Arte Gótica

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O termo “estilo gótico” refere-se ao estilo de arquitetura européia, escultura (e artes menores) que ligava arte românica medieval com o renascimento adiantado.

O período é dividido em início adiantado Gótico (1150-1250), Alto Gótico (1250-1375), e Gótico Internacional (1375-1450).

Sua principal forma de expressão era arquitetura – exemplificado pelas grandes catedrais góticas do norte da França

Os melhores exemplos de design gótico incluem: Catedral de Chartres (1194-1250); Catedral de Notre-Dame (1163-1345); Sainte Chapelle (1241-1248); ea Catedral de Colónia (a partir de 1248); bem como as catedrais de Canterbury, Winchester, Abadia de Westminster e Santiago de Compostela.

Arte Gótica – Período

GÓTICO – 1130 A 1500

É quase impossível determinar com exatidão a passagem do Românico para o Gótico. Por volta de 1800 o gótico ainda era considerado em alguns quadrantes como a essência do que era discrepante e de mau gosto.

O século X encontra a Europa em crise. O poder real, enfraquecido, foi substituído pelo feudalismo.

Invasões ameaçam a França. Desprotegidos, o povo se organiza em torno dos castelos feudais, únicas – e precárias – fortalezas.

A tensão popular contribui para que se espalhe a crença propagada pela Igreja de que se aproxima o juízo final: o mundo vai acabar no ano 1000.

A arte românica, expressão estética do feudalismo, reflete o medo do povo. Esculturas anunciam o apocalipse, pinturas murais apavorantes retratam o pânico que invade não só a França mas toda a Europa Ocidental. Chega o ano 1000 e o mundo não acaba. Alguma coisa precisa acontecer.

Em 1005, surgem as primeira Cruzadas. O feudalismo ainda permanece, mas tudo indica que não poderá resistir por muito tempo. Novos pensadores fazem-se ouvir, propagando suas idéias. Fundam-se as primeiras Universidades. Subitamente, a literatura cresce em importância. Muitos europeus, até então confinados vida nas aldeias, passam a ter uma visão mais ampla do mundo. Profunda mudança social está a caminho.

Pressentindo a queda do feudalismo, a arte antecipa-se aos acontecimentos e cria novo estilo, que irá conviver durante certo tempo com o românico, mas atendendo às novas necessidades.

Verdadeiro trabalho de futuristas da época, o Estilo Gótico surge pela primeira vez em 1127, na arquitetura da basílica de Saint-Denis, construída na região de Ile-de-France, hoje Paris. Saint- Denis é considerada como o edifício “fundador” do gótico.

Fins do século XII. Graças ao apoio da burguesia e da classe trabalhadora, os reis conseguem retomar sua autoridade. Enfraquecido, o poder feudal vai aos poucos desaparecendo. A população passa a ter maior influência na vida pública nacional, da qual tinha sido até então mera espectadora.

Eufóricos diante da própria importância, os habitantes de cada região sentem a necessidade de demonstrar sua emancipação.

A catedral será o símbolo de sua vitória. Aí se realizarão não apenas os atos religiosos, mas as atividades comunitárias de todo o grupo: será a casa do povo.

Não mais cheia de esculturas e desenhos tenebrosos, mas alta, imponente, iluminada. Que suas torres pontiagudas tentem atingir as nuvens. Livre do medo do fim do mundo, o povo é animado por novo sopro de fé.

As paredes de seus templos devem deixar entrar a luz do sol em múltiplas cores que lembrem a presença divina Da necessidade de construir catedrais que correspondessem euforia e ao misticismo do povo, surgiu a arquitetura gótica. As primeiras foram construídas na França, ao redor de onde se encontra hoje a cidade de Paris; foi essa uma das primeiras regiões a eliminar o feudalismo.

Com as construções das catedrais, começaram a ser definidos os princípios fundamentais desse estilo. O gótico teve início na França, por ser o novo centro de poder depois da queda do Sacro Império, em meados do século XII, e terminou aproximadamente no século XIV, embora em alguns países do resto da Europa, como a Alemanha, se entendesse até bem depois de iniciado o século XV.

O gótico era uma arte imbuída da volta do refinamento e da civilização na Europa e o fim do bárbaro obscurantismo medieval. A palavra gótico, que faz referência aos godos ou povos bárbaros do norte, foi escolhida pelos italianos do renascimento para descrever essas descomunais construções que, na sua opinião, escapavam aos critérios bem proporcionados da arquitetura.

Foi nas universidades, sob o severo postulado da escolástica – Deus Como Unidade Suprema e Matemática -, que se estabeleceram as bases dessa arte eminentemente teológica. A verticalidade das formas, a pureza das linhas e o recato da ornamentação na arquitetura foram transportados também para a pintura e a escultura. O gótico implicava uma renovação das formas e técnicas de toda a arte com o objetivo de expressar a harmonia divina.

No forte simbolismo teológico, fruto do mais puro pensamento escolástico, as paredes eram a base espiritual da Igreja, os pilares representavam os santos, e os arcos e os nervos eram o caminho para Deus. Além disso, nos vitrais pintados e decorados se ensinava ao povo, por meio da mágica luminosidade de suas cores, as histórias e relatos contidos nas Sagradas Escrituras.

A catedral é o local das coroações e sepulturas de reis, mas também representa o ideário de toda a sociedade, a expressão da visão política e teológica de todos os burgueses, pois têm a convicção de construírem, em comum, um símbolo de sua crença, de sua cidade e de sua própria identidade.

Na catedral o burguês é orgulhosamente exibido na rica decoração: com retratos dos fundadores e inscrições.

Os espaços góticos já não poderiam ser fechados com as abóbadas cruzadas de aresta. As abóbadas de ogivas (góticas), constituíram a alternativa.

As nervuras foram usadas pela primeira vez com a função de suporte em Saint-Denis. Foram construídas em primeiro lugar e depois, fechadas as paredes e as abóbadas.

Assim, todo o edifício se tornou mais leve. Os pilares passaram a ser fasciculados com colunelos, recebendo a pressão da abóbada e descarregando-a para o chão.

O abade Suger, arquiteto de Sait Deni tinha pensado mística e simbolicamente em cada pormenor: colunas representando os apóstolos e os profetas e Jesus, a chave que une uma parede à outra. O fascinante é que esta crença provocou uma revolução na arquitetura.

As abóbadas de cruzaria de ogivas e os arcobotantes permitiram uma redução nas massas das paredes. As paredes exteriores passam a ser cobertas com janelões. Como há dificuldades na produção de vidro, estes são em pequenos pedaços suportados por molduras de chumbo. São cores fortes e solenes que brilham mais quanto menos o espaço interior for iluminado. A luz, ao passar pelas imagens sagradas, manifesta sua origem divina.

As janelas serviam para transmitir visualmente a mensagem bíblica aos que não sabiam ler, ou que não tinham posses para comprar bíblias. Sainte Chapelle em Paris é onde este conceito se encontra concretizado de modo exemplar, com o altar iluminado de luz colocado no centro visual.

Os reis franceses utilizavam a igreja como manifestação política de sí próprios. A igreja começou a preocupar-se cada vez mais com os interesses temporais.

As catedrais desta época exprimem, de modo penetrante, esta consciência contraditória: nos “arranha céus de Deus” (Le Corbusier) há novas técnicas aliadas aos novos conceitos religiosos.

A partir do final do séc XII foram fundadas novas cidades. Os reis cristãos consideravam ser sua obrigação fundar novas cidades para, deste modo, conduzir as pessoas até Deus.

Paris era talvez, com seus 200.000 habitantes, juntamente com Milão, a cidade mais populosa da baixa idade média.

A obra que se tornou mais importante foi a catedral edificada no meio da cidade. Era uma obra erigida pelo esforço comum dos habitantes, que contribuíam com o dinheiro, ou com a própria força de trabalho. Eram formadas lojas.

Nobreza, clero e massa popular competiam em generosidade mística.

O objetivo era um só: colaborar para a construção das dispendiosas catedrais.

Com a autoridade monárquica cada vez mais assegurada, as antigas zonas feudais foram-se transformando e surgiram as primeiras cidades: Noyon, Laon, Sens, Amiens, Reims, Beauvais, onde se encontram as catedrais góticas mais belas do mundo.

Nas catedrais, as vistas laterais e da abside eram obstruídas. Assim, só era dada importância especial à fachada voltada à poente, com a entrada principal, realçada geralmente pelas únicas torres do edifício. Estas eram coroadas com pequenas torres (pináculos), novas flechas que almejavam o céu.

O repertório da escultura em pedra do gótico é uma descrição fatual do divino, especialmente nos pórticos reais: em Chartres, os reis e as rainhas de França, estão vestidos com roupagens bíblicas.

LE SAINTE-CHAPELLE

Luiz IX a edificou para as relíquias adquiridas de Bizâncio (coroa de espinhos e fragmentos da cruz).
Os 12 apóstolos estão representados por esculturas nos pilares. Esta capela era a capela do palácio real.

REIMS

A catedral de Reims, na qual se realizava a coroação dos reis franceses, é famosa sobretudo pela rosácea, que domina a sua fachada poente.

NOTRE DAME

Provavelmente foi lá que se utilizou pela 1. vez o sistema de contrafortes abertos = arcos botantes.
Foi destruída na revolução francesa e restaurada no séc XIX

CHARTRES

O chamado pórtico real da catedral constitui o ponto alto da escultura do gótico clássico francês.

Arte Gótica
Arquitetura Gótica – Chartres, uma das primeiras catedrais góticas da França

A construção gótica, de modo geral, se diferenciou pela elevação e desmaterialização das paredes, assim como pela especial distribuição da luz no espaço.

Tudo isso foi possível graças a duas das inovações arquitetônicas mais importantes desse período: o arco em ponta, responsável pela elevação vertical do edifício, e a abóbada cruzada, que veio permitir a cobertura de espaços quadrados, curvos ou irregulares.

Arte Gótica
Divisão da abóbada gótica. Os arcos ogivais (arcos cruzados em diagonal) distribuem o peso da abóbada, tornando-a com isso mais leve.

Os arcos de meia circunferência usados nas abóbadas das igrejas românicas faziam com que todo o peso da construção fosse descarregado sobre as paredes.

Isso obrigava a um apoio lateral resistente: pilares maciços, paredes mais espessas, poucas aberturas para fora. O espaço para as janelas era bem reduzido e o interior da igreja escurecia. O espírito do povo pedia luz e grandiosidade. Então como conseguí-las?

O arco em meia circunferência foi substituído por arcos ogivais ou arcos cruzados. Isso dividiu o peso da abóbada central, fazendo com que ele se descarregasse sobre vários pontos, simultaneamente, podendo ser usado material mais leve, tanto para a abóbada como para as bases de sustentação. Em lugar dos sólidos pilares, esbeltas colunetas passaram a receber o peso da abóbada.

