Luís de Camões

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Nascimento: 23 de janeiro de 1524, Reino de Portugal.

Falecimento: 10 de junho de 1580, Lisboa, Portugal.

Luís de Camões – Vida

Luís de Camões

Luís de Camões

Luís de Camões foi poeta, dramaturgo, soldado e aventureiro Português.

A figura mais sublime no história da literatura Portuguesa, Camões deve sua fama duradoura para seu poema épico “Os Lusiadas 1572”, e é considerado como uma das principais vozes da literatura épica mundo.

Camões veio de uma reduzida família nobre.

O local de seu nascimento tem sido objeto de controvérsia, mas com toda a probabilidade ele nasceu em Coimbra.

Seu pai era um capitão do mar que morreu em Goa na Índia como o resultado de um naufrágio, logo após o nascimento de Luís de Camões.

Parece provável que o poeta recebeu a sua formação na Universidade de Coimbra, onde seu tio, Bento de Camões, foi chanceler durante vários anos.

É pouco o que se sabe de Luís Vaz de Camões, e esse pouco é, ainda assim e na maioria dos casos, duvidoso. Terá nascido em Lisboa por volta de 1524, de uma família do Norte (Chaves), mas isto não é certo. Quem defende esta tese atribui-lhe como pai Simão Vaz de Camões e como mãe Anna de Sá e Macedo.

Por via paterna, Camões seria trineto do trovador galego Vasco Pires de Camões, e por via materna, seria aparentado com o navegador Vasco da Gama.

Viveu algum tempo em Coimbra onde terá frequentado aulas de Humanidades, talvez no Mosteiro de Santa Cruz, já que aí tinha um tio padre. No entanto, embora a existência desse tio, D. Bento de Camões, esteja documentada, não há qualquer registo da passagem do poeta por Coimbra. Em algum lado, afirmam os estudiosos da sua vida, terá adquirido a grande bagagem cultural que nas suas obras demonstra possuir.

Regressou a Lisboa, levando aí uma vida de boémia. São-lhe atribuídos vários amores, não só por damas da corte mas até pela própria Infanta D. Maria, irmã do Rei D. Manuel I. Em 1553, depois de ter sido preso devido a uma rixa, parte para a Índia, e este é um dos poucos fatos da sua vida que os documentos corroboram. Fixou-se na cidade de Goa onde terá escrito grande parte da sua obra.

Regressou a Portugal, mas pelo caminho naufragou na costa de Moçambique e foi forçado, por falta de meios para prosseguir a viagem, a ficar aí. Foi em Moçambique que seu amigo Diogo do Couto o encontrou, encontro que relata na sua obra, acrescentando que o poeta estava então “tão pobre que vivia de amigos”, ou seja, vivia do que os amigos podiam dar-lhe. Foi Diogo do Couto quem lhe pagou a viagem até Lisboa, onde Camões finalmente aportou em 1569.

Pobre e doente, conseguiu publicar Os Lusíadas em 1572 graças à influência de alguns amigos junto do Rei D. Sebastião. Mas até a publicação de Os Lusíadas está envolta num pequeno mistério – há duas edições do mesmo ano e não se sabe qual foi a primeira. Em recompensa dos serviços prestados à pátria, o Rei concede-lhe uma modesta pensão, mas mesmo essa será sempre paga tarde a más horas e não salva o poeta da extrema pobreza.

Quanto à sua obra lírica, o volume das suas “Rimas” ter-lhe-á sido roubado. Assim, a obra lírica de Camões foi publicada postumamente, não havendo acordo entre os diferentes editores quanto ao número de sonetos escritos pelo poeta. Há diferentes edições de “líricas” camonianas e não há completa certeza quanto à autoria de algumas das peças líricas.

Faleceu em Lisboa no dia 10 de Junho de 1580 e foi sepultado a expensas de um amigo. O seu túmulo, que teria sido na cerca do Convento de Sant’Ana, em Lisboa, perdeu-se com o terramoto de 1755, pelo que se ignora o paradeiro dos restos mortais do poeta, que não está sepultado em nenhum dos dois túmulos oficiais que hoje lhe são dedicados – um no Mosteiro dos Jerónimos e outro no Panteão Nacional. É considerado o maior poeta português, situando-se a sua obra entre o Classicismo e o Maneirismo. Alguns dos seus sonetos, como o conhecido Amor é fogo que arde sem se ver, pela ousada utilização dos paradoxos, prenunciam já o Barroco que se aproximava.

