Di Cavalcanti – Estilo
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O nome de Di Cavalcanti é inevitavelmente associado a um fato histórico e a um tema pictórico. O primeiro é a Semana de Arte Moderna, da qual ele foi o principal articulador, senão o autor da própria idéia.
O segundo são as mulatas, que de fato constituíram o assunto predileto de sua obra, caudalosa e eloqüente.
Mas Di Cavalcanti pintava com a mesma competência vasos de flores, paisagens, naturezas mortas, pescadores, vistas (sem dúvida idealizadas) de morros e cenas populares, samba e Carnaval. Por isso, pelo menos num nível mais imediato, Di Cavalcanti parece o mais brasileiro dos pintores brasileiros. Contudo, sua brasilidade passa pelo caminho da temática e se prende a um conteúdo narrativo; não é inerente à linguagem, como a de Volpi, Tarsila e Rubem Valentim.
Estilisticamente, Di Cavalcanti (que era muito dotado e criava com visível fluência) não foi um diluidor, um mero epígono; mas também não tentou romper com os parâmetros da pintura figurativa de sua época. Refletia e adaptava a suas próprias necessidades e a seus temas o que se passava na arte internacional, que desde cedo conheceu.
Nas obras mais antigas, como as que participaram da “Semana”, sente-se a presença do art nouveau e um certo clima decadentista do fin-du-siècle. Depois, há uma ligeira influência do cubismo, que de tempos em tempos reaparecia no tratamento de algumas formas. Mais raramente, alguns quadros têm a ver com a pintura dos muralistas mexicanos (com os quais ele partilhava também a posição ideológica à esquerda).
Mas seu estilo por excelência é aparentado com a pintura de Picasso. Às vezes, o Picasso inventor das imagens com duplo rosto, ao mesmo tempo de frente e de perfil; e com freqüência o Picasso da fase neoclassica, surgida na segunda metade da década de 20, e refletido por Di Cavalcanti em obras-primas das mais incontestáveis, como O Nascimento de Vênus.
Tudo somado, Di Cavalcanti foi um grande romântico, um boêmio, um poeta e um brilhante cronista de seu tempo e de sua pátria.
Di Cavalcanti – Vida
Di Cavalcanti
Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo (Rio de Janeiro RJ 1897 – idem 1976).
Pintor, ilustrador, caricaturista, desenhista, gravador, muralista.
Inicia a carreira artística em 1908.
Em 1914 publica seu primeiro trabalho como caricaturista na Revista Fon-Fon. Em 1917, muda-se para São Paulo, freqüenta aulas de direito no Largo São Francisco e o ateliê do pintor impressionista Georg Elpons (1865-1939). Realiza a primeira individual de caricaturas na livraria O Livro.
A partir de 1918, integra o grupo de artistas e intelectuais de São Paulo com Oswald de Andrade (1890-1954) e Mário de Andrade (1893-1945), Guilherme de Almeida (1890-1969) , entre outros. Trabalha como diretor artístico da revista Panóplia, em 1918, em São Paulo, e ilustra a revista Guanabara, em 1920, sob o pseudônimo Urbano. Em 1921 ilustra A Balada do Enforcado, de Oscar Wilde (1854-1900), e publica, em São Paulo, o álbum Fantoches da Meia-Noite.
É um dos idealizadores e organizadores da Semana de Arte Moderna de 1922, autor do material gráfico da exposição. Muda-se para a Europa como correspondente do jornal Correio da Manhã. Em Paris, estabelece ateliê em Montparnasse e freqüenta a Academia Ranson, onde conhece artistas e intelectuais.
Retorna ao Rio de Janeiro em 1925 e em 1928 filia-se ao Partido Comunista do Brasil – PCB. No ano seguinte, faz a decoração do foyer do Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro.
Em 1931 participa do Salão Revolucionário e funda em São Paulo, em 1932, com Flávio de Carvalho (1899-1973), Antonio Gomide (1895-1967) e Carlos Prado (1908-1992), o Clube dos Artistas Modernos, CAM.
Na Revolução Constitucionalista fica preso por três meses como getulista.
Em 1933, casa-se com a pintora Noemia (1912-1992), sua aluna. Publica o álbum A Realidade Brasileira, série de doze desenhos satirizando o militarismo da época.
Em Paris, em 1938, trabalha na rádio Diffusion Française nas emissões Paris Mondial. Retorna ao Brasil em 1940; publica poemas na Antologia de Poetas Brasileiros, organizada por Manuel Bandeira (1884-1968).
Publica o livro de memórias Viagem da Minha Vida: memórias em três volumes (V.1 – Testamento da Alvorada, V.2 – O Sol e as Estrelas e V.3 – Retrato de Meus Amigos e … dos Outros) editado pela Editora Civilização Brasileira. Premiado em 1971 pela Associação Brasileira dos Críticos de Arte – ABCA.
Em 1972 publica o álbum 7 Xilogravuras de Emiliano Di Cavalcanti, pela Editora Onile, e recebe o Prêmio Moinho Santista.
Em Salvador, recebe o título de doutor honoris causa da Universidade Federal da Bahia – UFBA, em 1973.
Di Cavalcanti – Biografia
Di Cavalcanti com os pais
Emiliano Di Cavalcanti nasceu em 1897, no Rio de Janeiro, na casa de José do Patrocínio, que era casado com uma tia do futuro pintor.
Quando seu pai morre em 1914, Di obriga-se a trabalhar e faz ilustrações para a Revista Fon-Fon.
Antes que os trepidantes anos 20 se inaugurem vamos encontrá-lo estudando na Faculdade de Direito.
Em 1917 transferindo-se para São Paulo ingressa na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Segue fazendo ilustrações e começa a pintar.
O jovem Di Cavalcanti freqüenta o atelier do impressionista George Elpons e torna-se amigo de Mário e Oswald de Andrade.
Em 1921 casa-se com Maria, filha de um primo-irmão de seu pai.
Entre 11 e 18 de fevereiro de 1922 idealiza e organiza a Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo, cria para essa ocasião as peças promocionais do evento: catálogo e programa. Faz sua primeira viagem à Europa em 1923, permanecendo em Paris até 1925. Freqüenta a Academia Ranson.
Expõe em diversas cidades: Londres, Berlim, Bruxelas, Amsterdan e Paris.
Conhece Picasso, Léger, Matisse, Eric Satie, Jean Cocteau e outros intelectuais franceses.
Retorna ao Brasil em 1926 e ingressa no Partido Comunista.
Segue fazendo ilustrações. Faz nova viagem a Paris e cria os painéis de decoração do Teatro João Caetano no Rio de Janeiro.