O restante do peso foi distribuído por pilares externos. Estes, por sua vez, remetem o peso aos contrafortes – torres pontiagudas e muito trabalhadas, que substituem as maciças pilastras românicas, com a mesma função. As torres dão mais altura e majestade à catedral.

As paredes, perdendo sua importância como base de sustentação, passam a ser feitas com um dos materiais mais frágeis de que se dispunha: o vidro.

Surge a desejada luminosidade. Grandes e feéricos vitrais coloridos ilustram em desenhos cenas da vida cristã. A magia dos vitrais góticos, que filtram a luz do sol, enche a igreja de uma claridade mística que lembra a presença divina.

O sistema de suportes constituídos de pilares cantonados e fasciculados, pequenas colunas cilíndricas e nervos, junto com os arcobotantes, tornou a parede mais leve, até seu quase total desaparecimento. As janelas ogivais e as rosetas acentuaram ainda mais a transparência da construção. A intenção era criar no visitante a impressão de um espaço que se alçava infinitamente até o céu.

Livros de Pedra

Os templos católicos de estilo gótico construídos na Idade Média revelam toda a magia dos ocultistas e sociedades secretas da época.

Os sinais cabalísticos estão por toda a parte: nas altas colunas de mármore, nos capitéis, nos arcos, nos altares. Eles contam a história da construção das catedrais góticas – símbolos da religiosidade católica mas também dos mais profundos mistérios da magia que imperava na Idade Média.

Estão ali rastros dos druidas (sacerdotes celtas que reverenciavam as florestas como divindades), visíveis na arquitetura que lembra um bosque petrificado. Estão também nas rosáceas – um dos mais importantes símbolos da ordem dos cavaleiros templários e dos maçons – desenhadas nos vitrais. Estão ali ainda os signos do zodíaco – prova de que a astrologia era admitida pelos papas da igreja da época.

Enfim, Notre Dame, Chartres, Amien, Colônia e Duomo de Milão podem ser vistas como gigantescos livros de pedra, cuja leitura exige não só uma boa dose de conhecimento esotérico mas a capacidade de ver além da realidade.

Até a adoção do estilo gótico – que surgiu no início do milênio, no norte da França, e rapidamente se espalhou pela Itália, Alemanha, Inglaterra, Espanha e Áustria – os templos católicos eram erguidos segundo os princípios românicos: escuros como cavernas. Todo o seu peso se apoiava em suas largas paredes. Já as catedrais góticas são claras, exuberantes e sua sustentação está nas abóbadas. O gótico representa a verticalização da fé e convida a uma união com a divindade. Seus elementos seriam o fogo e o ar, que evocam a purificação iniciática e a elevação espiritual. Eles estão expressos em vitrais, torres e nas rosáceas vermelhas, cujas formas lembram labaredas.

Rosáceas

A intenção dos arquitetos ao pintar as rosáceas era fazer com que a luminosidade criasse a sensação de um fogo iniciático, durante as vésperas e na hora mariana ( horários canônicos correspondentes a 6 e 18 horas). Consideradas pantáculos ( espécies de talismã ) do cristianismo, as rosáceas são a principal fonte de entrada de luz no interior das catedrais góticas . Geralmente , há duas delas nas laterais e uma sobre a entrada principal – para os ocultistas, esta última rosácea é a fronteira entre o sagrado e o profano.

Na verdade, as rosáceas funcionam como um mapa das tradições que são transmitidas há séculos aos iniciados. “Uma das chaves para sua interpretação são as suas cores, as mesmas do arco-íris – um símbolo da aliança de Deus com o homem, no fim do dilúvio”, diz o pesquisador Leo Reisler.

Também os alquimistas dão grande importância a esse elemento da arquitetura gótica. Até o final da Idade Média, a rosácea central era chamada de A Roda, que na alquimia significa o tempo necessário para o fogo agir sobre a matéria, transmutando-a. Essa visão é reforçada pelo esquema de incidência de luz sobre elas. A rosácea da lateral esquerda, por exemplo, nunca é iluminada pelo sol. É a cor negra, a matéria em seu estado bruto, a morte. Já a da direita, irradia, ao sol do meio-dia, uma luminosidade branca – a cor das vestes do iniciado que acaba de abandonar as trevas. Finalmente, a rosácea central, ao receber a luz do pôr-do-sol, parece incendiar-se, e banha o templo com um tom rubro, sinônimo da perfeição absoluta, da predominância do espírito sobre a matéria.

Localização

De acordo com mapeamento feito pelo pensador católico Bernard Clairveaux, fundador da Ordem Cisterciense, de monges beneditinos, as catedrais góticas ficam próximas de antigos menires ( pedras sagradas ), consideradas como centros de energia do mundo. Também a estrutura das catedrais góticas não parecem resultado de simples cálculos arquitetônicos. De acordo com Fulcanelli, o grande alquimista que nos anos vinte escreveu O Mistério das Catedrais, o plano dessas igrejas tem a forma de uma cruz latina estendida no solo.

Na alquimia, essa cruz é símbolo do crisol, ou seja, do ponto em que a matéria perde suas características iniciais para se transmutar em outra completamente diferente. Nesse caso, a igreja teria então o objetivo iniciático de fazer com que o homem comum, ao penetrar em seus mistérios, renascesse para uma nova forma de existência, mais espiritualizada. Ainda segundo Fulcanelli, essa intenção é reforçada pelo fato de a entrada desses templos estar sempre voltada para o Ocidente.

Caminhamento

Assim, ao se caminhar na direção do santuário, volta-se obrigatoriamente para o Oriente, o lugar onde nasce o sol, ou seja, sai-se das trevas e ruma-se para a Luz, em direção ao berço das grandes tradições espirituais. Esse convite à iniciação está presente até mesmo no piso, em que costuma haver a representação de um labirinto. Chamados de Labirintos de Salomão (rei bíblico, símbolo da sabedoria) eles costumam se localizar num ponto em que a nave (o espaço que vai da entrada do templo ao santuário) e os transeptos ( os braços da cruz ) se unem. Seu sentido alquímico é o mesmo do mito grego de Teseu, o herói que entra num labirinto a fim de combater o Minotauro. Após vencer o monstro – metade homem, metade touro – consegue voltar, graças ao fio que sua esposa Ariadne (aranha) lhe dera.

Filosoficamente, os labirintos são os caminhos que o homem percorre em sua vida: cedo ou tarde ele entrará em contato com seu monstro interior, isto é, seus defeitos de caráter. Quem consegue combater e vencer as próprias imperfeições (o Minotauro) e possuem o fio de Ariadne (símbolo do conhecimento iniciático) conseguem efetivamente ver a verdadeira Luz. Em Amiens, norte da França, essa alegoria torna-se clara, graças à existência de uma grande lage na qual se esculpiu um sol em ouro bem no centro do labirinto. Já em Chartres, havia antigamente uma pintura que mostrava todo o mito de Teseu.

Autoria

Talvez o mais intrigante de todos os mistérios que envolvem a construção das catedrais é que nenhuma delas possui um autor, alguém que assine o projeto. Até hoje, o único tipo de identificação encontrado são marcas gravadas nas pedras. Essas marcas representam geralmente instrumentos de trabalho estilizados, como martelos e compassos, e era um tipo de registro profissional, que o mestre-de-obras usava para controlar o trabalho de cada um de seus obreiros.

Todo artesão possuía uma marca própria, que passava de pai para filho, de mestre para discípulo. Em função de guerras, pestes e outros flagelos, muitas vezes as obras das igrejas ficavam temporariamente interrompidas, e os trabalhadores viajavam, oferecendo seus serviços em outras cidades e países. Ganharam, assim, o nome de franc-maçons, ou pedreiros livres, cuja associações acabaram resultando na Maçonaria. Mas esta, embora detenha antigos conhecimentos esotéricos, se consolidou como ordem iniciática apenas em 1792.

Busca

Se a busca dos idealizadores do gótico ainda permanece um enigma, o estudo da origem da expressão ‘arte gótica‘ apenas reforça a idéia de que sua inspiração é totalmente mística. Estudos etimológicos remetem às palavras gregas goés-goéts, de bruxo, bruxaria, que sugere a idéia de uma arte mágica.

O alquimista Fulcanelli prefere associar ‘arte gótica‘ a argot, que significa idioma particular, oculto, uma espécie de cabala falada, cujo os praticantes seriam os argotiers (argóticos), descendentes dos argonautas. No mito grego de Jasão, eles dirigiam o navio Argos, viajando em busca do Tosão de Ouro. Jasão teria sido um grande mestre, que iniciava seus discípulos nos mistérios egípcios, inclusive na geometria sagrada, que é uma das chaves da arquitetura gótica. Prova dessa herança egípcia está no fato de os construtores góticos disporem os símbolos que aparecem nos entalhes, nas estátuas, nos medalhões e vitrais de maneira que obedeçam sempre a uma seqüência que torna inevitável a associação de uns com os outros. Trata-se de um recurso egípcio de memorização que permite a apreensão de um grande número de informações, pois somos, sem perceber, levados a relacionar cada coisa ao local onde ela se encontra. Talvez seja esse o motivo pelo qual muitas vezes o zodíaco está representado dentro das catedrais fora de sua ordem convencional.

