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Nascimento: 08 de julho de 1901, São Petersburgo, Gorod Sankt-Peterburg, São Petersburgo, Rússia.
Falecimento: 03 de janeiro de 1986 em São Paulo, São Paulo, São Paulo, Brasil.
Causa da morte: Natural
Moussia Pinto Alves – Vida
Moussia Pinto Alves
Moussia von Riesenkampf nasceu na Rússia imperial no início do século XX, onde iniciou seus estudos em arte.
Pertencente à aristocracia da região da Criméia, foi diretamente afetada pela revolução bolchevista de 1917.
Seu pai, um almirante do czar, foi assassinado em fins de 1918; sua mãe morreria logo depois. Fugiu para Constantinopla, de lá foi para Paris e, posteriormente, Hamburgo. Nesta última cidade conheceu o intelectual e empresário paulista Carlos Pinto Alves, com quem partiu para Portugal.
Foi batizada em igreja católica e recebeu o nome “Maria”, mas manteve Moussia como nome artístico. Logo depois, casaram-se e vieram para o Brasil. Aqui, o casal passou a freqüentar um círculo da elite paulistana que incluía desde pensadores como Mário de Andrade até aqueles que buscavam forjar uma distinção para além do ponto financeiro, cultivando o então exótico gosto pelo moderno.
Apresentou-se pela primeira vez ao público nacional no bombástico Salão Revolucionário de Belas Artes do Rio de Janeiro, em 1931, expondo as obras Imagem e Retrato da Srta. Alves de Lima. Mário de Andrade, analisando os retratistas nacionais, destacou os trabalhos de Portinari, Tarsila, Guignard e Moussia.
No ano seguinte a artista organiza, ao lado de Regina Graz, uma exposição de pintura e de “arte decorativa” na Galeria Guatapará, à R. Barão de Itapetininga.
Seguiram-se algumas exposições individuais, como a da Gallery Passedoigt (Nova York) em 1949. Foi justamente nesta mostra que o MAM-SP adquiriu as obras Nu com Frutas (1940). Posteriormente o acervo deste museu foi doado à USP e desde então esta obra da artista integra a coleção do MAC. Dentre exposições coletivas, figurou no 1º e 2º Salões de Maio.
Foi uma das primeiras defensoras da arte abstrata no Brasil, proferindo uma palestra na Faculdade de Direito de Recife, na ocasião da exposição de Cícero Dias -em 1948, neste mesmo local.
Moussia merece que se destaque positivamente sua obra escultórica, pois através desta expressão, nos anos 50, ela soube se valer das questões em voga da época. Produziu trabalhos extremamente antenados com seu tempo, tempo de abstracionismos, em justa oposição a boa parte de seus companheiros modernistas, que levantavam a bandeira da figuração. É com essas esculturas que a artista será devidamente notada nas primeiras Bienais de São Paulo. Logo após a 2ª Bienal foi convidada a configurar o livro “Plastik der Gegenwart” (A Arte do Presente), publicação alemã que pretendia reunir os escultores mais significativos do século. Em 1961, obteve insenção de júri na VI Bienal.
Moussia, desde a conversão, nunca se desvinculou do catolicismo, que com freqüência foi tema de suas obras, mesmo quando estas eram mais abstratas.
Explicava não seguir estilos; dizia amar os tons quentes e brilhantes e, em escultura, que Moore era seu artista favorito.
Fez incursões pelo desing de jóias, que considerava “obras plásticas derivadas da escultura”, expondo seus trabalhos neste ramo em 1959, no Rio de Janeiro.
Aventurou-se também no cinema, atuando em Brasil Ano 2000, de Valter Lima Jr. e Um Asilo Muito Louco, de Nelson Pereira dos Santos.
Nu com frutas, 1940
Nu com Frutas (1940), dentre tantas outras, fez parte da primeira mostra da artista nos EUA, em 1949. Na ocasião, a crítica local elogiou seus trabalhos, realçando a riqueza e o brilho em seu estilo e as colorações exóticas. Já não era novidade a atração que uma vertente da arte brasileira – a vertente da exaltação dos “valores nacionais”, exercia sobre a política cultural estadunidense, sendo que o exemplo máximo de colhedor de glórias neste contexto foi Cândido Portinari.
Esta obra é representante de um esforço por exaltar certos traços típicos do Brasil.
