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Nascimento: 1 de julho de 1646, Leipzig, Alemanha.
Falecimento: 14 de novembro de 1716, Hanôver, Alemanha.
Gottfried Wilhelm Leibniz (também conhecido como von Leibniz) foi um proeminente alemão matemático, filósofo, físico e estadista.
Notável para sua invenção independente do cálculo diferencial e integral, Gottfried Leibniz continua a ser um dos maiores e mais influentes metafísicos, pensadores e lógicos da história.
Ele também inventou a roda Leibniz e sugeriu teorias importantes sobre a força, energia e tempo.
Contribuições e realizações
Gottfried Leibniz foi um grande polímata que sabia quase tudo o que poderia ser conhecido no momento sobre qualquer assunto ou empreendimento intelectual.
Ele fez importantes contribuições à filosofia, engenharia, física, direito, política, filologia e teologia.
Provavelmente, sua maior conquista foi a descoberta de um novo método matemático chamado de cálculo. Os cientistas usam para lidar com quantidades que são constantemente variados.
Newton tinha inventado um método semelhante por seu trabalho sobre a gravidade. Portanto, houve um debate rigoroso sobre quem tinha sido o primeiro.
Newton começou a trabalhar em sua versão em 1665, mas Leibniz publicou seus resultados em 1684, quase três anos antes de Newton. No entanto, o consenso é que eles descobriram o método simultaneamente.
Leibniz também descobriu o sistema numérico binário e inventou a primeira máquina de calcular que poderia somar, subtrair, multiplicar e dividir.
Quando chegou à metafísica, ele formulou a famosa teoria das mônadas que explicaram a relação entre a alma eo corpo.
Leibniz é muitas vezes conhecido como o fundador da lógica simbólica como ele desenvolveu a característica universal, uma linguagem simbólica em que qualquer item de informação pode ser representada de uma forma natural e sistemática.
Gottfried Leibniz morreu em Hanover em 14 de novembro de 1716. Ele tinha 70 anos.
Gottfried Wilhelm Leibniz – Vida
Gottfried Leibniz
Gottfried Wilhelm Leibniz nasceu no dia primeiro de julho, na cidade alemã de Leipzig.
Era filho de um professor de filosofia moral. Sua família era de origem eslava. Criança ainda, explorava a biblioteca do pai.
Viu os autores antigos e escolásticos. Tomou contato com Platão e Aristóteles.
Com quinze anos começou a ler os filósofos modernos.
Bacon, Descartes, Hobbes e Galileu. Leibniz foi de um espírito universal, muito inteligente, que revelou aptidão e genialidade em diversos campos. Bertrand Russel fala que era admirável, mas não como pessoa; pois escreveu para ser popular e agradar os princípes. Cursou filosofia na cidade natal, matemática em Jena, com vinte anos. Cursou também jurisprudência em Altdorf. Em 1663, aluno da faculdade de filosofia, escreveu um trabalho sobre individualização.
Influenciado pelo mecanicismo de Descartes, que mais tarde refutou, expôs suas idéias em um livro, onde associava a filosofia e a matemática.
Esboçou as primeiras considerações do que viria a ser sua grande descoberta matemática: o cálculo infinitesimal. Leibniz o desenvolveu na mesma época que Newton, um pouco depois.
Ingressou na sociedade secreta e mística dos sábios Rosacruzes. Em 1668 entrou na corte de Eleitor de Mogúncia. Ganhou uma pensão participando da Rosa cruz em Nuremberg, que lhe abriu as portas para a política.
Quando ingressou na corte, traçou um caminho que podemos associar ao de Bacon. Era ambicioso e movia-se agilmente pela corte em busca de seus projetos , muitos dos quais utópicos. Um de seus projetos filosóficos; antigo já , era a criação de um alfabeto do conhecimento humano. Foi nesse sentido influenciado pela lógica de Aristóteles.
Em 1670, Leibniz ascendeu para conselheiro da corte de justiça, em Mogúncia.
No seu novo cargo, partiu para uma missão diplomática: convencer o rei absolutista francês (Luís XIV) a conquistar o Egito para proteger a Europa da Invasão dos turcos e mouros. Esse pedido foi recusado.
De 1672 a 1676 Leibniz viveu em Paris. Sua missão que resultou em fracasso procurava evitar gurras entre os Europeus, desviando as tropas francesas para o Egito. Conseguiu permissão para continuar em Paris, o que lhe foi vantajoso para estudar, pois gozou do contato com a elite intelectual francesa. Em 1676 , completou a descoberta do cálculo infinitesimal. Newton tinha inventado um novo método de cálculos. Embora as descobertas tivessem o mesmo objetivo, forma feitas sob pontos de vista diferentes. Leibniz calculava através do infinitamente pequeno.
Em Paris havia conhecido e ficado amigo do matemático Huyghens. Conheceu também o filósofo Arnauld (1612-1694) e Malembranche. Viajou para Londres e entrou para a Royal Society. Voltou para Paris. Sua estada lá, continuou sendo importante intelectualmente. O alemão ainda não era uma língua culta, e ele aprendeu francês perfeitamente.
Quando voltava para a Alemanha, passou de novo por Londres, onde conheceu newton. Na Holanda, conheceu Spinoza. Conversaram sobre metafísica e Spinoza mostrou a Leibniz os originais de Ètica.
Em 1676, vai para Hanôver, onde se torna bibliotecário chefe. Passou os anos finais de sua vida nessa cidade, salvo algumas viagens. Foi conselheiro da corte, historiógrafo da dinastia e um dos reponsáveis por Hanôver ter se tornado um eleitorado.
Viajou pela Europa para conseguir documentos que fossem importantes para o seu papel de historiador. Foi para Áustria , Itália. Na Itália, passou por Nápoles, Florença e Veneza.
Leibniz era a favor da união das igrejas. Foi sócio da academia científica de Paris e de Berlim, que fundou.
Em 1711, viajou para a Rússia, onde aconselhou Pedro o grande, czar russo. Pedro queria elevar a Rússia ao nível dos maiores reinados europeus.
Em 1713 Leibniz foi elevado conselheiro da corte de Viena.
Os últimos anos da vida de Leibniz foram tristes e solitários. Sua protetora, a princesa Sofia, havia morrido. Jorge I da Inglaterra não o queria mais por lá. As diversas cortes e academias de que fez parte esqueceram-no . Assim , perdeu prestígio. A Royal Society deu o crédito da invenção do cálculo infinitesimal para Newton.
Leibniz, que teve uma vida agitada, escrevia e meditava à noite. Seus trabalhos são breves em tamanho, não exigiram muito elaboração. Leibniz escreveu em latim e francês. Morreu com setenta anos em funeral acompanhado por seu secretário. Havia brigado com a corte de Hanôver.
Dentre as muitas obras de Leibniz se destacam: Discurso da Metafísica, Novos ensaios sobre o entendimento humano (resposta a Locke), Sobre a origem das coisas, Sobre o verdadeiro método da filosofia , Teologia e correspondência.
Leibniz procurou expôr conceitos de validade atemporal na sua filosofia. Ele chamava tal filosofia de perene. E quis conciliá-la com a filosofia moderna. A filosofia moderna havia tomado caminhos diferentes da antiga e escolástica. Leibniz descobriu que era uma questão de perspectiva , mas todas as filosofias podiam ser unidas sob muitos aspectos. Ele resgatou a visão teleológica escolástico-aristotélica, que atribuía uma causa a tudo. De Descartes aproveitou a aplicação da matemática ao mundo.
Leibniz criticou a materialismo moderno. Apesar disso, era um racionalista. Seu racionalismo, como o de Zenão, chegava ao paradoxo.
Usando a teoria da causalidade, Leibniz explica a existência de Deus. Diz que ele não faz nada ao acaso, é supremamente bom. O universo não foi feito apenas pelo homem, mas o homem pode conhecer o universo inteiro. Deus é engenhoso, é capaz de formar uma “máquina” com apenas um simples líquido, sendo necessário apenas a interação com as leis da natureza para desenvovê-la.
A vontade do criador está submetida à sua lógica e a de seu entendimento. É uma visão racionalista do mundo, e a mente divina seria impregnada de racionalidade. Mas o mundo é mais do que a razão pode concatenar. O valor da razão reside no seu lado prático. Ela pode conhecer o princípio matemático das coisas, do conhecimentos específicos, mas ignora as causas últimas.
Leibniz, apesar de ser influenciado por Descartes, zombou da simplicidade do método. E refuta o mecanicismo. Diz que a extensão e o movimento, figura e número, não passam das aparências, não são a essência. Existe algo que está além da física da extensão e movomento, e é de natureza metafísica, uma força.
Descartes havia dito que a constante nos fenômenos mecânicos é a quantidade – movimento. Leibniz fala que isso é um erro, para ele a constante é a força viva, a energia cinética.
O ponto principal do pensamento de Leibniz é a teoria das mônadas. É um conceito neoplatônico, que foi retomado por Giordano Bruno e Leibniz desenvolveu. As mônadas (unidade em grego) são pontos últimos se deslocando no vazio. Leibniz chama de enteléquia e mônada a substância tomada como coisa em si, tendo em si sua determinação e finalidade.
Para Leibniz, o espaço é um fenômeno não ilusório. É a ordem das coisas que se relacionam. o espaço tem uma parte objetiva, a da relação, mas não é o real tomado em si mesmo. Assim como o espaço, o tempo também é um fenômeno.
As leis elaboradas pela mecânica são leis de conveniência, pela qual Deus criou o melhor dos mundos. Assim como o mecanicismo, Leibniz critica a visão cartesiana de máquinas. Os seres orgâncicos são máquinas divinas. Em cada pequena parte desses seres, há uma peça dessas máquinas, que são do querer divino. É a maneira pela qual se realiza o finalismo superior.
Para conhecermos a realidade precisamos conhecer os centros de força que a constituem, as mônadas. São pontos imateriais como átomos. São e formam tudo o que existe. São unas assim como a mente. A mente apresenta diversidade, bem como várias representações. A mônada deve ser pensada junto com a mente. As atividades principais das mônadas são a percepção e a representação. Elas tem tendências à várias percepções.
Uma mônada só é distinta da outra pela sua atividade interna. As mônadas tem dois tipos de percepção, a simples e a consciente. A última é chamada de apercepção. Somente algumas mônadas apercebem, e elas tem mais percepções inconscientes que conscientes.
Leibniz identificou a percepção inconsciente na natureza humana. É aquele estado de consciência no qual a alma fica sem perceber nada distintamente, nós não nos recordamos do que vivemos. Certamente Leibiniz falava daquela estado especial de não entendimento e não associação em que a alma fica “amorfa”. Mas tal estado não é duradouro. enquanto estamos nele, parecemos as mônadas.
Leibniz, na sua doutrina das mônadas, fala que cada mônada espelha o universo inteiro. Tudo está em tudo.