Longe de ser aleatório, esse desmembramento está relacionado ao sentido mais esotérico de cada signo, como se vê a seguir:

Áries: Geralmente sua figura é a de um carneiro, que simboliza o início do caminho na busca da elevação espiritual.
Touro:
Representado pelo próprio Touro, às vezes está associado ao evangelista Lucas; às vezes a Cristo. Simboliza a vida na matéria.
Gêmeos:
Sua representação usual é de duas figuras humanas abraçadas, que expressam a capacidade de elevar espiritualmente o próximo por meio da transmissão de conhecimentos. Em Chartres, este signo aparece junto a uma das portas e mostra dois cavaleiros atrás de um grande escudo.
Câncer:
Na forma de um caranguejo ou de um lagostim, costuma estar próximo da pia batismal, junto da imagem do arcanjo Gabriel. Com certeza, trata-se de uma influência da Cabala, que associa a Lua, regente de Câncer, a Gabriel, o emissário do nascimentos. A intenção é mostrar que, por meio do batismo (ritual iniciático), o homem pode se religar às esferas espirituais das quais se origina.
Leão:
Com a mesma representação de hoje, é emblema do evangelista Marcos, a quem emprestaria seus atributos de persistência e força de vontade na busca da espiritualização.
Virgem:
Algumas vezes aparece como uma jovem segurando uma espiga de milho. Mas pode também estar representado por uma estátua da própria Virgem Maria, com uma estrela na cabeça. É um dos signos mais ricos de significados nas igrejas góticas, uma vez que a maioria delas foi dedicada justamente à mãe de Cristo. Em Amiens, por exemplo, ela se encontra em duas árvores. Na iconografia cristã, uma delas representaria a árvore pela qual a humanidade caiu – numa referência ao mito de Eva e da serpente tentadora enroscada numa árvore – , enquanto a outra remete à cruz de Cristo, pela qual a humanidade foi redimida.
Libra:
Quase sempre aparece como uma mulher segurando uma balança desproporcionalmente grande, no interior da qual há uma pessoa envolta num halo de luz. Seria um lembrete para o homem de que ele também faz parte do divino.
Escorpião:
Sua imagem pode ser traduzida por uma águia (símbolo de elevação espiritual) e representa o evangelista João. Ou, então, aparece como um escorpião mesmo, já com um sentido de regressão espiritual. Só que, como não havia escorpiões na Europa, muitas das suas representações têm pouquíssimo a ver com a realidade. Em ambas as formas, o signo está localizado aonde a luz do sol chega por último.
Sagitário:
Este signo costuma ser representado por um centauro prestes a disparar a sua flecha. Na catedral de Amiens, porém, ele aparece na forma de um sátiro. Mas ambos traduzem a luta que o homem precisa travar para vencer sua natureza material, a fim de ascender a planos mais elevados.
Capricórnio:
Meio cabra, meio peixe, este signo indica as posições que o homem tem de enfrentarem busca de espiritualização.
Aquário:
Representado por um homem segurando um livro ou um pergaminho, foi adotado como emblema do próprio cristianismo e do evangelho de Mateus. Esotericamente, seria o ar cósmico, que permeia todas as formas de vida.
Peixes:
Rico em significados esotéricos, aparece normalmente como dois peixes unidos por um cordão, nadando em direção opostas. O cordão seria o fio de prata que une o espírito e a alma durante a vida, mas que se rompe na morte. Um dos peixes corresponde, portanto, ao espírito, que permanece acima do plano físico, enquanto o outro, a alma, seria um intermediário direto com a matéria.

Uma curiosidade do cristianismo medieval é que, com exceção do peixe, a maioria dos outros animais eram considerados funestos, embora fosse comum encontrá-los nas catedrais góticas. Dessa fauna maldita faziam parte o dragão e o grifo, figura mitológica meio leão, meio pássaro (invólucros do demônio), o cavalo (usado pelas forças das trevas), o bode (luxúria), a loba (avareza), o tigre (arrogância), o escorpião (traição), o leão (violência), o corvo (malícia), a raposa (heresia), a aranha (o diabo), os sapos (pecados) e até a avestruz (impureza).

Baphomet

A figura mais temida da fauna que povoava o imaginário medieval era o Bafomé, que aparece com destaque na porta de todas as igrejas góticas. Metade homem, metade bode, por muito tempo foi confundido com o demônio cristão.

Mas seu sentido é bem outro, como explica o teólogo Victor Franco: “O Bafomé é um símbolo templário que expressa a necessidade humana de transcender seus instintos básicos, a fim de ascender espiritualmente e cumprir seu papel evolutivo. Ser parte de Deus, até se confundir com Ele, é o sentido da verdadeira humanização. E este era o ensinamento maior dos idealizadores do gótico, que criaram uma arquitetura viva. As catedrais estão tão perfeitamente integradas ao cosmo e são praticamente forças da natureza”.

Chartres

Teve sua construção iniciada em 1194, num local onde havia, nos tempos pagãos, uma gruta com a estátua de uma Virgem Negra, esculpida em madeira pelos druidas e venerada por milhares de peregrinos franceses.

Desde dos primórdios do cristianismo, a gruta fora substituída por templos católicos. Mas a catedral com suas 178 janelas, 2500 metros quadrados de vitrais e 700 estátuas e estatuetas no Portal Real só ficou pronta em 1260, sob o reinado de Filipe Augusto.

Toda a cidade participou dos trabalhos, e era hábito os pescadores assumirem o lugar dos cavalos entre as cangas dos carros que transportavam material. Um sacrifício e tanto, pois a pedreira mais próxima ficava a meio dia de viagem. E, diariamente, antes do expediente, todos comungavam, para não contaminar a obra.

Duomo de Milão

Com a pedra fundamental lançada em 1386, inaugurada várias vezes e ainda incompleta, é uma espécie de tapete de Penélope dos milaneses. A iniciativa da construção partiu do duque Gian Galeazzo Visconti, que a ofereceu como ex-voto à Virgem, em troca de um herdeiro. Mas toda a cidade contribuiu, até mesmo as prostitutas, que ofereceram uma noite de trabalho.

Com 11 mil metros quadrados de área, 145 agulhas de 180 metros de altura, 3159 estátuas e 96 gigantes esculpidos, é um monumento que ainda consome milhões de liras em sua finalização. E para o qual até mesmo os sucessivos invasores de Milão ( beleguins, croatas, alemães, espanhóis e franceses) contribuíram. Napoleão, por exemplo, construiu a fachada, e a imperatriz austríaca Maria Teresa doou um Cravo da Cruz de Cristo como relíquia.

Colônia

A construção começou em 1248 e só foi finalizada em 1880, por Frederico Guilherme IV, que conseguiu recuperar o projeto original. Concebida para abrigar os restos mortais dos três Reis Magos, saqueados da Lombardia por Barba-Roxa e guardados num sarcófago de ouro e prata com 300 quilos de peso, a igreja ostenta quase 7 mil metros de fachada e é um dos maiores templos do mundo. Suas janelas têm 17 metros de altura, e as torres, que alcançam 150 metros, abrigam sinos grandiosos com mais de trinta toneladas de bronze. O curioso é que metade desse bronze foi obtida com a fundição de canhões requisitados de inimigos vencidos. Durante a Segunda Grande Guerra, quando a cidade foi praticamente destruída, a situação se inverteu e os sinos é que foram fundidos, para se transformar de novo em armamentos.

Notre Dame

Iniciada em 1163 e concluída em 1330, já abrigou sob seus arcos coroações e mendigos. Também resistiu a devastações entre os séculos 18 e19, quando teve suas pinturas e estátuas, vitrais e portas, tirados e substituídos por ornamentos barrocos. Na Revolução Francesa, transformaram-na em depósito de suprimentos e uma das torres foi derrubada simbolicamente, decapitada como os membros do clero. Mais tarde, vendida ao conde de Saint-Simon, quase foi demolida.

Durante a Comuna de Paris, tentou-se incendiá-la. Sobreviveu a tudo e resiste, cercada por lendas, como a do ferreiro Biscornet. Dizem que, encarregado de fazer suas fechaduras e assustado com a tarefa, Biscornet teria pedido ajuda ao Diabo, que, aliás, deve ter aceitado o pacto, pois as fechaduras são mesmo obras de arte.

Amiens

Construída em 1221, é uma das obras-primas do gótico na França. Um verdadeiro feito, pois em apenas três séculos os franceses ergueram nada menos que 80 catedrais e 500 grandes igrejas neste estilo, sem falar nos milhares de templos paroquiais. Era uma verdadeira corrida arquitetônica, na qual Amiens saiu vencedora, superando até mesmo Chartres e Notre Dame. Sua abóbada atinge a altura de quase 43 metros e cria uma sensação de suntuosidade inigualável.

Claro que a realização desse feito exigiu o empenho de toda a comunidade, e, sempre que os fundos escasseavam, os monges e cônegos locais ofereciam indulgências àqueles que colaborassem com a construção. Exortavam, particularmente, os penitentes e moribundos, lembrando-os de que já estavam “mais próximos do paraíso” do que no dia anterior.

ARQUITETURA GÓTICA

Em arquitetura o estilo gótico é caracterizado pelo arco de ogiva. Este estilo apareceu na França nos fins do século XII e expandiu-se pela Europa Ocidental, mantendo-se até a Renascença, ou seja, até o século XIV, na Itália, e até o século XVI ao norte dos Alpes. Moore definiu a arquitetura gótica como um “sistema de abóbadas, cuja estabilidade era assegurada por um equilíbrio perfeito de forças”. Esta interessante definição é infelizmente incompleta, pois nem sequer cita os arcos de ogiva. Mas a verdade é que, se este elemento é fundamental no estilo gótico, aparece também noutros estilos, assim como o arco de volta inteira surge igualmente nos edifícios góticos. Durante o período românico, o arco de ogiva aparece principalmente nos lugares onde existe forte influência sarracena.

Os arquitetos da catedral românica de Monreale, utilizaram-no freqüentemente. O românico espanhol, e mesmo o provençal, empregaram o arco de ogiva. Por outro lado, num edifício tão gótico quanto a catedral de Chartres, as janelas da clarabóia da nave são de volta inteira, salvo nas suas subdivisões, assim como os arcos diagonais da Notre-Dame de Paris. O arco de ogiva não é pois, tão característico do gótico como geralmente se pensa.

A definição de Moore não menciona as paredes, mas somente os três elementos principais da construção. No gótico francês, uma vez chegado o seu máximo esplendor, a parede deixou de ser com efeito, elemento da estrutura. O edifício é uma gaiola de vidro e de pedra com as janelas que vão de um pilar a outro. Se a parede existe ainda, por exemplo, sob as janelas das naves laterais, é somente como defesa contra as intempéries. Tudo se passa como se as paredes românicas tivessem sido cortadas em seções e cada seção houvesse girado sobre si própria num ângulo reto para o exterior, de modo a formar contra-fortes.

No seu início o gótico francês baseava-se nos elementos estruturais definidos por Moore, porém essa definição só se aplicaria à elaboração do gótico francês não abrangendo a arquitetura gótica de outros países ou as fases ulteriores deste estilo na França.

A ABÓBADA

Dentre os elementos da arquitetura gótica este seria o mais importante. Os arquitetos góticos introduziram duas inovações fundamentais na construção de abóbadas. Em primeiro lugar para os arcos dobrados e os arcos dianteiros terem a mesma dimensão que os arcos cruzeiros, adotaram o arco de ogiva.

O cruzamento das ogivas permite obter abóbadas com arcos da mesma altura. Numa abóbada que cubra um espaço retangular, a ogiva dos arcos formeiros tem de ser muito pronunciada. Por outro lado, os construtores góticos tentaram concentrar a pressão das abóbadas ao longo de uma linha única, em frente de cada pilar, no exterior do edifício.

