Assis Chateaubriand

Assis Chateaubriand – Vida

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Chatô, o Velho Capitão

Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo nasceu em Umbuzeiro, Estado da Paraíba, em 5 de outubro de 1892 e faleceu em São Paulo em 4 de abril de 1968.

Era filho de Francisco Chateaubriand Bandeira de Melo.

Chatô pontificou no jornalismo brasileiro como uma estrela de primeira grandeza, falando por si não somente o seu valor literário, que o levou à Academia Brasileira de Letras, mas, também, o mundo jornalístico por ele criado, fazendo funcionar dezenas de jornais, rádios e emissoras de televisão por todo o território nacional sob a denominação de “Diários e Emissoras Associados”, num trabalho, à época, de bandeirantismo e de integração nacional.

De forma pioneira e ousada, implantou, em 18 de setembro de 1950, a primeira televisão no Brasil, a PRF-3 TV Tupy-Difusora (inicialmente canal 3), em São Paulo, seguida da PRG-3 TV Tupi do Rio de Janeiro (canal 6), em 20 de janeiro de 1951.

Assis Chateaubriand
Assis Chateaubriand

Assis Chateaubriand, também conhecido como Chatô foi um jornalista brasileiro, político, advogado e diplomata.

Ele ficou conhecido como um empresário proeminente como o proprietário do Diários Associados, um conglomerado de mídia.

Aos quinze anos, entrou para a Faculdade de Direito da capital do Estado, onde viria a se tornar professor de Filosofia do Direito após conquistar o 1º lugar em concurso seletivo. Ainda em Recife, iniciou sua carreira jornalística, escrevendo para o Jornal Pequeno e o Diário de Pernambuco, onde chegou a redator-chefe.

Mudou-se para o Rio de Janeiro e colaborou com o Correio da Manhã. Em 1924, assumiu a direção de O Jornal, embrião de um conglomerado de empresas de comunicação que chegou a quase uma centena. Engajado no movimento político, tomou frente do partido da Aliança Liberal na campanha que teve por desfecho a vitória da Revolução de outubro de 1930, que o levaria ao exílio. Progressista, promoveu em 1941 a Campanha Nacional de Aviação, com o slogan “Dêem asas ao Brasil” e fundou mais de 400 centros de puericultura. Profundo incentivador da cultura, criou o Museu de Arte de São Paulo (MASP), uma das maiores riquezas culturais do país.

Em 1957, foi eleito senador pelo Estado da Paraíba e, posteriormente, pelo Estado do Maranhão, tendo renunciado a este mandato para assumir a embaixada do Brasil no Reino Unido. Eleito para a Academia Brasileira de Letras, ocupou a cadeira deixada por Getúlio Vargas. O “Velho Capitão” foi vitimado, em 1960, por doença que o deixou tetraplégico, mas lhe preservou a consciência. Continuou a escrever seu artigo diário graças a mecanismo próprio na máquina de datilografia. Faleceu em 1968, na cidade de São Paulo.

Assis Chateaubriand
Assis Chateaubriand

INAUGURAÇÃO DE BRASÍLIA (RAM)

Antes, muito antes, Chateaubriand fundara, no Rio, em 1935, a PRG-3 Rádio Tupi. E em São Paulo fundou as PRG-2 Rádio Tupi e PRF-3 Rádio Difusora.

Depois compraram a Rádio Cultura e a anexaram ao grupo associado.

E bem antes, em 1924, editou o seu primeiro jornal, de nome ” O Jornal”, semente de um grande império de comunicação no País. Em 1928 funda a Revista “O Cruzeiro”, maior responsável pela divulgação da televisão brasileira nos primeiros anos.

Estes são apenas marcos históricos em meio à multidão de suas façanhas pioneiras e às quais se juntam as suas campanhas em favor da redenção da criança, da redemocratização da aviação civil, da mecanização da lavoura e do aprimoramento da pecuária, da melhoria do café brasileiro, do incentivo às artes, além de fóruns e simpósios para debate das mais palpitantes questões do País.

Quando se escrever a História do Século 20, no Brasil, principalmente o período da fase difícil de sua consolidação como nação livre, terá registro especial e destacado o nome de Assis Chateaubriand.

Jornalista primoroso, professor respeitado, empresário vitorioso, intelectual, animador cultural, político, diplomata, divulgador apaixonado das coisas e das causas de seu País, líder de muitas campanhas nacionalistas.

Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello – eis o nome completo. Para os mais íntimos Chatô. Seus empregados e seguidores mais próximos o chamavam de Dr. Assis ou Dr. Chateaubriand. Mas, popularmente, era conhecido como Assis Chateaubriand, pois assim assinava seus artigos diários. Cognominado ” O Velho Capitão”.

Olhos profundos, brilhantes, vivíssimos. Testa alta. sombrancelhas cerradas. Cabelos bastos atirados para trás. Estatura baixa e compleição forte. Fala cativante e fácil. Gestos rápidos. Andar firme, ligeiramente inclinado para frente. Memória prodigiosa. Grande facilidade de expressão, de comunicação. Irrequieto e fecundo.

Personalidade contraditória, de gestos imprevisíveis. Criador e devastador. Renovador e demolidor. Organizador e boêmio. Lírico e crítico. Pioneiro de muitas obras. Temperamento rebelde, impetuoso, mas de charme cativante. Nos seus altos e baixos, os momentos de rompantes e os de ternura. Ora agressivo, ora manso, humilde. De paixões ardentes. Sem método para as coisas temporais. Semeador de cultura e de unidade nacional. Vida intensa, fabulosa, tumultuária . Homem orquestra. Jornalista, antes de tudo. Pregador do civismo. Líder e irmão. Inventivo e debatedor de idéias novas. Homem de atividades múltiplas. Mesmo sexagenário e paralítico, mantinha o vigor intelectual de um jovem. Homem dos contrates. De comportamento, muitas vezes, infantil. Um semeador. Um clarividente. Um gênio. Uma figura à frente de seu tempo, que merece ser estudada e aprofundada na sua vida e na sua obra.

Fundação Assis Chateaubriand

Assis Chateaubriand
Assis Chateaubriand

Objetivando resgatar e manter vivos os ideais cívicos que alimentaram a ação civilizadora e os projetos futuristas de Assis Chateaubriand, seus seguidores idearam criar um organismo capaz de perenizar os sonhos e os objetivos do fundador dos Associados.

A 4 de abril de 1983, Paulo Cabral de Araújo, na presidência dos “Diários Associados”, propôs aos seus companheiros de Condomínio Acionário que o nome de Assis Chateaubriand se prestasse ao patronato de uma Fundação voltada para os interesses educacionais e culturais do povo brasileiro. Aceita a idéia, coube ao proponente a tarefa de criar a Fundação Assis Chateaubriand, o que se oficializou em 1987. A entidade o tem como seu presidente e Gladstone Vieira Belo como vice-presidente. Jarbas Passarinho preside o Conselho de Curadores e Márcio Cotrim é o diretor-executivo. Adirson Vasconcelos coordena a parte editorial.

Dentre muitas promoções de sentido educacional e cultural, a Fundação Assis Chateaubriand, que tem sede em Brasília, realiza, anualmente, o “Prêmio Nacional Assis Chateaubriand de Redação”, envolvendo milhares de estudantes de todo o País. E resgata a memória de Chateaubriand através da edição de livros com seus discursos no Senado Federal e seus mais de 12 mil artigos publicados nos Associados, de 1924 a 1968, além de projetos não-memorialísticos que levem, em sua índole, o mesmo espírito de Assis Chateaubriand.

E, 15 de fevereiro de 1999 a Escola de Samba Grande Rio, do Rio de Janeiro, homenageia Chatô em seu enredo carnavalesco.

Assis Chateaubriand permanece vivo na memória dos seus concidadãos. E da História.

O Jogo de Peteca

Assis Chateaubriand
Assis Chateaubriand

Com base na descrição feita por Fernando Morais em seu livro Chatô – O Rei do Brasil, era uma tarde de fevereiro de 1949, quando o jovem radioator Walter Foster jogava uma partida de peteca no pátio da Rádio Difusora de São Paulo (ali mesmo naquela quadra, para o lado da Rua Piracicaba), em companhia dos radialistas Dermival Costa Lima e o jovem Cassiano Gabus Mendes. Cabeças de mocinhas sobre o muro que dava para a Rua Piracicaba eram vistas dali pelos profissionais da rádio, eram fãs assumidas destes galãs, mulheres e meninas que passavam várias horas do dia ali, à espera de um sorriso ou de um autógrafo.

