1 de maio de 1883, Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
Forma autorizada: Qorpo-Santo.
Qorpo-Santo nasceu em Triunfo, Rio Grande do Sul, e percorreu várias localidades do interior antes de se estabelecer em Porto Alegre.
Foi comerciante, professor, vereador, delegado de polícia.
Adotou o nome Qorpo-Santo por razões místicas que não explica muito bem – em seus escritos, compara-se a Jesus Cristo e afirma encontrar-se, pelo fenômeno da “transmigração das almas”, com o espírito de Napoleão III.
A grafia de “Qorpo” obedece à ortografia criada pelo autor, que assim desejava simplificar a escrita em português.
A extensão e a natureza de seus problemas mentais não são claras. Os médicos que o examinaram no Rio de Janeiro, em 1868, declararam que estava apto para administrar negócios e família. Porém, de volta a Porto Alegre, no mesmo ano, foi interditado pela Justiça.
Conseguiu montar uma gráfica, em 1877, para imprimir uma estranha série de livros intitulada Ensiqlopédia, ou Seis Mezes de huma Enfermidade.
As dezessete comédias (uma delas incompleta) reunidas em Teatro Completo são todas datadas de 1866 e levariam exatamente um século para ser encenadas.
A primeira montagem foi realizada por um grupo estudantil de Porto Alegre, em 1966.
Desde então, os textos de Qorpo-Santo voltaram poucas vezes ao palco. É um autor difícil, que exige ousadia da direção.
Os personagens não apresentam uma identidade coerente, e suas ações são as mais desvairadas: ateiam fogo no cenário, soltam ratos no palco, bolinam e espancam uns aos outros. Muitas peças têm uma pesada carga sexual.
As Relações Naturais inclui cenas em um bordel e insinuações de incesto.
A Separação de Dois Esposos encerra-se com um diálogo hilariante entre Tatu e Tamanduá, o primeiro casal gay da dramaturgia brasileira.
O curioso é que o dramaturgo era um conservador empedernido.
Só quando escrevia, o monarquista José Joaquim de Campos Leão dava lugar ao anárquico Qorpo-Santo.
Qorpo Santo – Autor
Qorpo Santo
Nasceu em 1829, na cidade de Triunfo, no Rio Grande do Sul, com o nome de José Joaquim de Campos Leão.
Em 1839, muda para Porto Alegre onde estudaria gramática e trabalharia no comércio.
Em 1850, habilita-se para o magistério público, passando a exercer o cargo de “professor de primeiras letras”, ele daria aulas até 1855.
Em 1851 cria um grupo dramático. Em 1857, muda para Alegrete, cidade em que funda um colégio de instrução primária e secundária. É eleito vereador da Câmara Municipal de Alegrete, em 1860.
Maníaco obsessivo, enfrentou um processo de interdição movido por sua própria esposa, Inácia de Campos Leão, que em 1862, pediu a interdição judicial dos bens do marido, alegando a insanidade mental do marido, que acabou perdendo seus direitos civis e seus bens. Por ordens médicas, foi forçado a parar de escrever.
Professor, fundador e diretor de um colégio, subdelegado, vereador, comerciante e escritor, José Joaquim de Campos Leão nasceu em 19 de abril de 1829, na Vila do Triunfo e faleceu em 1 de maio de 1883 em Porto Alegre, com 53 anos.
Precursor do Teatro do Absurdo e do Surrealismo na dramaturgia, Qorpo Santo chocou a sociedade de sua época. Sua obra teatral só foi apresentada ao público pela primeira vez em 1966 ou 1968 (não se sabe ao certo) através da montagem de três de suas peças. Foi ele antecessor de Alfred Jarry, considerado por muitos o precursor do Teatro do Absurdo.
“Se o autor parece ansiar por um mundo em que prevaleçam a ordem e a obediência aos preceitos religiosos e legais, logo se insinua a malícia e o deboche, colocando em ridículo tais objetivos e mostrando a precariedade de nossos juízos”, escreve Eudinyr Fraga, um dos principais pesquisadores da obra de Qorpo Santo.
Segundo o professor Eudinyr Fraga, as peças estão mais próximas do surrealismo de André Breton, autor do Manifesto Surrealista, do que do absurdo de Eugène Ionesco.
Um dos argumentos é a presença das divagações dos chamados ”fluxos de consciência”, método que aparece no surrealismo do início do século 20 como ”automatismo psíquico puro”. A enxurrada de palavras aparece em diferentes textos, entre os quais As Relações Naturais. Mas também há elementos do absurdo.