Isso se aplica também ao tempo, ele diz: “o presente está grávido do futuro.” Uma mônada se diferencia da outra, poque as coisas estão presentes em maior ou menor grau nelas, e sob diferentes ângulos e aspectos.
Não existem duas substâncias exatamente idênticas, pois se houvesse, elas seriam a mesma. A realidade é composta de mínusculas partículas, tem uma riqueza infinita. Deus conhece a tudo perfeitamente.
Leibniz fala da lei da continuidade. Uma coisa leva a outra, na natureza não há saltos. Entre um extremo e outro, há um nível médio.
Deus é a mônada das mônadas. Uma substância incriada, original e simples. Deus criou e cria, a partir do nada, todas as outras substâncias. Uma substância, por meio natural, não pode perecer. Só através da aniquilação . Também, de uma não se criam duas. Uma mônada é uma substância, e é uma coisa sem janela, encerra em si mesma sua finalidade.
Como já disse, a mônada é imaterial. Porém é da relação entre elas que nasce o espaço e matéria. A mônada é atividade limitada, pois a atividade ilimitada só se encontra em Deus (um tipo especial ). É dessa imperfeição, que torna a essência obscura que nasce a matéria.
Os organismos são um agregados de mônadas unidos por uma enteléquia superior. Nos animais essa enteléquia é a alma. Nos homens, a alma é entendida como espírito.
Uma coisa já está em potência na semente . Até aí nada de novo. O original em Leibniz, é que não existe geração nem morte. Só existe desenvolvimento, no sêmem já existe um animal. Ele só precisa se desenvolver.
A substâncias brutas espelham mais ao mundo do que a Deus.
O contrário nas substâncias superiores: Deus governa o mundo com leis materiais e espirituais. Existem vários pequenos deuses, controlados pelo grande Deus.
Leibniz,para explicar a interação entre a matéria e o espírito, formulou três hipóteses:
1) uma ação recíproca
2) intervenção de Deus em todas as ações
3) a harmonia pré-estabelecida. Cada substância tira tudo de seu interior,segundo a vontade divina.
O famoso princípio da razão suficiente de Leibniz, é junto com sua mônadologia,a pedra lapidar de sua metafísica. Esse princípio postula que cada coisa existe com uma razão de ser. Nada acontece ao acaso.
Estamos no melhor dos mundos possíveis,o ser só é,só existe,porque é o melhor possível. A perfeição de Deus garante essa vantagem . Deus escolheu dentre os mundos possíveis,o que melhor espelhava sua perfeição. Ele escolheu esse mundo por uma necessidade moral.
Mas se esse mundo é tão bom porque existe o mal? Na Teódiceia, Leibniz indentifica três tipos de mal:
1) O mal metafísico,que deriva da finitude do que não é Deus
2) O mal moral,que advém do homem, não de Deus. É o pecado.
3) O mal físico. Deus o faz para evitar males maiores, para corrigir.
Leibniz diferencia a verdade de razão da verdade de fato. A verdade de razão é absoluta, pois está no intelecto de Deus. Por exemplo, as leis da matemática e as regras de justiça e bondade. O oposto dessas verdades é impossível. As verdades de fato admitem opostos. Elas poderiam não existir, mas tem um motivo prático para existirem.
No livro Novos ensaios sobre o entendimento humano, Leibniz analisa o livro de Locke, Ensaio sobre o entendimento humano. Ele critica o empirismo de Locke (nada existe na mente que não tenha estado nos sentidos) e defende, como Descartes, um inatismo. Ele localiza qualidades inatas na alma, como o ser , o uno, o idêntico, a causa, a percepção e o raciocínio. Leibniz retoma Platão, e sua teoria de reminiscência das idéias, dizendo que a alma reconhece virtualmente tudo.
Leibniz coloca que as condições para a liberdade são três: a inteligência, a espontaneidade e a contingência. A liberdade da alma consiste em nela encerrar um fim em si mesma, não dependendo de externos.
Gottfried Wilhelm Leibniz – Biografia
Gottfried Leibniz
Em 1667 Leibniz dedicou ao príncipe um trabalho no qual mostrava a necessidade de uma filosofia e uma aritmética do direito e uma tabela de correspondência jurídica. Tratava-se de um sistema lógico de catalogação, o qual pode muito bem ser comparado aos atuais princípios da informática. Por causa desse trabalho foi incumbido de fazer a revisão do “corpus juris latini”, a então consolidação do direito romano vigente.
Na área religiosa Leibniz se esforçou para a união das religiões protestante e católica. Leibniz trabalhou no Demonstrationes Catholicae, cujas especulações levam-no a situar a alma num determinado ponto e a desenvolver o princípio da razão suficiente, segundo o qual nada acontece sem uma razão. Suas conclusões aparecem em 1671 num trabalho com o título Hypothesis Physica Nova. Conclui que o movimento depende, como na teoria do astrônomo alemão Johannes Kepler, da ação de um espírito (no caso, Deus).
Em 1672 Leibniz vai a Paris em uma obscura missão diplomática: convencer Luiz XIV a conquistar o Egito, aniquilar a Turquia para evitar novas invasões bárbaras da Europa, via Grécia. Era uma estratégia para desviar o poderio militar da França de uma ameaça à Alemanha.
Em Paris, conhece Antoine Arnauld (1612-1694), teólogo líder dos jansenistas. Estes, eram seguidores de uma doutrina que negava a liberdade de vontade e negava que Cristo houvesse morrido por todos os homens, considerados hereges pela Igreja Católica.
Com Arnauld, Leibniz discute sobre a possibilidade da união das igrejas, filosofia e matemática. Arnauld era conhecido pelos seus ataques aos jesuítas efoi demitido da Sorbone por heresia em 1656. Mais tarde, em 1682, iria refugiar-se em Bruxelas, Bélgica, onde escreveria suas idéias. Por essa ocasião Leibniz perde sucessivamente os seus protetores. Morreu o Barão de Boyneburg em fins de 1672 e o príncipe eleitor de Mainz no início de 1673. Buscando meios de manter-se, construiu uma máquina de calcular, um aperfeiçoamento de uma máquina desenvolvida anteriormente por Blaise Pascal, matemático e cientista francês e escritor, e indo à Inglaterra, apresentou-a à Royal Society em 1673. Em Londres Leibniz procurou os matemáticos e cientistas, inclusive Robert Boyle, e entre eles, John Collins, um amigo do físico Sir Isaac Newton, a quem voltaria a encontrar mais tarde.
A permanência de Leibniz em Paris se prolonga até 1676, onde pratica advocacia e trata com vários intelectuais, além de Arnauld, como Malebranche e Huygens. Christian Huygens (1629-1695), matemático, astrônomo e físico holandês ajudou-o nos cálculos matemáticos. Residindo em Paris, Huygens criou a teoria ondulatória da luz, introduziu o uso do pêndulo nos relógios, descobriu a forma dos aneis de Saturno. Eleito membro fundador da Academia de Ciências da França em 1666, morou lá até 1681, retornando então para a Holanda. Arnauld o apresenta a muitos jansenistas importantes em 1674, entre eles, a Étiene Périer, sobrinho de Pascal que confiou a Leibniz trabalhos não publicados de Pascal.
Em 1675 entretém com Nicolas Malebranche, outro geômetra e filósofo cartesiano, discussões enquanto trabalha no desenvolvimento dos cálculos integral e diferencial, cujos fundamentos lança naquele mesmo ano 1675. Ainda sem renda garantida para sua sobrevivência, Leibniz é obrigado, em 1676, a aceitar um emprego na Alemanha. Deixa Paris contra sua vontade, viajando primeiro para a Inglaterra e a Holanda.
Em Londres esteve novamente com John Collins, que lhe permitiu ver alguns trabalhos não publicados de outros matemáticos, principalmente de Newton. Na Holanda, em Haia, teve demoradas conversas com o filósofo racionalista judeu Baruch de Espinoza, com quem discute problemas metafísicos.
Espinoza (1632-1677) fora excomungado pelas autoridades judaicas pela sua explicação não tradicional da bíblia em 1656 e um ano depois do encontro com Leibniz, Espinoza se recolhe ao campo para escrever sua “Ética” (1677) e outros livros, inclusive o”Tratado Teológico-político” (1670) advogando liberdade de filosofia em nome da piedade e da paz pública.
Retornando à Alemanha, em fins de 1676, Leibniz trabalha para João Frederico, Duque de Hanôver, um luterano convertido ao catolicismo. Veio a ser, a partir de 1678, conselheiro do Duque e se propôs inúmeras realizações de interesse para o Ducado. Continua a manter debates sobre a união das religiões protestante e católica, primeiro com o Bispo Cristóbal Rojas de Espínola e, através de correspondência, com Jacques Benigne Bossuet, bispo católico francês. Conhece também Nicolaus Steno, um prelado que era um cientista especializado em geologia.
Nessa época Leibniz se ocupa de várias tarefas, entre elas, da inspecção dos conventos e melhoria da educação com fundação de academias, e desenvolve inúmeras pesquisas sobre prensas hidráulicas, moinhos, lâmpadas, submarinos, relógios, idealiza um modo de melhorar as carruagens e faz experiências com o elemento fósforo recém descoberto pelo alquimista alemão Henning Brand.
Desenvolveu também uma bomba d’água para melhorar a exploração das minas próximas, nas quais freqüentemente trabalhou como engenheiro entre 1680 e 1685. Leibniz é considerado um dos criadores da geologia, devido a riqueza de suas observações, inclusive devido à hipótese de ter sido a terra primeiro líquida, idéia que apresenta no seu Protogeae, que somente foi publicado após sua morte, em 1749.
Tantas ocupações não interromperam seu trabalho em matemática. Em 1679 aperfeiçoou o sistema de numeração binário, base da moderna computação e, ao fim do mesmo ano, propôs as bases do que é hoje a topologia geral, parte da alta matemática.
A essa altura, início de 1680, falece o Duque João Frederico, que é sucedido pelo irmão Ernesto Augusto. A situação política agora é mais complicada para a Alemanha. A França, com Luís XIV torna-se uma ameaça. Aumentam as perseguições aos protestantes, culminando com a revogação do Édito de Nantes em 1685, um perigo para os principados alemães protestantes da fronteira. Em 1681 Luís XIV avançou anexando à França algumas cidades da Alsacia. O Império Germânico era ameaçado também em seu flanco oriental por uma revolta na Hungria e pelo avanço dos turcos que chegaram a assediar Viena em 1683.
Leibniz continua seu esforço nas frentes mais variadas, tanto pelo Ducado quanto pelo Império. Sugeriu meios de aumentar a produção de tecidos, propôs um processo de dessalinização da água, recomendou a classificação dos arquivos e, em 1682, sugeriu a publicação de um periódico, Acta Eruditorum.
Na área política escreveu, em 1683, um violento panfleto contra Luís XIV, intitulado O Mais Cristão Deus da Guerra, em francês e latim. Aí Leibniz expôs seus pensamentos a respeito da guerra com a Hungria.