Eis que surge um novo fato, para quebrar esta rotina: no meio do jogo, a quadra é invadida por Assis Chateaubriand, vestido com um terno preto de lã e um chapéu gelot na cabeça. Enquanto um grupo de homens o acompanhava, todos de paletó.

Chatô, com um pedaço de giz na mão riscava o chão e dava ordens, em voz alta, ao homem que sobre o cimento estendia a trena:

– Aqui vai ser o estúdio A. Agora a espiche a trena para o lado de lá, ali vai ser o estúdio B. Veja se confere com o mapa.

Devagar, Walter Foster se aproxima e pergunta a seu patrão:

– Mas, doutor Assis, o senhor está pretendendo acabar com o nosso campinho de peteca?

Chateaubriand nem se levanta por completo, apenas ergue os olhos ao radioaator, com desprezo:

Vocês vão jogar peteca no diabo que os carregue: aqui vão ser os estúdios da TV Tupi.

Com esta seca resposta estava anunciada a construção dos estúdios de televisão no Sumaré, que mudariam mais ainda a vida do bairro. Foster perdeu seu campo de peteca, mas ganhou o prestígio enorme sendo um dos principais atores das TV Tupi.

(Texto estraído da coluna Comunicação do site Sampa On Line, capítulo “Estúdios do Sumaré”, escrita por Elmo Francfort Ankerkrone.Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida, armazenada em sistema de recuperação de dados ou transmitida, de nenhuma forma ou por nenhum meio eletrônico, mecânico, de fotocópia, gravação ou qualquer outro, sem a prévia autorização por escrito do autor)

O Intelectual Chateaubriand

“Dr. Assis” freqüentou no Recife o Ginásio Pernambucano cursando, a seguir, a Faculdade de Direito da capital pernambucana, da qual se tornaria um dos professores, mediante concurso para a cadeira de Filosofia do Direito, em que conquistou o 1º lugar. Membro da Academia Brasileira de Letras, eleito em 30 de dezembro de 1954 e empossado em 27 de agosto de 1955.

Dedicou-se Chateaubriand desde a juventude ao jornalismo, escrevendo no “Jornal Pequeno” e no veterano “Diário de Pernambuco”.

Em 1917, já no Rio de Janeiro, colaborou no “Correio da Manhã”, em cujas páginas publicaria impressões da viagem à Europa, em 1920.

Em 1924 assumiu a direção de “O Jornal” – o denominado “órgão líder dos Diários Associados”, entidade que iria abranger no futuro um conjunto de 28 jornais, 16 estações de rádio, 5 revistas e uma agência telegráfica.

Assis Chateaubriand tomou o partido da Aliança Liberal, na campanha que teve por desfecho a vitória da Revolução de outubro de 1930. Contudo, dois anos depois, seu apoio à Revolução Constitucionalista o levaria ao exílio.

Promoveu, com início em março de 1941, a “Campanha Nacional de Aviação”, com o lema – “Dêem asas ao Brasil”.

Organizou o Museu de Arte de São Paulo, uma de suas mais importantes criações.

Eleito senador pelo Estado do Maranhão, em 1957, acabou renunciando à investidura para ocupar o cargo de Embaixador do Brasil na Inglaterra.

Com a morte de Getúlio Vargas, em 1954, candidatara-se a vaga deixada pelo ex-presidente na Academia Brasileira de Letras.

A maior parte da obra do diretor dos Diários Associados, encontra-se dispersa em seus artigos para a imprensa.

Em livros contribuiu com os seguintes trabalhos: “Em defesa de Oliveira Lima”; “Terra desumana”; “Um professor de energia – Pedro Lessa” e “Alemanha” (impressões de viagem).

Em data recente o jornalista Fernando de Morais publicou “Chatô – O Rei do Brasil”, impressionante biografia de Chateaubriand, magnificamente documentada e que se constituiu em notável êxito de livraria desde o seu lançamento. Em em 1998, pelas mãos da Fundação Assis Chateaubriand (DF), Glauco Carneiro escreve “Brasil, Primeiro – A História dos Diários Associados”, livro que nos faz entender mais ainda esta grande figura que era Assis Chateaubriand.