Di Cavalcanti criança
DÉCADA DE 30
Os anos 30 encontram um Di Cavalcanti imerso em dúvidas quanto a sua liberdade como homem, artista e dogmas partidários. Inicia suas participações em exposições coletivas, salões nacionais e internacionais como a International Art Center em Nova Iorque. Em 1932, funda em São Paulo, com Flávio de Carvalho, Antonio Gomide e Carlos Prado, o Clube dos Artistas Modernos. Sofre sua primeira prisão em 1932 durante a Revolução Paulista. Casa-se com a pintora Noêmia Mourão. Publica o álbum A Realidade Brasileira, série de doze desenhos satirizando o militarismo da época. Em Paris, em 1938, trabalha na rádio Diffusion Française nas emissões Paris Mondial. Viaja ao Recife e Lisboa onde expõe no salão “O Século” quando retorna é preso novamente no Rio de Janeiro.
Retrato de Minha Mulher – guache, 32 x 22 cm – 1927
Retrato de Maria óleo sobre madeira, 33,5 x 26 cm. – 1927
Em 1936 esconde-se na Ilha de Paquetá e é preso com Noêmia. Libertado por amigos, seguem para Paris, lá permanecendo até 1940. Em 1937 recebe medalha de ouro com a decoração do Pavilhão da Companhia Franco-Brasileira, na Exposição de Arte Técnica, em Paris.
Década de 40
Com a iminência da Segunda Guerra deixa Paris. Retorna ao Brasil, fixando-se em São Paulo. Um lote de mais de quarenta obras despachadas da Europa não chegam ao destino, extraviam-se. Passa a combater abertamente o abstracionismo através de conferências e artigos. Viaja para o Uruguai e Argentina, expondo em Buenos Aires. Conhece Zuíla, que se torna uma de suas modelos preferidas. Em 1946 retorna à Paris em busca dos quadros desaparecidos, nesse mesmo ano expõe no Rio de Janeiro, na Associação Brasileira de Imprensa. Ilustra livros de Vinícius de Morais, Álvares de Azevedo e Jorge Amado. Em 1947 entra em crise com Noêmia Mourão – “uma personalidade que se basta, uma artista, e de temperamento muito complicado…”. Participa com Anita Malfatti e Lasar Segall do júri de premiação de pintura do Grupo dos 19. Segue criticando o abstracionismo. Expõe na Cidade do México em 1949.
Década de 50
É convidado e participa da I Bienal de São Paulo, 1951. Faz uma doação generosa ao Museu de Arte Moderna de São Paulo, constituída de mais de quinhentos desenhos. Beryl Tucker Gilman passa a ser sua companheira. Nega-se a participar da Bienal de Veneza. Recebe a láurea de melhor pintor nacional na II Bienal de São Paulo, prêmio dividido com Alfredo Volpi. Em 1954 o MAM, Rio de Janeiro, realiza exposição retrospectivas de seus trabalhos. Faz novas exposições na Bacia do Prata, retornando à Montevidéu e Buenos Aires. Publica Viagem de minha vida. 1956 é o ano de sua participação na Bienal de Veneza e recebe o I Prêmio da Mostra Internacional de Arte Sacra de Trieste. Adota Elizabeth, filha de Beryl. Seus trabalhos fazem parte de exposição itinerante por países europeus. Recebe proposta de Oscar Niemayer para a criação de imagens para tapeçaria a ser instalada no Palácio da Alvorada também pinta as estações para a Via-sacra da catedral de Brasília.
Década de 60
Ganha Sala Especial na Bienal Interamericana do México, recebendo Medalha de Ouro. Torna-se artista exclusivo da Petite Galerie, Rio de Janeiro. Viagem a Paris e Moscou. Participa da Exposição de Maio, em Paris, com a tela Tempestade. Participa com Sala Especial na VII Bienal de São Paulo. Recebe indicação do presidente João Goulart para ser adido cultural na França, embarca para Paris e não assume por causa do golpe de 1964. Vive em Paris com Ivette Bahia Rocha, apelidada de Divina. Lança novo livro, Reminiscências líricas de um perfeito carioca e desenha jóias para Lucien Joaillier. Em 1966 seus trabalhos desaparecidos no início da deácada de 40 são localizados nos porões da Embaixada brasileira. Candidata-se a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, mas não se elege. Seu cinquentenário artístico é comemorado.
Década de 70
A modelo Marina Montini é a musa da década. Em 1971 o Museu de Arte Moderna de São Paulo organiza retrospectiva de sua obra e recebe prêmio da Associação Brasileira de Críticos de Arte. Comemora seus 75 anos no Rio de Janeiro, em seu apartamento do Catete. A Universidade Federal da Bahia outorga-lhe o título de Doutor Honoris Causa. Faz exposição de obras recentes na Bolsa de Arte e sua pintura Cinco Moças de Guaratinguetá é reproduzido em selo. Falece no Rio de Janeiro em 26 de Outubro de 1976.
Linha do tempo
1903 a 1922 – Nasce um Modernista
1903/1915 – Rio de Janeiro RJ – Realiza os primeiros estudos no Colégio de Aldéia Noronha e no Colégio Militar .
1900/1914 – Mora no Bairro São Cristóvão, no Rio de Janeiro RJ.
1908 – Recebe aulas do pintor Gaspar Puga Garcia .
1914 – Publica seu primeiro trabalho como caricaturista na Revista Fon-Fon.
1915 – Ilustra a capa da revista A Vida Moderna.
1916 – Rio de Janeiro RJ – 1º Salão dos Humoristas, no Liceu de Artes e Ofícios.
1916 – Rio de Janeiro RJ – Entra para a Faculdade de Direito.
1917 – São Paulo SP – É revisor do jornal O Estado de S. Paulo.
1917/1920 – Mora em São Paulo SP .
1917/1976 – Ilustra livros de autores nacionais e estrangeiros, entre eles Álvares de Azevedo, Cassiano Ricardo, Guilherme de Almeida, Horácio Andrade, Jorge Amado, Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Mário Mariani, Menotti Del Picchia, Newton Belleza, Oscar Wilde, Oswald de Andrade, Ribeiro Couto, Rosalina Coelho Lisboa, Sérgio Milliet.
1917 – São Paulo SP – Transfere-se para a Faculdade de Direito do Largo São Francisco.
1917 – São Paulo SP – Exposição Individual: Di Cavalcanti: caricaturas, na redação da revista A Cigarra .
1918 – São Paulo SP – Freqüenta o ateliê de Georg Elpons, pintor e professor alemão, filiado ao impressionismo europeu .
1918 – São Paulo SP – É diretor artístico da revista Panóplia.
1918 – São Paulo SP – Integra um grupo de artistas e intelectuais de São Paulo com Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Guilherme de Almeida, entre outros.
1920/1976 – Vive tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro, com freqüentes estadas no exterior.