Nessa mesma época continuou a aperfeiçoar seu sistema metafísico buscando uma noção de causa universal de todo ser, tentando chegar a um ponto de partida que reduzisse o raciocínio a uma álgebra do pensamento. Continuou também a desenvolver seus conhecimentos matemáticos e física. Em 1684 publicou Nova Methodus pro Maximis et Minimis, uma exposição do seu cálculo diferencial.
Desde 1665 Newton também havia descoberto o cálculo, mas apenas comunicara seus achados aos amigos e não os publicou. Entre esses amigos John Collins.
Quando se soube que Leibniz havia estado com Collins na Inglaterra e visto alguns escritos de Newton, abriu-se a questão de prioridade da invenção do cálculo, que se tornou uma das mais famosas disputas do século XVIII.
Seu “Meditações sobre o conhecimento, a verdade e as idéias” apareceu nessa época definindo sua teoria do conhecimento. Em 1686 escreveu o “Discours de métaphysique” seguido de “Breve demonstração do memorável erro de Descartes e outros, sobre a Lei da Natureza”. Pode se dizer que por volta de 1686 sua filosofia da monadologia estava definida, porem a palavra “mônada” seria inserida mais tarde, em 1695.
Em 1687 correspondeu-se com Pierre Bayle, o filósofo francês e enciclopedista que editava o influente jornal Notícias da República das Letras, afirmando em suas cartas sua independência dos cartesianos. Essa correspondência antecipou os Essais de théodicée sur la bonté de Dieu, la liberté de l’homme et l’origine du mal, único de seus livros mais importantes a ser publicado em sua vida, em 1710.
Em 1685 Leibniz foi nomeado historiador da Casa de Brunswick e conselheiro da corte. Seu trabalho seria provar, por meio da genealogia, que a casa nobre de Brunswick tinha suas origens na casa de Este, uma casa de príncipes italianos, o que permitiria Hanôver pretender um nono eleitorado. Em 1687 Leibniz começou a viajar em busca de documentos.
Seguiu pelo sul da Alemanha até a Áustria, ao tempo que Luís XIV mais uma vez declarava guerra ao Império. Foi bem recebido pelo Imperador e de lá seguiu para a Itália. Por onde ia encontrava-se com cientista e continuava seu trabalho intelectual. Publicou em 1689 seu ensaio sobre o movimento dos corpos celestes.
Este ano leu o Principia Matematica de Newton. Retornou a Hanôver em 1690. Seus esforços não foram em vão. Em 1692 Ernesto Augusto obteve a investidura como Eleitor dos Imperadores do Sacro Império Germânico.
Dono de enorme energia intelectual, Leibniz continua estudos dos mais diversos, agora sobre a história da Terra, compreendendo os eventos geológicos e a descrição de fósseis. Procurou, por meio de monumentos e de vestígios linguísticos, a origem das migrações dos povos, origem e progresso da ciência, ética e política e, finalmente, por elementos da história sacra. Em seu projeto de uma história universal Leibniz nunca perdeu de vista o fato de que tudo se interliga. Apesar de não conseguir escrever essa história, seus esforços foram influentes porque ele divisou novas combinações de velhas idéias e inventou outras totalmente novas.
Em 1695 ele expôs uma parte de sua teoria dinâmica do movimento no Système Nouveau, onde tratava do relacionamento de substancias e da harmonia pre-estabelecida entre a alma e o corpo. Deus não necessita de intervir na ação do homem por meio de seu pensamento, como Malebranche postulava, ou dar corda num tipo de relógio de modo a conciliar os dois; em lugar disso, o Supremo Relojoeiro fez que correspondessem exatamente corpo e alma, eles dão sentido um a outro desde o começo.
Em 1697, em “Sobre a origem das coisas”, Leibniz tentou provar que a origem última das coisas não pode ser outra senão Deus. No início de 1698 morreu o príncipe eleitor Ernesto Augusto, sucedendo-o seu filho George Luís. Incompatibilizado com o novo príncipe, mal educado e desagradável, Leibniz valia-se da amizade de Sofia, viúva, e de Sofia Carlota, filha do falecido príncipe. Com a ajuda da jovem princesa Carlota, a qual logo seria a primeira rainha da Prússia, promoveu a criação da Academia de Ciências de Berlim (Capital da Prússia, que era o norte da Alemanha e parte do norte da atual Polônia) em 1700.
Mais uma vez pôs-se a trabalhar arduamente pela união das igrejas: em Berlim tratava-se de unir luteranos e calvinistas; em Paris havia a oposição de Bossuet; em Viena, para onde retorna em 1700, consegue o apoio do Imperador, e na Inglaterra são os anglicanos que precisam ser convencidos.
Esta atividade deu oportunidade para comunicar-se com intelectuais ingleses, como o deísta John Toland, que vem acompanhando o embaixador da Inglaterra enviado a Hanôver em 1702, com o bispo de Salisbury, chefe da Igreja Anglicana, e Lady Darnaris Masham em cuja casa John Locke viria a falecer em 1704.
Leibniz estava impressionado com as qualidades do Czar russo, Pedro o Grande e, em 1711, foi recebido a primeira vez pelo Czar. Em outono de 1714 o Imperador nomeou-o conselheiro do império e lhe deu o título de Barão. Ainda nessa época escreveu Principes de la nature e de la Grace fondés en raison, cujo objeto é a harmonia pre-estabelecida entre essas duas ordens. Mais tarde, em 1714, escreveu Monadologia que sintetiza a filosofia da “Teodicéia”.
Em meados de 1714, a morte da rainha Ana levou George Luís ao trono da Inglaterra com o nome de George I. Retornando a Hanôver, onde ele estava virtualmente em prisão domiciliar, Leibniz pôs-se novamente a trabalhar no Annales Imperii Occidentis Brunsvicenses (Anais braunsvicenses do Império Ocidental), ocupando-se também de extensa correspondência com Samuel Clarke.
Em Bad-Pyrmont ele encontrou Pedro o Grande pela última vez em 1716. A partir de então ele sofria muito de gota e ficou confinado ao leito. Leibniz falece em Hanôver em 14 de novembro de 1716, relativamente esquecido e isolado dos assuntos públicos. Um projeto seu que não teve sucesso foi o de união das igrejas cristãs, de unir novamente as duas profissões de fé.
Pensamento
Quase todas as obras de Leibniz estão escritas em francês ou latim e poucas em alemão, língua que não era muito destinada à obras de filosofia. Eram ortodoxos e otimistas, proclamando que o plano divino fez este o melhor de todos os mundos possíveis, um ponto de vista satirizado por Voltaire (1694-1778) no Candide.
Leibniz é conhecido entre os filósofos pela amplitude de seu pensamento sobre ideias e princípios fundamentais da filosofia, incluindo a verdade, os mundos possíveis, o princípio de razão suficiente (isto é, que nada ocorre sem uma razão), o princípio da harmonia pré-estabelecida (Deus construiu o universo de tal modo que os fatos mentais e físicos ocorrem simultaneamente), e o princípio de não contradição (que uma proposição da qual se pode derivar uma contradição é falsa).
Teve por toda a vida interesse, e perseguiu a idéia, de que os princípios da razão pudessem ser reduzidos a um sistema simbólico formal, uma álgebra ou cálculo do pensamento, no qual controvérsias seriam acertadas por meio de cálculos.
Foi tanto um filósofo quanto um matemático de gênio. Na matemática criou, com Isaac Newton (1643-1727) físico matemático inglês, o cálculo infinitesimal ou de limites de funções, uma fe rramenta para o cálculo diferencial que é o cálculo de derivadas de funções. No seu aspecto geométrico, o cálculo infinitesimal, integral e diferencial, toma o ponto simplesmente como uma circunferência de raio infinitamente pequeno, a curva como um pedaço de circunferência de raio finito, constante, e a reta um pedaço de circunferência de raio infinitamente longo.
Teoria do conhecimento
Princípios
De acordo com Leibniz, a razão afirma que uma coisa só pode existir necessariamente se, além de não ser contraditória, houver uma causa, causa de origem e causa final, que a faça existir. Tira daí dois princípios inatos.
Para explicar a Verdade da Razão e a Verdade de Fato, Leibniz recorre à dois princípios, um falando das coisas a priori e outro das coisas a posteriori, ou seja, uma não dependente da experiência e dos sentidos mas dependente da razão e outro dependente dos sentidos e da experiência (tal como afirmava Kant).
Princípio da não Contradição
O primeiro princípio inato é o Princípio da não Contradição do que é explicado ou demonstrado. Ao primeiro princípio correspondem as verdades de razão. São necessárias, têm a razão em si mesmas. O predicado está implícito na essência do sujeito. As verdades de razão são evidentes a priori, independentes da experiência, prévias à experiência.
As verdades de razão são necessárias, fundam-se no princípio da contradição, como na proposição “dois mais dois são quatro”:Não poderiam não ser. Não cabe contradição possível.
Princípio da Razão Suficiente
O segundo princípio é o Princípio da Razão Suficiente da existência da coisa em questão. Para que uma coisa seja, é necessário que se dê uma razão porque seja assim e não de outro modo. Ao segundo princípio correspondem as verdades de fato. Estas não se justificam a priori, mas sim pelo princípio da razão suficiente.
As verdades de fato são contingentes. A sua razão resulta de uma infinidade de atos passados e presentes que constituem a razão suficiente pela qual ele se dá agora. São atestadas pela experiência. São as verdades científicas; são de um jeito, mas poderiam ser de outro. A água ferve a 100 graus centígrados, mas poderia não ferver e, de fato não ferve, quando é mudada a pressão no seu recipiente. Essas verdades dependem de experiência que as comprove.
Em Deus desapareceria a distinção entre verdades de fato e verdades de razão, porque Deus conhece atualmente toda a série infinita de razões suficientes que fizeram que cada coisa seja aquilo que é. Além dos princípios da não-contradição, da razão suficiente, encontra também os princípios do melhor, da continuidade e dos indiscerníveis, considerados por ele constitutivos da própria razão humana e, portanto, inatos, embora apenas virtualmente.
Nos “Novos Ensaios Sobre o Entendimento Humano” Leibniz rejeita a teoria empirista de Locke (1632-1704), segundo a qual a origem das idéias encontra-se exclusivamente na experiência e que a alma seria uma tabula rasa. Para Leibniz, a vontade do Criador submete-se ao seu entendimento; Deus não pode romper
Sua própria lógica e agir sem razões, pois estas constituem Sua natureza imutável. Conseqüentemente o mundo criado por Deus estaria impregnado de racionalidade, cumprindo objetivos propostos pela mente divina. Deus calcula vários mundos possíveis e faz existir o melhor desses mundos.
Entre tantos mundos possíveis (existentes em Deus como possibilidades), Deus dá existência a um só e a escolha obedece ao critério do melhor, que é a razão suficiente do existir do nosso mundo.
