Sociologia: definição, surgimento e formação
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Este texto tem como objetivo apresentar uma noção geral do que seja a Sociologia, bem como as condições sócio-históricas para o seu surgimento e formação. Uma primeira aproximação da Sociologia, enquanto disciplina escolar, fica evidente que ela tem a sociedade em suas múltiplas dimensões (social, política, econômica, cultural, etc) como objeto primordial de análise.
Isso possibilita ao aluno uma compreensão das relações sociais, do funcionamento das instituições, dos limites e possibilidades que os direitos e deveres impõem. No limite, ainda que as demais disciplinas das Ciências Humanas tratam, em alguma medida, de fenômenos sociais, a Sociologia propõe uma análise que se pretende desnaturalizar sistemas de dominação, pensar relações de poder, desenvolver as potencialidades do ser humano na sua relação consigo e com os membros de sua comunidade social e política, levar o aluno a compreender-se como possuidor de uma identidade e respeitar as diferenças e diversidades.
DEFINIÇÃO
A Sociologia é a área das ciências sociais e humanas que incorpora ao saber científico o mundo social que até então não era pensado em termos propriamente científicos. Nesse sentido, a Sociologia, partindo de métodos de experimentação, observação, comparação (aos moldes dos aplicados nas ciências físico-naturais) observa a realidade social procurando compreender, explicar e transformar as relações de produção de existência humana. Isso possibilitaria intervenções mais assertivas nos problemas sociais visando equalizá-los ou eliminá-los a depender das necessidades que surgirem no processo de leitura do real.
A Sociologia, juntamente com a Antropologia e Ciência Política integra as denominadas Ciências Sociais que têm como objetivo estudar cientificamente os aspectos sociais, culturais, simbólicos e políticos da comunidade humana, bem como explicar as transformações oriundas da sociedade moderna capitalista, tais como: a revolução industrial e francesa e a consequente configuração de novas relações trabalhistas, a urbanização, a expansão dos mercados e processos colonizatórios na Ásia e África. Essas e várias outras transformações impuseram a necessidade de teóricos formularem novas leituras do real capazes de não apenas explicar, mas transformar a realidade social vivida.
SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA
A tradicional busca por um marco para o surgimento da Sociologia costuma ser datada no século XVIII, momento de grandes transformações econômicas, políticas e culturais advindas dos processos revolucionários industrial e francês que culminaram na configuração de uma sociedade capitalista. Desse modo, de acordo com o professor Carlos B. Martins: “são os acontecimentos desencadeados pela dupla revolução que a precipitam e a tornam possível”. Daí o século XVIII constituir-se um marco para a Sociologia, ainda que a palavra só surja no século seguinte, por volta de 1830.
CONTEXTUALIZAÇÃO
A consolidação da sociedade capitalista, a partir da dupla revolução, emerge sobre os destroços de costumes e instituições impondo novas formas de existência, bem como novas relações de trabalho fabril com imposição de jornadas exaustivas, modificando as formas habituais de trabalho com as quais o trabalhador estava acostumado no período pré-revolução industrial. Martins (2006), além de sinalizar a configuração de novas relações trabalhistas, motivadas pela rápida industrialização e urbanização, pontua “o aumento assustador da prostituição, do suicídio, do alcoolismo, do infanticídio, da criminalidade, da violência, de surtos de epidemia de tifo e cólera” e a “desordenada migração do campo para a cidade”. Isso evidencia o tamanho da complexidade social, econômica e cultural das transformações que o advento da sociedade capitalista trouxe para a sociedade moderna tornando-a um problema a ser investigado e, sem dúvida alguma, um prato cheio para os estudos sociológicos.
FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA
A formação da Sociologia, como bem relembra o professor Carlos B. Martins, em sua obra O que é Sociologia: é fortemente marcada pelo antagonismo de classes da sociedade capitalista, que impede a adesão unânime dos sociólogos a determinados entendimentos em torno dos objetos e métodos do fazer sociológico gerando “diferentes tradições sociológicas” que serão mais ou menos afeitas à ordem capitalista.