Os arcos góticos alteiam os arcos formeiros: em vez de os iniciar ao mesmo nível que os arcos diagonais, inserem um colunelo que permite colocar o nascimento dos arcos formeiros em nível superior ao dos outros. as janelas da clarabóia podem, assim, tornar-se mais importantes e deixa de ser necessário acentuar a ogiva do arco formeiro para obter uma abóbada de flechas iguais. Finalmente, a zona coberta pela abóbada na parede exterior reduz-se a uma linha em vez de se limitar a um triângulo. A nave da Catedral de Amiens oferece um exemplo claro deste sistema.

SUPORTE

Uma vez que a arquitetura gótica se desenvolveu à partir da românica, podemos encontrar um colunelo para cada nervura da abóbada, o que efetivamente acontece sobre os capitéis da arcada da nave. Como as proporções do edifício se tornaram mais leves, os fustes são mais esguios do que na arte românica e sublinham o movimento ascendente do conjunto. Quanto ao pilar propriamente dito, o caso é diferente. O pilar composto românico, por mais lógico que seja, é relativamente espesso; define o espaço da nave central e separa-a das laterais.

As diferentes partes da igreja são desde então concebidas como unidade separadas. O gótico parece primeiramente retroceder. O pilar composto é substituído por uma coluna lisa e redonda cuja massa, menos volumosa, facilita a passagem entre a nave central e as laterais, criando um espaço único. Para que se torne possível utilizar colunas lias, os suportes aparentes dos arcos da abóbada devem terminar ao nível dos capitéis, o que embora arquitetonicamente possível é pouco estético. Com efeito, as verticais rígidas dos colunelos parecem interromper-se bruscamente demais.

Entretanto o desejo de se construir catedrais cada vez mais altas leva a um grande aprimoramento técnico e os fortíssimos pilares de Chartres por exemplo nos elegantes fustes de Amiens, testemunho de uma experiência mais avançada em termos de arquitetura.

A habilidade técnica em constante progresso dos construtores dos séculos XIV e XV permitir-lhes-á recorrer de novo ao pilar composto, cujos elementos serão tão finos e tão delicados que ele parece desafiar as leis da gravidade.

CONTRAFORTE

É o terceiro e último elemento estrutural do gótico

As paredes góticas ao contrário das românicas são finas, ou inexistentes sendo o contraforte tipicamente gótico composto de duas partes:

A primeira o contraforte propriamente dito inspira-se no contraforte românico e está colocado em ângulo reto em relação a igreja, contra a parede lateral, e, no mais alto grau de perfeição, eleva-se bastante alto. O peso deste elemento neutraliza a pressão das abóbadas.

O segundo elemento, ou arcobotante, é especificamente gótico. O arcobotante tem uma caixilharia diagonal de pedra; está escorado de um lado pelo contraforte, colocado a certa distância da parede, e por outro lado pela clarabóia da nave. O arcobotante dirige a pressão da abóbada para o exterior por cima da cobertura da nave central. Como é cimbrado por baixo, exerce um pouco de pressão sobre o vão; sozinho não poderia resistir à pressão lateral das abóbadas, mas associado aos contrafortes, tem uma força enorme. Foi graças a esse elemento que o gótico ousou construir naves tão altas e tão claras. A catedral gótica, eleva-se para o céu como uma oração e tal como a filosofia medieval, exprime o intangível e transcende o homem na sua procura do além.

ARQUITETURA CIVIL

No início da Idade Média a arquitetura civil refletia as condições incertas da época. Enquanto os camponeses viviam em cabanas de adobe ou pau-a-pique, ou mais raramente materiais sólidos, a nobreza européia vivia em castelos sem dúvida imponentes, mas incômodos e desconfortáveis. O fosso constitui a primeira linha de defesa. Os muros sólidos são enquadrados por torres colocadas nos ângulos e de ambos os lados da entrada e coroados por ameias cuja função é proteger e os arqueiros. Possuem também o menor número de aberturas possíveis e mesmo estas são muito pequenas.

No início da Idade Média a arquitetura civil refletia as condições incertas da época. Enquanto os camponeses viviam em cabanas de adobe ou pau-a-pique, ou mais raramente materiais sólidos, a nobreza européia vivia em castelos sem dúvida imponentes, mas incômodos e desconfortáveis. O fosso constitui a primeira linha de defesa. Os muros sólidos são enquadrados por torres colocadas nos ângulos e de ambos os lados da entrada e coroados por ameias cuja função é proteger e os arqueiros. Possuem também o menor número de aberturas possíveis e mesmo estas são muito pequenas.

Entretanto as condições de vida e a segurança melhoram com o tempo. Com a posterior popularização do vidro as vidraças se tornam mais comuns, resolvendo o problema da iluminação e aquecimento. Passa-se a ter uma maior preocupação com o conforto e a família e os servos passam a ter quartos de dormir mais amplos e confortáveis. Cada divisão importante é aquecida por fogões e as janelas envidraçadas ajudam a manter a temperatura e garantem uma boa luminosidade.

MOBÍLIA GÓTICA

Quanto a mobília gótica essa de início era bem pouco numerosa. As pinturas de época nos mostram camas maciças, mas o móvel principal era arca onde se guardavam os bens, e que servia igualmente de banco, ou até mesmo de cama. Os raros exemplares de móveis góticos que possuímos testemunham o mesmo estilo direto, o mesmo respeito pelos materiais e o mesmo amor pela ornamentação lavrada que na arquitetura e escultura. Este mobiliário é a maior parte das vezes de carvalho maciço.

ESCULTURA GÓTICA

As principais características da escultura gótica são a tendência ao naturalismo e a busca da beleza ideal. Em oposição à rigidez e abstração próprias do românico, os escultores góticos pretenderam imitar a natureza e tanto reproduziram pequenos detalhes vegetais como figuras dotadas de certo movimento e expressividade.

O tipo de religiosidade havia mudado em relação ao da alta Idade Média, e estabeleceu-se uma relação mais direta com a divindade. Ante o todo-poderoso Deus românico, o gótico centrou-se nas figuras de Cristo e da Virgem; ante o hieratismo anterior daquele estilo, buscou a humanidade das figuras divinas.

Nos pórticos das catedrais narravam-se em escultura, com clara finalidade didática, os principais temas religiosos, como a vida de Cristo e da Virgem, a Ressurreição e o Juízo Final, e até alguns profanos, como as estações do ano ou o zodíaco. No fim do gótico, a escultura em relevo acabou por invadir completamente as fachadas. Paralelamente a estas, o relevo se desenvolveu em retábulos, monumentos funerários e bancadas de coros, lugares em que, às vezes, se chegou a empregar a madeira. A escultura em redondo teve desenvolvimento menor e em geral se dedicou à imagem de culto.

Durante a evolução do gótico, a escultura exterior foi-se libertando do limite arquitetônico para adquirir volume e movimento próprios. Muitas vezes as figuras se relacionavam entre si e expressavam sentimentos. Os panejamentos foram ganhando mobilidade e, em muitos casos, deixaram intuir a anatomia, representada cada vez melhor. Depois de um período de grande expressividade, a escultura gótica evoluiu, na fase final, para um patetismo excessivo.

A escultura gótica se estendeu da zona da Île-de-France, seu primeiro foco, a outras regiões e países europeus. Destacam-se as fachadas dos cruzeiros da catedral de Chartres, assim como o portal dedicado à Virgem, na Notre-Dame de Paris, e as fachadas de Amiens e Reims, todas do século XIII.Durante o século XIV verificou-se um alongamento das formas e a escultura pôde então separar-se do limite arquitetônico. No fim desse mesmo século criou-se em Dijon, na corte dos duques de Borgonha, uma brilhante oficina escultórica, onde trabalhou Claus Sluter, autor do “Poço de Moisés” e do sepulcro de Filipe II o Audaz.

Na Itália verificou-se um abandono progressivo da estética bizantina dominante, graças à chegada do gótico francês e à influência da escultura clássica. Os melhores representantes foram Nicola Pisano, com o púlpito do batistério de Pisa; Andrea Pisano, que fez a primeira porta do batistério de Florença; e Arnolfo di Cambio.

Na Espanha, a escultura soube transformar os modelos importados, segundo um estilo particular, e tendeu para um misticismo severo e de intenso realismo. A escultura de portais seguiu o exemplo francês, como ocorreu com as portas do Sarmental e da Coronería, na catedral de Burgos, ou com a “Virgem branca” no mainel da fachada principal da catedral de León.

No século XIV, a escultura exterior das catedrais tornou-se mais minuciosa, por influência das obras em marfim e da arte mudéjar. Datam dessa época a Porta do Relógio da catedral de Toledo, o portal da igreja de Santa Maria de Vitória e a Porta Preciosa da catedral de Pamplona. O conjunto mais importante da escultura gótica do século XIV está na Catalunha e é formado por sepulcros e retábulos de clara influência italiana, como o túmulo de D. João de Aragão.

No século XV a influência da Borgonha e de Flandres tornou-se dominante e muitos mestres dessas nacionalidades chegaram à península ibérica. Em Castela destacaram-se os trabalhos de Simão de Colônia (São Paulo de Valladolid), Egas Cueman (portal dos Leões da catedral de Toledo), Juan Guas (San Juan de los Reyes de Toledo) e Gil de Siloé (sepulcros de João II e Isabel de Portugal na cartuxa de Miraflores). Em Sevilha, a influência flamenga mostra-se na obra de Lorenzo Mercadante, autor do sepulcro do cardeal Cervantes. Em Aragão, a estética borgonhesa se fez sentir na obra de Guillermo Sagrera.

PINTURA GÓTICA

Com a redução da extensão da parede nas igrejas, restringiu-se a pintura mural, que ficou relegada principalmente a salas capitulares e edifícios civis. Em seu lugar, as igrejas góticas se encheram de vitrais, que transformaram os efeitos luminosos em jogos pictóricos. Os mais destacados estão nas catedrais francesas de Chartres e Notre-Dame de Paris, e na de León, na Espanha. Também aumentou a produção de tapeçarias, que decoravam as paredes de palácios e casas senhoriais, e ganharam especial expansão a arte da miniatura e a pintura de cavalete sobre madeira, mais fácil de transportar e destinada à composição de retábulos.

Durante os séculos XIII e XIV, a pintura era linear, muito estilizada, de ritmo sinuoso e dominada pelo desenho e pela elegância formal. Pouco a pouco, a plenitude do românico cedeu lugar a figuras com algum sentido do volume, colocadas sobre fundos planos, quase sempre dourados, e, mais tarde, com certa sugestão de paisagem.

Os temas pictóricos procediam das hagiografias, das Sagradas Escrituras e dos relatos cavalheirescos. Tal como sucedeu com a arquitetura e a escultura, esse primeiro estilo da pintura gótica também se originou na França, motivo pelo qual foi chamado franco-gótico. Suas melhores manifestações são vitrais e miniaturas.