Princípio de Continuidade
De acordo com o princípio de continuidade, não existem descontinuidades na hierarquia dos seres (As plantas são animais imperfeitos e também não há vazios no espaço). Quanto ao princípio dos indiscerníveis, Leibniz afirma que não há no universo dois seres idênticos e que sua diferença não é numérica nem espacial ou temporal, mas intrínseca, isto é, cada ser é em si diferente de qualquer outro.
Origem das idéias
Leibniz, diante da necessidade de conciliar algumas evidências favoráveis e contrárias à existência de idéias inatas, supôz existir no espírito alguma estrutura coordenadora do raciocínio. Ao invés das idéias inatas em si, ele admitiu serem inatas certas estruturas geradoras de idéias.
No prefácio aos “Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano”, diz:
“Por isso emprego de preferência a comparação com um bloco de mármore que tem veios… se há veios na pedra que desenham a figura de Hércules em lugar de qualquer outra, este bloco lhe estaria já disposto, e Hércules lhe seria de algum modo como inato, ainda que fosse sempre necessário certo trabalho para descobrir estes veios e destaca-los pelo polimento, eliminando o que impede sua aparição. Do mesmo modo as idéias e a verdade nos são inatas como inclinações, disposições, capacidades e faculdades naturais, e não como ações ou funções, se bem que estas faculdades vão sempre acompanhadas de algumas ações correspondentes imperceptíveis”.
A mônada encerra em si toda a realidade e nada lhe pode vir de fora. Portanto, tudo o que aconteça, está incluído na sua essência e, por conseguinte, na sua noção completa. Leibniz contraria a posição empirista de que não há nada no entendimento que não tenha passado antes pelos sentidos, excetuando o próprio entendimento. Todas as ideias procedem da princípio de continuidade. Nada é recebido de fora. Este é um postulado diametralmente oposto ao empirismo de Locke, que reconhece as idéias resultantes da experiência.
As ideias são, pois, inatas num certo sentido. Não estão em estado de atualidade que pudessem ser percebidas. Estão em nós em estado de virtualidades, ou potencial, e é através da reflexão que a alma adquire consciência. Esta é uma certa aproximação com Platão. Nossa alma (que é uma mônada) é preformada, isto é, contem virtualmente as verdades necessárias que descobre e torna distintas pela reflexão.
Lógica
A lógica tradicional, demonstrativa, não satisfaz Leibniz. Crê que só serve para demonstrar verdades já conhecidas e não para encontra-las. Quis fazer uma lógica que servisse para descobrir verdades, uma combinatória universal que estudasse as possíveis combinações dos conceitos. Esgrimando com objetos ideais, seria possível chegar a todas as verdades. Poder-se-ia operar de uma forma apriorística e segura, de uma maneira matemática, para a investigação da verdade.
Esta é a famosa Ars magna combinatoria, que seduziu filósofos desde Raimundo Lúlio (1235-1316). Ela se apoia, evidentemente, na crença de que os fatos acompanhariam a linguagem em lugar da linguagem acompanhar os fatos, ordenando os conceitos e apontado possibilidades apenas enquanto associa referências da experiência passada, como em Locke.
Em 1676 Leibniz tornou-se o fundador de uma nova formulação teórica conhecida como dinâmica, que substituia a energia cinética pela conservação do movimento. Leibniz explica os seres como forças vivas, não como máquinas. Em crítica a Descartes, reelabora o pensamento cartesiano. A redução cartesiana da matéria à extensão não explica a resistência que a matéria oferece ao movimento. Esta resistência é uma “força”.
A chamada matéria, na sua essência, é força. E Descartes não se ocupa da força, mas apenas do movimento, da mera mudança de posição de um móvel em relação às coordenadas. Leibniz muda essa física estática e geométrica. O movimento é produzido por uma força viva. A ideia de uma natureza estática e inerte é substituída por uma idéia dinâmica; em contraste com uma física da extensão, faz um retorno ao pensamento grego de que a natureza é princípio de movimento.
Para acomodar a força na natureza Leibniz necessita uma nova idéia de substância. A partir da noção de matéria como essencialmente atividade, Leibniz chega à idéia de que o universo é composto por unidades de força, as mônadas, noção fundamental de sua metafísica. Mônada quer dizer substância real, palavra usada por Giordano Bruno, segundo dizem, a teria tirado de Plotino.
A mônada não tem extensão, não é divisível, não é material. Mônada é força, é energia, vigor. Não força física mas capacidade de atuar, de agir. O universo não é senão um conjunto de substâncias simples, ativas, construídas pelas mônadas. São unidades sem partes, que formam os compostos; são os elementos das coisas.
Leibniz faz o contrário de Espinoza: enquanto este reduz a substancialidade a um ente único, natureza ou Deus, Leibniz restitui à substancia o caráter de coisa individual que teve desde Aristóteles. A substância, dizia Aristóteles, é o que é próprio de cada coisa. A substância ou natureza torna a ser o princípio do movimento nas próprias coisas.
As mônadas são rigorosamente indivisíveis e, portanto, inextensas, porque a extensão é sempre divisível. Estas mônadas simples não podem corromper-se, nem perecer por dissolução, nem começar por composição. Têm qualidades, são distintas e incomunicáveis entre si e também mudam de modo contínuo segundo suas possibilidades internas. São unidades de força. A partir de seu lugar, cada mônada representa ou reflete o universo inteiro, ativamente. As mônadas não são todas de igual hierarquia; refletem o universo com distintos graus de claridade.
Tudo o que acontece à mônada brota do seu próprio ser, das suas possibilidades internas, sem intervenção exterior. As mônadas têm percepções e apercepções; as primeiras são obscuras ou confusas, as segundas claras e distintas. As mônadas das coisas têm percepções insensíveis, sem consciência, o que também acontece ao homem, em diferentes graus. Uma simples sensação é uma ideia confusa. Quando as percepções têm clareza e consciência, e são acompanhadas de memória, são apercepções, e estas são próprias de almas. No cume da hierarquia das mônadas está Deus, que é ato puro.
As coisas do mundo são indiscerníveis quando são iguais (princípio de Leibniz chamados “os indicerníveis”) e uma mônada é totalmente diferente de outra. Quantidade para Leibniz é movimento e multiplicidade, portanto, como força não é mais passividade, mas atividade. O universo não é senão um conjunto de mônadas. A quantidade das mônadas é infinita, mas cada mônada é diferente uma de outra. À matéria prima, de todo passiva, dotada apenas de extensão (como queria Descartes), contrapõe a matéria segunda, dotada de ação. A matéria prima (concebida em abstrato pois não existe sem a matéria segunda) é a matéria em si mesma, de todo passiva, sem nenhum princípio de movimento. A matéria segunda ou vestida é aquela que tem em si um princípio de movimento.
Porém cada mônada resulta de uma matéria prima ou princípio passivo e de um elemento ativo ou força. A mônada criada não pode jamais libertar-se da passividade pois, ao contrário, seria ato puro como Deus. O espírito é mônada. Nossa experiência interior, que nos revela a nós mesmos como uma substância ao mesmo tempo una e indivisível, indica nossa consciência como uma mônada. Conhecemos, imaginamos a fôrça da mônada captando a nós mesmos como força, como energia, como trânsito e movimento interno psicológico de uma idéia, de uma percepção a outra percepção, de uma vivência a outra vivência.
Apesar de indivisível, individual e simples, há mudanças interiores, há atividades no interior na mônada. Estas atividades são a percepção e a apetição. Leibniz define a percepção como a representação do múltiplo no simples.
Apetição é tendência, carência de passar de uma a outra percepção: é uma lei espontânea. A realidade metafísica da mônada (perceber e apetecer) corresponde ao Eu.
A absoluta perfeição da mônada criada é sempre um esforço e não um ato. A atividade contínua da mônada é o esforço de exprimir-se a si mesma, isto é, de adquirir sempre mais consciência do que virtualmente contem. Perceber é ao mesmo tempo apetecer de perceber ainda mais.
Há uma diferença de consciência entre as mônadas (de percepção). Existem as mônadas dos corpos brutos “que só têm percepções inconscientes e apetições cegas”, Os animais se constituem de mônadas “sensitivas”, dotados de apercepções e desejos, e o homem de mônadas “racionais”, com consciência e vontade. Categorias de percepções.
Há três distinções fundamentais entre as percepções: os viventes, os animais, os homens.
As percepções das quais não se tem consciência são chamadas por Leibniz percepções insensíveis. A cada momento nós temos impressões das quais nós não nos conscientizamos… Existem muitos indícios que comprovam que temos em cada momento uma infinidade de percepções, mas sem apercepção e sem reflexão.
Todas as ações que à primeira vista parecem arbitrárias e sem um motivo encontram a sua explicação precisamente nas percepções insensíveis, que explicam também as diferenças de caráter e de temperamento. As mônadas têm percepção, mas algumas dentre elas têm apercepção. As mônadas que tem apercepção e memória constituem as almas.
O saber de perceber é a apercepção, que é também esforço de ter sempre percepções mais distintas. Tal tendência vai ao infinito, pois a mônada não realiza jamais a sua completa perfeição. Leibniz não admite comunicação ou ligação entre as mônadas. Cada uma tem um plano interno segundo o qual vai movimentar-se de modo que esteja no lugar rigorosamente certo onde é esperado que esteja para constituir, com outras mônadas, os corpos em repouso ou em movimento. É o que Leibniz chamou “harmonia pre-estabelecida”.
É fundamental no pensamento de Leibniz o conceito de “harmonia pre-estabelecida”. Deus põe, em cada mônada, a lei da evolução interna de suas percepções em harmônica correspondência. Os atos de cada mônada foram antecipadamente regulados de modo a estarem adequados aos atos de todas as outras; isso constituiria a harmonia pré-estabelecida.
Deus cria as mônadas como se fossem relógios, organiza-os com perfeição de maneira a marcarem sempre a mesma hora e dá-lhes corda a partir do mesmo instante, deixando em seguida que seus mecanismos operem sozinhos. Assim operam coordenadamente seu desenvolvimento corresponde, a cada instante, exatamente ao de todas as outras. No ato da criação, fez com que as modificações interna de cada mônada correspondessem exatamente às modificações de cada uma das outras.
Há um reparo que alguns fazem a Leibniz nesse particular. Segundo seu pensamento, Deus assegurou, desde sempre, a correspondência das minhas ideias com a realidade das coisas, ao fazer coincidir o desenvolvimento da minha mônada pensante com todo o universo. Porém diz, no Discours de métaphysique, que temos na nossa alma as ideias de todas as coisas “mercê da ação contínua de Deus sobre nós”… Então, aquela correspondência não estava assegurada e mais, as mônadas não seriam invioláveis.
