Poemas – Manuel dos Santos Lima

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Manuel dos Santos Lima

Exílio

Tange, tange kissange
ele absorto
ela magoada.

E o sonho morto.

Toda a memória não é nada
para tantos desenganados
na larga fatura dos anos!

E a mente tão cheia
de tanta terra alheia!

Tange, tange kissange
recordar não cansa
chorar não consola
nem os descansa
de pensar em Angola.

Guerra

Dois meninos sentados
um terceiro de pé
todos irmanados
na orfandade de um pé.

O Trator

Somos um povo que olha a terra
a menos de um metro do chão,
rins quebrados
peito fremente.

Somos um povo semeador
de pés magoados
entre raízes e suor.

O nosso pai deixou-nos uma enxada
e um pedaço de terra favorecida.

Para a cultivar
o meu irmão pôs-se a sonhar
com um trator.

Do estrangeiro, prontamente,
lhe enviaram um estranho trator.
Tantas rodas
tão grande motor!

O trator do meu irmão
tem na frente um canhão.

São Meus Estes Rios

São meus estes rios
que buscam caminho
rastejando entre luar e silêncio,
sombra e madrugada,
até ao seu fim marítimo.

A minha alma está neles,
líquida e sonora
como a água entre o quissange das pedras,
o anoitecer nas fontes.

Tenho rios vermelhos e quentes
na minha dimensão física,
rios remotos, remotos como eu.

(Palavra de poeta – Antologia)

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