Modernismo – O que é
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Modernismo é notoriamente difícil de definir claramente porque o termo engloba uma variedade de movimentos artísticos e filosóficos específicos, incluindo simbolismo, futurismo, surrealismo, expressionismo,imagismo, vorticismo e outros.
Para complicar ainda mais, muitos modernistas (incluindo alguns dos mais bem sucedidos e mais famoso), não são afiliados a nenhum destes grupos.
No entanto, existem alguns princípios básicos do período modernista que se aplicam, de uma maneira ou de outra, todos esses movimentos e os escritores e artistas não associados a eles: “literatura modernista é caracterizada principalmente por uma rejeição das tradições do século 19 e de o seu consenso entre autor e leito.
Modernismo é um período na história literária que começou por volta do início de 1900 e continuou até o início dos anos 1940.
Escritores modernistas em geral se rebelou contra narrativa clara e verso estereotipada do século 19. Em vez disso, muitos deles contavam histórias fragmentadas que refletiam o estado fragmentado da sociedade durante e após a Primeira Guerra Mundial I.
Definição
Modernismo é um estilo de arte, arquitetura, literatura, etc, que utiliza ideias e métodos que são muito diferentes dos utilizados no passado.
Modernismo é mais uma maneira de pensar do que um estilo. Os modernistas acreditavam que o design de um objeto deve ser baseada puramente em seu propósito – que “a forma segue a função”.
Modernismo – Origem
O modernismo surgiu em Portugal por volta de 1915, com a publicação das revistas Orfeu (1915), Centauro (1916) e Portugal Futurista (1919).
A primeira atitude dos novos escritores foi de esquecer o passado, desprezar o sentimentalismo falso dos românticos e adotar uma participação ativa e dentro primar pela originalidade de idéias e, na poesia, não deveriam se prender à rima e à métrica.
Os autores modernos não fundaram propriamente uma nova escola literária, com regras rígidas. Pelo contrário, desvincularam-se das teorias das escolas anteriores e procuraram para transmitir suas emoções, os fatos da vida atual e a realidade do país de uma forma livre e descompromissada.
Percebe-se nos autores modernos um vocabulário cheio de expressões coloquiais, traduzindo a fala típica brasileira, versos livres, estilo consisco.
No Brasil ocorreram fatos fatos para o surgimento do Modernismo:
1912: Oswald de Andrade vai à Europa e volta imbuído do futurismo de Marinetti. Futurismo é o nome dado ao movimento modernista que se baseia numa vida dinâmica, voltada para o futuro, e que combate o passado, as tradições, o sentimentalismo, prega formas novas e nítidas.
1915: Monteiro Lobato publica em O Estado de S. Paulo dois artigos: “Urupés” e “Velha Praga”, em que condena o regionalismo sentimental e idealista.
1917: Anita Malfati lança na pintura o cubismo, que despreza perspectiva convencional e representa os objetos com formas geométricas.
1921: Graça Aranha volta da Europa e publica estética da Vida, em que condena os padrões da época.
1922: Semana de Arte Moderna em São Paulo, com sessões, conferências, recitais, exposição de artes plásticas. Participaram desta semana: Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Guilherme de Almeida, Menotti del Picchia, Graça Aranha, Ronald de Carvalho, Guiomar Novais, Paulo Prado, etc. Estava fundado o Modernismo no Brasil. Apesar do forte impacto causado pelo movimento, o Modernismo se manteve devido á grande divulgação no s jornais e revistas da época.
O movimento modernista passou por três fases distintas:
1º fase (1922-1928): Nesta primeira fase, os autores procuraram destruir e menosprezar a literatura anterior, dando ênfase a um nacionalismo exagerado, ao primitivismo e repudiando todo o nosso passado histórico.
2ª fase (1928-1945): Período de construção, com idéias literárias inovadoras e coerentes. Abrem esta fase construtiva Mário de Andrade, com a obra Macunaíma, e José Américo de Almeida, com A Bagaceira.
3ª fase: Nesta fase os autores fogem aos excessos e primam pela ordem sobre os caos que foi a geração.
A divulgação, no Brasil, das teorias vanguardistas européias é feita, em 1922, pela Semana de Arte Moderna. Com a chamada Geração de 22, instalam-se, na literatura brasileira, a escrita automática, influenciada pelos surrealistas franceses, o verso livre, o lirismo paródico, a prosa experimental e uma exploração criativa do folclore, da tradição oral e da linguagem coloquial. Em seu conjunto, essa é uma fase contraditória, de ruptura com o passado literário, mas, ao mesmo tempo, de tentativa de resgate de tradições tipicamente brasileiras.
O ataque de Monteiro Lobato, em 1917, à exposição de Anita Malfatti é respondido com a Semana. Em torno dela, surgem Mário de Andrade (Paulicéia desvairada, Macunaíma), Oswald de Andrade (Memórias sentimentais de João Miramar), Manuel Bandeira (Ritmo dissoluto), Cassiano Ricardo (Martim-Cererê) e movimentos como o da Revista de Antropofagia e o do Pau-Brasil, ambos liderados por Oswald, ou o da revista Verde, de Cataguazes, sempre com tendências nacionalistas.
A esse núcleo juntam-se Carlos Drummond de Andrade (Alguma poesia), Augusto Meyer (Giraluy), Mário Quintana (A rua do catavento), Jorge de Lima (Poemas negros) e o romancista José Lins do Rego (Menino de engenho).
Em reação ao liberalismo desse grupo, o Verde-amarelismo e o movimento Anta, de 1926, ambos comandados por Plínio Salgado e contando com poetas como Menotti del Picchia (Juca Mulato), fecham-se às vanguardas européias e aderem a idéias políticas que prenunciam o integralismo, versão brasileira do fascismo.
Mário Raul de Morais Andrade (1893-1945), nasce em São Paulo. Formado em música, trabalha como crítico de arte e professor. É um dos mais importantes participantes da Semana de 22. Pesquisa o folclore brasileiro e o utiliza em suas obras, distanciando-se da postura de valorizar somente o que é europeu. Esses estudos são utilizados em Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, onde traça o perfil do herói brasileiro, produto de uma grande mistura étnica e cultural.
José Oswald de Sousa Andrade (1890-1954), trabalha como jornalista e cursa direito, sempre em São Paulo. De família rica, viaja várias vezes para a Europa. É quem melhor representa o espírito rebelde do modernismo.
Funda a Revista de antropofagia, em 1927, onde afirma ser necessário que o Brasil devore a cultura estrangeira e, na digestão, aproveite suas qualidades para criar uma cultura própria. Em Memórias sentimentais de João Miramar analisa de forma sarcástica o fenômeno urbano.
Geração de 30
O clima decorrente da Revolução de 30 ajuda a consolidar as revoluções propostas, ainda de forma desorganizada, em 22. Poetas como Drummond (A rosa do povo), Bandeira (Estrela da vida inteira) ou romancistas como Lins do Rego (Fogo morto) atingem a maturidade.
Surgem nomes novos: Érico Veríssimo (a trilogia O tempo e o vento), Jorge Amado (Capitães de areia, Seara vermelha), Rachel de Queirós (O quinze), José Geraldo Vieira (A mulher que fugiu de Sodoma), Alcântara Machado (Brás, Bexiga e Barra Funda) e, principalmente, Graciliano Ramos (Vidas secas). Essa é uma fase de grande tensão ideológica e de abordagem da literatura como um instrumento privilegiado de conhecimento e modificação da realidade.
Numa linha mais intimista, surgem poetas como Cecília Meireles (Vaga música), Vinícius de Moraes (Poemas, sonetos e baladas), o regionalista Raul Bopp (Cobra Norato), Augusto Frederico Schmidt (Desaparição da amada) e Henriqueta Lisboa (A face lívida), influenciados pelo Neo-simbolismo europeu; e prosadores como Cornélio Pena (A menina morta), Lúcio Cardoso (Crônica da casa assassinada), Dionélio Machado (Os ratos).
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) nasce em Itabira, Minas Gerais. Forma-se em farmácia, mas trabalha como funcionário público por muitos anos.
Antes de se mudar para o Rio de Janeiro, na década de 30, funda A revista, onde divulga as idéias modernistas em Minas. Sua poesia não se restringe a esse movimento, mas é marcada pela ironia, pelo anti-retórico e pela contenção. Em Rosa do povo, de 1945, faz uma poesia de certa forma engajada, nascida das esperanças surgidas com o fim da Segunda Guerra Mundial. Mas a partir de Claro enigma, de 1951, registra o vazio da vida humana e o absurdo do mundo, sem nunca abandonar a ironia.
Graciliano Ramos (1892-1953) nasce em Quebrângulo, Alagoas. Trabalha como jornalista, comerciante, diretor da Instrução Pública de Alagoas. Chega a ser eleito prefeito de Palmeira dos Índios (AL), em 1928. Acusado de subversão, passa 11 meses preso no Rio de Janeiro, período que narra em Memórias do cárcere. Com uma linguagem precisa, de poucos adjetivos, mostra conhecimento das angústias humanas e preocupação com os problemas sociais. Seus personagens não se adaptam ao mundo que os cerca. Paulo Honório, de São Bernardo, sabe como administrar suas terras, mas é incapaz de lidar com sentimentos. Na sua obra destacam-se também Vidas secas e Angústia.
Geração de 45
Em reação à postura muito politizada da fase anterior, os poetas dessa geração voltam para um neo-parnasianismo, que se preocupa com o apuro formal e foge a temas considerados banais. Dentre esses autores Geir Campos (Coroa de sonetos), Péricles Eugênio da Silva Ramos (Poesia quase completa), Alphonsus de Guimaraens Filho (Lume de estrelas), Ledo Ivo (Acontecimento do soneto) destaca-se João Cabral de Melo Neto (Educação pela pedra, Morte e vida severina), pela inventividade verbal e intensidade da participação nos problemas sociais. O mais importante livro de poesia dessa fase, influenciado pelas idéias dessa geração de artistas, é Claro enigma, de Carlos Drummond de Andrade. Na prosa, João Guimarães Rosa e Clarice Lispector (A maçã no escuro) revolucionam o uso da linguagem.
João Guimarães Rosa (1908-1967) nasce em Cordisburgo, Minas Gerais. Médico, torna-se diplomata em 1934. Exerce a medicina no interior de Minas. Como diplomata trabalha em Hamburgo (Alemanha), Bogotá (Colômbia) e Paris (França).
Sua obra explora o manancial dos falares regionais, pondo-o a serviço de uma escrita complexa, de imensa criatividade: Grande sertão: veredas é uma epopéia ambientada no interior de Minas Gerais, que transpõe para o Brasil o mito da luta entre o ser humano e o diabo.
