Flávio Shiro

Flávio Shiró – Vida

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Flávio Shiró é pintor, gravador, desenhista e cenógrafo.

Nascido no Japão, ele chegou criança no Brasil e faz parte da primeira geração de artistas brasileiros de origem japonesa.

Quando Flávio Shiró dá o seu endereço no bairro do Marais em Paris, ele sugere que a pessoa faça exatamente sessenta passos depois do portão de entrada do edifício, antes de virar à esquerda e bater na porta de sua casa.

Essa é a senha para sermos teletransportados para um mundo paralelo, que não tem nada a ver com a agitação do lado de fora.

Descobrimos maravilhados uma imensa sala com pé direito altíssimo iluminada por um pátio interno cheio de plantas, com uma escultura no centro.

Em cima de uma lareira antiga, um grande cocar indígena triunfa soberano ao lado de objetos asiáticos, esculturas africanas e algumas bonecas de porcelana restauradas.

Entre as diversas telas abstratas nas paredes, um rosto meio cubista com orelhas bem grandes. « Esse quadro se chama Pablo e foi feito alguns dias antes da morte de Picasso » explica ele.

Nao resta dúvida de que entramos na casa de um artista, mas também na galáxia Shiró, que navega entre três continentes : Ásia, América e Europa.

Do Japão à Amazônia

Flávio Shiró Tanaka viveu o choque cultural decisivo para sua arte quando saíu de Sapporo, no Japão, onde nasceu em 1928 e chegou aos 4 anos de idade numa colônia japonesa em Tomé Açu no Pará, em plena Amazônia brasileira. « Ali fui marcado definitivamente pela emoção tropical » diz ele, rindo e abaixando a cabeça como um oriental. Ele nunca soube ao certo porque seu pai, um dentista culto e artista nas horas vagas, decidiu partir para o Brasil com sua família.

Mas o Japão resistiu aos trópicos para os Tanaka em Tomé-Açu: seu pai lia poemas em japonês todos os dias para a família e sua mãe tocava depois do banho os instrumentos musicais Koto e Shamissen trazidos de Sapporo.

Nos anos 40, Shiró vive um novo choque cultural com a mudança para São Paulo, ainda adolescente. A segunda guerra mundial havia começado e por causa da posição do Japão, aliado à Alemanha nazista, os imigrantes japoneses eram encarados de modo mais hostil no Brasil. O diploma de Odontologia do pai não foi reconhecido e a família Tanaka foi trabalhar nas plantações de chá em Mogi das Cruzes, antes de abrir uma quitanda na Rua Augusta, no centro de São Paulo.

A cidade, em plena expansão, tinha muito a oferecer à vocação artística do jovem Shiró: incentivado pelo pai, ele começa a frequentar as sessões de modelo vivo do Grupo Santa Helena, conhece artistas como Volpi e Mário Zanini e participa de sua primeira mostra de pintores com telas expressionistas, aos 19 anos.

Samurai dos pincéis

Shiró, que além de pintor, é gravador , desenhista e cenógrafo, sempre oscilou, em mais de cinco décadas de carreira artística, entre a arte figurativa e não figurativa.

Ele insiste, no entanto, em privilegiar a força da Amazônia brasileira em sua obra e sorri mostrando uma tela com traços negros que à primeira vista poderia sugerir uma caligrafia oriental: « isso é um igarapé da Amazônia. Mas é engraçado… Andre Malraux, célebre ministro da cultura da França, quando viu essa tela na II Bienal de Paris, em 1961, pensou que era um Cristo crucificado ».

Sua relação com Paris começou em 1953, quando obteve uma bolsa de estudos por um ano. Nunca mais ele se separou da cidade, onde comprou um velho galpão no bairro do Marais e o transformou, ele mesmo, em sua bela residência e ateliê. Ele nunca se separou também do Brasil e trabalha uma parte do ano em seu ateliê no bairro do Catete, no Rio. Do Japão, ele guarda as pinceladas vigorosas que podem vir de sua descendência dos samurais do século IX, descoberta há pouco tempo.

Flávio Shiró se define: « sou como uma figueira brava, ligado a três continentes por raízes aéreas ».

Flávio Shiró – Biografia

Flávio Shiró
Flávio Shiró

Flávio Shiró Tanaka nasceu em Sapporo (Japão) no ano de 1928. De família tradicional, era filho de um dentista e intelectual dotado de habilidades artísticas que em 1932 emigrou com a família para o Brasil, fixando-se numa colônia de japoneses fundada em Tomé Açu (PA).

