Lima Barreto
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O Emílio Alvim faz anos hoje. É coisa curiosa que festejemos esse avanço para o túmulo. Muita gente tem protestado contra semelhante praxe.
As razões são bastante valiosas; mas, quando se festeja mais um ano de vida, não é o caminho para a morte que se tem a vista.
E a vida que se já viveu, pois morrer deve ser bom, mas viver é melhor e, ao se notar que já completamos mais um ano de existência, temos certeza de que gozamos alguma coisa.
Alvim, hoje, como se dizia antigamente, colhe mais uma flor no jardim da sua preciosa existência.
E um bom pretexto para falar dele, para dizer alguma das suas boas qualidades de coração e de caráter, da sua intrepidez e amor ao trabalho.
Dizem os metafísicos que o fundo do ser é a contradição; o fundo desta vida de jornais é também a contradição.
Berram eles pelos princípios morais, reclamam lealdade entre os homens, generosidade, clemência, justiça, etc., etc., e nada disso há entre os seus profissionais.
Nas suas relações mútuas mais domina o azedume do que a cordialidade; mais a intolerância do que o perdão mútuo.
Quem vive dentro do jornalismo, tem a impressão de que está entre lobos; os homens de jornais se devoram.
Há mesmo a teoria do “tombo”. Consiste a teoria do tombo em se meter um sujeito em um jornal, por intermédio deste ou daquele, fazer artes e coisas, e derrubar o protetor.
São intrigas de serralho, mas às quais ninguém escapa, quer como paciente, quer como agente, quer como agente paciente.
Alvim não é assim, tem no jornal um procedimento à parte, procede retamente, limpamente, e constitui por isso um exemplar excepcional de homem de jornal.
Secretário deste jornal, ele o foi por si mesmo, sem cabala, nem comadriagem devido unicamente a seu esforço, à sua capacidade de encher tiras e mais tiras, quase sem uma hesitação, sem uma emenda, tendo feito muito rapidamente, uma segurança de estilo, de julgamento, de quem veio para o jornal já seguro dos instrumentos de que a arte de escrever exige se tenha.
É assim o Alvim. Ele faz anos hoje; que o faça muitas vezes.
Correio da Noite, Rio, 18-1-1915
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