1919 – São Paulo SP – Exposição Individual: Di Cavalcanti: pinturas, na Casa Editora O Livro .
1920 – Rio de Janeiro RJ – Ilustrador em várias revistas, inclusive na recém-criada revista Guanabara. Usa o pseudônimo Urbano como cartunista.
1920 – São Paulo SP – Exposição Individual: Di Cavalcanti: caricaturas, na Casa Di Franco .
1921 – São Paulo SP – Lança o álbum Fantoches da Meia-Noite, prefaciado por Ribeiro Couto e publicado por Monteiro Lobato, e ilustra A Balada do Enforcado, de Oscar Wilde.
1921 – São Paulo SP – Exposição Individual: Di Cavalcanti: desenhos, na Casa Editora O Livro.
1922 – São Paulo SP – Abandona o curso de direito .
1922 – São Paulo SP – É um dos idealizadores e organizadores da Semana de Arte Moderna. Ilustra a capa do programa e catálogo de exposição, realizada no Teatro Municipal.
1922 – São Paulo SP – Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal .
1923 a 1940 – Botando o Mundo no Bolso
1923/1925 – Fixa-se em Paris como correspondente do jornal Correio da Manhã, retorna ao Rio de Janeiro, com o fechamento do jornal na Revolução de 1924. Tem contato com Brecheret, Anita Malfatti e Sérgio Milliet.
1923 – Viaja para a Itália com o objetivo de conhecer as obras de alguns mestres italianos como Tiziano, Michelangelo e Leonardo da Vinci.
1923 – Vive em Montparnasse (França), onde monta pequeno ateliê.
1923 – Paris (França) – É correspondente do Correio da Manhã do Rio de Janeiro.
1923 – Paris (França) – Freqüenta a Academia Ranson.
1924 – Paris (França) – Conhece obras, artistas e escritores europeus de vanguarda como Picasso, Cocteau, Blaise Cendrars, Léger, Unamuno, Georges Braque, Henri Matisse e outros.
1925 – Retorna ao Brasil, vive no Rio de Janeiro RJ.
1925 – Rio de Janeiro RJ – Exposição Individual: na Casa Laubisch & Hirt.
1926 – São Paulo SP – Ilustra a capa da obra O Losango Cáqui, de Mário de Andrade.
1926 – Colabora como jornalista e ilustrador no Diário da Noite.
1927 – Colabora como desenhista no Teatro de Brinquedo, de Eugênia e Álvaro Moreyra.
1928 – Filia-se ao Partido Comunista do Brasil .
1929 – Rio de Janeiro RJ – Decora o foyer do Teatro João Caetano.
1930 – São Paulo SP – Exposição de uma Casa Modernista.
1930 – Nova York (Estados Unidos) – The First Representative Collection of Paintings by Brazilian Artists, no International Art Center, no Roerich Museum.
1931 – Rio de Janeiro RJ – Salão Revolucionário, na Enba .
1932 – São Paulo SP – É um dos fundadores do CAM, Clube dos Artista Modernos , liderado por Flávio de Carvalho, com a participação de Noêmia Mourão, Antonio Gomide e Carlos Prado .
1932 – São Paulo SP – É preso durante três meses como getulista pela Revolução Constitucionalista.
1932 – São Paulo SP – Exposição Individual: Di Cavalcanti, em A Gazeta .
1933 – São Paulo SP – Casa-se com a pintora Noêmia Mourão, sua aluna .
1933 – São Paulo SP – Publica o álbum A Realidade Brasileira, série de doze desenhos satirizando o militarismo da época.
1933 – Rio de Janeiro RJ – Escreve artigo no Diário Carioca, de 15 de outubro, sobre as relações entre o trabalho artístico e a problemática social, a propósito da exposição de Tarsila do Amaral.
1933 – São Paulo SP – 2ª Exposição de Arte Moderna da SPAM.
1933 – Rio de Janeiro RJ – 3º Salão da Pró-Arte, na Enba.
1934 – Rio de Janeiro RJ – 4º Salão da Pró-Arte, na Enba.
1934 – Mora em Recife PE .
1935 – Rio de Janeiro RJ – Participa do comitê de redação do semanário Marcha, na sala de um edifício na Cinelândia, ao lado de Caio Prado Júnior, Carlos Lacerda, Newton Freitas e Rubem Braga.
1935 – Rio de Janeiro RJ – Exposição de Arte Social, no Clube de Cultura Moderna do Rio de Janeiro.
1935 – No fim do ano, por razões políticas, refugia-se com a esposa, Noêmia Mourão, e Newton Freitas na casa de Battistelli (exilado no Brasil, antifascista ligado a Plínio Melo e Mário Pedrosa), em Mangaratiba .
1937/1940 – Mora na Europa.
1937 – Paris (França) – Exposição Internacional de Artes e Técnicas, no Pavilhão da Companhia Franco-Brasileira – medalha de ouro.
1938 – Paris (França) – Trabalha na rádio Diffusion Française nas emissões Paris Mondial em língua portuguesa, com Noêmia Mourão.
1938 – São Paulo SP – 2º Salão de Maio, no Esplanada Hotel de São Paulo.
1939 – Viagem a Espanha .
1939 – São Paulo SP – 3º Salão de Maio, no Esplanada Hotel de São Paulo.
1940 a 1976 – Genial até não dar mais!
1940/1941 – Mora em São Paulo SP.
1942 – Viagem a Montevidéu (Uruguai) e Buenos Aires (Argentina).
1944 – Belo Horizonte MG – Exposição de Arte Moderna, no MAP.
1946 – Segue a Paris (França) com o objetivo de encontrar obras e quadros abandonados em 1940.
1946 – Rio de Janeiro RJ – Tem dois poemas publicados na Antologia de Poetas Brasileiros Bissextos Contemporâneos, organizada por Manuel Bandeira (Ed. Z. Valverde) .
1947 – Participa do júri de premiação de pintura na exposição do Grupo dos 19, com Anita Malfatti e Lasar Segall.
1948 – São Paulo SP – Exposição Individual: Emiliano Di Cavalcanti: retrospectiva 1918-1948, no IAB/SP.
1947 – Rio de Janeiro RJ – Mostra, na Galeria Domus.
1948 – São Paulo SP – Exposição Individual: Retrospectiva, no Masp .
1948/1949 – Regressa à Europa por seis meses.
1949/1950 – Viagem ao México – Participa do Congresso de Intelectuais pela Paz, representando o Partido Comunista.
1950 – São Paulo SP – Separa-se de Noêmia Mourão.
1951 – Rio de Janeiro RJ – Ministra curso de cenografia, no Serviço Nacional de Teatro.
1951 – São Paulo SP – 1ª Bienal Internacional de São Paulo, no MAM/SP – artista convidado.
