Barragem de Cahora Bassa

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Construída por portugueses na década de 70, a barragem de Cahora Bassa é ainda uma das mais importantes de toda a África. Assinalável é também o potencial de desenvolvimento do turismo cinegético e de natureza na região, que tem atraído, sobretudo, gente dos países vizinhos. Visitar a barragem é, por si mesmo, uma razão para a viagem à província de Tete.

O ZAMBEZE AGRILHOADO

Barragem de Cahora Bassa
Albufeira de Cahora Bassa

São sete da manhã em Tete. Amanheceu há pouco mais de duas horas, mas a temperatura sobe com firmeza a caminho dos trinta graus. Depois, lá mais para o meio do dia, há-de tocar os quarenta ou mais.

O clima da província é conhecido pelos seus rigores de canícula tropical, e os ecossistemas locais reflectem, naturalmente, essa condição: as florestas de embondeiros são um dos paradigmas paisagísticos da província de Tete.

A estrada para o Songo segue para norte, correndo na margem da grande esteira de água do Zambeze. De um e outro lado, durante os cento e cinquenta quilómetros que nos separam da zona montanhosa de Cahora Bassa, avistaremos sucessivamente aldeias com espigueiros circulares e um ou mais embondeiros carregados de folhagem verde-escuro, acácias na flor de Dezembro, mangueiras carregadas de mangas, cabritos e cabritos que parecem crescer como cogumelos do chão, ribeiros vazios em cujos leitos correram já, há poucos dias, as primeiras águas do verão austral.

Muito perto do Songo, a povoação que nasceu e cresceu com a construção da barragem, a estrada torna-se mais e mais sinuosa e subimos a pique, enquanto o horizonte se vai enchendo de recortes montanhosos e a vegetação se torna mais heterogénea. Nas machambas à volta da vila, e mesmo no espaço urbano, o clima temperado da região revela-se nas variadas árvores de fruto – com a surpresa, por exemplo, de romãnzeiras a reinar em quintais que são um pouco como pequenos jardins botânicos.

CAHORA BASSA , ONDE O TRABALHO

Barragem de Cahora Bassa
Barragem de Cahora Bassa

Talvez Capelo e Ivens tenham passado por ali perto, quase no final da sua travessia africana, de costa a costa. Entraram no que é actualmente território moçambicano pelo Zumbo, povoado fronteiriço que tem o Zimbabué do outro lado da linha e ao qual hoje se chega melhor navegando ao longo dos mais de duzentos e cinquenta quilómetros da imensa albufeira de Cahora Bassa. A visão do Zambeze e das suas águas impetuosas, correndo entre fraguedos de respeito, mereceu mais do que uma passagem do diário de viagem dos dois exploradores.

Numa delas, por contraste, deixam uma imagem concisa da impressão que o grande rio lhes causou: “A nossos pés corria um rio, que, açoitado por brisa fresca, encrespava ligeiramente a superfície da água, deslizando de manso para o meio-dia. Era o Aruangoa. À mão direita, um outro lençol de água de mais avultadas proporções, resplendia à luz do sol, deslizando rápido por entre as serras e campinas que o marginam. Era o Zambeze”.

O local é realmente singular e terá sido Gago Coutinho, ao sobrevoar a região nos anos 20, quem primeiro assinalou as extraordinárias características da garganta. No final da década de 50 foi delineado um projecto de desenvolvimento e exploração dos recursos do Vale do Zambeze, que abrangia vários sectores – agrícola, mineiro, silvícola, energético. As obras de construção da barragem, dirigidas pelo engenheiro Fernando Braz de Oliveira, foram lançadas em 1969 e concluídas ainda antes da independência de Moçambique.