Se, de acordo com o próprio pensamento de Leibniz, as mônadas “não têm janelas” e têm já em si todo seu desenvolvimento, então há uma exceção necessária: em vez de se porem em comunicação umas com as outras, abrem-se exclusivamente para Deus.
Teodiceia
Leibniz concebe um mundo rigorosamente racional e como o melhor dos mundos possíveis. Então, como explicar a presença do mal?
O mal manifesta-se de três modos: metafísico, físico e moral.
O Mal Metafísico é a imperfeição inerente à própria essência da criatura. Só Deus é perfeito. Falta alguma coisa ao homem para a perfeição, e o mal é a ausência do bem, na concepção neoplatônica e agostiniana. O mundo, como finito, é imperfeito para distinguir-se de Deus. O mal metafísico, sendo a imperfeição, ele é inevitável na criatura. Ao produzir o mundo tal como ele é, Deus escolheu o menor dos males, de tal forma que o mundo comporta o máximo de bem e o mínimo de mal. A matemática divina responsável pela determinação do máximo de existência, tão rigorosa quanto as dos máximos e mínimos matemáticos ou as leis do equilíbrio, exerce-se na própria origem das coisas.
Um mal é, para Leibniz, a raiz do outro. O mal metafísico é a raiz do Mal Moral. É por ser imperfeito que o homem se deixa envolver pelo confuso. O Mal Físico é entendido por Leibniz como consequência do mal moral, seja porque está vinculado à limitação original, seja porque é punição do pecado (moral). Deus não olhou apenas a felicidade das criaturas inteligentes mas a perfeição do conjunto.
Na moral, o bem significa o triunfo sobre o mal e para que haja bem é necessário que haja mal. O mal que existe no mundo é o mínimo necessário para que haja um máximo de bem. Deus não implica contradição, portanto, Deus é possível como um ser perfeitíssimo, mas para um ser perfeitíssimo sua tendência à existência se traduz imediatamente em ato. A prova de que existe é a harmonia pre-estabelecida. Porque há acordo entre as mônadas é necessário Deus como autor delas.
Outra prova são as coisas contingentes: tudo que existe deve ter uma razão suficiente da sua existência; nenhuma coisa existente tem em si mesma tal razão; portanto existe Deus como razão suficiente de todo o universo. Deus é a mônada perfeita, puro ato. A Teodiceia de Leibniz leva como subtítulo Ensaios Sobre a Bondade de Deus, a Liberdade do Homem e a Origem do Mal.
Liberdade
A questão da liberdade é o mais difícil de se compreender em Leibniz porque as mônadas encerram em si tudo o que lhes há de acontecer e hão de fazer. Todas as mônadas são espontâneas, porque nada externo pode exercer coação sobre elas, nem obriga-las a coisa nenhuma. Como é possível a liberdade?
Segundo ele, Deus cria os homens e os cria livres. Deus conhece os faturíveis, isto é, os frutos condicionados, as coisas que serão se se puserem em certas condições. Deus conhece o que faria a vontade livre, sem que esteja determinado que isto tenha de ser assim, nem se trate, portanto, de predeterminação.
O Mal Metafísico nasce da impossibilidade do mundo ser tão infinito quanto o seu criador. O Mal Moral é permitido por Deus simplesmente, pois é condição para os outros bens maiores. O Mal Físico tem a sua justificação para dar ocasião a valores mais altos. Por exemplo, a adversidade dá ocasião a que exista a fortaleza de ânimo, o heroísmo, a abnegação; além disso, Leibniz crê que a vida, em suma, não é má, e que é maior o prazer que a dor.
Não se pode considerar isoladamente um fato. Não conhecemos os planos totais de Deus, já que seria necessário vê-los na totalidade dos seus desígnios. Como Deus é onipotente e bom, podemos assegurar que o mundo é o melhor dos mundos possíveis; isto é, é aquele que contém o máximo de bem com um mínimo de mal que é condição para o bem do conjunto.
Deus quer que os homens sejam livres e permite que possam pecar, porque é melhor essa liberdade que a falta dela. O homem não sabe usar a liberdade; esta é um bem.
O pecado aparece, pois, como um mal possível que condiciona um bem superior, a saber: a liberdade humana.
Gottfried Wilhelm Leibniz – Obra
A época de Leibniz é principalmente a segunda metade do século XVII. A França é então o centro das artes e das ciências.
Apesar de alemão, Leibniz escreverá a quase totalidade das suas obras em francês e latim. Viveu sua vida inteira no período do reinado de Luís XIV, o “Rei Sol”. Este monarca, de imenso prestígio na Europa, filho de Luís XIII e Ana d’Áustria, nasceu em 1638 e sucedeu o pai em 1643 mas até 1661 esteve sob a regência do Cardeal Mazarino. Rigoroso, patrono das artes e da indústria, Luís XIV impôs unidade à França e, com as guerras de 1667 e 1697, estendeu as fronteiras do reino para o leste às expensas de principados alemães de domínio dos Habsburgos e depois engajou a França numa coligação hostil para garantir o trono da Espanha para seu neto, falecendo em 1715.
Os principados alemães, ao tempo do nascimento de Leibniz, viviam um pós-guerra de grande penúria. O Sacro Império Romano, do qual faziam parte, havia sido palco de sangrentas disputas no século que se seguiu à Reforma protestante, porque o imperador manteve-se católico, e vários príncipes eleitores do Imperador se fizeram protestantes. Episódio dessa contenda foi a Guerra dos Trinta anos (1618-48), que esfacelou o Império, embora o título de Sacro Império Romano, que reunia os principados, tenha continuado em uso.
Os acontecimentos na Inglaterra influiriam igualmente no destino de Leibniz. O ano de seu nascimento foi também o ano em que terminou a guerra civil inglesa (1642-1646). Puritanos e presbiterianos escoceses, que haviam se aliado com o parlamento contrário ao Rei Carlos I, saem vitoriosos sob o comando de Oliver Cromwell, que proclamou a República. Carlos I, julgado e condenado pelo Parlamento, foi executado em 1649. Surge a obra prima de Thomas Hobbes, “O Leviatã” publicada em 1651. Cromowell dissolveu o Parlamento a que havia servido, proclamou-se Protetor da Inglaterra e governou com poderes absolutos até morrer em 1658.
Sem apoio dos reis da Europa, o herdeiro inglês filho de Carlos I nada pode fazer até a morte de Cromwell Então os ingleses, inclusive os generais do próprio exército de Cromowell, temendo a desintegração do país com a sua sucessão (um filho seu tentou governar a Inglaterra após a morte do pai), levam o Parlamento a convidar Carlos a retornar à Inglaterra em 1660. Governou como Carlos II de 1660 a 1685, dominado pelo Parlamento. Leibniz fará um trabalho importante para a continuação dessa linha sucessória.
Primeiros anos. O Barão Gottfried Wilhelm Leibniz, ou Leibnitz, nasceu em Leipzig, na Saxônia, Alemanha oriental, em 1 de julho de 1646 (21 de junho pelo calendário antigo), em uma família luterana piedosa e culta., filho de um professor universitário de filosofia. Seu pai, Friedrich Leibniz era professor de ética (filosofia moral) em Leipzig e morreu em 1652. Sua primeira formação vem das leituras na biblioteca do pai (Platão, Aristóteles, Virgílio, São Tomás, etc.). Para ler esses autores aprendeu grego por si mesmo, e também latim lendo o historiador Titus Livius. Entrou para a Nicolai School em 1653.
Juventude. Leibniz estudou na Universidade de Leipzig de 1661 até 1666, filosofia com Jacob Thomasius, — que deve ser o mesmo que, juntamente com Johannes Sauerbrei escreveu De foeminarum eruditione (1671) em defesa da mulher, — e matemática com Johann Kühn um especialista em Euclides.
Entrou, então, em contato com textos dos cientistas, filósofos e matemáticos que haviam revolucionado a ciência e a filosofia: Bacon (1561-1626), Hobbes (1588-1679), Galileu (1564-1642) e Descartes (1596-1650). Leibniz sonhava reconciliar esses pensadores modernos com Aristóteles e os Escolásticos. Com certeza leu também Giordano Bruno (1548-1600) e Raimundo Lúlio (1235-1316) pois, enquanto estuda Lógica, ele concebe a idéia de um “alfabeto do pensamento humano” muito parecido com a “Arte Combinatória” daqueles autores, e que seria título também de uma de suas obras futuras. As combinações das letras do alfabeto que busca divisar expressariam o conhecimento, e a análise das palavras permitiria novas investigações.
Sua tese de bacharelado em Filosofia apareceu em maio de 1663: Disputatio metaphysica de principio individui (“Argumentação metafísica sobre o princípio individual”), em parte inspirado no nominalismo luterano (a teoria de que os universais não têm realidade e são apenas nomes) e enfatizando o valor existencial do indivíduo, que não se explica nem somente pela matéria nem somente pela forma, mas antes pelo seu ser total (entitate tota). Este sentido unitário é o primeiro germe da sua futura concepção das “mônadas”, outra idéia sem dúvida derivada de sua leitura de Bruno. Durante o verão ele passa três meses na Universidade de Jena, onde conhece Erhard Weigel (1625-1699). Para o bacharelado em Direito, em fevereiro de 1664, Leibniz defende a tese Specimen quaestionum philosophicarum ex jure collectarum.
Um fato que seria depois importante na vida de Leibniz é John Frederick, duque de Braunschweig-Lüneburg, que se havia convertido do Luteranismo ao Catolicismo em 1651, tornar-se duque de Hanôver em 1665. Neste mesmo ano Leibniz escreveu Disputatio Juridica de Canditionibus.
Completado o curso de Direito, Leibniz candidatou-se ao doutorado em Leis, mas foi recusado, devido a sua pouca idade.
No mesmo ano, 1666, escreveu Dissertatio de Arte Combinatoria, no qual formulou um modelo que é o precursor teórico de computação moderna: todo raciocínio, toda descoberta, verbal ou não, é redutível a uma combinação ordenada de elementos tais como números, palavras, sons ou cores.
Em 1667 fez estudos de matemática em Jena. Preocupado em propor a união das religiões protestante e católica, Leibniz trabalhou então no Demonstrationes Catholicae. É de 1667 o seu Nova Methodus Discendae Docendaeque Jurisprudentine.
Na universidade em Altdorf – da cidade livre de Nürnberg (Cerca de 50 km a sudoeste de Leipzig) recebeu o título de doutor com a tese Disputatio Inauguralis de Casibus Perplexis in Jure (Sobre Casos Intrigantes), escrito em 1666, como também a oferta de uma cátedra que, no entanto, recusou. La conheceu em 1667 Johann Christian, o Barão de Boyneburg, ilustre estadista alemão da época, que o tomou ao seu serviço e o introduziu na corte do príncipe eleitor, o arcebispo de Mogúncia (Mainz, 20 a 30 Km a sudoeste de Frankfurt, na front. c/ a França), Johann Philipp von Schönborn, onde se ocupou de assuntos de direito e política.