1952 – Rio de Janeiro RJ – Exposição de Artistas Brasileiros, no MAM/RJ.
1952 – São Paulo SP – Doa mais de 550 desenhos, produzidos ao longo de trinta anos de carreira, ao MAM/SP .
1952 – São Paulo SP, Rio de Janeiro RJ – Faz charges para o jornal Última Hora de São Paulo. No Última Hora do Rio de Janeiro, escreve a coluna Preto no Branco e executa cinco painéis para a redação do jornal.
1953 – São Paulo SP – 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no MAM/SP – prêmio melhor pintor nacional, com Alfredo Volpi.
1954 – São Paulo SP – Cria figurinos para o balé A Lenda do Amor Impossível, encenado pelo Corpo de Baile do 4º Centenário.
1954 – Rio de Janeiro RJ – Exposição Individual: Di Cavalcanti: retrospectiva, no MAM/RJ .
1954 – São Paulo SP – Exposição Individual: Emiliano Di CavalcantiI: desenhos, no MAM/SP.
1955 – Viagem a Montevidéu (Uruguai) e Buenos Aires (Argentina).
1955 – Rio de Janeiro RJ – Recebe convite para realizar cenário e figurinos do balé As Cirandas, de Villa-Lobos, pelo Corpo de Baile do Municipal.
1955 – Rio de Janeiro RJ – Publica Viagem da Minha Vida: Memórias (Ed. Civilização Brasileira), primeiro livro de memórias, em três volumes: V.1 O Testamento da Alvorada – V.2 O Sol e as Estrelas – V.3 – Retrato de Meus Amigos e… dos Outros.
1956 – Veneza (Itália) – 28ª Bienal de Veneza.
1956 – Trieste (Itália) – Mostra de Arte Sacra de Trieste – 1º prêmio.
1958 – Paris (França) – Executa cartões para tapeçarias do Palácio da Alvorada (salões de música e de recepção), encomendados por Niemeyer.
1958 – Brasília DF – Pinta a via-sacra para a Catedral de Brasília.
1959 – Rio de Janeiro RJ – 30 Anos de Arte Brasileira, na Enba.
1959 – Recebe de Carlos Flexa Ribeiro o título de O Patriarca da Pintura Moderna Brasileira.
1960 – Cidade do México (México) – Realiza painel sobre tela para os escritórios da Aviação Real.
1960 – Cidade do México (México) – 2ª Bienal Interamericana do México, no Palácio de Belas Artes – sala especial – medalha de ouro.
1960 – São Paulo SP – Coleção Leirner, na Galeria de Arte da Folha.
1961 – Rio de Janeiro RJ – Exposição Individual:, na Petite Galeria.
1962 – Viagem à Paris (França) e Moscou (Rússia) – Participa do Congresso da Paz.
1962 – Córdoba (Argentina) – 1ª Bienal Americana de Arte.
1962 – Rabat (Marrocos) – Exposição de Artistas Brasileiros.
1963 – Paris (França) – Indicado pelo presidente João Goulart para o cargo de adido cultural do Brasil. Não toma posse do cargo em virtude do golpe de 1964.1963 – São Paulo SP – 7ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal – sala especial.
1964 – Rio de Janeiro RJ – Publica Reminiscências Líricas de um Perfeito Carioca (Civilização Brasileira) – ilustrações e texto .
1964 – Rio de Janeiro RJ – Exposição Individual: Di Cavalcanti: 40 anos de pintura, na Galeria Relevo .
1964 – Rio de Janeiro RJ – O Nu na Arte Contemporânea, na Galeria Ibeu Copacabana.
1964 – Curitiba PR – 21º Salão Paranaense de Belas Artes .
1964 – Rio de Janeiro RJ – Desenha jóias executadas pelo joalheiro Lucien.
1966 – São Paulo SP – Meio Século de Arte Nova, no MAC/USP – itinerante.
1969 – Ilustra os bilhetes da Loteria Federal das extrações da Inconfidência Mineira, São João, Independência e Natal.
1971 – São Paulo SP – Exposição Individual: Retrospectiva Di Cavalcanti, no Masp .
1971 – São Paulo SP – 11ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal.
1971 – Recebe o Prêmio ABCA.
1972 – São Paulo SP – Arte/Brasil/Hoje: 50 anos depois, na Galeria Collectio.
1972 – Mora em Salvador BA.
1972 – Salvador BA – Publica o álbum 7 Xilogravuras de Emiliano Di Cavalcanti, pela Editora Chile, apresentação de Luís Martins.
1972 – Recebe o Prêmio Moinho Santista.
1973 – Salvador BA – Recebe o título de doutor honoris causa pela UFBA.
1974 – São Paulo SP – Tempo dos Modernistas, no Masp.
1974 – Exposição de obras recentes na Bolsa de Arte, Rio de Janeiro.
1975 – São Paulo SP – O Modernismo de 1917 a 1930, no Museu Lasar Segall.
1975 – São Paulo SP – SPAM e CAM, no Museu Lasar Segall.
1976 – São Paulo SP – A prefeitura muda o nome da Rua 4, no Alto da Mooca, para Rua Emiliano Di Cavalcanti.
1976 – Rio de Janeiro RJ – Di Cavalcanti: retrospectiva, no MAM/RJ.
1976 – Rio de Janeiro RJ – Di Cavalcanti: retrospectiva, no MNBA.
1976 – São Paulo SP – Os Salões: da Família Artística Paulista, de Maio e do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo, no Museu Lasar Segall
1976 – Morre no Rio de Janeiro RJ – 26 de outubro
1977 – Glauber Rocha realiza o filme – Di – que recebe o Prêmio Especial do Júri, Festival de Cannes 77.
1977 – São Paulo SP – Di Cavalcanti: 100 obras do acervo, no MAC/USP.
1979 – São Paulo SP – 15ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal.
1980 – Rio de Janeiro RJ – Homenagem a Mário Pedrosa, na Galeria Jean Boghici.
1982 – São Paulo SP – 80 Anos de Arte Brasileira, no MAB/Faap.
1982 – Salvador BA – A Arte Brasileira da Coleção Odorico Tavares, no Museu Carlos Costa Pinto.
1982 – São Paulo SP – Do Modernismo à Bienal, no MAM/SP.
1983 – Olinda PE – 2ª Exposição da Coleção Abelardo Rodrigues de Artes Plásticas, no MAC/PE.
1983 – Rio de Janeiro RJ – Auto-Retratos Brasileiros, na Galeria de Arte Banerj.
1984 – São Paulo SP – Coleção Gilberto Chateaubriand: retrato e auto-retrato da arte brasileira, no MAM/SP.
1984 – Rio de Janeiro RJ – 7º Salão Nacional de Artes Plásticas – Salão de 31 .