O refinado mundo cortesão, que concedia uma singular importância à mulher, produziu no século XV um novo estilo, conhecido como internacional, que unia a estética franco-gótica às influências dos mestres de Siena. Entre outras obras, destacaram-se as miniaturas do livro As riquíssimas horas do duque de Berry, de autoria dos irmãos Limbourg.

Com o desenvolvimento das escolas florentina e de Siena nos séculos XIII e XIV, a Itália encaminhou-se para o Renascimento, com seus novos postulados de busca de volume e de preocupação com a natureza. Entre seus principais representantes devem ser mencionados Cimabue e Giotto, em Florença, e Duccio di Buoninsegna e Simone Martini, em Siena.

A minuciosa pintura flamenga a óleo chegou a ser o estilo mais apreciado no mundo gótico. A utilização do óleo possibilitou cores mais vivas e brilhantes e maior detalhismo. Os iniciadores dessa escola foram os irmãos Hubert e Jan van Eyck, que pintaram o “Políptico da adoração do Cordeiro místico”. Outros artistas destacados foram Roger van der Weyden, Hans Memling e Gérard David.

O GÓTICO DA INGLATERRA – A CONTINUAÇÃO DAS TRADIÇÕES NORMANDAS

O fato do estilo da Ile de France se ter tornado conhecido fora do território francês deve-se aos mestres pedreiros itinerantes, trazendo, assim, o gótico para a Inglaterra. Este acabou por se desenvolver numa verdadeira rivalidade com o gótico das catedrais francesas. Em Inglaterra as grandes igrejas eram erigidas fora das cidades.

Como característica há a expansão desmesurada do comprimento e da largura, e o arremate plano da cabeceira, à qual era adossada a Lady Capel. O papel central do cruzeiro também era visível do exterior.

Esta evolução acaba de desembocar, de modo conseqüente em meados do séc XIV, no perpendicular style. Esta arquitetura manteve-se determinante por muitos séculos na Inglaterra, vindo a ter influencia sobre o gótico tardio em França com o seu estilo flamejante.

O GÓTICO NA ALEMANHA – O DESENVOLVIMENTO DA IGREJA-SALÃO

Na Alemanha, onde o românico tinha encontrado o seu desenvolvimento máximo, o gótico francês foi adotado de modo hesitante. Em 1248, o ano da conclusão da Sainte-Chapelle, era colocada a primeira pedra da construção da catedral de Colônia.

Os mestres-pedreiros alemães tinham passado os seus anos de aprendizagem na França existindo, alem disto, relações estreitas entre Paris e Colônia. No entanto, a construção da catedral de Colônia foi interrompida em 1560 e apenas retomada em 1842, terminando em 1880.

As igrejas-salão – o tipo de igreja dominante na Alemanha a partir de meados do séc XIV não eram, no geral, catedrais (igrejas episcopais) mas sim igrejas de conventos ou paroquiais ( igrejas de várias freguesias nas cidades ).

O GÓTICO NA ALEMANHA DO NORTE

Aqui a pedra natural era rara. O esforço dirigiu-se gradualmente para uma interpretação das formas (decorativas) das catedrais do gótico lassico com a silharia de pedra lavrada e de tijolo, a simplificação e abstração das estruturas, a aplicação de arcos cegos e a ornamentação geométrica sobre fundos cegos.

O GÓTICO NA ITÁLIA

O gótico italiano liberou-se ainda mais do modelo francês. O culto da habitação conduziu à edificação de palácios residenciais suntuosos como o Cá d’Oro em Veneza, iniciada em 1420. Já anteriormente o brio das cidades italianas e dos seus burgueses (ricos) tinha produzido Casas Comunais libertas do domínio da arquitetura sacra.

A tendência para uma arquitetura palatina é ainda mais marcante na Casa Comunal de Veneza, o palácio do Doge, regente desta cidade-república, que possuía o status de príncipe. O palácio do Doge foi ainda mais longe que a Cád’Oro. Em ambos os edifícios, mostra-se ainda mais claro do que na Alemanha, que as superfícies das paredes não tinham o aspecto pesado e maciço da românica, mas que parecessem antes painéis finos e leves.

A arq. ascética das ordens mendicantes teve uma grande influência sobre a arquitetura sacra italiana. O modelo foi a basílica paleocristã.

A CAMINHO DE UMA ARQUITETURA MAIS HUMANA

O gótico italiano pouco adotou dos modelos franceses. É na igreja florentina de Santa Maria dei Fiore ( 1296 – 1446 ) que se torna mais evidente a preferência italiana por espaços amplos. Marcadamente horizontais e de estruturação clara.

A burguesia italiana tinha ascendido ao poder e à prosperidade mais rapidamente que a alemã, desenvolvendo uma outra religiosidade, que resultou na transformação da arquitetura : o sagrado já não se opunha ao secular. Assim, o gótico italiano trazia já em sí o embrião do renascimento.

EDIÇÃO DO VITRÚVIO DE CESARIANO

O pintor, arquiteto e engenheiro Cesariano apresentou, em 1521, a primeira tradução para o italiano do tratado sobre arquitetura da antiguidade clássica de Vitrúvio, com inúmeros comentários e ilustrações xilografadas. Cesariano desenvolveu, em paralelo com Leonardo, a afinidade das relações métricas do homem, do cosmos e da arquitetura, que viria mais tarde a ter uma grande influência sobre a teoria e a prática da arquitetura renascentista.

Arte Gótica
Catedral de Canterbury Kent, Grã-Bretanha

Arte Gótica
Catedral de Lincoln Lincolnshire, Grã-Bretanha

Arte Gótica
Catedral de Milão Milão, Itália

Principalmente para os cisterciences a igreja já não tinha de ser o modelo da Jerusalém Celeste, mas um local de oração. Os sermões iam ocupando um papel cada vez mais importante no culto. Os burgueses que habitavam as cidades, sobretudo mercadores, voltavam-se cada vez mais para as coisas deste mundo, onde realizavam as suas atividades, prosperava e mantinham relações comerciais com freqüência através de grandes distâncias. Não que o além tivesse se tornado secundário, mas ia perdendo, pouco a pouco, o seu domínio opressivo sobre o pensamento das pessoas.

A equivalência entre a vida neste mundo e no outro, germina o pensamento renascentista, que encontra a sua expressão maior numa maior atenção dada à imagem exterior das igrejas – as cidades altivas e os seus burgueses cheios de brio davam cada vez mais importância a uma imagem que os representasse.

Em paralelo surgiram, em número crescente, construções civis mais suntuosas, que representavam a cidade, a sua importância e a sua prosperidade. Se no auge do gótico a construção da catedral se encontra no centro da atividade construtiva, como obra da comunidade, agora o interesse também se voltava para o modo como a habitação e, em parte, o local de trabalho era modelado. Um exemplo é a sacada, da qual se podia observar confortavelmente a rua em ambas as direções, num nítido volver para as coisas deste mundo.

Arte Gótica – Definição

Os historiadores do Renascimento foram os primeiros a utilizar o termo gótico. Surgido então da relação com a palavra godo, referente a um dos povos bárbaros que invadiu o Império Romano. Buscou-se através dessa semelhança caracterizar o estilo gótico como bárbaro, obscuro, carregado de apelos decorativos e com uma exagerada altura das torres.

Essa visão foi amplamente difundida e permanece forte até hoje, com o termo gótico sendo sinônimo de trevas, escuridão e tristeza.

No entanto, a seguinte analise procura mostrar se essa forma caracterizada pelos renascentistas e que sobrevive até hoje condiz com o movimento artístico surgido no século XII, no medievo.

Contexto histórico

O surgimento da arte gótica está relacionado à expansão urbana do século XII. Resultado da superação da crise dos séculos anteriores com o aumento da produção rural. Entre 1150 a 1300, a população do reino da França praticamente duplica, e é um crescimento demográfico que tem como cenário as cidades.

Nelas existe uma organização militar possuindo a função primaria de garantir a circulação das mercadorias e do dinheiro.

No entanto, a cidade se constituiu rapidamente em uma entidade jurídica e territorial: nela se concentram – no interior de uma estrutura que facilita a coexistência – a nobreza, o clero, e a nascente burguesia.

Resultado desse renascimento urbano ocorre também uma expansão comercial, uma transformação econômica ocorrida principalmente na região de Flandres, ao redor do rio Reno e do Rio Sena.

E nesse ressurgimento das cidades, faz- se necessário identificar e compreender os agentes que contribuíram para o nascimento e a firmação da arte gótica dentro do ambiente urbano.

O nascimento do gótico

O nascimento do gótico ocorreu entre os anos de 1137 e 1144, na região de Ile-de-France, com a reedificação, dirigida pelo abade Suger, da abadia real de Saint-Dennis, situada então às portas de Paris.

Para se compreender porque o estilo surgiu nesse lugar e não em qualquer outro, é preciso conhecer a relação especial que existia entre Saint-Dennis, Suger e a monarquia francesa.

Os reis franceses fundamentavam seus direitos na tradição carolíngia, embora pertencessem à dinastia capetíngia. Entretanto, a autoridade do monarca foi enfraquecida diante dos nobres, que teoricamente eram seus vassalos, chegando ao extremo de todo o território real ficar reduzido a Ile-de-France.

O poder do rei só começaria a impor-se e estender-se no início do século XII. O abade Suger, conselheiro principal de Luís VI, desempenhou um papel decisivo nesta mudança. Foi ele quem forjou a aliança entre a Igreja e a Monarquia trazendo os bispos de França e de seus vassalos para o lado do rei, além de apoiar o Papado na luta contra os Imperadores germânicos.

Além disso, Suger foi importante no plano da política espiritual. Conferiu à dignidade régia uma significação religiosa e glorificou-a como o braço direito da justiça, procurando com isso agrupar o reino junto ao soberano.

A reforma da Abadia de Saint-Denis fazia parte do seu plano, porque essa igreja erguida no final do século VIII detinha um duplo prestígio, ideal para as intenções de Suger: era o santuário do Apóstolo da França, o protetor sagrado do reino e, ao mesmo tempo, o principal monumento comemorativo da dinastia Carolíngia, pois, tanto Carlos Magno, como seu pai, Pepino, o Breve, tinham sido ali sagrados reis, e também lá estavam sepultados Carlos Martel, Pepino, o Breve e Carlos, o Calvo. Suger quis fazer da Abadia o centro espiritual da França, uma igreja de peregrinação que ofuscasse o esplendor de todas as outras, o centro de todo o fervor religioso e patriótico.

A essa reforma da abadia de Saint-Denis, o marco inicial do gótico, seguiu-se uma competição entre cada cidade da Europa Ocidental para ver em qual delas estaria o monumento mais esplendoroso, e quanto mais fosse, mais o olhar protetor de Deus estaria presente. Essa preocupação com o olhar do criador para a cidade reflete outra preocupação presente no período.