Obras

“Os Lusíadas” (1572)
“Rimas” (1595)
“El-Rei Seleuco” (1587)
“Auto de Filodemo” (1587)
“Anfitriões” (1587)

Luís de Camões – Escritor

Luís de Camões
Luís de Camões

A biografia e a bibliografia de Luis Vaz de Camões levantam problemas apaixonantes e aparentemente insolúveis, quer pela distância temporal, quer pela falta de dados confiáveis, quer pela grandiosidade com que a obra e o tempo foram construindo, não uma reputação, mas um verdadeiro mito dentro da literatura portuguesa e universal.

Nascido provavelmente em Lisboa, em ano incerto e não sabido, filho de uma família da pequena nobreza, não se pode aceitar que não tenha tido uma educação formal de qualidade, tendo a vista a universalidade do conhecimento que ressumo de sua obra, particularmente da épica.

Na juventude freqüentou a corte e a boêmia lisboeta, onde o gênio forte e aventureiro o marcaram e conseguiram o cognome de “o trinca-ferros” com que passou a ser conhecido.

Envolvido em repetidas brigas e confusões, acabou embarcado para o serviço militar nas índias – Portugal então estava empenhado na expansão ultramarina – e passou cerca de vinte e cinco anos longe da pátria, chorando o “exílio amargo e o gênio sem ventura”.

Retornando à pátria, por obra e graça do acaso e da ajuda de amigos, pôde publicar sua obra máxima, quiçá o maior monumento literário das literaturas lusófonas – Os Lusíadas – que por si só vale pôr uma literatura inteira.

Biografia de Camões

Luís Vaz de Camões (Lisboa ou Coimbra, c. 1524 – Lisboa, 1580) foi um dos vultos maiores da literatura da Renascença.

São mal conhecidas a sua infância e primeira mocidade.

Estudou em Coimbra, sem que se saiba onde e como acumulou a larga e variada cultura humanística patente em sua obra.

Fidalgo, ainda que pobre, freqüentou a corte de Dom João III. Sofreu provavelmente exílio no Ribatejo e, em 1547, partiu para Ceuta, a servir naquela guarnição militar; ali, em refrega com os mouros de Mazagão, vazaram-lhe o olho direito.

De volta à pátria, feriu numa rixa, em Lisboa, a um moço do paço e foi para a prisão, de onde saiu engajado para a Índia. No Oriente, tomou parte em várias expedições militares e cruzeiros marítimos.

Em Macau, teria exercido o cargo de provedor de defuntos e ausentes; demitido por causa de uma questão com os colonos, foi chamado a Goa. O navio que o conduzia naufragou no mar da China, mas o poeta conseguiu salvar-se a nado com o manuscrito de Os Lusíadas, então já bem adiantado.

Em Goa ficou até 1567, quando regressou a Portugal com escala em Moçambique, onde se demorou alguns anos e onde Diogo do Couto, seu grande admirador, o foi encontrar tão pobre que “comia de amigos”.

Depois desse longo desterro, voltou a Lisboa, em 1569 ou 1570, e dois anos mais tarde publicou Os Lusíadas; o rei Dom Sebastião, a quem é o poema dedicado, galardou-o por três anos com uma tença anual de 15.000 réis. Mas o poeta morreu na miséria, num leito de hospital.

À parte “Os Lusíadas”, quase toda a produção camoniana foi publicada postumamente: numerosos sonetos, canções, odes, elegias, éclogas, cartas e os três autos – Anfitriões (1587), Filodemo (1587), El-rei Seleuco (1645). Edição crítica de sua lírica de Leodegário de Azevedo Filho, em 7 vol. Quatro deles já foram publicados pela Imprensa Nacional de Lisboa.

Luís de Camões – Literatura

Luís de Camões
Luís de Camões

As informações sobre a sua biografia são relativamente escassas e pouco seguras, apoiando-se num número limitado de documentos e breves referências dos seus contemporâneos. A própria data do seu nascimento, assim como o local, é incerta, tendo sido deduzida a partir de uma Carta de Perdão real de 1553.

A sua família teria ascendência galega, embora se tenha fixado em Portugal séculos antes. Pensa-se que estudou em Coimbra, mas não se conserva qualquer registo seu nos arquivos universitários.

