Viriato da Cruz
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Lá vai o sô Santo…
Bengala na mão
Grande corrente de ouro, que sai da lapela
Ao bolso… que não tem um tostão.
Quando sô Santo passa
Gente e mais gente vem à janela:
– “Bom dia, padrinho…”
– “Olá!…”
– “Beçá cumpadre…”
– “Como está?…”
– “Bom-om di-ia sô Saaanto!…”
– “Olá, Povo!…”
Mas por que é saudado em coro?
Porque tem muitos afilhados?
Porque tem corrente de ouro
A enfeitar sua pobreza?…
Não me responde, avó Naxa?
– “Sô Santo teve riqueza…
Dono de musseques e mais musseques…
Padrinho de moleques e mais moleques…
Macho de amantes e mais amantes,
Beça-nganas bonitas
Que cantam pelas rebitas:
‘Muari-ngana Santo
dim-dom
ualó banda ó calaçala
dim-dom
chaluto mu muzumbo
dim-dom…’
Sô Santo…
Banquetes p´ra gentes desconhecidas
Noivado da filha durando semanas
Kitoto e batuque pró povo cá fora
Champanha, ngaieta tocando lá dentro…
Garganta cansado:
‘coma e arrebenta
e o que sobra vai no mar…’
Hum-hum
Mas deixa…
Quando Sô Santo morrer,
Vamos chamar um Kimbanda
Para ngombo nos dizer
Se a sua grande desgraça
Foi desamparo de Sandu
Ou se é já própria da Raça…”
Lá vai…
descendo a calçada
A mesma calçada que outrora subias
Cigarro apagado
Bengala na mão…
… Se ele é o símbolo da Raça
ou a vingança de Sandu…
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