Clarice Lispector (1926-1977) vem da Ucrânia para o Brasil recém-nascida e é levada pela família para o Recife. Em 1934 muda-se para o Rio de Janeiro. Escreve o primeiro romance, Perto do coração selvagem, aos 17 anos. Em livros como A paixão segundo GH, Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, A hora da estrela leva o subjetivo ao limite, deixando à mostra o fluxo da consciência e rompendo com o enredo factual.
João Cabral de Melo Neto, pernambucano, trabalha grande parte de sua vida na Espanha como diplomata. Sua poesia objetiva recusa sentimentalismos e traços supérfluos. Morte e vida severina, relato da viagem de um nordestino para o litoral que, no seu caminho, só encontra sinais de morte, é a obra que melhor equilibra rigor formal e temática social.
Modernismo – Brasil
Tendência vanguardista que rompe com padrões rígidos e caminha para uma criação mais livre, surgida internacionalmente nas artes plásticas e na literatura a partir do final do século XIX e início do século XX. É uma reação às escolas artísticas do passado. Como resultado desenvolvem-se novos movimentos, entre eles o expressionismo, o cubismo, o dadá, o surrealismo e o futurismo.
No Brasil, o termo identifica o movimento desencadeado pela Semana de Arte Moderna de 1922. Em 13, 15 e 17 de fevereiro daquele ano, conferências, recitais de música, declamações de poesia e exposição de quadros, realizados no Teatro Municipal de São Paulo, apresentam ao público as novas tendências das artes do país. Seus idealizadores rejeitam a arte do século XIX e as influências estrangeiras do passado. Defendem a assimilação das tendências estéticas internacionais para mesclá-las com a cultura nacional, originando uma arte vinculada à realidade brasileira.
A partir da Semana de 22 surgem vários grupos e movimentos, radicalizando ou opondo-se a seus princípios básicos. O escritor Oswald de Andrade e a artista plástica Tarsila do Amaral lançam em 1925 o Manifesto da Poesia Pau-Brasil, que enfatiza a necessidade de criar uma arte baseada nas características do povo brasileiro, com absorção crítica da modernidade européia.
Em 1928 levam ao extremo essas idéias com o Manifesto Antropofágico, que propõe “devorar” influências estrangeiras para impor o caráter brasileiro à arte e à literatura. Por outro caminho, mais conservador, segue o grupo da Anta, liderado pelo escritor Menotti del Picchia (1892-1988) e pelo poeta Cassiano Ricardo (1895-1974). Em um movimento chamado de verde-amarelismo, fecham-se às vanguardas européias e aderem a idéias políticas que prenunciam o integralismo, versão brasileira do fascismo.
O principal veículo das idéias modernistas é a revista Klaxon, lançada em maio de 1922.
Artes plásticas Uma das primeiras exposições de arte moderna no Brasil é realizada em 1913 pelo pintor de origem lituana Lasar Segall. Suas telas chocam, mas as reações são amenizadas pelo fato de o artista ser estrangeiro. Em 1917, Anita Malfatti realiza a que é considerada de fato a primeira mostra de arte moderna brasileira. Apresenta telas influenciadas pelo cubismo, expressionismo, fauvismo e futurismo que causam escândalo, entre elas A Mulher de Cabelos Verdes.
Apesar de não ter exposto na Semana de 22, Tarsila do Amaral torna-se fundamental para o movimento. Sua pintura é baseada em cores puras e formas definidas. Frutas e plantas tropicais são estilizadas geometricamente, numa certa relação com o cubismo. Um exemplo é Mamoeiro. A partir dos anos 30, Tarsila interessa-se também pelo proletariado e pelas questões sociais, que pinta com cores mais escuras e tristes, como em Os Operários.
Di Cavalcanti retrata a população brasileira, sobretudo as classes sociais menos favorecidas. Mescla influências realistas, cubistas e futuristas, como em Cinco Moças de Guaratinguetá. Outro artista modernista dedicado a representar o homem do povo é Candido Portinari, que recebe influência do expressionismo. Entre os muitos exemplos estão as telas Café e Os Retirantes.
Distantes da preocupação com a realidade brasileira, mas muito identificados com a arte moderna e inspirados pelo dadá, estão os pintores Ismael Nery e Flávio de Carvalho (1899-1973). Na pintura merecem destaque ainda Regina Graz (1897-1973), John Graz (1891-1980), Cícero Dias (1908-) e Vicente do Rego Monteiro (1899-1970).
O principal escultor modernista é Vitor Brecheret. Suas obras são geometrizadas, têm formas sintéticas e poucos detalhes. Seu trabalho mais conhecido é o Monumento às Bandeiras, no Parque Ibirapuera, em São Paulo. Outros dois escultores importantes são Celso Antônio de Menezes (1896-) e Bruno Giorgi (1905-1993).
Na gravura, o modernismo brasileiro possui dois expoentes. Um deles é Osvaldo Goeldi (1895-1961). Identificado com o expressionismo, cria obras em que retrata a alienação e a solidão do homem moderno. Lívio Abramo (1903-1992) desenvolve também um trabalho com carga expressionista, porém engajado socialmente.
A partir do final dos anos 20 e início da década de 30 começam a se aproximar do modernismo artistas mais preocupados com o aspecto plástico da pintura.
Utilizam cores menos gritantes e composição mais equilibrada. Entre eles destacam-se Alberto Guignard (1896-1962), Alfredo Volpi, depois ligado à abstração, e Francisco Rebolo (1903-1980).
O modernismo enfraquece a partir dos anos 40, quando a abstração chega com mais força ao país. Seu final acontece nos anos 50 com a criação das bienais, que promovem a internacionalização da arte do país.
Literatura
Uma das principais inovações modernistas é a abordagem de temas do cotidiano, com ênfase na realidade brasileira e nos problemas sociais. O tom é combativo. O texto liberta-se da linguagem culta e passa a ser mais coloquial, com admissão de gírias. Nem sempre as orações seguem uma seqüência lógica e o humor costuma estar presente. Objetividade e concisão são características marcantes. Na poesia, os versos tornam-se livres, e deixa de ser obrigatório o uso de rimas ricas e métricas perfeitas.
Os autores mais importantes são Oswald de Andrade e Mário de Andrade, os principais teóricos do movimento. Destacam-se ainda Menotti del Picchia e Graça Aranha (1868-1931). Em sua obra, Oswald de Andrade várias vezes mescla poesia e prosa, como em Serafim Ponte Grande. Na poesia, Pau-Brasil é um de seus principais livros.
A primeira obra modernista de Mário de Andrade é o livro de poemas Paulicéia Desvairada. Sua obra-prima é o romance Macunaíma, o Herói sem Nenhum Caráter, que usa fragmentos de mitos de diferentes culturas para compor uma imagem de unidade nacional. Embora muito ligada ao simbolismo, a poesia de Manuel Bandeira também exibe traços modernistas. Um exemplo é o livro Libertinagem.
O modernismo vive uma segunda fase a partir de 1930, quando é lançado Alguma Poesia, de Carlos Drummond de Andrade. Os temas sociais ganham destaque e o regionalismo amplia sua temática. Paisagens e personagens típicos são usados para abordar assuntos de interesse universal.
Entre os que exploram o romance social voltado para o Nordeste estão Rachel de Queiroz, de O Quinze, Graciliano Ramos, de Vidas Secas, Jorge Amado, de Capitães da Areia, José Américo de Almeida, de A Bagaceira, e José Lins do Rego (1901-1957), de Menino de Engenho. Surgem ainda nessa época os romances de introspecção psicológica urbanos, como Caminhos Cruzados, de Érico Veríssimo.
Numa linha mais intimista estão poetas como Cecília Meireles, autora de Vaga Música, Vinicius de Moraes, de Poemas, Sonetos e Baladas, Augusto Frederico Schmidt (1906-1965), de Desaparição da Amada, e Henriqueta Lisboa (1904-1985), de A Face Lívida.
A terceira fase do modernismo tem início em 1945. Os poetas retomam alguns aspectos do parnasianismo, como Lêdo Ivo, de Acontecimento do Soneto. João Cabral de Melo Neto, de Morte e Vida Severina, destaca-se pela inventividade verbal e pelo engajamento político.
Na prosa, os principais nomes são Guimarães Rosa, autor de Grande Sertão: Veredas, e Clarice Lispector, de Perto do Coração Selvagem.
Música
O modernismo dá prosseguimento às mudanças iniciadas com o impressionismo e o expressionismo, rompendo ainda mais com o sistema tonal (música estruturada a partir da eleição de uma das 12 notas da escala como a principal). Os movimentos musicais modernistas são o dodecafonismo, o neoclassicismo e as escolas nacionais (que exploram o folclore de cada país), predominantes internacionalmente de 1910 a 1950.
Heitor Villa-Lobos é o principal compositor no Brasil e consolida a linguagem musical nacionalista. Para dar às criações um caráter brasileiro, busca inspiração no folclore e incorpora elementos das melodias populares e indígenas.
O canto de pássaros brasileiros aparece em Bachianas nº 4 e nº 7. Em O Trenzinho Caipira, Villa-Lobos reproduz a sonoridade de uma maria-fumaça, e em Choros nº 8 busca imitar o som de pessoas numa rua. Nos anos 30 e 40, sua estética serve de modelo para compositores como Francisco Mignone (1897-1986), Lorenzo Fernandez (1897-1948), Radamés Gnattali (1906-1988) e Camargo Guarnieri (1907-1993).
Teatro
O modernismo influencia tardiamente a produção teatral. Só em 1927 começam as inovações nos palcos brasileiros. Naquele ano, o Teatro de Brinquedo, grupo experimental liderado pelo dramaturgo e poeta Álvaro Moreyra (1888-1965), monta Adão, Eva e Outros Membros da Família.
A peça, em linguagem coloquial e influenciada pelo marxismo, põe pela primeira vez em cena dois marginais: um mendigo e um ladrão.
Ainda na década de 20 são fundadas as primeiras companhias de teatro no país, em torno de atores como Leopoldo Fróes (1882-1932), Procópio Ferreira (1898-1979), Dulcina de Moraes (1908-1996) e Jaime Costa (1897-1967). Defendem uma dicção brasileira para os atores, até então submetidos ao sotaque e à forma de falar de Portugal. Também inovam ao incluir textos estrangeiros com maior ousadia psicológica e visão mais complexa do ser humano.
A peça O Rei da Vela (1937), de Oswald de Andrade, é considerada o primeiro texto modernista para teatro. Nas experiências inovadoras anteriores, apenas a encenação tinha ares modernistas ao incluir a pintura abstrata nos cenários e afastá-los do realismo e do simbolismo. Mas o texto de Oswald de Andrade trata com enfoque marxista a sociedade decadente, com a linguagem e o humor típicos do modernismo.