Serviu como soldado em Ceuta, por volta de 1549-1551, aí perdendo um olho. Em 1552, de regresso a Lisboa, esteve preso durante oito meses por ter ferido, numa rixa, Gonçalo Borges, um funcionário da corte.

Data do ano seguinte a referida Carta de Perdão, ligada a essa ocorrência. Nesse mesmo ano, seguiu para a Índia. Nos anos seguintes, serviu no Oriente, ora como soldado, ora como funcionário, pensando-se que esteve mesmo em território chinês, onde teria exercido o cargo de Provedor dos Defuntos e Ausentes, a partir de 1558. Em 1560 estava de novo em Goa, convivendo com algumas das figuras importantes do seu tempo (como o vice-rei D. Francisco Coutinho ou Garcia de Orta).

Em 1569 iniciou o regresso a Lisboa. No ano seguinte, o historiador Diogo do Couto, amigo do poeta, encontrou-o em Moçambique, onde vivia na penúria. Juntamente com outros antigos companheiros, conseguiu o seu regresso a Portugal, onde desembarcou em 1570. Dois anos depois, D. Sebastião concedeu-lhe uma tença, recompensando os seus serviços no Oriente e o poema épico que entretanto publicara, Os Lusíadas. Camões morreu a 10 de Junho de 1580, ao que se diz, na miséria. No entanto, é difícil distinguir aquilo que é realidade, daquilo que é mito e lenda romântica, criados em torno da sua vida.

Da obra de Camões foram publicados, em vida do poeta, três poemas líricos, uma ode ao Conde de Redondo, um soneto a D. Leonis Pereira, capitão de Malaca, e o poema épico Os Lusíadas. Foram ainda representadas as peças teatrais Comédia dos Anfitriões, Comédia de Filodemo e Comédia de El-Rei Seleuco. As duas primeiras peças foram publicadas em 1587 e a terceira, apenas em 1645, integrando o volume das Rimas de Luís de Camões, compilação de poesias líricas antes dispersas por cancioneiros, e cuja atribuição a Camões foi feita, em alguns casos, sem critérios rigorosos. Um volume que o poeta preparou, intitulado Parnaso, foi-lhe roubado.

Na poesia lírica, constituída por redondilhas, sonetos, canções, odes, oitavas, tercetos, sextinas, elegias e éclogas, Camões conciliou a tradição renascentista (sob forte influência de Petrarca, no soneto) com alguns aspectos maneiristas.

Noutras composições, aproveitou elementos da tradição lírica nacional, numa linha que vinha já dos trovadores e da poesia palaciana, como por exemplo nas redondilhas «Descalça vai para a fonte» (dedicadas a Lianor), «Perdigão perdeu a pena», ou «Aquela cativa» (que dedicou a uma sua escrava negra). É no tom pessoal que conferiu às tendências de inspiração italiana e na renovação da lírica mais tradicional que reside parte do seu génio.

Na poesia lírica avultam os poemas de temática amorosa, em que se tem procurado solução para as muitas lacunas em relação à vida e personalidade do poeta. É o caso da sua relação amorosa com Dinamene, uma amada chinesa que surge em alguns dos seus poemas, nomeadamente no conhecido soneto «Alma minha gentil que te partiste», ou de outras composições, que ilustram a sua experiência de guerra e do Oriente, como a canção «Junto dum seco, duro, estéril monte».

No tratamento dado ao tema do amor é possível encontrar, não apenas a adopção do conceito platónico do amor (herdado da tradição cristã e da tradição e influência petrarquista) com os seus princípios básicos de identificação do sujeito com o objeto de amor («Transforma-se o amador na cousa amada»), de anulação do desejo físico («Pede-me o desejo,

Dama, que vos veja / Não entende o que pede; está enganado.») e da ausência como forma de apurar o amor, mas também o conflito com a vivência sensual desse mesmo amor. Assim, o amor surge, à maneira petrarquista, como fonte de contradições, tão bem expressas no justamente célebre soneto «Amor é fogo que arde sem se ver», entre a vida e a morte, a água e o fogo, a esperança e o desengano, inefável, mas, assim mesmo, fundamental à vida humana.