Ainda em 1667 Leibniz escreveu Nova Methodus Discendae Docendaeque Jurisprudentine dedicado ao príncipe-eleitor, um trabalho no qual mostrava a necessidade de uma filosofia e uma aritmética do direito e uma tabela de correspondência jurídica. Criou assim um sistema lógico de catalogação que continha os princípios da informática. Por causa desse trabalho foi incumbido de fazer a revisão do “corpus juris latini” que era a consolidação do direito romano vigente então. Em 1670 Leibniz é conselheiro da Alta Corte de Justiça da Mogúncia. Em 1670 escreveu Dissertatio Praeliminaris para uma edição de Marli Nizolii… de Veris Principiis…
Contra Pseudophilosophos Libri IV, e Bedenken, welchergestalt Securitas Publica Interna et Extena: und Status praesens jetzigen Umständen nach im Reich auf festen Fuss zu stellen. Em 1670 inicia os rascunhos para uma Scientia Generalis e a Characteristica relacionada à primeira.
Em 1671 ele publica sua Hypothesis physica nova, em duas partes, contendo suas reflexões sobre a difícil teoria do ponto, relacionada a problemas na ótica, espaço e movimento. Ele afirma que o movimento depende, como na teoria do astrônomo alemão Johannes Kepler, da ação de um espírito (Deus). Suas especulações de então levaram-no a situar a alma em um ponto – o que depois desenvolveria como idéia de “mônada” – e a desenvolver o princípio da razão suficiente (nada acontece sem uma razão).
Vida em Paris. Em 1672 o arcebispo príncipe-eleitor envia o jovem jurista em uma missão em Paris onde chega no fim de março. O objetivo da missão era convencer Luís XIV a conquistar o Egito, aniquilar a Turquia para evitar novas invasões da Europa, via Grécia, pelos infiéis. Uma vantagem, no entender do prelado, é que o projeto poderia unir a cristandade e Leibniz, com vistas a essa união, trabalhou no seu Demonstrationes Catholicae. Mas, como Luís XIV continuava uma ameaça para o Sacro Império, o projeto do arcebispo era também uma estratégia para desviar o poderio militar da França de uma ameaça à Alemanha.
A respeito Leibniz preparou um memorial levado a Luís XIV: De Expeditione Aegyptiaca Regi Franciae Proponenda Justa Dissertatio com uma sinópse Consilium Aegyptiacum.
Enquanto em Paris, Leibniz trava conhecimento com representantes proeminentes do Catolicismo, interessando-se pelas questões motivo de polêmica entre católicos e protestantes. Em setembro conhece a Antoine Arnauld (1612-1694), teólogo expoente do Jansenismo, – movimento católicos não ortodoxo que pretendia uma forma rigorista de moralidade, e cujos seguidores, considerados hereges pela Igreja Católica, negavam a liberdade de vontade e que Cristo houvesse morrido por todos os homens. Com ele discute sobre controvérsias religiosas, a possibilidade da união das igrejas, filosofia e matemática. Arnauld era conhecido pelos seus ataques aos jesuítas, e demitido da Sorbone em 1656, por heresia, refugiou-se na abadia de Port Royal des Champs e mais tarde, em 1682, em Bruxelas, Bélgica, onde escreveria suas idéias. Leibniz queria o apoio de Arnauld para a reunificação da Igreja cristã. Conhece também o matemático holandês Christian Huygens (1629-1695) que lhe mostrou seus estudos sobre a teoria das curvas. Sob a influência de Huygens dedica-se com afinco aos estudos matemáticos. Investigou as relações entre a soma e a diferença de seqüências finitas e infinitas de números.
Lendo as aulas de geometria de Barrow 1630-1677), ele criou uma regra de transformação para calcular quadraturas, obtendo a famosa série infinita para /4:
Por essa ocasião Leibniz perde sucessivamente os seus protetores. Morreu o Barão de Boyneburg em fins de 1672 e o arcebispo eleitor de Mainz no início de 1673. Ele estava, no entanto, livre para continuar seus estudos científicos. Em Paris seu círculo de amigos estava crescendo constantemente. Arnauld o apresenta a muitos jansenistas importantes, entre eles a Étiene Périer, sobrinho do matemático, cientista e escritor francês Blaise Pascal, (1623-1662) que confiou a Leibniz trabalhos não publicados de seu tio. Buscando meios de manter-se, pratica advocacia e constroi uma máquina de calcular, um aperfeiçoamento de uma máquina desenvolvida anteriormente por Pascal, e indo à Inglaterra de janeiro a março de 1673, apresentou-a à Royal Society. Em Londres travou conhecimento com os mais avançados matemáticos, cientistas e teólogos ingleses da época. incluindo o químico Robert Boyle (1627-1691), John Collins (1625-1683), um amigo do físico Sir Isaac Newton (1643-1727) e tanbém John Pell (1610-1685) matemático e diplomata habituado a divulgar por correspondência as novidades matemáticas entre os grandes matemáticos da época e que foi professor de matemática em Amsterdam e Breda e em 1661 se radicou em Londres onde faleceu.
Outro importante personagem do seu círculo de relacionamento e debates filosóficos e científicos em Paris foi o geómetra e filósofo cartesiano, Nicolas Malebranche (1638-1715), além do matemático alemão Walter von Tschirnhaus (?-1708), que fora amigo de Espinosa (1632-1677).
Em 1674 escreveu Politische Betrachtung über gegenwaertigen Krieges-Zustand, swischen Frankreich und Ober- und Nieder Teutsch-Land.
Em fins de 1675 Leibniz lançou os fundamentos tanto do calculo integral quanto do cálculo diferencial. Estas descobertas o levaram, no campo da filosofia, a deixar de considerar o tempo e o espaço como substâncias ou coisas que pudessem ser estudadas em si mesmas, por conterem algo metafísico. Criticou então a formulação cartesiana do movimento, que constituia a Mecânica, substituindo-a pela noção de Dinâmica, em que o movimento não é criado por uma energia cinética, mas conservado (a força metafísica que existe nas mônadas). A permanência em Paris prolonga-se até 1676.
Retorno à Alemanha. Ainda sem renda garantida para sua sobrevivência, Leibniz é obrigado, em 1676, a aceitar um emprego na Alemanha, e deixa Paris em outubro, contra sua vontade, viajando primeiro para a Inglaterra e a Holanda. Em Londres esteve novamente com John Collins (vide nota), que lhe permitiu ver alguns trabalhos não publicados de James Gregory (1638-1675), matemático escocês, e também de Newton (vide nota). Na Holanda, em novembro, ele encontra o naturalista Jan Swammerdam (1637-1680) e o cientista Antonie von Leeuwenhoek (1632-1723) em Delft. Em Haia, teve longas conversas com o filósofo racionalista judeu Baruch (Benedicto) de Espinosa (vide página), que havia sido excomungado pelas autoridades judaicas devido à sua explicação não tradicional da bíblia, em 1656, e com quem discute problemas metafísicos. Espinosa foi visitado pelos maiores pensadores e cientistas de seu tempo, mas um ano depois desse encontro com Leibniz haveria de recolher-se ao campo para escrever sua “Ética” (1677) e outros livros, inclusive o”Tratado Teológico-político” (1670) advogando liberdade de filosofia em nome da piedade e da paz pública.
Retornando à Alemanha, Leibniz assume o emprego que havia aceito em Hanôver, onde chega em meados de dezembro de 1676. Trabalha para João Frederico, que se convertera do Luteranismo para o Catolicismo em 1651, e havia se tornado duque de Hanôver em 1665 (Duque de Braunschweig-Lüneburg, incluindo os Ducados de Zelle e Hanôver, Noroeste da Alemanha, antiga Prússia ocidental) e com quem havia trocado correspondência quando em Paris.
A conversão do duque, príncipe de uma maioria protestante era uma questão política importante face às acerbas divergências religiosas da época e Leibniz encontrou assim a oportunidade para trabalhar pela causa da reconciliação entre Católicos e Protestantes. Em Paris ele havia conhecido proeminentes sacerdotes jesuítas e oratorianos da Igreja Católica e logo inicia debates sobre a união das igrejas, primeiro com o Bispo Cristóbal Rojas de Espínola, de Wiener-Neustadt, enviado do Imperador, e, através de correspondência, a partir do início de 1679, com o bispo católico francês, renomado orador e filósofo, Jacques Benigne Bossuet (1627-1704).
Com a aprovação do Duque, do Vigário Apostólico (representante do Papa) e do próprio Papa Inocêncio XI, o projeto de reconciliação foi iniciado em Hanover, no sentido de encontrar bases de acordo entre Protestantes e Católicos. Leibniz pouco depois assumiu o lugar de Molanus, presidente do Consistório Hanoveriano, como representante das pretensões dos Protestantes. Ele inclinava-se pela fórmula de um Cristianismo sincrético que havia sido proposta primeiro na Universidade de Helmstadt, a qual adotava por credo uma fórmula eclética reunindo os dogmas supostamente sustentados pela Igreja primitiva. Leibniz escreveu um documento intitulado Systema Theologicum, que, segundo afirmou, teve a aprovação não somente do Bispo Spinola, que defendia os católicos no projeto, como também do Papa, de cardeais, do Geral dos Jesuítas, e outros.
Em 1677 escreveu De Jure Suprematus ac Legationis Principum Germaniae, publicado com o pseudonimo Caesarinus Fuerstenerius. Em 1678 escreveu Entretien de Philarète et d’Eugène sur la question du temps, agitée à Nimwègue, touchant le droit d’ambassade des électeurs et princes de l’Empire.
Além de encarregado da Biblioteca e do Arquivo do Ducado, Leibniz veio a ser, a partir de 1678, também conselheiro do Duque e por depender de seu emprego para sobreviver, propõe e desenvolve uma multitude de tarefas e projetos, incluindo a melhoria da educação com fundação de academias, a inspecção dos conventos e desenvolve inúmeras pesquisas sobre prensas hidráulicas, moinhos de vento, lâmpadas, submarinos, relógios, idealiza um modo de melhorar as carruagens e uma larga variedade de equipamentos mecânicos, e faz experiências com o elemento fósforo recém descoberto pelo alquimista alemão Henning Brand (?-1669-?). Desenvolveu também uma bomba d’água acionada por moinhos de vento, que melhoraram a exploração das minas próximas, nas quais freqüentemente trabalhou como engenheiro entre 1680 e 1685. Leibniz é considerado um dos criadores da Geologia, devido a suas observações, inclusive a hipótese de ter sido a terra primeiro líquida, idéia que apresenta no seu Protogeae, que somente foi publicado após sua morte, em 1749. Conhece na ocasião a Nicolaus Steno (1638-1686), um prelado que era um cientista entendido em geologia. Em 1669 escreveu Confessio Naturae Contra Atheistas, Defensio Trinitatis per Nova Reperta Logîca e Specimen Demonstrationum Politicarum pro Eligendo Rege Polonarum.