A peça O Bailado do Deus Morto, de Flávio de Carvalho, é uma das primeiras montagens modernistas, encenada pela primeira vez em 15 de novembro de 1933, em São Paulo. Mescla teatro, dança, música e pintura. É o primeiro espetáculo com texto livre, improvisado, cenário impactante, linguagem popular e uso de palavrão, sem preocupação com a seqüência lógica de acontecimentos.
Arte Moderna no Brasil
A arte moderna no Brasil tem uma espécie de data oficial de nascimento. É fevereiro de 1922, quando se realizou, no Teatro Municipal de São Paulo, a Semana de Arte Moderna. A “Semana”, que apresentou eventos em diversas áreas, foi o resultado dos esforços conjugados de intelectuais, poetas e artistas plásticos, apoiados e patrocinados, inclusive financeiramente, pelos chamados “barões do café”, a alta burguesia cujas fortunas vinham do cultivo e/ou exportação desse produto.
Naturalmente, a arte moderna brasileira não “nasceu”, de fato, num ano exato. Alguns acontecimentos prepararam a “Semana”, destacando-se, em 1917, uma polêmica exposição de Anita Malfatti, que estudara na Alemanha e mostrava em sua pintura uma nítida influência do expressionismo. De qualquer forma, 1922 (ano também do centenário da independência do Brasil e da fundação do Partido Comunista no País) ficou sendo a data símbolo.
Um dos participantes e grandes apoiadores da “Semana” (assim como de todos os movimentos intelectuais progressistas das décadas seguintes) foi o poeta e crítico Mário de Andrade que, em 1942, a ela se referiu como um movimento “essencialmente destruidor”. Mas não foi bem assim. Sem dúvida, a iniciativa tinha também seu caráter iconoclasta, mas construiu bem mais que destruiu.
Forneceu o ponto de partida para uma estética e uma prática efetivamente do nosso século numa arte até então conservadora. Os principais artistas plásticos que participaram da “Semana” foram os pintores Anita Malfatti (1896-1964), Vicente do Rego Monteiro (1899-1970), John Graz (1891-1980) e Emiliano Di Cavalcanti, assim como Victor Brecheret (1894-1955), o maior escultor figurativo do século XX no Brasil.
Ao longo da década de 30, a nova estética e a nova prática artística – embora se mantivessem dentro dos limites do figurativismo – foram se firmando no Brasil, tanto através da ação de grupos quanto do trabalho isolado de criadores independentes. A esse período podemos chamar, genericamente, de modernismo.
Seu caráter figurativo não tinha o caráter histórico/épico que embasa, por exemplo, o muralismo mexicano. Na verdade, no Brasil não existiu uma cultura pré-colombiana desenvolvida, como a dos incas, maias e astecas; os índios brasileiros estavam num estágio muito mais rudimentar de civilização. O resgate de uma antiga identidade cultural destruída pelo colonizador europeu nunca foi, portanto, uma preocupação nacional brasileira. Isso não impede, é claro, que alguns artistas tenham tentado identificar e apreender em seu trabalho o que possa vir a ser “brasilidade”.
Desde o começo da década de 30 surgem novos grupos modernistas, especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. Como regra, não têm laços diretos com os precursores nem com os participantes da “Semana”, nem o mesmo empenho em teorizar sua produção.
O modernismo dos anos 20 era erudito, internacionalizante e, de certa forma, elitista. O dos novos grupos, não; queria refletir e participar diretamente da vida social. Talvez por isso, estilisticamente eram grupos algo tradicionalistas – o que não significava, entretanto, qualquer retorno ao passado acadêmico.
De 1931 a 1942 funcionou, no Rio, o Núcleo Bernardelli, cujos principais integrantes foram Bustamante Sá (1907-1988), Eugênio Sigaud (1899-1979), Milton Dacosta (1915-1988), Quirino Campofiorito (1902-1993) e José Pancetti (1904-1958).
Em 1932, fundaram-se em São Paulo a Sociedade Pró-Arte Moderna (SPAM) e o Clube dos Artistas Modernos (CAM). Talvez por estar em São Paulo (onde acontecera a “Semana”), a SPAM mantinha alguns laços com o primeiro modernismo. Os artistas mais importantes que dela participaram foram o imigrante lituano Lasar Segall (1891-1980), Tarsila do Amaral (1886-1973) e o escultor Victor Brecheret (1894-1955). Já no CAM, o líder incontestável foi Flávio de Carvalho (1899-1973).
Finalmente, em 1935/36, ainda em São Paulo, aglutinaram-se, de maneira informal, alguns pintores que hoje chamamos de Grupo Santa Helena. Os principais foram Francisco Rebolo (1903-1980), Aldo Bonadei (1906-1974), Mário Zanini (1907-1971), Clóvis Graciano (1907-1988) e Alfredo Volpi. O Grupo Santa Helena é um excelente exemplo das mudanças ocorridas desde a “Semana”. Esta fora patrocinada e usufruída pela aristocracia do café. Quanto aos artistas do “Santa Helena”, eram de origem humilde, imigrantes ou filhos de imigrantes, e produziam uma arte simples, cotidiana, em certo sentido proletária.
Após os movimentos dos anos 30, a arte moderna estava, enfim, bem assentada no Brasil. Na década de 40, assiste-se ao primeiro apogeu de Cândido Portinari (1903-1962), de Alberto da Veiga Guignard (1896-1962), de José Pancetti (1904-1958) etc. Começam suas carreiras os escultores Bruno Giorgi (1905-1993) e Alfredo Ceschiatti (1918- 1989).
Começam também a trabalhar, ainda como figurativos, vários dos futuros integrantes das tendências abstratas. Uma individualidade poderosa a registrar, a partir dessa década, e que continua em ação até hoje, é a do desenhista e gravador figurativo Marcelo Grassmann (1925), dono de um universo inconfundível, aparentado (por assim dizer) com a imemorial tradição expressionista e fantástica da arte da Europa Central. Grassmann desenha um mundo de damas e cavaleiros medievais, fantasmagorias e monstros engendrados pelo sonho da razão, como diria Goya.
Com raras exceções (destacando-se o Clube de Gravura de Porto Alegre, fundado em 1950, e que foi o movimento mais politizado até hoje na arte brasileira, praticando quase o realismo social), os anos 50 e 60 viram o triunfo das tendências abstratas. Só após 1965, quando se realiza no Rio a exposição Opinião 65, as novas gerações retomam a arte figurativa.
Essa retomada se faz nos mesmos moldes em que ela foi reaparecendo em todo o mundo: a nova figuração, de índole crítica, muitas vezes socialmente engajada; a crônica da contemporaneidade e da sociedade de consumo, influenciada pela pop art; e assim por diante. Opinião 65 constituiu a primeira de uma série de exposições e eventos, happenings, investigações de linguagem e buscas do novo em todos os sentidos.
Seus principais participantes foram: Antônio Dias (1944), Carlos Vergara (1941), Hélio Oiticica (1937), Roberto Magalhães (1940) e Rubens Gerchman (1942).
Mencionaremos ainda aqui o Grupo Rex (1966/67), a Bienal da Bahia (1966 e 68) e a mostra Nova Objetividade Brasileira (1967).
Em sintonia com o que ia acontecendo no resto do mundo, a década de 70 começa no Brasil com um certo arrefecimento das vanguardas. “A primeira atitude dos anos 70 foi substituir o ativismo pela reflexão, a emoção pela razão, o objeto pelo conceito e, no extremo da proposta, a vida pela arte” – escreve o crítico Frederico Morais (Cadernos História da Pintura no Brasil, volume 6, Instituto Cultural Itaú). Brota daí a arte conceitual, que também se afirma no Brasil.
Dentre os artistas mais significativos de alguma forma ligados à tendência conceitual, devem ser citados: Mira Schendel (1919-1988) – na verdade, uma artista polimorfa, de trajetória muito variada, que investigou inúmeros filões; Waltércio Caldas (1946); Artur Alípio Barrio (1945), Cildo Meirelles (1948), Tunga (1952). Curiosamente, estes quatro vivem no Rio.
Em São Paulo, manteve-se mais a tradição objetual, e artistas como Luís Paulo Baravelli (1942), José Rezende (1945) e Carlos Fajardo (1941) formularam propostas próprias sem recusar os suportes históricos da arte. Enfim, nos anos 70, atingem sua maturidade alguns artistas que estão hoje no apogeu e se conservaram, no essencial, independentes dos modelos internacionais e vanguardismos que continuaram chegando através das bienais. Poderíamos chamá-los de os mestres de hoje.
Para concluir, os anos 80 e 90 são, como em todos os demais países de cultura ocidental, um mare magnum de tendências e estilos, propostas e projetos, que trouxeram para o arsenal de instrumentos e estímulos da arte todos os recursos expressivos do ser humano. O artista de hoje sabe que, no plano formal, tudo lhe é permitido, não existem barreiras de linguagem, nem materiais específicos, nem plataformas coletivas. Refletindo, já na época, esse espírito pluralista, realizou-se no Rio, em 1984, uma exposição que se tornou um marco divisório.
Chamou-se Como Vai Você, Geração 80?. Nada menos de 123 artistas, cuja idade média não passava, então, dos vinte e poucos anos, iniciaram aí carreiras hoje florescentes.
Este texto se encerra com uma pequena lista de nomes, em cuja produção presente e futura, com certeza, vale a pena prestar atenção: Marcos Coelho Benjamim, Karin Lambrecht, Sérgio Fingermann, Nuno Ramos, Paulo Monteiro, Carlito Carvalhosa, Daniel Senise, Emanuel Nassar, Osmar Pinheiro, Leda Catunda, Luiz Áquila, Chico Cunha, Cristina Canale, Ângelo Venosa, Sérgio Niculitcheff.
Definição
Há controvérsias sobre os limites temporais do moderno e alguns de seus traços distintivos: como separar clássico/moderno, moderno/contemporâneo, moderno/pós-moderno. Divergências à parte, observa-se uma tendência em localizar na França do século XIX o início da arte moderna. A experiência urbana – ligada à multidão, ao anonimato, ao contingente e ao transitório – é enfatizada pelo poeta e crítico francês Charles Baudelaire (1821 – 1867) como o núcleo da vida e da arte modernas.
O moderno não se define pelo tempo presente – nem toda a arte do período moderno é moderna -, mas por uma nova atitude e consciência da modernidade, declara Baudelaire, em 1863, ao comentar a pintura de Constantin Guys (1802 – 1892). A modernização de Paris – traduzida nas reformas urbanas implementadas por Haussmann, entre 1853 e 1870 – relaciona-se diretamente à sociedade burguesa que se define ao longo das revoluções de 1830 e 1848.
A ascensão da burguesia traz consigo a indústria moderna, o mercado mundial e o livre comércio, impulsionados pela Revolução Industrial. A industrialização em curso e as novas tecnologias colocam em crise o artesanato, fazendo do artista um intelectual apartado da produção. “Com a industrialização, esse sistema entra em crise”, afirma o historiador italiano Giulio Carlo Argan, “e a arte moderna é a própria história dessa crise.”