A concepção da mulher, outro tema essencial da lírica camoniana, em íntima ligação com a temática amorosa e com o tratamento dado à natureza (que, classicamente vista como harmoniosa e amena, a ela se associa, como fonte de imagens e metáforas, como termo comparativo de superlativação da beleza da mulher, e, à maneira das cantigas de amigo, como cenário e/ou confidente do drama amoroso), oscila igualmente entre o pólo platónico (ideal de beleza física, espelho da beleza interior, manifestação no mundo sensível da Beleza do mundo inteligível), representado pelo modelo de Laura, que é predominante (vejam-se a propósito os sonetos «Ondados fios de ouro reluzente» e «Um mover d’olhos, brando e piedoso»), e o modelo renascentista de Vénus.

Temas mais abstratos como o do desconcerto do mundo (expresso no soneto «Verdade, Amor, Razão, Merecimento» ou na esparsa «Os bons vi sempre passar/no mundo graves tormentos»), a passagem inexorável do tempo com todas as mudanças implicadas, sempre negativas do ponto de vista pessoal (como observa Camões no soneto «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades»), as considerações de ordem autobiográfica (como nos sonetos

«Erros meus, má fortuna, amor ardente» ou «O dia em que eu nasci, moura e pereça», que transmitem a concepção desesperançada, pessimista, da vida própria), são outros temas dominantes da poesia lírica de Camões.

No entanto, foi com Os Lusíadas que Camões, embora postumamente, alcançou a glória. Poema épico, seguindo os modelos clássicos e renascentistas, pretende fixar para a posteridade os grandes feitos dos portugueses no Oriente.

Aproveitando a mitologia greco-romana, fundindo-a com elementos cristãos, o que, na época, e mesmo mais tarde, gerou alguma controvérsia, Camões relata a viagem de Vasco da Gama, tomando-a como pretexto para a narração da história de Portugal, intercalando episódios narrativos com outros de cariz mais lírico, como é o caso do da «Linda Inês». Os Lusíadas vieram a ser considerados o grande poema épico nacional.

Toda a obra de Camões, de resto, influenciou a posterior literatura portuguesa, de forma particular durante o Romantismo, criando muitos mitos ligados à sua vida, mas também noutras épocas, inclusivamente a atual.

No século XIX, alguns escritores e pensadores realistas colaboraram na preparação das comemorações do terceiro centenário da sua morte, pretendendo que a figura de Camões permitisse uma renovação política e espiritual de Portugal.

Amplamente traduzido e admirado, é considerado por muitos a figura cimeira da língua e da literatura portuguesas. São suas a coletânea das Rimas (1595, obra lírica), o Auto dos Anfitriões, o Auto de Filodemo (1587), o Auto de El-Rei Seleuco (1645) e Os Lusíadas (1572)

Luís de Camões – Biografia

Luís de Camões
Luís de Camões

Luís de Camões nasceu por 1524 ou 25, provavelmente em Lisboa. Seus pais eram Simão Vaz de Camões e Ana de Sá.

Tudo parece indicar, embora a questão se mantenha controversa, que Camões pertencia à pequena nobreza. Um dos documentos oficiais que se lhe refere, a carta de perdão datada de 1553, dá-o como «cavaleiro fidalgo» da Casa Real. A situação de nobre não constituía qualquer garantia económica. O fidalgo pobre é, aliás, um tipo bem comum na literatura da época. São especialmente certeiras, e baseadas num estudo argutíssimo e bem fundamentado, as palavras de Jorge de Sena, segundo as quais Camões seria e se sentia «nobre» «mas perdido numa massa enorme de aristocratas socialmente sem estado, e para sustentar os quais não havia Índias que chegassem, nem comendas, tenças, capitanias, etc.».

É difícil explicar a vastíssima e profunda cultura do poeta sem partir do princípio de que frequentou estudos de nível superior.

O fato de se referir, na lírica, a «longo tempo» passado nas margens do Mondego, ligado à circunstância de , pela época que seria a dos estudos, um parente de Camões, D. Bento, ter ocupado os cargos de prior do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e de cancelário da Universidade, levou à construção da hipótese de ter Camões estudado em Coimbra, frequentando o mosteiro de Santa Cruz.

Mas nenhum documento atesta a veracidade desta hipótese; e é fora de dúvida que não passou pela Universidade.

Antes de 1550 estava a viver em Lisboa, onde permaneceu até 1553. Essa estadia foi interrompida por uma expedição a Ceuta onde foi ferido e perdeu um dos olhos.