Entre os séculos XII e XIII há uma acentuação da espiritualidade no Ocidente, e a filosofia teológica de Suger reflete essa efervescência. Segundo esse pensamento Deus representa a luz inicial e criadora, onde toda a criatura participa recebendo e transmitindo a iluminação divina segundo a sua capacidade, isto é, segundo o lugar que ocupa na escala dos seres, segundo o nível em que o pensamento de Deus hierarquicamente a situou. Desta forma, esse ideal também legitimava a divisão em três ordens presente na sociedade medieval.

Essa centralização proposta através do pensamento de Suger foi uma forma de alcançar uma unidade religiosa combatendo a presença e ameaça da heresia, e também os falsos profetas, reconduzindo os pecadores a verdadeira fé cristã.

Portanto, a Igreja gótica seria um edifício amplo, diverso e firmemente ordenado tendo uma função doutrinal, que através de sua magnificência mostraria as seduções necessárias para, ao mesmo tempo, ressaltar as fraquezas dos pensamentos contrários e reconduzir ao caminho verdadeiro todos os crentes recém chegados à vida urbana.

Apesar de Suger ser considerado o marco inicial do gótico, ele próprio não tinha a consciência de estar criando um estilo realmente novo. A própria reforma da Abadia de Saint-Denis é considerada uma forma transitória entre o estilo artístico anterior (o românico) e o gótico. No entanto, a filosofia sugeriana e os elementos inovadores que trouxe foram a grande base para que o gótico ganhasse força como movimento artístico medieval.

Outra característica presente no contexto do surgimento do gótico é de que a catedral também representava o orgulho burguês. Pois ela representava o símbolo da riqueza de toda a aglomeração urbana. Por isso, os burgueses foram os principais colaboradores da construção de novas catedrais em várias cidades francesas, investindo imensos capitais para sua construção.

O interesse burguês era devido ao fato de que esse símbolo urbano não era usado apenas para oração, mas era também um local de reunião das associações de ofício. Alem deste monumento ser importante para atrair mais o comércio a uma região, e facilitar a identificação do núcleo de poder de uma cidade.

Carater e Características arquitetônicas

A seguir serão apresentados a ideologia e os principais traços arquitetônicos que identificam o estilo gótico:

arte gótica não possui nenhum traçado novo, Suger reuniu artífices de muitas e variadas regiões para realizar o seu projeto. No entanto a arquitetura gótica não pode ser considerada apenas uma mera síntese de elementos artísticos anteriores. A novidade surgida com o gótico foi à importância dada ao traçado rigorosamente geométrico e a busca da luminosidade.

A “Harmonia” entre esses dois elementos seria a fonte de toda a beleza, pois exemplifica as leis segundo as quais a razão divina construiu o Universo: a “miraculosa” luz inundando a capela-mor através da “sacratíssimas” janelas torna-se a Luz Divina, uma relação mística do espírito de Deus.

Dentro dessa luminosidade divina existe um aspecto fortemente hierarquizado, pois segundo esse princípio cada criatura reflete essa luz de acordo com a posição que ocupa.

Outro importante aspecto da catedral gótica é seu traçado em direção ao céu. Tanto no exterior quanto no interior, todas as linhas da sua construção apontam para o alto. Essa atração para cima é acentuada pelo uso de arcos pontudos (arcos ogivais) e de tecnicas que distribuem parte do seu peso fazendo com que chegue cada vez mais alto.

Esse verticalismo da arte gótica é um esforço para mostrar como esse edifício está mais próximo de seu criador, além de ressaltar sua magnificência dentro da cidade numa clara referência de poder. Saindo do âmbito local, as catedrais também foram motivo de rivalidade entre vários centros urbanos resultando em edifícios de proporções cada vez maiores.

Principais elementos da arte gótica

A Abóbada

A abóbada é uma cobertura côncava. Caracteriza-se por um teto arqueado, usualmente constituído por pedras aparelhadas, tijolos ou betão. É um elemento pesado e que gera vários impulsos, em diversas direções, que devem ser equilibrados ou apoiados.

Assim, enquanto que as forças verticais se distribuem pelas paredes ou pelos arcos e pilares, os impulsos horizontais são contidos através do uso de contrafortes ou arcobotantes.

O Arcobotante

O arcobotante (ou botaréu) é uma construção em forma de meio arco, erguida na parte exterior dos edifícios góticos para apoiar as paredes e repartir o peso das paredes e colunas. Desta forma foi possível aumentar a altura das edificações dando forma e função com a técnica da época.

Contraforte

Um contraforte é o reforço de muro ou muralha, geralmente se constituindo de um pilar de alvenaria na superfície externa de uma parede, para sustentar a pressão de uma abóbada, terraço ou outros esforços que possam derrubá-la. O contraforte também pode funcionar em conjunto com o arcobotante.

Com esta solução de engenharia – reduzir o peso através dos contrafortes – foi possível reduzir a espessura das paredes e colunas, abrir numerosas janelas e elevar o teto a alturas impressionantes. As paredes puderam então ser decoradas por imensos painéis de vidro (vitrais), que inundam de luz o interior, aumentando a sensação de amplidão no espaço interno.

No exterior, as fachadas são quase sempre enquadradas por torres laterais, muito altas e arrematadas por flechas agudas.A tendência para o alto é reforçada por numerosas torrezinhas (pináculos), que terminam em flechas.

arte gótica inventou soluções de arquitetura que só foram superadas no século XIX, com o uso do aço; e outras, só no século XX, pelo concreto armado.

Construção de uma catedral

A partir do conhecimento dos principais elementos que compõe a arte gótica faz-se necessário conhecer como se realizava a construção das catedrais.

A construção de uma catedral gótica formigava com dúzias de trabalhadores dispostos em times de trabalho que eram supervisionados por um mestre construtor e por volta de 30 artesãos especialistas. Esses especialistas e alguns de seus mais habilidosos trabalhadores moviam-se de função em função aplicando lições aprendidas e passadas de um a um. O mestre construtor atuava como projetista artista e ainda como artesão. Com o auxílio de réguas, compassos, esquadros e outras poucas ferramentas geométricas, ele fazia as plantas da catedral.

A Planta

A planta básica da catedral gótica tinha a forma de uma cruz, dividindo-se basicamente em:

Nave: Espaço em forma de navio emborcado, que vai do portal principal ao cruzamento do transepto, entre duas fileiras de colunas que sustentam a abobada.
Transeptos:
Galeria transversal que separa o coro da grande nave e forma os braços da cruz.
Coro:
Local compreendido entre os transeptos indo até o outro extremo próximo ao altar.

Na parte inferior da cruz se situava a nave central circundada por naves laterais; na faixa horizontal existiam os transeptos e o cruzeiro (parte da igreja em que o transepto se cruza com a nave, diante da capela-mor), e na base da nave tinha-se a fachada principal; existiam ainda torres, porém de localização variada.

A fundação

A fundação das catedrais tinha por volta de 9 metros de profundidade e era formada por camadas de pedras (blocos de calcário) assentadas com argamassa cuidadosamente dosada de areia, cal e água sobre a terra argilosa no fundo da escavação.

Formação da estrutura

Devido ao custo, os andaimes eram mínimos, assim os trabalhadores confiavam sua alma a Deus e andavam sobre flexíveis plataformas. Um perigoso momento para os trabalhadores ocorria quando as paredes atingiam suas alturas finais e os troncos de madeira para o telhado deviam ser elevados a essas alturas.

O telhado era colocado antes da construção das abóbadas. Auto- portantes, os telhados serviam de plataforma para a subida do maquinário empregado na construção das abóbadas de pedra.

Os vitrais

Além da função decorativa e de elemento de forte simbologia eles fornecem-nos inúmeras informações acerca das características e do modo de vida durante a Idade Média. Os vitrais eram amplamente utilizados na ornamentação de igrejas e catedrais, o efeito da luz solar que por eles penetrava, conferia uma maior imponência e espiritualidade ao ambiente, efeito reforçado pelas imagens retratadas, em sua maioria, cenas religiosas.

Essas imagens funcionavam também como uma narrativa para instruir os fiéis, principalmente a maior parte da população que não tinha condições de ler. Tornou desta maneira uma forma potente de fazer com que os fiéis pudessem sempre ter em mente os ensinamentos da Igreja.

Nos vitrais também é comum notar personagens não- bíblicas, que correspondem a indivíduos que colaboraram com doações para a construção de uma catedral.

Na parte baixa da maior parte dos vitrais ou nas rosáceas encontram-se figuras completamente estranhas às lendas contadas pelo artista. São as representações dos doadores e são chamadas de “assinatura do vitral”.

Assim, com o telhado pronto, podia-se iniciar a construção das abóbadas. Uma a uma, as pedras talhadas das nervuras eram colocadas sobre os cimbres de madeira e firmadas pelos pedreiros. Entre os cimbres eram instaladas tábuas de madeira, as quais funcionavam como base para o assentamento das pedras durante a secagem da argamassa.

Após a secagem da argamassa, aplicava-se sobre as pedras uma camada de dez centímetros de concreto (buscando evitar fissuras entre as pedras). Estando o concreto seco, as tábuas eram retiradas, seguidas pelos cimbres, finalizando-se a abóbada .

Também no “canteiro” da catedral estavam presentes os artesãos especialistas em fazer e juntar pedaços de coloridos e brilhantes vidros para completar os buracos deixados entre as pedras e formar enormes e belos vitrais. Várias cores eram obtidas unindo óxidos de metais e vidro fundido.

O vidro era soprado e trabalhado em forma de cilindro e, após resfriado, cortado, com a ajuda de um instrumento a base de ferro quente, em pequenos pedaços, geralmente menores que a própria palma da mão.

Observando essas assinaturas notam-se a presença de profissionais no trabalho (cambistas, peleiros, escultores, taberneiros, padeiros e ferreiros), além de existirem vitrais dedicados inteiramente ao trabalho camponês. Existe ainda a presença de nobres pertencentes a cavalaria francesa, além é claro de monarcas.

Esculturas

As esculturas góticas estão presentes principalmente nos portais das catedrais góticas que são marcadas pelo aparecimento da figura do ser humano que agora faz parte do conjunto arquitetônico das catedrais.

Essas novas esculturas marcam uma nova forma de representação das formas humanas baseada em uma nova flexibilidade: a curvatura do corpo, a elegância do porte e a preciosidade dos gestos, o sorriso que ilumina os rostos, marcando assim uma nova humanidade. A geometria não desaparece das esculturas, como também não desaparece de nenhuma disciplina artística medieval.