Para entender melhor as idéias deste grande intelectual brasileiro, publicamos aqui alguns discursos do mesmo, considerados de extrema importância pelos membros da Academia Brasileira de Letras (ABL):

AQUARELA DO BRASIL

“Confere-me a Academia a maior de todas as honras e a mais cara de todas as glórias. Quando se recebe na Companhia um paraninfo como o professor Aníbal Freire ganha-se uma graça. Fostes comigo infalíveis, infalíveis e divinos. Pois a graça não é um dom celeste? Há quarenta e quatro anos, o professor Aníbal Freire tinha duas cátedras em Recife: a cátedra de professor, na Faculdade de Direito, e o posto de diretor do “Diário de Pernambuco”. Uma e outra ele as exercia com um talento incomparável e uma atração e uma têmpera de caráter raros. Fora difícil dizer qual era a maior, se o jornalista ou o mestre de Direito Administrativo e da Economia Política, pois de tal forma consumada era a sua vocação para ambas as cátedras.

(…)

Acredito que a Academia me elegeu como quem busca uma natureza de equilíbrio para tirar o demônio, que há mais de cinqüenta anos ronda esta cadeira. De quantos pecados, cometidos em minha longa carreira de jornalista, não me penitencio agora! Espero que a ordem, uma ordem objetiva, venha imperar, daqui para diante, no posto que ocupo, em vossa Companhia. A barulhenta memória dos que aqui se sentaram será compensada por uma tranqüilidade de lago suíço, à qual me vejo recolhido, na fraternidade das aspirações, que comungo com a Academia e seus leais servidores. Tende a certeza de que trouxestes para o vosso grêmio uma índole da Regra e do Método, disposta a proscrever dos seus trabalhos, aqui dentro, como lá fora, o quanto não contribuir para acrescer o vosso cabedal de fidelidade e de observância às leis da ciência, das instituições, da vida, da sociedade e do céu. Está morto o último companheiro revolucionário, Getúlio Vargas. O pecado original do conspirador Gonzaga foi resgatado. Pela primeira vez, na história do mundo planetário, se elimina esse gênero de pecado. O mal cria o bem, digamos, em termos goetheanos. Desse bem, recuperado, sou o primeiro beneficiário. Aquele que cai morto pelas próprias mãos, em virtude de um ideal, propicia, com seu sofrimento, uma integração nossa, num plano superior de espiritualização.

Aqui vim apenas por bosquejar o perfil de Vargas, esperando que outros tomem o tosco retrato de hoje, como ponto de partida, para escrever os livros definitos que, à luz de melhores observações e de outros ensinamentos, lhe deverão ser consagrados.

Se eu tivesse tempo, se houvesse lazeres na minha faina de gerente de jornais, rádios, revistas, televisão, fazendas agrícolas com as suas técnicas tão diversas e as suas formas de atividades intelectuais e sociais tão variadas, tentaria dois livros: um sobre a Escola do Recife, com o seu germanismo presunçoso e as suas gaforinhas desabridas, e outro sobre os dois consulados de Vargas – o que vem de 30 a 45, e aquele que parte de 51 e submerge em 54.

Estas páginas, senhor presidente, foram escritas quase todas na Riviera francesa, em Cap Ferrat. O resto compus em Dakar e no Rio de Janeiro. Andei por três continentes para interpretar o último dono desta cadeira. Fui a Nice respirar o claro ozona da ambiência mediterrânea. Não seria possível tratar de um bárbaro, filho também daquele mar de tão fina espiritualidade, sem ver Ulisses. E eu foi ver Ulisses, o companheiro inseparável daqueles que exercem o seu “métier de roi ”, com a virtuosidade do equilibrista helênico.

Não era somente a América Latina e a Rússia, Minas e o Rio Grande. Seu tato, a sua finura, as suas manhas, a sua solércia de gato, a sua sedução de demiurgo o identificam muito com o Rei de Ítaca.

Seu “charme”, o “charme” que emanava da sua pessoa, era irresistível. Quando queria, era-lhe fácil envolver-nos dos eflúvios da sedução, que o imantava, e subjugar-nos. Em outros, o poder de fascinar exigiria um jogo mais artificial. Nele não havia um esforço de amabilidade, senão aquela elegante volubilidade, que punha nas conversas, ora ferindo um ponto, ora outro, conforme as tendências dos que faziam sua roda.” ( Discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, pp. 14-16)

AS NUVENS QUE VÊM

“Na semana transata, este país entrou a conhecer um documento deveras atraente e – vamos falar à Euclides da Cunha – dos mais golpeantes conclusivos, em que os estudiosos dos problemas e consciência poderiam deter a vista.