Em Lisboa, participou com diversas poesias nos divertimentos poéticos a que se entregavam os cortesãos; relacionou-se através desta atividade literária com damas de elevada situação social, entre as quais D. Francisca de Aragão (a quem dedica um poema antecedido de uma carta requintada e subtil galanteria); e com fidalgos de alta nobreza, com alguns dos quais manteve relações de amizade. Representa-se por esta época um auto seu, El-rei Seleuco, em casa de uma importante figura da corte.

Estes contatos palacianos não devem contudo representar mais do que aspectos episódicos da sua vida, pois a faceta principal desta época parece ser aquela de que dão testemunho as cartas (escritas de Lisboa e da Índia).

Através do calão conceituoso, retorcido e sarcástico, descobre-se-nos um homem que escreve ao sabor de uma irónica despreocupação, vivendo ao deus-dará, boémio e desregrado. Divide-se entre uma incansável atividade amatória (sem pruridos sobre a qualidade das mulheres com quem priva) e a estroinice de bandos de rufiões, ansiosos por rixas de taberna ou brigas de rua onde possam dar largas ao espírito valentão, sem preocupações com a nobreza das causas por que se batem.

Não parece, por esta época, ter modo de vida; e esta leviandade a descambar para a dissolução está de acordo com os documentos através dos quais podemos reconstruir as circunstâncias da sua partida para a Índia.

Na sequência de uma desordem ocorrida no Rossio, em dia do Corpo de Deus, na qual feriu um tal Gonçalvo Borges, foi preso por largos meses na cadeia do Tronco e só saiu – apesar de perdoado pelo ofendido – com a promessa de embarcar para a Índia. Além de provável condição de libertação, é bem possível que Camões tenha visto nesta aventura – a mais comum entre os portugueses de então – uma forma de ganhar a vida ou mesmo de enriquecer. Aliás, uma das poucas compatíveis com a sua condição social de fidalgo, a quem os preconceitos vedavam o exercício de outras profissões.

Foi soldado durante três anos e participou em expedições militares que ficaram recordadas na elegia O poeta Simónides, falando (expedição ao Malabar, em Novembro de 1553, para auxiliar os reis de Porcá) e na canção Junto de um seco, fero, estéril monte (expedição ao estreito de Meca, em 1555).

Esteve também em Macau, ou noutros pontos dos confins do Império. Desempenhando as funções de provedor dos bens dos ausentes e defuntos, como informa Mariz?

Não é ponto assente. Mas o que se sabe é que a nau em que regressava naufragou e o poeta perdeu o que tinha amealhado, salvando a nado Os Lusíadas na foz do rio Mecon, episódio a que alude na estância 128 do Canto X.

Para cúmulo da desgraça foi preso à chegada a Goa pelo governador Francisco Barreto.

Ao fim de catorze anos de vida desafortunada(pelo menos ainda uma outra vez esteve preso por dívidas), intervalada certamente por períodos mais folgados, sobretudo quando foi vice-rei D. Francisco Coutinho, conde de Redondo (a quem dedicou diversos poemas que atestam relações amistosas), empreende o regresso a Portugal. Vem até Moçambique a expensas do capitão Pero Barreto Rolim, mas em breve entra em conflito com ele e fica preso por dívidas. Diogo do Couto relata mais este lamentável episódio, contando que foram ainda os amigos que vinham da Índia que – ao encontrá-lo na miséria – se cotizaram para o desempenharem e lhe pagarem o regresso a Lisboa. Diz-nos ainda que, nessa altura, além dos últimos retoques n’Os Lusíadas, trabalhava numa obra lírica, o Parnaso, que lhe roubaram – o que, em parte, explica que não tenha publicado a lírica em vida.

Chega a Lisboa em 1569 e publica Os Lusíadas em 1572, conseguindo uma censura excepcionalmente benévola.

Apesar do enorme êxito do poema e de lhe ter sido atribuída uma tença anual de 15000 réis, parece ter continuado a viver pobre, talvez pela razão apontada por Pedro Mariz: «como era grande gastador, muito liberal e magnífico, não lhe duravam os bens temporais mais que enquanto ele não via ocasião de os despender a seu bel-prazer.» Verídica ou legendária, esta é a nota marcante dos últimos anos (e aliás o signo sob o qual Mariz escreve toda a biografia).