Ao longo do século XIII os temas relativos a Virgem e as cenas do Juízo Final figuram na maior parte dos portais das igrejas góticas, havendo entretanto exceções como o caso de Saint Dennis. Em seu portal figuram personagens da monarquia francesa devido a sua função primordial de fortalecimento monárquico.

A exuberância da época gótica exterioriza-se também nas representações grotescas. Certos animais fantásticos servem de gárgulas que se encontram equilibrados nos contrafortes, espreitados sobre o parapeito, ou agachados sobre as cornijas. Contrariamente aos outros elementos góticos, eles estão ligados às mais remotas superstições populares. Associados à catedral contribuem para exprimir todo o vigor religioso da cristandade medieval.

A expansão do gótico ocorre inicialmente para o sul da França e logo para o resto da Europa, onde os monges cistercistences começaram, a partir do século XII, a exportar a arte gótica.

Na Inglaterra o estilo chega em meados do século XIII, e modifica-se para uma forma de gótico curvilíneo que ocupa o período que vai aproximadamente de 1250 a 1330. Os princípios fundamentais da arquitetura gótica se desenvolvem na Inglaterra com a mesma rapidez que na França, no entanto com a diferença de que no caso inglês se consagra uma preocupação maior com a ornamentação.

No Império ocorre uma situação diferente: a sobrevivência da forma artística anterior ao gótico, o românico, marca uma forte relutância quanto à penetração do gótico. Junco com uma arquitetura chamada de “transição” se ergue monumentos que reproduzem modelos estrangeiros (Colônia), e outros que combinam uma planta arcaica com um forma moderna (Tréveris), além de outras que adotam estruturas herdadas do século XII (Marburgo). Esta fase é denominada de fase de recepção, e posteriormente a arquitetura germânica vai encontrar uma orientação estética própria, com a igreja halle.

Já a Espanha parece importar diretamente o gótico da França setentrional que é combinado ao estilo mudéjar.

Enquanto que a Itália se mostra refratária ao novo estilo. Em Florência, por exemplo, apenas a forma dos arcos que é incorporado, sendo que a estrutura segue sendo herdada das basílicas paleocristãs.

Arte Gótica – História

Na História da Arte, o período conhecido como Gótico diz respeito às manifestações arquitetônicas e plásticas (pintura, escultura, iluminura, dentre outras) do período que vai do século XII até as primeiras décadas do século XVI. Em virtude de sua ousadia e por ser fruto de um período de apogeu da Idade Média, a maioria dos leigos imagina que a Arte Medieval é sinônimo de arquitetura gótica. As artes bizantina e românica são freqüentemente esquecidas, em razão da espetacularidade própria do gótico.

Durante os anos de desenvolvimento do estilo arquitetônico e artístico conhecido atualmente como gótico, a denominação não existia e foi criada pelos renascentistas, que consideravam a Idade Média uma época bárbara. A expressão “arte gótica” era pejorativa, uma alusão aos godos que, dentre as tribos invasoras, eram os mais conhecidos.

Os limites cronológicos da arte bárbara situam-se entre os séculos V e VIII e fazem parte de suas influências a arte germânica da Idade do Bronze, a arte céltica da Idade de La Tène e a arte paleocristã.

A partir do Bronze Médio, a arte germânica apresentava características uniformes, percebidas em manifestações artísticas próprias da ornamentação, sobretudo quando aliadas ao uso individual: instrumentos musicais, enfeites femininos, jóias, armas, vasos e sepulturas.

Não havia, entre as tribos germânicas, artesãos especializados; a maior parte destes ofícios era praticada como trabalho doméstico e não recorriam às representações plásticas naturalistas da figura humana. A arquitetura também não era privilegiada pelos invasores, devido ao seminomadismo destes povos.

Enquanto a arte romana era inspirada pelo ideal do Estado, a arte bárbara era individualista.

Os visigodos empregavam incrustações policrômicas em metais, sobretudo em produções de caráter ornamental.

Arnold Hauser, em seu Historia Social de La Literatura y El Arte (1969, p. 192) estabelece ligações entre a arte dos povos germânicos e a futura arte gótica: conforme o autor, há um “goticismo secreto” comum às duas modalidades artísticas, que consiste na tensão de um jogo abstrato de forças.

Os artistas visigodos trabalhavam o metal e a madeira com motivos geométricos. Os desenhos representavam triângulos e círculos trançados.

No entanto, além da influência visigoda citada por Hauser, a arte sofreu as conseqüências de uma série de invasões, sobretudo na França, onde a História está ligada a grandes movimentos migratórios: visigodos, francos, celtas, normandos, árabes, invasões pacíficas dos comerciantes sírios, constituição do império carolíngio, dentre outros. Os povos germânicos já traziam consigo técnicas dos povos nômades da Ásia oriental e central, como os citas, sármatas e hunos.

Muito antes do aparecimento das catedrais góticas, os primeiros templos cristãos, surgidos por volta do ano de 391, concorriam com as religiões pagãs. A arte paleocristã, um misto das artes oriental e greco-romana, surgiu quando os cristãos ainda sofriam perseguições violentas. Os primeiros artistas, acostumados às figuras extremamente reais da arte greco-romana, impressionaram-se com a religiosidade característica da arte oriental. Os ícones, por exemplo, que sempre ocuparam lugar de destaque na arte religiosa, derivam dos retratos funerários egípcios.

A arte da Renascença Carolíngia também legaria algumas influências. Ao contrário do que a classificação sugere, a mesma não representou um recomeço strictu sensum, pois a valorização da arte romana devia estar atrelada ao cristianismo. Carlos Magno preocupou-se com o desenvolvimento da arte sacra a fim de que esta, por meio do luxo, encantasse os povos pagãos. Assim, a época carolíngia presenciou a multiplicação de altares e criptas para o culto de relíquias.

A cultura greco-romana, modelo para as oficinas da corte de Carlos Magno, impulsionou um novo estilo arquitetônico denominado como românico, devido à semelhança com as construções da Roma Antiga. As principais características da arquitetura românica são as abóbadas, os pilares maciços que as sustentam e as paredes espessas com aberturas estreitas usadas como janelas.

A arquitetura gótica espalha-se da Irlanda ao Oriente Próximo

Abadia de Saint-Denis (1140-1281)

O período denominado como gótico na História da Arte originou-se na Île-de-France e estendeu-se por toda a Europa: da Península Ibérica à Escandinávia, passando pela Irlanda, pelas ilhas de Chipre e Rodes até o Oriente Próximo. A arquitetura que veio a ser designada como “gótica” a partir da Renascença apresentou características peculiares em cada país europeu, ao longo de seus quatro séculos de duração.

As influências românicas fizeram-se presentes até mesmo na apropriação de termos usados pelos arquitetos românicos: abóbada, tímpano, arcos, entre outros.

No entanto, foram combinadas em uma nova ordem, ou seja, em um proveito inédito do espaço. A catedral de Milão afastava-se da tradição clássica favorecida ao Sul da Europa, sobretudo na Itália.

A abóbada adotada na arquitetura gótica, e que constitui a característica principal deste estilo de construção, é a de nervuras. Esta difere da abóbada de arestas românica por deixar visíveis os arcos que compõem a estrutura. O arco ogival, diferente do arco pleno românico, permitia a construção desse novo tipo de abóbada e também de igrejas mais altas. As ogivas acentuam a impressão de altura e verticalidade.

Durante o século XII, apesar de ainda predominar a arquitetura românica, surgiram as primeiras modificações arquitetônicas deste período. A abadia de Saint-Denis (São Dionísio), localizada na França e construída por volta de 1140-1281, é considerada o marco da construção gótica e possuidora de elementos que servirão como referência na classificação das demais construções deste estilo.

A arquitetura gótica não almejou a obscuridade.

O uso da luz e a relação entre estrutura e aparência são únicos nesta arquitetura: se, na igreja românica, a luz contrasta com a substância táctil, sombria e pesada das paredes, na parede gótica a luz é filtrada através dela, permeando-a, absorvendo-a, transfigurando-a. A verticalidade é outra propriedade do estilo gótico, que propicia sensações de ausência gravitacional.

Visão interna da rosácea de Saint-Denis Na fachada da abadia de Saint-Denis, os portais laterais eram continuados por torres. Acima dos frisos que emolduram o portal central há uma grande janela e, acima desta, outra chamada rosácea (grande janela circular enfeitada por vitrais), outro elemento característico destas construções. A cabeceira de Saint-Denis contava com pilares em sua construção, que consistem em suportes de apoio dispostos em espaços regulares. Com o novo recurso não eram mais necessárias as grossas paredes para sustentar a estrutura, o que garantiu maior leveza às construções.

A nave central era merecedora de grande atenção entre os planejadores destas construções, pois quanto maior a altura desta, mais intensa seria a luz interior que, combinada aos vitrais conferia iluminação uniforme a todo o ambiente. Os idealizadores das catedrais entendiam a luz como elemento místico. Desejosos em propiciar caráter divino às construções, os mestres-de-obras não tardaram em buscar incessantemente a substituição das paredes por vitrais.

As particularidades arquitetônicas do estilo gótico em cada país são evidenciadas nas classificações dos historiadores, que costumam dividir o gótico em três ciclos: inicial, quando se configurou o estilo; central, de expansão das formas góticas; e o final, dominado pelo gosto burguês.

Dentro desta classificação há ainda uma série de subdivisões em cada país, a fim de assinalar a evolução da arquitetura gótica: na França, arte gótica primitiva, clássica, radiante (rayonnant) e flamejante (flamboyant); na Inglaterra, o gótico primitivo (early English), ornamentado (decorated style) e perpendicular (perpendicular style); na Espanha: gótico primitivo e estilo isabelino.

Na França, a Catedral de Notre-Dame apresenta elementos característicos da primeira fase da arquitetura gótica. Foi construída por três corpos verticais separados por maciços contrafortes, sendo que há torres acima dos contrafortes laterais.

A tradição gótica ao Oeste e Sul da França não é tão notabilizada pelas influências da Ilê de France, mas sim orientais. No Oeste foi empregada a cúpula nervurada, importada da Espanha árabe, onde cobria os mirabs das mesquitas. A Catedral de Angers foi assim coberta em 1150.

A evolução dos rendilhados determina algumas etapas deste estilo, como o perpendicular e o flamejante. A arquitetura inicial apresentava janelas subdividas em duas lancetas, com estruturas geométricas simples acima das mesmas (rosácea ou trifólio). Mais adiante a estrutura atinge maior complexidade e os traços afinam-se. Ao final, a tendência é a substituição da simplicidade das formas geométricas por curvas que lembram chamas (daí a classificação: gótico flamejante).

A igreja de San Juan de los Reyes foi resultado da definição de um estilo tipicamente espanhol: o isabelino. São marcantes os adornos, que remetem à união de características árabes com a importação de elementos arquitetônicos nórdicos.