Qorpo Santo – Vida
Em 1877, o gaúcho José Joaquim Campos Leão, já autodenominado Qorpo-Santo, conseguiu autorização para abrir uma tipografia. Era a oportunidade que lhe restava para imprimir obras de sua autoria. Seus planos eram audaciosos, mas sua mente, já enferma, começava a preocupar os familiares.
Até sua morte, provocada pela tuberculose em 1883, imprimiu em mau papel e com uma ortografia que repugnava o leitor de então os nove volumes de Ensiqlopédia, seu testamento literário. Da coleção, perderam-se dois volumes e, dos outros sete, existe apenas um exemplar de cada.
Mais de cem anos depois, a obstinação em perpetuar a obra parece não ter fim – em 1995, a pesquisadora Denise Espírito Santo descobriu um daqueles volumes, justamente o que continha 537 poemas escritos por Qorpo-Santo.
Foram dez meses vasculhando sebos e bibliotecas particulares de Porto Alegre até encontrar a raridade. Até então, conheciam-se apenas as 17 peças teatrais de sua autoria, daí a importância da descoberta. “Foi uma grande vitória pessoal”, conta Denise, que não encontrou, porém, uma editora que aceitasse imprimir a jóia literária. Foram cinco anos de negociações até que a pequena Contra Capa, do Rio, apostasse no projeto.
“Fiz questão de exigir cuidados mínimos com a obra, o que acabou afugentando muitos editores”, conta a pesquisadora, que incluiu uma foto inédita de Qorpo-Santo na capa do livro, finalmente lançado e intitulado Poemas (Contra Capa, tel. 0–21-236-1999, 384 páginas, R$ 37). Ao analisar o texto, Denise notou as características mais notáveis do escritor. “São textos de uma lógica impecável, que subverte padrões”, observa. “Os poemas vão se somar agora ao teatro, pois têm a mesma linha de intenção de retratar o cotidiano com um espírito cômico, satírico.”
Denise acredita que a obra acrescenta à poesia brasileira um estilo novo, em que assuntos triviais e nonsense (adotados depois pelos modernistas) dominam os temas, o que contraria as convenções estéticas do romantismo do século 19.
Qorpo-Santo inovou também ao propor uma reforma ortográfica da língua: em sua poesia, a letra “c”, por exemplo, deixa de ter o som de “q”. “O cruzamento de línguas e culturas que sempre ocorreu no Sul foi fundamental em suas inovações vocabulares e também no uso do português castiço, em que mistura o erudito com o popular.”
Os dados conhecidos de sua vida vêm de uma autobiografia, já escrita com sua peculiar ortografia. José Joaquim de Campos Leão nasceu em 1829, na Vila do Triunfo, Rio Grande do Sul. Sua vida transcorre normal, habilitando-se para o magistério até chegar aos 30 anos, quando acreditou-se santo e resolveu adotar o pseudônimo.
Em 1862, surgem as primeiras manifestações da doença que levariam a família a pedir intervenção judicial de seus bens. É avaliado por dois peritos de Porto Alegre, mas os médicos divergem sobre sua sanidade mental. Começa, então, a escrever compulsivamente os textos que vão compor a Ensiqlopédia.
“A análise destes textos me fazem acreditar que ele não estava louco”, comenta Denise. “Há um rigor impecável, principalmente no uso da sua linguagem própria, o que seria difícil se estivesse com problemas mentais.”
Transgressão
Em 1873, sofre as primeiras perseguições por suas idéias, publicadas em alguns jornais locais. Também nessa época, Qorpo-Santo começa a sentir os primeiros sintomas de problemas respiratórios. Mesmo assim, não interrompe a escrita – o planejamento, sem ser rigoroso, apresenta divisões não muito nítidas, alternando texto em prosa e em verso. É o período em que desenvolve as peças de teatro, com suas características de transgressoras e de vanguarda (leia texto abaixo).
“Qorpo-Santo tinha necessidade de falar de seu ofício, além de revelar suas influências, desde as peças encenadas em circos até as operetas apresentadas por companhias italianas, em Porto Alegre”, conta Denise. Depois de publicar todos seus textos na própria tipografia, entregou os únicos exemplares de cada um dos nove volumes a um amigo comerciante. “Os livros ficaram na biblioteca desta família até que foram vendidos para sebos e sumiram.”
Começou então um período de total silêncio sobre a obra de Qorpo-Santo, até a redescoberta, promovida pelo estudioso Guilhermino César, que organizou a primeira edição das peças teatrais, em 1969. O colecionador Julio Petersen, de Porto Alegre, localizou três volumes, outro foi doado ao Instituto Histórico da capital gaúcha e outros três pertencem à família Assis Brasil.