1984 – São Paulo SP – Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal.
1985 – São Paulo SP – 100 Obras Itaú, no Masp.
1985 – São Paulo SP – 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal.
1985 – São Paulo SP – Desenhos de Di Cavalcanti na Coleção do MAC, no MAC/USP.
1985 – Rio de Janeiro RJ – Seis Décadas de Arte Moderna na Coleção Roberto Marinho, no Paço Imperial.
1987 – Rio de Janeiro RJ – Entre Dois Séculos: arte brasileira do século XX na Coleção Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ.
1987 – Paris (França) – Modernidade: arte brasileira do século XX, no Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris.
1987 – São Paulo SP – O Ofício da Arte: pintura, no Sesc.
1987 – Rio de Janeiro RJ – Publicação de livro com as cartas escritas pelo artista, Cartas de Amor à Divina / E.Di Cavalcanti. Rio de Janeiro: Cor Editores, 5ª ed.
1988 – Rio de Janeiro RJ – Hedonismo: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Galeria Edifício Gilberto Chateaubriand.
1988 – São Paulo SP – Modernidade: arte brasileira do século XX, no MAM/SP.
1989 – Lisboa (Portugal) – Seis Décadas de Arte Moderna Brasileira: Coleção Roberto Marinho, na Fundação Calouste Gulbenkian, Centro de Arte Moderna.1991 – São Paulo SP – 21ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal.
1991 – Santos SP – 3ª Bienal Nacional de Santos, no Centro Cultural Patrícia Galvão.
1991 – Belo Horizonte MG, Brasília DF, Curitiba PR, Porto Alegre RS, Recife PE, Rio de Janeiro RJ, Salvador BA e São Paulo SP – Dois Retratos da Arte, no MAP, no Palácio Itamaraty, na Fundação Cultural de Curitiba, no Margs, no Museu do Estado de Pernambuco, no MAM/RJ, no Museu de Arte da Bahia e no MAC/USP.
1992 – Paris (França) e Sevilha (Espanha) – Latin American Artists of the Twentieth Century.
1992 – São Paulo SP – O Olhar de Sérgio sobre a Arte Brasileira: desenhos e pinturas, na Biblioteca Municipal Mário de Andrade.
1992 – São Paulo SP – Primeiro Aniversário da Grifo Galeria de Arte, na Grifo Galeria de Arte.
1992 – Zurique (Suíça) – Brasilien: entdeckung und selbstentdeckung, no Kunsthaus .
1993 – São Paulo SP – 100 Obras-Primas da Coleção Mário de Andrade: pintura e escultura, no IEB/USP.
1993 – São Paulo SP – A Arte Brasileira no Mundo, uma Trajetória: 24 artistas brasileiros, na Dan Galeria.
1993 – Rio de Janeiro RJ – Brasil 100 Anos de Arte Moderna: Coleção Sérgio Fadel, no MNBA.
1993 – Poços de Caldas MG – Coleção Mário de Andrade: o modernismo em 50 obras sobre papel, na Casa da Cultura de Poços de Caldas.
1993 – Rio de Janeiro RJ – Emblemas do Corpo: o nu na arte moderna brasileira, no CCBB.
1993 – Nova York (Estados Unidos) e Colônia (Alemanha) – Latin American Artists of the Twentieth Century, no The Museum of Modern Art.
1993 – São Paulo SP – O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateaubriand, na Galeria de Arte do Sesi.
1993 – São Paulo SP – O Modernismo no Museu de Arte Brasileira: pintura, no MAB/Faap.
1993 – São Paulo SP – Obras para Ilustração do Suplemento Literário: 1956-1967, no MAM/SP .
1994 – São Paulo SP – Arte Moderna Brasileira: uma seleção da Coleção Roberto Marinho, no Masp.
1994 – São Paulo SP – Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal.
1994 – Poços de Caldas MG – Coleção Unibanco: exposição comemorativa dos 70 anos do Unibanco, na Casa de Cultura de Poços de Caldas.
1994 – Rio de Janeiro RJ – O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateaubriand, no MAM/RJ.
1994 – São Paulo SP – Poética da Resistência: aspectos da gravura brasileira, na Galeria de Arte do Sesi.
1995 – Rio de Janeiro RJ – Coleção Unibanco: exposição comemorativa dos 70 anos do Unibanco, no MAM/RJ.
1995 – São Paulo SP – Emiliano Di Cavalcanti: desenhos restaurados, na Galeria Sinduscon.
1996 – São Paulo SP – Arte Brasileira: 50 anos de história no acervo MAC/USP: 1920-1970, no MAC/USP.
1996 – São Paulo SP – 1ª Off Bienal, no MuBE.
1996 – Rio de Janeiro RJ – Visões do Rio, no MAM/RJ.
1997 – Rio de Janeiro RJ – Di Cavalcanti 100 Anos: As Mulheres de Di, no CCBB.
1997 – Rio de Janeiro RJ – Di Cavalcanti 100 Anos: Di, Meu Brasileiro, no MAM/RJ.
1997 – Santiago (Chile) – Di Cavalcanti, no Museu Nacional de Belas Artes de Santiago.
1997 – São Paulo SP – Exposição Oficial de Abertura dos Eventos Comemorativos do Centenário de Di Cavalcanti, na Dan Galeria.
1997 – São Paulo SP – Grandes Nomes da Pintura Brasileira, na Jo Slaviero Galeria de Arte.
1997 – São Paulo SP – Mestres do Expressionismo no Brasil, no Masp.
1997 – São Paulo SP – O Jovem Di: 1917-1935, no IEB/USP.
1997 – Uma obra de Di Cavalcanti, “Flores”, alcança o lance de R$ 724.500,00 (US$ 677,100) em Leilão da Bolsa de Arte, no Rio de Janeiro..
1998 – São Paulo SP – A Coleção Constantini no MAM, no MAM/SP.
1998 – São Paulo SP – Coleção MAM da Bahia: pinturas, no MAM/SP.
1998 – São Paulo SP – Destaques da Coleção Unibanco, no Instituto Moreira Salles.
1998 – São Paulo SP – Fantasia Brasileira: o balé do IV Centenário, no Sesc.
1998 – São Paulo SP – O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand – MAM/RJ, no Masp.
1999 – Porto Alegre RS – 2ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul – sala especial.
1999 – São Paulo SP – A Figura Feminina no Acervo do MAB, no MAB/Faap.
1999 – Rio de Janeiro RJ – Mostra Rio Gravura: Acervo Banerj, no Museu Histórico do Ingá.
1999 – Rio de Janeiro RJ – Mostra Rio Gravura: Gravura Moderna Brasileira: acervo Museu Nacional de Belas Artes, no MNBA.