Uma das minhas tristezas de caboclo brasileiro, uma das minhas melancolias de homem que procura estudar as soluções positivas para o fortalecimento da economia nacional, era, Sr.Presidente, a apatia dos nossos grandes órgãos das classes produtoras ante uma questão ardente, de todos os pontos de vista, como a da exploração do petróleo do nosso subsolo.

Donde vinha tanta indiferença da parte dos órgãos que são os depositários do que o espírito conservador da nossa sociedade tem de mais avesso a soluções temerárias, a cartadas funestas, como as que se pretendem oferecer ao caso do combustível líquido brasileiro? Ao Governo federal, a braços com problemas que não pode nem abordar, premido pelas dificuldades de toda natureza, se procura cometer mais uma responsabilidade, e dessas que envolvem os maiores riscos que possam esmagar uma administração. Era singular a conduta dos centros industriais e das associações do comércio, mantendo-se excêntricos em face de um assunto que interessa de modo fundamental à vida e à estabilidade mesma da Nação. Criou-se uma psicose do medo dentro de um âmbito tão largo da vida da coletividade nacional que até as suas partes nobres pareciam acovardadas diante da intolerância chauvinista e da agressividade comunista.

Graças a Deus o Brasil não sucumbiu ao pânico, de que a infiltração soviética dir-se-ia destinada a nos envenenar. As reações estão aparecendo, e com um vigor que nos comove, porque elas dimanam do que tem de melhor o patriotismo, como força militante esclarecida.” (A Voz das Classes Produtoras; Discurso pronunciado no dia 17 de Novembro de 1954)

O PETRÓLEO E AS DEMOCRACIAS

” Foi a vitória ontem conquistada pela jovem democracia alemã um triunfo de portland. Não exagero afirmando que o sr. Adenauer, do qual Churchill já disse que era o maior, dentro do Reich, depois de Bismarck, alcançou um trunfo tendo por base o aumento da maior fraternidade com o mundo livre.

Trará essa vitória da guerra civil em que o Antigo Continente vive engolfado, desde 1914? Se a Alemanha não mergulhou no ódio intratável, no desentendimento fatal, com as democracias ocidentais, isto se deve tanto ao liberal, de nobre e rija estirpe, que apareceu para conduzir o IV Reich, como à diplomacia de homens como o Sr. Truman, Attlee, Churchill e Schuman.

A decisão que nas urnas livres deu o povo alemão é uma sentença favorável à paz. Encontrou a Alemanha, na aliança com os Estados Unidos e a Inglaterra, como no apoio que essas duas democracias lhe trouxeram, após derrota do hitlerismo, uma garantia para o seu desenvolvimento pacífico, no quadro das instituições republicanas.

Se as democracias ocidentais renunciarem agora ao que não houve coragem nem inteligência para fazer em 1919, isto é, ao pensamento de que a Alemanha, conduzida pelos liberais, é sempre a Alemanha prussiana, dos junkers, podemos ter a esperança da constituição de um rijo bloco de paz na bacia atlântica. A atitude de uma larga maioria do povo germânico assim o leva a crer. Nem pode haver mensagem mais auspiciosa que a maioria esmagadora de votos que ganhou a política de aproximação com o Ocidente do Chanceler Adenauer.

A Alemanha se incorpora, hoje muito mais do que ontem, ao que se convencionou chamar civilização ocidental. Ela faz de novo essa escolha, pela segunda vez após a derrota, constituindo, para larga maioria, um governo de estrita legalidade. Renunciou ao nacionalismo e ao societismo, para ir gravitar no sistema europeu, de soberania limitada e de transferência de vários direitos dessa soberania a uma superestrutura interna.