O trajeto da arte moderna no século XIX acompanha a curva definida pelo romantismo, realismo e impressionismo. Os românticos assumem uma atitude crítica em relação às convenções artísticas e aos temas oficiais impostos pelas academias de arte, produzindo pinturas históricas sobre temas da vida moderna. A Liberdade Guiando o Povo (1831), de Eugène Delacroix (1798 – 1863), trata dahistória contemporânea em termos modernos.
O tom realista é obtido pela caracterização individualizada das figuras do povo. O emprego livre de cores vivas, as pinceladas expressivas e o novo emprego da luz, por sua vez, recusam as normas da arte acadêmica. O realismo de Gustave Courbet (1819 – 1877) exemplifica, um pouco mais tarde, outra direção tomada pela representação do povo e do cotidiano.
As três telas do pintor expostas no Salão de 1850, Enterro em Ornans, Os Camponeses em Flagey e Os Quebradores de Pedras, marcam o compromisso de Courbet com o programa realista, pensado como forma de superação das tradições clássica e romântica, assim como dos temas históricos, mitológicos e religiosos.
O rompimento com os temas clássicos vem acompanhado na arte moderna pela superação das tentativas de representar ilusionisticamente um espaço tridimensional sobre um suporte plano. A consciência da tela plana, de seus limites e rendimentos inaugura o espaço moderno na pintura, verificado inicialmente com a obra de Éduard Manet (1832 – 1883).
Segundo o crítico norte-americano Clement Greenberg, “as telas de Manet tornaram-se as primeiras pinturas modernistas em virtude da franqueza com a qual elas declaravam as superfícies planas sob as quais eram pintadas”.
As pinturas de Manet, na década de 1860, lidam com vários temas relacionados à visão baudelairiana de modernidade e aos tipos da Paris moderna: boêmios, ciganos, burgueses empobrecidos etc.
Além disso, obras como Dejeuner sur L´Herbe [Piquenique sobre a relva] (1863) desconcertam não apenas pelo tema (uma mulher nua, num bosque, conversa com dois homens vestidos), mas também pela composição formal: as cores planas sem claro-escuro nem relevos; a luz que não tem a função de destacar ou modelar as figuras; a indistinção entre os corpos e o espaço num só contexto.
As pesquisas de Manet são referências para o impressionismo de Claude Monet (1840 – 1926), Pierre Auguste Renoir (1841 – 1919), Edgar Degas (1834 – 1917), Camille Pissarro (1831 – 1903), Paul Cézanne (1839 – 1906), entre muitos outros. A preferência pelo registro da experiência contemporânea, a observação da natureza com base em impressões pessoais e sensações visuais imediatas, a suspensão dos contornos e dos claro-escuros em prol de pinceladas fragmentadas e justapostas, o aproveitamento máximo da luminosidade e uso de cores complementares favorecidos pela pintura ao ar livre constituem os elementos centrais de uma pauta impressionista mais ampla explorada em distintas dicções.
Um diálogo crítico com o impressionismo estabelece-se, na França, com o fauvismo de André Derain (1880 – 1954) e Henri Matisse (1869 – 1954); e, na Alemanha, com o expressionismo de Ernst Ludwig Kirchner (1880 – 1938), Emil Nolde (1867 – 1956) e Ernst Barlach (1870 – 1938).
O termo arte moderna engloba as vanguardas européias do início do século XX – cubismo, construtivismo, surrealismo, dadaísmo, suprematismo, neoplasticismo, futurismo etc. – do mesmo modo que acompanha o deslocamento do eixo da produção artística de Paris para Nova York, após a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), com o expressionismo abstrato de Arshile Gorky (1904 – 1948) e Jackson Pollock (1912 – 1956).
Na Europa da década de 1950, as reverberações dessa produção norte-americana se fazem notar nas diversas experiências da tachismo. As produções artísticas das décadas de 1960 e 1970, segundo grande parcela da crítica, obrigam a fixação de novos parâmetros analíticos, distantes do vocabulário e pauta modernistas, o que talvez indique um limite entre o moderno e o contemporâneo. No Brasil, a arte moderna – modernista – tem como marco simbólico a produção realizada sob a égide da Semana de Arte Moderna de 1922. Já existe na crítica de arte brasileira uma considerável produção que discute a pertinência da Semana de Arte Moderna de 1922 como divisor de águas.
Arte Moderna
Sob essa denominação podem ser considerados, generalizadamente, os diversos movimentos artísticos que se originaram no decurso do século XX.
A denominação Arte Moderna. Muito embora internacionalmente aceita, e por isso aqui adotada, a expressão arte moderna merece reparos:
1) não existe uma arte moderna em oposição a uma arte antiga e nitidamente separada dela: pelo contrário, toda arte é moderna, no sentido de que acompanha (e não raro ultrapassa) o espírito da época em que surge. Assim, Giotto é moderno em relação a Cimabue, e Masaccio em relação a Giotto;
2) arte moderna pode ser a denominação adequada para a arte correspondente à Era Moderna, iniciada, como é sabido, em 1453: Renascença, Maneirismo, Barroco, Rococó, Neoclassicismo, Romantismo, Impressionismo e os diversos movimentos artísticos que se seguiram ao Impressionismo não passariam, assim, de subdivisões da arte moderna, que desta arte compreenderia cinco séculos: XVI ao atual.
Precursores da Arte Moderna
Cézanne, Gauguin e Van Gogh são considerados os três grandes precursores da Pintura moderna, prendendo-se a contribuição original do primeiro ao espaço, do segundo à composição e do terceiro à cor. Paul Cézanne pode ser considerado como precursor conjuntamente do Expressionismo (Tentação de Santo Antonio, de 1867), do Fauvismo e sobretudo do Cubismo (Jogadores de Cartas).
Num inquérito levado a efeito em 1953, Braque, Jacques Villon, Léger e diversos outros pintores reconheceram sua dívida para com o pintor de Aix-em-Provence, afirmando peremptoriamente: Todos partimos da obra de Cézanne.
Paul Gauguin influenciou também os fauves, e foi o primeiro a chamar a atenção, no Ocidente, para a arte primitiva e para a arcaica. Sua contribuição maior à arte do século XX reside no fato de ter sido ele o precursor dos pintores não figurativos, pela rejeição deliberada do modelado, dos valores, da perspectiva linear, etc.
Vincent van Gogh, afinal, influenciou, com seu colorido, os fauves e, com a carga emotiva de sua arte, os expressionistas.
Fauvismo
O Fauvismo (fauve=fera, em francês) foi a primeira revolução artística do século XX, e se manifestou de 1905 a 1907. A rigor, não chega a constituir uma escola, sendo antes um grupo de pintores com idéias afins. Tal grupo expôs, pela primeira vez, em 1906, no Salão dos Indenpendentes. Liderava-o Matisse, sem dúvida o representante mais notável da tendência.
Foi o crítico Vauxcelles quem deu nome ao movimento, ao dizer de uma escultura neoclásssica de Marque, rodeada de telas de cores violentas, dos companheiros de Matisse, que parecia Donatello entre feras.
A nova denominação substituiu as anteriores: pintura incoerente e pintura invertebrada.
Os pintores fauves pertenceram a três sub-grupos: o do atelier de Gustave Moreau e da Academia Carrière (Marquet, Manguin, Camoin), o Chatou (Dérain, Vlaminck) e o do Havre (Friesz, Dufy, Braque). Kees van Dongen, que aderiu ao Fauvismo, manteve-se independente.
Tecnicamente, caracteriza-se pela equivalência da luz e pela construção do espaço com o auxilio exclusivo da cor; pela abolição do modelado e do jogo de luzes e sombras; pela simplificação dos meios expressivos até ao mínimo necessário; enfim, pela correspondência entre o elemento expressivo e o decorativo, com o apoio da composição.
Cubismo
Coube ainda a Louis Vauxcelles batizar o Cubismo, ao dizer da pintura de Braque ao que parece retomando um dito de Matisse – que não passava de bizarrices cúbicas (1908). O Cubismo durou de 1908 a 1914, e não tinham seus adeptos grandes preocupações teóricas (Picasso: Quando fizemos o Cubismo, não tínhamos qualquer intenção de fazê-lo, mas sim de exprimir o que estava em nós).
Historicamente é possível distinguir entre Cubismo cézanniano (1907-1909), analítico (até 1912) e sintético (até 1914). A primeira etapa começa com grandes retrospectivas de Seurat e sobretudo Cézanne em Paris, ao mesmo tempo em que a Escultura africana aparece em cena.
De 1907 é As Donzelas de Avignon, de Picasso, considerada a primeira obra cubista. Em 1908 forma-se o grupo do Bateau-Lavoir, ao qual pertencem Apollinaire autor de Pintores Cubistas e teórico máximo do movimento Salmon, os Stein, etc. Os principais nomes a realçar nessa fase são os de Picasso e Braque.
A fase analítica denominação devida a Juan Gris caracteriza-se pela decomposição crescente da forma: passa-se a dar, de um mesmo objeto, uma série de aspectos diferentes, retratando-se esse objeto não como é visto, mas como se sabe que é. O Cubismo analítico é, sob certos ângulos, a última conseqüência da Pintura representativa.
Quanto ao Cubismo sintético, teve em Gris e em Léger seus principais adeptos. Signos plásticos tomam o lugar do processo imitativo, do qual começa a emancipar-se rapidamente a Pintura. De um cilindro faço uma garrafa, afirmou certa vez Juan Gris, numa frase que bem traduz a essência do Cubismo sintético, e que se opõe àquela outrora pronunciada por Cézanne: Tratar a natureza por meio do cilindro, da esfera, do cone…
A guerra de 1914 pôs fim ao período criador do Cubismo, ao mesmo tempo em que, simbolicamente, sacrificava Guillaume Apollinaire, o grande exegeta do movimento.
Futurismo
Surgiu em 1909, com o Manifesto Futurista publicado no Le Figaro, e de autoria do poeta italiano Marinetti. Os principais componentes do grupo foram Carrà, Boccioni, Russolo, Balla e Severini. Estende-se a fase áurea do movimento até 1918 e se prolonga até bem mais tarde, se bem que já sem a vitalidade inicial, na obra dos pintores como Rosai, Sironi, Prampolini.
Tecnicamente o Futurismo pode ser definido como uma tentativa de adicionar o elemento dinâmico ao Cubismo, essencialmente estático. Sua grande contribuição à arte moderna consiste em ter despertado, com sua irreverência e rebeldia, aquilo a que se denominou de espírito moderno, e que iria fecundar de então por diante toda a arte do século XX.