1999 – São Paulo SP – Obras Sobre Papel: do modernismo à abstração, na Dan Galeria.
2000 – São Paulo SP – A Figura Humana na Coleção Itaú, no Itaú Cultural.
2000 – São Paulo SP – A Figura Feminina no Acervo do MAB, no MAB/Faap.
2000 – São Paulo SP – Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento. Arte Moderna e Negro de Corpo e Alma, na Fundação Bienal.
2000 – Brasília DF – Exposição Brasil Europa: encontros no século XX, no Conjunto Cultural da Caixa
Di Cavalcanti – Artista
Di Cavalcanti
Iniciou a carreira artística em 1908.
Em 1914 publicou seu primeiro trabalho como caricaturista na revista Fon-Fon.
Em 1917, mudou-se para São Paulo, e passou a freqüentar aulas de direito no Largo São Francisco e o ateliê do pintor impressionista Georg Fisher Elpons. Realizou a primeira individual de caricaturas na livraria O Livro.
A partir de 1918, integrou o grupo de artistas e intelectuais de São Paulo com Oswald de Andrade e Mário de Andrade, Guilherme de Almeida, entre outros.
Trabalhou como diretor artístico da revista Panóplia, em 1918, em São Paulo, e ilustrou a revista Guanabara, em 1920, sob o pseudônimo Urbano.
Em 1921 ilustrou A Balada do Enforcado, de Oscar Wilde, e publicou, em São Paulo, o álbum Fantoches da Meia-Noite. Foi um dos idealizadores e organizadores da Semana de Arte Moderna de 1922, autor do material gráfico da exposição. Mudou-se para a Europa como correspondente do jornal Correio da Manhã. Em Paris, estabeleceu ateliê em Montparnasse e freqüentou a Academia Ranson, onde conheceu artistas e intelectuais. Retornou ao Rio de Janeiro em 1925 e em 1928 filiou-se ao Partido Comunista do Brasil.
No ano seguinte, fez a decoração do foyer do Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro.
Em 1931 participou do Salão Revolucionário e fundou em São Paulo, em 1932, com Flávio de Carvalho, Antonio Gomide e Carlos Prado, o Clube dos Artistas Modernos, CAM. Na Revolução Constitucionalista ficou preso por três meses como getulista.
Em 1933, casou-se com a pintora Noêmia Mourão, sua aluna. Publicou o álbum A Realidade Brasileira, série de doze desenhos satirizando o militarismo da época.
Em Paris, em 1938, trabalhou na rádio Diffusion Française nas emissões Paris Mondial. Retornou ao Brasil em 1940; publicou poemas na Antologia de Poetas Brasileiros, organizada por Manuel Bandeira.
Publicou ainda o livro de memórias Viagem da Minha Vida: Testemunho da Alvorada, premiado em 1971 pela Associação Brasileira dos Críticos de Arte.
Em 1972 publicou o álbum 7 Xilogravuras de Emiliano Di Cavalcanti, pela Editora Chile, e recebeu o Prêmio Moinho Santista. Em 1964 foi publicado seu livro de poesia Reminiscências Líricas de um Perfeito Carioca. Sua obra poética filia-se à primeira geração do Modernismo.
Di Cavalcanti – Poeta
Nascimento: 6 de setembro de 1897, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
Falecimento: 26 de outubro de 1976, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque nasceu aos 6 de setembro de 1897, à rua do Riachuelo, no Rio de Janeiro, filho de Frederico Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Mello e d. Rosália de Sena. Seu pai era coronel engenheiro do Exército e professor no Colégio Militar do Ceará. Foi transferido para o Rio e no dia de sua chegada à então Capital Federal, Emiliano nasceu. Di Cavalcanti cursou o Colégio Militar, no Rio.
Começou sua carreira artística em 1914, quando publicou ilustrações na revista Fon-Fon.
Mudou-se para São Paulo, em 1917, para concluir seu curso de Direito iniciado no Rio de Janeiro. Foi em São Paulo que Di Cavalcanti realizou sua primeira mostra individual. Participou e foi um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna de 22. Segundo o historiador marxista Nelson Werneck Sodré, “o movimento modernista é muito menos do que se apregoa. A semana de 1922 foi organizada com apoio oficial. Foi uma brincadeira do pintor Di Cavalcanti”.
Di morou em Paris na década de 22 a 25 e conviveu com artistas como Léger, Matisse e Picasso.
Retornou ao Brasil em 25 e passou a colaborar para revistas. Colaborou também, durante a década de 40, nos jornais do Grupo Folha com as colunas “Informações da Noite” e “Artes Plásticas: resenha semanal”.
Em 1929, a pedido de Antonio Prado Junior, prefeito do Distrito Federal, Di realizou a primeira obra mural moderna no Brasil, decorando o foyer do teatro João Caetano.
Em 1934, fez outra viagem à Europa, em companhia da pintora Noemia, sua esposa, expondo trabalhos nos principais centros do velho mundo.
De volta ao Brasil, em Pernambuco, o então governador Carlos de Lima Cavalcanti, seu parente, convida-o para fazer uns murais no teatro da Brigada Militar. Esses murais foram vergonhosamente destruídos durante a época da ditadura Vargas.
Na 1ª Bienal de São Paulo, em 1951, Di Cavalcanti expôs como convidado especial; na 2ª Bienal recebeu, ao lado de Alfredo Volpi, o prêmio de melhor pintor nacional.
A divisão do prêmio da 2ª Bienal, foi, naquela época, motivo de acalorados debates entre os abstracionistas e os artistas engajados. Volpi pintava figuras geométricas parecidas com bandeirinhas de São João; Di, a miséria dos pescadores. Nessa época, um pintor abstrato como Volpi era considerado uma espécie de traidor da chamada causa popular. Era uma época dominada pelas idéias do Partido Comunista Brasileiro, segundo o qual o papel que cabia à arte era o de retratar a realidade e as mazelas do povo e dos trabalhadores, levando assim os apreciadores dessa arte a desenvolver uma consciência política e social, ou seja, a arte se pretendia uma ferramenta para mudar a consciência das pessoas e com isso a ordem das coisas. A abstração começava a questionar essa idéia, com o argumento de que narrar ou retratar eram funções que cabiam à literatura e à fotografia. De certa forma, o abstracionismo investia contra o mundo artesanal da tela, sem sentido na sociedade industrial, segundo os artistas abstratos. E também colocava em xeque a função social da arte.