Já a Capela do King’s College ilustra a sofisticação adquirida na construção das abóbadas de nervuras, apresentando abóbadas em leque, típicas do estilo perpendicular inglês do século XIV.

As últimas construções de estilo gótico (dentro do período cronológico estabelecido na História da Arte, pois adiante será abordado o revival neogótico dos séculos XVIII e XIX) datam aproximadamente dos séculos XIV, XV e início do XVI. Neste ciclo final estão incluídos, além das construções religiosas, os palácios urbanos.

A arquitetura civil gótica reflete a sociedade da época, quando a construção mais significativa era o palácio ou residência senhorial, que podia adquirir funções de fortaleza. Os castelos evoluíram bastante durante o período gótico, pois sua finalidade defensiva foi perdendo importância.

Tais castelos caracterizavam-se pela presença de fossos em seu redor, muros sólidos e torres que propiciavam a vigília: tudo para garantir o resguardo de seus moradores.

Utensílios religiosos, como retábulos (peças com motivos religiosos de pintura, escultura ou ourivesaria, colocadas atrás do altar), cálices, cruzes, custódias e relicários, faziam parte do culto das relíquias, largamente apreciado durante a Idade Média.

Os vitrais, paredes translúcidas compostas de vidros coloridos, além de decorarem majestosamente as igrejas, contribuíam com o ensinamento dos fiéis, através da representação de cenas bíblicas. A Sainte-Chapelle, obra prima do gótico radiante, ilustra a interdependência entre arte, ideologia e espiritualidade, conceitos que, somados, definem a arquitetura gótica.

Arte Gótica – Estilo

arte gótica surgiu na França e se espalhou rapidamente através da Europa ocidental. Ela foi um prosseguimento da arte românica e conseguiu um perfeito equilíbrio de expressão.

Neste estilo o que mais se destaca é a arquitetura; o clima religioso da época favorecia a construção de igrejas, com linhas ascendentes que terminavam em abóbadas; os vitrais tiveram também grande importância, pois com seus coloridos e a variedade dos seus mosaicos de vidro, atenuavam a luz no interior.

Entre as mais famosas igrejas góticas estão Notre Dame, na França, Wetsminster, na Inglaterra e a catedral de Colônia na Alemanha.

PINTURA

No século XIII, a arquitetura gótica tomou o lugar da românica, como o estilo de muitas igrejas européias. O estilo gótico de arquitetura caracterizava-se por grandes janelas que tomavam amplo espaço nas paredes em que, igrejas românicas, os artistas teriam pintado afrescos.

Os artistas fecharam essas janelas com vitrais de lindas cores, que narravam histórias religiosas. No norte da Europa, a pintura de afresco decaiu neste período e muitos pintores dedicavam-se então a iluminuras.

Eles ornamentavam as caras cópias manuscritas dos evangelhos e livros de oração. As cores e desenhos dos vitrais influenciaram os pintores de manuscritos góticos. Muitos destes artistas deram preferência aos azuis e vermelhos brilhantes que eram comuns nos vitrais. Dividiam suas figuras em compartimentos parecidos com os mesmos painéis dessas complexas janelas.

ESCULTURA

As primeiras esculturas góticas apareceram em Paris, França. Os escultores fizeram trabalhos formais e estilizados, os rostos das figuras são humanos e naturais.

Os túmulos esculpidos tornaram-se numerosos; a princípio, escultores só decoravam os túmulos dos reis e de grandes personalidades, com imagens destas pessoas. Mais tarde também os cavaleiros e membros inferiores da nobreza conseguiram que escultores entalhassem figuras em seus túmulos. Alguns anos mais tarde, tanto nas estátuas pequenas como nas grandes, as figuras apareceram com poses afetadas e rostos sorridentes.

Com o declínio da construção das igrejas, escultores passaram a decorar seus interiores com altares e figuras de santos. Criaram figuras religiosas e gárgulas.

Também usavam ferro para muitas finalidades decorativas como nos biombos dos coros; especialistas em metal produziram cálices e outros objetos usando filigranas, esmaltes e pedras preciosas. Artesãos esculpiram em marfim, relicários de igreja e outros objetos.

PINTORES

A pintura gótica desenvolveu-se nos séculos XII, XIV e no início do século XV, quando começou a ganhar novas características que prenunciam o Renascimento. Sua principal particularidade foi a procura o realismo na representação dos seres que compunham as obras pintadas, quase sempre tratando de temas religiosos, apresentava personagens de corpos pouco volumosos, cobertos por muita roupa, com o olhar voltado para cima, em direção ao plano celeste.

Os principais artistas na pintura gótica são os verdadeiros precursores da pintura do Renascimento.

Giotto é um dos maiores e melhores representantes desse estilo, a principal característica do seu trabalho foi a identificação da figura dos santos com seres humanos de aparência bem comum. E esses santos com ar de homem comum eram o ser mais importante das cenas que pintava, ocupando sempre posição de destaque na pintura. Assim, a pintura de Giotto vem ao encontro de uma visão humanista do mundo, que vai cada vez mais se firmando até ganhar plenitude no Renascimento.

Suas maiores obras são os Afrescos da Igreja de São Francisco de Assis (Itália) e Retiro de São Joaquim entre os Pastores.

O pintor Jan Van Eyck procurava registrar nas suas pinturas os aspectos da vida urbana e da sociedade de sua época. Nota-se em suas pinturas um cuidado com a perspectiva, procurando mostrar os detalhes e as paisagens.

Suas maiores obras são: O Casal Arnolfini e Nossa Senhora do Chanceler Rolin.

Iluminura

Iluminura é a ilustração sobre o pergaminho de livros manuscritos (a gravura não fora ainda inventada, ou então é um privilégio da quase mítica China).

O desenvolvimento de tal genero está ligado à difusão dos livros ilustrados patrimônio quase exclusivo dos mosteiros:no clima de fervor cultural que caracteriza a arte gótica, os manuscritos também eram encomendados por particulares, aristocratas e burgueses. É precisamente por esta razão que os grandes livros litúrgicos (a Bíblia e os Evangelhos) eram ilustrados pelos iluministas góticos em formatos manejáveis.

Durante o século XII e até o século XV, a arte ganhou forma de expressão também nos objetos preciosos e nos ricos manuscritos ilustrados. Os copistas dedicavam-se à transcrição dos textos sobre as páginas. Ao realizar essa tarefa, deixavam espaços para que os artistas fizessem as ilustrações, os cabeçalhos, os títulos ou as letras maiúsculas com que se iniciava um texto.

Da observação dos manuscritos ilustrados podemos tirar duas conclusões: a primeira é a compreensão do caráter individualista que a arte da ilustração ganhava, pois destinava-se aos poucos possuidores das obras copiadas, a segunda é que os artistas ilustradores do período gótico tornaram-se tão habilidosos na representação do espaço tridimensional e na compreensão analítica de uma cena, que seus trabalhos acabaram influenciando outros pintores.

Vitrais

O efeito milagroso dos vitrais, que foram usados em quantidades cada vez maiores à medida que a nova arquitetura começava a comportar mais janelas, de dimensão cada vez maiores. No entanto, a técnica do vitral já havia sido aperfeiçoada no período românico, e os estilo dos desenhos demorou a mudar, embora a quantidade de vitrais exigida pelas novas catedrais fizesse com que as iluminuras deixassem de ser a forma principal de pintura.

Criar uma figura verdadeiramente monumental com as técnicas dos escultores, em si é algo como um milagre: os primitivos métodos medievais de manufatura de vidros não permitiam a produção de grandes vidraças, de modo que essas obras não de pintavam sobre vidro, mas sim “pintura com vidro”, com exceção dos traços em preto ou marrom que delineavam os contornos das figuras.

Sendo mais trabalhosa que a técnica dos mosaicistas bizantinos, a dos mestres-vidreiros envolvia a junção, por meio das tiras de vidro, dos fragmentos de formas variadas que acompanhavam os contornos de seus desenhos. Sendo bastante adequado quando ao desenho ornamental abstrato, o vitral tende a resistir a qualquer tentativa de se obter efeitos tridimensionais.

O uso do arcobotante e dos contrafortes tornou possível o emprego de grandes aberturas preenchidas com belíssimos vitrais.

A função dos vitrais não se reduz à de mero complemento decorativo da igreja gótica. O vitral – parede translúcida – adquire caráter estrutural ao contribuir decisivamente para a configuração de um determinado sentido da arquitetura; mais exatamente do espaço interior.

Após 1250, houve um declínio da atividade arquitetônica, o que reduziu as encomendas de vitrais. Nessa época, entretanto, a iluminura adaptara-se ao novo estilo, cujas origens remontavam às obras em pedra e vidro.

Giotto

Pai da pintura ocidental

Giotto di Bondone, 1267-1337.

O revolucionário tratamento que dava à forma e o modo que representava realisticamente o espaço “arquitetônico” (de maneira que as dimensões das figuras eram proporcionais às das construções e paisagens circundantes) assinalaram um grande passo adiante na história da pintura.

A opinião generalizada é que a pintura gótica chegou a seu ápice com Giotto, o qual veio a ordenar, abarcar e revigorar tão esplendidamente tudo que se fizera antes.Pela primeira vez temos na pintura européia o que o historiador Michael Levey denomina “uma grande personalidade criativa”. No entanto, a verdadeira era das personalidades criativas foi a Renascença, e não sem motivo que os estudiosos desse período começam sempre por Giotto.

Um gigante, ele encompassa as duas épocas, sendo homem de seu tempo e, simultaneamente, estando à frente dele.As datas, porém coloca-nos firmemente no período gótico, com sua ambiência de graça espiritual e um deleite primaveril no frescor das cores e na beleza do mundo visível.

A realização das artistas góticos foi representar solidez da forma, ao passo que pintores anteriores mostravam um mudo essencialmente linear, carente de volume e pobre de substância (a despeito de seu vigor espiritual).

Para Giotto, o mundo real era a base de tudo. O pintor tinha verdadeira intuição da forma natural, criando uma maravilhosa solidez escultórica e uma humanidade sem afetações, características que mudaram os rumos da arte.

A Capela degli Scrovegni, em Pádua, Itália, está adornada com a maior das obras de Giotto que chegaram até nós, um ciclo de afrescos pintado por volta de 1305 para mostrar cenas da vida da Virgem e da Paixão.Os afrescos dão volta s paredes da capela.

Outros artistas sobressaíram na pintura gótica, sendo eles: Simone Martini (discípulo de Duccio), os irmãos Lorenzetti Pietro e Ambrogio (identificaram com Giotto).

Fonte: www.fag.edu.br/www.nemed.he.com.br/br.geocities.com

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