Expressionismo
O Expressionismo não é um movimento, mas uma constante da arte, manifestando-se de preferência em épocas de crises. O ódio racial e o genocídio, duas conflagrações mundiais e toda espécie de desajustamentos sociais, culminando com o estabelecimento das grandes ditaduras européias, explicam decerto a extraordinária vitalidade do Expressionismo, no século atual.
Entre os precursores do moderno Expressionismo estão Van Gogh, Lautrec, Ensor, Munch e Hodler. A tendência surgiu por volta de 1910, conjuntamente em Munique e em Berlim, quando o grupo Cavaleiro Azul recebeu em seu seio quase todos os ex-componentes do grupo A Ponte, o qual foi, a seu turno, uma espécie de réplica germânica do Fauvismo.
Dentro do Expressionismo formaram-se inúmeros subgrupos, como os já citados A Ponte (diretamente inspirado de Van Gogh, da Arte Negra e do Fauvismo) e do Cavaleiro Azul (de tendência abstrata), e como a Nova Objetividade, que quase pode ser definida como um figurativismo beirando a caricatura, e eivado de sátira feroz.
O Expressionismo que o crítico Langui acertadamente definiu como uma mistura da melancolia nórdica com o misticismo eslavo, a rusticidade flamenga, a angustia judaica e todasorte de obsessão germânica espraiou-se da Alemanha para toda a Europa, e para a América, contando entre seus adeptos Rohlfs, Modersohn-Beker, Barlach, Hofer, Kokoschka, Kandinski, Feininger, Klee, Jawlensky, Dix, Kollwitz, Grosz, etc., nos países germânicos; Rouault e Grommaire, em França; De Smet, Van den Berghe e Permeke, na Bélgica; Sluyters, na Holanda; Solana, na Espanha; Soutine na Lituânia; Bem Shahn e De Kooning, nos E.U.A.; Rivera, Orozco, Tamayo e Siqueiros, no México; Portinari e Segall, no Brasil.
O Expressionismo reagiu contra o impressionismo e o Naturalismo, opondo-se à afirmativa de Zola, segundo a qual a arte seria a natureza vista através de um temperamento. Para os expressionistas, o temperamento deve sobrepujar a natureza. A linha no desenho de índole expressionista, adquire valor fundamental, ao mesmo tempo em que as cores simples, elementares, passam a substituir os tons e nuances impressionistas. A própria cor adquire valor de símbolo, como queria Van Gogh o Van Gogh que escreveu ter procurado, com emprego do vermelho e do verde, exprimir as terríveis paixões humanas…
Construtivismo
Surgiu na Rússia por volta de 1913, com Tatlin, Gabo, Pevsner, El Lissitzky. Reagia contra os excessos do Cubismo e do Expressionismo. Os construtivistas retornaram ao cilindro, à esfera e ao cone cézannianos, restringindo-se ao uso das cores primárias. Foram os primeiros a trazer para a arte moderna a paixão pela máquina e pelo produto oriundo da técnica.
Movimento afim ao construtivista surgiu na Holanda, em 1917: o encabeçado pela equipe da revista O Estilo (Van Doesburg, Vantongerloo, sobretudo, Piet Mondrian). De O Estilo surgiria o Neoplasticismo de Mondrian (1920), cuja influência seria muito grande, gerando inclusive, no Brasil, os movimentos concreto e neoconcreto, ambos de fins da década de 1950.
Suprematismo
Nascido do Construtivismo, é dele diferenciável por uma ainda maior austeridade. Malevitch foi o seu criador, em 1913. O Suprematismo é o limite extremo a que chegou a Pintura de índole não-representativa.
Arte Metafísica
Desenvolveu-se entre 1910 e 1917, graças a De Chirico, Carrà, Morandi e Severini. Trata-se de um estilo fantástico, no qual vistas de cidades, paisagens desoladas, estranhas naturezas mortas e figuras compósitas são tratadas como se não pertencessem ao mundo físico. Desde Bosh e Arcimboldo, não atingia a arte ocidental a tão elevado grau de abstração e fantasia.
Dadá
O movimento dadaísta irrompeu ao mesmo tempo na França, com André Breton, Eluard, Soupault; na Suíça, com Tristan Tzara e Arp; nos E.U.A., com Marcel Duchamp; na Alemanha, com Schwitters. Inspiravam-no os escritos de Lautréamont e as colagens de Picasso, bem como a arte metafísica de De Chirico. Estilo de após-guerra, afirmava como essência e finalidade de tudo, da arte inclusive, o absurdo. Até 1922 caracterizou-o um feroz niilismo; de então por diante (e esse seu título maior) preparou o caminho para o Surrealismo, com o qual terminaria por se confundir.
Surrealismo
A arte metafísica, o Dadaísmo e os escritos de Freud originaram o Surrealismo, já anunciado por artistas como Bosh, Baldung Grien, Arcimboldo, Goya, Füssli, etc.
O Surrealismo não busca a destruição da cultura, como o Dadaísmo: pelo contrário, coloca-se numa posição construtivista. As bases do movimento estão no Manifesto de 1924, redigido pelo poeta André Breton, para quem o Surrealismo se resume no automatismo psíquico puro, pelo qual se procura exprimir, seja de que maneira for, o funcionamento real da mente humana.
Os principais surrealistas são Dalí, Ernst, Arp, Klee, Miro, Tanguy, Magritte, e mais recentemente Dubuffet, Matta e Lam.
Pintura Ingênua
Os cubistas descobriram em 1905 a pintura de Henri Rousseau. Assim começou a valorização da pintura ingênua, às vezes chamada (erroneamente) primitiva. O pintor ingênuo não teve aprendizagem acadêmica, produzindo por absoluta necessidade de expressão. Julga-se intimamente um realista, e tem em mira copiar com a maior fidelidade a natureza adicionando, porém, à cópia, certo elemento poético, que lhe é inato. O colorido, o mais das vezes, é livre; o desenho, econômico.
Além de Rousseau, celebrizaram-se especialmente os ingênuos Séraphine (1864-1934), Vivin (1861-1936), Bombois (n. 1883), Bauchant (1873-1958).
Realismo Social
Para os teóricos do realismo social, a arte se destina ao proletariado, devendo ser rejeitada como falsa a que ultrapasse o seu entendimento. O fim da arte seria então ajudar o proletariado a atingir os seus destinos. Essa teoria artística, adotada oficialmente pela U.R.S.S., conquistou adeptos em vários países, logo após a última guerra e, a despeito de contar entre os seus fiéis com artistas da categoria de Rivera, Orozco, Tamayo, Siqueiros, quase descambou para um frio academicismo.
Tendências Abstratas
O movimento contra o Naturalismo atingiu no século atual seu ponto máximo. Datam as primeiras obras não-figurativas, como ficou dito, de antes de 1914. Mas após 1945 é que o Abstracionismo veio a ser introduzido em quase todos os países. Com a diferença de que, antes de 1914, a arte abstrata era intelectualmente disciplinada, apegando-se à forma geométrica, à ordem, à harmonia; ora, após 1945, o que se viu foi a vitória de um abstracionismo não mais baseado na razão, mas na intuição.
Abstracionismo a que se chamou de Expressionismo Abstrato, e que se divide em quase tantos estilos quantos são os pintores que o praticam. A influência dos ideogramas orientais fez-se sentir mais recentemente sobre os tachistas (do francês tache, mancha), liderados por Wols e Fautrier, e sobre os adeptos da Action Painting, ou pintura do gesto, capitaneados por Pollock, Kline, Tobey, etc.
Os Independentes
À margem de tendências e de movimentos, a arte moderna presenciou o aparecimento de pintores independentes,que sofreram, é certo, a influência dessa ou daquela estética, mas sem se apegarem nunca a nenhuma em caráter definitivo. Os principais entre tais artistas são Utrillo e Modigliani, Soutine e Kokoschka, Chagall e Rouault em verdade, alguns dos mais notáveis artistas do século.
A Arte Moderna no Brasil
A primeira exposição de arte moderna no Brasil foi a efetuada em 1913 por Lasar Segall em São Paulo. Despertou maiores reações a de Anita Malfatti, realizada ainda em São Paulo, em 1916. Sempre em São Paulo, realizou-se em 1922 a Semana da Arte Moderna, de que participaram Di Cavalcanti, Brecheret e Goeldi.
A Semana teve a vantagem de tornar nacional um movimento até então puramente local.
No Brasil repercutiram fracamente movimentos como Cubismo (que influiu, porém, sobre o Pau-Brasil, de 1926, e o antropofagista, de 1928, de Tarsila do Amaral), o Futurismo, a Arte Metafísica, o Surrealismo. Um construtivismo retardado originou-se no Rio de Janeiro e em São Paulo sob a denominação de Concretismo, logo seguido pelo Neoconcretismo, na década de 1950.
Quanto ao Expressionismo, tem em Segall e em Portinari seus principais seguidores, e no setor da gravura gerou um mestre como Goeldi, falecido em 1961. Os principais ingênuos nacionais são, no Rio de Janeiro, Heitor dos Prazeres, em São Paulo, José Antônio da Silva. Logo após a II Guerra Mundial, o Realismo Social fez seu aparecimento, com artistas como Scliar e Glauco Rodrigues, que depois iriam conduzir suas pesquisas em outros sentidos.
Com Antônio Bandeira, Milton Dacosta e outros, instalou-se, por volta de 1947, o Abstracionismo, hoje generalizado. Quanto a independentes, possui o Brasil em Pancetti, Guignard, Djanira e Iberê Camargo seus mais notáveis representantes.
Outras datas notáveis da arte moderna no Brasil: 1935, Portinari é premiado em Pittsburgh com o quadro Café, 1958, criação do Museu de Arte Moderna do Rio; 1951, Primeira Bienal de São Paulo e criação do Salão Nacional de Arte Moderna.
PRÉ-MODERNISMO
Contexto Histórico
Na Europa, começo do século foi uma época de conturbação política. A disputa das nações desenvolvidas por mercados e por fontes de matéria-prima acabaria por conduzir à I Guerra Mundial, em 1914. O panorama social brasileiro, embora um pouco distante desse âmbito de luta internacional,não era menos complexo.
Os fatos falam por si. Uma série de revoltas eclodiram em todo o país. Os motivos eram diversos, as situações eram bem diferentes,as reivindicações eram várias.
Mas esses acontecimentos tiveram um papel decisivo na passagem da República da Espada ( primeiros governos republicanos,que eram lmilitares ) para a República do café-com-leite (predominantemente civil ) e no enfraquecimento da República Velha ( 1889-1930 ).
Em 1893, tem lugar no Rio de Janeiro a Revolta da Armada, levante de uma facção monarquista da Marinha brasileira, que, insatisfeita, com a República recém-proclamada ( 1889), exigia a renúncia do presidente Floriano Peixoto. O restante das Forças Armadas, contudo, colocou-se ao lado do governante, que contava anda com forte apoio civil, graças à sua imensa popularidade. A revolta foi sufocada após seis meses.