Di Cavalcanti foi ferrenhamente contrário ao abstracionismo. Em uma entrevista que ele concedeu à Folha da Noite, em 21 de outubro de 1948, Di afirmou que “o que se chama abstracionismo é uma teoria que vem do fim da primeira grande guerra e que se repete no fim desta, agora, conjuntamente com o existencialismo. As características ‘niilistas’ dessa já sovada estética e sua inadaptação social demonstrou o seu fundo mórbido e desesperado. É arte de homens vencidos, sobre tudo pela solidão intelectual em que se colocaram. Eles querem superar a realidade sem alcançar a grandeza total da realidade de nossa época, esse majestoso movimento de encontro dos homens comuns para uma comunidade humana, onde a autenticidade do esforço individual não há de ferir a sensibilidade coletiva. A noção romântica do super-homem ruiu, a noção de uma super-arte há de ruir também”.
E Di não pára por aí. Ele ainda afirma que havia, na São Paulo daquela época, um certo “furor abstracionista”. Para ele, esse furor tratava-se “apenas de um movimento comercial de ‘marchands’ parisienses” para ganhar dinheiro.
Ele também disse que, “em 1923, eu e Tarsila do Amaral já havíamos penetrado a escola abstracionista, quando convivíamos na França com alguns iniciadores desse movimento. Tarsila chegou mesmo, em 1927, a pintar telas que poderiamos chamar de abstracionistas como o ‘sono’ e outros. Mas a artista voltando ao Brasil se viu logo arrastada pelas tendências nacionalistas: Pau-Brasil e antropofagia”.
Para Di, a crise social que a sociedade capitalista carregava e alimentava em seu seio, acabaria por dividir os artistas. Segundo ele, “de um lado haverá uma arte utópica minoritária, esterilizada na forma, o abstracionismo. Do outro lado ficará o realismo, e o realismo possui a riqueza histórica, a segurança da razão e a força da compreensão humana. Ninguém se ilude muito tempo com os produtos de crise. As orientações murais artísticas e filosóficas, nascidas da genialidade delirante dos pequenos burgueses desesperados, de fato são um entrave na marcha do mundo moderno. Tudo, porém, que tem a marca da agonia está próximo da morte. Aqui no Brasil há um grupo de artistas dispostos a não se incomodar com o barulho estéril que vem capiciosamente bater à nossa porta:Portinari, Clovis, Graciano, Quirino, Guingard, Rebolo, Djanira, Volpi, Zanini, Pancetti, Gomide e tantos outros continuarão a trabalhar com independência e senhores do seu trabalho.”
Di Cavalcanti teve uma sala especial na 1ª Bienal Interamericana de Arte, no México, em 1960, e nesta mesma Bienal foi premiado com a Medalha de Ouro.
Di foi caricaturista, poeta, memorialista, desenhista, gravador, designer, muralista, grande pintor social e um trabalhador obstinado. Também era um grande contador de histórias e um emérito boêmio. Esse paradoxo se reflete em sua arte com sua representação da sensualidade, principalmente a sensualidade da mulata brasileira e, por outro lado, o constante uso das fortes temáticas sociais. Essa mistura de sentimentos dá a sua arte a representação de um substrato de alegria que é carregado de tristeza e tem, para Di Cavalcanti, a feição do caráter tipicamente brasileiro.
No livro “Com Vocês, Antonio Maria”, o jornalista carioca, ao escrever sobre uma visita que fez a Di em seu 66º aniversário, afirma o seguinte:
“Di Cavalcanti nasceu a 6 de setembro de 1897 e a prova disto é que na sexta-feira, às 11h60, fez 66 anos. Fui lá levar-lhe uma garrafa de uísque, que entreguei com estas palavras de doce arcaísmo: Aqui está um mimo.
“Gosto muito de Emiliano, de sua arte, de sua inteligência, de sua cultura e de sua juventude. É um homem que não cede ao menor e ao pior em nenhum momento da vida. Alegra-me o seu desprezo pelas pessoas a quem desprezo. Sua sensualíssima devoção pelas coisas e pessoas física ou espiritualmente belas. Além disso, é, como eu, um homem que chora, se sente com razão. Já o vi em todas as alegrias e em todas as desgraças. Num caso e noutro, sua felicidade estava intacta.
Sua constante felicidade, que independe de sua alegria e de sua dor.
“Das minhas viagens, a melhor que fiz foi aquela em que encontrei Di Cavalcanti em Paris. Mostrou-me uma Paris mais séria, bonita, uma Paris a pé pelas ruas transversas do Boulevard Saint Germain. Rue de Bourgogne, rue de Martignac, onde fica a igreja de Santa Clotilde, rue de Bellechasse, rue du Bac… Ah, revisores meus, escrevei certo os nomes dessas ruazinhas cujas placas estão em meus olhos, como a pequenina Saint BenoŒt, que, passando por Apollinaire, dá na cara da igreja de Saint Germain des Prés!
“Os brasileiros insistem em chamar Saint Germain ‘des Près’, com acento grave. Mas, mesmo assim, não transformam a igrejinha, fria por dentro, antiga por fora, onde tanto rezei para encontrar tudo o que ainda não havia. Ao lado, a pracinha Furstenberg, tão pequena, quase um pátio, tão grande, sempre em nossa lembrança.
“Devia escrever sobre Di Cavalcanti, que fez anos, e não sobre Paris, separada de mim, para sempre, pela minha pobreza. Somos dois pobres. Emilianos. As duas únicas pessoas ‘já velhinhas’ que moram em casa alugada! A independência de quem não tem casa própria. A gente implica com o chuveiro, com a prise do bidê e se muda. Só eu e Emiliano podemos fazer isso! Ah, o futuro! Nós não temos nada a ver com o futuro. Somos perecíveis, como as flores. Nosso futuro é o ‘daqui a pouco’, e se não houver ‘daqui a pouco’, melhor para os que ficarem livres de nós. De que serve esse apego ao futuro, se a capital de Honduras é Tegucigalpa.
“De tudo que escrevi, na vida, só quatro versos teria coragem de publicar, porque são perfeitos. Porque contêm a angústia das origens noturnas… e ninguém entende. Devem ser cantados com a música de ‘Ninguém Me Ama’.
‘Emiliano Emiliquer Emilichama Di Cavalcanti’
No mais, toda a poesia é pretensiosa, ostensiva, desnorteada e vã.”
Di Cavalcanti morreu no dia 26 de outubro de 1976. Seu enterro foi palco de mais uma controvérsia. O cineasta Glauber Rocha ‘invadiu’ o velório do pintor para registrá-lo, só que sem pedir autorização para a família do morto. Glauber vestia bermuda e estava acompanha de Mário Carneiro.
O documentário ‘Di’ foi concluído com dinheiro da Embrafilme, que assumiu sua distribuição. O filme ganhou o prêmio Especial do Júri em Cannes, em 1976.
Em 1979, a exibição do filme foi proibida pela Justiça a pedido de Elizabeth, filha do pintor. Elizabeth achou que Glauber foi desrespeitoso ao invadir o velório de seu pai sem pedir permissão aos parentes.