Carlos B. Martins pontua que, Comte, partindo de uma percepção anárquica e desordeira da sociedade europeia e sua declarada oposição aos iluministas (“os doutores em guilhotina”), Comte entende que a reorganização da sociedade de seu tempo pressupunha a fixação de princípios que norteassem a busca pelo conhecimento humano, a valorização da ciência e a constituição de uma física social que, adotando os métodos investigativos das ciências da natureza alcançasse a compreensão social. Desse modo, como bem sinaliza Martins, na obra de Comte “sociologia e positivismo aparecem intimamente ligados, uma vez que a criação desta ciência marcaria o triunfo final do positivismo no pensamento humano”. Em outras palavras, na perspectiva comteana, o positivismo orienta a formação da sociologia em direção à ordem e progresso social.
Outro nome que merece destaque, em se tratando do processo de formação da Sociologia é Emile Durkheim (1858-1917) que se ocupou de estabelecer o objeto de estudo e métodos de investigação para a Sociologia. Para Durkheim, a Sociologia se distingue das demais ciências por ter como objeto de estudo os “fatos sociais”, externos aos indivíduos e coercitivos, modelando comportamentos esperados pela comunidade. Quanto aos métodos de investigação e análise da sociedade, o positivismo durkheimiano propõe a utilização dos procedimentos das ciências naturais. Como bem pontua Martins (2006), “a função da sociologia, nessa perspectiva, seria a de detectar e procurar soluções para os ‘problemas sociais’, restaurando a ‘normalidade social’ e se convertendo numa técnica de controle social e de manutenção do poder vigente”.
O aparecimento do proletariado, enquanto classe revolucionária, cria as condições necessárias para o aparecimento de uma nova teoria crítica da sociedade, de vertente socialista, visando a superação da ordem capitalista vigente. Marx e Engels, diferentemente de Comte e Durkheim, como bem pontua Martins, “não estavam preocupados em fundar a sociologia como disciplina específica”, mas precisamente em “estabelecer uma ligação entre teoria e prática, ciência e interesse de classe”. Desse modo, essa teoria social, de inspiração marxista, “despertou a vocação crítica da sociologia, unindo explicação e alteração da sociedade”. Essa abordagem se opõe às pretensões positivistas de fundar uma ciência social “neutra” para efetivamente representar a classe operária nas contradições do sistema capitalista, especialmente, entre o proletariado e a burguesia.
Ainda falando do surgimento da Sociologia, cumpre destaque a figura de Max Weber (1864-1920), que defenderá a neutralidade científica da Sociologia. Assim, as preferências políticas e ideológicas do sociólogo profissional não poderiam integrar a sua análise e interpretação científica da realidade social. Martins, justificando essa posição polêmica de Weber, pontua que muitos estudiosos já entendem que a pretensa neutralidade da sociologia defendida por Weber foi um recurso para “manter a autonomia da sociologia em face da burocracia e do Estado alemão da época”.
A investigação sociológica desenvolvida por Weber foca no indivíduo e suas ações e não mais nas instituições e grupos sociais como fizeram os conservadores. Essa postura levou Weber a se opor às ideias positivistas, e recusar a aplicação dos métodos das ciências naturais na sociologia. Como bem relembra Martins, Weber, “ao contrário de Marx, não considerava o capitalismo um sistema injusto, irracional e anárquico”. Isso evidencia a dimensão tensa e contraditória, inerente ao pensamento sociológico, que afirmamos no início deste texto a partir da leitura de Martins (2006).
SUGESTÃO AUDIOVISUAL
Objetivando descontrair e, ao mesmo tempo, compreender as particularidades do trato sociológico dos fenômenos sociais por três grandes teóricos: Durkheim, Weber e Marx, sugerimos que ouça a paródia de Juliana Oliveira, Evillyn Gabriela e Gabriel Lopes da canção Trem Bala de Ana Vilela:
Fábio Guimarães de Castro
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia. São Paulo: Brasiliense, 2006.
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