Em 1896, estourou na Bahia a revolta de sertanejos que ficou conhecida como Guerra de Canudos. Inicialmente, foi encarada com desprezo pelo governo federal. Mas a persistência dos revoltosos e o arraigado apego à terra que demonstravam, obrigaram o Exército a uma ação mais dura. A propaganda oficial divulgava o fato como um levante de monarquistas, tentando, com isso, angariar a simpatia da população e o auxílio de forças militares dos diversos estados.
No entanto, as causas mais profundas da Guerra eram outras: a miséria, o subdesenvolvimento, a opressão, o abandono a que a população da região estava relegada. Depois de um ano de renhida resistência Canudos caiu em outubro de 1897. Mas os problemas sociais não foram resolvidos, e o misticismo e o cangaço continuaram sendo respostas populares à opressão e à miséria.
Nos primeiros anos do século XX, as autoridades do Rio de Janeiro resolveram urbanizar e modernizar a cidade, que era a capital do país, muito populosa, e que contava com péssimas condições de higiene. O novo planejamento urbano, contudo, previa uma recolocação da moradia dos mais pobres, excluindo-os das benesses da modernização e desamparando grande parte da população, já massacrada pelo desemprego e pela carestia. A insatisfação popular explodiu quando o governo lançou a campanha de vacinação obrigatória. A verdadeira batalha que se travou no Rio de Janeiro, em 1904, opondo policiais aos pobres, recebeu o nome de Revolta da Vacina, tendo sido violentamente reprimida.
Em 1910, os marinheiros de dois navios de guerra, liderados por João Cândido ( o “Almirante Negro”), manifestaram-se contrários aos castigos corporais ainda costumeiramente aplicados a eles na Marinha: era a Revolta da Chibata. O próprio governo reconheceu a pertinência das reivindicações, pressionando a Marinha para que as atendesse. Os revoltosos foram anistiados, mas logo depois perseguidos, presos e torturados.
Outro acontecimento importante do período foi a greve geral de 1917, ocorrida em São Paulo, organizada por trabalhadores anarco-sindicalista, reivindicando melhoria nos salários e nas condições de trabalho ( redução da jornada, segurança , etc.).
Em seu conjunto, essas revoltas todas podem ser vistas como manifestações de uma nova paisagem social, na qual forças políticas até então tímidas ( sertanejos, miseráveis, no cenário, imigrantes, soldados de baixa patente, entre outros ) começaram a marcar presença no cenário brasileiro. No terreno artístico, o período que vai do final do século XIX ( aproximadamente 1870 ) até as primeiras décadas do século seguinte ( anos 20 ) recebe o nome geral de “belle époque “.
Característica
As transformações sociais, da passagem do século, experimentada no Brasil, necessariamente impregnariam a literatura, principalmente em um momento em que uma das propostas artísticas em vigor toca justamente no ponto de uma retomada da literatura social. Assim, podemos falar mesmo em uma redescoberta do Brasil pela literatura. Um Brasil que, na verdade, sempre tinha existido, mas que fora até então presença excessivamente reduzida na literatura.
Essa redescoberta pode ser notada a partir da renovação temática que se opera no âmbito literário. A preocupação com a realidade nacional ocupa não apenas as obras de ficção, mas também os ensaios, artigos e comentários eruditos, que ganham grande impulso na época. Um aspecto comum a essa produção intelectual é a crítica às instituições, tomadas como elementos de cristalização e acomodação de uma estrutura de poder que resultava na cegueira às reivindicações de vastas camadas da população brasileira.
No terreno da ficção, ambientes antigos são explorados agora de forma a evidenciar seus aspectos mais tristes e pobres. O sertão, o interior, os subúrbios, que já apareciam antes em romances e natureza viviam em comunhão, agora são retratados como representações do atraso brasileiro.
Da mesma forma, os personagens que figuraram nessas produções estão muito distantes dos modelos assumidos em estéticas anteriores: o sertanejo não é mais servil e ordeiro; o suburbano não é mais alegre e expansivo; o caipira não é mais saudável e trabalhador. A imagem que essas personagens passam a representar liga-as à decadência, ao desmazelo, à ignorância.
Essa literatura que tematiza habitantes e ambientes de determinadas regiões, pode ser considerada regionalista. Mas, é bom que se perceba, trata-se de um regionalismo crítico, bastante diferente, por exemplo, da idealização romântica.
Na visão dos representantes dessa corrente, a literatura tinha uma missão a cumprir como instrumento de denúncia social, explicitando as razões do nosso atraso, discutindo alternativas para ele. O progresso e o cosmopolitismo que caracterizava a auto-imagem de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo eram contrapostos ao subdesenvolvimento e à miséria estrutural de vastas regiões nacionais – nem sempre muito distantes dos centros populosos, como mostraram as obras tematizando o caipira e o morador dos subúrbios cariocas.
Formalmente, os pré-modernistas caracterizar-se-ão por uma linguagem oscilante: expressões eruditas, francamente influenciadas pelo Parnasianismo, convivem com um vocabulário mais livre e popular, que tenta funcionar como registro de expressões regionais. Pode-se entender essa prática como uma ponte de ligação entre a linguagem dicionaresca e cientificista do século XIX e aquela, mais despojada, que caracterizaria a arte moderna do século XX. De certa forma, essa oscilação reflete ainda um contato crescente entre as culturas popular e erudita.
Como dissemos, essa prática literária não chegou a se constituir em escola, estruturada e organizada em um programa estético definido.
O Pré-Modernismo é, mais que um fato artístico, um momento importante do desenvolvimento das letras brasileiras.
Seus autores mais significativos são: Euclides da Cunha, Lima Barreto, Monteiro Lobato, Augusto dos Anjos, Graça Aranha, entre outros.
Autores
Euclides da Cunha
Lima Barreto
Monteiro Lobato
Augusto dos Anjos
Graça Aranha
MODERNISMO
Contexto Histórico
O início do século XX poderia ser datado no ano de 1895. Esta “licença histórica “se explica pela importância que esta data teve na história das idéias artísticas que vieram depois.
Nesse ano, o austríaco Sigmund Freud lançou o livro Estudos sobre a histeria, um marco importante na divulgação de suas descobertas científicas, que o levaram a constituir um novo ramo médico: a Psicanálise.
Dedicada ao estudo do inconsciente humano, que guardaria a face obscura dos desejos do indivíduo, a ciência psicanalítica forneceu vasto material à Arte. A revelação da existência de um verdadeiro universo no interior da mente humana serviu de impulso decisivo para o surgimento de teorias estéticas baseadas na tentativa de expressão desse universo.
Ainda em 1895, os irmãos Lumiére lançaram, na França, um nov invento: o cinematógrafo. Através dele, era possível registrar imagens em movimento, objetivo perseguido durante muitos anos por técnicos de toda a Europa. Os primeiros filmes lançados pelos Lumiére não tinham nenhuma pretensão artística, ou mesmo narrativa, visando apenas a explorar as então incipientes possibilidades da nova descoberta. Logo, porém, o cinema impôs-se como um meio de comunicação artística que viera para modificar fundamente as estruturas artísticas até então existentes. A rapidez da imagem, a simultaneidade narrativa passaram a ser instrumentos utilizados em todos os ramos da arte.
A febre dos inventos varria a Europa, provocando o surgimento de muitos concursos, que premiavam aqueles que conseguissem ultrapassar obstáculos até então intransponíveis. Em 1906, em Paris, o brasileiro Santos Dumont realizou com seu 14-bis o primeiro vôo mecânico do mundo, feito proclamado no mundo inteiro.
O homem parecia vencer limites importantes: o conhecimento da própria personalidade, o registro do movimento e o espaço. O otimismo do início do século justificava a crença na capacidade criativa do ser humano. Contudo, o reverso da medalha não tardou a aparecer. Em 1914, eclode a I Grande Guerra Mundial, como resultado de lutas imperialistas ( disputa de mercados e regiões de produção de matéria-prima ) que se davam em várias partes do mundo. O homem mostrava que, tanto criar, era capaz de destruir.
No meio da guerra, uma nação se retira do conflito para resolver problemas internos. Em 1917, a Revolução russa transformou profundamente as bases socioeconômicas do país, com a introdução prática das idéias comunistas que Marx divulgara a partir de meados do século anterior. A abolição da propriedade privada, o fim dos privilégios da nobreza, jogaram o país em uma crise de grandes proporções, mas da qual emergiu uma nação vitoriosa e forte. Essa vitória contaminou o mundo, e a propaganda comunista alcançou todos os países. Apenas cinco anos depois da Revolução, por exemplo, era fundado o Partido Comunista Brasileiro.
Em 1919, a Grande Guerra chega ao fim, e nova onda otimista atingiu a Europa. Acreditava-se, então, que uma catástrofe suicida daquelas proporções nunca mais ocorreria. A década de 20 ficou conhecida como “anos loucos “. Era o auge e o fim da chamada “belle époque”. A rebeldia, a ousadia e a alegria eram palavras de ordem: tudo era discutido, todas as liberdades eram proclamadas.
Esse ambiente favorece o surgimento de novas idéias estéticas ( surgidas, ressalte-se, a partir de contribuições artísticas do século XIX ). Tais idéias contribuições artísticas do século XIX ). Tais idéias constituíram o fundamento do que se convencionou chamar de Arte Moderna, a arte do século XX.
Como aspectos comuns, essas idéias possuíam: a ruptura com o passado; o desejo de chocar a opinião pública; a valorização da subjetividade artística no trabalho de tradução dos objetos ao redor; a busca de inovações formais cada vez mais radicalistas; a intenção de reproduzir esteticamente um mundo que se transformava rapidamente; a tentativa de responder à desintegração social provocada pelo panorama da guerra.
Vejamos algumas propostas dos principais movimentos artísticos do início do século na Europa.
Característica
Um primeiro elemento, comum a toda manifestações do Modernismo , é sua sistemática oposição ao academicismo, isto é, à arte regrada, regulamentada, repleta de truques convencionais. Essa postura de destruição dos símbolos artísticos, aceitos generalizadamente, e de desprezo pela norma culta conduziu, quase sempre, os modernistas a atitudes de antipatia à cultura estabelecida. Foram, por causa disso, muitas vezes perseguidos e ridicularizados.
A demolição do edifícios estético convencional tinha como contrapartida a proposta de uma arte livre. Essa liberdade buscava se realizar tanto no plano formal quanto no temático. No terreno da forma, os modernistas defendiam a abolição da rima e da métrica, com a exploração do verso branco ( ou solto – versos sem rima ) e livre ( sem métrica regular, isto é, sem o mesmo número de sílabas ). Essa inovação formal era propriamente modernista, já que, antes deles, os simbolistas já faziam uso dela.
Porém, o Modernismo a transformá-la-á em bandeira de luta.