Tantas ocupações não interromperam seu trabalho em matemática. Em 1679 aperfeiçoou o sistema de numeração binário, base da moderna computação, e ao fim do mesmo ano propôs as bases do que é hoje a topologia geral, um ramo da alta matemática. Trabalhava também no desenvolvimento de sua Dinâmica e da sua Filosofia, que se tornava cada vez mais anti-cartesiana. A essa altura, início de 1680, falece o Duque João Frederico, que é sucedido pelo irmão Ernesto Augusto (1629-1698).
A França estava cada vez mais intolerante com os protestantes e entre 1680 e 1682 ocorreram perseguições duras dos protestantes pelos católicos que levariam em futuro próximo à revogação do Édito de Nantes, garantia de coexistência pacífica das duas Igrejas. Em 1681 Luis XIV tomou Strasburgo e 10 cidades na Alsacia. Nessa mesma época Leibniz continuou a aperfeiçoar seu sistema metafísico buscando uma noção de causa universal de todo ser, tentando chegar a um ponto de partida que reduzisse o raciocínio a uma álgebra do pensamento. Continuou também a desenvolver seus conhecimentos de matemática e física, ocupando-se com a proporção entre o círculo e um quadrado nele circunscrito. Ainda neste ano fez para o Império uma análise dos negócios de estado, sugerindo meios de aumentar a produção de tecidos; propôs um processo de dessalinização da água, recomendou a classificação dos arquivos e sugeriu a publicação do periódico Acta Erudilorum, que se tornou parte do Journal des Savants. No início de 1682 publicou De vera proportione circuli ad quadratum circumscriptum in numeris rationalibus a G. G. Leibnitio expressi, no “Acta eruditorum”.
Na frente política escreveu em 1683, em francês e latim, um violento panfleto contra Luís XIV, intitulado Mars Chiristianissimus (O mais cristão Deus da guerra); no mesmo ano expôs seus pensamentos a respeito da guerra com a Hungria em forma de notas; e em 1684 ele dá a público suas Raisons touchant la güerre ou l’accommodement avec la France(“Razões com respeito à alternativa de guerra ou acordo com a França”).
Em outubro de 1684 publicou no “Acta eruditorum” Nova methodus pro maximis et minimis itemque tangentibus, quae nec fractas, nec irrationales quantitates moratur, et singulare pro illis calculi genus, que foi a primeira publicação surgida sobre os princípios do cálculo diferencial. Newton havia também descoberto o cálculo desde 1665, mas não publicou os seus achados, os quais apenas comunicara aos amigos Gregory e John Collins. Quando se soube que Leibniz havia estado com Collins na Inglaterra e visto alguns escritos de Newton, abriu-se a questão de prioridade da invenção do cálculo, que se tornou uma das mais famosas disputas do século XVIII. Leibniz estava ainda, simultaneamente, preocupado com a resistência dos sólidos e com a natureza do conhecimento. Em 1684 escreveu Meditationes de Cognitione, Veritate et Ideis.
Pesquisa histórica. Em 1685 Leibniz foi nomeado historiador da Casa de Brunswick e nessa ocasião, Hofrat (conselheiro da corte). É o ano da morte de Carlos II, na Inglaterra, quando Jaime II, católico ascende ao trono inglês, reabrindo o conflito religioso no país. A situação política agora é mais complicada para a Alemanha. A França com Luis XIV era uma ameaça crescente ao Império que já sofria pelo leste, além da revolta da Hungria, também.o ataque dos turcos, detidos em 1683 no seu cerco a Viena por John III Sobieski, rei da Polônia, Aumentam as perseguições aos protestantes culminando com a revogação do Édito de Nantes em outubro de 1685, um perigo para os principados alemães protestantes da fronteira. O filósofo recebeu a incumbência de provar, por meio da genealogia, que a casa nobre de Brunswick tinha suas origens na Casa de Este, uma casa de príncipes italianos, o que permitiria Hanôver pretender um nono eleitorado.
Em 1686 Isaac Newton comunica à Royal Society de Londres sua hipótese sobre a gravitação universal. Em fevereiro do mesmo ano Leibniz escreveu seu Discours de métaphysique (“Discourso sobre a Metafísica) e o Systema Theologicum. Na publicação de março da Acta eruditorum, ele difundiu sua dinâmica, em um artigo intitulado Brevis Demonstratio Erroris Memborabilis Cartesii et Aliorum Circa Legem Naturae (“Breve demonstração do memorável erro de Descartes e outros, sobre a Lei da Natureza”) o primeiro ataque de Leibniz contra a física Cartesiana. Em julho, publicou na mesma “Acta” seu De geometria recondita et analysi indivisibilium atque infinitorum que ilustra o calculo integral e no qual ele introduz e explica o símbolo para integração. Ele salientou o poder do seu cálculo para investigar curvas transcendentais, exatamente a classe de objetos “mecânicos” que Descartes havia acreditado que estava além do poder de análise, e derivou uma formula analítica simples para o cicloide.
Seu Meditationes de Cognitione, Veritate et Ideis (Meditações sobre o conhecimento, a verdade e as idéias) apareceu nessa época, definindo sua teoria do conhecimento: as coisas não são vistas em Deus, como queria Malebranche, existe mais uma analogia entre as idéias de Deus e as dos homens, uma simultaneidade e identidade entre a lógica de Deus e a do homem de acordo com sua teoria das mônadas.
Um desdobramento das idéias de Libniz, revelado em um texto escrito em 1686, porém só mais tarde publicado, foi sua generalização a respeito de proposições: em cada proposição afirmativa verdadeira, necessária ou contingente, na primeira o predicado está contido na noção do sujeito (vide “princípio de não contradição, adiante); e nas proposições contingentes (vide adiante “princípio de razão suficiente”), que dizem algo que pode ser ou não ser, e que são o fundamento da liberdade, apesar de que elas parecem não estar identificadas com o sujeito, no entanto tendem no sentido de tal identidade de modo comparável a como uma curva aproxima-se mas nunca atinge a sua assintótica. Pode ser dito, neste ponto, com exceção da palávra mônada ( que não apareceu antes de 1695), sua filosofia estava definida.
Em 1686 escreveu Brevis Demonstratio Erroris Memorabilis Cartesii et Gliorum Circa Legem Naturae Secundum Quam Volunt a Deo eanden Semper Quantitatem Motus Conservari e De Geometria Recondita et Analysi indivisibilium et Infinitorum. Em princípios de 1687 Leibniz começou a corresponder-se com Pierre Bayle (1647-1706), filósofo francês e enciclopedista, afirmando em suas cartas sua independência dos cartesianos. Essa correspondência antecipou os Essais de théodicée sur la bonté de Dieu, la liberté de l’homme et l’origine du mal, único de seus livros mais importantes a ser publicado em sua vida, em 1710.
São também de 1686 o Systema Theologicum e o Discours de métaphysique.
Em 1687 Leibniz começou também a viajar em busca de documentos. Seguiu pelo sul da Alemanha até a Áustria. Em Viena foi bem recebido pelo Imperador, e de lá seguiu para a Itália. Em todos os lugares encontrava-se com cientista e prosseguia seu trabalho intelectual. Publicou um ensaio sobre o movimento dos corpos celestes e sobre a duração e continuidade das coisas discutido em julho de 1687, no Extrait d’une lettre de M. L. sur un principe général, utile à l’explication des lois de la nature, par la consideration de la sagesse divine; pour servir de réplique à la reponse du R. P. M… e outro, sobre os movimentos celestes Tentamen de motuum coelestium causis, publicado na Acta em fevereiro de 1689, no qual apresenta sua teoria da existência de um meio material circulando no espaço interplanetário com velocidade que muda proporcionalmente com a distancia do sol numa proporção harmônica. Em abril publicou ainda outro sobre a duração e continuidade das coisas. Em novembro desse mesmo ano, em Roma, pode ler o Principia Matematica de Newton. Com certeza pode ler também o “Dois Tratados sobre o Governo Civil”, de Locke, publicados em 1689-1690. Durante sua permanência em Roma foi eleito membro da Pontificia Accademia Fisico-Mattematica Retornou a Hanover em meados de Julho de 1690.
Escreveu em 1690 Tentamen Anagogicum: Essai anagogique dans la recherche des causes.
Seus esforços de pesquisa e argumentação histórico-genealógica não foram em vão. Os documentos encontrados provaram que a Casa principesca Brunswick podia reclamar o nono eleitorado. Em 1692 Ernesto Augusto obteve a investidura como Eleitor dos Imperadores do Sacro Império Germânico.
Em 1691 foi nomeado bibliotecário em Wolfenbütel. Retomou sua correspondência com Bossuet e difundiu seu sistema e suas descobertas por meio de artigos em jornais científicos. A partir dessa ocasião prosseguiu seus estudos sempre mais diversificados. Além de continuar a desenvolver pesquisas históricas, ocupou-se também da descrição de fenômenos geológicos inclusive descrição de fósseis. Pesquisou por via de monumentos e vestígios liguísticos, a origem dos povos, e mais o nascimento e progresso das ciências, ética, e política, e finalmente elementos de uma historia sacra.
Em 1691 publicou Hypothesis Physica Nova e também Protogaea, sive de Prima Facie Telluris et Antiquissimae Historiae Vestigits in Ipsis Naturae Monumentis Dissertatio, e em 1692 De la tolérance des religions: de M. de Leibniz et reponses de M. de Pellisson; em 1693 saiu a edição de Codex Juris Gentium Diplamaticus. Em março de 1694 publicou no “Acta eruditorum” De primae philosophiae emendatione, et de notione substantiae. Em julho escreveu respondendo as críticas de Nieuwentijt ao seu cálculo infinitesimal.
Em 1695, abril, Leibniz lançou as idéias de sua Dinâmica no Specimen dynamicum pro admirandis naturae legibus circa corporum vires et mutuas actiones detegendis, et ad suas causas revocandis.
Em junho expôs no “Journal des sçavans” sua nova solução para o problema da relação corpo-espírito: No seu Système nouveau de la nature et de la communication des substances, aussi bien que de l’union qu’il y a entre l’âme et le corps, juntamente com sua teoria dinâmica do movimento, tratava do relacionamento entre substâncias e da harmonia preestabelecida entre a alma e o corpo. Deus não necessita de intervir em cada ação do homem, como Malebranche postulava, mas, em lugar disso, como um Supremo Relojoeiro, fez com que correspondessem tão exatamente corpo e alma que eles correspondem, – eles dão sentido um ao outro -, desde o começo, como dois relógios que andam sempre absolutamente iguais. No mesmo ano escreveu Lettre sur la connexion des maisons de Brunsvic et d’Este.