O nu tem exuberância física, exaltada pela luz que lhe atravessa, e a região dos quadris, aparece coberta por viçosas frutas, num jogo metafórico interessante: fala de fertilidade e abundância por meio do corpo e dos frutos abundantes da terra. Os olhos que encaram o espectador completam um quadro convidativo e sensual. Neste exercício estético, Moussia se fez valer de temas tradicionais – nu e frutas, e nos deixou uma tela perpassada por paradigmas próprios de seu momento histórico e do local de onde surgiu este discurso.
Carnaval, 1945
Como boa parte dos artistas estrangeiros que se estabeleceram no Brasil durante os anos subsequentes ao modernismo dos anos 20, Moussia também se encantou pelos supostos caracteres constituintes de uma certa brasilidade, dos aspectos representativos da nação. Tais caracteres já estavam presentes no horizonte de artistas e intelectuais brasileiros que procuravam explicar o que era o Brasil. Daí a acentuação de uma série de aspectos como clima – tropical, cores – essencialmente quentes, corpos – fortes e mulatos, luzes – incisivas nas formas.
O primeiro plano desta obra trata de uma cena de festa, festa de carnaval, aparentemente numa praia. Ao fundo, a lua cheia ilumina prédios e um morro. Esses componentes falam de uma cena tipicamente carioca. A cultura material -trajes e instrumentos das figuras podem indicar facilmente que estas pessoas têm origem naquele morro. Indiscutivelmente, há a intenção de narrar uma cena popular, tipicamente brasileira.
São presenças constantes na obra de Moussia os retratos do cotidiano de pessoas que vivem com poucos recursos, habitantes dos subúrbios ou das favelas, imagens populares e folclóricas. Tais assuntos a aproxima, em determinados momentos, a Di Cavalcanti, de quem foi aluna em aulas de ateliê.
Moussia Pinto Alves – Biografia
Moussia Pinto Alves e sua filha Vera
Moussia Von Rilsenkamp Pinto Alves (Sebastopol, Rússia 1910 – São Paulo SP 1986).
Pintora, escultora, designer de jóias e gravadora. Inicia seus estudos artísticos com Ivan Schveleff e com Catarina Sernoff, na Rússia.
No Brasil, participa da Sociedade Pró-Arte Moderna de São Paulo (SPAM), entre 1932 e 1934.
Faz sua primeira exposição individual em 1946, no Instituto dos Arquitetos do Brasil de São Paulo.
Moussia Pinto Alves – Artista
Moussia von Riesenkampf, embora nascida em São Petersburgo, viveu desde criança até 1918 em Sebastopol, importante porto no sul da Rússia, pois seu pai era almirante da esquadra imperial, ali sediada.
Logo após a Revolução – tendo falecido seus pais – saiu do país, passando pela Turquia e se estabelecendo por um tempo em Paris, até ir para Hamburgo, onde, em 1923, conheceu o jovem intelectual paulista Carlos Pinto Alves. Casaram-se em Lisboa, vindo então morar em São Paulo, numa casa na rua Barão de Itapetininga, que logo se tornou um ponto assíduo de reuniões não apenas de modernistas brasileiros como também de estrangeiros de passagem, como o ator Jean Louis Barrault. Amigos da casa eram Mário de Andrade, Anita Malfatti, Noemia, Di Cavalcanti, Djanira, Gomide, Brennand, Ungaretti, Murillo Mendes,Vieira da Silva e Arpad Szenes, apenas para citar alguns.
A casa em que residiam era muito próxima à casa do sogro, Valdomiro Pinto Alves, que morava na rua Guaianases, na esquina da alameda Nothmann, casa do início do século XX, muito bem preservada, hoje sede da empresa Trail infraestrutura, patrocinadora desta exposição. Logo Moussia começou a participar dos principais eventos modernistas, como do famoso Salão da Escola Nacional de Belas Artes de 1931, organizado por Lucio Costa (1902-1998), no Rio de Janeiro.
Tanto na escultura como na pintura, Moussia incursionou pelo campo da abstração, da qual foi uma das pioneiras no Brasil – já em 1948 proferiu uma palestra sobre o assunto em Recife. Os movimentos rotativos observáveis em muitas de suas pinturas parecem dialogar com os raionistas do modernismo russo. As esculturas evoluíram para uma abstração lírica, em que as formas se expandem e se retraem através de volumes entremeados de vazios ocupados por matizes de luz, sombra e movimento. Nelas há uma ligação forte com a escultura de Henry Moore (1898-1986), de quem foi amiga, assim como de Alexander Calder (1898-1976), afirma a curadora Stella Teixeira de Barros.