Pelos resultados das eleições de domingo, a Alemanha é engajada em uma atitude que ela desconhece sua história contemporânea: uma colaboração ativa, militante, para defesa das principais democracias do mundo. Em 1919, 20, 21 e 22, desgraçadamente, a Europa que batera o militarismo germânico no Marne e na linha siegfrield, insistia em desconhecer o acontecimento de Weimar. Era aquela república uma sentinela da liberdade ocidental, no Reno, contra os junkers e o militarismo, e no Oder, contra os soviéticos. suas oportunidades de sobreviver dependiam menos dela que da condescendência dos aliados em face dos primeiros passos de uma criança que entrava a engatinhar. O ato do nascimento da democracia alemã foi uma derrota, no campo de batalha. Viu-se o orgulho nacional de um grande povo severamente abalado pela débâcle militar em 1918. Urgia dispensar-lhe esse misto de cuidado e de paciência que se dá a uma criança e a um enfermo. As instituições livres constituíam ali uma nova experiência. E uma experiência feita em seguida a uma derrocada, produzida por uma guerra de nações. Termos cordiais e amistosos ainda seriam poucos para tratar o segundo Reich democrático, filho da derrota e do sofrimento.

Aconteceu, porém, que as instituições republicanas alemãs se encontraram entre dois fogos: no plano interno, a atitude nos nacionalistas da extrema direita, que tudo envidaram para demoli-las. No plano externo, a desconfiança dos antigos adversários, que volta e meia apareciam com métodos agressivos, comprometedores da estabilidade e segurança da República. Estive eu em Berlim quase todo o ano de 1920: a probabilidade de os dois grandes povos se compreenderem, se apreciarem, marchando juntos, com essa república instalada no coração da Alemanha, cruelmente atacada pelos militares e rearmamentistas dos seus círculos internos, inspirava confiança aos adversários da véspera. Franqueza, coragem, espírito de sacrifício, não eram suficientes que os trouxessem os republicanos todos os dias à luz da ribalta. O assassinato de mais trezentos e cinqüenta republicanos em dois anos, em tocaias e emboscadas preparadas pelos nacionalistas ainda era pouco. O novo estado de alma de largar seções do povo alemão, sua firmeza, posta na luta civil contra o nacionalismo ainda não eram capital para tratar com os aliados. O peso de reparações insuportáveis não foi aliviado, no momento em que o seu espectro, desaparecido, do cenário político e econômico do Reich, seria a concessão à República de um voto de confiança nos seus bons propósitos.

Locarno já veio tarde. Muita substância inflamável fora derramada pelo caminho. Da ocupação do Reno ficara não uma cicatriz, mas uma chaga aberta.

O vizinho que pretender criar a paz com o que lhe é contíguo terá de praticar atos de boa vizinhança, que são os atos de cordialidade e de entendimento recíprocos. Fora preciso que, desde a primeira hora, a Europa se integrasse com fé na sorte das instituições de Weimar. Para prestigiá-las, para fortificá-las, para reconhecê-las como o fruto de uma revisão interna, vinda da alma mesma da grande parte respeitável da nação germânica, então em luta aberta contra os instintos e interesses da casta militar e política do Estado prusso-germânico, em vital apoio externo à política reformuladora dos sociais-democratas, do centro e dos partidos liberais. A integridade republicana da Alemanha deveria ser um sagrado tabu para a França e a Inglaterra, porque somente uma república forte, poderosa, poderia ser o árbitro dos destinos da Alemanha subjugada pelo ódio pietista da oligarquia, derrotada na guerra.

Não se pode contestar que a Europa acabou concedendo à Alemanha republicana, quase tudo aquilo a que ela aspirava. Tornou-se Aristides Briand o campeão de uma política de apaziguamento do Reich. Os termos dessa política foram os mais altos. Somente quando ela chegou, antes de lograr abrir caminho entre os alemães, as vagas da depressão de 1929 haviam de tal forma excitado os líderes nacionalistas que a causa da paz franco-germânica encontrava-se já comprometida.

Hitler ganhou, em 1930, o terreno que havia perdido, nos braços da miséria e do infortúnio que desabara sobre o Ocidente.

O ensinamento da outra guerra não se perdeu nesta. Não há nenhuma dúvida de que em 47 a Alemanha republicana encontrou aberto para transitar no mundo o “sinal verde”. Este há de ser para ela o duplo caminho: o da liberdade e o da prosperidade. De nada valeu a guerra fria. Pouco adiantara as intrigas bolchevistas e ultranacionalistas para que ela não adotasse o caminho da reconciliação e do entendimento, da eliminação das desconfianças recíprocas e dos antagonismos históricos.