As obras foram fonte de pesquisa de Denise. Como estavam irregularmente distribuídos por vários volumes, a pesquisadora reuniu os poemas por afinidades temáticas. Também atualizou a ortografia para facilitar o entendimento. “Li todo o material durante dois anos até chegar à ordem em que foi publicado.
” A pesquisadora, porém, não está satisfeita: pretende lançar, até abril, outro volume, Miscelânea Quriosa, com mais textos de Qorpo-Santo. “Ainda faltam redescobrir dois livros”, justifica.
Qorpo Santo – Biografia
Qorpo Santo
José Joaquim de Campos Leão, Qorpo Santo, parece ser a figura mais controvertida da dramaturgia nacional.
Sua obra ora é apontada como produto de uma mente inferior perturbada pela doença mental, ora como produto de uma mente genial que não é compreendida.
Entre as duas opiniões fica-se com nenhuma, ou antes, com ambas. Isto significa dizer que o que se pretende é ver em Qorpo Santo uma mente genial que se mascara através da loucura.
O teatro de Qorpo Santo, cada uma de suas personagens, além de surgir como um dos veículos de sua vingança contra o meio social e os desajustes humanos, é a expressão da criação artística em seu mais alto grau de elaboração, sobretudo as peças: “As Relações Naturais”; “Hoje sou um; e Amanhã outro”; “A Impossibilidade da Santificação; ou a santificação transformada” e “Lanterna de Fogo”
José Joaquim de Campos Leão, mais conhecido por seu pseudônimo Qorpo-Santo, foi um brilhante dramaturgo gaúcho que ficou esquecido por cem anos, quando descobriu-se um autor oiriginal, de perspectiva moderna e olhar crítico.
Foi precursor do Teatro do Absurdo e esteve muito além de seu tempo.
Torna-se professor primário e passa a lecionar em escolas públicas, fixando-se na capital da província. Também chega a exercer a função de delegado de polícia.
Em 1862, as autoridades escolares passam a suspeitar de sua sanidade mental, e Qorpo-Santo é obrigado a internar-se.
Em 1868 é considerado inapto para continuar lecionando e também para a administração de seus bens e família.
Em jornal que ele mesmo funda, A Justiça, protesta veementemente contra a decisão da justiça, que o torna inapto.
No mesmo período cria a Enciclopédia ou Seis Meses de Uma Enfermidade, composta por nove tomos, dos quais só se conhecem seis atualmente. É considerado um trabalho revolucionário e desnorteante na época. No IV volume, publica todas as suas comédias que hoje conhecemos. A Edição, impressa em tipografia própria, foi lançada em 1877.
Qorpo-Santo rompeu com os padrões da época e, no provinciano final do século XIX, esteve mais próximo de nossos tempos, do que no qual viveu.
Obras
Certa identidade em busca de outra
Eu sou vida eu não sou morte
Um credor da Fazenda Nacional
As relações naturais
Hoje sou um; e amanhã sou outro
Um assovio
Um parto
Hóspede atrevido ou O brilhante escondido
A impossibilidade da santificação ou A santificação transformada
Dois irmãos
A separação de dois esposos
La
Lanterna de fogo
Marinheiro escritor
Marido extremoso
Mateus e Mateusa
Elias e sua loucura bíblica
Qorpo Santo – Teatro
Qorpo Santo
Qorpo-Santo faz parte do cânone da dramaturgia gaúcha, mas pouco se conhece de sua obra. Autor do século 19, propôs reforma ortográfica na língua portuguesa e escreveu 17 comédias, agora reeditadas.
O melhor personagem do gaúcho José Joaquim de Campos Leão (1829-1883) é ele próprio, auto-apelidado Qorpo-Santo.
Escolheu o nome aos 34 anos, quando acreditava imbuído de missão divina. A justificativa (Corpo-Santo, mais tarde transformado em Qorpo-Santo) era viver afastado do mundo das mulheres. Se o corpo se pretendia santo, o mesmo não se pode dizer dos textos — e alguns revelam a incapacidade de conciliar tais preceitos aos desejos carnais.
As 17 comédias percorrem universo de erotismo e sensualidade, com histórias às vezes escatológicas, outras que mexem com tabus da época. Foram escritas em cinco meses, entre janeiro e junho de 1866, passaram um século no anonimato e agora estão de volta às livrarias no volume Teatro Completo — Qorpo-Santo, com introdução do professor Eudinyr Fraga, morto há menos de um mês. Fraga pertencia à Escola de Comunicação e Artes (Eca), da Universidade de São Paulo, e era especialista na obra de Campos Leão.
Escreveu Qorpo-Santo: Surrealismo ou Absurdo (1988), que questiona a tese de que o autor é precursor do teatro do absurdo.