Ali os Tanaka permaneceriam sete anos, entregando-se o chefe à sua profissão e, nas horas vagas, pintando retratos

Flávio Shiró se recorda de seu pai naqueles tempos: «Ele reproduzia os rostos com uma perfeição inigualável. Tinha uma paciência infinita. Desenhava cabelo por cabelo, era meticuloso nos traços.»

Quanto à mãe, musicista, tocava koto e shamissen, e mais tarde, ao se transferir para São Paulo, chegou a dar concertos desses dois dificílimos instrumentos nipônicos.

Caminho da roça

A morte de uma irmã de Shiró, aos 18 anos, de apendicite, fez com que a família abandonasse Tomé Açu e procurasse São Paulo, por volta de 1940.

Em São Paulo, a situação agravou-se: não apenas o diploma de Odontologia do pai não era reconhecido, como os cidadãos japoneses passaram a ser encarados de modo hostil após 1941:

«Meu pai poderia ter comprado um diploma, mas se recusou, era homem escrupuloso. Fomos morar em Mogi das Cruzes, primeiro, onde trabalhamos nas plantações de chá de conhecidos.

«Depois, São Paulo, na Rua Bueno de Andrade e em seguida na Rua Augusta, onde abrimos uma quitanda. Eu era o entregador, colocava a cesta de verduras no meio do guidão da minha bicicleta e ia embora.

Integrando-se ao ambiente

Na Escola Profissional Getulio Vargas, que passou mais tarde a freqüentar, Flávio Shiró fez amizade com outros futuros artistas, como Otávio Araújo, Grassmann e Sacilotto.

A partir de então sua vocação artística se define. Shiró comparece às sessões de modelo-vivo do Grupo Santa Helena e em pouco tempo surgem-lhe as primeiras pinturas.

Tinha apenas 19 anos quando participou da mostra 19 Pintores, em 1947, expondo paisagens e naturezas-mortas expressionistas, de colorido ainda indeciso, mas vazadas num desenho já nervoso e dramático.

Kaminagai, moldureiro e mestre

Ao mesmo tempo, trabalhou sucessivamente como empregado numa fábrica de móveis e letrista da Metro Goldwyn Mayer, e ao se transferir para o Rio de Janeiro, torna-se ajudante na molduraria do grande pintor Tadashi Kaminagai 1899-1982, a quem seu pai confiara sua educação artística.

Essa permanência de Shiró no Rio, embora curta, produziu frutos: primeiro, a medalha de bronze no Salão Nacional de Belas Artes, em 1949; no ano seguinte, a primeira exposição, no Diretório Acadêmico da Escola Nacional de Belas-Artes, com apresentação generosa de Antônio Bento.

Um estágio na França

Retornando em 1951 a São Paulo, dois anos mais tarde seguia para a França, com bolsa de estudo em Paris, ali se aperfeiçoando com Gino Severini (mosaico), Friedlaender (gravura em metal) e na Escola Superior de Belas Artes (litografia).

No começo com a magra pensão da bolsa, depois com a problemática venda de seus quadros, Shiró foi-se mantendo durante longos anos na capital francesa, onde terminou por se impor e por conquistar o seu lugar. Tudo isso, porém, não o impediu de participar do movimento artístico brasileiro.

Entre os prêmios mais importantes que obteve no exterior figuram o Internacional de Pintura, na II Bienal de Paris, em 1961, e o Nacional de Pintura do Festival Internacional de Peinture de Cagnes-sur-Mer. Desde então vem alternando sua carreira entre o Brasil e a França.

Entre a figurativo e o reflexivo

Do ponto de vista do estilo, a arte de Flávio Shiró tem atravessado vários estágios, começando, como já foi dito, pelo figurativismo expressionista dos quadros expostos em 1947 na mostra dos 19.

Veio em seguida uma fase de progressivo afastamento da representação, e no fim da década de 1950 Shiró foi um dos pioneiros, no Brasil, do Abstracionismo Informal, sem abandonar sua veia expressionista

Em meados da década seguinte, Shiró seria igualmente dos primeiros adeptos da Nova Figuração, sempre, porém, sem abrir mão do seu expressionismo, por vezes mesclado a elementos fantásticos.

Na verdade, Shiró sempre oscilou entre as vertentes figurativa e não-figurativa da arte, numa deliberada ambigüidade.