Moussia retornou em diferentes momentos à figuração: costumes populares, vasos de flores, naturezas-mortas, temas religiosos, impressões do cotidiano foram motivos abordados em busca da harmonia da luz, da cor e da forma, com a mesma energia plástica das estruturas abstratas. Sem temor da experimentação, procurou se expressar por meio de diferentes materiais. Não à toa, na produção artística de Moussia a ousadia se aliou à liberdade de expressão, como uma energia de quem parecia sempre disposta a ultrapassar seus próprios limites. Interessou-se pelo design de joias, que considerava “obras plásticas derivadas da escultura”, expondo esses trabalhos a partir de 1959, no Rio de Janeiro, e posteriormente, por diversas vezes em São Paulo. Aventurou-se também no cinema, atuando em pequenas pontas, em Brasil ano 2000, de Valter Lima Júnior e Azyllo muito louco, de Nelson Pereira dos Santos. Vale lembrar que Moussia, quando do falecimento de seu marido na década de 1960, passou a frequentar Parati, ainda na época muito preservada do assédio turístico que veio a ter mais tarde; comprou ali uma casa onde residiu por longas temporadas. Também morou por um tempo no Rio de Janeiro, e só na década de 1980 retornou definitivamente a São Paulo.
“A atuação de Moussia como artista e como participante dos movimentos culturais ocupa na história da arte brasileira uma posição singular: sua percepção lúcida, desde a primeira hora, dos novos caminhos que a arte abstrata abria permitiu que desenvolvesse uma obra de vanguarda, com a diversidade e variedade que caracterizam o impulso para a experimentação. Atuação que cabe agora resgatar, num arco que abrange a intensa atividade cultural com uma inegável qualidade plástica”, afirma a curadora.
Cronologia
Pintora, escultora, designer de jóias, gravadora
1932/1934 – São Paulo SP – Participa da Sociedade Pró-Arte Moderna de São Paulo – SPAM
1958 – São Paulo SP – Participa do júri do 7º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia
1968 – São Paulo SP – Participa do júri do 17º Salão Paulista de Arte Moderna
Exposições Individuais
1946 – São Paulo SP – Individual, no IAB/SP
1948 – Nova York (Estados Unidos) – Individual, na Gallery Passedolgt
Exposições Coletivas
1931 – Rio de Janeiro RJ – Salão Revolucionário, na Enba
1937 – São Paulo SP – 1º Salão de Maio, no Esplanada Hotel de São Paulo
1938 – São Paulo SP – 2º Salão de Maio
1944 – São Paulo SP – 9º Salão do Sindicato dos Artistas Plásticos, na Galeria Prestes Maia
1951 – São Paulo SP – 1ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão do Trianon
1952 – Rio de Janeiro RJ – 1ª Salão Nacional de Arte Moderna
1953 – São Paulo SP – 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados
1954 – São Paulo SP – 3º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia
1955 – São Paulo SP – 3ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão das Nações
1955 – São Paulo SP – 4º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia – medalha de bronze
1957 – Rio de Janeiro RJ – 4º Salão Nacional de Arte Moderna
1957 – São Paulo SP – 4ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1957 – São Paulo SP – 6º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia
1957 – São Paulo SP – 12 Artistas de São Paulo, na Galeria de Arte das Folhas
1958 – São Paulo SP – 47 Artistas do Prêmio Leirner de Arte Contemporânea, na Galeria de Arte das Folhas
1961 – São Paulo SP – 6ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
1963 – São Paulo SP – 7ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1965 – São Paulo SP – 8ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1970 – São Paulo SP – Pré-Bienal de São Paulo, na Fundação Bienal
1972 – São Paulo SP – 4º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1975 – São Paulo SP – SPAM e CAM, no Museu Lasar Segall
1976 – São Paulo SP – Os Salões: da Família Artística Paulista, de Maio e do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo, no Museu Lasar Segall
1978 – Rio de Janeiro RJ – Escultura Brasileira no Espaço Urbano: 50 anos, na Praça Nossa Senhora da Paz
1978 – São Paulo SP – 10º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
1982 – São Paulo SP – Um Século de Escultura no Brasil, no Masp
1984 – Fortaleza CE – 7º Salão Nacional de Artes Plásticas
1984 – Rio de Janeiro RJ – Salão de 31, na Funarte
1984 – São Paulo SP – Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 – São Paulo SP – 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
Exposições Póstumas
2004 – São Paulo SP – Mulheres Pintoras, na Pinacoteca do Estado.
Fonte: nextweb.com.br/www.mac.usp.br/www.itaucultural.org.br
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