Segundo o professor, as peças estão mais próximas do surrealismo de André Breton, autor do Manifesto Surrealista, do que do absurdo de Eugène Ionesco.
Um dos argumentos é a presença das divagações dos chamados ‘‘fluxos de consciência’’, método que aparece no surrealismo do início do século 20 como ‘‘automatismo psíquico puro’’. A enxurrada de palavras aparece em diferentes textos, entre os quais As Relações Naturais.
Mas também há elementos do absurdo. ‘‘Ele criou comédias totalmente nonsense em pleno século 19. Tem esse mérito e um valor artístico inegável’’, afirma a pesquisadora Denise Espírito Santo, organizadora do Poesia — Qorpo-Santo (1999).
Herança cômica
Qorpo-Santo é uma espécie de Arthur Bispo do Rosário do teatro. Tido por louco quando vivo, acabou internado em sanatório. Depois de morto (por tuberculose, aos 53 anos), caiu no esquecimento até ser descoberto nos anos 20 por intelectuais gaúchos. Suas peças, escritas com a rapidez que o levaram à internação (o diagnóstico dizia ‘‘exaltação cerebral’’, marcado pela mania de escrever), levaram exatos cem anos para chegarem aos palcos. As Relações Naturais, Mateus e Mateusa e Eu Sou Vida, Eu Não Sou Morte foram montadas, pela primeira vez, em 1966 na capital gaúcha.
Três anos mais tarde, foi lançada a coletânea das peças por iniciativa de Guilhermino César. Desde a década de 80 sua vida e obra têm inspirado livros, teses e discussões. ‘‘Atualmente, procura-se disfarçar a superficialidade dos seus enredos com algumas tintas de protesto e denúncia’’, afirma o professor Fraga no ensaio Um Corpo que se Queria Santo, introdução ao Teatro Completo.
‘‘Mas, na essência, lá está todo o arsenal cômico vindo diretamente de Martins Pena: quiproquós, esconderijos dentro dos armários, personagens caricaturais, os mesmos velhos preconceitos disfarçados com a máscara da liberalidade.’’
Os textos têm tantos personagens quanto possível diante da crença do autor na migração das almas. A Impossibilidade da Santificação ou a Santificação Transformada, por exemplo, traz 31 deles. Alguns personagens viram outros durante o enredo. ‘‘Alguns personagens são pessoas da sociedade carioca que ele queria atacar’’, conta Denise.
Curioso são os nomes: Rubincundo, Revocata, Helbaquínia, Ridinguínio, Ostralâmio, Lamúria, Rocalipsa, Esterquilínea, Eleutério, Régulo, Catinga, Esquisito, Córneo, Ferrabrás, Simplício e por aí segue. A edição mantém os nomes originais, mas atualiza a grafia das palavras para o português usual, em vez de manter a proposta do autor.
Muda inclusive a escrita dos títulos: Relasões Naturaes, por exemplo, vira Relações Naturais.
Campos Leão pretendia reformar a língua portuguesa suprimindo letras inúteis como ‘‘u’’ depois do ‘‘q’’ (daí o Qorpo-Santo) e lançou a sua Ensiqlopédia com tipologia própria. Idéia que fazia certo sentido, tanto que algumas de suas propostas foram mais tarde incorporadas ao idioma, como a eliminação do ‘‘ph’’ de pharmacia e o ‘‘h’’ quando não soa, como em deshonesto e deshumano. Para sexo, no entanto, propunha a grafia seqso. Achava que assim atenderia melhor à alfabetização, baseado em sua experiência como professor. ‘‘Quando ele percebeu que não havia chance de suas peças serem lidas, virou tipógrafo e editou a Ensiqlopédia em casa’’, explica Denise.
A Ensiqlopédia ou Seis Meses de uma Enfermidade possui nove volumes. Cada um deles é dedicado a um gênero — as comédias estão no quarto e as poesias, no primeiro. Há três na biblioteca da família Assis Brasil, três com o colecionador Julio Petersen, ambos de Porto Alegre, e os outros três estão desaparecidos.
Há somente um exemplar de cada. Reeditada, a obra teatral funciona como pretexto para enveredar pelo universo de uma das figuras mais intrigantes da dramaturgia brasileira. O melhor de tudo parece mesmo o autor, inventor de si mesmo e da proposta que, como lembra Fraga, a Emília de Monteiro Lobato apreciaria conhecer.
Fonte: virtualbooks.terra.com.br/www.secrel.com.br/www.cefetpr.br/catalogos.bn.br
Bom demais saber sobre esse escritor brasileiro tão controvertido.
Confesso que não sabia nada disso.