A Alemanha não tem um terreno fértil para o nascimento das figuras potentes da flexibilidade e do universalismo do sr. Adenauer. A presença no poder de um fuehrer como o Chanceler Adenauer envolve um desafio àquela tese de que a raça germânica, fecunda em condutores militares, de primeira grandeza, vê frustrados os seus esforços toda vez que tenta valorizar um líder político.

Afirma a Alemanha, hoje, quando não tem uma Wehrmacht, Luftwaffe nem marinha de guerra, uma personalidade muito mais indomável e original do que quando a sua vocação militar e os seus recursos econômicos a tornaram o Estado mais poderoso da Europa Continental. Ela retoma a liderança do continente, para se revelar um dos dois países industriais mais fortes do Ocidente europeu (sendo o outro a Grã-Bretanha). Ressurge o Reich do bombardeio das suas cidades, da invasão e da ocupação de seu território, economicamente mais poderosa que antes. Suas manufaturas estão adiantadas como nunca. Sua agricultura, florescente como jamais esteve.

O conflito que terminou no mundo de 45 é um duelo de tipos de governos como em nenhum período da sua existência a humanidade viu nada parecido. Concedem os vencedores larga assistência aos vencidos. As concessões feitas pelos Estados Unidos e Império Britânico aos países derrotados são desconhecidas na política mais humana de vencedores para com vencidos.

Quem imagina – sobretudo aqueles que conhecem os Estados Unidos na última guerra, dominados pelo ódio furibundo, pelo rancor insopitável contra o Japão e os japoneses, guerra que vinha sendo consolidada, no fundamento desses dois povos, através de quarenta ou cinqüenta anos de rivalidade no Pacífico – que os americanos oferecessem ao povo nipônico o edificante instrumento de amizade, fraternidade e cooperação que foi o pacto que pôs fim à luta armada entre os dois países?

A História desconhece guerras que tenham tido pactos de paz feitos com a elevação e a serenidade dos que as democracias do Ocidente assinaram com os seus adversários entre 1945 e 46.” (Discurso proferido no dia 9 de Setembro de 1953. In: Aquarela do Brasil, 1956)

Assis Chateaubriand – Biografia

Assis Chateaubriand
Assis Chateaubriand

Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo nasceu a 5 de outubro de 1892, já no final do século XIX, em Umbuzeiro, no Estado da Paraíba.

Custeou seus próprios estudos até se tornar advogado e, depois, pro­fessor catedrático de Direito Romano, Senador, Embaixador e Membro da Academia Brasileira de Letras.

Mas Chateaubriand foi, antes de tudo, um jornalista — ou um repór­ter, como se autodefinia. Um jornalista que acabou construindo o com­plexo empresarial chamado Diários Associados, por meio do qual pres­tou inestimáveis serviços ao país. “Em toda a minha vida, tenho sido ape­nas um repórter”, dizia ele.

Mas Assis Chateaubriand foi muito além da notícia, mesmo quando, aos 14 anos, começou a escrever para o Jornal de Recife e o Diário de Pernambuco, fazendo comentários políticos e en­trevistando personalidades que chegavam nos navios.

O diário O Jornal, adquirido em 1924, foi o ponto de partida para o complexo empresarial que iria formar, incluindo o Diário da Noite de São, Paulo, o Estado de Minas em Belo Horizonte, o Correio Braziliense — em 1960, na inauguração de Brasília — o Jornal do Commercio do Rio de Janeiroeo Diário de Pernambuco — estes, os dois mais antigos jornais em circulação da América Latina — e mais de 30 jornais em todo o País.

Foi também Assis Chateaubriand quem lançou o Brasil na era da televi­são, inaugurando a TV Tupi Difusora São Paulo em 1950.

Era a primeira estação de TV da América Latina e a ela se juntaram 18 estações asso­ciadas. Antes de ser um empresário de comunicação, criador de um com­plexo empresarial que espalhava jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão por todos os Estados do Brasil, Assis Chateaubriand foi um homem de muita comunicação. Por isso, criou também um império de ami­gos. Hoje, Chateaubriand continua fazendo amigos, muitos anos depois de sua morte.

Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de MeIo morreu no dia 4 de abril de 1968, em pleno ato de viver, mas suas idéias e obras conti­nuam vivas, algumas nas memórias e outras no dia-a-dia de todos nós.

Fonte: www.geocities.com/www.famous-entrepreneurs.com/www.vivabrazil.com

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