Morreu em 10 de Junho de 1580.

Algum tempo mais tarde, D. Gonçalo Coutinho mandou gravar uma lápide para a sua campa com os dizeres: «Aqui jaz Luís de Camões, Príncipe dos Poetas de seu tempo. Viveu pobre e miseravelmente, e assi morreu.»

As incertezas e lacunas desta biografia, ligadas ao carácter dramático de alguns episódios famosos (reais ou fictícios): amores impossíveis, amadas ilustres, desterros, a miséria, o criado jau mendigando de noite para o seu senhor; e a outros acontecimentos cheios de valor simbólico: Os Lusíadas salvos a nado, no naufrágio; a morte em 1580 – tudo isto proporcionou a criação de um ambiente lendário à roda de Camões que se torna bandeira de um país humilhado.

Mais tarde, o Romantismo divulgou uma imagem que salienta em Camões o poeta-maldito, perseguido pelo infortúnio e incompreendido pelos contemporâneos, desterrado e errante por ditame de um fado inexorável, chorando os desgostos amorosos e morrendo na pátria abandonado e reduzido à miséria.

Não há dúvida de que os poucos dados conhecidos e muito do conteúdo autobiográfico da obra autorizam essa imagem.

Mas ela esquece em Camões outras facetas não menos verdadeiras da personalidade riquíssima, complexa, paradoxal que foi a sua: o humanista, o homem do «honesto estudo» e da imensa curiosidade intelectual aberta quer à cultura mais requintada do seu tempo, quer às coisas tais como se lhe davam e que a arguta observação descobria, mesmo que contradissessem os preconceitos culturais vigentes; o pensador que infatigavelmente vai refletido sobre os acontecimentos – sociais, políticos, culturais, individuais… – movido por uma sôfrega necessidade de compreender, de «achar razões»: graves reflexões sobre o destino da pátria; meditações sobre o amor, o saber, o tempo, a salvação… Ainda o homem da dura experiência (viagens, naufrágios, prisões, desprezos ou perseguições, humilhações e pobreza) que constitui um suporte vital autêntico do desconcerto referido na obra (o que aliás nada acrescenta ao mérito literário dela).

Revela-se vincadamente na sua obra a lúcida e orgulhosa consciência que vai formando da sua genialidade como poeta, da sua superioridade como homem.

Apaixonado, violento, impetuoso, sabe-se grande, independente das honras e riquezas que não lhe deram e que também nada alterariam ao valor intrínseco da sua obra e da sua alta missão cívica; por isso, de forma fidalga, generosa, esbanja os seus bens (económicos ou intelectuais) e ganha essa fama de «liberal e magnífico».

A imagem final que nos fica de Camões é feita de fragmentos paradoxais: o cortesão galante; o boémio arruaceiro; o ressentido; o homem que se entrega a um erotismo pagão; o cristão da mais ascética severidade. Fragmentos que se refletem e refratam na obra, que por sua vez revela e oculta um conteúdo autobiográfico ambíguo, deliberadamente enigmático.

Camões publicou em vida apenas uma parte dos seus poemas, o que deu origem a grandes problemas sobre a fixação do conjunto da obra.

Além d’Os Lusíadas editados em 1572, da lírica apenas foram impressas algumas composições que introduziam livros que o poeta pretendia recomendar ou apresentar: os Colóquios dos Simples e drogas e coisas medicinais da Índia, do Dr.Garcia de Orta, publicado em Goa em 1563 e a História da Província de Santa Cruz de Pero de Magalhães Gândavo de 1576.

Toda a restante obra foi publicada postumamente, o que não é para estranhar demasiado, já que a circulação das obras – sobretudo líricas – se fazia correntemente em manuscritos, recolhidos com frequência em «cancioneiros de mão», muitos dos quais chegaram até nós e constituem as principais fontes para as edições camonianas.

Em 1587 foram editados os autos Enfatriões e Filodemo.

Em 1595 tem lugar a primeira edição das Rimas e logo em 1598 a segunda.

Seguiram-se muitas outras e veio a lume, na de 1645, o auto de El-Rei Seleuco, a obra dramática de Camões que restava publicar.

Quanto às cartas, duas delas apareceram na edição de 1598, e as outras duas são já descobertas no século XX.

Fonte: www.newadvent.org/www.veraperdigao.com.br/Jardim de Poesia

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