O crítico Olívio Tavares de Araújo assim se referiu em 1985 a esse aspecto da arte de Shiró:

Flávio Shiró tem expostos freqüentemente, individual e coletivamente, no Brasil e em países como Japão, França, Bélgica, Estados Unidos, Reino Unido e Itália, e ainda em 1993 e 1994 o Hara Museum de Tóquio e o MAM do Rio de Janeiro dedicaram-lhe retrospectivas, o mesmo fazendo em 1998 o Museu de Arte Contemporânea de Niteroi.

Cronologia

Flávio Shiró
Flávio Shiró

1928 – Nasce em Sapporo, Japão.
1949
– Salão Nacional de Belas Artes – medalha de bronze, Rio de Janeiro.
1950
– Primeira individual, na Enba, Rio de Janeiro.
1951
– Salão Paulista de Arte Moderna, São Paulo. 1ª Bienal Internacional de São Paulo, no MAM/SP.
1952
– Salão Paulista de Arte Moderna – prêmio aquisição.
1952
– Exposição de Artistas Brasileiros, no MAM/RJ.
1952
– 1º Salão Sebikai – medalha de ouro, São Paulo. Salão Nacional de Arte Moderna, Rio de Janeiro.
1956
– Les Arts en France et dans le Mond, no Musée dArt Moderne, Paris (França).
1957
– 4ª Bienal Internacional de São Paulo, no MAM/SP.

Stedelijk Museum, Amsterdã e Scheidam (Holanda).
Festival dArt dAvant-Garde, Nantes (França).
Salon Comparaisons, no Musée dArt Moderne, Paris (França).
Réalités Nouvelles, no Musée dArt Moderne, Paris (França).

1958 – Salon Comparaisons, no Musée dArt Moderne, Paris (França).

Réalités Nouvelles, no Musée dArt Moderne, Paris (França).

1959– Individual, no MAM/RJ.

Salão Nacional de Arte Moderna, Rio de Janeiro.
5ª Bienal Internacional de São Paulo, no MAM/SP.
Antagonismes, no Musée des Arts Decoratifs, Paris (França).

1960 – Guggenheim International Nova York (Estados Unidos).

Individual, no MAM/BA.

1961 – Réalités Nouvelles, no Musée dArt Moderne, Paris (França).

2ª Bienal de Paris – prêmio aquisição Cidade de Paris – prêmio internacional de pintura.
6ª Bienal Internacional de São Paulo, no MAM/SP.

1961/1962 – Arte Latino-Americana em Paris, no Musée dArt Moderne.
1963
– Individual, na Faap, São Paulo.

7ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal.
Salão de Belas Artes da Cidade de Belo Horizonte – 1º prêmio

1965 – Individual, no MAM/RJ.

Pinturas da América Latina, na Casa de las Américas, Havana (Cuba).
8ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal.
Pintores Nipo-Brasileiros de Hoje, na Embaixada do Brasil, Tóquio (Japão).

1966 – Salon Comparaisons, no Musée dArt Moderne, Paris (França).

1967 – Réalités Nouvelles, no Musée dArt Moderne, Paris (França).

9ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal.

1968 – Bienal de Córdoba (Argentina).
1969
– Art Latin-American I – Scandinavia, Noruega, Suécia e Dinamarca.
1970
– Artistas Latino-Americanos de Paris, na Sala Gaudí, Barcelona (Espanha).

Vision 24, no Instituto Latino-Americano de Roma.
Bertrand Russel Centenary International Art Exhibition, Londres (Inglaterra).

117 Dessins et Gravures de Peintres Latino-Américains, no Centre Culturel, Poitiers (França).

1972 – Jovem Arte Contemporânea, no MAC/USP.
1973
– Neue Darmstadter Sezession, Darmstadt (Alemanha).
1974
– Salon de Mai, no Musée dArt Moderne, Paris (França).

1975 – Individual, no Brazilian-American Cultural Institute, Washington (Estados Unidos).
1978 –
Les Huns, no Centre National dArt Contemporain, Paris (França).

Bienal de Menton (França).
Jeune Peinture, no Grand Palais, Paris (França).
Retrospectiva 19 Pintores, no MAM/SP.

1981 – Arte Latino-Americana, no Museu de Osaka (Japão).
1982
– Artistas Latino-Americanos, no Museu de Arte Moderna, Veneza (Itália).