A zona das gargantas onde o Zambeze se encontra agora agrilhoado, e onde está implantada a barragem, era já – muito antes da passagem da dupla de viajantes portugueses e de Livingstone se ter desiludido quanto à integral navegabilidade do rio – referenciada pelas populações locais devido ao obstáculo intransponível dos rápidos. O nome de Cahora Bassa tem justamente a ver com isso: significa “acabou o trabalho”. Para os barcos e para os carregadores que subiam o Zambeze no tempo colonial era impossível continuar mais além.

O complexo hidroeléctrico, o segundo mais importante de África, é constituído por uma barragem em abóbada de dupla curvatura, com 164 metros de altura e 300 de altura, e oito comportas. A conduta forçada tem quase dez metros de diâmetro e 172 de comprimento. Para se chegar à central, percorre-se um túnel, em declive, de 1600 metros de comprimento.

É aí que estão os cinco geradores actualmente instalados, capazes de debitarem uma potência máxima de 2075 MW. O potencial de produção (que poderá ser ampliado numa segunda fase) contempla não só o abastecimento de energia eléctrica a Moçambique como também aos vizinhos Zimbabué e África do Sul (e, futuramente, o Malawi).

O país de Mandela é, aliás, o principal cliente da energia produzida – à volta de 50% – e esteve, desde sempre, interessado no destino do aproveitamento, cujas linhas de transporte (mais de mil quilómetros) foram alvo de sucessivos actos de sabotagem durante a guerra civil moçambicana, nos anos 80.

TIGRES AQUÁTICOS EM CAHORA BASSA

Um embondeiro na berma da estrada, região de Tete, Moçambique
Um embondeiro na berma da estrada, região de Tete, Moçambique

Para além da barragem, o Songo pouco mais tem a oferecer ao viajante – salvo um relativo refrigério, comparado com o clima da província, onde as temperaturas sobem frequentemente até aos cinquenta graus.

Mas cabe lembrar que a região fez parte outrora do mítico reino do Monomotapa, cuja capital se localizava largas centenas de quilómetros para oeste, onde é hoje o Zimbabué. E no centro do Songo podemos ver vestígios arqueológicos (uma plataforma granítica e restos de muralhas e uma torre) desse tempo, fragmentos de estruturas que terão pertencido a uma povoação erguida naquela época.

O estilo e as datações efectuadas confirmam que não é coincidência a semelhança dessas estruturas com as “dagas” que encontramos nas ruínas arqueológicas (as maiores da África subsariana) do chamado “Great Zimbabwe”, um recinto classificado pela UNESCO que se situa a trezentos quilómetros ao sul de Harare.

A albufeira de Cahora Bassa converteu-se também num recurso para várias actividades económicas, entre as quais o turismo, e à semelhança do que acontece noutras paragens moçambicanas, deve-se a sul-africanos parte significativa do que tem sido feito.

Neste caso, há ainda alguns recém-chegados da antiga província de Cecil Rhodes que se dedicam à exploração piscícola da albufeira, exportando depois o fruto da pescaria para o Zimbabué, actualmente a braços com uma séria penúria alimentar.

Mas o imenso lago formado pela água retida pela barragem atraiu igualmente projectos de cariz lúdico, como o Ugezi Tiger Lodge, situado na margem da albufeira e rodeado de embondeiros.

Dois anos depois do fim da guerra civil, as instalações começaram a tomar forma (no estilo sul-africano que combina com harmonia madeira e pedra) e a oferta turística destinada a um nicho muito especial alcançou um sucesso evidente.

O que atrai, sobretudo, os turistas sul-africanos são as jornadas de pesca desportiva na albufeira.

O peixe tigre, autóctone do Zambeze, é a espécie mais desejada pelos pescadores. As fotos afixadas nos painéis onde os hóspedes deixam as suas impressões dão uma ideia da luta que proporcionam aos aficionados da actividade.

Os pesos médios rondam os seis ou sete quilos, mas já foram capturados exemplares de muito maior respeito, com mais de quinze quilos. Não admira, pois, que lá arribem aficionados da pesca vindos de bem mais longe, nomeadamente de alguns países da União Europeia.

Fonte: www.almadeviajante.com

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