Em 1696 escreveu Relatio… de Antidysenterico Americano; entre 1696 e 1697 escreveu Specimen Historine Arcanae, Anecdotae de Vita Alexandri VI Papae. Em 1697, no De Rerum Originatione (Sobre a origem das coisas) ele tentou provar que a origem última das coisas não pode ser outra que Deus. Escreveu nesse ano ainda Animadversiones in Partem Generalem Principiorum Cartesianorum e Novissima Sinica Historiam Nostri Temporis Illustratura.
Em 1698, no De Ipsa Natura, sive de Vi Insita, Actionibusque Creaturarum (“Sobre a própria natureza”) explicava a atividade da natureza em termos da sua teoria de Dinâmica. Todas essas obras opunham-se ao cartesianismo, o qual era considerado prejudicial à fé.
No início de 1698 morreu o príncipe eleitor Ernesto Augusto, sucedendo-o seu filho George Luís (1660-1727). Leibniz se viu frente a um jovem mal educado, um boêmio enfatuado que fazia questão de deixá-lo em segundo plano. George havia se casado com a prima Sophia Dorothea de Celle em 1682, mas em 1694, acusando-a de infidelidade, divorciou-se dela. Mandou prende-la no castelo Ahlden, onde ficou até morrer 32 anos mais tarde. Leibniz passou a aproveitar qualquer pretexto para ausentar-se de Hanover; seu consolo era a amizade de Sofia Carlota, filha do falecido príncipe, e de Sofia, a viúva, a qual enquanto viva, manteve-se no centro da cultura, ornamentada por Handel e pelo seu criado e ilustre amigo Leibniz.
É de 1698 Chronicon; a coleção de Accessiones Historicae, Quibus Utilia Superiorum Temporum Historiis Illustrandis Scripta Monumentaque Nondum Hactenus Edita inque Iis Scriptores Diu Desiderati Continentur.
No início do novo século a fama de filósofo e cientista de Leibniz já havia se espalhado pela Europa; mantinha correspondência com os mais importantes eruditos europeus de então.
Em 1700 mais uma vez pôs-se a trabalhar arduamente pela união das igrejas: em Berlim tratava-se de unir luteranos e calvinistas; em Paris havia que vencer a oposição do bispo Bossuet; em Viena, para onde retorna naquele ano, consegue o apoio do Imperador, o que tinha grande peso, e na Inglaterra são os anglicanos que precisavam ser convencidos.
A guerra da sucessão espanhola começou em março de 1701 e só terminou realmente em 1714, com o tratado de Baden. Conhecido em toda a Europa, Leibniz e se posiciona, como patriota, contra Luís XIV, que a havia fomentado. Porém, a partir de então publicou pouca coisa porque estava ocupado escrevendo o Théodicée, que seria publicado em 1710. Foi eleito membro estrangeiro da Academia de Ciências de Paris em 1700 ainda nesse mesmo ano, com a ajuda da jovem princesa eleitora Sofia Carlota, que logo seria a primeira rainha da Prússia (janeiro de 1701), ele convenceu Frederick III da Prussia a criar a Sociedade de Ciências de Brandenburg, que veio a ser depois a Academia de Ciências de Berlim (Capital da Prússia, correspondente ao norte da Alemanha atual e parte do norte da Polônia) em julho de 1700. Foi ele próprio indicado presidente vitalício. Os projetos de criação de Academias alemãs se sucederam com rapidez. A Academia de Berlim, no entanto não teve suporte financeiro senão tempos depois, quando Frederico II, o Grande, tornou-se rei da Prússia em 1740.
Novo estudo histórico. Na Inglaterra, Jaime II (1685-88), irmão e sucessor de Carlos II, havia tentado sufocar a igreja anglicana. O Parlamento reagiu e o depôs, e chamou Maria Stuart, sua filha protestante (Maria II da Inglaterra 1689-94), que reinou conjuntamente com seu marido Guilherme de Orange, da Holanda (Guilherme III da Inglaterra, duque de Gloucester). Jaime II fugiu para a França. Com a morte de Guilherme III em 1700, George Luís, por ser um bisneto de James I, é um possível herdeiro do trono. Cabe a Leibniz, jurista e historiador, desenvolver os argumentos com respeito aos direitos da Casa de Braunschweig-Lüneburg ao trono inglês.
A nova atividade deu a Leibniz oportunidade para comunicar-se com muitos intelectuais ingleses importantes, como o deísta John Toland, que vem acompanhando o embaixador da Inglaterra enviado a Hanôver em 1702; Gilbert Burneti bispo de Salisbury, chefe da Igreja Anglicana; o poeta e ensaísta Joseph Addison, e Lady Darnaris Masham em cuja casa o empirista John Locke viria a falecer em 1704. Em 1702 escreveu Considérations sur la doctrine d’un esprit universel unique. e em 1703 Manifeste contenant les droits de Charles III, roi d’Espagne, et les justes motifs de son expédition.
Leibniz continuou a publicar os resultados sobre o novo cálculo na Acta Eruditorum e começou a desenvolver suas idéias em extensa correspondência trocada com outros eruditos. Aos poucos ele estimulou um grupo de pesquisadores a divulgar os seus métodos incluindo os irmãos Johann e Jakob Bernoulli, em Basel, e o padre Pierre Varignon e Guillaume-François-Antoine de L’Hospital, em Paris.
Em 1705 Leibniz completou seu Nouveaux essays sur l’entendement humain, cujas notas vinha compilando desde 1696, mas, porque essa obra era uma resposta ao Essay Concerning Human Understanding de Locke, com a morte do filósofo inglês em 1704 Leibniz deixa de publicá-la, e só veio a lume após sua morte, publicada em Oeuvres philosophiques latines et françaises de feu M. de Leibnitz, por R. E. Raspe, em 1765.
É de 1707 a edição de Scriptores rerum Brunsvicensium, 3 vol., e de 1709 o Dissertatio de Numis Gratiani.
Em 1710 Essays de Théodicée sur la bonté de Dieu, la liberté de l’homme et l’origine du mal é publicado anonimamente em Amsterdam. O Théodicée, um tratado de filosofia teológica ou teologia natural escrito em 1709, sete anos antes de sua morte, refutava os enciclopedistas em geral, particularmente a Pierre Bayle, que afirmavam serem incompatíveis a fé e a razão. Nele trata da questão de Deus, do mal e expõe seu otimismo.
Nesta obra ele lança suas idéias sobre a justiça divina: o mal metafísico é inevitável porque ele não é nada senão a natureza finita própria da criatura; cada criatura é autônoma e, se está munida com a razão, é livre.
Cada uma é definida pelo seu lugar independente na criação e por tudo que foi destinada experimentar de acordo com sua própria natureza, sem o menor obstáculo por parte dos demais, com os quais está sintonizado em uma harmonia universal; O mal, físico ou moral, não é de modo algum positivo: é uma falta que, como a dissonância na música, aumenta a beleza do conjunto. Finalmente ele sustentou que Deus, ao criar o mundo, escolheu fazer o melhor de todos os mundos possíveis. São ainda de 1710 Bericht über die Reunionssache an Clemens XI, a edição de Miscellanea Berolinensia ad incrementum Scientiarum e Causa Dei Asserta per Justitiam Ejus, cum Caeteris Ejus Perfectionibus Cunctisque Actionibus Conciliatam
Últimos anos. Leibniz estava impressionado com as qualidade do Czar russo, Pedro o Grande, e viaja à Rússia levando um plano de organização civil e moral. Foi recebido a primeira vez pelo Czar em outubro de 1711. e depois novamente em 1712, quando sugeriu a criação de uma sociedade científica em São Petersburgo.
Uma guerra entre matemáticos leibnizianos e newtonianos a respeito da precedência na invenção do cálculo diferencial, e a acusação de que Leibniz havia visto os originais de Newton, levou o filósofo a escrever em 1713 Historia et origo calculi differentialis defendendo-se da acusação de plágio.
Após a visita ao Czar Leibniz ficou em Viena até o outono de 1714, ocasião em que o Imperador nomeou-o Reichhofrat (conselheiro do império) e lhe deu o título de Freiherr (Barão). Retornando a Hanôver, incompatibilizado com o novo príncipe, mal educado e desagradável, Leibniz viveu virtualmente sob prisão domiciliar, e se pôs novamente a trabalhar no Annales Imperii Occidentis Brunsvicenses (Anais braunsvicenses do Império Ocidental).
Ainda nessa época (1714) escreveu Principes de la nature e de la Grace fondés en raison cujo objeto é a harmonia pre-estabelecida entre essas duas ordens, e Principia philosophiae, More Geametrico Demanstrata geralmente conhecido por “Monadologia” ou La Monadolagie, onde sintetiza a filosofia da “Teodicéia”, ambos impressos após a sua morte: o primeiro no “Europe savante” de 1718 e o outro no “Acta eruditorum”, em 1721.
O trabalho de Leibniz fundamentando os direitos de George Luís à sucessão inglesa revelaram-se de grande importância histórica e política. A revolução contra Jaime II havia posteriormente ensejado Act of Settlement, de 1701, que visava garantir que o trono inglês fosse ocupado por um rei protestante, oposto assim à linha católica do rei deposto. Isto colocou George Luís como terceiro sucessor, após a princesa Anne, que havia reinado de 1702-14, e sua mãe Sofia. Quando esta morreu em 1714, ele tornou-se o herdeiro do trono inglês e foi coroado como George I. Esse homem, que fora um problema para Leibniz, também o seria para o povo inglês. Não aprovavam a punição que dera à sua mulher e reprovavam ter ele duas ambiciosas amantes alemãs. Como não fosse capaz de falar inglês, tentava comunicar-se em francês e logo desistiu de participar das reuniões de gabinete. Ele e as amantes foram suspeitos de desvio de fundos da “Companhia dos Mares do Sul” e porque os ministros Walpole e Townshend conseguiram contornar o problema perante o Parlamento, George deu-lhes amplos poderes no governo. Morreu de um infarto durante uma viagem a Hanôver. Teve por sucessor seu filho, coroado George II, e teve uma filha, Sophia Dorothea (1687-1757), mulher do Rei Frederico William I da Prussia e mãe de Frederico o Grande.
Ainda de 1714 é Remarques sur le discours de Mr. H. S…. touchant la manière de gouverner les horloges à pendule et les montres à spirale. De 1715 são De Origine Francorum Disquisitio, Dissertatio de Variis Linguis e Entretien de Philarète et d’Ariste.
Em 1715 Leibniz ocupou-se também de com extensa e um tanto áspera correspondência com Samuel Clarke, um associado próximo de Newton, sobre os conceitos de espaço e tempo. Em Bad-Pyrmont ele encontrou Pedro o Grande pela última vez em junho de 1716. A partir de então ele sofria muito de gota e ficou confinado ao leito. Faleceu em Hanôver em 14 de novembro de 1716, relativamente esquecido e isolado dos assuntos públicos. Rubem Queiroz Cobra
Fonte: www.famousscientists.org/gballone.sites.uol.com.br/www.cobra.pages.nom.br
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