Uma ressalva, contudo, deve ser feita: defensores da liberdade formal absoluta, os próprios modernistas praticarão, quando entenderem necessário, o verso rimado e regular; a partir desse momento, porém, esse tipo de verso deixa de ser condição prioritária para a obtenção da boa poesia.
Além da versificação mais livre, a linguagem coloquial será adotada pelo Modernismo, que buscava aproximar a arte erudita das camadas populares. A transposição da fala das ruas para o texto escrito confere a este um alto grau de oralidade. Com isso, a linguagem artística absorve gírias, erros gramaticais, criações espontâneas do povo, neologismo, estrangeirismo, etc.
Coerente com essa postura de utilização de uma linguagem mais próxima do falar rotineiro, o Modernismo tinha, como tema fundamental, o cotidiano. A partir de então, acontecimentos banais e aparentemente sem importância podiam ganhar estatura artística, tanto quanto os grandes amores e as emoções profundas tratados pela arte mais tradicional.
Distanciando-se da postura que defendia uma arte voltada para si mesma, as vanguardas estéticas do período manifestaram a preocupação social própria de um mundo sacudido por guerras e disputas internacionais de todos os tipos. Tratava-se, assim, de uma arte voltada para o mundo e que fazia dele sua grande miséria.
Além disso, ao comportamento sisudo e aristocrático que a arte assumira até então, os modernistas opõem uma valorização do humor. No Brasil, por exemplo, ficaram famosos os poemas-piada de Oswald de Andrade, obras-primas de síntese e sutileza crítica.
Enfim, podemos resumir a proposta modernista, de uma maneira geral, em uma única expressão fundamental: liberdade. Em todos os níveis, de todas as formas. Muitas vezes, o desejo de fugir de qualquer convencionalismo preestabelecido provocou o surgimento de uma arte excessivamente pessoal, quase sempre incompreensível. Essa dificuldade de comunicação artística contrariava a tendência democrática da arte de vanguarda, e representou, de fato, uma de suas contradições mais profundas.
A essas características gerais, devem ser acrescentadas aquelas que dizem respeito, mais particularmente, aos contextos próprios de Portugal e do Brasil. Isto será feito oportunamente.
PORTUGAL
Contexto Histórico
Em 1890, o governo inglês lançou um ultimatum a Portugal: o país deveria abandonar imediatamente as colônias que ainda mantinha. A obediência a essa imposição encheu o povo português de vergonha e abalou profundamente a crença na monarquia, já desacredita por seu anacronismo. A partir de então, a luta republicana ganhou espaço e importância. em 1910, foi proclamada a República.
As mudanças sociais esperadas não aconteceram de forma a contentar os republicanos mais exacerbados. Na verdade, a República tinha como principal objetivo integrar Portugal no quadro do imperialismo europeu, sinônimo de modernização. Esse ambiente favoreceu a difusão das idéias modernistas.
Em 1915, um grupo de artistas de vanguarda, lideradas por Mário de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa, fundou a Revista Orpheu, marco inaugural do Modernismo em Portugal. Através dela, as novas propostas artísticas foram divulgadas e discutidas. A duração da revista foi efêmera, prejudicada pelo suicídio de Sá-Carneiro. Esse primeiros modernistas ficaram conhecidos, exatamente em função da revista, por “geração de Orpheu “.
A República, incapaz de resolver os problemas mais profundos do país, e sem conseguir equacionar as diferenças existentes entre os próprios republicanos, acabou por dar lugar à ditadura salazarista, que durou cerca de cinqüenta anos, até a Revolução dos Cravos, de caráter socialista, em 1975.
Característica
Os modernistas portugueses tiraram proveito da herança simbolista, sem renegá-la totalmente. Assim, o saudosismo do poeta Antônio Nobre, que tinha fortes conotações nacionalistas, ganhou força entre os membros da “geração de Orpheu “. Ao lado disso, a absorção das conquistas futuristas que tomavam conta da Europa inteira, como a apologia da máquina e do progresso urbano, conduz o movimento à vanguarda.
Assim, o que se destaca, no panorama modernista português, nesse primeiro momento, é a forma de elaboração entre tradição e modernista. Com isso, eles conseguem retomar formar e temas arcaicos, enquadrando-os dentro de propostas modernistas.
Ressalte-se ainda o caráter algo místico do Modernismo lusitano, patente em algumas posturas, pessoais e estéticas, de seu maior representantes, Fernando Pessoa.
O modernismo português conheceu ainda mais duas gerações estéticas
A “GERAÇÃO DE PRESENÇA ”
Em 1927, um grupo de artistas fundou uma nova revista, Presença, que tentava retomar e aprofundar as propostas de Orpheu. Contando com a colaboração de alguns participantes da geração anterior, os “presencistas”defenderam uma arte de caráter mais psicologizante.
Seus principais representantes foram: José Régio, João Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca.
O NEO-REALISMO
Rejeitando a temática psicológica e metafísica que tinha dominado a geração anterior, o Neo-realismo defende uma arte participativa, de temática social. Por sua postura de ataque à burguesia, encontraram pontos de contato com o Realismo de Eça de Queirós. Mas receberam também forte influência do chamado neo-realismo nordestino da literatura brasileira ( que incluía nomes como Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz Jorge Amado, entre outros ).
Parte dos artistas alinhados no Neo-realismo derivaram para uma literatura marcada pela exploração do fantástico e do absurdo.
Seus principais representantes foram: Alves Redol, Vergílio Ferreira, Fernando Namora, Ferreira de Castro.
A importância dessas duas últimas gerações é bastante reduzida, quando comparada com a primeira. Por isso, aqui, abordaremos exclusivamente as obras autores mais significativos da “geração de Orpheu “.
Autores
Fernando Pessoa
Alberto Caeiro
Ricardo Reis
Álvaro de Campos
Mário de Sá-Carneiro
BRASIL
Contexto Histórico
Junto ao contexto generalizado de modernização que atravessava todo o mundo intelectual no início do século XX, acrescido ainda do otimismo que tomou conta da humanidade após a I Guerra Mundial, alguns elementos específicos do contexto histórico brasileiro merecem destaque
Durante o conflito bélico, a importação de manufaturados tornou-se difícil, e a produção nacional passou por um sensível incremento. O desenvolvimento industrial, sempre dependente das oscilações do panorama internacional, dessa vez conseguiu fundamentar-se em bases mais sólidas.
O declínio da oligarquia cafeeira determinou, ademais, o fim de uma era semifeudal de relacionamentos no terreno trabalhista. O Brasil se viu, então, diante da contingência de ter deixar de ser exportador de um único produto, para agilizar mais sua vida econômica.
Essas modificações impuseram uma transformação no quadro social brasileiro. Classes sociais emergentes contribuíram para estabelecer novos parâmetros de desenvolvimento, mais próximos à febre de modernidade que tomava conta do mundo. A burguesia industrial, mesmo que parcialmente formada por antigos cafeicultores, representou a face elitista e aristocrática desse novo quadro social. Trazendo consigo os valores modernistas europeus, participou ativamente da renovação em nossas artes. A ligação desse setor com os intelectuais de vanguarda era evidente – os ataques dos artistas se dirigia mais à facção agrária da classe dominante.
Por outro lado, o operariado, embalado pelo mesmo esforço industrializado e animado por teorias anarquistas, comunistas e sindicalistas que a mão-de-obra estrangeira tratava de organizar e veicular, conheceu uma face de expansão e afirmação. A greve geral de 1917 mostrou que seu poder de reivindicação seria sempre um fator de oposição à exploração que o modelo econômico, adotado pela indústria brasileira, provocava.
Nesse quadro de transformações, de apologia da indústria e da tecnologia, a arte parnasiana perdia um pouco de suas bases. A Europa assumida ainda como modelo, assistia desde a passagem do século a intermináveis agitações culturais, das quais a força do Parnasianismo no Brasil nos mantinha distantes. Mas, desde o começo da década de 10 já apareciam alguns indícios da tendência à superação da estética parnasiana. Uma elite emergente, em contato com o que se produziu de mais novo no panorama artístico europeu, animava a vinda daquelas agitações ao país.
O ano de 1917 tem especial importância, na consideração das modificações que se operariam na arte brasileira. Nesse ano, o lançamento de alguns livros trariam a público o trabalho de artistas ainda iniciantes, mas que, desde esse momento, já começaram a atrair a atenção da crítica.
As principais obras poéticas lançadas naquele ano foram: Há uma gota de sangue em cada poema, livro pacifista de Mário de Andrade; Cinzas das horas, reunindo poemas de Manuel Bandeira, ainda com fortes colorações simbolistas; Juca Mulato, em que Menotti del Picchia já indicava a preocupação com o tipo brasileiro. Ainda nesse ano, o compositor Villa Lobos lançou o Canto do cisne negro, peça de caráter impressionista – três anos antes, compusera as Danças africanas, já evidenciando um interesse pela cultura popular. O registro sonoro do samba Pelo telefone por um de seus autores, Donga, aumentou a possibilidade de contato entre as elites intelectuais e a arte dos morros cariocas.
Finalmente, 1917 foi o ano em que se travou a primeira batalha pública na qual os modernistas se viram envolvidos: a exposição de pintura de Anita Malfatti foi duramente criticada pelo respeitado Monteiro Lobato, o que fez com que se levantassem vozes da vanguarda que até então agiam isoladamente.
Note-se ainda que foi neste ano que se deu o primeiro contato entre aqueles que seriam os pilares da arte moderna brasileira: o jornalista Oswald de Andrade conheceu Mário de Andrade em uma palestra, passando desde então a admirar seu trabalho.
Na Europa, o clima de efervescência cultural favorecia a promoção de semanas de arte durante as quais novas tendências eram lançadas e divulgadas. Apoiadas pela parte “progressista”da elite brasileira, os artistas decidiram seguir o exemplo. Assim, como parte das comemorações do centenário da nossa independência, aconteceu, em fevereiro de 1917, em São Paulo, a Semana de Arte Moderna, cujos festivais, no Teatro Municipal, marcaram época na vida social da cidade.
Alguns artistas conhecidos do público, como o escritor Graça Aranha e a pianista Guiomar Novais, alinhados com as idéias modernistas, serviram como atrações, e a elite brasileira estava muito bem representada, na platéia do teatro. Contudo, as atitudes da maioria dos artistas que se apresentaram, provocaram a ira da assistência.