LAmérique Latine à Paris, no Grand Palais, Paris (França).

1983 – Individual, na Espace Latino-Américain, Paris (França).
1984
– Bienal de Havana (Cuba).

Entre a Mancha e a Figura, no MAM/RJ.
Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal, São Paulo.
Coleção Gilberto Chateaubriand: retrato e auto-retrato da arte brasileira, no MAM/SP.
Salon Comparaisons, no Musée dArt Moderne, Paris (França).

1985 – Artistas Latino-Americanos de Paris, no MAC/USP.

Artistas Japoneses na Coleção do MAC, no MAC/USP.
18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal, São Paulo.

1986 – Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP.

1987/1988 – Modernidade: arte brasileira do século XX, no Musée dArt Moderne de la Ville de Paris e no MAM/SP – Paris (França) e São Paulo.
1988 –
Vida e Arte dos Japoneses no Brasil, no MASP, São Paulo.
1989
– Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP – premiado.

20ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal – Prêmio Itamaraty.

1990 – Arte Contemporânea Brasileira, Tóquio, Atami e Sapporo (Japão).

Façades Imaginaires, Grenoble (França).

1992 – Eco-Art, no MAM/RJ e itinerância – premiado.
1993
O Desenho Moderno Brasileiro: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Sesi, São Paulo.

Obras para Ilustração do Suplemento Literário: 1956-1967, no MAM/SP.
Trajetória: 50 anos de pintura de Flavio-Shiró, no Hara Museum of Contemporary Art e no MAM/RJ – Tóquio (Japão) e Rio de Janeiro.

1994 Trajetória: 50 anos de pintura de Flavio-Shiró, no MASP – prêmio retrospectiva, São Paulo.

Desenho Brasileiro Contemporâneo, no Karmelitenkloster, Frankfurt (Alemanha).
Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal, São Paulo.

1996 – Arte Brasileira: 50 anos de história no acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo 1920-1970, no MAC/USP.
1997
Phases: surrealismo e contemporaneidade, Grupo Austral e Cone Sul, no MAC/USP.
1998 –
O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand – MAM/RJ, no MASP, São Paulo.

Flávio Shiró na Coleção João Sattamini e Obras Recentes, no MAC/Niterói.

1999 – Into the Light, na Royal Academy of Photography, Bath (Inglaterra).

Arte Latino-Americana, na Unesco Paris, (França).

2000 – Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento. Arte Moderna e Arte Contemporânea, na Fundação Bienal, São Paulo.

Obra Nova, MAC/USP, São Paulo.

Flávio Shiró – Brasil

Nascimento: 7/8/1928 (Japão, Hokkaido, Sapporo)

Flávio Shiró
Flávio Shiró

Pintor, gravador, desenhista e cenógrafo.

Chega ao Brasil em 1932 e instala-se com a família numa colônia japonesa em Tomé-Açu, no Pará. Em São Paulo, a partir de 1940, estuda na Escola Profissional Getúlio Vargas e torna-se amigo de Octávio Araújo (1926), Marcelo Grassmann (1925) e Luiz Sacilotto (1924-2003).

Levado por Cesar Lacanna (1901-1983), freqüenta o Grupo Santa Helena por volta de 1943, e tem contato com Alfredo Volpi (1896-1988), Francisco Rebolo (1902-1980), Mario Zanini (1907-1971) e Manoel Martins (1911-1979).

Em 1947, integra o Grupo Seibi, participa da mostra 19 Pintores e, em 1949, do Grupo 15. Em 1950, realiza a primeira individual na Escola Nacional de Belas Artes – Enba, no Rio de Janeiro. Com bolsa de estudo, viaja a Paris, onde permanece de 1953 a 1983.

Estuda mosaico com Gino Severini (1883-1966), gravura em metal com Johnny Friedlaender (1912-1992) e litografia na Escola Superior de Belas Artes de Paris; também freqüenta o ateliê de Sugai e Tabuchi.

Nesse período, participa também do movimento artístico brasileiro e integra o Grupo Austral (Movimento Phases) de São Paulo.

Em 1980, cria cenários para Thyeste de Seneca, direção de A. Cazalas, no Théâtre de la Resserre. Entre 1982 e 1987, realiza obras para o prêmio de cinema Georges Sadoul. Recebe, em 1999, o prêmio mostra internacional itinerante Japão-Brasil.

Fonte: www.rfi.fr/www.pinturabrasileira.com/www.pitoresco.com

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