Di Cavalcanti – Obras
Emiliano Di Cavalcanti nasceu em 6 de setembro de 1897, no Rio de Janeiro, na casa de José do Patrocínio, que era casado com uma tia do futuro pintor.
Quando seu pai morre em 1914, Di obriga-se a trabalhar e faz ilustrações para a Revista Fon-Fon.
Antes que os trepidantes anos 20 se inaugurem vamos encontrá-lo estudando na Faculdade de Direito.
Em 1917 transferindo-se para São Paulo ingressa na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Segue fazendo ilustrações e começa a pintar.
O jovem Di Cavalcanti freqüenta o atelier do impressionista George Elpons e torna-se amigo de Mário e Oswald de Andrade.
Em 1921 casa-se com Maria, filha de um primo-irmão de seu pai.
Pierrete
Pierrete – Óleo sobre tela – 78 x 65 cm – 1922
Entre 11 e 18 de fevereiro de 1922 idealiza e organiza a Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo, cria para essa ocasião as peças promocionais do evento: catálogo e programa. Faz sua primeira viagem à Europa em 1923, permanecendo em Paris até 1925. Freqüenta a Academia Ranson.
Expõe em diversas cidades: Londres, Berlim, Bruxelas, Amsterdan e Paris. Conhece Picasso, Léger, Matisse, Eric Satie, Jean Cocteau e outros intelectuais franceses. Retorna ao Brasil em 1926 e ingressa no Partido Comunista. Segue fazendo ilustrações. Faz nova viagem a Paris e cria os painéis de decoração do Teatro João Caetano no Rio de Janeiro.
Os anos 30 encontram um Di Cavalcanti imerso em dúvidas quanto a sua liberdade como homem, artista e dogmas partidários. Inicia suas participações em exposições coletivas, salões nacionais e internacionais como a International Art Center em Nova Iorque. Em 1932, funda em São Paulo, com Flávio de Carvalho, Antonio Gomide e Carlos Prado, o Clube dos Artistas Modernos. Sofre sua primeira prisão em 1932 durante a Revolução Paulista.
Casa-se com a pintora Noêmia Mourão. Publica o álbum A Realidade Brasileira, série de doze desenhos satirizando o militarismo da época. Em Paris, em 1938, trabalha na rádio Diffusion Française nas emissões Paris Mondial. Viaja ao Recife e Lisboa onde expõe no salão “O Século” quando retorna é preso novamente no Rio de Janeiro. Em 1936 esconde-se na Ilha de Paquetá e é preso com Noêmia. Libertado por amigos, seguem para Paris, lá permanecendo até 1940. Em 1937 recebe medalha de ouro com a decoração do Pavilhão da Companhia Franco-Brasileira, na Exposição de Arte Técnica, em Paris.
Mulheres com Frutas
Mulheres com Frutas – Óleo sobe tela – 60 x 100 cm. – 1932
Com a iminência da Segunda Guerra deixa Paris. Retorna ao Brasil, fixando-se em São Paulo. Um lote de mais de quarenta obras despachadas da Europa não chegam ao destino, extraviam-se. Passa a combater abertamente o abstracionismo através de conferências e artigos. Viaja para o Uruguai e Argentina, expondo em Buenos Aires.
Conhece Zuíla, que se torna uma de suas modelos preferidas. Em 1946 retorna à Paris em busca dos quadros desaparecidos, nesse mesmo ano expõe no Rio de Janeiro, na Associação Brasileira de Imprensa. Ilustra livros de Vinícius de Morais, Álvares de Azevedo e Jorge Amado. Em 1947 entra em crise com Noêmia Mourão – “uma personalidade que se basta, uma artista, e de temperamento muito complicado…”. Participa com Anita Malfatti e Lasar Segall do júri de premiação de pintura do Grupo dos 19. Segue criticando o abstracionismo. Expõe na Cidade do México em 1949.
Auto-retrato
Auto Retrato – Óleo sobe tela – 33,5 x 26 cm.- 1943
É convidado e participa da I Bienal de São Paulo, 1951. Faz uma doação generosa ao Museu de Arte Moderna de São Paulo, constituída de mais de quinhentos desenhos. Beryl Tucker Gilman passa a ser sua companheira. Nega-se a participar da Bienal de Veneza. Recebe a láurea de melhor pintor nacional na II Bienal de São Paulo, prêmio dividido com Alfredo Volpi. Em 1954 o MAM, Rio de Janeiro, realiza exposição retrospectivas de seus trabalhos.
Faz novas exposições na Bacia do Prata, retornando à Montevidéu e Buenos Aires. Publica Viagem de minha vida. 1956 é o ano de sua participação na Bienal de Veneza e recebe o I Prêmio da Mostra Internacional de Arte Sacra de Trieste. Adota Elizabeth, filha de Beryl. Seus trabalhos fazem parte de exposição itinerante por países europeus. Recebe proposta de Oscar Niemayer para a criação de imagens para tapeçaria a ser instalada no Palácio da Alvorada também pinta as estações para a Via-sacra da catedral de Brasília.
Ganha Sala Especial na Bienal Interamericana do México, recebendo Medalha de Ouro. Torna-se artista exclusivo da Petite Galerie, Rio de Janeiro. Viagem a Paris e Moscou. Participa da Exposição de Maio, em Paris, com a tela Tempestade. Participa com Sala Especial na VII Bienal de São Paulo. Recebe indicação do presidente João Goulart para ser adido cultural na França, embarca para Paris e não assume por causa do golpe de 1964.
Aldeia de Pescadores
Aldeia de Pescadores – guache – 43 x 50 cm. – c. 1950
Vive em Paris com Ivette Bahia Rocha, apelidada de Divina. Lança novo livro, Reminiscências líricas de um perfeito carioca e desenha jóias para Lucien Joaillier.
Em 1966 seus trabalhos desaparecidos no início da deácada de 40 são localizados nos porões da Embaixada brasileira. Candidata-se a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, mas não se elege. Seu cinquentenário artístico é comemorado.
A modelo Marina Montini é a musa da década. Em 1971 o Museu de Arte Moderna de São Paulo organiza retrospectiva de sua obra e recebe prêmio da Associação Brasileira de Críticos de Arte. Comemora seus 75 anos no Rio de Janeiro, em seu apartamento do Catete. A Universidade Federal da Bahia outorga-lhe o título de Doutor Honoris Causa. Faz exposição de obras recentes na Bolsa de Arte e sua pintura Cinco Moças de Guaratinguetá é reproduzido em selo.
Falece no Rio de Janeiro em 26 de Outubro de 1976.
Fonte: www.mre.gov.br/www.escritoriodearte.com/www.speculum.art.br/www.dicavalcanti.com.br
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