Ernâni Braga trocou ao piano uma sátira Marcha fúnebre de Chopin; o compositor Heitor Villa-Lobos dessacralizou a figura convencional do maestro, entrando em cena trajando chinelos e portanto um guarda-chuva, e executando suas peças originais; o poeta Menotti del Picchia declarou a franca adesão dos artistas a um estilo que reproduzisse a modernidade que já tomava conta das ruas; o escritor Ronald de Carvalho fez um ataque frontal aos parnasianos, lendo o poema: “Os sapos, de Manuel Bandeira; um dos líderes do movimento, Mário de Andrade, por sua vez, atacou as elites retrógradas com sua “Ode ao burguês “, e proclamou as bases da nova estética com a leitura do manifesto “A escrava que não é Isaura “; Oswald de Andrade leu seus escritos, com a agressividade que sempre caracterizou seu estilo. Nos saguões do teatro, pinturas e esculturas de artistas como Di Cavalcanti, Vicente do Rego Monteiro, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Victor Brecherett mostravam a força do Modernismo nas artes plásticas.
A reação de parte do público foi a pior possível: estudantes apupavam e vaiavam os artistas, produzindo barulhos provocados por folhas de zinco; alguns mais exaltados ameaçavam partir para a agressão física; e todos rejeitavam a arte moderna por julgá-la excessivamente gratuita para ser arte, e selvagem, para ser moderna. Essa reação agradou os indelével na memória de todos os que assistiam a ele.
A imprensa, reagindo de forma igualmente negativa, satirizando e menosprezando a arte modernista, acabou por indicar a necessidade de criação de um veículo próprio de divulgação de sua arte. Assim, no mesmo ano surgiu a Revista Klaxon, que foi sucedida por outras, como a Terra Roxa ( 1926 ) e a Revista de Antropofagia ( 1928 ).
Característica
Duas correntes com orientações artísticas:
1o. Verde-amarelismo de Cassiano Ricardo e Menotti del Picchia fazia a apologia das tradições, com a exaltação da terra, dos folclores e dos heróis brasileiros.
2o. Antropofagia de Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Raul Bopp e Alcântara Machado proclamava a devoração ritual do saber estrangeiro como estratégia de reafirmação dos valores nacionais.
Apesar das suas diferenças internas, os modernistas tinham muitas coisas em comum como: liberdade formal, linguagem coloquial, tematização do cotidiano, valorização do humor, com a forte influências dos ” ismos ” europeus, algumas particularidades merecem destaque.
A oposição ao Parnasianismo foi muito significativa. A demolição estética era, contudo, mais ampla. Inicialmente, os modernistas rejeitaram toda e qualquer estética anterior, para estabelecer,desde um ponto zero, os rumos da arte brasileira que se faria a partir deles.
Retomando as preocupações nacionalistas do Romantismo, mas rejeitando-lhe o caráter idealizador e sentimental, os modernistas buscaram produzir um nacionalismo crítico, recuperação de alguns traços do caráter do homem brasileiro até então tratados negativamente, como a preguiça e a sensualidade.
O Brasil selvagem, primitivo, pré-civilizacionais, a figura do índio desmistificado assume, nesse contexto, grande importância, na medida em que representa a reação nacional ao ataque estrangeiro.
Por outro lado a temática urbana tem muita força: o cinema, a velocidade, a multidão são representações da modernidade que aparecem com freqüência.
Autores
Mário de Andrade
Oswald de Andrade
Manuel Bandeira
Antônio de Alcântara Machado ( 1901 – 1935 )
Guilherme de Almeida ( 1890 – 1969 )
Cassiano Ricardo ( 1895 – 1974 )
Menotti Del PicchiaA ( 1892 – 1988 )
Raul Bopp ( 1898 – 1984 )
Ronald de Carvalho ( 1893 – 1935 )
MODERNISMO – 2o. TEMPO – PROSA
Contexto Histórico
Na década de 20 mereceu o nome de “anos loucos”, por causa da efervescência cultural vivida pela Europa naquele período, com a criação ou consolidação de estéticas e concepções artísticas que se espalharam pelo mundo todo. Depois da I guerra Mundial, um clima de otimismo generalizado, associado a um progresso desenfreado em países emergentes.
Já em 1929, os “anos loucos ” terminaram de maneira trágica. O chamado “crack ” da bolsa de Nova York, causado por especulações monetária e crescimento econômico sem planejamento, levou muitos investidores à falência.
Em 1939, a Alemanha invade Polônia e novo conflito mundial é deflagrado. As concepções marxistas tornou-se, assim, uma presença política importante.
Deve-se destacar ainda o papel da Psicanálise de Freud.
No Brasil, a crise financeira foi respondida com um endurecimento político.
Durante todo o período do Segundo Tempo do Modernismo, tivemos um ocupante da Presidência da República: Getúlio Vargas, que visava terminar com a “República café-com-leite “. Em 1937 instituiu o Estado Novo (o golpe trouxe: prisões injustiçadas, perseguições políticas, atos autoritários, censura aos meios de comunicação, opressão aos inimigos do regime).
Característica
A primeira característica foi uma tendência à politização em graus mais acentuados do que tinham acontecido no Modernismo em 1922.
Se na “fase heróica “tinham apresentado como preocupação fundamental uma revolução estética, a geração artística surgida nos anos 30 volta-se para uma literatura participativa, de intromissão na vida política.
Os modernista do primeiro tempo continuavam a produzir, Mário de Andrade, foi decisiva para esses novos rumos que o próprio movimento assumiu. Mário defendia uma postura artística de acompanhamento das reivindicações populares, contribuindo para esse processo de politização a que se fez referência Oswald de Andrade, Manuel Bandeira e todos os outros também continuavam atuantes.
Algumas conquistas do primeiro tempo do Modernismo continuavam como : a crítica social, a concisão, a coloquialidade.
Um acontecimento que marcou a geração literária do período foi a realização do Congresso regionalista do Recife, em 1926, participaram José Lins do Rego, Luís Jardim, José Américo de Almeida, liderados pelo sociólogo Gilberto Freyre, suas idéias tiveram grande influência na arte brasileira. A publicação do romance A Bagaceira, de José Américo de Almeida, em 1928, solidifica a nova tendência, neo-realismo nordestino, cujo maior representante viria a ser Graciliano Ramos.
O regionalismo era uma tendência já antiga, mas os modernistas diferenciaram, através da prática de um regionalismo crítico, voltado para as discussões dos problemas sociais.
Os principais temas dessa corrente literária foram: a seca, a fome, a miséria, o arcaísmo das relações de trabalho, a exploração do camponês, a opressão do coronelismo, a reação dos cangaceiros, etc.
Um livro será de orientação nessa época: Os sertões, de Euclides da Cunha.
Autores
Graciliano Ramos
José Lins do Rego
Jorge Amado
Érico Veríssimo
Rachel de Queiroz
José Américo de Almeida
MODERNISMO – 2o. TEMPO – POESIA
Característica
A poesia do período continua muitas das propostas do Modernismo de 1922, como a coloquialidade, a concisão, a liberdade formal, a temática do cotidiano, mas apresenta diferenças.
A poesia do segundo tempo apresenta uma consolidação das conquistas modernistas. Os radicalismos típicos da chamada “fase heróica”, foram pouco a pouco abandonados, em nome de um equilíbrio formal, que chegou resgatar algumas formas poéticas tradicionais, como o soneto. O Nacionalismo que predominava antes foi substituído por uma tendência universalizante.
A arte participativa politizada, ganha força, nesse contexto, uma poesia social, com muitas referências diretas a fatos e dados contemporâneos, como se pode perceber em poemas de Carlos Drummond de Andrade.
Cresceu também um outro tipo de prática poética: a poesia metafísica, espiritualizante e mística, que aparece em obras de Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, Jorge de Lima e Murilo Mendes.
Autores
Carlos Drummond de Andrade
Cecília Meireles
Vinicius de Moraes
Jorge de Lima
Murilo Mendes
MODERNISMO – 3o. TEMPO
Contexto Histórico
Em 1945, com o fim da Guerra Mundial, talvez fosse de se esperar que uma onda de otimismo e esperança se espalhasse por todo o planeta. Mas a experiência da I Guerra, em 1919, mostrou-se ilusória.
Duas forças políticas antagônicas emergiram do panorama do pós-guerra: EUA e União Soviética.
Cada uma delas representava uma ideologia diferente: o Capitalismo e o Comunismo. As duas superpotências passaram, então, a se enfrentar. De um lado, no terreno diplomático. De outro lado, no plano da guerra indireta, envolvendo-se em disputas locais. Esse período ficou conhecido com o nome de Guerra Fria.
No Brasil, o fim da II Guerra trouxe a democracia de volta. Em 1945, o ditador Getúlio Vargas foi arrancado do poder, sendo substituído por um presidente eleito democraticamente, mas em 1950, Getúlio Vargas volta à Presidência da República. As atitudes oscilantes de Vargas, e sua eterna simpatia por golpes de força, levantavam as suspeitas de uma nova ditadura. Tentativa de assassinato do jornalista Carlos Lacerda, principal opositor de Vargas. No episódio morreu um major de Aeronáutica, e as Forças Armadas passaram a apressar a conclusão das investigações policiais, que apontava um envolvimento direto de pessoas ligadas ao presidente.
Getúlio Vargas suicidou-se, em agosto de 1954.
O novo presidente Juscelino Kubitscheck, promoveu um grande avanço desenvolvimentista. O sucessor de Juscelino, Jânio Quadros chegou ao poder com forte apoio popular. Nova crise se instalou, porque o vice-presidente João Goulart, tinha francas simpatias pelas ideologias de esquerda.
Em 1964, o descontentamento converteu-se em ação, e o governo foi derrubada pelo golpe militar de 31 de março. Uma nova ditadura instalou-se, e mais uma página triste da nossa história começou a ser escrita.
Característica
Nesta fase pode-se perceber um enfraquecimento da tendência participativa que tinha predominado no período anterior. Mas a característica forte do terceiro período é a relevância que nele adquiriu o fantástico, o além-real, aquilo que está por trás da realidade aparente, e que nem sempre os sentidos podem captar.
O psicologismo presente na obra de Mário de Andrade, marcaria o regionalismo de Graciliano Ramos quanto a literatura urbana, alcançaria nos anos seguintes grandes proporções.
Finalmente, um aspecto a ser salientado é a extrema valorização da palavra. A reflexão em torno do instrumento de trabalho do escritor, suas possibilidades e limitações, ocupam espaço importante na produção literária do período, seja como elemento subjacente à composição, seja com temática primordial.
PROSA
O caráter regionalista tem no terceiro tempo atinge dimensões mais amplas e universais. O autor que se destaca, nesse terreno é Guimarães Rosa.
E a prosa psicológica, fundamentou-se na pesquisa interior, em manifestações artísticas cada vez mais complexas e instigantes O exemplo mais próximo é a obra de Clarice Lispector.
Autores
Guimarães Rosa
Clarice Lispector
João Cabral de Melo Neto
Fonte: www.brasilliteratura.hpg.ig.com.br/www.artesbr.hpg.ig.com.br/mre.gov.br/www.itaucultural.org.br/www.profabeatriz.hpg.ig.com.br
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